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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/285893601 Regulação Hormonal do Transporte de Glicose e Aminoácido e Sua Relação com as Funções e o Desenvolvimento das Células de Sertoli: Uma Revisão Article · December 2011 DOI: 10.15602/1983-9480/cmbs.v13n27p85-98 CITATIONS 0 READS 348 3 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: ANÁLISE DA INTERAÇÃO DAS RESPOSTAS NÃO CLÁSSICAS DAS VITAMINAS A E D SOBRE A RESPOSTA ELETROFISIOLÓGIA DA TESTOSTERONA NAS CÉLULAS DE SERTOLI DE RATOS WISTAR IMATUROS View project Gustavo Monteiro Escott Hospital de Clínicas de Porto Alegre 8 PUBLICATIONS 29 CITATIONS SEE PROFILE Luciana Abreu Da Rosa Universidade Federal do Rio Grande do Sul 6 PUBLICATIONS 12 CITATIONS SEE PROFILE Eloísa Silveira Loss Universidade Federal do Rio Grande do Sul 27 PUBLICATIONS 312 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Gustavo Monteiro Escott on 12 December 2015. The user has requested enhancement of the downloaded file. 85 Ciência em Movimento | Ano XIII | Nº 27 | 2011/2 Regulação hormonal do transporte de glicose e aminoácido e sua relação com as funções e o desenvolvimento das células de Sertoli: uma revisão Hormonal regulation of glucose and amino acid transport and its relation with functions and development of Sertoli cells: a review Gustavo Monteiro Escott1 Luciana Abreu da Rosa1 Eloísa da Silveira Loss1 RESUMO Para que os testículos sejam capazes de exercer sua função essencial de produção de espermatozoides, é indispensável que as células de Sertoli se desenvolvam adequadamente durante o período fetal e pré-puberal. O desenvolvimento normal das células de Sertoli requer uma regulação fina, exercida por diferentes hormônios como FSH, insulina, fatores de crescimento e citocinas. Durante o período proliferativo das células de Sertoli, esses hormônios regulam diversas funções metabólicas como o transporte de aminoácidos e de glicose, subs- tratos indispensáveis para proliferação, desenvolvimento e funcionamento adequado dessas células. Assim, esse trabalho realiza uma revisão sobre a regulação hormonal do transporte de aminoácidos e de glicose ao longo do desenvolvimento das células de Sertoli, tendo em vista sua importância para o desenvolvimento de testículos funcionais na idade adulta. PALAVRAS-CHAVE Célula de Sertoli – Testículo – Testosterona – FSH - IGF-I – Insulina. 1Laboratório de Endocrinologia Experimental e Eletrofisiologia Endócrina, Departamento de Fisiologia, Instituto de Ciências Básicas da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Artigo de revisão Ciência em Movimento | Ano XIII | Nº 27 | 2011/2 86 ABSTRACT In order that testes to be capable of performing its essential function of sperm production, it is essential that the Sertoli cells develop properly during fetal and pre-pubertal periods. The normal development of Sertoli cells requires a fine regulation exerted by different hormones such as FSH, insulin, growth factors and cytokines. During the Sertoli cell proliferation, these hormones regulate various metabolic functions as the transport of amino acids and glucose, substrates necessary for proliferation, development and appropriate functioning of these cells. Thus, this study provides an overview of the hormonal regulation of transport of amino acids and glucose during the development of Sertoli cells due to their importance for the development of functional testes in adulthood. KEYWORDS Sertoli cell – Testis – Testosterone – FSH - IGF-I – Insulin. Regulação hormonal do transporte de glicose e aminoácido e sua relação com as funções e o desenvolvimento das células 87 Ciência em Movimento | Ano XIII | Nº 27 | 2011/2 Introdução Os testículos são órgãos pareados e encapsu- lados cuja função básica é promover a produção de espermatozoides e de hormônios esteroides e pro- teicos essenciais à função reprodutiva masculina (Fawcett et al., 1970). Esses órgãos são constituídos por uma rede de túbulos seminíferos que realizam a produção e transporte de espermatozoides e um tecido intersticial composto pelas células de Leydig, que produzem hormônios androgênios, vasos san- guíneos e linfáticos responsáveis pelo movimento de hormônios e nutrientes para dentro e fora dos testículos (Skinner, 1991c; O’Donnell et al., 2006). Os túbulos seminíferos são revestidos pelas células mióides peritubulares, células germinativas primiti- vas e células de Sertoli (Ganong, 2006). Células de Sertoli Os testículos promovem a produção de esperma- tozoides e de hormônios essenciais à função repro- dutiva masculina (Morris et al., 1991). Esses órgãos são constituídos por um tecido instersticial, formado principalmente por células de Leydig, e por uma rede de túbulos seminíferos os quais são revestidos pelas células mioides peritubulares, células germinativas primitivas e células de Sertoli (Ganong, 2006). O desenvolvimento normal das células de Ser- toli é fundamental para a formação de testículos fun- cionais e expressão do fenótipo masculino. Tal é sua complexidade que as células de Sertoli apresentam estrutura e funções características em cada período do desenvolvimento, no processo de formação dos testículos ou diferenciação sexual e na