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Abate - bovinos - Resumo_apostila Vasco

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RESUMO DE APOSTILA ELABORADA PELO Dr. VASCO PICCHI, CONSULTOR DE 
EMPRESAS FRIGORÍFICAS 
 
PRINCÍPOS DE OPERAÇÃO DE ABATEDOUROS DE BOVINOS 
 
Pré abate 
“...carregamento e a transferência dos animais do local de criação ou de engorda 
ao abatedouro, a permanência nos currais até o momento que precede ao 
atordoamento e a sangria...” 
Os cuidados nessa fase têm motivação de ordem econômica, mas também 
humanitária. 
 
Modalidades de transporte dos bovinos 
Rodoviário 
Ferroviário 
Outros meios 
No transporte, é importante evitar violência, gritos, a utilização de instrumentos 
perfurantes ou qualquer ação que provoque desconforto, escoriações ou o 
agravamento do quadro de excitação/estresse. 
A excitação e o desgaste físico provocam a redução das reservas de glicogênio e, 
como conseqüência, no pós-abate, a instalação de um estado de rigidez 
cadavérica atípico. 
 
Transporte rodoviário 
O transporte rodoviário foi o que melhor se adaptou entre nós, apesar de todos os 
inconvenientes do ponto de vista de conforto para os animais e elevado custo por 
quilômetro rodado. Ele é realizado pelos “caminhões boiadeiros", também 
chamados de "gaiolas", com carroceria medindo cerca de 10,60 metros de 
comprimento por 2,40 metros de largura. Os caminhões transportam 18 bois, mas 
há alguns maiores, para 20-22 bois. 
 
Transporte ferroviário 
O transporte ferroviário para a condução de bovinos está praticamente em desuso, 
em virtude da preferência quase que absoluta pelo transporte rodoviário. 
 
Outros meios de transporte 
Apenas para efeito de ilustração podem ser citados ainda os deslocamentos em 
"marcha", onde os animais são levados em caminhadas curtas, e o transporte em 
barcaças ou navios (muito utilizados hoje pelos australianos, que exportam gado 
vivo para engorda e/ou abate em países asiáticos), ou ainda, em aviões. Esses 
últimos são utilizados para transportar reprodutores de alto valor comercial, 
principalmente nas importações. 
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A condução a pé, embora pouco freqüente, ainda é utilizada nas regiões onde a 
infra-estrutura viária é precária, ou quando a distância a ser percorrida for 
pequena, como no caso dos confinamentos localizados próximos às unidades de 
abate. 
Em determinadas regiões do país, favorecidas por grande número de rios, o 
transporte por via fluvial, provavelmente o mais econômico e eficiente, chegou a 
ser bastante utilizado no país. 
 
Cuidados antes do abate 
Os documentos oficiais que acompanham cada caminhão, como a Guia de 
Transito de Animais (GTA), que contém os elementos de vacinação, devem ser 
encaminhados ao Serviço de Inspeção Federal do estabelecimento. 
A inspeção ante mortem tem por finalidade separar da matança regular os bovinos 
com suspeita de doenças infecto-contagiosas, cujo diagnóstico será mais difícil ou 
praticamente impossível, na inspeção post mortem. 
É vetado o uso de instrumentos perfurantes que possam danificar a pele ou 
provocar lesões mais profundas. Sempre que possível, deve ser evitado também 
qualquer tipo de coação, inclusive o uso de bastões eletrificados. 
 
Permanência nos currais e seus anexos 
Repouso durante 24 horas, apenas em jejum e dieta hídrica, antes de serem 
conduzidos ao abate; em hipótese alguma esse repouso poderá ser inferior a seis 
horas (art. 110 do RIISPOA). 
Descanso regulamentar tem por objetivos diminuir o conteúdo gastrintestinal para 
facilitar a evisceração e, simultaneamente, tentar restabelecer as reservas de 
glicogênio na musculatura dos bovinos, reduzidas diante das condições 
estressantes a que são expostos os animais antes do abate. 
 
