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A Economia na Gestão da Saúde Gestão do Financiamento na Saúde Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria JULIANA APARECIDA PEREIRA MEDEIROS AUTORIA Juliana Aparecida Pereira Medeiros Olá! Sou graduada em Serviço Social (ULBRA) e especialista em Qualidade de Saúde e Segurança do Paciente (ENSP/FIOCRUZ). Possuo experiência técnico-profissional em serviço social hospitalar, hotelaria hospitalar e segurança do paciente. Estou aqui para contribuir no desenvolvimento da cultura, da qualidade, e da segurança em saúde, auxiliando profissionais e organizações a melhorarem continuamente. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens, a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO A Economia da Saúde ............................................................................... 10 Fundamentos da Economia da Saúde ............................................................................ 10 A Questão da Economia e do Financiamento da Saúde no Brasil e no Mundo....................................................................................................................................................... 11 Estudos de Avaliação Econômica em Saúde ............................................................. 15 Níveis e Atenção à Saúde, Custos e Financiamento..................... 18 Incorporação Tecnológica em Saúde ............................................................................. 20 Avaliação de Tecnologia em Saúde (ATS) ....................................................................23 Financiamento da Incorporação Tecnológica ..........................................................25 Financiamento e Operacionalização da Assistência em Saúde no Brasil ..........................................................................................................27 Operacionalização da Assistência em Saúde ............................................................28 Análise Crítica dos Modelos de Assistência em Saúde ..................................... 30 Resultados e Impactos ................................................................................................................32 Custos nos Modelos de Assistência ................................................................................33 A Alocação de Recursos em Saúde .....................................................36 A Necessidade, o Merecimento e a Efetividade ......................................................37 O Processo Decisório Ético na Alocação de Recursos ...................................... 39 7 UNIDADE 02 Gestão do Financiamento na Saúde 8 INTRODUÇÃO Sabe-se que, historicamente, o sistema público de saúde do Brasil é marcado pela carência de recursos, tidos sempre como insuficientes para suprir a demanda crescente da população. A gestão pública brasileira, em todos os seus setores, carrega consigo a marca da precariedade administrativa e da corrupção, o que acaba por impedir que se cumpra a legislação e se concretize as políticas de saúde. Veremos como a aplicação dos princípios da gestão, buscando a profissionalização administrativa no setor público, será capaz de mudar o paradigma vigente de uma saúde deficitária e ineficiente. Analisaremos o atual cenário da gestão no Brasil e como essa questão de gerência e financiamento afetam a execução das políticas de saúde públicas levando o Estado ao descumprimento de seu próprio ordenamento jurídico com impactos negativos e severos na qualidade de vida de seu povo. Convidamos você a adentrar no universo da saúde brasileira, entendendo seus fundamentos e suas políticas, identificando desafios e contribuindo para a evolução de um sistema considerado padrão, altamente dinâmico, em contínua construção. Entendeu? Bons estudos! Gestão do Financiamento na Saúde 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2 – A economia na gestão da saúde. Até o término desta etapa de estudos, nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais: 1. Definir os conceitos e fundamentos da Economia da Saúde. 2. Interpretar análises econômicas em saúde. 3. Identificar a alocação de recursos em saúde. 4. Realizar análise crítica da incorporação de tecnologias e a sua relação com os custos em saúde. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Gestão do Financiamento na Saúde 10 A Economia da Saúde OBJETIVO: Ao finalizar este capítulo, você irá compreender como a economia da saúde é uma ciência que auxilia os gestores públicos no processo decisório sobre a alocação dos limitados recursos na saúde. Também veremos como se procede a análise da incorporação de tecnologias, seus custos agregados e a viabilidade a partir das avaliações econômicas em saúde. Animado para desenvolver esta competência? Então vamos em frente! Fundamentos da Economia da Saúde De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2018): DEFINIÇÃO: A Economia da Saúde é responsável por promover o uso racional e eficiente dos recursos públicos na área, a partir da construção de uma cultura do uso de indicadores e parâmetros econômicos para a tomada de decisão racional. Trata-se de uma ciência multiprofissional e interdisciplinar, que engloba profissionais da área de Saúde, Administração, Economia, Sociologia, entre outros, com o objetivo de promover as condições para que