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Direito Penal 2 (Concurso de Agentes)

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Concursos de agentes (ou concurso de pessoas) 
Conceito: é quando duas ou mais pessoas concorrem (colaboram) para a prática de 1 ou 
mais crimes. 
Ex: Num crime de roubo, João aponta a arma para Pedro e Guilherme subtrai a carteira 
deste. 
 
O concurso de crimes pode ser: 
- Crime de concurso necessário (Plurissubjetivo): 
É imprescindível a pluralidade(variedade) de agentes(pessoas). 
No crime necessário (plurisubjetivo) não há 1 só pessoa. O próprio nome já diz: pluri = 
muitos + subjetivo = sujeitos. 
Ex: Associação criminosa. 
- Crime de concurso eventual (Unissubjetivo): 
Pode ser realizado por 1, mas EVENTUALMENTE pode ser realizado por mais de 1 
agente. 
Ex: homicídio. Pedro agarra Maria enquanto Marciano a esfaqueia. Ou Pedro esfaqueia 
Maria sozinho. 
Furto. Roberto remove a bolsa de Adriana e Marciano retira o batom. Ou Marciano 
remove a bolsa de Adriana sozinho. 
 
Teorias 
- Teoria monista (unitária): mono = 1 -> crime. 1 só crime. 
Esta teoria é aplicada como regra geral pelo Direito Penal Brasileiro, a qual 
preceitua(ensina) que todo aquele agente(pessoa) que concorra(colabore) para prática do 
crime incidirá nas penas a este fixadas na medida de sua culpabilidade de participação. 
Ex: Num homicídio, João dirige o carro, Marcos atira, Flávio empresta a arma tendo 
consciência do crime e Hugo induz Marcos a atirar. 
João responde como coautor. Marcos responde como autor. Flávio responde como 
partícipe devido ao seu auxílio e Hugo responde como partícipe devido ao seu 
induzimento. 
 
- Teorista dualista: não é aplicado no Direito Penal brasileiro. A teoria dualista divide 
autor e partícipe, ou seja, haverá um crime específico para o autor do fato e haverá outro 
crime para o partícipe. 
Ex: Fábio segura Adriana e Joaquim faz sexo forçado com ela. Fábio seria tido como 
partícipe e Joaquim seria o autor. 
 
- Teoria pluralista (dois ou mais crimes): 
Adotada como exceção pelo Direito Penal Brasileiro. Com base na Teoria Pluralista, há 
uma pluralidade(diversidade) de crimes para os concorrentes. 
Ex: O ginecologista faz o aborto em Gabriela com o consentimento desta. 
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento 
 Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir(permitir) que outrem(outra 
pessoa) lhe provoque: (Vide ADPF 54) 
 Pena - detenção, de um a três anos. 
 Aborto provocado por terceiro 
 Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: 
 Pena - reclusão, de três a dez anos. 
 Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54) 
 Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
 Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 
quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante 
fraude, grave ameaça ou violência 
Ex: O guarda de trânsito para Erick na Avenida Caxangá devido ao IPVA vencido. A 
multa é de R$ 500,00, mas Erick oferece um “toco” de R$ 150,00 para o guarda. Ambos 
entram num acordo e fecham. Erick responde por corrupção ativa e o guarda por 
corrupção passiva. 
 
Crimes de mão própria: 
Ex: Auto-aborto: jamais existirá coautoria 
Joãozinho compra uma substância abortiva e entrega a Bianca para que esta aborte. 
Joãozinho responde como partícipe e Bianca como autora. 
Joãozinho injeta uma substância abortiva no útero de Bianca. 
Joãozinho responde como autor. 
 
Crimes culposos: 
Nos crimes culposos não se admite a participação (não existem partícipes), mas admite-
se a coautoria. 
Ex: Heitor e Miguel estão no 6º andar de um prédio em construção e jogam juntos um 
saco de cimento para baixo. O saco cai na cabeça de Joaquim, matando-o. Heitor e 
Miguel são coautores de um crime culposo por imprudência. 
 
