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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Fabiola dos Santos Kucybala A sequência didática Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a alfabetização e o letramento a partir da sequência didática. Reconhecer a importância da sequência didática integrando diferentes componentes curriculares. Analisar projetos didáticos e sequências didáticas para turmas de alfabetização. Introdução Desde os primeiros anos do ensino fundamental, são discutidas questões referentes ao planejamento docente e às formas de currículo que integram a alfabetização e o letramento aos demais componentes curriculares. Por isso, é importante que você conheça algumas características das sequ- ências didáticas e dos projetos didáticos. Como você pode imaginar, eles são importantes ferramentas para que a construção dos conhecimentos ocorra de forma gradativa, conjunta, significativa e interdisciplinar. Neste capítulo, você vai estudar as sequências didáticas no processo de alfabetização e letramento, bem como sua importância na integração das diferentes áreas do conhecimento. Da mesma forma, vai analisar alguns projetos e sequências didáticas nas turmas de alfabetização como forma de articular concepções e verificar sugestões de práticas e possi- bilidades cotidianas de trabalho em sala de aula. Alfabetização e letramento a partir da sequência didática Muitos são os desaos e questionamentos relacionados à complexa e insti- gante tarefa de alfabetizar e letrar. As situações que permeiam esse processo, o modo como ele deve ser realizado e a forma como a criança se apropria do sistema de escrita alfabética constituem pontos fundamentais para você pensar a aprendizagem na perspectiva do alfabetizar letrando. Contudo, para que todo esse processo seja significativo, é necessário que você, como professor, pense no planejamento de sua prática. A ideia é realizar atividades que levem em consideração os conhecimentos das crianças e os usos sociais da língua escrita, de modo que sejam propiciadas vivências e práticas de leitura, além da apropriação da cultura escrita. Nesse sentido, o planejamento, segundoMagalhães et al. (2012), auxilia o professor a fazer escolhas coerentes, organizar a rotina da turma, delimitar objetivos, saber aonde deseja chegar e o que é necessário ensinar aos alunos no decorrer do ano letivo. Nesse planejamento, as sequências didáticas surgem como importante ferramenta a favor do professor, pois permitem o estudo de determinados temas nas diferentes áreas do conhecimento de forma interdisciplinar, visando a um trabalho pautado no diálogo, na interação e na integração. As atividades, nessa concepção, são organizadas de acordo com os objetivos que o professor deseja alcançar, envolvendo atividades de aprendizagem e avaliação nos diferentes níveis de escolaridade em que a criança se encontra. De acordo com Dubeux e Souza (2012a, p. 27), a sequência didática é [...] um trabalho pedagógico organizado de forma sequencial, estruturado pelo professor para um determinado tempo, trabalhando-se com conteúdos relacionados a um mesmo tema, a um gênero textual específico, uma brin- cadeira ou uma forma de expressão artística. Partindo desse pressuposto, a sequência didática possibilita que o professor planeje e desenvolva sua prática pedagógica considerando a aprendizagemdo aluno. Consiste, ainda, em trabalhar os conteúdos específicos, demodo a pensar empassos ou etapas que tornem esse processo mais efetivo e significativo (NERY, 2007). É importante você notar que o professor vai delinear e nortear seu pla- nejamento levando em consideração o engajamento da turma nas atividades propostas, de maneira que os alunos possam participar, definir projetos de escrita e discutir acerca das formas como as tarefas serão realizadas em sala de aula. No entanto, a definição das atividades, da ordem e da sequência em que esse planejamento será posto em prática fica a cargo do professor. Dubeux e Souza (2012a, p. 28) destacam que é o professor “[...] quemmonitora o processo todo, sabendo quais atividades articular, quais atividades vêm antes de outras e o nível de aprofundamento do conteúdo selecionado”. Pensando na temática alfabetização e na proposta voltada ao ensino da língua, Dolz, Noverraz e Scheuwly (2004) apontam que a sequência didá- A sequência didática2 tica tem o objetivo de auxiliar o aluno a dominar de forma mais efetiva um gênero