Currais de chegada e seleção 
Os currais de chegada e seleção são aqueles onde os bovinos recebidos serão 
colocados, separados conforme seus proprietários, procedência e sexo, ali 
permanecendo até o momento da inspeção ante mortem. 
Durante essa inspeção preliminar são separados dos lotes as fêmeas em estado 
avançado de gestação e os suspeitos de serem portadores de doenças infecto-
contagiosas, ou de lesões graves. As fêmeas recém-paridas somente poderão ser 
abatidas no mínimo 10 dias após o parto. 
As cercas laterais de cada curral devem ter no mínimo 2 m de altura, sem arestas 
ou cantos vivos que possam causar danos na pele dos animais. Para impedir que 
a água de limpeza passe de um curral para o outro e leve consigo fezes e urina, 
sob as divisórias é construída uma mureta de alvenaria com no mínimo 0,30 m de 
altura, com cantos arredondados, separando os currais vizinhos. 
Os bebedouros devem ter as bordas arredondadas, altura apropriada e dimensão 
suficiente para atender ao mesmo tempo, no mínimo a 20% da lotação de cada 
curral. 
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Lavador de caminhões nas proximidades do desembarcadouro, para a limpeza e 
desinfecção dos veículos que transportam o gado, com rede de esgoto 
independente dos efluentes da indústria. 
Curral de observação 
O curral de observação destina-se ao isolamento dos animais que durante a 
inspeção ante mortem revelaram sintomas que os tornaram suspeitos de serem 
portadores de doenças infecto-contagiosas, e por isso devem ser mantidos em 
isolamento até que seja possível o estabelecimento de um diagnóstico provável. 
Deve ter inscrições com os dizeres "CURRAL DE OBSERVAÇÃO - PRIVATIVO 
DA INSPEÇÃO FEDERAL". 
A área determinada para esse tipo de curral é correspondente a no mínimo 5% 
daquela dos currais de matança. 
 
Matadouro Sanitário 
Os abatedouros bem equipados, como devem ser aqueles habilitados para o 
comércio internacional, possuem entre suas edificações um matadouro sanitário. 
Nessa instalação são abatidos todos os animais apresentando febre, que não 
estejam aptos para a matança normal, ou seja, aqueles acometidos de contusões 
graves como fraturas, luxações, ou ainda, alvos de suspeita de portarem doença 
infecto-contagiosa, constatada no desembarque, durante a permanência nos 
currais, ou por ocasião da inspeção ante mortem. 
 
Departamento de Necropsia 
O Departamento de Necropsia, bem como o Matadouro Sanitário, deve estar 
localizado próximo ao Curral de Observação, possibilitando também, uma fácil 
comunicação com o desembarcadouro. Esse departamento é constituído pela 
Sala de Necropsia e pelo Forno Crematório. 
 
Sala de Necropsia 
A Sala de Necropsia destina-se ao diagnóstico provável da causa mortis dos 
animais que chegam mortos ao abatedouro, ou que porventura venham a morrer, 
já nas dependências do estabelecimento, por razões desconhecidas. 
 
Forno Crematório 
O forno crematório, geralmente construído em alvenaria refratária, possui apenas 
uma porta por onde penetra o corpo do bovino a ser destruído e o fundo em forma 
de grelha. O material combustível pode ser a lenha ou qualquer produto químico, 
desde que a destruição da matéria orgânica seja completa. 
 
Currais de matança 
Após a inspeção ante mortem, todos os animais considerados aptos para o abate 
regular serão transferidos para os currais de matança, onde deverão permanecer 
em jejum, apenas com dieta hídrica, até que se completem as 24 horas de 
repouso previstas no Regulamento (RIISPOA). 
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Os bovinos devem ser submetidos à nova inspeção, meia hora antes da liberação 
para abate. 
 
Condução dos animais dos currais até a sala de abat e 
Depois do período de descanso nos currais, os bovinos são encaminhados pela 
rampa de acesso até o boxe de atordoamento, localizado na entrada da sala de 
matança, de maneira suave e a mais natural possível, após passarem pelo banho 
de aspersão (água hiperclorada na concentração entre 10 e 15 ppm de cloro ativo 
e pressão mínima de três atmosferas). 
O banho de aspersão é obrigatório e tem a finalidade de retirar grande parte da 
matéria orgânica acumulada na pele dos animais. 
Proporciona esfola com menor risco de contaminação das carcaças e da sala de 
abate. O banho é apontado, também, como um procedimento capaz de melhorar a 
sangria e facilitar a esfola. 
O percurso seguido pelo animal, desde o início da rampa de acesso até o boxe de 
atordoamento, representa literalmenteo último estágio do pré abate. 
 
