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APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 1 APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 2 SOBRE O AUTOR Felipe Silva Gonçalves Lacerda é formado em Administração de Empresas pelo Ibmec no Rio de Janeiro. Meu interesse pelo mercado de ações começou quando eu ainda estava na faculdade, embora eu não tenha começado a investir nesse momento. Nessa época eu ainda tinha muita insegurança para colocar meu dinheiro em algo que não entendia muito bem, então comecei a pesquisar e tentar aprender mais sobre como investir em ações. A maior parte dos conteúdos que eu encontrava era sobre a sedutora análise técnica, então foi o conteúdo que comecei a consumir. Alguns anos depois, quando comecei a investir em ações, utilizei a análise técnica. Não durei muitos meses utilizando essa estratégia, pois percebi que não fazia sentido comprar participação em uma empresa através de indicadores gráficos pouco fundamentados. Foi quando eu encontrei a análise fundamentalista, utilizada pelos maiores investidores de sucesso em ações. Aprendi muito através de livros, artigos e cartas escritas por grandes investidores como Warren Buffett, Peter Lynch, Benjamin Graham, Philip Fisher, John Templeton entre outros. Nesse momento as coisas passaram a fazer mais sentido e comecei a seguir o caminho do Value Investing. Eu decidi me especializar em finanças corporativas para mergulhar ainda mais na análise aprofundada de empresas e aperfeiçoar a habilidade da análise de balanços. Acredito que, como investidores, devemos ser sempre ativos e nunca parar de estudar sobre o mercado. Esse conteúdo foi pensado para quem quer aprender mais sobre como analisar os indicadores financeiros com o objetivo de se tornar sócio de boas empresas. Caso queira consultar mais sobre meu trabalho de ensino e aprender sobre análise fundamentalista, te convido a se inscrever no meu canal. . https://www.youtube.com/channel/UC56v9e7yyEKo597PL7Km8RA/featured APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 3 INTRODUÇÃO ...........................................................................6 Objetivo da Análise das Demonstrações Financeiras ......................7 As Decisões Financeiras de uma Empresa .....................................9 As Principais Demonstrações Financeiras .................................... 12 Balanço Patrimonial ................................................................. 12 Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) ....................... 16 Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) ................................ 18 Aspectos da Governança Corporativa .......................................... 21 Como a Análise de Demonstrações Financeiras Reduz o Risco da Carteira ..................................................................................... 25 Risco Sistemático .................................................................... 25 Risco Não-Sistemático ............................................................. 26 CONHECENDO O NEGÓCIO ................................................... 29 Aprenda a Analisar o Parecer do Auditor ..................................... 30 Sessão "Opinião" ..................................................................... 31 Sessão "Base para opinião" ..................................................... 33 Sessão "Parágrafos de Ênfase"................................................. 34 Sessão "Responsabilidades da Administração" .......................... 36 Sessão "Responsabilidades dos Auditores" ............................... 37 Análise SWOT ............................................................................ 39 Onde encontrar insumos para uma boa análise SWOT? ............ 41 ANÁLISE ATRAVÉS DE INDICADORES ................................. 43 Análise Horizontal e Vertical ........................................................ 44 Análise Horizontal .................................................................... 44 Análise Vertical ........................................................................ 45 Indicadores de Lucratividade ...................................................... 47 Margem Bruta ......................................................................... 48 APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 4 Margem Operacional ............................................................... 50 Margem Líquida ...................................................................... 51 Indicadores de Rentabilidade ...................................................... 54 Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) ................................ 54 Retorno sobre o Capital Investido (ROIC) ................................. 56 Retorno sobre Ativo (ROA) ...................................................... 58 Indicadores de Prazos Médios ..................................................... 60 Prazo Médio de Estocagem (PME) ............................................ 60 Prazo Médio de Pagamento (PMPC) ......................................... 63 Prazo Médio de Recebimento (PMRV) ....................................... 65 Ciclo Operacional ..................................................................... 67 Ciclo Financeiro ....................................................................... 69 Indicadores de Capital de Giro e Necessidade de Capital de Giro .. 72 Capital de Giro Líquido (CGL) ................................................... 73 Capital de Giro Próprio (CGP) ................................................... 74 Necessidade de Capital de Giro (NCG) ...................................... 75 Efeito Tesoura ......................................................................... 77 Indicadores de Liquidez .............................................................. 79 Liquidez Imediata .................................................................... 80 Liquidez Seca .......................................................................... 81 Liquidez Corrente .................................................................... 82 Liquidez Geral ......................................................................... 83 Indicadores de Estrutura Patrimonial........................................... 85 Endividamento ........................................................................ 87 Composição do Endividamento ................................................ 88 Imobilização do Patrimônio Líquido .......................................... 89 Imobilização dos Recursos não Correntes ................................. 90 Endividamento em Relação ao Patrimônio Líquido .................... 91 APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 5 Leituras Recomendadas ........................................................ 93 Negócios ................................................................................. 93 Finanças Comportamentais ..................................................... 95 Análise Fundamentalista .......................................................... 96 APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 6 INTRODUÇÃO APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 7 Objetivo da Análise das Demonstrações Financeiras análise das demonstrações financeiras teve início no século XIX, quando banqueiros americanos passaram a solicitar os balanços de seus clientes, antes de realizar um empréstimo. As demonstrações financeiras fornecem dados que, quando analisados, são transformados em informações que são utilizadas para tomada de decisão dos diferentes públicos da empresa (clientes, acionistas, fornecedores, diretores, conselho administrativo, colaboradores, concorrentes e outros). É por meio da análise desses dados que o acionista entendeos principais riscos financeiros da empresa. Como acionista, provavelmente você vai querer passar longe de empresas que acumulam prejuízos, não geram caixa, perdem patrimônio e possuem dívidas crescentes. Investir em empresas com essas características seria assumir um risco elevado. O objetivo de uma empresa é obter o maior retorno possível, considerando o menor risco. A análise de demonstrações financeiras auxilia o acionista na avaliação da relação risco e retorno. Maior retorno para o mesmo risco, ou menor risco para o mesmo retorno são estratégias que elevam o valor da empresa. A APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 8 Portanto, para conhecer melhor uma empresa e entender quais são seus riscos financeiros, utilizamos a análise de demonstrações financeiras. O objetivo da análise de demonstrações financeiras é avaliar a situação econômico-financeira da empresa, o que causou as variações dos resultados e possíveis tendências para o futuro. Além disso, apresentam os resultados da atuação da administração quanto à gestão da companhia e sua capacitação na prestação de contas sobre os recursos que lhes foram confiados. Essa contextualização é muito importante para o usuário observar dados passados e entender a empresa como um todo, além de servir como fonte de informação para futuras projeções e mudanças necessárias para o alcance do objetivo principal, que é a maximização de valor. O mais importante do processo de análise das demonstrações financeiras é que se trata de algo particular de quem faz a análise. Duas pessoas podem chegar a conclusões diferentes sobre uma empresa, mesmo que tenham trabalhado com as mesmas informações e utilizado técnicas iguais de análise. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 9 As Decisões Financeiras de uma Empresa s empresas com fins lucrativos possuem, basicamente, duas grandes decisões financeiras: decisões de investimento (ou aplicação) e decisões de financiamento (ou captação). Decisões de investimento dizem respeito à como a empresa aplica seus recursos. Envolve tanto a composição como também os tipos de ativos da empresa. Um princípio financeiro essencial em finanças é que toda empresa deve manter somente ativos que adicionam valor à riqueza do investidor. No entanto, só é possível chegar à conclusão de que os ativos estão adicionando valor ao investidor, se os retornos superarem o custo da dívida. É por isso, que as decisões de financiamento também devem ser avaliadas. As decisões de financiamento envolvem a composição e os tipos de recursos financeiros utilizados pela empresa. Responda a seguinte pergunta: Uma empresa que possui R$ 1 bilhão em ativos e gera lucro de R$ 500 milhões é um bom negócio? Talvez você pense: "Mas é lógico! Isso daria um retorno de 50%". Pois é, concordo que 50% é um retorno bem elevado para qualquer negócio. Mas se a empresa tem um custo da dívida de A APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 10 55%, não estaria gerando valor para os seus acionistas. É claro que fui bem exagerado no meu exemplo, mas o ponto chave é que uma empresa só gera valor ao acionista se o retorno do investimento for superior ao valor da dívida. Veja abaixo o exemplo da Movida. Na divulgação de resultados do 3T17, a administração da Movida reportou a seguinte informação aos acionistas: Fonte: RI Movida O ROIC é um indicador de rentabilidade, que mede o retorno operacional sobre o capital investido. Pelo gráfico, podemos perceber que a Movida encontrava bastante dificuldade para gerar rentabilidade superior ao custo da sua dívida. Isso quer dizer que os projetos investidos não estavam gerando fluxos de caixa suficientes para pagar a dívida adquirida. Podemos concluir, portanto, que a empresa não gerava valor ao acionista. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 11 Do lado oposto, temos o exemplo do Hermes Pardini. Segundo reportado pela administração da empresa, no 3T18, o laboratório gerava rentabilidade superior ao custo da sua dívida. Quando isto ocorre, temos uma situação de geração de valor ao acionista, conforme abaixo: Fonte: RI HERMES PARDINI As decisões de financiamento das empresas de capital aberto são subsidiadas por duas fontes de recursos: capital próprio e capital de terceiros. O capital próprio é proveniente dos recursos aplicados pelos sócios ou acionistas mais os lucros acumulados ao longo do tempo. O capital de terceiros é proveniente de fontes externas, podendo ser empréstimos e financiamentos e/ou emissão de debêntures. Portanto, como acionista, o que você deve procurar ao analisar as demonstrações financeiras de uma empresa? Basicamente, devemos nos concentrar em analisar se a empresa é rentável e se ela apresenta capacidade suficiente para remunerar suas fontes de financiamento. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 12 As Principais Demonstrações Financeiras onforme estabelecido pela Lei das S.A., as seguintes demonstrações financeiras são obrigatórias: 1.Balanço Patrimonial (BP) 2.Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) 3.Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) 4.Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) 5.Demonstração do Valor Adicionado (DVA) As notas explicativas complementam as demonstrações, fornecendo informações adicionais não indicadas nas demonstrações financeiras e consideradas necessárias para a apresentação dos resultados. De maneira geral, os analistas do mercado financeiro utilizam, principalmente, a DRE e o Balanço Patrimonial para analisar os indicadores financeiros das empresas de capital aberto. Balanço Patrimonial O objetivo do Balanço Patrimonial é apresentar um resumo da posição financeira de uma empresa em dado instante. É importante C APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 13 destacar que, o balanço patrimonial, se refere a uma data, não ao ano ou trimestre. Uma empresa pode gerar um balanço patrimonial em qualquer dia do ano, mas ele fará referência ao dia em que foi gerado. Portanto, ele relata a condição financeira da companhia na data específica em que foi gerado. O balanço patrimonial é dividido em duas partes: 1.Ativos: inclui o caixa, investimentos, contas a receber, estoques, máquinas e equipamentos etc. 2. Passivos e Patrimônio Líquido: inclui contas a pagar, despesas provisionadas, dívida de curto e longo prazos, tributos diferidos, capital social, lucros acumulados etc. Os ativos indicam o que a empresa possui, os passivos indicam o que a empresa tomou emprestado e o patrimônio líquido representa o investimento dos proprietários. Ativos Os Ativos são divididos em: Ativo Circulante, Realizável a Longo Prazo e Ativo Permanente. Veja abaixo os ativos da BR Distribuidora, divulgados no Balanço Patrimonial do último trimestre de 2017. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 14 Fonte: RI da BR Distribuidora O Ativo Circulante representa os bens e direitos de curto prazo, isso quer dizer que deverão ser convertidos em caixa no prazo máximo de um ano. O Realizável a Longo Prazo são ativos menos líquidos, ou seja, que se espera converter em caixa no prazo superior a um ano. Já o Ativo Permanente representa o total de ativos destinados ao funcionamento da empresa e seus investimentos, como: máquinas e equipamentos, imóveis, investimentos nas afiliadas e subsidiárias. O intangível inclui patentes, direitos autorais, marcas registradas e qualquer outro ativo que não possa ser fisicamente tocado. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 15 Passivos Os Passivos são divididos em: Passivo Circulante, Passivo Não Circulante e Patrimônio Líquido. Veja novamente o exemplo da BR Distribuidora: Fonte: RI da BR Distribuidora O Passivo Circulante são as dívidas e obrigações quedevem ser pagas no prazo máximo de um ano. O Passivo Não Circulante, ou Passivo Exigível a Longo Prazo, representa as dívidas e obrigações que a empresa tem a saldar e que não vencerão no prazo de até um ano. O Patrimônio Líquido ou Valor Contábil é a diferença entre o passivo total e o ativo total, representa o capital aplicado pelos sócios APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 16 da empresa mais os lucros/prejuízos acumulados ao longo do tempo. Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) O objetivo da DRE é fornecer uma síntese financeira dos resultados operacionais da empresa em determinado período. São apresentadas trimestralmente e ao fim de cada ano. A DRE é composta basicamente de: receita, custos, despesas e lucro ou prejuízo. Vamos novamente ao caso da BR Distribuidora: Fonte: RI da BR Distribuidora A primeira linha da DRE é sempre a Receita com vendas de produtos e/ou serviços. A receita trata-se do valor monetário total das vendas realizas no período, basicamente podemos entender a receita como o produto entre volume e ticket médio. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 17 Em seguida subtraímos o Custo dos produtos vendidos e/ou serviços prestados, também conhecido como CPV, CMV, CSV ou CSP. Chamarei de CPV. O CPV representa o custo da matéria-prima e mão de obra usados na fabricação dos produtos/serviços que a empresa comercializa ou dos produtos que ela está adquirindo para revenda. O Lucro Bruto é o resultado da subtração entre a Receita e o CPV. Esse é o valor remanescente para cobrir as despesas operacionais, financeiras e fiscais. A seguir, temos as Despesas Operacionais, que incluem as despesas de vendas e administrativas para a comercialização de novos produtos (por exemplo, despesas com marketing), depreciação e amortização, despesas de aluguel e todas as outras despesas operacionais (por exemplo, contas de consumo, comissões, seguros e despesas com pessoal) que não estão diretamente ligadas à produção do produto. Subtraindo as despesas operacionais do lucro bruto, chegamos ao Lucro/Prejuízo Antes do Resultado Financeiro, Participação e Impostos. Esse resultado também é conhecido como Resultado Operacional (EBIT), representa o lucro obtido com a fabricação e venda de produtos/serviços. Após o Resultado Operacional, deduzimos as Despesas Financeiras, para encontrar o Resultado Antes dos Impostos. As despesas financeiras se referem aos juros pagos, durante o período, sobre a dívida que a empresa apresenta no balanço patrimonial como passivo. Essa despesa não está ligada a APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 18 um processo produtivo ou de venda. Portanto, quanto maior for o endividamento da empresa, maior será a quantidade de juros a ser paga. Há casos em que as receitas financeiras superam as despesas, embora isso seja mais comum entre bancos. A seguir, é calculado o imposto devido, de acordo com as alíquotas apropriadas. Os impostos referem-se às alíquotas de Imposto de Renda e Contribuição Social. O Brasil está entre os países que possuem maior alíquota de IR/CSLL no mundo, sendo 15% da alíquota básica de IR, mais 10% sobre o lucro que exceder R$ 240 mil/ano e 9% de CSLL. Portanto, a alíquota média entre as empresas brasileiras é de aproximadamente 34% da renda. Após a dedução de todas as despesas e impostos, o Lucro Líquido é obtido. Esse é o lucro real da empresa e é a partir dele que a administração, em assembleia geral, decidirá a parcela de dividendos que será distribuída aos acionistas ou que será reinvestida no negócio da empresa. Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) A DFC tem o objetivo de resumir os movimentos de entrada e saída de caixa em determinado período. Essa demonstração permite entender como a empresa gera e usa os recursos de caixa, independentemente da natureza das suas atividades. Essa demonstração é dividida em três partes: Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais, Fluxo de Caixa das Atividades de Investimento e Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 19 Fonte: RI da BR Distribuidora Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais Os fluxos de caixa das atividades operacionais são derivados das principais atividades geradoras de receita da empresa. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 20 O montante dos fluxos de caixa das atividades operacionais indica quanto de caixa a empresa tem gerado para amortizar empréstimos, manter a capacidade operacional, pagar dividendos e juros sobre capital próprio e fazer investimentos sem recorrer a fontes externas de financiamento. Fluxo de Caixa das Atividades de Investimento Inclui o lançamento de todas as despesas com ativos permanentes durante o período avaliado. Além disso, inclui o total de dinheiro gasto e recebido com a compra e venda de ativos que geram receita. Portanto, os fluxos de caixa das atividades de investimento representam os dispêndios feitos pela empresa com a finalidade de gerar resultados e fluxos de caixa futuro. Isso porque, o investimento feito em ativos, trará retornos futuros para a empresa. Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento Essa parte da DFC mede o fluxo de entrada e saída de dinheiro gerado por operações financeiras. Inclui todas as saídas de dinheiro para pagamento de dividendos, assim como a compra e venda de ações da companhia. Por exemplo, quando uma empresa emite ações ou debêntures para financiar alguma atividade, há entrada de dinheiro. Quando a empresa recompra as próprias ações há saída de dinheiro. A divulgação desses fluxos é útil para prever as exigências sobre futuros fluxos de caixa pelos fornecedores de capital à empresa. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 21 Aspectos da Governança Corporativa o analisar as demonstrações financeiras de uma empresa é importante conhecer as principais características e particularidades da sua atividade empresarial. Para isso, podemos avaliar sua Governança Corporativa. A governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre acionistas, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e demais partes interessadas. As boas práticas de governança corporativa permitem à empresa preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo, o que facilita seu acesso a recursos e contribui para a qualidade da gestão da organização. Os princípios da governança corporativa são: (1) gerar transparência de informações entre as partes interessadas; (2) tratar de modo imparcial todos os acionistas e demais stakeholders, levando em conta seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas; (3) prestar contas de sua atuação, assumindo as consequências de seus atos e omissões e atuando com diligência e responsabilidade no âmbito dos seus papéis e; (4) zelar pela visibilidade econômico-financeira da empresa. A APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 22 O primeiro ponto importante, antes de iniciar a análise de demonstrações financeiras, é estudar o tipo de gestão que administra a empresa. Afinal, são os administradores que fazem a gestão dos recursos dela. Procure saber quem são as pessoas que estão no comando, quanto tempo de empresa possuem e se são profissionais preparados para o cargo que ocupam. Profissionais bem preparados são aqueles que conhecem profundamente o negócio da empresa e visam seu crescimento. Avalie o histórico de resultados da atual gestão, que ações foram tomadas em momentos importantes e as promessas de resultados futuros. Por melhor que seja o modelo de negócio, a falta de alinhamento entre a gestão pode levar a empresa a uma direção perigosa. Essas informações podem ser localizadas no site deRI da empresa avaliada, entrevistas concedidas pelos gestores, matérias na internet etc. O segundo ponto importante é conhecer os principais riscos do negócio da empresa em questão. Essa deve ser uma preocupação essencial do investidor! Portanto, se informe em detalhes sobre o negócio da empresa, seu mercado de atuação e principais riscos ligados ao seu negócio. Essas informações podem ser encontradas no Formulário de Referência, no site de RI das empresas. Esse é um documento obrigatório, previsto no Código Brasileiro de Governança, emitido por todas as empresas de capital aberto anualmente. Infelizmente, vejo poucos investidores fazendo uso desse documento. No entanto, APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 23 qualquer pessoa que quer obter resultados acima da média no mercado de ações, deveria ler este documento antes de comprar uma ação. Lá você encontrará informações referentes às atividades da empresa, histórico na bolsa, fatores de risco, gestão da empresa, direitos dos acionistas, composição acionária, estrutura de capital, dados financeiros, comentários dos administradores sobre esses dados, valores mobiliários emitidos etc. O terceiro ponto importante é verificar o nível de governança corporativa da empresa. O segmento de listagem da empresa é um importante fator para indicar se ela possui boas práticas de Governança Corporativa. Existem diferentes níveis de segmentos da B3: Nível Básico, Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado. O segmento Básico não conta com regras diferenciadas de governança corporativa. No nível 1 as empresas, se comprometem, principalmente, com melhorias na prestação de informações ao mercado e com a dispersão acionária. Para isso, devem divulgar informações adicionais às exigidas em lei, como relatórios financeiros mais completos, informações sobre negociação feita por diretores, executivos e acionistas controladores e sobre operações com partes relacionadas. No nível 2, as empresas se comprometem a cumprir as regras aplicáveis ao Nível 1 e, adicionalmente, a um conjunto mais amplo de práticas de Governança relativas aos direitos societários dos acionistas minoritários. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 24 O Novo Mercado é o nível mais elevado de governança corporativa. É destinado à negociação de ações emitidas por companhias que se comprometem, voluntariamente, com a adoção de práticas de Governança Corporativa adicionais em relação ao que é exigido pela legislação. Por exemplo, as empresas listadas nesse segmento devem possuir o capital composto exclusivamente por ações ordinárias com direito à voto. O estudo prévio sobre a governança corporativa da empresa nos ajuda a entender melhor o seu negócio, quais os principais fatores de risco e como a gestão da empresa se comporta. Quanto maiores forem as boas práticas de governança, mais confiabilidade teremos sobre os resultados e informações divulgadas pela empresa que estamos avaliando. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 25 Como a Análise de Demonstrações Financeiras Reduz o Risco da Carteira m finanças, a aversão ao risco é um conceito essencial, pois a maioria dos modelos parte do princípio de que, quanto maior o risco de um investimento, maior deve ser o retorno proporcionado pelo mesmo. Na prática, os investidores procuram evitar o risco sempre que podem, sem sacrificar a rentabilidade desejada. Essa busca pela maximização da rentabilidade da carteira começa pela decisão de quais ativos e em quais proporções irão compor a carteira de ações. No entanto, podemos dizer que o risco total de uma carteira é formado por dois tipos de risco: sistemático ou conjuntural, isto é, que afeta os ativos de maneira geral, e não- sistemático, que corresponde ao risco individual de cada ativo. Risco Sistemático Também conhecido como risco não diversificável, é relacionado à fatores macroeconômicos que afetam todas as empresas inseridas numa mesma economia. Esse risco pode aumentar em caso de guerras, recessão econômica, surto de uma nova doença, eventos políticos, aumento da incerteza etc. Os principais fatores ligados ao risco sistemático são: E APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 26 Risco da Taxa de Juros Risco Cambial Risco da Inflação Risco Político Risco de Desemprego Risco de Pandemias e Epidemias Risco de Desastres Naturais Risco de Eventos Risco Não-Sistemático Também conhecido como risco diversificável, representa a parte do risco de um ativo associado a eventos relacionados especificamente à empresa, tais como greves, decisões de agências regulatórias, perda de participação de mercado, falência etc. Os principais riscos ligados ao risco não-sistemático são: Risco de Gestão Risco de Negócio Risco de Falência Risco de Liquidez Risco Financeiro Risco de Reinvestimento Talvez você já tenha escutado a expressão "Não ponha todos os ovos na mesma cesta". Por meio da diversificação realmente podemos reduzir o risco da carteira. Mas, o investidor não reduziria muito o risco se selecionasse, entre 10 ações da carteira, apenas 2 que apresentam resultados consistentes. Concorda? APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 27 Ao selecionar empresas que apresentam indícios de insolvência para compor a carteira de ações, o investidor estará elevando significativamente o risco de perder seu capital investido. É aqui que entra a análise de demonstrações financeiras! Por meio da análise das demonstrações financeiras conseguimos verificar profundamente o risco econômico-financeiro de uma empresa e chegar à conclusão se ela apresenta resultados sólidos ou não para compor a carteira de ações. Veja abaixo o desempenho de duas carteiras de ações nos últimos 5 anos. A primeira carteira é composta por ações de empresas mal avaliadas, no âmbito econômico-financeiro. São empresas que nos últimos anos já indicavam elevado risco, com constantes prejuízos, aumento da dívida, piora na rentabilidade etc. A segunda carteira é composta por ações de empresas bem avaliadas, no âmbito econômico-financeiro. São empresas que jamais deram prejuízos, apresentam lucros crescentes, alta rentabilidade e baixa dívida. Para simplificar o estudo, a carteira será composta por 5 ações, com pesos iguais. Carteira 1: Fonte: GuiaInvest PRO e autor APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 28 Carteira 2: Fonte: GuiaInvest PRO e autor O investidor atento às demonstrações financeiras teria avaliado previamente que as empresas da primeira carteira corriam grande risco econômico-financeiro e teria ficado bem longe de suas ações. Por outro lado, ações de empresas com sólida gestão, com vantagens competitivas sustentáveis e boa avaliação das demonstrações financeiras são recompensadas pelo mercado e apresentam retornos elevados aos acionistas. Portanto, fica claro que o uso da análise das demonstrações financeiras no processo de seleção de ações para uma carteira, aumenta a probabilidade de retorno do acionista, além de reduzir o risco não-sistemático. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 29 CONHECENDO O NEGÓCIO APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 30 Aprenda a Analisar o Parecer do Auditor ntes de analisar as demonstrações financeiras é vital ler o Relatório do Auditor. O objetivo da auditoria é emitir o parecer sobre a posição patrimonial e financeira, o resultado das operações, as mutações do patrimônio líquido e as origens e aplicações de recursos da companhia auditada. Uma análise de demonstrações sem observar o parecer do auditor, se torna extremamente arriscada, pois o auditor expressa sua opinião, de forma clara e objetiva, sobre as demonstrações contábeis quanto ao adequadoatendimento, ou não, a todos os aspectos relevantes às demonstrações contábeis da empresa auditada. Portanto, se os auditores avaliam que as demonstrações contábeis não são confiáveis, de que adianta realizar a análise de demonstrações da empresa? Se você decidir seguir em frente e analisar as demonstrações contábeis, chegará a conclusões precipitadas e pouco confiáveis. Além disso, o auditor verifica se todas as normas contábeis, estabelecidas pela normatização nacional de auditoria, estão sendo atendidas pela contabilidade da empresa. A APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 31 O objetivo dos auditores é formar uma opinião sobre as demonstrações contábeis e expressar claramente essa opinião através de relatório por escrito. Portanto, a análise de demonstrações financeiras começa pelo Relatório do Auditor. Sessão "Opinião" A sessão "Opinião" é a primeira do relatório do auditor. Nela podemos encontrar a opinião do auditor independente com relação às demonstrações analisadas. Logo no início, o auditor informa quais demonstrações foram analisadas: Fonte: RI da Braskem No parágrafo seguinte, o auditor emite a sua opinião com relação às demonstrações analisadas. Esse é o parágrafo mais importante no Relatório do Auditor. Através da avaliação das demonstrações, o auditor conclui se as demonstrações contábeis apresentam uma visão verdadeira e justa e sem distorção relevante ou não. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 32 A opinião do auditor é emitida com ou sem ressalva. Muitas vezes a opinião vem separada, uma parte referente às demonstrações individuais e outra referente às consolidadas. Por exemplo: Fonte: RI da Braskem Quando emite uma "opinião com ressalta", por não ter conseguido a devida evidência para assegurar algum fato, o auditor deve mencionar qual foi o fato, a descrição e quantificação dos efeitos financeiros da distorção. Quando existem muitos pontos com valores relevantes, que estão fora das normas contábeis, o auditor emite a opinião "adversa". E quando não consegue confirmar e auditar uma quantidade relevante de itens, o auditor emite "abstenção de opinião". Portanto, temos quatro possibilidades de julgamento do auditor: 1.Opinião Sem Ressalva: Quando as demonstrações não apresentam distorções relevantes e atendem as normas contábeis. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 33 2.Opinião Com Ressalva: Quando as demonstrações apresentam distorções relevantes e/ou o auditor não conseguiu obter evidências apropriadas e suficientes, causando efeitos relevantes sobre as demonstrações contábeis, mas não generalizados. 3.Opinião Adversa: Quando as demonstrações apresentam distorções relevantes e o efeito sobre as demonstrações contábeis é relevante e generalizado. 4.Abstenção de Opinião: Quando as demonstrações apresentam distorções relevantes, mas o auditor não conseguiu obter evidência apropriada e suficiente, sendo o efeito sobre as demonstrações contábeis relevante e generalizado. Sessão "Base para opinião" A explicação do porque da opinião do auditor vem no parágrafo seguinte do relatório, chamada de "Base para opinião": Fonte: RI da Braskem Nesta sessão, o auditor declara que a auditoria foi conduzida em conformidade com as normas brasileiras, que atualmente são iguais às internacionais, e afirma que pode emitir sua opinião em razão da independência em relação à Companhia e suas controladas, conforme determinado pelo Código de Ética Profissional APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 34 do Contador. Além disso, declara também que o conjunto de evidências de auditoria obtido por ele é suficiente (ou não) e apropriado para fundamentar a opinião emitida. Quando a opinião é emitida com ressalva, além dos aspectos anteriores, o auditor diz claramente o motivo pelo qual está emitindo opinião com essa ressalva. Sessão "Parágrafos de Ênfase" Os parágrafos de ênfase são utilizados pelo auditor quando este julga haver elementos que são relevantes aos usuários das demonstrações contábeis, mas que não chegaram ao ponto de exigir uma posição de ressalva no parecer. Por exemplo: Fonte: RI da Braskem APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 35 Neste caso, o auditor não está totalmente confortável com o Ativo Intangível e com a avaliação do saldo de ativo fiscal diferido, que é calculado com o método do fluxo de caixa descontado. Em seguida, o auditor explica como esse assunto foi tratado, informando que as evidências obtidas foram suficientes para que não fosse emitida uma "ressalva", e por isso emitiu um parecer "limpo", apesar da ênfase a essa situação. Sessão "Outros Assuntos" Fonte: RI da Braskem Aqui o auditor expõe, quando necessário, a existência de outros assuntos, que considera relevante relatar. É comum a informação de que a demonstração do valor adicionado, apresentada pelas companhias abertas, não é exigência das normas internacionais, e sim uma determinação brasileira. Apesar de comum, esta informação não tem importância para os investidores que estudam as demonstrações financeiras. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 36 Fonte: RI da Braskem Em seguida, o auditor deixa uma informação de muita importância para o investidor. Nesse parágrafo o auditor informa que o Relatório da Administração foi lido, mas que não tem inconsistências com as demonstrações contábeis. Sessão "Responsabilidades da Administração" Nessa sessão o auditor explica a responsabilidade da administração pela elaboração das demonstrações contábeis e avaliação da capacidade da entidade de manter a continuidade operacional. Se você ler um parágrafo desses, terá lido todos, pois todos os relatórios apresentam as mesmas palavras quanto à esta sessão. Portanto, você só precisará ler o parágrafo abaixo para saber como sempre é escrita a sessão "Responsabilidade da Administração": APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 37 Fonte: RI da Braskem Sessão "Responsabilidades dos Auditores" A sessão "Responsabilidade dos Auditores" declara que utilizou o sistema de controles internos relevantes da entidade e que avaliou as práticas contábeis adotadas pela empresa auditada, assim como a razoabilidade das estimativas contábeis por ela utilizadas. Esse parágrafo também tem pouco ou nada para acrescentar na análise das demonstrações. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 38 Fonte: RI da Braskem APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 39 Análise SWOT oda análise de demonstrações deve ser precedida pela análise SWOT, com o objetivo de entender o ambiente em que a empresa atua e avaliar o mercado em que está inserida. O objetivo da análise SWOT é oferecer uma visão estratégica, onde relaciona as oportunidades com as forças e fraquezas da empresa. SWOT é a sigla de strenghts (forças), weaknesses (fraquezas), opportunities (oportunidades) e threats (ameaças). As forças e fraquezas são determinadas pela análise do ambiente interno, enquanto as oportunidades e ameaças são determinadas pela análise do ambiente externo. O ambiente interno é definido como aquele ao qual a empresa consegue controlar, ou seja, tem como agir sobre ele. Forças: características que representam uma vantagem competitiva da empresa em relação aos seus concorrentes. Fraquezas: características que desfavorecem a empresa em relação aos seus concorrentes. Já o ambiente externo é definido como aquele ao qual a empresa não tem controle, como fatores macroeconômicos, T APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 40 mudanças regulatórias, desastres naturais, eleições, mudanças demográficas etc. Oportunidades: as oportunidades surgem a partir de um fator externo. Por exemplo, a queda nas barreiras comerciaispode gerar a oportunidade da empresa passar a exportar seus produtos para outros países, aumentando a sua receita. Ameaças: são situações externas à empresa que podem atrapalhar o objetivo estratégico. Por exemplo, entrada de um novo concorrente, mudança na legislação do setor, concorrência predatória etc. O quadro abaixo mostra alguns exemplos de características que podem ser observadas em cada campo da análise SWOT. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 41 A partir da análise destes itens, o investidor poderá entender completamente quais são os principais fatores que tornam a empresa competitiva no mercado, o que seus concorrentes oferecem de melhor, o que pode fazer a empresa perder mercado para a concorrência e quais são as suas principais alavancas para a continuidade do seu crescimento no longo prazo. O processo de análise da matriz SWOT, obrigará o investidor a buscar informações que o ajudarão a discernir como o ambiente externo pode estar afetando o ambiente interno da companhia, habilitando-o para analisar os efeitos disso na situação financeira da empresa, através da análise das Demonstrações Financeiras. Onde encontrar insumos para uma boa análise SWOT? As informações sobre o ambiente interno (forças e fraquezas) podem ser encontradas em entrevistas dos gestores, artigos sobre a empresa, relatórios de analistas, relatórios da administração, apresentação institucional, áudios de teleconferências, área de RI, formulários de referência, entre outros. Todo e qualquer artigo que fale sobre a empresa, desde que seja de uma fonte confiável, pode ser utilizado como fonte de informação para entender quais são as vantagens competitivas da empresa e suas principais fraquezas. Particularmente, sempre utilizo o Formulário de Referência como uma das principais fontes de informações sobre a empresa. O Formulário de Referência é um documento periódico, emitido pelas APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 42 empresas de capital aberto, que reúne informações relevantes sobre a companhia e dos valores mobiliários por ela emitidos. As sessões "Fatores de Risco", "Histórico do Emissor" e "Atividades do Emissor", são exemplos de áreas em que você poderá entender grande parte do que é o negócio da empresa, como funciona seu setor, seu processo produtivo, quais são suas principais vantagens competitivas e suas fraquezas. Quanto às demais dúvidas que surgem, costumo perguntar diretamente ao RI das empresas. Quanto ao ambiente externo (oportunidades e ameaças), as informações também podem ser encontradas nas mesmas fontes do ambiente interno, além de sites de associações, federações, agências de risco, sites e revistas. Normalmente, as próprias empresas divulgam dados sobre o setor e sobre as estratégias que estão sendo adotadas visando obter crescimento com novas oportunidades. Além disso, considero os sites das associações e federações como fontes de insumo importantes, visto que essas organizações divulgam dados relevantes sobre o setor e suas tendências. A análise SWOT é imprescindível para o investidor que deseja fazer uma análise de demonstrações bem fundamentada. Através desta análise prévia, o investidor entenderá a parte qualitativa da análise e saberá como interpretar melhor os resultados divulgados nas demonstrações financeiras da empresa analisada e quais são as perspectivas futuras para este negócio. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 43 ANÁLISE ATRAVÉS DE INDICADORES APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 44 Análise Horizontal e Vertical s indicadores ou índices financeiros, podem ser divididos em cinco categorias: lucratividade, rentabilidade, atividade, liquidez e endividamento. Basicamente, os indicadores de lucratividade e rentabilidade medem retorno, enquanto os indicadores de liquidez, atividade e endividamento medem risco. O objetivo das análises vertical e horizontal é comparar as contas que compõem as demonstrações financeiras numa série temporal (análise horizontal) e pela participação relativa de cada valor em relação a um determinado total (análise vertical), o que permite identificar tendências e conhecer pormenores das demonstrações financeiras que escapam à análise genérica. Análise Horizontal A análise horizontal é importante para avaliar a evolução das contas individuais e também dos grupos de contas ao longo do tempo. A partir desta análise, calcula-se as variações das contas (ou grupos de contas) e analisa-se seus acréscimos e/ou decréscimos ao longo dos exercícios, permitindo também obter uma ideia de tendência futura. O APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 45 Análise Vertical O objetivo da análise vertical é detectar as contas mais representativas de uma demonstração financeira, tendo por base o total ou um subtotal predeterminado. A análise vertical é importante para avaliar a estrutura de composição de itens e sua evolução no tempo. Por exemplo, para analisar a liquidez da empresa, podemos detectar quanto o Ativo Circulante representa do Ativo Total da empresa. Dividindo o Ativo Circulante pelo Passivo Circulante, encontramos o índice de Liquidez Corrente. Portanto, a análise vertical é realizada para um único exercício social, enquanto a análise horizontal pode ser realizada para vários exercícios, com o intuito de se verificar o comportamento de determinadas (ou todas as) contas ao longo do tempo. Fonte: RI da Suzano No relatório acima, percebemos que a Análise Horizontal informa a variação de cada item que compõe a Demonstração de Resultado no 1T18 em relação ao 1T17 e 4T17. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 46 Já a Análise Vertical mostra qual foi o percentual de cada resultado em relação ao total. Por exemplo, a Margem Bruta é calculada a partir da divisão do Lucro Bruto sobre a Receita Líquida Total. Através de uma breve análise, observamos que a empresa alcançou uma margem bruta de 47,1% e que houve melhora em relação ao 4T17 e 1T17. As análises vertical e horizontal, combinadas com a análise de índices, permite compreender o comportamento financeiro da empresa ao longo do tempo. Além disso, contribui para identificar empresas com vantagens competitivas, avaliar a saúde financeira da companhia e analisar como as decisões tomadas pelos gestores impactam os resultados financeiros. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 47 Indicadores de Lucratividade Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) revela ao investidor os resultados das operações da empresa em determinado período. Por isso, calculamos os indicadores de lucratividade a partir dela. O principal objetivo dos indicadores de lucratividade é observar se a empresa possui condições econômicas à seu favor e medir sua eficiência operacional. Por exemplo, podemos entender como a fonte de receita se altera em momentos de recessão econômica e até onde sua eficiência operacional é capaz de maximizar o lucro líquido para o acionista. Normalmente, a comparação é feita sob a forma de porcentagem das vendas. Os indicadores mais comuns são: margem de lucro bruto, margem de lucro operacional e margem de lucro líquido. Os indicadores de lucratividade são capazes de revelar se a empresa é capaz de ganhar muito dinheiro, se precisa gastar muito dinheiro com marketing ou com pesquisa e desenvolvimento e se utiliza muita dívida para alavancar suas vendas. Você vai perceber que mais importante do que analisar se a empresa dá lucro ou não, é ter a certeza de que a fonte do lucro não se esgotará facilmente. A APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 48 Margem Bruta A margem de lucro bruto, ou margem bruta, é a divisão do lucro bruto pela receita líquida. O Lucro Bruto é calculadopela subtração dos Custos dos Bens Vendidos pela Receita Líquida. O principal objetivo da margem bruta é medir a porcentagem de cada unidade monetária de vendas que resta após o pagamento do custo dos produtos vendidos. Quanto maior for a margem bruta, menor é o custo relativo dos produtos vendidos. Fonte: Release do 1T18 da Suzano No Release referente ao 1T18 a Suzano reportou R$ 2.998.859.000 de Receita Líquida e R$ 1.412.933.000 de Lucro Bruto. Dividindo o lucro bruto pela receita líquida, calculamos a margem bruta que, nesse caso, é de 47,1%. Isso quer dizer que, após o custo dos bens vendidos ou da matéria prima processada para a fabricação dos produtos, sobrou, de lucro, 47,1% da Receita Líquida da empresa. Como saber se a margem bruta está em um nível adequado? No livro "Warren Buffett e a Análise de Balanços", Buffett sugere que um bom nível de margem bruta, que identifica empresas com vantagens competitivas, é de 40% ou superior. Nesse caso, Suzano passaria neste primeiro filtro. Mas essa não é uma regra que APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 49 deve ser seguida à risca. Existem muitas empresas com boas vantagens competitivas e com margem bruta inferior a 40%. O importante é entender como é composta a estrutura de custos da empresa e comparar com outras empresas do mesmo setor. Uma empresa pode aumentar o lucro bruto, mas reduzir sua margem bruta, por isso é sempre importante fazer também uma análise horizontal e vertical dos custos da empresa, comparando, por exemplo, o custo total sobre o volume vendido. Desta forma saberemos se a empresa realmente foi mais eficiente no controle dos seus custos. Fonte: Release do 1T18 da Suzano Por exemplo, vemos na tabela acima que a Suzano conseguiu reduzir em 1,1% o custo da celulose e aumentou 5,1% o custo do papel. No entanto, quando calculado o custo relativo, percebemos que o custo médio unitário (R$/ton) da celulose aumentou 3,4%, enquanto o custo unitário do papel reduziu em 2,1%. Concluímos então que, apesar da redução do custo total da celulose, esse valor afetou negativamente a margem bruta da empresa, visto que o valor para cada tonelada de celulose vendida foi 3,4% maior do que no 1T17, superando a redução de 2,1% no custo relativo do papel e gerando um aumento total do custo relativo de 3%. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 50 Portanto, o crescimento da margem bruta não pode ser explicada por uma melhora no controle de custos, mas sim pelo aumento no preço médio dos produtos vendidos, que gerou uma receita maior do que o observado no 1T17. Margem Operacional A margem operacional mede a proporção de cada unidade monetária da receita líquida que permanece após a dedução de todos os custos e despesas operacionais, portanto não entra aqui as despesas com juros e impostos. O lucro operacional também é conhecido como EBIT e mede somente o resultado obtido nas operações. Quanto maior for a margem operacional, melhor é para a empresa. Para chegar ao EBIT é preciso deduzir do Lucro Bruto as Despesas com Vendas, Gerais e Administrativas (VGA) e outras Despesas Operacionais. Fonte: Release do 1T18 da Suzano No relatório divulgado pela Suzano, o lucro operacional da companhia foi R$ 1.133.703.000 no 1T18. Ao dividir o EBIT pela Receita Líquida, calculamos que a margem operacional da empresa APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 51 foi de 37,8%. Esse é um dos principais indicadores que medem a eficiência operacional da empresa, portanto procure sempre empresas que possuem margem operacional superior à média do setor que atuam. Empresas com uma margem operacional baixa precisam gastar mais que seus concorrentes para vender seus produtos, portanto podemos concluir que não possuem vantagens competitivas sustentáveis. Outro indicador importante para medir a eficiência operacional é dividir as despesas operacionais totais pela Receita Líquida. Por exemplo, as despesas operacionais totais da Suzano foram de R$ 279.230.000. Ao dividirmos este valor pela Receita Líquida, concluímos que as despesas operacionais da empresa totalizaram 9,31% da receita líquida, no 1T18, portanto houve melhora, visto que no 1T17 as despesas operacionais totalizaram 9,7% da receita líquida. Isso contribuiu para a melhora na margem operacional, que saiu de 20,79% (1T17) para 37,80% (1T18). Apesar do aumento da receita, as despesas relativas diminuíram, evidenciando uma melhora de eficiência operacional da empresa. Margem Líquida A margem de lucro líquido representa a proporção de cada unidade monetária da receita líquida restante após a dedução de todos os custos e despesas, incluindo juros e impostos. Quanto maior for a margem líquida, maior é o montante de dinheiro que a empresa ganhou com sua operação. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 52 Procure sempre empresas com margem líquida elevada e superior à média do setor em que atuam. As empresas com uma margem líquida baixa, normalmente não possuem vantagens competitivas sustentáveis, atuam em um setor cíclico ou altamente competitivo ou estão muito endividadas. Fonte: Release do 1T18 da Suzano No caso da Suzano, a margem líquida aumentou 7,1 pontos percentuais (p.p.), o que é muito positivo. Mas, ao analisar o lucro líquido, é sempre importante dissecar as despesas financeiras, para avaliar como o custo financeiro da empresa afeta seu resultado final. É possível observar que o resultado da Suzano teria sido bem melhor se o resultado financeiro não tivesse piorado tanto. No entanto, por possuir a maior parte da sua dívida atrelada ao dólar, a variação cambial afetou significativamente o resultado financeiro da Suzano, reduzindo sua margem líquida. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 53 Aqui fica evidente a necessidade de conhecer a empresa antes de iniciar a análise de demonstrações financeiras. Se o investidor não tivesse pesquisado sobre a empresa antes de iniciar a análise, não entenderia como as variáveis econômicas afetam o seu resultado. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 54 Indicadores de Rentabilidade objetivo da análise de rentabilidade é avaliar o desempenho da empresa, analisando o retorno sobre os investimentos realizados. As medições da rentabilidade permitem ao investidor avaliar os lucros da empresa em relação a certo nível de ativos ou ao volume de capital investido pelos acionistas. Os principais indicadores de rentabilidade são: ROE, ROIC e ROA. Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) Esse é um dos indicadores mais importante no processo de escolha de uma ação. Digo isso porque o ROE demonstra a capacidade da empresa remunerar o capital que foi investido pelos acionistas. Portanto, as melhores empresas são as que conseguem remunerar melhor seus investidores. Ou seja, as empresas com elevado retorno sobre o patrimônio líquido estão utilizando bem o lucro que está sendo retido. Para calcular o ROE basta dividir o Lucro Líquido pelo Patrimônio Líquido. A grande dúvida da maioria das pessoas é saber qual Patrimônio Líquido utilizar: o inicial, final ou médio? Frequentemente vejo as pessoas utilizarem o final, no entanto há um grande erro nisso. O APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 55 O PL final já contém o próprio resultado do período, ou pelo menos, parte dele. Portanto, não reflete o capital investido que gerou o lucro do período. O PL inicial também não é adequado, pois ao longo do período ocorrem alterações no PL que não são possíveis de saber exatamente em que momento do intervalo de tempo ocorreram. Por conta disso, prefiro utilizar a alternativa do PL médio: Sendo assim, a fórmula é a seguinte: Outra forma de calcular o ROE é decompondo pelo Sistema DuPont. Umadas vantagens desse modelo é que permite identificar os fatores responsáveis pelo desempenho econômico-financeiro da companhia. Esse modelo decompõe o ROE em três medidas da rentabilidade diferentes: Margem Líquida: medida de lucratividade Giro dos ativos: medida de eficiência da empresa no uso de seus recursos Alavancagem Financeira: medida do efeito das decisões de financiamento da empresa na sua rentabilidade Assim, o ROE fica decomposto da seguinte forma: APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 56 Retorno sobre o Capital Investido (ROIC) O ROIC é um indicador que deve ser utilizado quando estamos interessados em relacionar o retorno da empresa pela utilização de recursos próprios e de terceiros, ou seja, o capital investido total. Para calcular o capital investido é preciso somar ao Patrimônio Líquido o Passivo Oneroso. O Passivo Oneroso, também conhecido como Passivo Financeiro, se refere às dívidas que a empresa adquire através de financiamentos, empréstimos bancários e emissão de debêntures. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 57 Fonte: Release 1T18 da Suzano Os valores que compõem o Capital Investido estão demarcados em vermelho na tabela acima. O total do capital investido da Suzano, no 1T18, era de R$ 25,10 bilhões. Para calcular o ROIC precisamos dividir o Lucro Operacional (EBIT) pela média do Capital Investido Total, conforme a fórmula abaixo. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 58 A vantagem do ROIC é que ele segrega o passivo operacional, ou não oneroso, do restante do capital efetivamente investido na empresa, com o objetivo de avaliar o retorno operacional e medir sua eficiência na alocação de recursos. O ROIC também pode ser decomposto da seguinte forma: Retorno sobre Ativo (ROA) O ROA é um indicador da contribuição dos ativos no retorno da empresa. Este indicador mede a eficácia geral da administração de uma empresa em termos de geração de lucros com os ativos disponíveis. Um erro fatal, que muitos cometem ao calcular o ROA, é dividir o lucro líquido pelo ativo total. Os ativos não produzem lucro líquido, produzem lucro operacional, derivado das atividades operacionais ativas da companhia. O lucro líquido possui efeito das despesas financeiras que são provocadas pelo passivo financeiro, portanto, ao dividir o lucro líquido pelo ativo total, o investidor estará misturando dois conceitos importantes, que devem ser tratados à parte. Portanto, a fórmula para calcular o ROA é a seguinte: A fórmula também pode ser decomposta, conforme a equação abaixo: APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 59 APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 60 Indicadores de Prazos Médios s indicadores de prazos médios, ou indicadores de atividade, são utilizados para avaliar o desempenho operacional da empresa e suas necessidades de investimento em giro. Esses indicadores medem a velocidade com que as várias contas são convertidas em caixa, renovando os ativos, e são obtidos pelo confronto dos elementos da Demonstração do Resultado do Exercício com elementos do Balanço Patrimonial. Existem diferentes indicadores disponíveis para medir a atividade das contas circulantes mais importantes, como estoques, contas a receber e contas a pagar. Esses indicadores utilizam o tempo como unidade, portanto evidenciam o prazo médio das operações realizadas por determinada empresa. Os indicadores mais comuns são: prazo médio de estocagem, prazo médio de recebimento e prazo médio de pagamento. Prazo Médio de Estocagem (PME) O prazo médio de Estocagem, também conhecido como ciclo operacional, mede quantos dias, em média, a empresa leva para vender seu estoque. Quanto menor for o resultado encontrado, melhor. Quando esse índice diminui de um ano para o outro, significa O APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 61 que a empresa está sendo mais eficiente, pois está renovando seu estoque mais rapidamente. Para calcular o prazo médio de estocagem precisamos utilizar o item "estoque", que é encontrado no Balanço Patrimonial, e o item "custo dos produtos vendidos", que é encontrado na DRE. Importante destacar que para as contas do Balanço Patrimonial o mais aconselhado é sempre utilizar a média, pois desta forma encontraremos o desempenho médio da empresa ao longo do período. A fórmula é a seguinte: A partir das informações divulgadas pela Grendene, nas Demonstrações Contábeis de 2018 e 2017, é possível calcular o prazo médio de estocagem: Fonte: RI da Grendene e autor Fonte: RI da Grendene e autor APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 62 Observamos que a Grendene demora por volta de 91 dias para girar seu estoque, ou seja, em menos de 3 meses seu estoque já está completamente renovado. No entanto, em 2017 a empresa levava 89 dias para girar seu estoque, indicando uma piora na gestão do estoque. O ideal é que o prazo médio de estocagem diminua cada vez mais, o que significará que a empresa está conseguindo converter seu estoque mais rapidamente em vendas. Além disso, manter os produtos acabados em estoque por muito tempo gera custos adicionais para a empresa, como custos de armazenagem e custo de oportunidade (custo correspondente à rentabilidade que poderia ser obtida com o valor que está parado em estoque), o que eleva o risco financeiro da empresa e reduz a rentabilidade. Portanto, o tempo que o material passa no estoque ajuda a identificar o quão saudável está o capital de giro da empresa. De nada adianta uma empresa investir alto em uma produção volumosa e ágil se o setor de vendas não consegue acompanhar o ritmo de crescimento produtivo. Isso gerará mais produtos parados em estoque e uma necessidade maior de investimentos em capital de giro, reduzindo a rentabilidade final da empresa. No entanto, além de acompanhar a evolução deste indicador, é preciso fazer uma comparação com o prazo médio de estocagem de outras empresas que atuam no mesmo setor. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 63 Prazo Médio de Pagamento (PMPC) Este indicador determina quantos dias a empresa leva para pagar seus fornecedores. Nesse caso, quanto maior for o resultado encontrado para este indicador, melhor. Quando este prazo médio aumenta, significa que a empresa está conseguindo prazos maiores para pagar seus fornecedores. A fórmula para calcular o prazo médio de pagamento é: Onde: O item "CMV" fica localizado na Demonstração do Resultado do Exercício, e representa os custos totais com aquisição/produção de produtos e insumos e com o processo de pós-venda, que pode retornar novos itens ao estoque. O "Estoque Inicial" e "Estoque Final" ficam localizados no Balanço Patrimonial, dentro do Ativo Circulante. O Estoque representa todos os bens tangíveis mantidos para venda. Os custos com Compras da Grendene foram os seguintes: APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 64 Fonte: RI da Grendene e autor Para calcular o prazo médio de pagamento, além dos custos com compras, precisamos dos valores do "Contas a Pagar". O item "Contas a Pagar" fica localizado no Balanço Patrimonial, dentro do Passivo Circulante. Os dados da Grendene são os seguintes: Fonte: RI da Grendene e autor Com os dados em mãos, podemos aplicar a fórmula para calcular o PMPC: O prazo médio de pagamento da Grendene aumentou em menos de um dia, o que indica que ela está conseguindo uma condição melhor para pagamento com os seus fornecedores. Quanto maior for o prazo de pagamento, menor é a necessidade de capital de giro da Companhia, pois parte da sua operação estará sendo APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 65 financiada com recursos dos fornecedores, exigindo menor desembolso de caixa.Esse número só tem relevância para os prazos médios da própria empresa, portanto não é aconselhado que seja utilizado para fins de comparação com outras empresas do setor. No entanto, um bom sinal é quando o prazo médio de pagamento é superior ao prazo médio de recebimento, pois indica que a empresa consegue receber pelo produto antes de ter que pagar aos seus fornecedores. Prazo Médio de Recebimento (PMRV) Este indicador é útil para a avaliação das políticas de crédito e cobrança. O prazo médio de recebimento significa quantos dias de vendas a empresa possui no Contas a Receber. Também pode ser visto como a quantidade de dias que a empresa leva para receber as vendas a prazo que fez para os seus clientes. Portanto, quanto menor for o prazo médio de recebimento, melhor. A fórmula para cálculo do prazo médio de recebimento é a seguinte: O item "Contas a Receber", é encontrado no Balanço Patrimonial, dentro do ativo circulante. O "Contas a Receber" representa o montante de recebimento que a empresa possui com seus clientes, proveniente das vendas a prazo. Já as "Vendas Anuais" são encontradas na Demonstração de Resultado do Exercício (DRE), e representa o valor total faturado pela empresa. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 66 Qual venda utilizar? É bastante comum as pessoas utilizarem a Receita Líquida para o cálculo do prazo médio de recebimento. Porém, a Receita Líquida desconta alguns valores das Vendas, como Impostos Sobre as Vendas e Devoluções. Por outro lado, o Contas a Receber, no Balanço Patrimonial, contabiliza o valor bruto das vendas, incluindo todos os impostos sobre as vendas. Por isso, não é aconselhado utilizar a Receita Líquida para calcular o Prazo Médio de Recebimento. Por exemplo, em empresas de setores que possuem impostos elevados, como o setor de bebidas, teríamos um resultado bastante equivocado ao utilizar a Receita Líquida no lugar da Receita Bruta. Infelizmente, as normas internacionais de contabilidade (IFRS) determinam que as demonstrações do resultado comecem pela Receita Líquida. Isso dificulta o cálculo do prazo médio do recebimento, visto que a maioria dos releases trimestrais das empresas começam pela Receita Líquida. No entanto, a lei brasileira exige que as demonstrações de resultado comecem pela Receita Bruta. Portanto, caso a empresa não divulgue no Release, o investidor poderá encontrar a Receita Bruta diretamente nas Demonstrações Financeiras (ITR/DFP). Voltando ao caso da Grendene, temos os seguintes dados: APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 67 Fonte: RI da Grendene e autor A partir dessas informações, podemos aplicar a fórmula para calcular o PMRV: O prazo médio de recebimento da Grendene era de 105 dias, passando para 109 dias. Isso mostra que a Grendene está concedendo aos seus clientes um pequeno prazo a mais, para que possam pagar suas compras. A determinação dos prazos médios nos ajuda a calcular os ciclos Operacional e Financeiro, que são fundamentais para entendimento do impacto gerado na gestão do capital de giro da empresa. Ciclo Operacional O Ciclo Operacional é o prazo desde o início do processo de produção ao recebimento de caixa resultante da venda do produto acabado. Portanto, ciclo operacional é o período de tempo existente desde o momento da chegada da matéria-prima até o recebimento do produto da venda. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 68 Esse ciclo envolve duas categorias de ativos de curto prazo: estoques e contas a receber. Logo, temos aqui o uso de dois prazos médios: prazo médio de estocagem e prazo médio de recebimento. Para calcular o Ciclo Operacional devemos somar o prazo médio de estocagem com o prazo médio de recebimento, conforme abaixo: Vamos ao exemplo prático, utilizando os prazos médios da Grendene em 2018: Prazo Médio de Estocagem (PME) = 92 dias Prazo Médio de Recebimento (PMRV) = 109 dias Diante dos prazos apresentados, a Grendene possui um ciclo operacional de 201 dias, conforme a figura abaixo: Percebe-se que o processo de produção e venda da Grendene leva, em média, 92 dias. Porém, ela não recebe imediatamente pela venda dos seus produtos. Isso faz com que a empresa necessite de APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 69 capital de giro, visto que, após a venda dos produtos, as obrigações diárias precisarão ser honradas. A questão aqui é: quanto menor for o Ciclo Operacional, melhor é para a gestão do capital de giro da Companhia. Alguns fatores que podem contribuir para a mudança do Ciclo Operacional são: Aumento/Perda de eficiência operacional Melhora/Piora na Produtividade Equipe de vendas bem/mal treinada Alteração na política de vendas Aumento/Diminuição da inadimplência Aumento/Redução do prazo de pagamento aos clientes Ciclo Financeiro O Ciclo Financeiro, também conhecido como Ciclo de Conversão de Caixa, representa o período durante o qual os recursos de uma empresa ficam aplicados nos ativos imobilizados. Para calcular o Ciclo Financeiro deve-se subtrair o prazo médio de pagamento do ciclo operacional, portanto esse ciclo leva em conta três importantes componentes: (1) prazo médio de estocagem, (2) o prazo médio de recebimento e (3) o prazo médio de pagamento. Caso a empresa altere qualquer um desses prazos, também modificará o volume de recursos aplicados em suas operações no dia a dia. A fórmula para calcular o Ciclo Financeiro é: APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 70 No caso da Grendene, utilizando os prazos médios em 2018, temos: Prazo Médio de Estocagem (PME) = 92 dias Prazo Médio de Recebimento (PMRV) = 109 dias Prazo Médio de Pagamento (PMPC) = 12 dias Diante dos prazos apresentados, a Grendene possui um ciclo financeiro de 189 dias, conforme a figura abaixo: Podemos concluir que a Grendene tem uma saída de caixa em determinada data que só é compensada, por uma entrada de caixa, 189 dias depois. O problema disso é que, em alguns casos, a organização terá que obter recursos financeiros com terceiros para efetuar o pagamento da matéria-prima. Portanto, assim como ocorre com o Ciclo Operacional, quanto menor for o Ciclo Financeiro, melhor. Ao reduzir o Ciclo Financeiro a empresa demandará uma quantidade menor de recursos (como empréstimos bancários) para sustentar seus ativos operacionais. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 71 Tendo em mente os três componentes do Ciclo Financeiro, sua redução pode ser obtida através da aplicação de algumas estratégias, como: Girar o estoque com a maior velocidade possível, sem que resultem em vendas perdidas (rupturas) Cobrar as contas a receber com a maior rapidez possível, sem perder vendas resultantes do uso de técnicas de cobrança muito agressivas Efetuar pagamentos aos fornecedores com a maior lentidão possível, sem prejudicar a classificação de crédito da empresa O tempo desse ciclo afeta diretamente o lucro da empresa, porque quanto mais longo for o Ciclo Financeiro, maior é a necessidade de financiamento externo, e esse financiamento tem um custo, que é contabilizado no Resultado Financeiro da DRE. É aqui que entra a gestão do capital de giro da empresa, visto que a Necessidade de Capital de Giro é diretamente afetada pelo Ciclo Financeiro. Quanto maior o ciclo, maior a Necessidade de Capital de Giro. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 72 Indicadores de Capital de Giro e Necessidade de Capital de Giro s indicadores de capital de giro auxiliam na análise do equilíbrio financeiro da empresa, através do dimensionamento do nível de investimento em ativos circulantes e o grau de financiamento com passivos circulantes. Os ativos circulantes, também conhecidos como capital de giro, representama proporção do investimento total da empresa que circula na condução normal das operações. No Ativo em Giro encontramos as contas de Disponibilidades, Clientes, Estoques, Despesas Antecipadas etc. Já os passivos circulantes representam o financiamento de curto prazo. Esse financiamento inclui dívidas de curto prazo, normalmente com fornecedores, funcionários, governo, bancos, entre outros. A má gestão do capital de giro, ou seja, quando uma necessidade de investimento em giro é mal dimensionada, pode comprometer a solvência da empresa, gerando reflexos sobre sua rentabilidade. O APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 73 Capital de Giro Líquido (CGL) O capital de giro líquido é definido como a diferença entre os ativos circulantes e os passivos circulantes. Quando os ativos circulantes superam os passivos circulantes, dizemos que houve excedente das aplicações a curto prazo. Em geral, quanto maior for a margem entre os ativos circulantes e os passivos circulantes, maior é a capacidade da empresa de pagar as contas quando vencem. Em outras palavras, quanto maior o saldo positivo do CGL, maior será sua liquidez e menor será o risco da empresa se tornar tecnicamente insolvente. Veja os dados divulgados pela Grendene, no 4T18: Fonte: RI Grendene APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 74 O CGL da Grendene, no 4T18, era de R$ 2.563.404.000, evidenciando que houve excedente das aplicações de curto prazo e que a empresa possuiu uma situação financeira bastante confortável. Capital de Giro Próprio (CGP) O Capital de Giro Próprio é a parcela dos recursos próprios (Capital Social e Lucros Acumulados) investidos no giro. Em outras palavras, é o montante de recursos próprios que restam para aplicação no Giro, depois que forem feitas todas as aplicações em Investimentos Permanentes (móveis, imóveis, veículos, máquinas, equipamentos etc). Para calcular o Capital de Giro Próprio deve-se subtrair o Ativo Não Circulante do Patrimônio Líquido: Quanto maior o saldo do CGP, melhor é para a empresa. Isso significa que houve excedente de recursos próprios para financiar parte dos ativos circulantes, após financiamento dos ativos permanentes. Esse quadro indica que a empresa é autossustentável, havendo baixa dependência por endividamento. O CGP da Grendene, no 4T18, era de R$ 2.534.599.000, indicando que os recursos próprios são suficientes para financiar todos os ativos imobilizados, além de grande parte dos ativos circulantes. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 75 Necessidade de Capital de Giro (NCG) A necessidade de capital de giro é o montante mínimo que uma empresa deve ter em caixa para sustentar suas operações e manter o seu funcionamento. A NCG está diretamente ligada ao ciclo financeiro e ao volume de vendas. Quando o ciclo financeiro é longo, a necessidade de capital de giro é maior e vice-versa, quando o volume de negócios cresce eleva-se também a demanda de investimento em giro. A NCG é formada unicamente pelas contas operacionais, sendo calculada pela seguinte fórmula: Normalmente, encontramos no Ativo Circulante certos itens que não são operacionais, como Caixa e Aplicações Financeiras. Da mesma forma, o Passivo Circulante possui itens não operacionais, como Empréstimos e Financiamentos. Portanto, podemos dividir o Ativo Circulante em Ativos Operacionais e Ativos Financeiros, assim como podemos dividir os Passivos Circulantes em Passivos Operacionais e Passivos Financeiros. No caso da Grendene, de acordo com os dados do 4T18, os Ativos Operacionais totalizaram R$ 1.315.624.000, enquanto os Passivos Operacionais totalizaram R$ 199.814.000, gerando NCG de R$ 1.115.810, conforme a seguir: APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 76 Fonte: Grendene e autor É importante ressaltar que qualquer alteração que venha a ocorrer no volume de atividade da empresa (produção e vendas), ou em seus prazos médios, afetará diretamente o montante dos ativos e passivos operacionais. Quanto maior forem as vendas e/ou os prazos médios, maior será a necessidade de capital de giro e vice-versa. Do ponto de vista da análise da solvência, quanto menor for a NCG, melhor. Isso significa que a empresa terá menor dependência por recursos financeiros de curto prazo. Outro ponto importante é que o investidor pode se deparar com a NCG negativa. A NCG negativa indica que a empresa avaliada recebe antes de desembolsar, ou seja, o ciclo financeiro é negativo. Quando isso ocorre quer dizer que a empresa possui fontes externas de financiamento que cobrem todos os seus ativos operacionais e ainda sobram recursos. Normalmente, empresas assim possuem elevadas vantagens competitivas, que geram maior poder de barganha com os fornecedores e com os clientes, permitindo que ela receba pelas suas vendas antes mesmo de pagar aos seus fornecedores. Encontrar empresas com NCG negativa costuma ser muito bom! APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 77 Efeito Tesoura Até aqui já deu para você notar que o CGL indica o volume de recursos alocados para financiar o giro, enquanto a NCG revela o montante de capital permanente que uma empresa necessita para financiar seu capital de giro. Portanto, para avaliar o equilíbrio financeiro da empresa, ou seja, a maturidade de seus investimentos e financiamentos, é essencial confrontar o CGL e a NCG. Efetivamente, uma empresa denota segurança financeira somente quando o CGL é maior do que a NCG, porque significa que possui recursos em excesso diante de necessidades permanentes do capital de giro. Chamamos de Saldo de Tesouraria (ST) a diferença entre o CGL e a NCG: É muito comum o investidor se deparar com casos em que há um desequilíbrio entre a capacidade de financiamento das operações e o crescimento da atividade empresarial. Isso ocorre quando a expansão do negócio passa a exigir uma elevada aplicação de recursos no capital de giro, ultrapassando o nível do CGL. Quando, por vários exercícios seguidos, essa situação ocorre, indica falta de atenção da Diretoria e pode levar a empresa a uma situação de insolvência. Chamamos isso de efeito tesoura, nada mais é do que o aumento desordenado da diferença entre a NCG e o CGL, deixando o ST cada vez mais negativo. APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 78 Quando o ST é negativo, significa que a empresa não possui recursos financeiros suficientes para suprir suas necessidades de investimento em giro. Quando o ST é positivo, significa que as fontes de financiamento de longo prazo são mais do que suficientes para cobrir tanto as aplicações de longo prazo como as necessidades de investimento no giro dos negócios. O saldo restante pode ser utilizado para garantir a solvência diante de eventos inesperados ou sustentar seu crescimento com recursos oriundos das suas próprias operações. Alguns motivos para ocorrer o efeito tesoura são: Crescimento elevado do nível de atividade empresarial, acima da capacidade de financiamento da empresa Desvio de recursos do giro para imobilizações Inflação O Modelo Dinâmico, também conhecido como Modelo Fleuriet, fornece um enfoque mais dinâmico à análise de liquidez. O quadro abaixo permite visualizar a classificação na qual estes perfis são ordenados de acordo com o nível de solvência: APRENDA A ANÁLISE FINANCEIRA DE BALANÇOS 79 Indicadores de Liquidez liquidez de uma empresa é medida por sua capacidade de cumprir as obrigações de curto prazo à medida que vencem. Os indicadores de liquidez visam analisar a capacidade de pagamento da organização e seu equilíbrio financeiro, frente à sua necessidade de investimento em capital de giro. No entanto, uma liquidez boa não significa que a empresa irá possuir fluxo de caixa disponível