espermatogê- nese (Sharpe et al., 2003). Durante o período fetal a diferenciação das célu- las de Sertoli resulta na formação de cordões semi- níferos, na diferenciação das demais células testicu- lares, impede que as células germinativas entrem em meiose e garante a regressão dos ductos de Müller através de secreção do hormônio anti-mülleriano (AMH) (Sharpe et al., 2003; Silverthorn, 2010). A proliferação das células de Sertoli é essencial para fornecer suporte estrutural e funcional para a di- ferenciação e a proliferação das células germinativas (Sharpe et al., 2003). O período de proliferação varia de espécie para espécie. Em ratos, a proliferação ocorre até, aproximadamente, os 15 dias de vida do animal, enquanto que em humanos a proliferação se divide em dois momentos: da vida fetal até 12 a 18 meses de vida e na puberdade, entre 10 e 13 anos, entre esses períodos proliferativos as células entram num período quiescente, onde não há prolife- ração (Steinberger e Steinberger, 1971; Sharpe et al., 2003).O número de células de Sertoli irá determinar o número de células germinativas que serão supor- tadas na espermatogênese e, portanto, a extensão numérica da produção de espermatozoides do indi- víduo adulto (Steinberger e Steinberger, 1971; Sil- verthorn, 2010).Células de Sertoli imaturas são muito ativas metabolicamente e apresentam uma variedade de capacidades funcionais distintas como atividade da aromatase, secreção de estrógeno, AMH e fator de crescimento semelhante à insulina do tipo I (IGF-I), enquanto que a expressão do receptor para hormônio folículo estimulante(FSH) aumenta e ocorre máxima responsividadea esse hormônio(Chemes, 2001). A maturação da célula de Sertoli, que ocorre du- rante a puberdade, envolve mudanças radicais em sua morfologia e função. Elas passam a ser o prin- cipal componente estrutural dos túbulos seminíferos cessando funções exclusivas da célula imatura, o que caracteriza uma transição da fase imatura/proliferati- va para uma fase madura/não-proliferativa (Sharpe et al., 2003). As ações hormonais do FSH e da testoste- rona promovem a formação das junções ocludentes (Mruk e Cheng, 2004) resultando na formação dabarreira hemato-testicular. A barreira hemato-testicu- lar cria um compartimento exclusivo onde as células germinativas ficam isoladas em um ambiente espe- cializado. Esta barreira protege as células germina- tivas, impedindo à passagem de agentes nocivos e complexos imunológicos oriundos do tecido in- tersticial (Skinner, 1991b; Sharpe et al., 2003; Loss et al., 2007). À medida que os espermatócitos vão amadurecendo e migrando em direção ao lúmen do túbulo novas junções entre as células de Sertoli se desenvolvem enquanto que as antigas se desfazem (Mruk e Cheng, 2004). Isoladas no ambiente tubu- lar as células germinativas tornam-se dependentes de suporte físico e nutricional das células de Sertoli (Sharpe et al., 2003; Mruk e Cheng, 2004). As células de Sertoli possuem a habilidade de Regulação hormonal do transporte de glicose e aminoácido e sua relação com as funções e o desenvolvimento das células Ciência em Movimento | Ano XIII | Nº 27 | 2011/2 88 receber sinais endócrinos da corrente sanguínea e transmiti-los de forma apropriada para as células germinativas em desenvolvimento (O’Donnell et al., 2006). Além disso, as células de Sertoli suprem as células germinativas com fatores de crescimento, proteínas ligadoras (como proteínas ligadoras de an- drogênios e transferrina) e garantem a principal fonte de energia de espermatócitos e espermátides: o lac- tato (Froment et al., 2007; Galardo et al., 2008). A insulina e os fatores de crescimento também pos- suem importante papel na diferenciação gonadal e na espermatogênese, um exemplo da atuação desses hormônios está relacionado com a estimulação do transporte de glicose e da produção e secreção do lactato pela célula de Sertoli (Oonk et al., 1989; Galar- do et al., 2008). Como já mencionado a célula de Sertoli desem- penha um papel fundamental no desenvolvimento das células germinativas, porém o exato mecanismo envolvido na proliferação e na diferenciação des- sas células ainda requer maior elucidação (Skinner, 1991d). No entanto, sabe-se que diversos hormôni- os – como o FSH, hormônio luteinizante (LH), tes- tosterona, insulina e IGF-I – estão envolvidos nesse processo e que é necessário um controle hormonal hipofisário para que ele ocorra normalmente. O FSH e o LH, produzidos pela adeno-hipófise a partir de um estímulo hormonal hipotalâmico (realizado pelo hormônio liberador de gonadotrofinas), atuam no processo da espermatogênese e na produção de es- teroides, respectivamente (Roberts e Skinner, 1991; Skinner, 1991b; Skinner, 1991d; Gnessi et al., 1997). Dessa forma, esse trabalho se propõe a realizar uma revisão sobre o transporte de aminoácidos e de glicose estimulados por diferentes hormônios em células de Sertoli, os quais são indispensáveis para a proliferação, o desenvolvimento e as funções ade- quadas dessas células. Transporte de aminoácidos O transporte de aminoácidos através da mem- brana plasmática de células de mamíferos é um proc- esso de fundamental importância fisiológica (Mc- Givan e Pastor-Anglada, 1994) e está envolvido com funções