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João Paulo Jacinto da Silva, mais conhecido como Paulo Silva, nasceu em Cajazeiras/PB, mas foi criado em Fortaleza/CE, casado, pai de uma filha. Nasceu em um lar católico, porém, em um determinado momento após a morte de sua mãe, se converteu ao protestantismo sob a denominação batista. Apesar de ainda frequentar a Igreja Católica, todas as suas ideias eram protestantes, de modo que pensava, falava e agia como um típico protestante recém convertido. Homem de natureza questionadora, nunca se sentiu satisfeito com a doutrina que era ensinada, de modo que não parava a busca por suprir os anseios de sua alma cheia de perguntas até o momento sem respostas até que com auxílio de alguns apostolados retornou a única e verdadeira Igreja de Cristo. Em 15 de agosto de 2000 sua mãe, Maria das Neves J. da Silva, falece de câncer situado entre o fígado e o baço. Foi um impacto forte demais para ele. Ela era a sua base, seu porto seguro. No ano de 2011 fundou o Grupo de Oração São José, grupo que vem se firmando a cada dia como defensor da Igreja Católica e tendo como missão principal a de arder em amor e zelo pela cabeça – o Cristo – e seu corpo místico – a Igreja Católica. Dá palestras, formações e cursos sobre vários assuntos a respeito de assuntos ligados à Igreja como Liturgia, vida dos santos, história da Igreja (principalmente a Igreja Antiga), espiritualidade católica, etc. Facebook: fb.com/pauloweb Twitter: @pauloweb Instagram: @mercynet Email: paulosilva@mercynet.com.br “Onde isto está escrito na bíblia?”, “Se não está na bíblia, então é falso!”, “Nós devemos crer somente no que está na bíblia. Fora dela é adulteração e heresia”. Tantas e tantas vezes ouvimos e lemos estas frases, que já se tornou uma espécie de chavão, um bordão dos protestantes. Esta é a doutrina da sola scriptura. Ela consiste em dizer que somente as Sagradas Escrituras ditam a regra de fé e moral. Mas será que é assim mesmo? Será que os primeiros cristãos criam nesta realidade? Durante muito tempo, as pessoas sempre me trouxeram estes questionamentos e até hoje me perguntam como respondê-los. Confesso que quando fui protestante eu me utilizava destas mesmas artimanhas e ainda outras muito piores. Agora eu tento mostrar o outro lado para os protestantes e já obtivemos excelentes resultados com isto. Muitas pessoas acordam para a realidade de que as Escrituras não ensinam tal doutrina. Atente para o fato de que nesta obra não chamaremos de “bíblia”, mas de Sagradas Escrituras. Mas por que? Pelo simples motivo de que quando falamos bíblia, automaticamente entendemos como um livro único, se possível com um zíper. Mas é bem diferente disso. O cânon bíblico se formou ao longo de 3 séculos de muita disputa e só a Igreja pôde regular, inspirada e amparada pelo Espírito Santo, quais livros eram ou não Palavra de Deus. Quando falamos “Sagradas Escrituras”, automaticamente entendemos que existem várias escrituras, portanto, não é uma obra única e isolada. Iremos aqui demonstrar em breves páginas 10 maneiras para refutar – até com certa facilidade – esta doutrina falsa e sem fundamento bíblico. Pela lógica, quando eu digo que as Sagradas Escrituras são a única regra de fé e moral, eu deveria ter um único versículo afirmando tal coisa. Se você for pesquisar na bíblia inteira (tanto a bíblia completa quanto a bíblia protestante) ela não vai te dar nenhum verso falando isso. Mas então de onde o protestante tira tal afirmação? Os protestantes utilizam comumente utilizam 2 Tm 3,16-17 e Ap 22,18-19 em defesa da Sola Scriptura. Vamos analisar estes versos um a um: 2 Tm 3, 16-17: "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, refutar, corrigir, educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para qualquer boa obra". Vamos então