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Kamilla Galiza / 6º P 1 Hepatoesplenomegalia A hepatoesplenomegalia é um diagnóstico sindrômico caracterizado pelo aumento do volume do fígado e baço provocado geralmente por uma grande atividade de defesa imunológica do organismo. Geralmente indica a existência de uma hepatopatia (doença do fígado) grave, porém, muitos indivíduos com hepatopatia podem apresentar um fígado de tamanho normal ou mesmo menor do que o normal, fato não tão frequente assim quando tratamos do baço. Obs: O aumento de tamanho do baço é consequência da concentração de glóbulos e plaquetas, o que pode aumentar o risco de outras doenças e infecções. Tabela 1. Principais causas de hepatomegalia. Insuficiência cardíaca direita Colestase extra-hepática Cirrose Fibrose esquistossomótica Hepatite Esteatose Neoplasias Linfomas Tabela 2. Principais causas de esplenomegalias. Hipertensão portal Infecciosas e parasitárias: • Hepatite viral • Febre tifoide • Malária • Calazar • Chagas Anemias hemolíticas Policetemia vera, leucemia, linfoma de Hodgking e não Hodgkin Artrite reumatoide e Lúpus Cistos e amiloidose Investigação semiológica Fígado • Palpação do fígado: apalpar o hipocôndrio direito, flanco direito e o epigástrio, partindo do umbigo até o rebordo costal. • Hepatimetria: consiste na percussão da linha hemiclavicular a partir do 3º espaço intercostal, em sentido caudal, seguindo a linha. • Lobo de Riedel: anormalidade anatômica do fígado, que é um lobo hepático acessório, raro e em forma de lingueta, situado no lobo hepático direito. Essa anomalia, ao exame físico em palpação, pode simular uma hepatomegalia. • Dor → estiramento da cápsula de Glisson → geralmente em causas na qual a hepatomegalia acontece de forma mais rápida e aguda → insuficiência cardíaca, metástase hepática. Baço • Palpação do baço: avaliar se o espaço de Traube encontra-se livre (normal) ou ocupado (suspeita de hiperesplenismo). • Sinal de Castell: na linha axilar anterior esquerda percute-se o espaço intercostal mais inferior (ponto de Castell) que normalmente é timpânico, e peça ao paciente para respirar profundamente, se permanecer o timpanismo na inspiração profunda é improvável a esplenomegalia; mas se houver mudança para macicez esplenomegalia mais provável. Investigação clínica • Anamnese → fundamental para identificação etiológica da hepatoesplenomegalia. • Antecedentes familiares (pensando em buscar alguma doença metabólica e/ ou genéticas); • Antecedentes pessoais (infecções congênitas e doenças neonatais); • Levantamento epidemiológico (viagens, condições de vida e lazer). • Questionar hipoglicemias, tremores, convulsão, sempre pensando em algum distúrbio metabólico; • Alerta a histórico positivo de infecção congênitas por STORCH. • STORCH: sífilis (S), o protozoário Toxoplasma gondii que causa a toxoplasmose (TO) e os vírus da rubéola (R), citomegalovírus (C), vírus herpes simplex (H). • Além disso, precisamos ficar alerta aos sinais e sintomas, principalmente quando estiverem sido relatados febre, anemia, icterícia, alterações vasculares, perda de peso, queixas respiratórias, queixas articulares, ascite, adenomegalias, prurido, antecedentes de hemorragias entre outros. Diagnóstico laboratorial • Hemograma: pode ajudar muito na diferenciação etiológica quanto aos valores que são encontrados, Kamilla Galiza / 6º P 2 como por exemplo uma pancitopenia, uma leucocitose ou atipia linfocitária. • Pesquisa direta de parasitas: exame muito importante e deve ser feita para identificar o parasita e que se baseiam na demonstração do parasito em lâmina. • Mielograma: é um exame muito utilizado para diagnóstico principalmente para leucemias e outras neoplasias, assim como para casos de suspeita de calazar também. É um dos exames para avaliação da medula óssea e é realizado através de uma punção óssea, seguida de aspiração, sendo realizada sob anestesia local. Os ossos mais abordados são o ilíaco, o esterno e a tíbia. • Provas bioquímicas: instrumentos mais utilizados, mas devem ser sempre solicitadas de acordo com as suspeitas. ® Colesterol ® Glicemia ® Ureia e Creatinina ® Amônia ® Bilirrubina ® TGO