Requisitos do Concurso de Pessoas 
- Pluralidade de agentes: duas ou mais pessoas 
- Relevância causal das condutas para o resultado: 
Nexo de causalidade natural 
Nexo de causalidade jurídico 
Ex: Cláudia vai tomar banho na praia do Pina e começa a se afogar. Nayra é salva-vidas 
e toca o foda-se para o perigo de Cláudia. Cláudia morre e Nayra responde por 
homicídio doloso por omissão imprópria, já que Nayra tinha o dever legal de salvar 
Cláudia. 
 
- Vínculo Psicológico ou Liame(Elo de Ligação) Subjetivo(entre Sujeitos): 
Consiste na sintonia na mesma vontade entre dois ou mais concorrentes(causadores) do 
crime, sejam estes autores ou partícipes. 
Não se esqueça: para a configuração(caracterização) do Liame(Elo de Ligação) 
Subjetivo(entre sujeitos) não é necessário que aconteça um acordo(ajuste) 
prévio(antecipado) entre os agentes concorrentes(causadores) do crime. Basta apenas 
que exista uma sintonia de um mesmo objetivo(finalidade). 
Ex: uma empregada doméstica, tendo consciência de que no Pina está cheio de bandidos 
às 18:00 h, deixa a porta de minha casa aberta. Um ladrão, que ela sequer conhece, entra 
na mina casa e me assalta. 
 
- Identidade de infrações penais: 
Todos os concorrentes devem buscar a prática do mesmo crime, o qual está vinculado 
ao seu elemento subjetivo. 
 
 
 
 
PARTE ESPECÍFICA DO CONCURSO DE AGENTES 
 
Autoria 
 
- Teoria Restritiva(Limitativa) Objetiva-Formal: 
Adotada como regra geral pelo Código Penal Brasileiro, essa Teoria não abarca a figura 
do autor mediato. Segundo a Teoria Restritiva, autor é qualquer pessoa que 
diretamente(imediatamente) pratica o fato descrito na norma penal incriminadora. Os 
demais são meros partícipes. 
Ex: Fernandinho Beira-Mar, recluso na penitenciária de Bangu 1, manda matar o 
amante de sua ex-namorada. Fagner vai lá e mata-o. Somente Fagner é visto como 
sendo o autor do crime. 
Fagner responde como autor, enquanto Fernadinho Beira-Mar responde como partícipe. 
 
- Teoria do Domínio do Fato 
Segundo esta teoria, o autor pode ser tanto aquele que diretamente realiza o fato quanto 
aquele que possui o domínio(controle, poder) do fato e tem consciência. 
 
Espécie de Autoria 
- Autoria intelectual ou mediada(por intermédio) imprópria: 
O autor é considerado o “Cabeça Pensante” entre os demais concorrentes onde um 
crime é o produto de sua intelectualidade. 
Ex: Al Capone 
- Autoria mediata: propriamente indireta 
O autor mediato propriamente dito é aquele que se vale(aproveita) de outro agente não 
pode ser responsabilizado penalmente, ou por ausência de conduta ou por ausência de 
culpabilidade, como instrumento indireto para praticar o crime. 
Ex: Coação irresistível: Dayse aponta um revólver sobre a cabeça de Carmencita e 
obriga-a a atirar em Milena, ferindo-a. 
Dayse: autora mediata responde por tentativa de homicídio. 
Carmencita: não responde por crime algum, pois não tem conduta dolosa ou culposa. 
Ex: Inimputáveis: Charles usa Jefter, menor de 18 anos de idade, para traficar crack. 
Charles: responde por tráfico de drogas. 
Jefter: não responde por crime algum, pois não tem culpabilidade: é de menor. 
Ex: Erro de tipo escusável: João pede para Marta levar uma caixa de “bombons” para 
Jefferson. No caminho, a Polícia aborda Marta e descobre que o que tem é cocaína. 
Se Marta provar que agiu por erro de tipo, então não responde por crime algum. 
Ex: Erro de proibição: Magno recebe Van Basten, amigo holandês que não conhece o 
Código Penal Brasileiro. Magno pede para Van Basten levar 5 quilos de maconha para 
um restaurante. A polícia aborda Van Basten. 
Se Van Basten provar que desconhecia a lei, não responde por crime algum. 
Ex: Erro de tipo inescusável: Dr Marcos, para lesionar um paciente, manda a 
enfermeira pingar um colírio(que na verdade é um adoçante – está escrito na 
embalagem). A enfermeira pinga o adoçante nos olhos do paciente, causando-lhe uma 
lesão. A enfermeira responde por crime culposo e Dr Marcos, por crime doloso. 
 