A tecnologia do abate 
O abate pode ser considerado como a forma pela qual são obtidas as porções 
comestíveis das carcaças, que estão localizadas entre duas regiões altamente 
contaminadas por microrganismos. Essas duas regiões são a camada externa da 
pele e a face interna do trato gastrintestinal e seu conteúdo (GRAU, 1986). 
 
Operações executadas na sala de abate 
As salas de abate, particularmente nos estabelecimentos de construção mais 
recentes, são separadas fisicamente em dois setores: "área suja” e “área limpa". 
Na “área suja” estão posicionados: o boxe de atordoamento, a praia de vomito, a 
calha de sangria e as plataformas que, em diferentes níveis de altura, facilitam a 
retirada da pele, também conhecida como área de esfola. Na segunda parte, a 
“área limpa”, é feita a remoção da cabeça, a evisceração, a divisão longitudinal 
das carcaças em metades simétricas, a inspeção, a remoção de rins, sebo e 
medula espinhal, a pesagem e, ainda no mesmo recinto, a lavagem das meias 
carcaças. 
 
Métodos empregados na matança 
Para a obtenção de carnes com padrão de qualidade, seja qual for o método de 
inconscientização utilizado, é necessário observar determinadas condições 
essenciais como: não excitar os animais em demasia, não causar sofrimento 
desnecessário e executar a sangria da forma mais completa possível. 
 
Sistemas utilizados para o sacrifício de bovinos 
Concussão cerebral (lesão encefálica) 
Enervação (seção medular no espaço occipto-atlantoideano) 
Jugulação cruenta (degola) 
 
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Concussão cerebral 
A concussão cerebral é o método de atordoamento mais utilizado em nosso país. 
Consiste na compressão das meninges, em conseqüência dos golpes aplicados 
sobre o encéfalo, ocasionando um estado de torpor e incoordenação motora, que 
impede a estabilidade do animal e sua permanência em pé. Sabe-se que a prática 
desse sistema torna o bovino inconsciente apenas temporariamente. 
Para esse método de atordoamento, são utilizadas marretas pneumáticas ou de 
cápsulas explosivas, onde a concussão é provocada pela liberação de um êmbolo 
com força de impacto de 10 a 12 Kgf/cm2 ou de um dispositivo penetrante, 
mencionado como dardo cativo, ainda que os objetivos sejam os mesmos. A 
diferença marcante, observada entre os equipamentos, é a característica 
perfurante do dardo cativo, que ao ser introduzido na calota craniana entre os 
hemisférios cerebrais, em velocidade aproximada de 300 m/s e força de 50 
Kgf/cm2, além de romper as meninges pelo efeito dilacerante do dardo, provoca 
um aumento da pressão interna, com o inconveniente de levar até o cérebro 
esquírolas ósseas e fragmentos de pele. 
 
Enervação 
O processo de insensibilização compreendido como enervação, embora não seja 
mais permitido no abate de bovinos, esporadicamente tem sido utilizado, para 
atordoar bubalinos. 
Utiliza-se um dispositivo perfurante com o formato de lança, conhecido 
popularmente como “choupa”, na altura do espaço situado entre a primeira 
vértebra cervical (atlas) e os côndilos occipitais, desfazendo a comunicação entre 
o encéfalo e a medula espinal. 
 
Jugulação cruenta 
Em sociedades seculares, particularmente nos paises desenvolvidos, há uma 
demanda por processos denominados “humanitários” de abate. Dentre os 
diferentes métodos existentes para o abate de bovinos, a jugulação cruenta ou 
degola, como é referida, é o sistema utilizado em obediência aos rituais judaico e 
muçulmano. Estes rituais adotam o procedimento de secção dos grandes vasos 
do pescoço (carótidas e jugulares), além dos nervos vago, sem insensibilização 
prévia, como ocorre especificamente no abate judaico, também conhecido como 
“shehita” ou abate “kasher”. 
Em hebraico “kasher” significa “preparado adequadamente” e, quando o termo é 
aplicado para carnes, demonstra que o produto satisfaz as exigências da lei de 
Moisés, contida no Pentateuco e amplamente divulgada no “Talmud”(lei oral, 
transmitida de geração em geração e compilada na Babilônia 500 d.C). 
De construção robusta, o boxe de atordoamento é fabricado com fundo falso e 
duas comportas, sendo a primeira por onde entram os bovinos, e a segunda, que 
é lateral, para a saída, depois que estiverem inconscientes. 
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Depois de atordoados, a abertura do alçapão faz com que o bovino deslize sobre 
a grade tubular da praia de vômito, articulada com o boxe de atordoamento em 
toda a sua extensão e inclinada o suficiente para evitar a queda brusca. 
Para o abate ritualístico “kosher” ou “halal”, os membros posteriores ficam em 
condição para que uma das patas seja enlaçada pela corrente da carretilha de 
sangria, suspendendo-o até a trilhagem aérea que, por ação da gravidade, em 
seguida o conduzirá até a nória mecanizada. 
 