as ações e serviços de saúde sejam prestados de forma eficiente, equitativa e com qualidade para melhor acesso da população, respeitando assim os princípios da universalidade, igualdade e integralidade, estabelecidos na Constituição Federal e na Lei Orgânica da Saúde. Outra questão importante na alocação e otimização dos recursos em saúde é a compreensão da demanda. Gestão do Financiamento na Saúde 11 DEFINIÇÃO: Entende-se por demanda um bem ou serviço pode ser conceituado como sendo como a quantidade do mesmo que os usuários desejam consumir em um período de tempo definido. (IUNES, 1995)Considerando-se as restrições orçamentárias em uma realidade em que as demandas por bens e serviços de saúde são crescentes, opta-se por realizar análises econômicas para que a aplicação dos escassos recursos se faça de maneira racional e maximizada. A Questão da Economia e do Financiamento da Saúde no Brasil e no Mundo A economia da Saúde pode ser aplicada no SUS, no apoio e desenvolvimento das políticas de atenção em todos os seus níveis, representando subsídio importante na tomada de decisões no que tange ao planejamento da qualidade de vida pública. (SULPINO, 2016)Asaúde possui um valor diferenciado entre as necessidades humanas e altos gastos envolvidos no atendimento das suas necessidades. Assim existe a real necessidade de que os julgamentos para a alocação de recursos sejam realizados de maneira técnica com parâmetros bem definidos e que a avaliação de custos e benefícios das diferentes opções disponíveis sejam aplicadas em todos os níveis da assistência, para que os recursos sejam racionalmente direcionados. (SULPINO, 2016)Pela relevância do tema, pesquisadores da saúde pública de todo o mundo vêm analisando os aspectos teóricos e conceituais da Economia da Saúde, principalmente em relação ao financiamento, analisando alternativas de fontes de custeio público e privado para a execução das políticas públicas bem como a base tributária direta ou indireta. (SOUSA, 2005) Gestão do Financiamento na Saúde 12 IMPORTANTE: Os estudos enfocam ainda na expansão, racionalização do financiamento e dos gastos em saúde, evidenciando a elevação dos custos, levando a uma reflexão sobre quanto custa a saúde pública. (SOUSA, 2005)A questão do financiamento da saúde pública no Brasil é um processo complicado e desgastante no contexto do capitalismo contemporâneo. Nos últimos 30 anos, após a criação do SUS, a temática tem sido marcada por uma trajetória de persistência por causa dos limitados montantes de recursos destinados, constituindo o subfinanciamento estrutural como uma das principais falhas do sistema de saúde nacional. (MENDES; CARNUT; GUERRA, 2018)NOTA: Uma estratégia da Organização Mundial de Saúde (OMS) visando o fortalecimento dos sistemas de saúde das nações, é a realização de pesquisas em economia nessa área, para divulgação com objetivo que seja realizado para subsídio, na gestão e financiamento da saúde (SULPINO, 2016). A OMS ressalta que o fortalecimento dos sistemas de saúde, passam por uma tomada racional de decisão visando a obtenção do melhor valor dos recursos limitados disponíveis e que a economia da saúde deve ser observada como parâmetro, a ciência da alocação dos recursos, ajudando na quantificação dos custos e dos benefícios relacionados nas opções disponíveis. (SULPINO, 2016) Gestão do Financiamento na Saúde 13 IMPORTANTE: A questão do financiamento da saúde pública pode ser bem mais complexa do que parece. O histórico internacional evidencia irrefutavelmente que políticas de austeridade em qualidade pública de vida, acabam sendo responsáveis por um massacre das populações e também resultam em consequências econômicas igualmente desastrosas. (GARCIA, 2016)Logo, a austeridade torna-se a principal ameaça à saúde da população. Deve-se solucionar os problemas econômicos dos países minimizando o risco ao bem-estar da população por meio do financiamento de políticas públicas adequadas. Cabe aos governos tomar as melhores decisões possíveis sobre o rumo da economia arcando com as consequências de suas escolhas sem prejudicar a saúde da população (GARCIA, 2016). Gestão do Financiamento na Saúde 14 SAIBA MAIS: O livro A economia desumana: porque mata a austeridade foi elaborado com o propósito de divulgar - para um público mais amplo e por meio de uma linguagem acessível - evidências de que escolhas políticas inteligentes podem impulsionar o crescimento e solucionar o problema da dívida dos países sem pôr em risco a saúde das populações (STUCKLER; BASU, 2014). O livro traz, além de uma síntese de evidências de centenas de estudos, histórias reais de vidas humanas perdidas em consequência de escolhas econômicas desumanas. (STUCKLER; BASU, 2014 apud GARCIA, 2016, p.1)Os subfinanciamento do SUS pode ser evidenciado por meio da própria legislação do país. Mendes, Carnut e Guerra destacam que: Se o art. 55 das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal fosse aplicado, 30% dos recursos da Seguridade Social deveriam ser destinados à saúde, mas isso nunca foi feito. Em 2015, o Orçamento da Seguridade Social foi de R$ 694,5 bilhões, sendo que se 30% fossem destinados à saúde, considerando os gastos do governo federal, corresponderiam a R$ 208,4 bilhões, mas a dotação foi a metade disso. Entre 1995 e 2015, o gasto do Ministério da Saúde (MS) não foi alterado, mantendo-se