examinar esta passagem: A palavra grega ophelimus utilizado no versículo 16 significa útil e não suficiente. Pela lógica existem várias coisas úteis, até fundamentais para a nossa existência mas que não são as únicas. O ar, por exemplo, é fundamental, mas não vivemos somente dele. Portanto, as Escrituras são úteis, fundamentais, mas não podemos dizer que são suficientes. A palavra grega pasa, que geralmente é traduzida como "toda", na realidade significa "qualquer" e se refere a cada uma ou qualquer uma das classes do substantivo a que está conectado. Quando fala a palavra Toda não significa também o mesmo que dizer somente. Note que existe uma grande diferença entre dizer que as Escrituras são todas verdadeiras, ou seja, tudo o que está contido nelas é verdade de fé para nós, As Sagradas Escrituras não mencionam ser única regra de fé e moral1 mas ao mesmo tempo, as Sagradas Escrituras não resumem a Verdade. Seria como dizer que a bíblia inteira é verdadeira, mas que a bíblia não é a Verdade inteira. Existe uma grande diferença nesta afirmação. Vamos pensar um pouco. De que Escritura São Paulo está falando? Será que seria dessa sua carta a Timóteo? Será que São Paulo recebera de Deus a revelação de que suas cartas iriam formar um novo cânon? Será que São Pedro, São João também tiveram esta mesma revelação? Então de que Escrituras São Paulo está falando ali? Ora, muito simples! Das únicas escrituras que eles tinham em mãos: do Antigo Testamento. Como mencionamos na introdução, nesta época ainda não existia o Novo Testamento. A primeira epístola paulina a ser escrita foi a I Epístola aos Tessalonicenses, por volta do ano 51 enquanto São Paulo estava preso em Corinto, portanto, não tínhamos absolutamente nada do Novo Testamento. Então pela sola scriptura nós devemos crer somente no Antigo Testamento? De modo algum. Mas os protestantes poderiam responder que São Paulo não está falando do cânon (os livros inspirados que constituem a Bíblia), mas da natureza das Escrituras como Palavra de Deus. Com certeza é uma afirmação válida, mas antes de falar da natureza das Escrituras como theopneustos, ou seja, “soprados por Deus”, se faz necessário que nós tenhamos seguramente a lista correta dos livros inspirados, portanto, o cânon bíblico é fundamental. Saber o verdadeiro cânon bíblico não é problema para os católicos, mas para os protestantes, pois a Igreja Católica possui autoridade infalível na escolha dos livros inspirados. A palavra grega artios, aqui traduzida como “perfeito”, à primeira vista pode fazer crer que a Escritura é de fato tudo o que é necessário. "Logo", alguém poderia perguntar, "se as Escrituras tornam o homem de Deus perfeito, que mais seria preciso? Por acaso a palavra 'perfeito' não significa que nada mais é necessário?". Bem, a dificuldade com esta interpretação é que o texto não diz que somente pelos meios da Escritura o homem de Deus é tornado perfeito. Ap 22,18-19: “Eu atesto a todo o que ouvir as palavras proféticas deste livro: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhes acrescentará as pragas escritas nesse livro. E se alguém tirar qualquer coisa das palavras deste livro profético, Deus lhe retirará a sua parte da árvore da vida e da cidade santa, que estão descritas neste livro”. Esta é mais simples ainda. Lembra que falei que não iríamos chamar de bíblia, mas de Sagradas Escrituras? É por causa deste equívoco acima. Quando lemos o livro do Apocalipse, precisamos entender que Jesus fala aí do... Apocalipse. Portanto, quem adulterar a revelação, quem retirar ou por qualquer coisa deste livro, receberá as pragas contidas nele. Ora, se eles estivessem falando de todas as Escrituras, que pragas seriam? As 10 pragas do Egito? As serpentes que matam todo mundo em Números? Todas as pragas da bíblia? Que sentido então há em