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Financiamento da Saúde e a Seguridade Social no SUS Gestão do Financiamento na Saúde Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria JULIANA APARECIDA PEREIRA MEDEIROS AUTORIA Juliana Aparecida Pereira Medeiros Olá! Sou graduada em Serviço Social (ULBRA) e especialista em Qualidade de Saúde e Segurança do Paciente (ENSP/FIOCRUZ). Possuo experiência técnico-profissional em serviço social hospitalar, hotelaria hospitalar e segurança do paciente. Estou aqui para contribuir no desenvolvimento da cultura, da qualidade, e da segurança em saúde, auxiliando profissionais e organizações a melhorarem continuamente. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens, a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO O Financiamento Público da Saúde no Brasil ................................. 10 Sobre o Financiamento da Saúde Brasileira ................................................................ 11 Da Seguridade Social ao Sistema Único de Saúde ...................... 17 Princípios Jurídico-Legais da Seguridade Social no Brasil ............................... 18 Financiamento da Saúde Brasileira e o Desafio da Desigualdade ................................................................................................ 21 Condicionantes Sociais de Saúde-Doença ..................................................................24 Cenário Nacional da Saúde Pública ...............................................................................26 O Impacto dos Modelos de Assistência no Financiamento do SUS ....................................................................................................................28 Modelos de Assistência à Saúde .........................................................................................28 Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) ............................................................. 30 Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP) .............................................. 31 Desafios para a Construção de um Modelo Assistencial na Atenção Básica .......................................................................................................................................................33 Construção de um “Novo Modelo” .....................................................................................35 Formação Profissional e a Cultura Popular ................................................................. 38 A Gestão e os Modelos de Assistência ........................................................................... 41 7 UNIDADE 03 Gestão do Financiamento na Saúde 8 INTRODUÇÃO Sabe-se que, historicamente, o sistema público de saúde do Brasil é marcado pela carência de recursos, tidos sempre como insuficientes para suprir a demanda crescente da população. A gestão pública brasileira, em todos os seus setores, carrega consigo a marca da precariedade administrativa e da corrupção, o que acaba por impedir que se cumpra a legislação e se concretize as políticas de saúde. Veremos como a aplicação dos princípios da gestão, buscando a profissionalização administrativa no setor público, será capaz de mudar o paradigma vigente de uma saúde deficitária e ineficiente. Analisaremos o atual cenário da gestão em qualidade de vida no Brasil e como essa questão de gerenciamento e financiamento afetam a realização das políticas de saúde públicas levando o Estado ao descumprimento de seu próprio ordenamento jurídico com impactos negativos e severos na saúde e qualidade de vida de seu povo. Convidamos você a adentrar no universo da saúde brasileira, entendendo seus fundamentos e suas políticas, identificando desafios e contribuindo para a evolução de um sistema considerado padrão, altamente dinâmico, em contínua construção. Entendeu? Bons estudos! Gestão do Financiamento na Saúde 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3 – Financiamento da saúde e a seguridade social no SUS. Até o término desta etapa de estudos, nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais: 1. Compreender a dinâmica do financiamento da saúde pública no Brasil. 2. Avaliar o histórico da seguridade social ao SUS. 3. Discernir sobre o financiamento da saúde no Brasil, frente o desafio da desigualdade social. 4. Avaliar o grande impacto dos modelos de assistência à saúde na operacionalização e financiamento da saúde pública. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Gestão do Financiamento na Saúde 10 O Financiamento Público da Saúde no Brasil OBJETIVO: Ao finalizarmos este capítulo, você irá compreender como se procede legalmente o financiamento da Saúde Púbica no Brasil e quais os desafios para a efetivação do direito constitucional frente à desigualdade social, os modelos de assistência praticados e a necessidade da qualificação da gestão. Animado para desenvolver esta competência? Então vamos em frente! Desde a Constituição Federal de 1988, o sistema de saúde brasileiro passou por várias formas de financiamento para as ações de saúde pública. Todavia, até o momento, ainda persistem dificuldades para se atingir a quantia necessária de recursos considerada suficiente para assegurar o direito constitucional à saúde. IMPORTANTE: De 1988 até o exato momento, o SUS conviveu com perda de recursos e graves crises. É inegável o que a redução de recursos destinados à saúde acarreta na perda de qualidade dos serviços, bem como na redução da cobertura e da oferta de atividades básicas (BRASIL, 2013). Gestão do Financiamento na Saúde 11 O Ministério da Saúde propõe a utilização de dois eixos da Economia de Saúde para a gestão eficiente dos limitados recursos destinados ao SUS (BRASIL, 2013): • Eixo 1 - ampliação do uso de estratégias da economia da Saúde para apoiar a gestão do SUS, pela produção e disseminação do conhecimento sobre temas relacionados ao financiamento e escolhas em saúde. • Eixo 2 - ampliação do uso de ferramentas de economia da Saúde pelos gestores do SUS subsidiando o processo de tomada de decisão na avaliação, formulação e operacionalização das políticas de saúde pública. Sobre o Financiamento da Saúde Brasileira Alguns fatores são fundamentais para caracterizar o subfinanciamento do SUS (BRASIL, 2013): • Mudança do perfil