em 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto o gasto com juros da dívida representou, em média, 7,1%. (MENDES; CARNUT; GUERRA, 2018, p. 225)A Emenda Constitucional nº 95 de 2016 congela os gastos da União com despesas primárias por 20 anos, corrigidos pela inflação medida pelo IPCA. Entende-se que a mesma acaba por ser inconstitucional uma vez que fere o núcleo essencial do direito que é a garantia de recursos orçamentários para a sua sustentabilidade. Nesse aspecto, o SUS e a saúde pública serão fortemente impactados, de maneira negativa nos próximos anos. (FIOCRUZ, 2019)REFLITA: Gestão do Financiamento na Saúde 15 Gestores e pesquisadores em saúde pública consideram a EC nº 95 uma violação de direitos fundamentais, como os da saúde e educação. (FIOCRUZ, 2019)Entende-se que, pela EC nº 95, o subfinanciamento do SUS certamente evoluirá para o desfinanciamento. Os recursos federais para o SUS devem reduzir de 1,7% do PIB (2016) para 1,0% até 2036, acumulando perdas superiores a três orçamentos anuais nesse período de 20 anos de que trata. Em um cenário retrospectivo, entre 2003 e 2015, essa perda seria de R$ 135 bilhões, a preços médios de 2015, diminuindo os recursos federais do SUS de 1,7% do PIB para 1,1%. (MENDES; CARNUT; GUERRA, 2018) Estudos de Avaliação Econômica em Saúde A teoria do bem-estar é a base metodológica da avaliação econômica em saúde. Sua base teórica é aplicada na busca da maximização da satisfação da população a partir da alocação racional dos recursos disponíveis. Nessa avaliação, a eficiência alocativa tem como fundamento doutrinário garantir que alguns indivíduos possam melhorar sem que outros necessitem piorar seus estados de saúde e qualidade de vida. A avaliação econômica engloba quatro tipos de estudo: i) Custo-efetividade. ii) Custo-utilidade. iii) Custo-benefício. iv) Custo-minimização. EXPLICANDO MELHOR: A diferença entre as análises é a forma de se mensurar os resultados em saúde. (SILVA; SILVA; PEREIRA, 2016) Gestão do Financiamento na Saúde 16 REFLITA: O papel fundamental do Estado na reafirmação da saúde como direito constitucional em plena tendência mundial da mercantilização da saúde (CORREIA; OMENA, 2013). Leia mais sobre o assunto aqui. Brasil (2008), explica os parâmetros da avaliação econômica em saúde, a saber: • A análise de minimização de custos é a análise mais simples e considera a economia de recursos monetários quando permanecem os mesmos desfechos clínicos na saúde dos usuários. • A análise de custo-benefício é considerada a mais abrangente e contempla todos os aspectos da eficiência alocativa, no qual os custos e benefícios são relatados usando uma métrica comum (unidades monetárias). NOTA: Esse estudo permite avaliar os benefícios à saúde por unidade monetária aplicada. • Na análise de custo-efetividade não se atribui valor monetário aos impactos das intervenções em saúde, considerando número de doenças evitadas, internações prevenidas, casos detectados, número de vidas salvas ou anos de vida salvos. • As análises de custo-utilidade são um tipo especial de custo-efetividade, na qual a medida dos efeitos de uma intervenção considera a medição de qualidade de vida relacionada com a saúde em que a unidade de medida do desfecho clínico utilizada é a “expectativa de vida ajustada para qualidade” ou “anos de vida ajustados pela qualidade”. Gestão do Financiamento na Saúde http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2013/JornadaEixo2013/anais-eixo3-estadolutassociaisepoliticaspublicas/pdf/amercantilizacaodasaudeeapoliticadesaudebrasileira.pdf 17 Assim, através da avaliação econômicaem saúde pode-se promover uma alocação dos recursos limitados frente a uma realidade de demanda crescente de bens e serviços de saúde, na busca da eficiência e na otimização dos custos operacionais do sistema de saúde. TESTANDO: O Secretário de Saúde da cidade de Matinha recebe seu farmacêutico da equipe de ESF em uma reunião para tratar da padronização de medicamentos para a Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME). O farmacêutico apresenta uma proposta desenhada por ele e o médico da equipe para modernizar o elenco de medicamentos que, de acordo com ambos, é antiga e obsoleta. O farmacêutico argumenta que o município precisa tratar melhor seus usuários e que uma maneira de fazer isso e demonstrar respeito aos princípios constitucionais do SUS, seria ofertar aos usuários, na farmácia municipal, medicamentos modernos disponíveis no mercado mudando a “cara” do serviço atualmente realizado. Na opinião do farmacêutico, é um desrespeito oferecer medicamentos tão “fora de moda” uma vez que a indústria farmacêutica apresenta novas opções de tratamento. O secretário não discorda do argumento da equipe, porém a proposta apresenta a desvantagem de gerar um ônus aos cofres públicos. Ele então, estudioso da gestão em saúde sabe que, no entanto, na economia da saúde, nem sempre a opção inicialmente mais onerosa, é aquela que apresenta o menor valor final por tratamento. Logo, não descarta a sugestão, porém solicita ao farmacêutico um relatório apresentando a avaliação econômica das opções de tratamento das patologias tratadas, baseando-se nos critérios de custo- benefício, custo-efetividade e custo-utilidade. RESUMINDO: Devemos entender que a economia da saúde é uma ciência que auxilia os gestores públicos