celulares básicas como regulação do volume celular, síntese proteica e hormonal e metabolismo energético (Wagner et al., 2001). Para que o trans- porte de aminoácidos pela membrana seja realizado é necessária a presença de proteínas transportado- ras. A maioria das células de mamíferos expressa um conjunto de sistemas de transporte de aminoácidos comum, mas todas apresentam também grandes variações no número total, tipo e atividade desses sistemas de transporte. Como resultado, cada célula é única no que diz respeito aos processos disponíveis para a acumulação de aminoácidos, e, sem dúvida, adaptado ao seu papel fisiológico particular e às ne- cessidades metabólicas (Kilberg et al., 1993). Os transportadores de aminoácidos são um grupo de proteínas de membrana que transportam diversos tipos de aminoácidos através da membrana plasmáti- ca, favorecendo o fornecimento de substratos para a biossíntese de proteínas e metabolismo de precur- sores de neurotransmissores e hormônios (McGivan e Pastor-Anglada, 1994; Alberts et al., 2002). Dentre os diversos sistemas de proteínas trans- portadoras de aminoácidos, há características comuns a todos os sistemas como a alta estereoseletividade, onde aminoácidos levógiros (L-aminoácidos) são mais rapidamente transportados do que aminoácidos que desviam a luz polarizada para a direita, por exem- plo. Os sistemas de transporte de aminoácidos tem baixa especificidade quando comparado com a maio- ria das enzimas, ou seja, em uma mesma célula há diferentes tipos de transportadores e cada um pode transportar vários aminoácidos diferentes, porém, com características químicas e estruturais comuns entre eles. A configuração da estrutura química, bem como a carga líquida iônica do aminoácido, são fa- tores que determinam o tipo de transportador desta molécula através da membrana (McGivan e Pastor- Anglada, 1994). Os transportadores dividem-se em duas categori- as gerais: transporte do tipo uniporte de aminoácidos e o transporte do tipo simporte acoplado ao íon sódio (Na+). Neste simporte, o gradiente de Na+ determina o transporte de aminoácidos através da membrana (O’Donnell et al., 2006). Há quatro principais siste- mas de transporte de aminoácidos neutros (zwitter- iônicos – com carga residual igual a zero) em células mamíferas. O Sistema ASC transporta alanina, serina e cisteí- Regulação hormonal do transporte de glicose e aminoácido e sua relação com as funções e o desenvolvimento das células 89 Ciência em Movimento | Ano XIII | Nº 27 | 2011/2 na, mas pode reconhecer outros aminoácidos alifáti- cos e é dependente de cotransporte com Na+ (Kilberg et al., 1993). O Sistema L reconhece e transporta aminoácidos de cadeias ramificadas e aminoácidos aromáticos, sendo independente de Na+. Além disto, ambos os sistemas citados podem atuar como tro- cadores de aminoácidos (Mcgivan e Pastor-Anglada, 1994). O Sistema N medeia a captação de glutamina, histidina e aspargina e também é um trocador dehid- rogênio (H+), íon que atua no cotransporte com Na+ (Skinner, 1991b).O sistema A transporta aminoácidos neutros de forma dependente de Na+, particular- mente alanina, serina e glutamina e é muito similar ao sistema N (Reimer et al., 2000). Os sistemas A e N têm algumas características em comum, são inibidos em potencial hidrogeniôni- co (pH) baixo, reconhecem aminoácidos N-meti- lados, como o aminoácido metil aminoisobutírico (MeAIB), um análogo não metabolizável da alanina amplamente utilizado para o estudo destes sistemas (Baird et al., 2006). Estes dois sistemas têm suas atividades exercidas por estruturas pertencentes à família de proteínas transportadoras relacionadas ao gene SLC38. Foram descritas três diferentes isofor- mas para os transportadores do sistema A (SNAT1, 2 e 4), e duas isoformas do sistema N (SNAT 3 e 5) (Reimer et al., 2000; Baird et al., 2006). O sistema A apresenta uma estequiometria de 1:1 em relação ao cotransporte com Na+, sendo a isoforma SNAT2 a mais prevalente e principal responsável por mediar respostas aos estímulos endócrinos e nutricionais (Hyde et al., 2007). A atividade dos transportadores de aminoácidos do sistema A (especialmente da isoforma SNAT2) pode ser modulada a partir de diferentes estímulos, como adaptação à disponibilidade de aminoácidos, choque osmótico e também estímulos hormonais (Hyde et al., 2002). Vários hormônios são hábeis na regulação do sistema A de transporteem diferentes tecidos (Hyde et al., 2002), por exemplo, insulina em glândula tireóide de tartaruga (Machado et al., 1991) e músculo esquelético (Hyde et al., 2002) e o FSH em células de Sertoli de ratos imaturos (Wasser- mann et al., 1992; Jacobus et al., 2010). Em geral, a ação destes hormônios modifica a velocidade da captação dos aminoácidos neutros por esse trans- portador e gera alterações em sua expressão gênica (Wassermann et al., 1992; Ling et al., 2001; Jacobus et al., 2010). Hormônios como a insulina (Escott et al., en- viado para publicação) e o IGF-I estimulam o transporte de aminoácido pelo sistema A via PI3K (Hyde et al., 2002; Froment et al., 2007; Jacobus et al., 2010). Di- versos estudos têm sugerido a possível translocação desses transportadores para a membrana plasmática a partir de reservatórios