demográfico com o aumento da expectativa de vida levando ao envelhecimento da população e aumento da prevalência das doenças crônicas não transmissíveis (DCTN). • Diminuição das taxas de natalidade. • Incorporação de novas tecnologiase medicamentos. • Aumento do custo associado à violência e mortes por causas externas. IMPORTANTE: Outra questão importante é que custos e demanda são crescentes despertando a necessidade de análise crítica sobre a situação do financiamento. Gestão do Financiamento na Saúde 12 Se por um lado a Constituição Federal de 1988 trouxe avanços na garantia do acesso aos serviços públicos de saúde, por outro, trouxe o desafio do financiamento. REFLITA: O grande desafio da gestão para subsistência do SUS é extrair mais efetividade das ações de saúde com o mesmo recurso alocado. Pela Constituição Federal de 1988, a participação da esfera federal no financiamento do SUS seria proveniente de recursos do orçamento da seguridade social, origem dos recursos para saúde, previdência e assistência social. (BRASIL, 2013) NOTA: Essa regra de financiamento até alteração por lei complementar posterior direcionaria 30% desse orçamento para a saúde. Na prática tal repasse nunca aconteceu. (BRASIL, 2013)Essa situação promoveu a elaboração de vários projetos de Emenda à Constituição por parte do Poder Legislativo nacional durante a década de 1990 visando alterar as regras de aplicação de recursos da União na saúde. NOTA: A iniciativa buscava a resolução da situação financeira do setor, até que, em 1997, foi instituída a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Gestão do Financiamento na Saúde 13 A arrecadação da CPMF deveria ser adicionada a recursos da saúde, porém, até à sua extinção no ano de 2007, a contribuição não aumentou os recursos porque, à medida que o dinheiro entrava, reduzia- se a participação de outras contribuições sociais no financiamento federal. Desse modo, os volumes de recursos destinados à saúde ficavam sempre, no mínimo, estabelecidos pela Emenda Constitucional nº 29/2000 (BRASIL, 2013; 2000). IMPORTANTE: Relembrando que é a Emenda Constitucional nº 29/2000 que define os percentuais mínimos de aplicação dos entes federados nos serviços públicos de saúde. Podemos dizer que a Emenda Constitucional nº29/2000 representou grande avanço para reduzir a instabilidade do financiamento do SUS, gerado a partir da constituição de 1988 com o não cumprimento dos 30% do orçamento da seguridade social. Vitória coletiva também, no que tange à vinculação orçamentária como ferramenta de redução dessa estabilidade. Figura 1 – O financiamento da saúde é realizado de forma conjunta entre União, Estados e munícipios. Fonte: Pixabay Gestão do Financiamento na Saúde 14 A Resolução nº 322/2003 do Conselho Nacional de Saúde vem para definir o que são “gastos em saúde” com a finalidade de apuração do valor mínimo a ser aplicado, orientando as referências a serem adotadas em prol de determinação de aplicação mínima com a saúde, anualmente, com destino à União, aos estados e aos municípios. (BRASIL, 2013)A Lei complementar nº 141/2012 regulamenta o artigo 198 da Constituição Federal dispondo sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela União, estado e municípios nas ações e serviços de saúde. (BRASIL, 2012)A Lei Complementar nº 141/2012 estabelece critérios de rateio dos recursos de transferência para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas nas três esferas de governo. (BRASIL, 2012) IMPORTANTE: A Lei Complementar nº 141/2012 define que os estados devem aplicar anualmente em ações e serviços públicos de saúde, o mínimo de 12% da arrecadação dos impostos. Os municípios, por sua vez, aplicarão anualmente em ações e serviços públicos de saúde o mínimo de 15% da arrecadação. A União deve aplicar montante que corresponda ao valor empenhado no exercício financeiro anterior, acrescido do percentual relativo à variação do produto interno bruto de antecedentes ao da lei orçamentária anual. (BRASIL, 2012) NOTA: A população brasileira, reunida em instituições e organizações civis, ainda reivindica que o Governo Federal destine um mínimo de 10% das receitas correntes brutas para financiamento das ações de saúde pública no Brasil o que infelizmente não foi consolidado com a sanção da Lei Complementar nº 141/2012. Esse motivo levou a população a se organizar em defesa da saúde pública com o movimento nacional conhecido como “Saúde mais 10”, buscando a coleta de assinaturas para um projeto de lei, reivindicando Gestão do Financiamento na Saúde 15 e assegurando o repasse de percentual de 10% visando a alteração da legislação vigente. Ribeiro, Pioli e Servo (2007) explicam que o financiamento da saúde pública é um dos grandes motivos de preocupação em quase todos os países do mundo. Em nações desenvolvidas, onde há investimento de grande parcela do PIB em saúde, tem-se a preocupação com a eficiência, efetividade e equidade na alocação desses recursos, já que o incremento dos consumos com serviços de assistência, não resultam necessariamente melhores condições de vida e saúde e tão pouco reduzem as iniquidades no acesso à oferta. NOTA: Já nos países em desenvolvimento, existe o grave adicional de extensão de cobertura a toda a população, de modo a atender às exigências de financiamento juntamente com grandes necessidades de progresso socioeconômico. (RIBEIRO; PIOLI; SERVO, 2007) A questão do financiamento em saúde representa uma dimensão macroeconômica que evidencia a necessidade de uma reflexão sobre critérios de distribuição dos recursos arrecadados pelo governo prioritariamente nas áreas críticas para o país. REFLITA: É fundamental o equilíbrio entre receitas e despesas em saúde, porém o financiamento não pode se restringir a um simples resultado contábil, uma vez que os recursos destinados devem ser revertidos em oferta de serviços à população eficazes e seguros culminando em melhoria da qualidade de vida.Precisamos voltar à discussão sobre a estrutura, a operacionalização e o modelo assistencial adotado. Obviamente o aumento dos custos gerados pela inovação tecnológica e principalmente envelhecimento da população caracterizam a necessidade de maiores investimentos na prevenção e promoção da saúde. Gestão do Financiamento na Saúde 16 REFLITA: Embora o gasto total