Sangria 
A morte dos animais de abate ocorre em conseqüência da sangria e não dos 
métodos de insensibilização anteriormente descritos, com exceção da degola, que 
procura associar a insensibilização com a sangria. Nos países africanos que 
professam a religião muçulmana, também é costume degolar os bovinos, porém, 
somente após o atordoamento. 
Durante a sangria todo bovino sadio e descansado chega a eliminar cerca da 
metade do volume total do seu sangue, permanecendo o restante principalmente 
alojado nos órgãos internos. 
No abate normal de bovinos, a sangria deve ser feita com faca reta, medindo em 
torno de 6 a 7 polegadas, iniciando pela abertura sagital da barbela, divulsão e 
secção dos grandes vasos do pescoço, atingindo a aorta. O corte deve ser feito de 
maneira que a traquéia e o esôfago não sejam atingidos. Convém ressaltar ainda, 
que a abertura da barbela e a divulsão e seção dos vasos, devem ser feitas com 
facas diferentes, pois o tempo que decorre entre as duas operações não permite 
que a mesma faca seja suficientemente higienizada. 
A lâmina deve ser mergulhada no esterilizador, onde a água será obrigatoriamente 
mantida com a temperatura acima de 85ºC. É desnecessário enfatizar a 
importância de esterilizar a faca para cada animal sangrado. 
A altura mínima da trilhagem aérea nesse setor, em atendimento às normas 
técnicas, deve ser de 5,25 metros, indispensável para que o animal dependurado 
pelo pé não resvale sua outra extremidade no piso. 
 
Estimulação elétrica 
A técnica da estimulação elétrica de carcaças consiste na passagem de corrente 
elétrica pelo corpo do bovino, logo depois da sangria, com o intuito de melhorar a 
qualidade da carne 
O processo de estimulação da carcaça é utilizado para acelerar a glicólise e 
agilizar a transformação do glicogênio muscular em ácido láctico, fazendo com 
que o pH do músculo, que logo após o abate está situado em torno de 7.0, seja 
reduzido o mais próximo possível de 6.0, 
Essa condição é suficiente para evitar o encurtamento das fibras musculares pelo 
frio e o provável endurecimento da carne. 
A melhora na maciez da carne eletricamente estimulada tem sido atribuída pelo 
menos a três fatores: (1) prevenção contra o encurtamento das fibras musculares 
através da aceleração da glicólise e instalação do rigor mortis antes da 
temperatura alcançar a da faixa de encurtamento pelo frio, (2) ativação das 
proteases ácidas (lisossomal) pela acidificação em altas temperaturas, (3) ruptura 
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física nas estruturas das fibras através de contrações musculares, principalmente 
nas aplicações de alta voltagem. 
 
Procedimentos de esfola 
O processo de esfola consiste na remoção total da pele separando-a do tecido 
subcutâneo, tendo início logo depois do corte dos chifres. Em seguida à ablação 
dos chifres, é feita a abertura total da barbela e o corte das orelhas, como 
preparação para a esfola do pescoço e cabeça. 
A esfola é iniciada pelos membros posteriores, desarticulando primeiramente uma 
das patas traseiras, direita ou esquerda, e liberando a pele na região da virilha, do 
mesmo quarto. 
Quando estiver totalmente separada da pele, a carcaça deixa a “área suja”, e tem 
início a preparação para a evisceração. Faz parte dessapreparação a liberação 
do esôfago e, no gado zebu, o corte do cupim, de modo que, após a evisceração e 
a divisão em meias carcaças ele permaneça integrando apenas uma das metades 
para efeito de pesagem. 
 
