Buscar

Prévia do material em texto

contemporâneo, que implica no interesse pela análise de tensões sociais urbanas, em 
especial, pela critica à classe burguesa e suas ações voltadas ao capital, assim como a 
corrupção de outras instituições sociais, como o clero e a classe governante.
Em Portugal, como estudado, coube à Geração de 70 a partir das "Conferências 
democráticas do Casino Lisbonense" enunciar as novas ideias e, posteriormente, 
concretizadas na produção dos escritores e poetas defensores do Realismo. Não foi por 
acaso que Eça de Queirós, autor da quarta conferência, citada no início desse tópico, 
introduziu a prosa realista em terras lusas. Infelizmente o texto original completo da 
conferência de Eça de Queirós pronunciada em 12 de junho de 1871 não foi publicado, 
foram preservados somente artigos e comentários publicados em diferentes jornais na 
época e depois elaborada uma reconstituição por Antônio Salgado Júnior - História das 
Conferências do Casino, publicada em 1930. Desta, destacamos o seguinte trecho a 
respeito do Realismo:
É a negação da arte pela arte; é a proscrição do 
convencional, do enfático e do piegas. É a abolição da retórica 
considerada arte de promover a emoção, usando da inchação 
do período, da epilepsia da palavra, da congestão dos tropos. É 
a análise com o fito na verdade absoluta. Por outro lado, o 
realismo é uma reação contra o romantismo: o romantismo era 
a apoteose do sentimento; o realismo é a anatomia do caráter, é 
a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios 
olhos – para condenar o que houver de mau na nossa 
sociedade.
(QUEIRÓS, 2019a)
Mais adiante, o romancista acrescenta a importância da observação da realidade 
para o trabalho do escritor: "A norma agora são as narrativas a frio, deslizando como as 
imagens na superfície de um espelho, sem intromissão do narrador. O romance tem de 
nos transmitir a natureza em quadros exatíssimos, flagrantes, reais." (QUEIRÓS, 2019).
LEITURA COMPLEMENTAR
Eça de Queirós discordava da maneira romântica de representar a realidade, 
considerando-a enganosa e exagerada. Em 1879, em um texto utilizado 
parcialmente para o prefácio da segunda edição de O Crime do Padre Amaro e, 
posteriormente, integrado ao volume póstumo de Cartas Inéditas de Fradique 
Mendes, sob o título “Crítica e Polêmica. Idealismo e Realismo”, o escritor elaborou 
uma detalhada explanação acerca do Realismo e do Naturalismo. Interessante notar 
que o autor já discutia, naquela época, as diferenças entre Brasil e Portugal sobre as 
características do estilo: enquanto Realismo e Naturalismo são usados quase como 
sinônimos em Portugal, no Brasil, são diferentes. 
136

Mais conteúdos dessa disciplina