afirmar que o Apocalipse fala da bíblia inteira se – novamente dizendo – não existia o Novo Testamento ainda? A mesma advertência de não acrescentar ou subtrair palavrasé vista em Dt 4,2, que diz: “ Nada acrescentareis às palavras dos mandamentos que vos dou, e nada tirareis; assim guardareis os mandamentos do SENHOR, vosso Deus, que eu vos dou ”. Ora, sabemos que as Escrituras estão repletas de outros mandamentos e decretos. Então a bíblia seria contraditória em si mesma e todos concordamos que não é o caso. A mesma bíblia que fala que “toda Escritura é inspirada por Deus...”fala também, pelo mesmo São Paulo, “Eu vos felicito por vos lembrardes de mim em toda ocasião e conservardes as tradições tais como eu vo-las transmiti” (I Cor 11,2). Ora, mas que tradições seriam estas? Talvez o mais claro apoio bíblico para a Tradição oral seja 2 Ts 2,15, onde os cristãos são enfaticamente advertidos: “ Assim, pois, irmãos, ficai inabaláveis e guardai firmemente as tradições que vos ensinamos, de viva voz ou por carta”. Esta passagem é significante porque: a) mostra que existe uma tradição oral apostólica vivente e utilizada largamente; b) diz que os cristãos dentro do cerne da sã doutrina se aderirem a estas tradições; c) claramente demonstra que estas tradições eram tanto escritas como faladas. As Escrituras demonstram aqui que as tradições orais – autênticas e apostólicas em sua origem – deveriam ser seguidas como componente válido do Depósito da Fé, então por quais razões ou desculpas os protestantes a rejeitam? Com que autoridade podem rejeitar uma exortação clara do apóstolo Paulo? As Sagradas Escrituras falam para observarmos a Tradição oral2 Esta parte é bem interessante. Vamos pela lógica mais uma vez. Vejamos a passagem: 1 Tm 3,15: “Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na casa de Deus, que é a Igreja de Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade”. Pela lógica, se cremos que a única regra de fé e moral é a bíblia, por que então São Paulo fala que a coluna e o sustentáculo da Verdade é a Igreja e não a Palavra de Deus? Esta passagem é bem clara. São Paulo fala claramente outra coisa. Se a Igreja somos cada um de nós, por que São Timóteo deveria “saber como dever se portar na casa de Deus”? A Igreja do Deus vivo é a coluna que sustenta a Verdade, portanto, a base, o alicerce da Verdade. Se a sola scriptura fosse uma doutrina válida, esta passagem não faria o menor sentido. São Paulo, por outro lado, não diminui em nada o valor das Sagradas Escrituras, mas demonstra o valor do Sagrado Magistério, ou seja, as pessoas que foram incubidas de pregar o Evangelho a todas as nações (cf. Mt 28,19). Nosso Senhor ainda dá outras provas da autoridade da Igreja e do Sagrado Magistério. Isso também demonstra que a Igreja é infalível em matéria de fé e moral, pois como seria a base da Verdade se pregasse o erro? Logo, somente uma autoridade infalível como a Igreja Católica poderia ser a coluna e sustentáculo da Verdade. 3 As Sagradas Escrituras falam qual é a verdadeira coluna da Verdade Se em 2 Tm 3,17 as Escrituras mostram que o homem chegará à perfeição em Deus e qualificado para qualquer boa obra, em 2 Pd 3,16 lemos que as Escrituras tem sentidos difíceis de serem compreendidos e que existem passagens que não são para ser interpretadas livremente por ignorantes. Ainda fala que os que fazem, o fazem para a própria condenação. Neste único versículo podemos ver três pontos muito importantes sobre a Bíblia e sua interpretação: a) A Bíblia contém passagens que não são facilmente compreendidas ou suficientemente claras, um fato que demonstra a necessidade de um orientador infalível e com autoridade suficiente para tornar as passagens claras e compreensíveis; b) não é somente possível que algumas pessoas deturpem o significado da