endossomais intracelulares, de forma semelhante àquela descrita para a translo- cação de GLUT4 (isoforma 4 dos transportadores de glicose) (Wassermann et al., 1989; Ferrer-Martinez et al., 1994; Ling et al., 2001; Hyde et al., 2002). Transporte de Glicose e Produção de Lactato A capacidade de transportar glicose através da membrana plasmática é uma característica comum a quase todas as células, desde a bactéria mais simples até o neurônio altamente especializado de mamíferos (Mueckler, 1994). Em células de Sertoli o transporte de glicose através da membrana celular é um evento essencial para a produção de lactato. Este último é o substrato energético preferencial de esper- matócitos e espermátides e sua produção se con- figura como uma das mais importantes funções das células de Sertoli. A produção de lactato parece ocor- rer mesmo em condições adversas, como a redução das concentrações de glicose extracelular, e o trans- porte de glicose é uma das várias etapas necessárias para que haja uma produção adequada. O transporte passivo de glicose pela membrana é mediado pelos transportadores de glicose (GLUTs), que podem ser modulados por hormônios. Até então já foram identi- ficados 14 genes que codificam diferentes isoformas de GLUTs, sendo os transportadores denominados de GLUT1 a GLUT14. Essas isoformas apresentam sequências similares, mas diferem em sua regulação e em sua distribuição pelos tecidos (Mueckler, 1994; Joost et al., 2002; Riera et al., 2009). O GLUT1 parece ter a mais ampla distribuição en- tre as isoformas. A expressão de GLUT1, em geral, é induzida por aumento da necessidade de energia e biossíntese requeridas para processos de divisão e crescimento celulares. Nesse contexto, foi demons- trada que a expressão desse transportador é alterada por diversos estímulos diferentes, entre eles prov- Regulação hormonal do transporte de glicose e aminoácido e sua relação com as funções e o desenvolvimento das células Ciência em Movimento | Ano XIII | Nº 27 | 2011/2 90 enientes da ação do IGF-I e da insulina, hormônios reconhecidamente envolvidos em processo de prolif- eração e crescimento celular(Mueckler, 1994). A isoforma 3 dos transportadores de glicose (GLUT3) é bastante expressa em células parenqui- mais de cérebros adultos (Mueckler, 1994) e tam- bém em células testiculares (Kokk et al., 2007). Este transportador também aparenta ser regulado por hormônios, porém, aparentemente em menos inten- sidade que o GLUT1. O GLUT4, apesar de ser o mais sensível à ação da insulina, está presente apenas em músculos e tecido adiposo que, por esse motivo, são chamados classicamente de tecidos sensíveis à insulina(Mueckler, 1994). Em células de Sertoli foi descrita a expressão de três isoformas de transportadores de glicose (Tabe- la 1), GLUT1, GLUT3 e GLUT8 (Carosa et al., 2005; Kokk et al., 2007; Galardo et al., 2008; Riera et al., 2009). Sendo que o GLUT8 não foi localizado na membrana plasmática dessas células, o que exclui a possibilidade desses transportadores participarem do transporte de glicose do meio extracelular para o intracelular. Por outro lado, GLUT1 e GLUT3 já foram descritos na membrana plasmática de células de Ser- toli e, possivelmente, esses transportadores estão envolvidos com a incorporação de glicose por essas células (Riera et al., 2009). Apesar de o transporte de glicose ser extensi- vamente estudado principalmente em células ditas sensíveis a insulina, diversos autores têm descrito a ação de hormônios sobre o transporte deste subs- trato em diferentes células, como podócitos renais humanos (Iwahara et al., 1991) e células de Sertoli de ratos (Oonk et al., 1989; Mullaney et al., 1994; Galardo et al., 2008; Riera et al., 2009). Foi demons- trado em células de Sertoli de ratos que hormônios intimamente relacionados com o controle hormo- nal das funções testiculares, como o FSH, o IGF-I e a Insulina, são capazes de estimular o transporte de glicose nessas células. Além disso, esses três hormônios, envolvidos especificamente na regulação das funções das células de Sertoli, também as es- timulam a produzir lactato (Oonk et al., 1989; Galardo et al., 2008). Tais eventos desencadeados por essas moléculas podem representar um ponto chave no entendimento da regulação hormonal da esperma- togênese (Galardo et al., 2008). Foi demonstrado que o transporte de glicose es- timulado por insulina em podócitos renais humanos é dependente de reorganização dos filamentos de actina e dos transportadores de glucose GLUT1 e GLUT4. Outros componentes das vias de sinaliza- ção desencadeadas pela insulina na translocação de GLUT4 nos tecidos sensíveis a insulina também são semelhantes nesse processo desencadeado em podócitos. Assim, acredita-se que os mecanismos que desencadeiam o transporte de glicose nesses dois tipos celulares sejam semelhantes (Iwahara et al., 1991). De forma similar, embora células de Ser- toli não expressem GLUT4, a ação hormonal sobre o transporte de glicose em células de Sertoli de ratos pode envolver a translocação de GLUTs ou a alte- ração da atividade de enzimas da via glicolítica (Oonk et al., 1989; Galardo et al., 2008). Regulação Hormonal Testosterona Os hormônios androgênios são hormônios este- roides envolvidos