- Autor imediato(direto): 
É aquele que pratica o ato criminoso de forma direta. 
Ex: Carlos esfaqueia Marília, matando-a. 
Carlos: autor imediato. 
 
- Autor Colateral: 
Ocorrem quando duas ou mais pessoas praticam comportamentos objetivando alcançar 
um determinado resultado, mas embora esses comportamentos sejam 
convergentes(direcionem-se a um mesmo fim), não podemos falar em concursos de 
pessoas(agentes) porque as ações foram individuais e desconhecidas entre si, 
configurando(caracterizando) a ausência de vínculo psicológico (Liame subjetivo) entre 
os agentes criminosos. 
Ex: Marcele mora no Edifício Acaiaca, na Avenida Boa Viagem, e Carol mora no 
Edifício Debret (também na Av Boa Viagem), ambos vizinhos. Ambas não se 
conhecem e sequer sabem da intenção da outra. Querem matar Marciano que passa pelo 
calçadão às 23:00 h. Com um fuzil, Marcele atira no crânio de Marciano, assassinando-
o. E Carol, com outro fuzil, atira na batata da perna de Marciano. 
Marcele: responde por homicídio. 
Carol: responde por tentativa de homicídio. 
Não há vínculo psicológico (Liame(elo de ligação) subjetivo) entre Marcele e Carol. 
 
Ex2: Marcele mora no Edifício Acaiaca, na Avenida Boa Viagem, e Carol mora no 
Edifício Debret (também na Av Boa Viagem), ambos vizinhos. Marcele não conhece 
Carol, mas Carol sabe das intenções criminosas de Marcele através do vendedor da 
barraca de água de côco. Querem matar Marciano que passa pelo calçadão às 23:00 h. 
Com um fuzil, Marcele atira no crânio de Marciano, assassinando-o. E Carol, com outro 
fuzil, atira na batata da perna de Marciano. 
Marcele: responde por homicídio. 
Carol: TAMBÉM responde por homicídio, já que Carol tinha um vínculo psicológico 
(Liame Subjetivo) UNILATERAL com a intenção de Marcele. 
 