Preparação para evisceração 
A divulsão e atadura do esôfago, não tem posição definida para serem postas em 
prática ao longo da linha de processamento, desde que sejam feitas antes do 
destaque da cabeça. Para isso é utilizado o "saca-rolhas", que consiste de haste 
de aço inoxidável com cerca de 90 centímetros de comprimento, cuja extremidade 
tem a forma de espiral. 
 
Evisceração 
As vísceras abdominais são as primeiras a serem removidas dos bovinos, após a 
abertura das cavidades pélvica, abdominal e torácica, a retirada do útero e a 
divulsão final do reto. Com o reto liberado essa incisão permitirá retirar as vísceras 
pélvicas e abdominais, com exceção dos rins. Juntos são retirados os intestinos 
com a bexiga e os estômagos com o esôfago, todos deslizando sobre a bandeja 
maior, da mesa de evisceração. Em seguida são retiradas as vísceras torácicas: 
coração, pulmões e traquéia. 
 
Divisão do corpo do bovino em meias carcaças 
O corpo do animal já eviscerado, mas ainda acompanhado dos rins e rabo, é 
dividido no sentido longitudinal e ao longo da coluna vertebral, por intermédio de 
serra de fita. 
A separação é feita a partir da extremidade do osso da pélvis, de onde foi 
parcialmente deslocado o conjunto das vértebras coccígeas, que constituem a 
rabada, até a primeira vértebra cervical. O fato da lâmina das serras de carcaças 
manterem contato direto com a medula espinhal, portanto com um tecido 
vulnerável às patologias do sistema nervoso, torna obrigatória sua higienização 
sistemática e cuidadosa, em esterilizador próprio, com água circulante mantida 
pelo menos a 85ºC, depois de cada carcaça serrada. 
 
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Preparo final da carcaça ou toalete 
A preparação consiste na retirada: a) dos rins, secionando os ureteres e vasos na 
altura dos bacinetes; b) da rabada na primeira, ou segunda, articulação 
intercoccígea; c) da gordura perirrenal, pélvica e inguinal; d) do diafragma e seus 
pilares; e) dos músculos da região da sangria, ligamento nucal e medula espinhal. 
Assim, por definição, a carcaça bovina comercial compreende o corpo do animal 
abatido e eviscerado, do qual foram removidas as seguintes partes: as patas 
traseiras – abaixo da articulação do tarso ou curvilhão; as patas dianteiras – 
abaixo da articulação do carpo ou joelho zootécnico; a pele completamente 
removida; cabeça – separada na articulação atlantooccipital; cauda ou rabada – 
separada na primeira ou segunda vértebra intercoccígea; órgãos genitais – nos 
machos e nas fêmeas; gordura perirrenal e pélvica (sebo de rim) e inguinal 
(capadura) e glândula mamária nas fêmeas; rins; ligamento da nuca; diafragma – 
cortado rente ao gradil torácico e sangria – parte dos músculos do pescoço feridos 
durante a sangria (PICCHI et al., 1979). 
 
Lavagem das meias carcaças 
As meias carcaças devem ser lavadas de forma contínua, de preferência em 
túneis especiais, onde os jatos de água são lançados de forma descendente, 
lavando as carcaças de cima para baixo. A água deve ser potável e o nível de 
cloro ativo situado entre 0,8 e 1,0 ppm; a temperatura mantida próxima de 45ºC e 
a pressão mínima de três atmosferas, com o propósito principal de eliminar com 
maior facilidade os resíduos ósseos acumulados durante a serragem, os pelos que 
eventualmente possam estar aderidos sobre a superfície da carcaça e os coágulos 
de sangue. 
 