com saúde pública no Brasil, incluindo os setores público e privado, esteja pouco abaixo do registrado nos países em desenvolvimento, esse valor é similar ao padrão regional de algumas nações membras da OCDE. A grande diferença provém no fato que os gastos da União, dos estados e dos municípios com saúde pública são muito abaixo da média dos países europeus, representando subfinanciamento no que tange a oferta de serviços necessários à população de forma universal e integral pelo SUS. Tal cenário se agrava ainda mais com aumento contínuo dos custos do setor (BRASIL, 2013). Por esse motivo, o Brasil prioriza nas suas políticas de saúde, financiamento das ações de prevenção e promoção à qualidade de vida como a Estratégia de Saúde da Família (ESF). RESUMINDO: Devemos compreender como proceder legalmente o financiamento da Saúde Púbica no Brasil e quais os desafios para a efetivação do direito constitucional frente à desigualdade social, os modelos de assistência praticados e a necessidade da qualificação da gestão. Gestão do Financiamento na Saúde 17 Da Seguridade Social ao Sistema Único de Saúde OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você irá compreender os princípios jurídico-legais da Seguridade Social no Brasil.. Antes da Constituição Federal de 1988, o sistema público de saúde brasileiro ofertava assistência aos trabalhadores vinculados à Previdência Social, deixando os demais sob a responsabilidade das entidades filantrópicas. IMPORTANTE: Aos indivíduos excluídos do mercado formal de trabalho, uma dupla penalidade: além da privação de melhores condições de trabalho associadas ao registro em carteira, a exclusão da cobertura médico-hospitalar, assistencial e previdenciária. Restava-lhes disputarcom os mais pobres e indigentes a rede de assistência ofertada pelas Santas Casas de Misericórdia. (BRASIL, 2013. p.20). Desse modo, insere-se no ordenamento jurídico um importante mecanismo de controle e proporciona a participação ativa da população na construção social de sua realidade de saúde e na efetivação de seus direitos constitucionais. Sabe-se que, particularmente o discurso do direito à saúde foi instituído a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU,1948), consolidando o processo de universalização dos direitos humanos. No Brasil, desde a Constituição de 1824, encontra-se no ordenamento jurídico a temática da proteção da saúde. Porém, esse assunto efetivou-se somente na Constituição de 1988 e com a ratificação Gestão do Financiamento na Saúde 18 do Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em 1992 (ROSA, 2014; BRASIL, 2006). Evento extremamente importante a ser citado, ocorrido no Brasil, em 1986, foi realizada a VIII Conferência Nacional de Saúde, na qual foram discutidos os temas; reformulação do Sistema Nacional de Saúde (SUS) e financiamento setorial. NOTA: Nesta conferência também, pela primeira vez adotou-se o conceito ampliado de saúde, que rege as políticas atuais do setor e é a base da Sociologia da Saúde por incluir os condicionantes sociais na pauta das discussões. (SILVA, 2016). Princípios Jurídico-Legais da Seguridade Social no Brasil De acordo com Brasil (2013, p. 20) a instituição da Seguridade Social, em um conceito mais amplo de direitos, exigia maior aporte de recursos para suportar o aumento de gastos. Então, a Constituição dotou a seguridade social de um orçamento próprio, o Orçamento da Seguridade Social (OSS). Esse orçamento tem as seguintes fontes de arrecadação (BRASIL, 2013): I– O faturamento das empresas, por meio da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), que substituiu o antigo Fundo de Investimento Social (FINSOCIAL). II– O Programa de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP). III– O lucro líquido das empresas com a criação da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Gestão do Financiamento na Saúde 19 IV– Uma parcela da receita de concursos de prognósticos e receitas próprias. V – Contribuição sobre a folha de pagamento das empresas (até então a principal fonte de custeio do seguro social). NOTA: A CF reservou um capítulo específico para a Seguridade Social, do artigo 194 ao 204, o que reforça o compromisso com o princípio da proteção social, indicando também fontes de custeio do sistema. A Seguridade Social, segundo o art. 194 da CF de 1988 (BRASIL, 1988): DEFINIÇÃO: Compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinado a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. (BRASIL, 1988)Além dos mandamentos constitucionais, há ainda um conjunto de leis e normas que a regulamentam, a saber (BRASIL, 2013): • Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/1990). • Lei nº 8.142/1990.Lei Orgânica da Seguridade Social (Lei nº 8.212/1991). • Lei nº 8.213/1991. • Lei Orgânica da Assistência Social (Lei n° 8.742/1993). • Emenda Constitucional nº 29/2000. • Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamenta a Lei nº 8.080. • Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012. • Decreto nº 7.827, de 16 de outubro de 2012. Gestão do Financiamento na Saúde 20 EXPLICANDO MELHOR: Todos esses instrumentos tratam de questões relativas ao financiamento do SUS. As contribuições sociais foram criadas pela Assembleia Nacional Constituinte como sustentáculo da política de proteção social, instituída em 1988. Delas vêm os recursos para o custeio da Seguridade Social – saúde, previdência e assistência. (BRASIL, 2013) RESUMINDO: Devemos compreender a dinâmica do financiamento da saúde pública no Brasil. Gestão do Financiamento na Saúde 21 Financiamento da Saúde Brasileira e o Desafio da Desigualdade OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você saberá discernir sobre o financiamento da saúde no Brasil frente o desafio da desigualdade social. Chamamos de contexto a conjuntura atual, na qual se insere o sistema de saúde brasileiro. Para se realizar esse diagnóstico, devemos analisar as transformações no que se refere às sensíveis mudanças ocorridas nas esferas políticas, econômicas, sociais e demográficas com gênese na segunda metade do século XX. Muitas dessas transformações refletem as desigualdades socioeconômicas e o acesso aos serviços públicos de saúde. (PAIM; ALMEIDA FILHO, 2014) IMPORTANTE: Os dados epidemiológicos evidenciam drástica redução da