primariamente no desenvolvimen- to do fenótipo masculino durante o desenvolvimento embrionário, no desenvolvimento da maturação se- xual na puberdade, na manutenção da função repro- dutiva, na espermatogênese e no comportamento sexual (Skinner, 1991a). A testosterona é o principal androgênio produzi- do pelas células de Leydig em resposta ao hormônio luteinizante (LH), e sua produção é absolutamente essencial para a regulação da espermatogênese (Malark et al., 1991; Counis et al., 2005). Após ser secretada pelas células de Leydig, a testosterona Tabela 1: Expressão das isoformas dos transportadores de glicose em células testiculares de ratos. Isoforma Célula que expressa Função GLUT1 Sertoli, mioideperitubular Transporte constitutivo de glicose através da membrana plasmática e possível transporte regulado por hormônios GLUT2 Sertoli, mioide peritubular Transporte constitutivo de glicose através da membrana plasmática GLUT3 Sertoli, mioideperitubular Transporte constitutivo de glicose através da membrana plasmática e possível transporte regulado por hormônios GLUT8 Sertoli, Leydig Transporte por membrana de organelas (Mueckler, 1994; Joost et al., 2002; Riera et al., 2002; Chen et al., 2003; Kokk et al., 2007; Galardo et al., 2008) Regulação hormonal do transporte de glicose e aminoácido e sua relação com as funções e o desenvolvimento das células 91Ciência em Movimento | Ano XIII | Nº 27 | 2011/2 se difunde para o interior dos túbulos seminíferos onde se liga a receptores específicos presentes nas células adjacentes (Walker, 2010). Nos testículos, apenas células de Leydig, células de Sertoli e célu- las peritubulares expressam receptor intracelular de androgênios (iAR), sendo que não há expressão de iAR em células germinativas de testículos maduros (Weaver et al., 1991). Dessa forma, as células de Ser- toli são as principais mediadoras dos sinais da tes- tosterona necessários para a sobrevivência e desen- volvimento das células germinativas (Walker, 2010). Devido à produção local de testosterona e a produção de proteínas ligadoras de androgênio (ABP) pelas células de Sertoli, o nível de testoste- rona intratesticular é cerca de 10 vezes maior do que no sangue em ratos e 25-125 vezes maior em hu- manos. A finalidade dessa elevada concentração de testosterona nos testículos ainda é desconhecida. No entanto, sabe-se que essa concentração é muito maior do que a necessária para desencadear os efei- tos da testosterona indispensáveis na regulação da espermatogênese através de seu receptor intracelu- lar. Acredita-se, portanto, que a alta concentração de testosterona esteja relacionada com a necessidade de sua atuação através de mecanismos não clássicos (Walker, 2009). A ação clássica descrita para hormônios este- roides ocorre através da sua ligação com receptores intracelulares e requer pelo menos 30 a 45 minutos para alterar a expressão gênica e horas para produzir novas proteínas. Entretanto, recentemente diversos estudos tem descrito a capacidade desses hormôni- os lipofílicos de desencadearem respostas rápidas at- ravés da ligação com receptores de membrana (mAR) com efeitos observáveis em segundos a minutos (Walker, 2010). Diversos estudos relatam respostas rápidas de diferentes esteroides, tais como estra- diol, testosterona, epitestosterona, progesterona, aldosterona, 1,25-dihiroxivitamina D3, retinol e tri- iodotironina (T3) (Silva et al., 2002; von Ledebur et al., 2002; de Castro et al., in press). Uma série de resultados tem demonstrado que a testosterona pode atuar através de outros meca- nismos que não a via clássica para suportar a esper- matogênese (von Ledebur et al., 2002; Walker, 2010). Estudos anteriores do nosso grupo de pesquisa têm demonstrado que em células de Sertoli a testostero- na desencadeia diversas respostas rápidas, as quais não se enquadram na descrição das ações clássicas. von Ledebur et al. (1992) demonstraram que a tes- tosterona induz a uma despolarização da membrana das células de Sertoli em 30 segundos e se mantém por até 5 minutos, mesmo em concentrações abaixo das fisiológicas (0,1-10nM). Estudos subsequentes obtiveram resultados que sugerem um modelo em que a estimulação de testosterona provoca a ati- vação de um tipo ainda não identificado de receptor acoplado à proteína G,do tipo Gq, e consequente ati- vação da fosfolipase C.A qual. em seguida, hidrolisa PIP2 (fosfatidil inositol-4,5-bisfosfato) na membrana plasmática para produzir IP3 (inositol-3,4,5-trifosfato) e diacilglicerol (DAG) (Loss et al., 2004). A diminu- ição nos níveis de PIP2 reduz as cargas negativas na membrana, o que inibe a condutânciados canais de potássio sensíveis à adenosina trifosfato (KATP) por permitir a aproximação e ligação do ATP a esse canal.O fechamento dos canais KATP causa um au- mento na resistência da membrana e despolarização da célula,como resultado, abrem-se canais de íons cálcio (Ca2+) dependentes de voltagem permitindo o influxo de Ca2+(von Ledebur et al., 2002; Loss et al., 2011). Além dessa ação sobre o potencial de mem- brana das células de Sertoli, sabe-se também que a testosterona pode estimular vias de segundos men- sageiros como Src, MAPK (proteína cinase associada a mitógenos) e CREB (Proteína ligada ao elemento