Escritura, mas isto, de fato, já estava sendo feito desde o começo da era da Igreja; c) distorcer o significado da Escritura pode resultar na condenação de um indivíduo, realmente um destino desastroso. É óbvio destas considerações que Pedro não acredita que a Bíblia deva ser a única regra de fé. Mas há mais. Em At 8,26-40 lemos o encontro do diácono Felipe com o eunuco etíope. Neste cenário, o Espírito Santo leva Felipe a se aproximar do etíope. Quando Felipe percebe que o etíope está lendo o profeta Isaías, faz uma importante pergunta: será que compreendes verdadeiramente o que está lendo? Mais importante é a resposta dada pelo eunuco: e como poderia eu compreender, respondeu ele, se não tenho guia? Então entendemos que as Escrituras também não é auto orientada. Mais uma vez os protestantes ficam pelo caminho. 4 As Escrituras afirma não ser suficiente como orientadora Como foi mencionado acima, o cânon bíblico demorou em torno de três séculos para ser estabelecido como o conhecemos hoje. Também falamos que o primeiro livro de São Paulo, a Epístola aos Tessalonicenses foi escrita por volta do ano 51 quando São Paulo estava preso em Corinto. Ora, os estudiosos afirmam que o último livro – o Apocalipse de João – foi inscrito entre o ano 100 d.c. e 120 d.c. Este fato demonstra um intervalo inexato de cerca de 65 anos entre a ascensão de Cristo aos céus e o término da redação da Bíblia como a conhecemos. A pergunta que deve ser feita é a seguinte: Quem ou o quê serviu como autoridade final e infalível durante este tempo? Se a doutrina protestante da sola scriptura fosse válida e amparada nos primeiros cristãos, então estas pessoas viveram sem rumo e muitas provavelmente estariam no inferno. Mas isto é algo que Nosso Senhor jamais permitiria, pois concordamos que Ele não mentiu ao dizer “Eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos tempos” (Mt 28,20), sem mencionar que Ele garantiu a seus discípulos: “não vos deixarei órfãos” (Jo 14,18). Aqui os protestantes buscam oferecer duas possíveis respostas: 1) Os apóstolos eram temporariamente a última autoridade enquanto o Novo Testamento estava sendo escrito; 2) que o Espírito Santo foi dado à Igreja e que a sua direta orientação foi o que preencheu a lacuna entre a ascensão e a definição do Novo Testamento. Sobre a primeira resposta, é verdadeiro que Jesus revestiu aos apóstolos da Sua autoridade; contudo, a Bíblia em local algum indica que esta autoridade dentro da Igreja iria cessar com a morte dos apóstolos. 5Os primeiros cristãos não tinham uma bíblia compilada Pelo contrário, a Bíblia é bastante clara quando: 1) em lugar algum diz que uma vez morto o último apóstolo, a Palavra de Deus escrita tornaria-se a autoridade final e; 2) os apóstolos claramente escolheram sucessores que, por sua vez, possuíram a mesma autoridade de ligar e desligar. A substituição de Judas Iscariotes por Matias (cf. At 1,15-26) e a transmissão da autoridade apostólica de Paulo a Timóteo e Tito (cf. 2 Tm 1,6; Tt 1,5) são exemplos de sucessão apostólica. Sobre a segunda resposta - que o auxílio direto do Espírito Santo preencheu a lacuna - o problema com este entendimento é que o auxílio direto do próprio Espírito Santo é uma conclusão extra-bíblica. Naturalmente, a Bíblia nos fala da clara presença do Espírito Santo entre os cristãos e sua missão de ensinar aos apóstolos toda a verdade, porém se a direção direta do Espírito Santo foi, de fato, a autoridade final durante estes 65 anos, então a história da Igreja conheceu duas autoridades finais sucessivas: primeiro, o Espírito Santo, sendo que esta autoridade foi substituída pela Escritura, que então tornaria-se sola, ou a única autoridade final. E se esta situação de uma autoridade final extra-bíblica é permissiva pelos protestantes, não o é pelos católicos, que afirmam