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LEISHMANIOSE VISCERAL INTRODUÇÃO → Doença causada por protozoário do gênero Leishmania. → Transmitida pela picada da fêmea do mosquito flebótomo (fêmea suga sangue, podendo ser transmissor de várias doenças). → Popularmente conhecida como calazar no Brasil EPIDEMIOLOGIA → Os estados brasileiros com maior prevalência são: MG, BA, Ceará, Piauí e Maranhão. → Na América Latina, o Brasil representa 90% de todos os casos, sendo cerca de 3.400 por ano. → A doença tem predomínio no meio periurbano (regiões periféricas da cidade). → O agente etiológico é a Leishmania chagasi. → No Brasil existem 6 espécies de Leishmania responsáveis pela doença humana, e mais de 200 espécies de flebotomíneos (mosquitos) responsáveis pela transmissão. (o mais prevalente é a L.braziliensis). → É uma doença de notificação compulsória no Brasil, entretanto, há muitos casos assintomáticos que não são descobertos e notificados. FATORES DE RISCO → Idade <5 anos (mais prevalente na pediatria) → Coinfecção pelo HIV ou imunodeficiência → Desnutrição ETIOLOGIA → A Leishmaniosa é causada pelo parasita Leishmania que possui duas formas básicas: Amastigota: → Encontrada em homens e animais; → Está no interior dos macrófagos; → O mosquito ingere os macrófagos contendo amastigotas quando se alimentam do sangue. → No intestino da fêmea do mosquito, a leishmania sofre transformação em promastigotas. Promastigota: → Flageladas e extracelulares, encontradas no intestino do mosquito. → Após várias etapas de diferenciação se transformam em infecciosos e migram para o aparelho bucal do mosquito, onde esperam para serem lançadas e infectar um novo indivíduo. CICLO BIOLÓGICO 1. A leishmaniose é transmitida pela picada de flebotomíneas infectadas, que ao se alimentarem de sangue, injetam promastigotas metacíclicos (o estágio infeccioso da leishmania) de seu aparelho bucal. 2. Os promastigotas inseridos, agora são fagocitados pelos macrófagos e outras células fagocíticas do indivíduo infectado. 3. Nessas células (macrófagos), os promastigotas se transformam em amastigotas (o estágio tecidual). 4. Os amastigotas se multiplicam por divisão simples e infectam outras células fagocíticas. 5. 5–6. Um novo mosquito, ao se alimentar do sangue do hospedeiro infectado, acaba sendo também infectado pela ingestão de macrófagos com a presença de amastigotas. 6. 7. No intestino das flebotomíneas, os amastigotas se transformam em promastigotas, se multiplicam, se desenvolvem e migram para a o aparelho bucal do mosquito TRANSMISSÃO → Os vetores da doença são mosquitos fêmeas hematófagos conhecidos como flebotomíneos, sendo as principais espécies de vetores, o Lutzomiyia longipalpis e o Lutzomyia cruzi. → O principal reservatório desse protozoário no ambiente urbano é o cachorro (Canis familiaris). → Enquanto no ambiente rural normalmente os reservatórios são animais silvestres como raposas e marsupiais. → Período de Incubação: no homem varia de dez dias a vinte e quatro meses e no cão varia de três meses a vários anos. (A doença pode ser transmitida no período de incubação). → Outros mecanismos de transmissão: o Compartilhamento de seringas e agulhas contaminadas; o Transfusões sanguíneas; o Transmissão congênita; o Acidente de laboratório. PATOGENIA Patogenia: é o processo de eventos do estímulo inicial até a expressão morfológica da doença. → A sequência dos acontecimentos a partir do momento da picada do vetor até o aparecimento dos sintomas depende de fatores genéticos e imunológicos. → E o grau de expressão clínica vai ser determinado pelo resultado da interação do parasita com o hospedeiro. → Nesse processo, o parasita tem estratégias, que são os mecanismos de evasão às várias etapas da infecção. → A maioria das infecções serão assintomáticas e autolimitadas, e a menor parte evolui para a leishmaniose visceral. → Na presença do sangue humano, a forma promastigota, pode ser lisada/morte pela ativação do sistema complemento e pela participação de anticorpos inespecíficos. → Obs. O LPG (lipofosfoglicano) que está no glicocálix, ou seja, na membrada do parasita, é também capaz de inibir enzimas lisossomais e, sua ligação com a proteína gp63, tem importante papel protegendo as proteínas do próprio parasita da degradação. → Com a sobrevivência do parasita aos mecanismos próprio do corpo humano, ocorre a fagocitose, com a transformação das promastigotas em amastigotas. Em seguida, se multiplicam dentro dos macrófagos. Resposta imune do hospedeiro: → O macrófago parasitado apresenta antígeno aos linfócitos CD4+ e, por meio de seus receptores esses linfócitos são ativados. (duas vias de ativação: th1 e o th2) → Caso ocorra a preferência pelos linfócitos TCD4+ do subtipo Th1, haverá produção de interleucinas do