de texto, relacionando-os às situações do cotidiano, de forma que o trabalho seja organizado a partir de atividades com diferentes gêneros textuais que a criança ainda não domine, contribuindo para aprimorar sua capacidade de ler e escrever. Para os autores, na elaboração de uma sequência didática, deve-se obedecer a um esquema que traga de forma sequenciada os seguintes componentes: apresentação da situação, produção inicial, módulo 1, módulo 2, módulo N e produção final. Você vai conhecer todos eles de forma detalhada ao longo deste capítulo. A seguir, na Figura 1, veja a estrutura do esquema proposto por Dolz, Noverraz e Scheuwly (2004). Figura 1. Esquema de sequência didática. Fonte: Adaptada de Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 98). A apresentação da situação consiste em expor aos alunos a produção de um gênero textual que será desenvolvido e trabalhado em sala de aula. Essa tarefa, seja ela oral ou escrita, auxiliará a criança na preparação da produção inicial dos gêneros que serão trabalhados a partir de módulos e na concretização da produção final que se pretende alcançar. Nessa fase, deve ficar claro qual gênero será trabalhado, a quem se dirige essa produção, qual o suporte material utilizado, quem são os participantes envolvidos e quais seus conhecimentos acerca do conteúdo que será abordado. Na etapa inicial da sequência didática, é fundamental que o aluno perceba a importância dos conteúdos a serem trabalhados e o que se espera deles ao longo do processo. Nesse sentido, a escolha dos temas e objetivos deve ser clara, de maneira que sejamproporcionados desafios e atividades diversificadas a partir da escolha dos gêneros textuais que serão utilizados.Alémdisso, é primordial que esse processo de construção de saberes envolva situações de representatividade para a criança, de modo que as atividades de linguagem sejam definidas e executadas. 3A sequência didática A partir dessa apresentação da situação inicial e do gênero a ser trabalhado, o professor solicita aos alunos a produção inicial, oral ou escrita, que consiste num primeiro encontro da criança com o gênero, seja de forma individual ou dirigida à turma como um todo. Por meio dela, é possível avaliar os conhecimentos das crianças e as inter- venções que precisam ser realizadas, bem como indicar as necessidades de aprendizagem acerca do gênero proposto e as capacidades que ainda precisam ser desenvolvidas. Essa produção norteará a organização da sequência das atividades posteriores, de forma que elas sejam contextualizadas e possibilitem que os conhecimentos acerca da estrutura e da função daquele gênero em questão sejam aprofundados e ampliados. A partir dessa produção inicial e da avaliação do professor acerca dos pro- blemas e dificuldades encontrados pelos alunos, é necessário então pensar nas atividades e exercícios que serão realizados ao longo do trabalho. Osmódulos, nesse sentido, consistem na utilização de diferentes instrumentos que auxiliem o aluno a aprimorar o domínio do gênero estudado de forma sistematizada. Dubeux e Souza (2012a, p. 29) trazem como exemplo prático o trabalho a partir do gênero carta de reclamação para a direção de uma escola. “São trabalhados os diversos componentes desse gênero, de forma que o ensino simplifica e distingue o que o aluno vai aprender até chegar à produção final”. Esses componentes do gênero serão aprofundados e abordados a partir das atividades desenvolvidas nos módulos, cujo objetivo principal é possibilitar situações que permitam o envolvimento da criança coma leitura e a escrita de diferentes gêneros textuais. Durante a elaboração dos módulos ou também das chamadas oficinas, Dolz, Noverraz e Scheuwly (2004) destacam que é importante o professor elaborar os conteúdos e oferecer aos alunos recursos que os levem a compreender a estrutura do gênero que está sendo aperfeiçoado. Os alunos também devem entender as demandas necessárias para sua aplicação, a fim de evidenciar as aprendizagens obtidas ao longo do processo. Os autores ainda destacam que no decorrer desse trabalho, conforme o aluno vai se apropriando e construindo conhecimentos acerca do gênero trabalhado, o professor vai listando, elencando, registrando as aprendizagens, pontuando e fazendo observações pertinentes que contribuam para enrique- cer o processo de ensino e aprendizagem. Além disso, é importante que as atividades ocorram alternadamente, ora de forma individual, ora