no processo decisório sobre a alocação dos limitados recursos na saúde. Gestão do Financiamento na Saúde 18 Níveis e Atenção à Saúde, Custos e Financiamento. OBJETIVO: Ao finalizar este capítulo, você irá compreender como se dá a interpretação das análises econômicas da saúde, além de entender os níveis e a atenção à saúde, seus custos e financiamentos. As ações da atenção primária são conhecidas pelas baixas complexidade, tecnologia e custos. Porém, os níveis secundário e terciário envolvem incremento tecnológico, especialização profissional e consequente aumento de custos em escala. É desafiador enfrentar o aumento dos gastos em saúde, gerados pela incorporação tecnológica, utilização de medicamentos mais avançados, entre outros. Esses fatores geram ganhos e custos, aumentando a eficiência e simplificando os processos. (SOLLA; CHIORO, 2012)2.1 Economia de escala A economia de escala representa aumento da produção total de serviços de saúde sem um aumento proporcional no custo dessa produção. Assim, o gasto médio por serviço e/ou produto tende a reduzir com o aumento da produção. (SOLLA; CHIORO, 2012) REFLITA: A economia de escala representa um desafio para os gestores de saúde pública, porque aumenta a necessidade de planejamento, regulação do sistema e o desenho de redes assistenciais que incluam, de maneira eficiente, os serviços de saúde dos três níveis de atenção. (SOLLA; CHIORO, 2012)Essa economia visa à sustentabilidade, por permitir aumento da oferta com redução de custo operacional ou do produto ofertado, acarretando na otimização da alocação de recursos. Gestão do Financiamento na Saúde 19 Para que isso aconteça no conceito de redes de saúde, faz-se necessário uma articulação adequada dos serviços regionalizados que viabilizem a continuidade das ações de saúde e efetivem a integralidade. (TESSER; POLI NETO, 2017) NOTA: Vale lembrar que esta integração necessita partir da atenção primária, porta de entrada do sistema, e que essa ordene os fluxos e contra fluxos, referências e contra referências do sistema. É fato que essa integração trará vantagens como a melhoria da qualidade da atenção, a redução de custos com economia de escala e o aumento da eficiência do SUS. (MENDES, 2011) Figura 1 – Integração Fonte: Freepik Gestão do Financiamento na Saúde 20 Incorporação Tecnológica em Saúde A área de atenção especializada envolve um conjunto de ações, práticas e técnicas assistenciais de cuidado conhecidas pela incorporação de metodologia, que envolve cada vez uma maior densidade tecnológica, denominada tecnologia especializada. DEFINIÇÃO: A tecnologia em saúde é tida como aquela relacionada à promoção do bem estar, prevenção e tratamento de doenças e reabilitação de indivíduos. Como exemplos de tecnologias em saúde temos medicamentos, produtos biomédicos, procedimentos, exames e sistemas de informação utilizados nas ações e serviços ofertados à população. (BRASIL, 2016) As tecnologias em saúde são aplicadas desde a prevenção de doenças até o tratamento e recuperação dos indivíduos. Sua utilização correta por parte dos profissionais, é fundamental para aumentar o benefício para os usuários. (BRASIL, 2016) Figura 2 - Aparelho de ressonância magnética: alta tecnologia médica Fonte: Pixabay Gestão do Financiamento na Saúde 21 IMPORTANTE: Nem sempre um menor preço individual por produto/ serviço em saúde acarreta em um menor custo total por procedimento/tratamento. Nas redes de assistência encontramos serviços com grande diversificação das ações, tecnologia e custos agregados. Geralmente, os serviços de menor densidade tecnológica, marcadamente provenientes da atenção primária, devem ser dispersos no território, em contraposição àqueles de maior densidade tecnológica, como hospitais e serviços de diagnóstico por imagem que tendem a ser concentrados. Desse modo, serviços de saúde coordenam-se numa rede estratégica, composta por distintas densidades tecnológicas que devem ser distribuídos, espacialmente, de forma otimizada. (OMS, 2000; BRASIL, 2015) Figura 3 – Serviços de imagenologia são exemplos de tecnologia biomédica de alto custo Fonte: Freepik Gestão do Financiamento na Saúde 22 Os serviços que compõem as Redes de Atenção à Saúde (RAS) devem ter capacidade técnica e operacional dentro do que prevê a sua complexidade. Tais tecnologias também são suficientes para garantir que os problemas de saúde dos usuários que procuram aquele ponto de assistência com segurança e qualidade sejam resolvidos. Considerando-se a sustentabilidade econômico-financeira, esses serviços necessitam de incremento tecnológico em conformidade com as variáveis de planejamento baseados em necessidades de saúde da população por ele atendidas, seja na atenção primária ou referenciados por ela para os níveis secundário e terciário. (BRASIL, 2012)Os indivíduos que enfrentam uma doença necessitam de exames, tratamentos e cuidados adequados ao seu tipo de patologia para que possa restabelecer sua saúde. Mesmo que as ações da atenção primária possuam grande efetividade, não possuímos o conhecimento que evite o envelhecimento e o desenvolvimento de doenças particulares que irão demandar de incremento de especialização profissional e tecnologia biomédica que representam, atualmente, elevados custos aos sistemas de saúde. (BRASIL, 2016) IMPORTANTE: Por esse motivo e considerando-se que os recursos