de resposta aAMPc)(Walker, 2010). Entretanto, aparentemente a testosterona não participa do processo de proliferação das células de Sertoli e suas ações sobre a espermatogênese di- ferem daquelas atribuídas ao FSH, uma vez que este hormônio não estimula o transporte de aminoácidos (von Ledebur et al., 2002) nem o transporte de gli- cose (Mullaney et al., 1994). Possivelmente o efeito da testosterona sobre a captação de cálcio esteja relacionada com sua ação sobre o citoesqueleto, seja estimulando a formação das junções apertadas entre células adjacentes (Mruk e Cheng, 2004), seja na estimulação da movi- mentação das células da linhagem espermatogênica (Walker, 2010). Talvez as ações conjuntas da testosterona so- Regulação hormonal do transporte de glicose e aminoácido e sua relação com as funções e o desenvolvimento das células Ciência em Movimento | Ano XIII | Nº 27 | 2011/2 92 bre o citoesqueleto das células de Sertoli e as inte- rações entre Sertoli e células germinativas através de junções que associam uma célula à outra seja um ponto de cooperatividadeentre testosterona e FSH, uma vez que a associação entre células de Sertoli e células germinativas depende da ação conjunta da testosterona e do FSH (O’Donnell et al., 2006). FSH O Hormônio Folículo Estimulante (FSH) desem- penha um papel primário no controle hormonal da espermatogênese e das funções da célula de Sertoli. Esta gonadotrofina determina o número de células de Sertoli que estarão presentes em machos adultos através de sua ação sobre o controle da proliferação destas células durante a fase proliferativa (até 15 dias de idade em ratos) (Sharpe et al., 2003). Após a ligação com seu receptor de membrana, do tipo acoplado a proteína G (GPCR), o FSH esti- mula várias vias de sinalização intracelulares através da dissociação da subunidade α da proteína G, das subunidades βγ, sendo que cada subunidade pode deflagrar vias independentes. Já foi demonstrado que o FSH pode ativar diferentes vias de sinalização, como a via clássica de ativação daadenilatociclase (AC), aumentando os níveis de monofosfato cíclico de adenosina (AMPc) e ativando, por sua vez, a pro- teína cinase A (PKA)(Skinner, 1991b); além de estar envolvido em outras vias, ligadas ao aumento de cálcio intracelular como: MAPK, ERK (cinase regu- lada por sinal extracelular) (Crépieux et al., 2001) e PI3K (fosfoinositol3 cinase)/AKT (proteína cinase B) (Jacobus et al., 2010). A diversidade de sinalização deflagrada pelo FSH ilustra a variedade de efeitos que esse hormônio pode desencadear nas células de Sertoli, e sua importância na regulação hormonal dessas células (Skinner, 1991d). Muitos dos efeitos desencadeados pela ação do FSH sobre a membrana das células de Sertoli são rápidos, exemplificado pelo efeito eletrofisiológico caracterizado por ser bifásico, apresentando uma rápida hiperpolarização (menos de 5 segundos) seguida de uma despolarização prolongada (mais de 6 minutos) (Jacobus et al., 2010). Outros efeitos rápidos do FSH incluem o estímulo da captação de Ca2+ em 2 minutos, através de canais de cálcio de- pendentes de voltagem (CCDV) (Jacobus et al., 2010) e do transporte de aminoácidos pelo sistema A em células de Sertoli de ratos imaturos (da Cruz Curte e Wassermann, 1985; Loss et al., 2007). O transporte de aminoácidos neutros pelo Sis- tema A é estimulado por FSH em células de Sertoli de ratos de 5e 15 dias de idade, não sendo mais ob- servado após esse período(Perez-Sanches e Wasser- mann, 1981). Esta ação do FSH, portanto, coincide com a fase proliferativa dessas células em ratos (até os 15dias de idade). Evidências demostram que este é um mecanismo dependente de Na+, uma vez que a ausência de Na+ no meio de incubação inibe a estimulação do FSH sobre esse transporte, embora a síntese de proteínas e a ação FSH sobre esse mecanismo esteja inalterado (da Cruz Curte e Wassermann, 1985; Loss et al., 2007). Além disso, a estimulação do FSH sobre o transporte de amino ácido nessas células foi evidente após 120 segun- dos, sendo o efeito máximo observado próximo a 15 min. Estas observações pressupõem a ativação de transportadores de aminoácidos pré-existentes na célula como consequência do rápido efeito bifásico do FSH sobre a membrana celular (Silva et al., 2002). Por outro lado o bloqueio observado pela ação do ve- rapamil (um bloqueador dos canais de Ca2+ depen- dentes de voltagem do tipo L) demonstrando que este mecanismo também é dependente do influxo de cálcio (Wassermann et al., 1989; Jacobus et al., 2010) e que possa existir um mecanismo de trans- locação destes transportadores para a membrana (Hyde et al., 2002). Além de sua reconhecida importância no período de proliferação das células de Sertoli, o FSH tam- bém está envolvido na regulação hormonal da espe- rmatogênese atuando via células de Sertoli (Walker, 2010). O estímulo do FSH sobre transporte de glicose e a produção de lactato pelas células de Sertoli tem sido descritos por diversos autores (Oonk et al., 1989; Roberts e Skinner, 1991; Meroni et al., 2004). Riera e colaboradores (2001) demonstraram que o FSH es- timula rapidamente (30 minutos) o transporte de gli- cose bem como a produção de lactato pela célula de Sertoli. Esses autores também observaram