em grupos, e que envolvam situações de leitura, escrita e oralidade. Por fim, por meio da produção final, será possível investigar as apren- dizagens obtidas ao longo do processo. Nessa produção, serão apresentados A sequência didática4 de forma prática os conhecimentos adquiridos pelos alunos. Ao professor, cabe definir uma produção que contemple e agregue o que foi aprendido e trabalhado em cada módulo, avaliando as produções realizadas. Como você viu até aqui, as sequências didáticas, assim como o planeja- mento da prática docente, são importantes ferramentas a serviço da educação. Segundo Nery (2007, p. 111): O (a) professor (a) planeja seu curso, levando em conta o plano/projeto da escola e as crianças concretas de sua turma: seus conhecimentos, interesses, necessidades. Considera ainda as condições reais de seu trabalho, sua trajetória profissional, bem como os objetivos pedagógicos para os estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental. Nesse sentido, para que esse planejamento contemple os conhecimentos dos alunos, é necessário organizar o trabalho de forma flexível e criar oportunidades diferenciadas de envolvimento dos estudantes no processo escolar. Além disso, promover o engajamento das crianças e de suas aprendizagens nos espaços coletivos possibilita um diálogo e uma participação de todos os envolvidos, enriquecendo o aprendizado das crianças e ressignificando a prática docente. A revista Nova Escola realizou uma reportagem sobre a importância de se fazer um planejamento em que sejam criadas situações didáticas variadas que levem a turma a um ano de aprendizagens. Nesse sentido, a reportagem apresenta algumas respostas às dúvidas inerentes ao planejamento, à elaboração e à implementação de uma sequência didática, mostrando a partir de exemplos práticos o que é necessário levar em consideração em cada etapa do processo. Confira a reportagem no link a seguir. https://goo.gl/tiWSf1 A importância da sequência didática na integração de diferentes componentes curriculares A sequência didática favorece a integração das diferentes áreas do conheci- mento e promove a interação entre as disciplinas, aproximando as crianças 5A sequência didática da realidade e do contexto em que estão inseridas. Nessa perspectiva, Pessoa (2015) destaca como um aspecto importante das sequências didáticas a pos- sibilidade de desenvolver um trabalho interdisciplinar e contemplar, por meio de atividades diversicadas e articuladas, variados componentes curriculares. Além disso, as sequências ajudam o professor no planejamento de situações que facilitam a construção dos conhecimentos pelos alunos. Contudo, é essencial que você aprofunde sua compreensão sobre a con- cepção de currículo nos anos iniciais do ensino fundamental, bem como que perceba a importância de desenvolver um diálogo entre as diferentes áreas do conhecimento. Essas são questões relevantes a serem discutidas, principalmente no que se refere ao processo de alfabetização e letramento. Diante desse contexto, Souza (2012, p. 6) aponta alguns questionamentos importantes a respeito do currículo. “O que é? Para que serve? A quem se destina? Como se constrói? Como se implementa?”. Para responder a essas indagações, é importante, antes de tudo, “[...] conhecer as crianças, saber quais são os seus interesses e preferências, suas formas de aprender, suas facilidades e dificuldades, como é seu grupo familiar e social, sua vida dentro e fora da escola” (CORSINO, 2007, p. 58). Nesse sentido, o professor, ao desenvolver o currículo e as atividades propostas para a turma, precisa, além de conhecer a sua clientela, ter um olhar sensível sobre cada criança. Corsino (2007) acrescenta ainda que é necessário ter disponibilidade para observar, indagar, articular os saberes dos alunos com os objetivos das diferentes áreas do currículo e organizar a sua prática pedagógica de forma flexível e aberta ao novo. A autora também utiliza o termo “flexibilidade” para sugerir que o pro- fessor, ao planejar suas aulas, deve levar em consideração os conhecimentos, as indagações, os questionamentos e as falas de todos os envolvidos. Ao fazer isso, ele está adaptando o seu planejamento e a sua prática ao contexto e aos interesses da turma, promovendo trocas mútuas e ampliando os conhecimentos e saberes decorrentes desse processo. Para iniciar as discussões sobre currículo, Lima (2007) acrescenta que o educador necessita adequar a