- Autoria incerta: 
É uma espécie de autoria colateral em que não se consegue identificar a conduta do 
resultado. 
Ex: Marcele, do Edifício Acaica, atira com um fuzil em Marciano, ao mesmo tempo em 
que Carol, do Edifício Debret, também atira em Marciano. Mas o Delegado Paulo não 
consegue descobrir quem foi das duas que matou Marciano. 
Medida: Marcele e Carol respondem APENAS por tentativa de homicídio. E Marciano 
que se foda, pois o IN DUBIO PRO RÉU (em dúvida, fique a favor de uma pena mais 
carinhosa para o réu) protege as “VÍTIMAS DA SOCIEDADE”. 
Ex: Fulgêncio, com animus necandi (intenção de matar), coloca na xícara de chá servida 
a Arnaldo certa dose de veneno. Batista, igualmente interessado na morte de Arnaldo, 
desconhecendo a ação de Fulgêncio, também coloca uma dose de veneno na mesma 
xícara. Arnaldo vem a falecer pelo efeito combinado das duas doses de veneno 
ingeridas, pois cada uma delas, isoladamente, seria insuficiente para produzir a morte, 
segundo a conclusão da perícia. Fulgêncio e Batista agiram individualmente, cada um 
desconhecendo o plano do outro. Fulgêncio e Batista respondem por tentativa de 
homicídio doloso qualificado, face à ocorrência da autoria colateral incerta. 
- Autor de reserva (o famoso Step do crime): 
Consiste no agente que integra a empreitada criminosa permanecendo à disposição dos 
demais concorrentes, aguardando a sua prática para interferir ou não de acordo com as 
necessidades desse crime. 
Para a teoria restritiva, se o autor de reserva não intervir(atuar) no crime, então ele é um 
mero partícipe. 
Ex: Charles, Fagner, Assis e Robertinho vão assaltar o Banco Santander. 
Charles entra no banco com uma pistola. Fagner dirige o carro. Assis quebra a porta do 
banco e Robertinho fica apenas no carro, no banco do carona, brincando no WhatsApp, 
aguardando, se precisar, atuar. 
Medida: Robertinho responde apenas como partícipe, enquanto os demais respondem 
como autores. 
Todavia, segundo a Teoria do Domínio do Fato, mesmo Robertinho não atuando, 
embora tendo consciência do crime que também está cometendo, deve responder não 
como partícipe, mas sim como coautor funcional, haja vista que Robertinho pratica uma 
conduta relevante para o sucesso dessa ação criminosa a partir da divisão de tarefas. 
 
Participação 
O partícipe não pratica o verbo do crime; contudo, ajuda(influencia) o autor de alguma 
maneira. 
Partícipe moral = é aquele que instiga ou induz o autor a produzir o crime 
- Indução: o partícipe introduz uma ideia criminosa na cabeça do autor (ideia que o 
autor não tinha). 
Ex: Paulinho chega para Erick e fica colocando na cabeça dele que Assis está chifrando 
ele. Erick toma ódio e mata Assis. 
- Instigação: o partícipe apenas reforça(incrementa, aumenta) a intensidade de uma 
ideai que já estava pré-existente na cabeça do autor. 
Ex: Erick percebe Assis muito saliente com a sua mulher. Paulinho então diz a Erick 
que Assis está com a mulher de Erick no motel. Erick mata Assis. 
Partícipe material = é aquele que presta auxílio, através de algum objeto, ao autor a 
produzir o crime. 
- Auxílio: o partícipe empresta ou dá um bem material para que o autor execute o crime. 
Ex: Erick quer matar Assis. Paulinho empresta o 38 dele. 
 
Teorias da Participação 
Adota-se a teoria da acessoriedade limitada -> se entram o Fato Típico e Anti-Jurídico, 
então a participação é criminosa. 
Quando aparecer em prova sobre teoria da acessoriedade, o candidato deverá fazer uma 
associação ao conceito analítico de crime (conduta humana típica, ilícita e culpável). 
No CP brasileiro, para uma pessoa ser considerada partícipe, a conduta do autor deve 
ser, pelo menos, típica e ilíticita (teoria da acessoriedade média/limitada). Abaixo, 
mostro-lhes todas teorias acerca da participação: 
 
1ª.) Teoria da Acessoriedade Mínima: a participação só será punível quando a conduta 
principal for típica; 
2ª.) Teoria da Acessoriedade Média ou Limitada: a participação será punível se a 
conduta principal for típica e ilícita; 
3ª.) Teoria da Acessoriedade Máxima: a participação será punível se a conduta principal 
for típica, ilícita e culpável; 
4ª.) Teoria da Hiperacessoriedade: a participação será punível se a conduta principal for 
típica, ilícita, culpável e punível;

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