disponíveis para a qualidade de vida são limitados e carecem de aplicação racional e maximizada, faz-se extremamente pertinentes às avaliações de tecnologia em saúde. Gestão do Financiamento na Saúde 23 Avaliação de Tecnologia em Saúde (ATS) A avaliação tecnológica em saúde (ATS) é um processo com base em evidências, que buscam analisar opções e desfechos da utilização de tecnologias, considerando a assistência profissional, social, questões financeiras, econômicas e éticas. (BRASIL, 2016) EXPLICANDO MELHOR: A avaliação de tecnologia engloba as análises e decisões sobre quais opções em saúde devem ser ofertados, baseando-se na necessidade da população, nos benefícios, efetividade, utilidade, e os custoseconômicos. A tomada de decisões sobre as opções de tratamentos, medicamentos, procedimentos e exames, por exemplo, fornecidos pelo sistema público de saúde devem ser racionalmente tomados baseando- se em custos e evidências clínicas de resultados aos usuários. (BRASIL, 2012) Algumas perguntas podem ajudar na escolha da tecnologia ser padronizada, como apresenta o Quadro 1. Quadro 1 - Evidências científicas utilizadas na avaliação de tecnologias em saúde Fonte: BRASIL, 2016. Gestão do Financiamento na Saúde 24 A ATS é uma forma de pesquisa que avalia as consequências em curto e longo prazo do uso das tecnologias em saúde. É um processo multidisciplinar que resume informações sobre as questões clínicas, sociais, econômicas éticas e organizacionais relacionadas ao uso da tecnologia em saúde de uma maneira robusta, imparcial, transparente e sistemática, que segue métodos adequados para a tomada de decisão. (BRASIL, 2016) EXEMPLO: Para a padronização de um medicamento, por exemplo, deve-se analisar seu custo relacionado à eficácia (resultado clínico), segurança (risco de malefícios à saúde), efetividade (como ele age no contexto real), utilidade (anos de vidas ganhos e qualidade de vida associada em casos de tratamento crônico) e impacto social. NOTA: A aplicação da economia da saúde nas análises de medicamentos otimizando custos e desfechos é chamada Farmacoeconomia. (PACKEISER; REST, 2014) Figura 4 - Farmacoeconomia Fonte: Freepik Gestão do Financiamento na Saúde 25 A partir do resultado das análises da avaliação de tecnologias em saúde se define a viabilidade da incorporação tecnológica no âmbito do SUS. Financiamento da Incorporação Tecnológica Grande parte dos esforços de pesquisas científicas e industriais que visam o desenvolvimento e a produção de novas tecnologias em saúde se destina a atender os serviços de atenção especializada (ambulatorial e hospitalar). IMPORTANTE: Diversos estudos demonstram grande aumento do número de tecnologias produzidas e incorporadas nos últimos anos associadas à queda das taxas de mortalidade geral, materno-infantil, cardiovascular, entre outras, demonstrando eficiência nos investimentos governamentais. (BRASIL, 2012) Vale ressaltar que a incorporação tecnológica em saúde extrapola o uso de equipamentos e medicamentos e o âmbito da atenção especializada, englobando pesquisa acadêmica, produção de serviços de saúde, condutas e mudanças nos processos de trabalho. Porém, o processo de incorporação tecnológica vem acontecendo de modo acelerado e desregulado, modulado pelo mercado da saúde que nem sempre age eticamente no mundo competitivo, e gerando grandes desigualdades nos tratamentos de saúde devido às restrições de orçamento. (BRASIL, 2016) Gestão do Financiamento na Saúde 26 Figura 5 – As restrições de orçamentárias geram desigualdades nos tratamentos de saúde no setor público e particular Fonte: Pixabay. NOTA: É importante lembrar que a oferta de tecnologias em saúde excede a capacidade de oferta do SUS, fazendo assim, com que seja necessária a adoção de escolhas difíceis quanto à alocação de recursos escassos em saúde. Esse fato se agrava quando as regras decisórias existentes são inadequadas para orientar a escolha oferecida aos maiores usuários. Agregando-se às falhas de planejamento e regulação, a incorporação de novas tecnologias biomédicas levam a resultados economicamente desastrosos, sem resultar no benefício almejado. (BRASIL, 2012) RESUMINDO: Devemos entender os serviços que compõem as Redes de Atenção à Saúde (RAS) e como se dá a avaliação tecnológica em saúde (ATS), processo com base em evidências, que buscam analisar opções e desfechos da utilização de tecnologias, considerando a assistência profissional, social, questões financeiras, econômicas e éticas. Gestão do Financiamento na Saúde 27 Financiamento e Operacionalização da Assistência em Saúde no Brasil OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você vai compreender como é realizar a análise crítica da incorporação de tecnologias e a sua relação com os custos em saúde.. A operacionalização da assistência idealizada nos modelos e preconizada nas políticas de saúde é etapa essencial para a efetivação dos direitos constitucionais do cidadão brasileiro, já que possuímos um sistema de qualidade de vida que trabalha teoricamente a redução das desigualdades sociais com grandes problemas de concretização prática. REFLITA: Vamos lá: nesse contexto, não seria uma gestão profissional, que busque a eficiência alocativa de recursos e a qualidade dos serviços prestados, à solução para os problemas do SUS? Fonte: Freepik Gestão do Financiamento na Saúde 28 