proporção da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias, e o aumento alarmante das causas crônico- degenerativas e agravos relacionados a acidentes e violência. Ressalta-se que essa modificação não representa a erradicação das doenças transmissíveis, mas sim uma drástica alteração das proporções das etiologias de mortalidade. (CARMO, BARRETO; SILVA JUNIOR, 2003) No Brasil, podemos citar a ineficiência na solução para problemas estruturais e básicos, condições de vida inadequadas, baixa qualidade de vida e a questão ambiental, que, sobrepostos, refletem na manutenção de altos índices de morbidade e mortalidade na população, contínuos ao longo dos anos. (CARMO; BARRETO, 2007) Gestão do Financiamento na Saúde 22 NOTA: Uma análise do cenário da morbimortalidade da população brasileira demonstra indicadores econômicos incompatíveis aos dos seus indicadores sociais. No quesito saúde, ainda se observa a tendência de melhoria de alguns indicadores, porém evidencia-se lenta velocidade de transformação o que propicia a persistência e a ampliação das desigualdades. (CARMO, BARRETO; SILVA JUNIOR, 2003)Os indicadores evidenciam diversas realidades sociais vigentes no País, fator que demandam focos distintos na formulação de políticas e para melhoria das assimetrias em saúde, considera-se as diferenças demográficas, epidemiológicas e socioeconômicas, característicos no Brasil, definidos e explicados pelos determinantes de saúde no diagrama da Figura 2. (IBGE, 2009) Figura 2 – Marco conceitual dos determinantes sociais da saúde Fonte: BRASIL, 2015, p. 121. A desigualdade entre as regiões é muito visível quando se comparam indicadores de saúde. Verifica-se que as doenças cardiovasculares representam a segunda causa de internações hospitalares nas Regiões Sul e Sudeste, vindo as doenças infecciosas e parasitárias (DIPs) na sequência. Gestão do Financiamento na Saúde 23 IMPORTANTE: Na Região Nordeste, as DIPs ainda representaram a segunda causa de internações, enquanto as doenças cardiovasculares vêm posteriormente, invertendo o perfil e demonstrando grande cunho socioeconômico no desenho da morbimortalidade regional. (IBGE, 2009; CARMO; BARRETO; SILVA JUNIOR, 2003)A situação de saúde no Brasil é um assunto complexo e dinâmico de se analisar devido às características específicas do País como a dimensão territorial, as variações regionais, a miscigenação e a grande desigualdade social que ainda persiste. NOTA: Na última década, as doenças não transmissíveis têm sido a principal causa mortalidade em todo o mundo, apresentando tendência crescente devido ao envelhecimento da população. No Brasil, o cenário retrata igualmente predomínio das doenças não transmissíveis e relevante carga de mortes por causas externas, predominantes no sexo masculino, principalmente na faixa de 15 a 59 anos. (BRASIL, 2015)Sendo assim, os homens indicam maior risco de morrer do que as mulheres, porém, as doenças cerebrovasculares e o infarto agudo do miocárdio, figuram como as maiores causas de mortalidade geral. As mulheres seguem-se por pneumonias, diabetes mellitus e doenças hipertensivas. Os homens, por altas taxas de homicídios, pneumonias e acidentesde transporte terrestre. Importante ressaltar, os homicídios foram como relevantes causas de mortalidade de pardos, pretos e indígenas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. (BRASIL, 2015)NOTA: Expande-se a tendência de envelhecimento da população brasileira justificada pelo aumento significativo da expectativa de vida e pelo declínio sustentado da fecundidade. Gestão do Financiamento na Saúde 24 Até os anos 60 a população brasileira era jovem, com cerca de metade de das pessoas composta por indivíduos abaixo dos 20 anos, e menos de 3% acima dos 65 anos. Porém, a partir dos anos 70, inicia- se um estreitamento crônico na base da pirâmide etária brasileira e, consequentemente, um envelhecimento populacional consistente. (BATISTELLA, 2007)Assim, podemos concluir que o Brasil, apesar de ter reduzido muito as iniquidades nas últimas décadas, ainda é um dos países com as maiores desigualdades sociais no mundo. RESUMINDO: Nosso perfil de morbimortalidade acompanha uma tendência mundial de altas taxas de mortes, tendo as doenças crônicas não transmissíveis, em especial enfermidades cardiovasculares, mas também apresenta dados de um país violento, com homicídios e acidentes de transporte terrestre como principais causas externas de mortalidade. Condicionantes Sociais de Saúde-Doença Antigamente, a definição mais utilizada para saúde era a “ausência de doenças“, porém a Organização Mundial de Saúde (OMS), buscando um conceito mais ampliado, definiu como sendo, não apenas a ausência de doença, mas “a situação de perfeito bem-estar físico, mental e social”. Essa definição, era avançada demais para a época em que foi concebida por envolver os aspectos sociais do processo de saúde-doença. (OMS, 1948)Posteriormente, foi pensado o modelo de Dahlgren e Whitehead, que apresenta a Teoria dos Determinantes Sociais de Saúde (DSS) condicionando o processo de saúde e doença à aspectos sociais, culturais, ambientais, entre outros. Esse modelo defende a determinação social da saúde que estratifica os determinantes em diferentes camadas, desde os macrodeterminantes – relacionados às condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais –, até os determinantes proximais, tais como estilo de vida dos indivíduos, idade, sexo e fatores hereditários. (CNDSS, 2008) Gestão do Financiamento na Saúde 25 IMPORTANTE: A abordagem conceitual proposta por Dahlgren e Whitehead foi apresentada de forma simplicidade e de fácil compreensão para os diversos tipos de público e pela clara visualização gráfica dos diversos DSS por Determinantes da Saúde. (SOBRAL; FREITAS, 2010) Figura 3 – Determinantes de Saúde por Dahlgren e Whitehead Fonte: SOBRAL; FREITAS, 2010, p. 39. A teoria dos determinantes sociais do processo saúde-doença expressa que a medicina não pode ignorar os contextos públicos e econômicos envolvidos na causalidade das doenças. A organização comunitária, a situação socioeconômica dos povos, sua educação e seus hábitos culturais assumem, nessa perspectiva, o ônus pelo processo de adoecimento dos indivíduos. (LANDMANN, 1982)De acordo com a OMS, Gestão do Financiamento na