Conservação das carcaças bovinas pelo frio 
O tecido muscular dos animais recém abatidos, que se transformará em carne, é 
um dos alimentos mais perecíveis e, portanto, necessita de mecanismos de 
conservação logo depois do sacrifício. Por esse motivo, a refrigeração tem sido 
considerado o método mais prático e eficiente para extrair o calor sensível das 
carcaças, mantendo a carne com aparência aproximada da natural. Porém, essas 
características serão mantidas apenas durante um período relativamente curto. 
Com a redução artificial da temperatura da carne, o que se pretende é evitar ou 
pelo menos retardar as alterações organolépticas que a desqualificam como 
alimento. Essas alterações podem ocorrem por diversas razões, entre elas as de 
ordem microbiológica, física ou química, ainda que para manter as condições de 
carne fresca seja necessário coibir todo tipo de anomalia e acima de tudo, evitar o 
crescimento microbiano. 
A conservação da carne pelo frio é iniciada com o resfriamento das meias 
carcaças o mais rápido possível depois do abate, e mantida durante todas as 
fases subseqüentes, até que seja transformada em alimento. O propósito de 
utilizar baixas temperaturas é proteger o produto, retardando a atividade dos 
microrganismos introduzidos durante a matança e das reações enzimáticas e 
químicas que modificam suas características organolépticas. A velocidade com 
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que ocorrem as alterações, está intimamente relacionada com as variações de 
temperatura. 
Ao deixar a sala de matança, a carcaça geralmente apresenta a temperatura 
interna entre 32 e 39ºC. Mesmo a temperatura na superfície da carcaça estando 
equilibrada com a do ambiente, ao ser colocada nas câmaras de resfriamento, a 
interna geralmente se mantém poucos graus abaixo da temperatura corporal 
normal. Por esse motivo, o processo de refrigeração deve ser iniciado com maior 
brevidade possível, evitando a permanência das carcaças fora da câmara, além 
do tempo estritamente necessário. 
Durante o resfriamento nas câmaras convencionais, pode se observar que as 
carcaças bovinas pesando entre 255 e 270 quilos, necessitam mais de 24 horas 
para atingir a temperatura regulamentar de 7ºC e pH entre 5,4 e 5,6. Em outras 
modalidades de resfriamento, no entanto, em que as câmaras são equipadas com 
baterias de evaporadores com maior capacidade para promover a troca térmica, o 
tempo de refrigeração pode ser abreviado além de 30%. 
 
Processo de resfriamento das carcaças bovinas 
A escolha de sistemas mais convenientes para o resfriamento de carcaças é uma 
questão financeira na qual o investimento em instalações e os custos com a 
manutenção devem manter uma relação de equilíbrio 
O abatedouro deve dispor de câmaras em quantidade para armazenar durante 24 
horas a totalidade da matança diária. No processo de resfriamento convencional, 
cada câmara deve ter capacidade suficiente para alojar o número de carcaças 
abatidas durante uma hora ou pouco mais. Desse modo, se a indústria for 
projetada para abater 100 bovinos por hora, é indicada a construção de câmaras 
de resfriamento para meias carcaças com capacidade individual entre 100 e 130 
carcaças. 
 
Resfriamento convencional das meias carcaças bovina s 
Sendo o sistema prevalente em todo o território nacional, salvo raras exceções, o 
resfriamento convencional tem por princípio conservar as carcaças de bovino, 
retardando o desenvolvimento de microrganismos aeróbios em sua superfície, 
causadores de alterações, bem como de anaeróbios que provocam a fermentação 
interna do coxão (bone taint) e dos nódulos linfáticos mais profundos. 
Para prevenir a fermentação do líquido sinovial, encapsulado no interior da 
articulação coxofemoral, nos bovinos é considerado satisfatório atingir uma 
temperatura de 15ºC na parte interna da massa muscular do traseiro em 24 horas. 
Essa condição é considerada suficiente para inibir o crescimento de bactérias 
anaeróbias, como Clostridium perfringens, geralmente encontradas nesse tipo de 
deterioração. 
A temperatura do ambiente, nas câmaras de resfriamento convencionais de 
carcaças, deve ser mantida com o termostato regulado em 2ºC, a velocidade do ar 
constante, entre 2 e 3 m/s, e a umidade relativa entre 88 e 92%. 
A ocupação de três meias carcaças bovinas por metro linear de trilho, significando 
que o eixo das roldanas das carretilhas, que dão sustentação às carcaças, 
guardam entre eles uma distância de 50 centímetros.10
A altura da barra de deslizamento das carretilhas na trilhagem é de 3,50 m, a 
distância regulamentar entre as barras paralelas deve ser no mínimo de 0,80 m e 
das paredes, um metro. 
A altura do teto deve ser prevista para que o ar circule livremente sobre a 
trilhagem que dá sustentação às carcaças. Essa altura depende do tamanho dos 
evaporadores projetados, mas normalmente o pé direito da câmara é superior à 
5,30 metros. 
 
Campinas, abril de 2004. 
Professor Pedro E. de Felício

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