e TGP (transaminases) ® Fosfatase alcalina (FA) e Gamaglutamiltransferase (GGT) ® LDH ® Eletroforese de proteínas ® Dosagem de Cu2+ (soro e urina) ® Fe2+ / Fe3+ e Ferritina • Sorologias e culturas: (hemocultura, coprocultura, urocultura) referentes às etiologias, principalmente quando estas tiverem uma natureza infecciosas. • Teste tuberculínico de PPD • Teste imunocromatográfico Rk-39. Leishmaniose visceral Introdução O termo leishmaniose se refere às doenças causadas por protozoário do gênero Leishmania. Ela é transmitida pela picada da fêmea do mosquito flebótomo. Conforme a região, vários animais e até o homem pode atuar como reservatório. As manifestações clínicas da leishmaniose variam de acordo com a patogenicidade do parasita (que difere entre espécies) e a resposta imune celular geneticamente determinada pelo hospedeiro humano, podendo variar de assintomáticas e autolimitadas à comprometimento da pele e mucosas. • Transmissão principal: Vetorial, mosquito Lutzomya • Protozoários do gênero Leishmania (América: L. Chagasi) • Doença de notificação compulsória Obs: A LV que ocorre na Índia e é também conhecida como calazar (kala-azar) significa febre negra, em virtude do escurecimento observado na pele. No Brasil, a LV americana não apresenta esta característica por ser causada por outra espécie de leishmania. Patógeno A Leishmania é um parasita digenético com duas formas básicas. No homem e em outros animais, é encontrada no interior de fagócitos mononucleares (macrófagos) sob a forma de amastigotas intracelulares. As fêmeas dos mosquitos servem como vetores. Elas ingerem macrófagos contendo amastigotas quando se alimentam do sangue de um reservatório contaminado. No intestino da fêmea do mosquito, a Leishmania sofre uma transformação, tomando a forma de promastigotas, que são flagelados e extracelulares; até que, após várias etapas de diferenciação se transformam em metacíclicos infecciosos, que irão migrar para o aparelho bucal do mosquito e são inoculados quando o flebótomo tenta se alimentar novamente. A leishmania causa doenças que podem se apresentar de formas muito distintas, a depender do agente etiológico Kamilla Galiza / 6º P 3 (subtipo específico de Leishmania) e da resposta imunológica do paciente, sendo classificada como uma antropozoonose que pode se apresentar na forma cutânea localizada, cutânea disseminada, cutânea difusa, mucocutânea e leishmaniose visceral (LV). O principal reservatório desse protozoário no ambiente urbano é o cachorro (Canis familiaris), enquanto no ambiente rural normalmente os reservatórios são animais silvestres como raposas e marsupiais. Os vetores da doença são mosquitos fêmeas hematófagos conhecidos como flebotomíneos, que podem ser do gênero Phlebotomus no velho mundo e do gênero Lutzomyia no Novo Mundo, como é o caso do Brasil, onde as principais espécies de vetores são o Lutzomiyia longipalpis e o Lutzomyia cruzi. A LV apresenta um período de incubação bastante variável tanto para o homem como para o cão. No homem varia de dez dias a vinte e quatro meses e no cão varia de três meses a vários anos. Em relação ao período de transmissibilidade, o vetor poderá se infectar enquanto o parasitismo persistir na pele ou no sangue circulante dos reservatórios. De forma simplificada, o ciclo da vida da Leishmania é resumido pela picada de um flebotomíneo infectado a um ser humano ou outro reservatório (mais comumente o cão), infectando-o com promastigotas de Leishmania que apresentam a capacidade de invadir macrófagos e sobreviver dentrodeles. Nos macrófagos, a promastigota passa para a forma amastigota, se replicando e posteriormente infectando outros macrófagos. Quando o flebotomíneo pica um reservatório infectado pela Leishmania, ingere macrófagos infectados por amastigotas, que são então liberadas no intestino do flebotomíneo. As amastigotas passam então novamente à forma de promastigotas, e assim o ciclo da vida da Leishmania se reinicia. Epidemiologia • A forma visceral também conhecida como calazar, é endêmica em 88 países, incluindo países da África, Ásia, Europa e América Latina. • No Brasil, os estados com maiores prevalências de LV são: • MG, Bahia, Ceará, Piauí e Maranhão. • A doença predomina no meio periurbano. • A forma tegumentar é endêmica na América Latina. Brasil, Peru e Bolívia são responsáveis por 90% dos casos. No Brasil, a maior incidência é na região Norte e Nordeste. • No Brasil existem 6 espécies de Leishmania responsáveis pela doença humana, e mais de 200 espécies de flebotomíneos implicados em sua transmissão. O mais prevalente é a L. braziliensis. Outras espécies menos comuns são: L. guyanensis, L. lainsoni, L. naiff. • Os registros da OMS de 2015 indicam cerca de 200.000 novos casos de LV nesse ano, no entanto, acredita-se que esses dados sejam muito subestimados, uma vez que a LV é uma doença endêmica de áreas pobres, com assistência limitada à saúde e problemas tanto na assistência quanto na notificação da doença, principalmente na África. • A LV é uma doença de notificação compulsória no Brasil. Há ainda muitos casos assintomáticos que não são descobertos e notificados. • Fatores de risco para infecção entre os moradores das áreas endêmicas são:ü Idade < 5 anos ü Coinfecção pelo HIV ou outra forma de imunodeficiência ü Desnutrição. Kamilla Galiza / 6º P 4 Fisiopatologia Leishmania Visceral A infecção é adquirida quando uma fêmea de flebotomíneo inocula promastigotas em uma área exposta da pele, que pode formar um nódulo cutâneo, úlcera ou não ter nada (maioria dos casos). Os parasitas se convertem em promastigotas e se multiplicam no interior de fagócitos mononucleares e se disseminam através dos vasos linfáticos e do sistema vascular para outros fagócitos ao longo de todo o sistema reticulo endotelial. A maioria das infecções serão assintomáticas e autolimitadas, e a menor parte evolui para a leishmaniose visceral clássica (ou calazar). Alguns estudos acreditam que esta susceptibilidade é por uma associação genética entre a leishmania e o gene SLC11A1 (regula a atividade do macrófago); assim como o polimorfismo da IL-4. Sendo que o tipo de resposta imune montada contra o patógeno determina as consequências da infecção: Resposta Th1 consegue conter o processo infeccioso de forma mais adequada, pois eles ativam os macrófagos através de citocinas como IL-12, IFN-gama e TNF-alfa, levando a destruição das formas amastigotas intracelulares. Entretanto, pacientes que secretam IL-10 tem uma resposta Th1 frustrada, evoluindo com uma multiplicação desenfreada do parasita, compondo o quadro clínico no calazar. O parasita parece ter diversos mecanismos adaptativos para impedir o combate efetivo do organismo do hospedeiro contra ele. A Leishmania reduz a ativação das células T CD4+, reduzindo a reação inflamatória contra a infecção. Além disso, para serem capazes de sobreviverem e se reproduzirem dentro dos macrófagos, as amastigotas impedem a produção de superóxido por parte do macrófago, bem como reduz a produção do óxido nítrico, importantes mecanismos de exposição à radicais livres para combate a microrganismos invasores. Leishmania tegumentar A sequencia de eventos é a seguinte: O exame histopatológico revela inflamação crônica e aguda, com alterações granulomatosas. Células mononucleares do sangue periférico de individuas com leishmaniose cutânea típica produzem interferon-y em resposta a antígenos de Leishmania in vitro, e os pacientes apresentam reação de hipersensibilidade do tipo tardio. Na lesão, parece haver um equilíbrio entre uma imunidade celular protetora e uma exacerbadora da doença. Por fim, as células T com resposta Th 1 (ação pró-inflamatória) predominam e ocorre a cura da lesão, deixando uma cicatriz atrófica no local. As diferentes apresentações cutâneas parecem apresentar relação com o desenvolvimento de uma resposta imunológica adequada. Aparentemente, pacientes com resposta imunológica inadequada (predominantemente Th2), apresentam maior risco de apresentar a forma cutânea disseminada da doença. Manifestações clínicas Leishmaniose visceral Estudos indicam que cerca que a maioria dos pacientes infectados pelo L. Infantum são assintomáticos (proporção de 4:1), sendo descobertos apenas através de testes sorológicos. No caso de pacientes sintomáticos, alguns autores dividem em: forma aguda e forma