Saúde 26 a saúde, é um direito social, inerente à condição de cidadania e deve ser assegurado sem distinção de raça, de religião, ideologia política ou condição socioeconômica, apresentada como um valor coletivo, um bem de todos. IMPORTANTE: Em uma publicação de 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU) reforça esse conceito, apontando quatro condições mínimas para que um Estado assegure o direito ao bem estar do seu povo: disponibilidade financeira, acessibilidade, aceitabilidade e qualidade do serviço de saúde pública do país. (OMS, 2003) Cenário Nacional da Saúde Pública O envelhecimento populacional brasileiro acompanha uma tendência mundial de aumento da parcela etária de pessoas com mais de 60 anos, sendo que os idosos com 80 anos ou mais constituirão um grupo expressivamente importante. No Brasil, a transição demográfica e epidemiológica elevou a expectativa de vida e trouxe a preocupação com a qualidade de vida agregada à essa longevidade. (BARRETO; CARRERA; MARCON, 2015)Contudo o crescimento do número de idosos acarreta alterações sensíveis na incidência e prevalência e nos índices de óbitos causados pelas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), o que demanda de políticas públicas que visem o cuidado contínuo e multidisciplinar desses usuários. (MIRANDA; MENDES; SILVA, 2016) Gestão do Financiamento na Saúde 27 Figura 4 – O envelhecimento populacional é um fenômeno que carece de planejamento e políticas de saúde específicas. Fonte: Freepik. Como consequência, esse cenário juntamente com outros, relacionados à urbanização, violência, sedentarismo e aos hábitos de vida insalubres, demandam políticas públicas em todos os níveis de atenção, desde à atenção básica à hospitalar. Gestão do Financiamento na Saúde 28 O Impacto dos Modelos de Assistência no Financiamento do SUS OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você saberá avaliar o grande impacto dos modelos de assistência à saúde na operacionalização e financiamento da saúde pública.. Um modelo assistencial é a maneira como são organizadas, em uma dada sociedade e em seu tempo, as ações de atenção à saúde, envolvendo a articulação entre os diversos recursos envolvidos no cuidado como os humanos, físicos e tecnológicos disponíveis para atender os problemas de saúde de uma sociedade. Modelos de Assistência à Saúde Considerando-se que os modelos assistenciais que se baseiam na compreensão da saúde e da doença e nas tecnologias disponíveis em determinado período social, observando-se as políticas e a ética vigentes, não se pode dizer que existem modelos certos ou errados, mas sim, aqueles que dão certo ou não quando seguidas. (SILVA JUNIOR; ALVES, 2007)Bassinelo (2014) relata que o modelo de atenção à saúde atualmente vigente no SUS apresenta fragilidades entre as quais a fragmentação que dificulta a comunicação entre os pontos de atenção do sistema, a carência de sistemas logísticos e a fraca governança das redes de atenção à saúde. NOTA: Busato (2017) explica que as portas de entrada do SUS nas RAS são aquelas dos serviços de atenção primária, urgência e emergência, atenção psicossocial e especiais de acesso aberto – como hospitais e serviços especializados –, logo, toda a rede do cuidado é influenciada pelo modelo assistencial vigente. Gestão do Financiamento na Saúde 29 O conceito de modelos assistenciais em saúde, apresentado em Faria et al. (2010) relaciona-se à análise de sistemas de qualidade de vida, existentes ou que já existiram em diferentes sociedades e, a partir de aí examiná-los e compará-los através de uma metodologia de compreensão não apenas do arcabouço organizacional que lhes sustentam, mas também, dos paradigmas científicos ou pensamentos por trás desses modelos. VOCÊ SABIA? A OMS considera o sistema público de saúde da França como o melhor do mundo por oferecer os melhores cuidados de saúde em geral à sua população. Pesquise aqui. No Brasil, podemos identificar diversos modelos de assistência à saúde em diferentes períodos da história do País. No início da República, por exemplo, o sanitarismo era presente, valendo-se de políticas públicas para as campanhas de vacinação compulsória contra as epidemias do momento com interesses políticos e econômicos, modalidade de intervenção ainda utilizada no combate às endemias e epidemias. Já o famoso modelo de medicina voltado para a assistência à doença em seus aspectos individuais e biológicos, hospitalocêntrico, com forte especialização médica e uso intensivo de tecnologia é denominado modelo biomédico (ou medicina científica ou biomedicina ou modelo flexneriano). (SILVA JUNIOR; ALVES, 2007) IMPORTANTE: O termo “flexneriano” é uma referência a Abraham Flexner, médico cujo relatório, em 1911, fundamentou a reforma doensino médico nos EUA e Canadá, estruturando toda a assistência médica da primeira metade do século XX e deixando fortes influências até a atualidade (PAGLIOSA; DA ROS, 2008). Gestão do Financiamento na Saúde http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/976/1/TD_1784.pdf http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/976/1/TD_1784.pdf 30 Atualmente, no país o que se vê é a busca pela implantação de um modelo assistencial que atenda às nossas políticas de saúde, tornando-as factíveis, eficientes e resolutivas. Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) A Atenção Básica é planejada e executada no Brasil como mais alto grau de descentralização e capilaridade, ocorrendo próxima do cotidiano dos usuários em suas comunidades. Ela deve representar o contato direto e preferencial da população aos serviços de saúde, a principal porta de entrada do SUS é o centro de comunicação com todo o restante da Rede de Atenção à Saúde. IMPORTANTE: Por isso, é fundamental que ela se oriente pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social (BRASIL, 2017).A Portaria nº 2.436/2017 aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para ela, atualizando a legislação anteriormente e vigente. A portaria define a Atenção Básica como sendo o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida por meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada, realizada com equipe multiprofissional e dirigida à população em território definido, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária. (BRASIL, 2017, p. 2) Gestão do Financiamento na Saúde 31 NOTA: A Política de Atenção Básica é a base da política de saúde brasileira, mas o fortalecimento da rede hospitalar também se faz importante para a integralidade e a resolutividade das ações de saúde. Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP) Mesmo que o trabalho da atenção primária seja efetivo e alcance de qualidade máxima a nossa natureza humana não nos impede de envelhecer, adoecer e perecer. O foco das políticas de saúde na atenção primária não diminui a importância da rede hospitalar no Sistema Único de Saúde. A Portaria nº 3.390/2013 institui a Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP), estabelecendo as diretrizes para a organização do componente hospitalar da Rede de Atenção à Saúde. (BRASIL, 2013)NOTA: A assistência hospitalar no Sistema Único de Saúde (SUS) visa garantir o atendimento aos usuários na continuidade da assistência prestada na atenção primária, de forma que garanta resolutividade da atenção. Os hospitais são definidos de acordo com o perfil epidemiológico da região de saúde da qual são referência de atendimento, incorporados em uma Rede de Atenção à Saúde (RAS). Gestão do Financiamento na Saúde 32 DEFINIÇÃO: São instituições de maior complexidade, com tecnologia superior, contando com equipe multiprofissional e interdisciplinar para atendimento a usuários com condições de saúde agudas ou crônicas potencialmente instáveis e com possibilidade de complicações de seu estado de saúde. Esse quadro justifica o cuidado contínuo em regime de internação (BRASIL, 2013). Um problema visível e muito discutido sobre a atenção especializada e hospitalar no Brasil é que, historicamente, ela é composta por muitas instituições filantrópicas, grande parte dela de pequeno porte (de até cinquenta leitos) e que atualmente são fonte de grande preocupação pela dificuldade de manutenção financeira dos mesmos. IMPORTANTE: O tema é foco de estudos, deliberações e políticas específicas na qual se busca que esses hospitais se comuniquem na rede de atenção à saúde e se vocacionalizem de acordo com as características regionais. O que se observa no atual cenário é a insolvência sistemática e contínua dos ambulatórios microrregionais de pequeno porte, o que pode, à longo prazo, piorar a situação de superlotação das grandes enfermarias de referência macrorregional do País gerando grandes prejuízos aos usuários. Gestão do Financiamento na Saúde 33 Figura 5 – Antes da constituição do SUS o acesso à saúde pública no Brasil se dava pelas instituições filantrópicas de caridade e a previdência social Fonte: Pixabay. Tanto as políticas de atenção básica quanto a hospitalar, têm influência direta do modelo vigente de assistência à saúde que diz respeito ao modo como se organiza as ações de atenção ao bem-estar, envolvendo os aspectos humanos, tecnológicos e assistenciais. Desafios para a Construção de um Modelo Assistencial na Atenção Básica A Estratégia de Saúde da Família (ESF) pode ser entendida como a formulação de um modelo assistencial que indica problemas e soluções modelares renovando e produzindo novas ferramentas alternativas às opções existentes que até o momento não conseguiram se desvencilhar do modelo biomédico flexneriano. IMPORTANTE: O modelo Saúde da Família emergiu na década de 90, no Brasil, fomentando a mudança no modelo assistencial em para atender à demanda da criação do SUS. Contudo, é na sua dimensão político-operacional que se encontra o grande desafio da construção da ESF. (FERTONANI et al., 2015) Gestão do Financiamento na Saúde 34 SAIBA MAIS: O financiamento de um sistema de saúde gratuito, integral e universal em um país de mais de 207 milhões de pessoas onde mais de 70% da população depende unicamente dos serviços públicos de saúde. Leia mais sobre esse desafio aqui. Para atender à essas características da ESF, com foco na atenção básica, preventiva e de baixa complexidade, esse modelo ideal precisa partir da compreensão da saúde- doença como um processo político, histórico, sociológico e determinando condicionantes sociais. IMPORTANTE: O modelo deve ainda focar suas ações na promoção da saúde, reconhecer a qualidade de vida como direito cidadão e nortear-se pelos princípios e diretrizes do SUS, destacando-se a universalidade, a acessibilidade, continuidade do cuidado, integralidade, responsabilização, humanização, vínculo, equidade, participação, resolubilidade e intersetorialidade. (FARIA et al., 2010) REFLITA: Esse é o grande desafio da saúde pública brasileira: implementar efetivamente um modelo de assistência que busque a promoção do bem-estar, que incentive o protagonismo dos usuários e fuja do modelo biomédico ainda muito presente na nossa cultura e no ensino acadêmico dos profissionais de saúde, ou seja, construir um modelo “alternativo” novo, mas que mescle o melhor de todos os disponíveis. Gestão do Financiamento na Saúde 35 Construção de um “Novo Modelo” Os movimentos atuais que se esforçam na construção de um novo modelo caminham para que se conserve bases do modelo tradicional o que pode gerar, ora convivência conflituosa, ora complementar entre ambos. IMPORTANTE: Destacam-se, neste contexto, os movimentos que priorizam o cotidiano do trabalho em saúde, as relações interpessoais, o envolvimento e a corresponsabilização (de gestores, profissionais de saúde e usuários) na atenção à saúde, redesenhando as relações de vínculo, as ações de acolhimento e a humanização do cuidado em saúde. (FARIA et al., 2010)Desse modo, podemos concluir que o modelo assistencial é uma construção baseada na realidade social, nas suas necessidades e expectativas, em um certo período histórico e que se redesenha continuamente, em um processo altamente dinâmico em prol da melhoria contínua da qualidade de vida e saúde da população, prioridades de um sistema pautado nas pessoas e na inclusão social como é o SUS. REFLITA: Precisamos promover a reflexão sobre o modelo assistencial em saúde e os desafiosda atenção no País que busca no bem-estar da família a ampliação do acesso às ações de qualidade de vida, o acolhimento e a humanização das práticas. Porém observa-se que permanece a centralidade dos atos destinados ao tratamento de patologias e dos cuidados ao corpo biológico. Essa característica