prática pedagógica às possibilidades de aprendiza- gem e desenvolvimento dos alunos, visando a promover espaços de socialização do conhecimento e ampliação de novos saberes derivados não somente das experiências cotidianas, mas de outras áreas do conhecimento. [...] os currículos não são conteúdos prontos a serem passados aos alunos. São uma construção e seleção de conhecimentos e práticas produzidas em contextos concretos e em dinâmicas sociais, políticas e culturais, intelectuais e pedagó- A sequência didática6 gicas. Conhecimentos e práticas expostos às novas dinâmicas e reinterpretados em cada contexto histórico. As indagações revelam que há entendimento de que os currículos são orientados pela dinâmica da Sociedade. Cabe a nós, como profissionais da Educação, encontrar respostas (LIMA, 2007, p. 9). Nesse sentido, ao se discutir o currículo na alfabetização, é necessário pensar nele como um instrumento de formação humana. Com base nele, o professor, por meio de situações que problematizem conhecimentos, pode pla- nejar, propor e coordenar atividades significativas e desafiadoras. É importante, contudo, que haja objetivos claros do que se deseja alcançar com o trabalho, a fim de ampliar as experiências e práticas sociais, culturais e pedagógicas. Corsino (2007, p. 59) acrescenta que “[...] o conhecimento é uma cons- trução coletiva e é na troca dos sentidos construídos, no diálogo e na valo- rização das diferentes vozes que circulam nos espaços de interação que a aprendizagem vai se dando”. Portanto, parte-se aqui do pressuposto do conhecimento como interação coletiva e da importância de se construir uma proposta de currículo dinâmico que contemple diferentes saberes e áreas do conhecimento. Torna-se funda- mental, nesse sentido, integrar os componentes curriculares como forma de transformar e articular o ensino e de propiciar condições para que as crianças se tornem sujeitos capazes de questionar, refletir e se posicionar frente às situações demandadas, independentemente da área em que se encontram. Nesse contexto, o termo “interdisciplinaridade” surge nas propostas curriculares das escolas visando a integrar o ensino e as atividades implemen- tadas pelos educadores. Mas, afinal, você sabe o que significa esse conceito? Segundo o dicionário Aurélio, interdisciplinaridade é quando o ensino é: estabelece relações entre duas ou mais disciplinas ou áreas do conhecimento, para melhorar o processo de aprendizagem e, consequentemente, a relação entre professor e aluno. A interdisciplinaridade, assim, nasce como uma proposta pedagógica cujo objetivo é envolver as diferentes áreas do currículo de forma integrada, proporcionando atividadesde interação, colaboração e participação entre os envolvidos nesse processo. Essa participação do sujeito envolve as interações decorrentes dos conhe- cimentos apresentados pelos envolvidos, e isso não se limita apenas ao que é aprendido dentro da escola, mas também envolve o que ocorre fora dela. O desafio do professor, principalmente nos anos iniciais do ensino fundamental, é desenvolver e promover atividades voltadas à alfabetização e ao letramento, articulando-as com as demais áreas do conhecimento, de maneira que haja uma consonância entre elas e que os conteúdos e habilidades abordados sejam contemplados. Desse modo, Corsino (2007) destaca que a organização peda- 7A sequência didática gógica deve envolver e articular os conhecimentos das crianças acerca das diferentes áreas do currículo, que envolvem os saberes referentes a ciências sociais, ciências naturais, noções lógico-matemáticas e linguagens. Souza (2012, p. 9) destaca que: Uma abordagem interdisciplinar no tratamento da diversidade de temáticas relacionadas às diversas áreas do saber constitui, portanto, algo de extrema relevância e tal concepção propicia a concordância de que o tempo escolar não deve ser dividido por áreas de conhecimento. O desejo é a integração dessas diferentes áreas. Seguindo a proposta interdisciplinar de integração entre os componentes curriculares, a sequência didática e os projetos pedagógicos assumem um papel importante para o trabalho do professor que busca articular os diferentes conhecimentos. Corsino (2007, p. 65) destaca que, além de ser “[...] uma forma de vincular o aprendizado escolar aos interesses e preocupações das crianças, aos problemas emergentes na sociedade em que vivemos, à realidade fora da escola e às questões culturais do grupo”, as