padrão Th1 (IFN-y, IL-12, TNF-a e IL-2) levando à ativação dos macrófagos e à destruição dos parasitas e resolução do processo. → Por outro lado, se a resposta for do tipo Th2 (IL-4 e IL-10), o parasito escapa do ponto de inoculação e se dissemina, sendo carregado por macrófagos para todos os órgãos. → Entretanto, na LV ocorre a produção inadequada de IL-2 e IFN-gama, o que explica a incapacidade do macrófago infectado de destruir os parasitas. → Ainda sobre a patogenia, observa-se diminuição da população de linfócitos T no sangue periférico, que ocorre durante a fase ativa de doença. → Um dos grandes desafios da imunopatogenia da LV é entender o mecanismo de visceralização da doença (atinge órgão como baço e fígado). Entretanto, alguns consideram que fatores genéticos sejam responsáveis por esse padrão. PATOLOGIA Examina as respostas específicas de órgãos e tecidos a estímulos. Fígado: → O fígado pode apresentar padrões morfológicos variados em reação a resposta do hospedeiro à infecção. → Padrão típico: acentuada hipertrofia e hiperplasia das células de Küpffer (São capazes de fagocitar substâncias estranhas presentes no sangue dos seios hepáticos). → Padrão nodular: agregados de linfócitos, macrófagos e plasmócitos nos lóbulos hepáticos e nos espaços portais. → Padrão fibrogênico: ampliação do espaço de Disse com a proliferação sinusoidal, observado na doença de longa duração ou após o tratamento; → Padrão cirrótico: observada no calazar indiano de longa duração, é raramente registrada no Brasil. Pulmão: → Nos pulmões, pode encontrar pneumonia intersticial e focos de fibrose septal. Rins: → Pode ocorrer comprometimento glomerular discreto, com hiperplasia e hipertrofia das células mesangiais, levando a uma glomerulite. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS → O quadro clínico depende diretamente da resposta imunológica do paciente. Os pacientes que não conseguem responder adequadamente ao protozoário apresentam quadro visceralizado. Assintomáticos: → Pacientes sem manifestações clínicas → Maioria dos quadros → Bastante detectada em indivíduos que residem em áreas com alto perfil epidemiológico. → Pode-se detectada a presença de anticorpo no soro do paciente, mesmo estando assintomáticos. Oligossintomáticos: → Sintomas inespecíficos → Febre baixa → Tosse seca → Diarreia → Sudorese → Discreta visceromegalia (fígado levemente aumentado) Fase Aguda: → Febre alta → Tosse e diarreia acentuada → Calafrios → Discreta esplenomegalia – até 5cm → É confundido com doenças febris e agudas que cursam com hepatoesplenomegalia. → A característica mais marcante é a o aumento dos anticorpos IgM e IgG antileishmânia. → Hemograma com pacitopenia: o Hemoglobina: <10g/dl o Leucócitos: 2.000-4.000mm³ o Plaquetas: < 200.000mm³ Fase Crônica: → Febre alta e diária, apresentandopicos diários e períodos de remissão. → Perda ponderal, com queixa de fraqueza e acompanhado de desnutrição grave. → Esplenomegalia que pode ser acompanhada de hepatomegalia e aumento do volume abdominal. → Dor abdominal em virtude da distensão da capsula esplênica. → Manifestações hemorrágicas e gastrointestinais, como epistaxes, gengivorragia e diarreia. → Tosse seca relacionada a pneumonite intersticial. → A sintomatologia evolui durante mais de 3 meses. → Exames de laboratório: o Pancitopenia: ▪ Hemoglobina: <9g/dl (anemia normocítica normocrônica) ▪ Leucometria: <3000mm³ ▪ Plaquetas: <100.000mm³ → VHS aumentado → Hipoalbuminemia + hipergamaglobulinemia → Forma Grave: → Grande esplenomegalia com caquexia pronunciada e anemia intensa. → Podem ocorrer as complicações determinantes de óbitos como hemorragias, ascite e icterícia ou infecções bacteriana. → Pacientes em extremos da idade são os mais acometidos: o Crianças com < 6 meses o Idosos com > 65 anos. O quadro da LV apresenta alta mortalidade, chegando a 10% mesmo com tratamento adequado, apresentando mortalidade ainda maior em pacientes imunossuprimidos, principalmente aqueles com HIV. DIAGNÓSTICO Dados epidemiológicos: → Verificar a procedência e residência do paciente, assim como histórico de viagens a lugares endêmicos no último ano. → Investigar animais infectados ou reconhecimento do mosquito infectante. Dados Clínicos: → Clínica de febre + hepatoesplenomegalia + anemia + manifestações hemorrágicas. → Solicitar hemograma: o Pacitopenia ▪ Hemoglobina: <10g/dl ▪ Leucócitos: 2.000-4.000mm³ ou <3.000 ▪ Plaquetas: < 200.000mm³ o Leucopenia e linfocitose. o Hipoalbunemia e hipergamaglobulinemia. Exames de detecção do parasito: Esfregaço do sangue: → Objetivo de encontrar as formas amastigotas no interior do macrófago. → O exame pode ser realizado: o Sangue periférico → sensibilidade <30%, aumentando nos casos de coinfecção pela Leishmania-HIV (cerca de 50%). o Aspirado de