dificulta a efetivação da integralidade e influencia a formação acadêmica, a prática profissional e as relações de trabalho da equipe multidisciplinar. Gestão do Financiamento na Saúde 36 NOTA: Embora tenhamos propostas e políticas estruturantes de um modelo assistencial que avance frente à doutrina biomédica ainda vigente, são grandes as dificuldades para sua implementação. (FERTONANI et al., 2015)Paim (1999) definiu modelos de atenção à saúde ou modelos assistenciais como combinações de recursos e tecnologias materiais e não materiais, empregadas nas intervenções destinadas à solução dos problemas e necessidades sociais de saúde. À época, modelos alternativos apareceram no País como a oferta organizada ou programada, a vigilância da saúde, as ações programáticas, a qualidade de vida da família, definidos em políticas públicas que determinavam o foco de tais ações, a participação da equipe multiprofissional, da população e as responsabilidades da gestão. A implementação de um modelo de assistência que respeite as características e as necessidades de saúde de uma população, englobam a participação de todos os atores sociais envolvidos nesse processo de construção. IMPORTANTE: Estudos demonstram que a incompreensão por parte da gestão acerca do aspecto multifatorial, da multidisciplinaridade, da estrutura dos serviços e dos processos gerenciais representam os maiores desafios na construção do modelo ideal para a saúde pública. Ainda são insatisfatórios os espaços voltados à construção coletiva de novas práticas de saúde pela carência dos diálogos entre gestores, profissionais e usuários, que mais se dedicam ao debate da organização e financiamento do sistema do que ao debate sobre a construção de um modelo efetivo de assistência à saúde. (FERTONANI et al., 2015) Gestão do Financiamento na Saúde 37 Cabe aos gestores utilizar-se de ferramentas que lhes permitam analisar as características próprias da sua comunidade para assim gerar um programa de trabalho que aproxime o modelo concreto de assistência em sua cidade do modelo ideal. (FARIA et al., 2010) Figura 6 – Um modelo de assistência à saúde deve considerar as características da população assistida e a realidade vigente em sua época Fonte: Pixabay. Para Morosini (2007), a gestão da saúde deve, na busca de um modelo ideal, ser democratizada, visando a horizontalização dos organogramas e a construção de espaços coletivos de discussão, apontadas como instrumentos de promoção de maior participação dos profissionais e da população. A construção coletiva dos desenhos tecnoassistenciais, a estrutura e os processos de gestão, bem como a viabilização de uma gestão participativa, constituem-se como grandes desafios. (MOROSINI, 2007) Gestão do Financiamento na Saúde 38 IMPORTANTE: Nesse sentido, além dos esforços dos gestores, é necessário o engajamento da equipe multiprofissional da saúde, que, às vezes, não possui formação acadêmica voltada a um novo modelo de assistência, sendo ainda difusores da dinâmica biomédica. Formação Profissional e a Cultura Popular A exemplo do que ocorre em outros países que buscam a construção de um modelo de assistência à saúde ideal, no Brasil esse movimento necessita da fundamental participação dos profissionais de saúde devido à sua visão sobre as peculiaridades da situação de qualidade de vida da comunidade na qual estão inseridos, que reflete a realidade política e social de cada período. (CORREIA et al., 2010)Silva Junior e Alves (2007) defendem que é de responsabilidade da equipe profissional exercer as capacidades de reconhecer o contexto, comunicação acolhimento, escuta e compreensão dos diferentes valores e culturas para mobilizar soluções em resposta às necessidades de saúde da comunidade. IMPORTANTE: Para tal, esses profissionais devem possuir uma formação mais social, ampla e contextualizada. Gestão do Financiamento na Saúde 39 Figura 7 – O planejamento das ações de saúde deve ser construído com a participação da equipe multiprofissional. Fonte: Freepik As bases curriculares devem proporcionar a formação de um profissional de saúde que cumpra seu importante papel na construção e consolidação de estratégias que promovam o desenvolvimento de um Sistema Único de Saúde com as características necessárias ao atendimento das necessidades da população. Nesse sentido, a formação acadêmica deve ser direcionada para a realidade sociocultural do país e suas regiões. (FARIA et al., 2010) IMPORTANTE: O trabalho em equipe multiprofissional precisa ser também intersetorial. Deve articular-se com outros setores para trabalharem, conjuntamente, os determinantes sociais do processo de saúde-doença. Gestão do Financiamento na Saúde 40 Embora muitas características dos modelos de assistência antigos permaneçam intactas e vigentes, parece estar emergindo um modo atualizado de atenção e gestão no SUS, de formação dos profissionais de saúde pela educação permanente para a conscientização sobre um novo modo de se enxergar a qualidade de vida que considere a cultura e a participação popular. (SILVA JUNIOR; ALVES, 2007) Delineando-se a filosofia dos modelos assistenciais, observa-se, ainda, pouca ênfase na análise dos determinantes do processo saúde- doença. Fertonani et al. (2015) aponta para deficiências que envolvem a orientação para a demanda espontânea, o distanciamento dos aspectos culturais e éticos que regem as escolhas e vivências dos indivíduos e a incapacidade de compreender a multidimensionalidade do ser humano. IMPORTANTE: Na construção de um modelo assistencial para o SUS é importante se promover uma mudança de cultura de gestores, profissionais e usuários, levando a uma melhor qualidade na prestação de serviços a nível nacional e local. (FARIA et al., 2010)A população precisa aceitar as estratégias formuladas baseadas na medicina preventiva, fundamentada em uma abordagem integral do homem, entregando-se ao protagonismo no cuidado à sua saúde. A medicina preventiva propõe o cuidado próximo do ambiente sociocultural dos indivíduos e suas famílias, fomentando a prevenção e o controle do adoecimento. Para isso, os usuários precisam estar engajados nesse processo construtivo da saúde individual coletiva. (MOROSINI, 2007) Identificado um modelo assistencial ideal, adaptado à realidade de uma população, caberá à gestão