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PROJETO AUXILIADO POR COMPUTADOR Mariana Comerlato Jardim Normatização, simbologia e representações Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as principais normas de representação e simbologia no desenho técnico. Relacionar as normas de desenho com a aplicação e configuração no programa de CAD 3D. Praticar o uso das normas em aplicações de modelagem no programa de desenho. Introdução Neste capítulo, você vai conhecer as principais normas de desenho técnico e sua graficação, como elas são aplicadas no desenho digital e como diferem do desenho à mão livre. Além disso, você aprenderá a aplicar essas normas de desenho técnico na representação digital. Normas no desenho técnico Para representar grafi camente os projetos arquitetônicos, os profi ssionais podem usar a técnica à mão livre ou o auxílio de programas computacio- nais, como AutoCAD e Revit. Qualquer que seja a forma de representação escolhida, é preciso utilizar uma metodologia de desenho técnico, buscando uma compreensão universal. Esse método parte das normas desenvolvidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que determinam as simbologias, traçados, letreiros, escalas, cotas e formatação das pranchas. A ABNT é uma instituição brasileira que padroniza normas de produtos e serviços como forma de garantia, além de assegurar a eficiência. As NBRs (Normas Brasileiras) são desenvolvidas por essa associação e recebem uma numeração, que correspondente às exigências para sua aplicação. Quando se trata de arquitetura, a ABNT também tem o papel de servir como referência para profissionais desenvolverem projetos com regras unificadas – enquanto uma norma regula as margens e selos das folhas padrão, outra norma deter- mina que tipo de linha usar em cada situação, e outra ainda determina a área mínima para cada espaço. Estamos falando de representação do desenho técnico. Mas o que vem a ser esse tipo de desenho? Baseado nessas normas técnicas, seu objetivo é representar o objeto ou elemento a ser construído, a partir de linhas, geometrias, números, símbolos e textos. É uma maneira de criar um desenho padronizado, distinto do amador, capaz de comunicar o projeto e ser entendido por outro profissional da área, em qualquer lugar, sem gerar dúvidas (GODOY FILHO, 2015). Assim, vamos falar das normas brasileiras que regulamentam a repre- sentação técnica e que devem ser levadas em consideração ao se produzir um desenho. Uma dessas normas, a NBR 10.647 (ABNT, 1989), regulamenta os tipos de desenho técnico, tanto o projetivo (que utiliza as vistas ortográficas) quanto o não projetivo (como croquis e fluxogramas). Já a NBR 8.196 (ABNT, 1999a) trata do emprego das escalas e suas de- signações em desenhos técnicos. Além de mostrar a forma como deve estar expressa (ESCALA X:Y), a escala a ser escolhida para um desenho depende da complexidade do objeto a ser representado e da finalidade de sua representação. Em todos os casos, a escala selecionada deve ser suficiente para permitir uma interpretação fácil e clara da informação representada. A escala e o tamanho do objeto ou elemento em questão são parâmetros para a escolha do formato da folha de desenho. Por sua vez, a NBR 10.067 (ABNT, 1995) é responsável por definira épura, diedros e vistas resultantes. Como é uma norma brasileira, a recomendação é que o trabalho ocorra no 1º diedro; se fosse nos Estados Unidos, seria no 3º diedro (Figura 1). Além disso, essa norma também determina como usar o menor número de vistas, evitar detalhes repetidos, além de sugerir que as linhas tracejadas desnecessárias, que indicam arestas ocultas, não sejam desenhadas nas vistas, devendo-se optar por outra vista com um maior número de linhas visíveis. Tal norma ainda discorre sobre vistas auxiliares, cortes e secções e ampliações de detalhes. Normatização, simbologia e representações2 Figura 1. Épura com objeto no 1º diedro – esquema de projeção das faces nos planos. Como ilustra a Figura 2, a NBR 8.403 (ABNT, 1984) contribui com infor- mações para todas as representações que envolvem linhas: vistas, perspec- tivas, linhas-guia ou auxiliares, hachuras, entre outras. Além da espessura, existe uma convenção para o tipo de linha (tracejada, traço-ponto, contínua), além dos espaçamentos entre elas para representação da sombra. E além do desenho em si, as linhas também são utilizadas para sinalizar simetria ou para alguma observação em linha de chamada (incluindo as terminações, em setas ou círculos). 