sequências didáticas e os projetos ainda “[...] vão além dos limites do currículo, pois os temas eleitos podem ser explorados de forma ampla e interdisciplinar”. A autora ainda afirma que esse trabalho pode ser aprofundado a partir de pesquisas, buscas de informações, experiências e práticas que contemplem visitas, entrevistas e questionários. Além disso, o professor tem a possibilidade de orientar as atividades de registro dos dados que podem ser conduzidas individualmente, em pequenos grupos ou na turma como um todo. Tais ati- vidades ocorrem no sentido de promover a pesquisa, o diálogo, a curiosidade e a criatividade dos envolvidos, contribuindo para que os alunos participem ativamente e busquem respostas às indagações que surgem durante o trabalho, transformando, nesse sentido, a aprendizagem em um desafio coletivo. Quando a interdisciplinaridade se volta à alfabetização, Souza (2012) destaca que é preciso pensar em atividades que permitam à criança ampliar seus conhecimentos relativos ao domínio e à apropriação do sistema de es- crita alfabética. Além disso, é necessário oferecer a ela a possibilidade de responder adequadamente às demandas sociais, bem como proporcionar a sua participação em experiências variadas de leitura e escrita, por meio da diversidade de gêneros textuais, visando ao desenvolvimento das capacidades para a compreensão e a apropriação do sistema de escrita alfabética. Nesse sentido, ao integrar as diferentes áreas do conhecimento na alfabeti- zação, é necessário realizar um trabalho em que as crianças sejam encorajadas A sequência didática8 a pensar, discutir, dialogar e refletir acerca do currículo. Para isso, o professor precisa levar em consideração seus interesses, sentimentos e experiências, possibilitando o convívio em grupo, as descobertas e as tomadas de decisões. Análise de projetos didáticos e sequências didáticas para turmas de alfabetização Ao elaborar projetos didáticos e sequências didáticas, é importante conhecer como eles são constituídos, quais são as suas características estruturais e quais são as possibilidades de trabalho pedagógico a partir da integração das demais áreas do conhecimento, sob uma perspectiva interdisciplinar. Por esse motivo, antes de descrever, relatar e analisar algumas práticas de professores que adequaram as suas rotinas e atividades pedagógicas a partir do trabalho com projetos e sequências didáticas, você vai ver o que compõe esse trabalho e o que é necessário pensar quando a proposta está voltada para turmas de alfabetização. Veja primeiro a descrição e a análise dos projetos didáticos. Segundo Nery (2007, p. 119): Essa modalidade de organização do trabalho pedagógico prevê um produto final cujo planejamento tem objetivos claros, dimensionamento do tempo, divisão de tarefas e, por fim, a avaliação final em função do que pretendia. Tudo isso feito de forma compartilhada e com cada estudante tendo autonomia pessoal e responsabilidade coletiva para o bom desenvolvimento do projeto. Corsino (2007, p. 65) complementa que os projetos, nessa perspectiva, “[...] caminham conforme os interesses das crianças e a disponibilidade de recursos que a escola e a comunidade oferecem”. É importante, então, que as temáticas partam de questionamentos, indagações e desejos do grupo, levando em consi- deração o contato com práticas sociais reais, a interação entre os envolvidos e a ampliação dos conhecimentos acerca dos assuntos explorados durante o trabalho. Uma das características do projeto didático é que se baseia em um trabalho conjunto entre professores e alunos. Todas as etapas, num primeiromomento, são planejadas e mediadas pelo professor. Depois, são combinadas e acompanhadas pelas crianças, para que elas possam se envolver ativamente em todo o processo. A ideia é que enriqueçam as aprendizagens a partir de questionamentos, suges- tões e indagações, a fim de desenvolver o espírito crítico, reflexivo, investigativo e transformador, bem como a cooperação, o interesse e a curiosidade. 