medula óssea → sensibilidade de 70% o Aspirado esplênico → padrão-ouro (90 a 95%). → A aspiração esplênica é eficiente e sem complicações quando feita de forma cuidadosa por clínicos experientes. → Os requisitos: o Esplenomegalia: <3cm o Atividade protrombina: >60% o Plaquetometria: >40.000mm³ Cultura da Leishmania: → Método NNN (novy, mcneal, nicolle) – apresenta positividade após 5 a 15 dias. Método PCR: → Feito com amplificação do DNA do parasito → 94% de sensibilidade → Para ser realizado depende do tipo de amostra, do alvo do DNA e do método de extração. Exames sorológicos: → Principal usado: ELISA → Pode ser usado como triagem diagnóstico, pois é limitada pela reatividade cruzada com doenças como a doença de Chagas, tuberculose, lepra e leishmaniose tegumentar. → Por isso recomenda-se que depois de feito, ser confirmado com a pesquisa direta do parasita. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS → Doenças de curso crônico e que apresentem durante a evolução febre e hepatoesplenomegalia, como a histoplasmose, a tuberculose miliar, a toxoplasmose, a endocardite bacteriana e a malária crônica. TRATAMENTO Internação: → A internação está indicada, de forma geral, a todos os pacientes com a forma grave de LV. → Assim como com alterações laboratoriais que podem ser consideradas como fatores de mau prognóstico em decorrência de risco de infecção ou sangramento. Drogas de tratamento: → Glucantime – primeira escolha de tratamento → Anfotericina – reservada para retratamentos ou casos de gravidade → Pentamidina – não encontrada facilmente no Brasil, em desuso. Glucantime: → São utilizados como primeira escolha no Brasil, devido sua eficácia e baixo custo. → São usadas no tratamento do calazar desde 1915 → Uso: 20mg/kg/dia – via intravenosa ou intramuscular (20 a 30 dias consecutivos). → Efeitos colaterais podem ser observados em até 30% dos pacientes, mas raramente justificam a suspensão da droga. → Os mais comuns são artralgias, mialgias, dor abdominal, náuseas e vômitos, aumento da amilase e lipase (pancreatite aguda em alguns casos), anemia, leucopenia, trombocitopenia, hematúria e elevação das aminotransferases. → Morte súbita (por taquiarritmias ventriculares) tem sido relatada, principalmente com doses superiores a 20 mg/kg/dia. Anfotericina B lipossomal: → A droga de segunda escolha é a anfotericina B (desoxicolato), utilizado em casos de falência do glucantime. → Esta droga não deve ser usada na vigência de insuficiência renal (pois é nefrotóxica). → A anfotericina B lipossomal, menos tóxica e mais cara, torna-se a droga de primeira escolha para → pacientes com idade > 50 anos, para portadores de transplante hepático, renal e/ou cardíaco, portadores de insuficiência renal crônica e nas gestantes. CRITÉRIOS DE CURA → Os critérios de cura são essencialmente clínicos. → O desaparecimento da febre é precoce e acontece por volta do quinto dia de medicação; → A redução da hepatoesplenomegalia ocorre nas primeiras semanas. – Ao final do tratamento o baço geralmente apresenta redução de 40% ou mais em relação à medida inicial. → A melhora dos parâmetros hematológicos (hemoglobina e leucócitos) surge a partir da segunda semana. → O ganho ponderal é evidente, com retorno do apetite e melhora do estado geral. → O paciente tratado deve ser avaliado aos três, seis e doze meses após o tratamento. PROFILAXIA → Dirigidas ao homem - Estimular as medidas de proteção individual, tais como o uso de repelentes e de mosquiteiros, assim como, evitar se expor nos horários de atividade do vetor (crepúsculo e noite). → Dirigidas ao vetor - Saneamento ambiental, como limpeza urbana, eliminação de resíduos sólidos orgânicos e destino adequado dos lixos. → Dirigida aos cães - controle da população canina infectada VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA → E uma doença de notificação compulsória e requer investigação epidemiológica. → Os municípios foram classificados de acordo com o número de casos dos últimos três anos: o Transmissão esporádica: < 2,4 casos o Transmissão moderada: > 2,4 - < 4,4 casos o Transmissão intensa: > 4,4 casos. Definição de caso: → Caso suspeito: o Todo individuo proveniente de área com recorrência de LV e que apresenta febre e esplenomegalia; o Ou todo individuo de área sem ocorrência de LV, com febre e esplenomegalia, desde que seja descartado outros diagnósticos mais frequentes na região. → Caso confirmado: o Critério clínico-laboratorial: são os casos clinicamente suspeitos, com exame parasitológico positivo (principalmente com o método de punção e esfregaço do sangue). o Critério clínico-epidemiológico: são os casos de em áreas de recorrência de LV, com suspeita clínica, só que sem confirmação laboratorial, mas com uma resposta favorável ao teste terapêutico.