Sabemos que a gestão em saúde tenta utilizar-se de modelos administrativos exitosos na área privada e já testados previamente em outros países, porém ainda com grandes dificuldades de aceitação e operacionalização no país. REFLITA: Os gestores devem procurar utilizar-se dessas ferramentas modernas da Administração na busca da gestão adequada do SUS ou as características do setor público brasileiro não permitem tal ensejo? Veremos nesse capítulo como a gestão da qualidade na saúde pública e o árduo trabalho de gestão de equipes, podem ser importantes fatores de melhoria da qualidade das ações de saúde contribuindo para a construção e implementação daquele modelo de assistência idealizado por todos e coerente com as bases doutrinárias do SUS. Operacionalização da Assistência em Saúde As Normas Operacionais Básicas do SUS, NOB-SUS (BRASIL,1991; BRASIL, 1992; BRASIL, 1993; BRASIL, 1996), promoveram integração das ações de saúde entre as três esferas de governo e desencadearam o processo de descentralização, delegando, principalmente aos municípios, responsabilidades e recursos para a operacionalização do SUS, antes centralizadas no nível federal. Com o advento da Norma Operacional da Assistência à Saúde, NOAS-SUS (BRASIL, 2001; BRASIL, 2002), apresentou-se a confirmação de algumas diretrizes e ampliação de outras. Gestão do Financiamento na Saúde 29 IMPORTANTE: Podemos dizer que foi de grande repercussão na NOAS- SUS as diretrizes de descentralização; regionalização; ampliação de acesso à saúde com a definição de áreas estratégicas de atuação; a organização de serviços, tanto em atenção primária quanto em média e alta complexidades; o fortalecimento da capacidade de gestão no SUS; além da definição das responsabilidades cabíveis às esferas de governo garantia o acesso da população, controle, avaliação e regulação dos serviços. Figura 7 – Norma Operacional da Assistência à Saúde Fonte: Freepik Com a NOAS-SUS, os municípios passaram a ter responsabilização, até então, nunca preconizada na gestão da atenção básica, e incorpora em seu texto, claramente, conceitos e critérios modernos da gestão em saúde, na busca de eficiência dos serviços, influenciando e promovendo a necessidade de os gestores se capacitarem para o atendimento a esses requisitos. (BRASIL, 2001; BRASIL, 2002) Gestão do Financiamento na Saúde 30 EXPLICANDO MELHOR: Desse modo, coube ao município se capacitar para ter a competência de planejar, executar, avaliar, controlar e regular as suas ações de saúde, demandando equipe especializada em gestão com habilidades técnicas para realizar a construção, implementação e análise crítica das políticas de saúde. Análise Crítica dos Modelos de Assistência em Saúde Uma situação é fato: é real a necessidade de reorientação do modelo assistencial da saúde para que o financiamento seja suficiente para sanar os problemas de saúde da população brasileira. Para isso, deve-se estimular a reflexão sobre o trabalho das equipes de saúde, o uso de tecnologias, a formação profissional e a alocação dos recursos (ALMEIDA, 2012). No aspecto administrativo, os gestores precisam desenvolver mais a competência para trabalharem comindicadores de saúde ou gerais. Taxas, índices, entre outros, são números, informações que proporcionam ao gestor realizar análise crítica do processo gerencial e da efetividade do modelo de assistência adotado, que, em saúde, reflete diretamente na qualidade de vida da população assistida. IMPORTANTE: Caso o gestor identifique o modelo de gerência ou assistencial, ora adotado, e esse não apresente a efetividade almejada, deve-se mapear os processos, identificar os pontos de melhorias e se propor medidas interventivas que busquem a criação ou adaptação de um sistema que atenda às reais necessidades dos usuários. Gestão do Financiamento na Saúde 31 Figura 8 – Foco, financiamento, território, equipe e usuário: importantes pontos de análise dos modelos de assistência em saúde Fonte: Freepik IMPORTANTE: Através do estudo dos indicadores, os gestores devem analisar foco, financiamento, território, tecnologias equipe e usuários, todos componentes do complexo sistema de saúde que se pretende desenhar. A intervenção nesses aspectos do sistema deve ser analisada quanto aos impactos diretos e indiretos na operacionalização das ações de saúde e, obviamente, na qualidade de vida e saúde dos usuários. Gestão do Financiamento na Saúde 32 Resultados e Impactos Considerando o aspecto e dimensão dos resultados, esperamos que a implementação de um sistema de gestão eficiente da saúde pública aliada a um modelo de assistência coerente apresente impactos para a organização, para os trabalhadores e, consequentemente, para os usuários do serviço. No setor saúde sabemos que a avaliação da satisfação dos profissionais e dos usuários passa pelos critérios da tríade estrutura, processo e resultado nos serviços ofertados, sendo, assim, fundamental para a construção da qualidade desenvolvida nos estabelecimentos de saúde. (PERTENCE; MELLEIRO, 2010) Figura 9 – Indicadores são as ferramenta principal na aferição dos impactos da gestão e do modelo assistencial na saúde da população. Fonte: Freepik. O debate sobre a necessidade de mudança do modo de se fazer e gerir a saúde pública, defende que é necessário impactar o núcleo do cuidado. É preciso investir nas necessidades dos usuários, invertendo