3Normatização, simbologia e representações Figura 2. NBR 8.403, onde constam as definições para cada tipo de linha. Fonte: ABNT (1984, p. 2). Normatização, simbologia e representações4 Conforme mostrado na Figura 3, a NBR 10.126 (ABNT, 1987) se refere às cotas que devem estar presentes nos desenhos técnicos, abordando a re- presentação das linhas e do texto: espessuras, tamanhos e posição. Também se refere à necessidade e à importância das cotas, quando elas devem ou não ser usadas, medição de raios e diâmetros, bem como outros moldes não tão utilizados, como as equidistantes e os elementos repetidos. Figura 3. Exemplos de cotagem conforme a norma NBR 10.126 sugere. Além das normas para graficação dos projetos, a representação do desenho técnico também contempla a distribuição do leiaute e a dobra das folhas. Para isso, foram desenvolvidas as normas nº 10.582 (ABNT, 1988) e 13.142 (ABNT, 1999b). A primeira delas fixa as condições exigíveis para a localização e disposição do espaço para desenho, espaço para texto e espaço para legenda, e respectivos conteúdos, nas falhas de desenhos técnicos. A segunda norma apre- senta as formas corretas para dobragem das folhas desenhadas ou impressas. As dobras de papel são normatizadas para que todos os tamanhos de pranchas se reduzam ao formato A4. No link abaixo, aprenda a fazer isso com os formatos mais usados: A3, A2, A1 e A0: https://qrgo.page.link/j8gdf Em relação à simbologia, a NBR 14.699 (ABNT, 2001), chamada “Desenho técnico – Representação de símbolos aplicados a tolerâncias geométricas – Proporções e dimensões”, mostra a relação entre as alturas dos elementos e suas proporções. Isso determina um desenho feito por um leigo e por um profissional (SOUZA et al., 2018). 5Normatização, simbologia e representações As normas técnicas e suas aplicações no desenho computadorizado Grande parte (ou a quase que totalidade) das normas de desenho técnico foi desenvolvida para a representação à mão livre. Quando tentamos construir o desenho da mesma forma, notamos que a sistemática é diferente: não existe mais a defi nição, no ato do desenho da linha, de seu tipo e espessura. É pos- sível realizar toda a representação de mesma forma com uma linha padrão, e ir alterando-as conforme a necessidade. Desse modo, é importante conhecer as normas técnicas previamente, para poder desenvolver o desenho de forma correta (SPECK; PEIXOTO, 2003). Para agilizar a produção de um desenho, uma das premissas do processo computadorizado, é possível criar layers, ou camadas, com características próprias. Assim, após realizar o desenho todo em um layer-padrão, é possível separar o desenho nessas camadas conforme o caráter de cada uma, como mostra a Figura 4. O layer PROJEÇÃO, por exemplo, apresenta as seguintes características: tipo de linha tracejada; espessura de linha 0.05; cor do layer 251; cor de impressão 251. Dessa forma, todas as linhas que estiverem nessa camada apresentarão essas características. Seguindo a Norma 8.403 (ABNT, 1984), todas as linhas que representarem arestas não visíveis, sejam elas ocultas por faces ou que não apareçam em tal representação, devem ser apresentadas como sequências de traços cujo espaço entre si é igual à metade de seu tamanho. Figura 4. Listagem de layers e suas propriedades editáveis. Fonte: Adaptada de software AutoCAD. Normatização, simbologia e representações6 Seformos pensar em um desenho à mão livre, o conhecimento sobre como é feito o tracejado é de suma importância. Já no meio digital, esse tipo de linha está pré-definido – cabe ao projetista saber o momento de utilizá-lo. Em se tratando de símbolos, que representam algum tipo de elemento que pode se repetir por diversos desenhos – como marcação de vistas, níveis em planta baixa ou cortes – é possível criar blocos, ou Block, caso o software esteja em inglês. Esse comando, no AutoCAD 2D, permite que diversos ele- mentos de um desenho (linhas, polilinhas, hachuras) sejam agrupados em um único elemento. Vale lembrar que todas as linhas não estarão unidas, e sim formando uma mesma figura. Ou seja, ao clicar sobre qualquer elemento desse bloco, todo o desenho será selecionado. Assim, é possível desenhar o objeto segundo as normas, e ele poderá ser repetido diversas vezes, conforme a necessidade. Outra característica é que, cada vez que ele for editado, terá suas características alteradas. Em relação ao leiaute do papel, a situação é diferente do desenho à mão. Ao iniciar o desenho a lápis ou caneta, já se deve desenhar na escada desejada. Porém, ao desenhar digitalmente, a escala pode ser alterada em cada janela de impressão, as Viewports. Assim, o desenho é feito em tamanho real no Model (área de desenho), conforme a unidade escolhida (150 cm serão desenhados com media 150), e será editado conforme o fator de escala adicionado a essa viewport no Paper Space (área de impressão, ilustrada na Figura 5). Nesse momento, conforme recomenda a NBR 10.582 (ABNT, 1988), é possível editar o tamanho da prancha, margens e posição do selo. Essa impressão, chamada de plotagem, pode ser digital, como um arquivo extensão. pdf, ou em papel. Caso se opte pela segunda opção, a Norma Brasileira 13.142 (ABNT, 1999b) indica de que forma essa prancha deve ser dobrada, até atingir o tamanho de uma folha A4 (210 × 297 mm), caso seja maior que isso. 7Normatização, simbologia e representações Figura 5. Espaço de impressão, ou Paper Space, onde a escala é adicionada ao desenho. Fonte: Adaptada de software AutoCAD. Quando se trata de um objeto tridimensional modelado diretamente no AutoCAD, as vistas obtidas a partir dele já estão dentro das normas básicas de desenho. Por se tratar de um software internacional, algumas recomenda- ções brasileiras não são seguidas, mas podem ser editadas pelo projetista. É possível optar por mostrar ou não as linhas tracejadas, as que representam as arestas não visíveis, algo que a norma brasileira sempre recomenda que seja representado, por exemplo. Outra situação comum é exportar as vistas ortográficas a partir de um modelo 3D de outro software para o AutoCAD, conforme mostrado na Figura 6. No SketchUp, é possível gerar as vistas planificadas como imagens (.jpg ou .png) ou em linhas em formato .dwg. Assim, as vistas ou perspectivas expor- tadas para o AutoCAD não possuem uma representação dentro das normas da ABNT – é preciso que o desenhista faça sua edição, como mencionamos anteriormente. Normatização, simbologia e representações8 Figura 6. Vistas exportadas do SketchUp, em layer padrão, sem apresentar as linhas não visíveis. Assim, o desenho precisa ser editado no AutoCAD. À direita, o modelo no SketchUp, do qual as vistas e perspectiva foram exportadas. Modelagem 3D e a representação das vistas ortográficas a partir das normas Já vimos que, quando obtemos as vistas ortográfi cas a partir do modelo tridi- mensional no AutoCAD, elas já se encaixam dentro das normas de representa- ção. No software Revit, por sua vez, toda a construção bidimensional deve ser feita com informações sufi cientes para gerar o objeto tridimensional, ou seja, o caminho inverso. Aqui, porém, veremos um processo que exige conhecimentos em dois programas de software e de representação gráfi ca, a fi m de mostrar como as normas são aplicadas no desenho digital (SOARES; COVA, 2007). A primeira etapa do processo é ter o modelo tridimensional executado corretamente, pois é a partir dele que todos os desenhos planificados serão retirados. O SketchUp é um bom software para esse tipo de trabalho, já que possui uma interface simples e várias opções de modelagem, seja por ope- rações booleanas ou a partir de construção plana e extrusão. Aqui podemos falar de um objeto como uma cadeira ou uma edificação, já que esse tipo de representação se encaixa em ambas as situações. Vamos trabalhar com um projeto arquitetônico que apresenta um nú- mero maior de informações. Após a modelagem, para retirar as fachadas, por exemplo, devemos criar um plano de projeção paralelo à face do objeto, como mostrado na Figura 7. Assim, a câmera deve ser alterada, a fim de evitar que a terceira dimensão, a profundidade, seja representada (JARDIM; GIORA, 2018). 