que a autoridade do ensino da Igreja é a autoridade final direta - derivando sua autoridade de Cristo e seu ensino da Escritura e da Tradição, guiada pelo Espírito Santo. Resumindo: afinal de contas, a autoridade final em fé e moral é ou não é as Escrituras? A idéia da autoridade da Escritura existindo separada da autoridadedo ensino da Igreja é completamente estranha à Igreja Primitiva. Se buscarmos os escritos dos Pais da Igreja Primitiva, encontraremos referências à Sucessão Apostólica, aos bispos como guardiões do Depósito da Fé, e ao primado e autoridade de Roma. Veja, por exemplo, Santo Irineu, Contra as Heresias 3,3; Tertuliano, Prescrição contra os hereges 32, Orígenes, Primeiros princípios, 1, prefácio que demonstram a sucessão apostólica. Santo Inácio de Antioquia nas suas Carta aos Esmirnenses 8-9; Carta aos Filadélfos, introdução e cap.1-4; Carta aos Magnésios, 7 demonstra que os bispos são os guardiões do Depositum Fidei. Já 1 Clemente 1,56,58,59; Santo Inácio de Antioquia, Carta aos Romanos, introdução e cap.3; Santo Irineu, Contra as Heresias 3,3; Tertuliano, Prescrição contra os hereges 22; Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica 5,24,9 falam da autoridade e primado de Roma. Mas não mencionam a questão da bíblia ser a única regra de fé e moral. 6 A Igreja primitiva não reconhece a Sola Scriptura como válida Um dos fatos históricos que é um extremo inconveniente aos protestantes é o fato de que o cânon da Bíblia - a lista sagrada dos livros que fazem parte das Escrituras inspiradas - não fora definido até o final do século 4. Até esta data, havia larga discórdia sobre quais seriam os livros considerados inspirados e de origem apostólica. O cânon bíblico antigo variava de local a local: algumas listas continham livros que mais tarde foram reconhecidos como apócrifos, enquanto outras listas não traziam livros que hoje constam entre os livros canônicos. Por exemplo, existiam livros cristãos que eram considerados por alguns inspirados e apostólicos e que eram lidos nos cultos públicos, mas que foram mais tarde omitidos do Novo Testamento, entre eles, O Pastor de Hermas, Epístola de Barnabé, Didaché. Somente nos Concílio de Roma (382), Hipona (393) e Cartago (397) podemos encontrar uma lista definitiva dos livros canônicos sendo descrita, e cada um destes concílios reconheceu a mesma lista do anterior 18 . A partir de então, não houveram mais disputas sobre o cânon bíblico, a única exceção ficando a cargo dos reformadores protestantes, que entraram em cena em 1517, inacreditáveis 11 séculos depois. Mais uma vez, mais duas questões fundamentais porque alguém não deve buscar respostas que sejam consoantes com a Sola Scriptura: a) Quem ou o quê serviu como autoridade cristã final durante o tempo em que o Novo Testamento não tomou forma? b) E se havia alguma autoridade final que os protestantes reconhecem antes da definição do cânon, com que bases esta autoridade desapareceu uma vez que o cânon bíblico tenha sido fechado? 7O Cânon da Bíblia não estava formado até o século IV Uma importante consideração - talvez uma das mais fatais à doutrina da Sola Scriptura - é a de que não possuímos ao menos um manuscrito original de nenhum livro da Bíblia. Claro que existem milhares de manuscritos que são cópias dos originais - e mais provável é que sejam cópias das cópias -, e este fato em nada auxilia a Sola Scriptura pela simples razão de que sem os originais, ninguém pode garantir que possuímos atualmente a Bíblia real, completa e sem corrupções 22 . Os autógrafos originais são inspirados, as cópias não... Os protestantes argumentam que não há problema em não ter os escritos originais, pois Deus protegeu a Bíblia protegendo sua duplicação ao longo dos séculos 23 . Entretanto, existem dois problemas com esta linha de pensamento. Primeiro, que