crônica. Basicamente, diz respeito ao tempo de evolução da doença. Na forma aguda, os sintomas mais comuns apresentados pelos pacientes são febre alta, calafrios, diarreia (pode ser do tipo disenteria) e esplenomegalia até 5 cm do rebordo costal esquerdo (RCE). A forma crônica é a mais comum, conhecida como calazar clássico. Esses pacientes apresentam sintomas com início insidioso no decorrer de meses, normalmente apresentando fadiga, febre, perda ponderal e esplenomegalia, que pode ser acompanhada por hepatomegalia – normalmente menos significativa que a esplenomegalia. Esses pacientes podem apresentar dor abdominal em virtude da distensão da cápsula esplênica, principalmente em casos de evolução mais rápida. Kamilla Galiza / 6º P 5 Com a progressão da doença, os pacientes podem se apresentar anêmicos (e hipocorados ao exame físico), emagrecidos, com ascite em virtude de hipoalbuminemia, podem apresentar até mesmo disfunção hepática, e como consequência, icterícia. Raramente, pacientes apresentam também acometimento do intestino, apresentando diarreia crônica. Em estágios tardios, esses pacientes também podem apresentar complicações hemorrágicas (hemoptise, sangramento gengival) em virtude de plaquetopenia e redução dos fatores de coagulação. Cerca de 40% dos pacientes com LV apresentam algum grau de comprometimento renal, sendo o achado mais comum a presença de proteinúria aumentada. Em uma pequena porção dos pacientes, é detectada também redução da taxa de filtração glomerular. Essas lesões parecem estar relacionadas a uma nefrite intersticial por imunocomplexos. Esse quadro costuma apresentar melhora espontânea com o tratamento da LV. Além disso, há associação entre a presença de LV e imunossupressão, com coinfecções bacterianas complicando o quadro clínico. O quadro da LV apresenta alta mortalidade, chegando a 10% mesmo com tratamento adequado, apresentando mortalidade ainda maior em pacientes imunossupressos, principalmente aqueles com HIV, que representam cerca de 6% dos pacientes com LV no Brasil. Em virtude da alta prevalência desse achado nos pacientes com LV, a esplenomegalia é um dos principais sintomas para guiar o médico no raciocínio diagnóstico, pensando no diagnóstico diferencial das condições que causam esplenomegalia. Confira esse fluxo com algumas das principais causas de esplenomegalia. Leishmaniose tegumentar O período de incubação da Leishmania tegumentar é de 1-3 meses. A leishmaniose cutânea inclui diversas formas de variação pode ir desde cutânea difusa, caracterizada por lesões cutâneas nodulares disseminadas, contendo um grande número de macrófagos infectados com amastigotas. Essas lesões nodulares não evoluem para úlceras, uma vez que a resposta Th1 protetora não se desenvolve de forma adequada e a síndrome persiste indefinidamente; manifestando-se na forma de lesões destrutivas crônicas. Nas lesões típicas, que são úlceras indolores únicas, há evidência de uma resposta Th1 intensa, produção de IL-10 diminuídae baixa resposta exógena de IL-10. O mesmo paciente pode apresentar apenas uma ou múltiplas lesões cutâneas. Nas lesões ulceradas, pode ocorrer infecção bacteriana sobreposta, o que pode dificultar o diagnóstico clínico com base na morfologia da lesão. O diagnóstico diferencial é bastante extenso, por isso é muito importante buscar na história do paciente se ele mora em região endêmica da doença e questionar sobre como foi a evolução da lesão. O diagnóstico diferencial inclui miíase cutânea, pioderma granuloso, impetigo, líquen simples crônico, malignidades cutâneas, úlcera tropical, tuberculose cutânea e diversas outras lesões cutâneas. O que define a manifestação cutânea da Leishmaniose é principalmente a relação entre a resposta imunológica do paciente e o grau de replicação da Leishmania. Pacientes com doença localizada apresentam baixa replicação do protozoário, em virtude de uma intensa resposta pró- inflamatória Th1, que ativa os macrófagos e reduz a proliferação da Leishmania. Pacientes com lesões difusas, normalmente não apresentam lesões ulcerativas, e sim nódulos nos quais há grande replicação dos protozoários, em virtude de um predomínio de resposta Th2 