9Normatização, simbologia e representações Figura 7. Imagem do modelo 3D em perspectiva e escolha da projeção paralela para exportação da fachada. Fonte: Adaptada de software SketchUp. Dessa forma, podemos exportar uma vista paralela, ou fachada, de cada vez. Ou seja, de um modelo 3D, estamos retirando as informações de forma planificada. Para podermos editar as linhas, resultado dessa exportação, devemos escolher a extensão .dwg, que é reconhecida pelo AutoCAD. O ca- minho para essa exportação é FILE – EXPORT – 2D GRAPHIC. A próxima etapa consiste em abrir essa vista planificada no novo software e editá-la. No desenho técnico, a representação de linhas visíveis tem sua espessura alterada em função da proximidade com o expectador. Assim, as arestas mais grossas estão mais próximas, e as mais finas, mais distantes (como é o caso das construções ao fundo do projeto). Na construção das fachadas, não utilizamos linhas tracejadas para representar linhas ocultas, simplesmente não as desenhamos (Figura 8). Normatização, simbologia e representações10 Figura 8. Fachada exportada em layer-padrão (linhas brancas) e, ao lado, com os layers aplicados (cada cor apresenta uma característica para a linha). Fonte: Adaptada de software AutoCAD. Quando tratamos de cortes ou vistas, as linhas não visíveis devem ser representadas, para melhor compreensão do desenho. Porém, quando saímos do modelo tridimensional, essas linhas não aparecem automaticamente, sendo preciso desenhá-las (Figura 9). Nesse caso, é preciso um cuidado maior e mais conhecimento do assunto para entender quais linhas estão faltando e que característica cada uma deve conter no desenho. 11Normatização, simbologia e representações Figura 9. A planta baixa exportada do SketchUp, à esquerda, sem diferenciação de linhas e sem representar as linhas não visíveis. À direita, ela com as linhas tratadas, com a diferenciação de layers e a adição das linhas de projeção do forro de gesso. Fonte: Adaptada de software AutoCAD. Após essa exportação, o desenho pode receber textos, cotas, símbolos, fator de escala e formatação de prancha, sempre respeitando as normas téc- nicas da ABNT. Se elas forem utilizadas corretamente, os desenhos podem ser compreendidos por todos os profissionais, numa linguagem universal, independente da complexidade do projeto. ABNT. NBR 10067: princípios gerais de representação em desenho técnico. Rio de Janeiro, 1995. ABNT. NBR 10647: desenho técnico – terminologia. Rio de Janeiro, 1989. ABNT. NBR 8196: desenho técnico – emprego de escalas. Rio de Janeiro, 1999a. ABNT. NBR 14699: desenho técnico – representação de símbolos aplicados a tolerâncias geométricas – Proporções e dimensões. Rio de Janeiro, 2001. ABNT. NBR 10582: apresentação de folha para desenho técnico. Rio de Janeiro, 1988. ABNT. NBR 13142: desenho técnico – dobramento de cópia. Rio de Janeiro, 1999b. ABNT. NBR 8403: aplicação de linhas em desenhos – tipos de linhas larguras das linhas. Rio de Janeiro, 1984. Normatização, simbologia e representações12 GODOY FILHO, A. A.; ALONGE, D. B. Desenho e projeto auxiliado por computador. Londrina: Editora e DistribuidoraEducacional, 2015. JARDIM, M. C.; GIORA, T. Desenho geométrico. Porto Alegre: SAGAH, 2018. E-book. SOARES, C. C. P.; COVA, C. C. Convertendo modelos virtuais 3D em desenhos bidimen- sionais. In: GRAPHICA, 2007, Curitiba. Anais [...]. Paraná, 2007. SOUZA, J. P. et al. Desenho técnico arquitetônico. Porto Alegre: SAGAH, 2018. E-book. ABNT. NBR 10126: cotagem em desenho técnico. Rio de Janeiro, 1987. Leitura recomendada AUTOCAD: Conhecimento. Autodesk, [s. l.], [2019]. Disponível em: https://knowledge. autodesk.com/pt-br/support/autocad?sort=score. Acesso em: 13 mai. 2019. 13Normatização, simbologia e representações