9A sequência didática Dubeux e Teles (2012b, p. 14) destacam que: “[...] os projetos aprofundam conteúdos de estudo que começam com uma ideia e são desenvolvidos durante um período, envolvendo situações concretas que levam a reflexões resultantes destas”. As autoras ainda complementam dizendo que se considera um bom projeto “[...] aquele que possibilita às crianças interagirem entre elas, discu- tindo, decidindo, dialogando, resolvendo conflitos e estabelecendo regras e metas” (DUBEUX; TELES, 2012b, p. 14).. Nesse sentido, é importante você notar que os projetos vêm ao encontro da proposta da interdisciplina- ridade, pois eles ocorrem a partir da integração entre as diversas áreas do conhecimento, de modo que a criança é levada a compreender o mundo em que está inserida. Outra questão importante referenciada por Dubeux e Teles (2012b) é que os projetos didáticos são uma modalidade promotora do letramento na escola. Afinal, por meio deles a criança tem contato com diferentes gêneros textuais nas mais variadas áreas do conhecimento e é envolvida em situações de ensino que favorecem a apropriação do sistema de escrita alfabética. Para elaborar um projeto, é necessário seguir algumas etapas importantes. Dubeux e Teles (2012b) apresentam um projeto didático realizado pelo professor Sidney em uma escola municipal localizada em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. O projeto tem como proposta que as crianças do primeiro ano do ensino fundamental conheçam e ampliem os conhecimentos acerca dos nomes e perfis dos animais de estimação. O projeto do professor é composto e organizado da seguinte forma: objetivo geral; objetivos específicos; produto final; disciplinas envolvidas; descrição dos momentos/etapas planejados. Seguindo essa organização, o professor deu início ao projeto a partir da leitura de livros sobre o assunto, explorando especificamente o gênero poema. O trabalho contou com a participação e o envolvimento dos alu- nos durante a sua realização e contemplou atividades nas áreas de língua portuguesa (leitura, escrita, produção de poemas), matemática (contagem e tabulação de dados a partir de tabelas e gráficos) e ciências naturais (características dos animais de estimação). Comoculminância e produto final foi organizada uma exposição, na sala de aula, de um acervo temático produzido pela turma. A sequência didática10 11A sequência didática Seguindo a proposta de interdisciplinaridade, outra forma de trabalho são as sequências didáticas, que abrem possibilidades de desenvolver atividades articuladas com os variados componentes curriculares. Pessoa (2015, p. 66) complementa que: “O trabalho interdisciplinar pode aproximar o estudante de sua realidade mais ampla, auxiliando na compreensão da complexidade que norteia o objeto de estudo e favorecendo uma formação mais crítica”. O trabalho com sequências didáticas, nesse sentido, permite que o aluno se envolva ativamente na proposta. Por meio de situações de aprendizagem, ele é estimulado a refletir e discutir sobre os conhecimentos obtidos, sistematizando- -os e buscando novos saberes. Pessoa (2015) apresenta uma proposta de sequência didática aplicada pela professora Verônica a uma turma de terceiro ano do ensino fundamental em uma escola domunicípio deRecife, Pernambuco.A proposta da professora foi baseada nos princípios deDolz,Noverraz e Schneuwly (2004) e tinha comoobjetivo inicial que os alunos produzissem cartazes educativos referentes à alimentação saudável. A partir da apresentação da proposta, a professora trabalhou comas característi- cas e os elementos constituintes do gênero textual cartaz educativo, proporcionando aos alunos conhecimentos acerca da temática e do gênero específico.As atividades desenvolvidas com a turma contemplaram discussões sobre temas relacionados à saúde, à construção e à análise de frases de efeito contidas nos cartazes, culminando no planejamento de uma campanha educativa de conscientização. É possível, portanto, afirmar que tanto os projetos didáticos quanto as sequências didáticas são propostas de trabalho que visam à integração entre os componentes curriculares. Além de envolverem as áreas de conhecimento, as sequências e os projetos contribuem para que os alunos participem ativamente da elaboração e da execução. Ao mesmo tempo, os estudantes ampliam seus conhecimentos sobre o objeto estudado e são instigados a resolver problemas, buscar soluções, refletir sobre questões relacionadas ao seu cotidiano e articular práticas escolares a práticas não escolares. CORSINO, P. As crianças de seis anos e as áreas do conhecimento. In: BEAUCHAMP, J.; PAGEL, S. D.; NASCIMENTO, A. R. do (Org.). Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: Ministério da Educação, 2007. DOLZ, J.; NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY, B. et al. 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