a adoção de uma postura gerencial que lhe proporcione suporte para operacionalização eficiente. Gestão do Financiamento na Saúde 41 A Gestão e os Modelos de Assistência É fato que precisamos de novos modelos de gestão em saúde para que as organizações alcancem níveis de excelência na prestação de serviços ofertados à população. Pelo que já se evoluiu na área, não é mais possível a adoção de modelos obsoletos de gestão pautados na hierarquia, na divisão do trabalho, no controle rígido, pois a atual contingência exige arranjos organizacionais participativos, integrativos e direcionados aos objetivos, necessidades e expectativas sociais. (TAMADA; BARRETO; CUNHA, 2013) Figura 8 – A gestão da saúde pública no Brasil ainda é marcada pela baixa produtividade e o excesso de burocracia. Fonte: Freepik NOTA: Destaca-se, como fator negativo, a alta rotatividade dos gestores na área da saúde pública, e a dificuldade de se atuar em modelos de gestão diferentes dos tradicionais. Gestão do Financiamento na Saúde 42 Nesse contexto, o trabalho baseado em ações centralizadoras, hierarquizadas e burocratizadas, trazem como consequência trágica a incapacidade gerencial, distante de alcançar a eficiência idealizadae atender às necessidades e complexidade do setor de saúde .(LORENZETTI et al., 2014) A gestão da saúde pública no Brasil é arcada pelo excesso de burocracia e a baixa produtividade, o que acaba por elevar o custo dos serviços. Assim sendo, o setor público de qualidade de vida precisa pensar em redução de custos (com eliminação de desperdício e retrabalho); aumento da qualidade de atendimento; e capacitação profissional de suas lideranças. (LIMA, 2007) IMPORTANTE: Não há dúvidas sobre o tamanho do desafio que é a gestão da saúde pública brasileira, sendo necessária uma visão holística sobre o funcionamento do setor por parte dos governantes e gestores para se buscar propostas resolutivas para a qualidade em tais serviços. Pela complexidade que envolve, a gestão em saúde pública demanda que o gestor possua uma capacidade de enxergar o sistema de saúde como um todo. A função engloba a gestão de redes, unidades básicas, hospitais, laboratórios, clínicas e demais serviços públicos, trabalhando em um uníssono em prol da qualidade de vida da população. De acordo com Lorenzetti et al. (2014) abrangem três grandes dimensões: os cuidados diretos (singulares e multidisciplinares); as diversas instituições de saúde; e a operacionalização das redes de saúde voltadas para a assistência universal, integral, de qualidade e eficiente para as necessidades da população. Gestão do Financiamento na Saúde 43 EXPLICANDO MELHOR: Essa afirmação, além de envolver os preceitos da administração, traz os valores que orientam a concepção de saúde e de direito do cidadão. De um modo geral, a gestão nessa área consiste em uma resposta política frente aos problemas de bem-estar público, considerando custos, demandas e a legislação da saúde do país. (FERTONANI et al., 2015) O gestor deve desenvolver essa capacidade de enxergar todas as peças que compõem o sistema, conhecer e compreender toda a legislação inerente, organizar o trabalho multiprofissional e ser sensível às necessidades sociais e de saúde da população. Figura 9 – O gestor deve desenvolver a capacidade de enxergar todas as peças que compõem a complexidade do sistema de saúde. Fonte: Pixabay. Assim, esse “olhar macro” sobre o setor saúde, apesar de complexo é possível, respeitando todos os atores envolvidos, buscando os objetivos do processo, a eficácia, o atendimento às expectativas dos usuários, a eficiência na otimização dos recursos, a gestão dos custos de todo o processo, dentro da legislação. É preciso definir-se os objetivos do processo para se alinhar e focalizar os pontos a serem trabalhados ou melhorados. (LIMA, 2007) Gestão do Financiamento na Saúde 44 SAIBA MAIS: Tamada, Barreto e Cunha (2013) destacam alguns modelos de gestão em saúde atualmente utilizados como alternativas à superação dos tradicionais e obsoletos ainda vigentes no País. Entre eles, a Gestão da Qualidade, das Redes de Atenção à Saúde – RAS, da Gestão Estratégica e da Gestão Participativa – Cogestão. A integralidade e a resolutividade do cuidado em saúde dependem da oferta dos serviços, sua execução com qualidade e sua gestão baseadas em princípios doutrinários fundamentais, legislação, e nos aspectos gerenciais (que envolverá os aspectos estruturais do sistema e a aplicação dos recursos disponíveis). A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2003) entende que, para se atender às expectativas de saúde das populações, faz-se essencial garantir a cobertura universal evoluindo para a promoção, proteção e recuperação da qualidade de vida. Sabendo-se que, no Brasil, a expectativa e insatisfação da população com os serviços de saúde é fato público e notório, estratégias devem ser desenvolvidas com o objetivo de sanar as queixas sociais nesse quesito. RESUMINDO: Nessa unidade discutimos a legislação sobre o financiamento da saúde pública no Brasil, desde à seguridade social ao SUS. Analisamos como a desigualdade e os condicionantes sociais da saúde-doença interferem diretamente na qualidade de vida da população impactando diretamente o financiamento e a necessidade de alocação de recursos do setor. Por fim, concluímos que os recursos limitados nessa área somente serão racionalmente aplicados, obtendo-se a devida efetividade que se espera, respeitado o modelo de assistência em evolução, preconizados pelas nossas políticas públicas de saúde. Gestão do Financiamento na Saúde 45 REFERÊNCIAS BARRETO, M. S., CARREIRA, L.; MARCON, S.S. Envelhecimento populacional e doenças crônicas: reflexões sobre os desafios para o Sistema de Saúde Pública. Revista Kairós Gerontologia, São Paulo, v. 18, n. 1. p. 325-339. BASSINELLO, G. et al. Saúde coletiva. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. BATISTELA C. Análise da situação de saúde – principais problemas de saúde da população brasileira. In: Fonseca, A. F.; CORBO, A. M. D. A. O território e o processo saúde-doença. Rio de Janeiro: EPSJV-Fiocruz, 2007. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado, 1988. BRASIL. Emenda Constitucional nº 29, de 13 de setembro de 2000. 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