e liberação de citocinas como o IL-4 e IL-10 que apresentam ações que reduzem a inflamação crônica, através de diversos mecanismos, como por exemplo uma menor ativação de macrófagos. Pacientes com imunodeficiências (a mais comum delas sendo em decorrência de coinfecção pelo HIV) costumam apresentar resposta imunológica inadequada, e apresentam riscos maiores de desenvolver a forma disseminada da doença. Kamilla Galiza / 6º P 6 Diagnóstico Apesar de não ser utilizado para fins diagnósticos, o teste intradérmico de Montenegro é usado para triagem. Ele é realizado com extrato de antígenos da Leishmania (é semelhante ao PPD), que se baseia na “memória imunológica” dos linfócitos Th1. O teste permanece positivo por anos, mesmo após a resolução do quadro. Entretanto, ele não é reativo em pessoas com Leishmaniose visceral. Possui melhor resultado na Leishmania tegumentar. Leishmania visceral Faz-se uma suspeita diagnóstica presuntiva com base na clínica do paciente, sendo mais difícil na fase inicial e em pacientes com AIDS, que apresentam quadro clínico atípico. Pensar sempre em calazar se: FEBRE ASSOCIADA A ESPLENOMEGALIA. PANCITOPENIA: anemia, leucopenia e plaquetopenia. Outro achado clássico: Hipoalbuminemia e Hipergamaglobulinemia (são inespecíficas, porém dentro de um contexto epidemiológico deve-se pensar em leishmaniose visceral) A confirmação é feita pela presença dos amastigotas em tecidos ou com o isolamento de promastigotas em cultura. O aspirado do tecido pode ser realizado no baço (padrão ouro), medula óssea (menos sensível: 70%), fígado e linfonodos (quando aumentados). Para a cultura o meio mais utilizado é o NNN, Schneider e LIT, sendo que leva cerca de 5- 15 dias para as formas promastigotas se proliferaram e o exame positivar (sensibilidade de 60%). Pode-se eventualmente visualizar a Leishmania no esfregaço de sangue periférico, porém é pouco sensível (30%). Os testes sorológicos são úteis para triagem e apesar de muito sensíveis, são pouco específicos, ou seja, sempre deve-se confirmar o resultado positivo com a pesquisa direta do parasita. Os testes sorológicos são úteis para triagem e apesar de muito sensíveis, são pouco específicos, ou seja, sempre deve- se confirmar o resultado positivo com a pesquisa direta do parasita. Os testes sorológicos se tornam menos sensíveis naqueles pacientes que apresentam imunodeficiências primárias ou adquiridas. Kamilla Galiza / 6º P 7 • Testes sorológicos: pesquisa de anticorpos contra leishmania. ® Imunofluorescencia indireta (RIFI): Amostras + a partir da diluição de 1:80 ® Ensaio imunoenzimático (ELISA): Não disponível na rede publica de saúde ® Títulos variáveis dos exames sorológicos podem persistir positivos por longo período, mesmo após o tratamento. Assim, o resultado de um teste positivo, na ausência de manifestações clínicas, não autoriza a instituição de terapêutica Testes moleculares também são utilizados, detectando o DNA da Leishmania, apresentando como vantagem o fato de identificar pacientes imunosupressos. Como foi descrito no quadro clínico, diversas alterações decorrentes da progressão da LV, causam alterações de diversos exames laboratoriais, como anemia normocítica e normocrômica, neutropenia, eosinopenia, trombicitopenia, elevação de transaminases, hipoalbuminemia e elevação de bilirrubina. Apesar dos testes sorológicos serem úteis na investigação de pacientes com suspeita de LV, e apresentarem a vantagem de não serem invasivos, a biópsia deve ser realizada para confirmar o diagnóstico, através da presença de amastigotas. Os sítios em que a biópsia apresenta maior sensibilidade para esse diagnóstico são medula óssea e baço. Complicações • Geralmente a imunidade pode cair e essas complicações são secundarias a imunidade baixa. • Infecções bacterianas: otites, piodermites, infecção urinaria; • Sepse; • Hemorragias secundárias e plaquetopenia; • Hemorragia digestiva alta (HDA), icterícia: maior gravidade. Tratamento Drogas disponíveis • Anfotericina B lisossomal: é a droga que apresenta maior eficácia e segurança terapêutica. • Anfotericina B desoxicolato: essa opção apresenta mais efeitos colaterais, com destaque para a