o foco do investimento para pessoas e as suas relações. (FERTONANI et al., 2015) Gestão do Financiamento na Saúde 33 O Modelo Médico-Assistencial Privatista (hegemônico) tem foco no atendimento de demanda espontânea, residindo aí a sua maior deficiência por não alcançar aquela parcela da população que não percebe suas necessidades de saúde, mesmo que estas existam. NOTA: Porém, mesmo atualmente parte dos profissionais e usuários não valorizam a prevenção de doenças, refletindo o modelo assistencialista centrado na figura do médico e no hospital que não verifica as necessidades locais, a formação de vínculos e o protagonismo da população assistida. Logo, o grande impacto negativo da gestão e do modelo predominantemente curativo é o prejuízo ao atendimento integral individual e coletivo, o não comprometimento com o resultado sobre o nível de saúde da população e a elevação dos custos da assistência. (ALMEIDA, 2012) Custos nos Modelos de Assistência A gestão de custos no setor da saúde pública, como em qualquer organização privada, proporciona ao gestor uma visão fina da realidade financeira por permitir analisar como são aplicados os recursos disponíveis, identificando os exageros e destinando os recursos na quantidade certa para serem aplicados nas atividades primordiais, nesse caso, definidos pelo modelo de assistência que norteou a elaboração das políticas. IMPORTANTE: A gestão de custos não tem como objetivo somente gastar menos, mas sim otimizar os gastos. (ALMEIDA; BORBA; FLORES, 2009) Gestão do Financiamento na Saúde 34 Figura 10 – Um dos objetivos da gestão de custos é otimizar os gastos Fonte: Freepik A gestão de custos no ente público é critério fundamental na tomada de decisão, pois se faz indispensável na programação adequada dos limitados recursos financeiros disponíveis para a execução das políticas de saúde sem que, uma otimização de gastos reflita no aumento da quantidade e qualidade dos serviços prestados (ALMEIDA; BORBA; FLORES, 2009). EXPLICANDO MELHOR: Podemos dizer que, no Setor público, a gestão de cursos permite melhor visualização do cenário financeiro e busca a melhoria contínua da eficiência no direcionamento dos recursos e aplicação nas estratégias e ações de saúde. (SILVA; SILVA; PEREIRA, 2016) . Gestão do Financiamento na Saúde 35 Estudos do setor público brasileiro, em geral, demonstram a necessidade da gestão de custos. A saúde, por ser bastante complexa e composta por diversos tipos de ações, procedimentos, profissionais e inúmeros empreendimentos realizados dentro de uma única organização, possui características muito próprias, o que torna a apuração e análise de custos uma tarefa desafiadora para os gestores que buscam o planejamento e a implementação de modelo de assistência coerente. (ALMEIDA; BORBA; FLORES, 2009) RESUMINDO: Devemos fazer a análise crítica da incorporação de tecnologias e a sua relação com os custos em saúde. Gestão do Financiamento na Saúde 36 A Alocação de Recursos em Saúde OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você vai saber identificar como se dá a alocação de recursos em saúde. Os profissionais de saúde baseiam suas decisões diárias em critérios técnico-científicos, éticos, morais, judiciais e, na atual conjuntura, na condição econômico-financeira vigente. Em um cenário onde o mercado da saúde apresenta a cada dia uma nova tecnologia terapêutica, a ética demonstra sua importância. Por outro lado, no respaldo de difíceis decisões envolvendo a alocação de recursos escassos por instituições públicas e filantrópicas, principalmente no atendimento à pacientes provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS). NOTA: A medicina baseada em evidência precisa ser praticada considerando-se os componentes financeiros disponíveis. Figura 11 – O planejamento de recursos escassos frente às necessidades ilimitadas se torna um verdadeiro malabarismo para o gestor. Fonte: Freepik Gestão do Financiamento na Saúde 37 Muito se discute sobre a caracterização primordialmente assistencial dos hospitais enquanto instituições destinadas ao cuidado. Porém, nos últimos tempos, tem-se buscado conferir a essas organizações o rigor administrativo de uma empresa formal, como certamente o são, principalmente pela necessidade de se gerir de forma adequada os recursos disponíveis promovendo, assim, a manutenção do serviço de forma regular para a população. REFLITA: Os gestores possuem essa responsabilidade de aplicar os recursos da forma mais racional e criteriosa possível cabendo a eles a permanência ou o fechamento da oferta de serviços de saúde. Em Goldim (2004), podemos ver que a alocação de recursos, dependendo do âmbito onde ocorre, também pode ser considerada sob a égide da Ética. O processo decisório ético é fomentado pela vontade geral, uma decisão pública, tomada utilizando-se da via política. Por outro lado, esse processo decisório também pode se basear na vontade individual, sendo a expressão de uma decisão pessoal do indivíduo. Para uma definição mais coerente da aplicação dos recursos, padronizaram-se os termos, como critérios de necessidade, merecimento e efetividade. A Necessidade, o Merecimento e a Efetividade Os critérios padronizados como prioritários utilizados, usualmente na determinação da alocação de recursos em saúde, são: necessidade, merecimento e efetividade. (GOLDIM, 2004)Esses