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Súmula 572-STJ – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Súmula 572-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
CADASTRO DE EMITENTES DE CHEQUES SEM FUNDOS 
Responsabilidade por ausência de notificação de inscrição de correntista no CCF 
 
Súmula 572-STJ: O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de Emitentes de 
Cheques sem Fundos (CCF), não tem a responsabilidade de notificar previamente o devedor 
acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco legitimidade passiva para as ações de 
reparação de danos fundadas na ausência de prévia comunicação. 
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 11/05/2016, DJe 16/05/2016. 
 
CCF 
Quando uma pessoa emite um cheque sem fundos, ela pode ser incluída em um cadastro negativo 
chamado de Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF). 
A inclusão no CCF ocorre automaticamente quando o cheque é devolvido por: 
 falta de provisão de fundos (motivo 12), na segunda apresentação; 
 conta encerrada (motivo 13); e 
 prática espúria (motivo 14). 
 
O CCF é organizado e mantido pelo Banco do Brasil, mas abrange informações sobre os cheques de todos 
os bancos. Assim, por exemplo, se João emite um cheque do Itaú e o beneficiário não consegue descontá-
lo porque não havia fundos, o próprio Itaú irá comunicar esse fato ao Banco do Brasil, que irá incluir o 
nome do emitente no CCF. 
Dessa forma, importante deixar claro que o responsável pela inclusão do emitente do cheque no CCF é o 
banco sacado, ou seja, o banco ao qual estava vinculado o cheque que não pôde ser pago (em nosso 
exemplo, Itaú). Assim está previsto na Resolução 1.682/1990 e na Circular 2.989/2000, ambas do BACEN. 
Segundo a Resolução, a instituição financeira, ao recusar o pagamento de cheque por motivo que enseje a 
inclusão de ocorrência no CCF, deve providenciar a referida inclusão no prazo de 15 dias, contados da data 
de devolução do cheque. 
 
O emitente do cheque precisa ser avisado antes de sua inclusão no CCF? 
SIM. A abertura de qualquer cadastro, ficha, registro e dados pessoais ou de consumo referentes ao 
consumidor deverá ser comunicada por escrito a ele (§ 2º do art. 43 do CDC). 
O CCF, por ser de consulta restrita, não pode ser considerado como banco de dados públicos para o fim de 
afastar o dever de proceder à prévia notificação prevista no art. 43, § 2º, do CDC. Assim, é indispensável 
que o emitente do cheque seja notificado antes de ser incluído no CCF. 
 
Caso o emitente do cheque não tenha sido previamente notificado, poderá ajuizar ação de indenização 
por danos morais? 
SIM. 
 
Essa ação é proposta contra o Banco do Brasil (órgão gestor do CCF) ou contra o banco ao qual o cheque 
está vinculado? Quem é o responsável por notificar previamente o emitente do cheque? 
O banco sacado (banco que recusou o pagamento do cheque). 
 
 
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O Banco do Brasil, na condição de gestor do CCF, NÃO tem a responsabilidade de notificar previamente o 
devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco legitimidade passiva para as ações de 
reparação de danos diante da ausência de prévia comunicação. 
Como vimos acima, a responsabilidade pela inclusão do emitente no CCF é do banco sacado. Logo, ele é 
que tem responsabilidade pela notificação prévia do emitente e, caso não cumpra essa obrigação, terá o 
dever de indenizar o lesado. 
Não pode o Banco do Brasil encarregar-se de desempenhar função estranha (notificação prévia de emitente 
de cheque sem provisão de fundos), dever que a Resolução do BACEN atribui corretamente a outro 
componente do sistema — o próprio banco sacado, instituição financeira mais próxima do correntista, 
detentor do cadastro desse cliente e do próprio saldo da conta do correntista, como depositário. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.354.590-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 9/9/2015 (Info 568). 
 
Cuidado para não confundir: 
É importante ressaltar que a situação acima exposta difere do caso de bancos de dados mantidos por 
instituições privadas, como SPC e SERASA. Vejamos a diferença: 
 
 
SPC e SERASA 
 
Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos 
(CCF) 
 
São bancos de dados que reúnem informações 
sobre clientes de lojas, bancos etc. que estão 
em situação de inadimplência. 
É um cadastro que reúne informações sobre pessoas 
que emitiram cheques que foram devolvidos por 
falta de provisão de fundos, por encerramento de 
conta ou por prática espúria. 
Geridos por instituições privadas. Gerido pelo Banco do Brasil. 
Têm natureza privada. 
São instituídos e mantidos no interesse de 
particulares (sociedades empresárias). 
Estão regrados por normas de índole 
meramente contratual. 
Há intuito de lucro. 
Tem natureza pública. 
Sua finalidade é a proteção do crédito em geral e a 
preservação da higidez do sistema financeiro 
nacional, havendo submissão a normas fixadas pelo 
Banco Central. 
Não há intuito de lucro. 
Alimentado por informações transmitidas por 
empresas conveniadas (CDL, lojas, bancos etc.). 
Alimentado pelo banco sacado. A instituição 
financeira, ao recusar o pagamento do cheque por 
um dos motivos acima, deve informar ao Banco do 
Brasil o nome do emitente para sua inclusão no CCF. 
É indispensável a notificação prévia da pessoa 
antes de sua inclusão. 
É indispensável a notificação prévia da pessoa antes 
de sua inclusão. 
A obrigação de notificar previamente o 
consumidor é do próprio SPC ou SERASA. 
Se não houver a prévia notificação, deverá ser 
ajuizada a ação de indenização contra o SPC ou 
SERASA. 
O credor (empresa conveniada que informou a 
existência do débito) não é parte legítima para 
figurar no polo passivo de ação de indenização 
por danos morais decorrentes da inscrição em 
cadastros de inadimplentes sem prévia 
comunicação. 
A obrigação de notificar previamente o emitente do 
cheque é do BANCO SACADO. 
Se não houver a prévia notificação, deverá ser 
ajuizada a ação de indenização contra o banco 
sacado. 
O Banco do Brasil, na condição de gestor do CCF, 
NÃO tem a responsabilidade de notificar 
previamente o devedor acerca da sua inscrição no 
aludido cadastro, tampouco legitimidade passiva 
para as ações de reparação de danos diante da 
ausência de prévia comunicação.

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