nefrotoxicidade. • Glucantine e pentostan: foram usadas por muito tempo como a primeira linha de tratamento para Leishmaniose, no entanto, devido a menor toxicidade da anfotericina, o papel dessas drogas como primeira escolha na monoterapia tem caído. - Alta incidência de flebite e trombose - Risco aumentado de desenvolvimento de pancreatite aguda - Risco de arritmias → monitorização eletrocardiográfica - Náuseas, dor muscular, astenia e cefaleia • Paromomicina, miltefosina e isetionato de pentamidina: essas drogas são menos utilizadas do que a anfotericina B e que os pentavalentes antimoniais. • A combinação de drogas pode ser necessária em casos de Leishmania resistente, o que não é comum no nosso meio. Mecanismo de ação da Anfotericina B: a ação clássica da anfotericina B é através da toxicidade contra a membrana celular fúngica, particularmente contra o ergosterol, uma molécula semelhante ao colesterol que compõe a parede celular fúngica. No entanto, no caso da ação da anfotericina B contra a leishmaniose, isso ocorre através de outros mecanismos de ação. Estudos in vitro indicam que a anfotericina B apresenta capacidade de inibir a respiração celular dependente de oxigênio da forma amastigota, aumento da permeabilidade da membrana celular da Kamilla Galiza / 6º P 8 leishmania causando perda de moléculas importantes para o seu metabolismo. A anfotericina interfere, ainda, com o funcionamento do transporte ativo de substâncias importantes para o metabolismo do protozoário, causando efeitos importantes como redução da eficácia do transporte de glicose do meio extracelular para o meio intracelular. Através desse conjunto de ações, a anfotericina B é uma droga que apresenta alta eficácia no tratamento da leishmaniose. Internação • Está indicada, de forma geral, a todos os pacientes com a forma grave de LV; • Com alterações laboratoriais que podem ser consideradas como fatores de mau prognóstico em decorrência de risco de infecção ou sangramento, como: ® Leucopenia menor que 1.000/mL ou neutropenia grave (menor que 500/mm3); ® Plaquetopenia abaixo de 50.000/mL; ® Outros achados laboratoriais que também indicam gravidade são: - Hemoglobina sérica < 7 g/dL - Creatinina > 2x o valor de referência - Alteração no coagulograma (atividade de protrombina < 70%) - Alteração hepática (bilirrubina total acima dos valores de referência - AST/ALT > 5x o limite superiorda normalidade - Albumina < 2,5 mg/mL) - Exame radiológico de tórax sugestivo de pneumonia. Para perceber se o paciente está melhorando observa-se os critérios de cura: • Desaparecimento da febre • Melhora o estado geral, aumento do apetite e ganho de peso • Recuperação das alterações hematológicas (normalização do número de plaquetas e de leucócitos), melhora da anemia. • Redução das “megalias” nas primeiras semanas. • A albuminemia eleva-se com a melhora clínica do doente mesmo durante o tratamento, e a hipergamaglobulinemia persiste por várias semanas ou até meses após a cura clínica. • A falha terapêutica é definida como a não-melhora dos critérios clínicos e laboratoriais (hematológicos e bioquímicos) durante a reavaliação do paciente no 1º, 3º, 6º e 12º mês de acompanhamento. Seguimento • Avaliar 3, 6 e 12 meses após o tratamento • Provas sorológicas não são indicadas • Deve-se avaliar se melhorou a citopenia, se o baço e fígado voltaram para o tamanho normal e demais critérios clínicos. Controle • Redução da transmissão e da letalidade • Vigilância e controle de reservatórios • Vigilância e controle de vetores • Vigilância de casos humanos • Educação em saúde Kamilla Galiza / 6º P 9 Referências • Cecil, Tratado de Medicina Interna, 25ª Ed., 2016. • Harrison Medicina Interna, 19ª Ed., 2015. • Nota Técnica nº 52/2011. Ministério da Saúde, Brasil. • Kumar Saha, A., Mukherjee, T. and Bhaduri, A. (1986). Mechanism of action of amphotericin B on Leishmania donovani promastigotes. Molecular and Biochemical Parasitology, 19(3), pp.195-200. • UpToDate, Aronson N., Cutaneous leishmaniasis: Clinical manifestations and diagnosis. • UpToDate, Bern C., Visceral leishmaniasis: Epidemiology and control. • UpToDate, Bern C., Visceral leishmaniasis: Treatment.