afirmar que a providência de Deus manteve a integridade das cópias é afirmar algo que não encontra nem de longe suporte nas Escrituras, logo não pode ser tomada como regra de fé, pela própria definição de Sola Scriptura. Em outras palavras, não se encontra versículo algum que demonstre que Deus protegeria a transmissão dos manuscritos, logo esta conclusão está excluída. A Bíblia nada diz a respeito. Segundo, se você afirmar que Deus protegeu a transmissão da Sua Palavra escrita, então podemos concluir que também protegeu a transmissão de Sua Palavra oralmente (releia 2 Ts 2,15 e a dimórfica estrutura da Palavra de Deus). Até porque a pregação do Evangelho começou pela Tradição Oral (cf. Lc 1,1-4 e Rm 10,17). Somente muito tempo depois uma parte da Tradição oral fora posta na forma escrita - tornando-se a Sagrada Escritura - e somente muito tempo após este mesmo evento os escritos foram reconhecidos e definidos com canônicos. Uma vez que você possa reconhecer que Deus protegeu a transmissão oral de Sua mensagem, você automaticamente admite as bases da Sagrada Tradição e já começou a compreender a posição católica. 8Nenhum dos escritos bíblicos originais existem mais No cerne da doutrina da Sola Scriptura é a idéia de que o Espírito Santo guia cada crente na interpretação infalível de qualquer passagem bíblica. Isto, no mínimo, requer que todos possuam Bíblias ou acesso a ela, é o mínimo que se espera. A dificuldade de tal pensamento está no fato de que a Bíblia não era um produto de massas disponível para todo mundo até o advento da imprensa no século XV. Mesmo depois disso, custava certo tempo até que um número ideal de Bíblias fosse impressa para suprir a população. A difícil situação que esta idéia coloca é que milhões e milhões de cristãos ficaram sem uma autoridade final até o século XV, na total confusão espiritual, a menos que eles pudessem possuir uma Bíblia manuscrita. Qualquer um consideraria Deus um tanto cruel por causa disto, pois teria revelado sua mensagem de salvação para a humanidade por Cristo, mesmo sabendo que esta mensagem não estaria disponível a esta mesma humanidade por quinze séculos. 9 A Bíblia não estava disponível até o século XV Ora, isso é muito simples. Como vimos na refutação n.9, o crente precisa ter a bíblia nas mãos para aí, regido diretamente pelo Espírito Santo, ter a infabilidade em fé e moral. Mas e o pastor? Pra que serve o pastor se o Espírito Santo já explicaria tudo que já estaria previamente na bíblia? Não faz sentido algum, pois uma coisa, segundo a lógica protestante, invalidaria a outra. Então se existe a necessidade de uma pessoa mais instruída e mais experiente é por que o Espírito Santo não está tão à frente assim deste aprendizado. Então a sola scriptura mais uma vez é invalidada. 10 A sola scriptura dispensaria a presença de ensino externo Como pudemos demonstrar, a sola scriptura é uma doutrina falsa e que não pode ser utilizada. Infelizmente muitos católicos estão enveredando por este caminho, querendo provas escritas na bíblia para tudo aquilo que eles desconfiam. Nós vemos comentários absurdos por aí, como por exemplo um católico perguntando onde tem na bíblia tal e tal dogma, ou onde Jesus falou tal e tal coisa. É uma grande tristeza que os católicos se prestem a esse papel, já que temos dois mil anos de sã doutrina. Para finalizar, deixo aqui as palavras de São Basílio Magno: "Meta comum de todos os adversários, inimigos da sã doutrina, é abalar o fundamento da fé em Cristo, arrasando, fazendo desaparecer a Tradição apostólica. Por isso, eles, aparentando ser detentores de bons sentimentos, recorrem a provas extraídas das Escrituras, e lançam para bem longe, como se fossem objetos vis, os testemunhos orais dos Padres." (Tratado sobre o Espírito Santo, Cap 25). Considerações finais