um au- mento na atividade da enzima lactato desidrogenase (LDH) estimulado pelo FSH. Essa enzima, portanto, Regulação hormonal do transporte de glicose e aminoácido e sua relação com as funções e o desenvolvimento das células 93 Ciência em Movimento | Ano XIII | Nº 27 | 2011/2 pode estar envolvida no aumento da produção de lac- tato estimulado por esse hormônio. Possivelmente a estimulação da produção de lactato exercida pelo FSH em células de Sertoli se dá pela via da PI3K, como descrito por Meroni et al. (2004). A célula de Sertoli ao longo de sua diferenciação assume funções diferenciadas inexistentes na célula imatura (Sharpe et al., 2003). Ao estudar o efeito de hormônios sobre a produção de lactato por células de Sertoli de ratos em diferentes idades (10, 20 e 30 dias de idade), Mullaney et al. (1994), verificaram que há um aumento progressivo na produção basal de lactato por essas células ao longo de seu desen- volvimento. Por conseguinte, o efeito dos hormônios estudados pelos autores sobre esse parâmetro, en- tre eles o FSH, diminui à medida que a célula se di- ferencia. Possivelmente o aumento da produção de lac- tato durante o desenvolvimento da puberdade cor- responde a sua importância na manutenção do desenvolvimento das células germinativas. Em ratos, a iniciação da espermatogênese ocorre entre 10 e 15 dias e a primeira onda espermatogênica se com- pleta com 35 dias, o que demonstra a importância de aumentar a produção basal de lactato. E, ainda, a redução ou perda da responsividade da célula de Sertoli a hormônios ao final do período púbere pode estar relacionada ao fato da célula ter atingido um estado ideal de diferenciação e um aumento basal de funções específicas, com diminuição das neces- sidades metabólicas da célula de Sertoli (Mullaney et al., 1994). A variedade de ações descritas para o FSH demonstra sua importância no período de prolifer- ação e maturação das células de Sertoli, mas tam- bém retratam seu papel indispensável na regulação das funções dessas células na fase adulta para ga- rantir o suporte nutricional das células germinativas. Fator de crescimento semelhante à insulina do tipo I Diversos estudos vêm demonstrando a influência de diferentes fatores de crescimento sobre o desen- volvimento, a diferenciação e as funções gonadais, os quais são capazes de atuar também através de ações parácrinas e autócrinas. Entre os fatores de crescimento envolvidos nestas ações encontram- se o fator de crescimento epidermal (EGF), Fator de Crescimento de Fibroblastos (FGF), o fator de cresci- mento tumoral (TGF-α) e os fatores crescimento se- melhantes à insulina dos tipos I e II (IGF-I e IGF-II) (McLachlan et al., 2002; Riera et al., 2002; Skinner et al., 2005; Froment et al., 2007). Sabe-se que o IGF-I está envolvido na regulação hormonal de funções gonadais, como proliferação, diferenciação e apoptose de células germinativas. Este fator de crescimento também é essencial para o desenvolvimento sexual, sendo que o receptor de membrana de IGF-I (IGF-IR) é indispensável para o surgimento dos testículos e, portanto, para a ex- pressão de um fenótipo masculino (Nef et al., 2003; Froment et al., 2007). O IGF-I é produzido principalmente pelo fígado em resposta ao hormônio do crescimento (GH), no entanto, se sabe que este fator de crescimento pode também ser produzido de forma local, atuando na própria célula onde foi produzido. Esta ação localiza- da do IGF-I, bem como o estímulo para sua produção e de suas proteínas ligadoras, originou um conceito chamado de sistema IGF (Ritzén, 1983; Khan et al., 2002). As células de Sertoli possuem um sistema autó- crino completo de IGF-I com a presença de IGF-I secre- tado pela própria célula por estimulação do FSH, de receptor de IGF-I (IGF-IR) e ainda com a produção de proteínas ligadoras de IGF-I, principalmente IGFBP3, que inibe os efeitos de IGF-I exógeno ao sistema tu- bular (Chatelain et al., 1991; Skinner, 1991d; Rappa- port e Smith, 1995; Khan et al., 2002). Dessa forma, a célula de Sertoli possui os componentes necessários para a síntese e a transdução de sinal do IGF-I, bem como para a modulação desse sistema, que pode ser regulado pelo FSH em células de Sertoli de ratos ima- turos (Skinner, 1991d; Khan et al., 2002). Atuando sobre os testículos, o IGF-I regula a pro- liferação e sobrevivência das células germinativas, a produção de testosterona pelas células de Leydig, e regula o crescimento, a diferenciação, a proliferação e as diversas funções das células de Sertoli de acor- do com o estágio do seu desenvolvimento(Froment et al., 2007). O IGF-I também é capaz de estimular o transporte de glicose e a produção e secreção de Regulação hormonal do transporte de glicose e aminoácido e sua relação com as funções e o desenvolvimento das células Ciência em Movimento | Ano XIII | Nº 27 | 2011/2 94 lactato por essas células em cultura, possivelmente contribuindo para o controle das ações das células e Sertoli sobre a espermatogênese (Oonk et al., 1989; Meroni et all., 2004). Foi demonstrado por Jacobus et al. (2010), uti- lizando testículos inteiros de ratos imaturos, que o IGF-I estimula a captação de cálcio – um impor- tante íon envolvido com a sinalização intracelular e diversos processos celulares. No mesmo estudo foi também descrita a ação estimulante do IGF-I sobre o transporte de aminoácidos, atuando com maior in- tensidade sobre essas células durante sua fase de proliferação, portanto, contribuindo principalmente para seu desenvolvimento, como descrito por Oonk e Grootogoed (1988). Oonk e Grootegoed (1988) des- crevem que, aparentemente, as ações do IGF-I estão intensificadas durante a fase de proliferação da célula de Sertoli (em ratos até os 15 dias de vida) e à me- dida que o desenvolvimento progride este fator de crescimento atuacom menor intensidade sobre os receptores tirosina-cinase dessas células. Insulina A insulina é um hormônio produzido pelo pân- creas que ao se ligar ao seu receptor de superfície celular (IR), o qual está virtualmente presente em todas as células do organismo, ativa diferentes eventos de sinalização intracelular, os quais regulam múltiplos processos biológicos como metabolismo glicídico e lipídico, expressão gênica e síntese pro- teica, além de crescimento, divisão e sobrevivência celular (Entingh-Pearsall e Kahn, 2004; Agbaje et al., 2007; Gauguin et al., 2007). Especialmente conhecida por seus efeitos am- plamente difundidos sobre a regulação do metabo- lismo energético, a insulina também exerce um pa- pel fundamental na formação dos testículos, sendo seu receptor, a exemplo do IGF-IR, indispensável para o surgimento das gônadas e, portanto, para a diferenciação sexual masculina (Nef et al., 2003; Kokk et al., 2005). Em células de Sertoli, a insulina também é capaz de estimular o transporte de gli- cose e a produção e secreção de lactato, contribuin- do para a espermatogênese (Oonk et al., 1989). Sabe-se que a insulina desencadeia uma resposta despolarizante sobre a membrana das células de Sertoli, e que este efeito é dependente da entrada de cálcio através de canais de cálcio dependentes de voltagem do tipo L. Outros efeitos da insulina descritos em a célula de Sertoli incluem a estimu- lação do transporte de aminoácido, de glicose e de cálcio em células de ratos imaturos (Escott et al., enviado para publicação). As vias de sinalização decorrentes da ligação da insulina com seu receptor são complexas e demons- tram a diversidade de efeitos que esse hormônio pode gerar sobre uma determinada célula (Saltiel e Kahn, 2001; Carvalheira et al., 2002). A sinalização desse hormônio se inicia com a ativação dos sub- stratos do receptor de insulina (IRS). Atualmente, dez substratos do receptor de insulina já foram identificados, quatro desses pertencem à família dos substratos do receptor de insulina, as proteínas IRS (Kokk et al., 2007; Belfiore et al., 2009). Em testículos de ratos, Kokk et al. (2007) de- monstraram a presença de IRS-1 e IRS-2, inclusive em células de Sertoli. Possivelmente essas duas proteínas estejam envolvidas no processo de trans- porte de glicose pela célula. Outros hormônios e citocinas, como o IGF-I, que utilizam os IRS, tam- bém poderiam valer-se da presença dessas proteí- nas para estimular o transporte de glicose (Kokk et al., 2007). A falha na sinalização da insulina ou a deficiência na sua produção caracterizam os dois tipos de uma doença denominada Diabetes Mellitus (DM). Estu- dos demonstraram uma redução acentuada da fe- cundidade de machos diabéticos, o que sugere for- temente que a DM prejudica a fertilidade masculina (Ballester et al., 2004; Agbaje et al., 2007). De fato, a DM pode afetar a função reprodutiva masculina seja devido a seus efeitos sobre o controle endócrino da espermatogênese ou prejudicando a ereção peni- ana e ejaculação (Agbaje et al., 2007). Os mecanismos que estão envolvidos na diminu- ição da fertilidade ainda requer maior elucidação. No entanto, Agbaje et al. (2007), mesmo não encontran- do alterações em parâmetros normais de avaliação do sêmen, como o volume, observaram danos no DNA de espermatozoides de homens diabéticos. Conforme descrito pelos autores, essa deficiência na produção dos gametas poderia comprometer a Regulação hormonal do transporte de glicose e aminoácido e sua relação com as funções e o desenvolvimento das células 95 Ciência em Movimento | Ano XIII | Nº 27 | 2011/2 fertilidade masculina. Dessa forma, fica claro que a insulina está inti- mamente relacionada com a produção e o desen- volvimento espermatogênico, embora mais estu- dos sejam necessários para compreender o real papel desempenhado por esse hormônio na função testicular (Agbaje et al., 2007). Considerações finais É indiscutível a importância de uma regulação fina realizada por diferentes hormônios sobre as funções testiculares. No entanto, como exata- mente os diferentes hormônios agem sobre as células de Sertoli para regular suas funções, que vias metabólicas são modificadas e exatamente através de quais mecanismos de sinalização intrac- elular a ação desses hormônios interfere sobre a célula de Sertoli, a fim de regular a sua proliferação e a espermatogênese são pontos que requerem maior elucidação. Regulação hormonal do transporte de glicose e aminoácido e sua relação com as funções e o desenvolvimento das células Ciência em Movimento | Ano XIII | Nº 27 | 2011/2 96 Referências Agbaje, I.M., et al. 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