critérios possuem fundamentação com base na relação diferencial como o tempo, uma vez que a necessidade se refere a eventos que ocorrem no presente; o merecimento nos remete ao passado - com a utilização de situações que já ocorreram previamente e, como precedentes abertos, pressupõemGestão do Financiamento na Saúde 38 auxílio de avaliação – e a efetividade, direcionada a casos futuros, ou seja, um exercício prognóstico. (GOLDIM, 2004) Os critérios da efetividade (eficácia clínica) e necessidade (gravidade) constituem parâmetros de natureza técnica e considerando os valores ético-sociais. Já a vertente social do critério da necessidade, abrange condição econômica e responsabilidade social, enquanto o critério do merecimento é o reconhecimento de mérito ou de demérito. NOTA: Os dois critérios integram o grupo dos parâmetros sociais que buscam o crescimento do bem-estar social ao lado da adoção de outros critérios individuais como a idade, o sexo, a força de trabalho, a expectativa de vida, e a qualidade de vida. (VILLAS-BÔAS, 2010) O processo decisório que define em que será alocado o recurso em saúde, depende de como os atores envolvidos reconhecem a existência de uma missão assistencial a ser cumprida, assim como do envolvimento, representatividade e o conhecimento dos objetivos que se buscam alcançar. (GOLDIM, 2004) IMPORTANTE: A combinação de todas essas características gera a tipologia hierarquizada utilizada na definição da alocação de recursos características principais do processo decisório. Gestão do Financiamento na Saúde 39 O Processo Decisório Ético na Alocação de Recursos No processo de alocação de recursos, a equipe de saúde responsável pelo atendimento analisa as opções clínicas disponíveis para o paciente, especialmente o critério de efetividade. (GOLDIM, 2004) SAIBA MAIS: Quando a destinação do recurso para o paciente é definida coletivamente por uma equipe profissional, é considerada uma decisão macrobioética. Porém, a decisão baseada na vontade, nos critérios e valores pessoais do paciente é o que definimos como uma decisão microbioética. (CHIARINI JÚNIOR, 2012) REFLITA: O maior dos dilemas éticos envolvendo a alocação de recursos em um país com as características do Brasil vai sempre ser a escassez. A realidade é a de um investimento em saúde muito menor do que o realmente necessário, explicitando a situação de recursos cada vez mais escassos devido à crescente necessidade da população. E assim, chegamos ao âmago da reflexão: como agir com base na ética frente à escassez de recursos em saúde? Gestão do Financiamento na Saúde 40 Figura 12 - A equipe de saúde responsável pelo atendimento analisa as opções clínicas disponíveis para o paciente, especialmente o critério de efetividade Fonte: Freepik RESUMINDO: Nessa unidade letiva discutimos como a Economia da saúde é uma ciência multidisciplinar que apresenta ferramentas e subsídios para que governantes e gestores tomem as melhores decisões no que tange ao financiamento e a alocação dos limitados recursos destinados à saúde pública no país. Vimos como avaliar a viabilidade de se incorporar novas tecnologias em saúde, principalmente quando essas envolvem aumento de complexidade e onera os cofres públicos. Por fim, analisamos como agir eticamente frente à demanda de saúde da população e à capacidade financeira que limita a destinação de recursos para sanar as grandes e importantes necessidades de saúde da população. Gestão do Financiamento na Saúde 41 REFERÊNCIAS ALMEIDA, A. G.; BORBA, J. A.; FLORES, L. C. S. A utilização das informações de custos na gestão da saúde pública: um estudo preliminar em secretarias municipais de saúde do estado de Santa Catarina. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 43, n. 3, p. 579-607, 2009. ALMEIDA, N. M. S. Formação do enfermeiro e reorientação do modelo de assistência à saúde: um estudo cartográfico. Orientadora: Alba Benemérita Alves Vilela. 2012. 107 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem e Saúde) – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Jequié. 2012. Disponível em: https://goo.gl/aUtWBt. Acesso em: 19 nov. 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. A atenção primária e as redes de atenção à saúde. Brasília: CONASS, 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. Avaliação econômica em saúde: desafios para gestão no Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. 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Portaria nº 373, de 27 de fevereiro de 2002. amplia as responsabilidades dos municípios na Atenção Gestão do Financiamento na Saúde 42 Básica; estabelece o processo de regionalização como estratégia de hierarquização dos serviços de saúde e de busca de maior eqüidade; cria mecanismos para o fortalecimento da capacidade de gestão do Sistema Único de Saúde e procede à atualização dos critérios de habilitação de estados e municípios. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 fev. 2002. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 545, de 20 de maio de 1993. Estabelece normas e procedimentos reguladores do processo de descentralização da gestão das ações e serviços de saúde, através da Norma Operacional Básica - SUS 01/93. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 maio 1993. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 95, de 26 de janeiro de 2001. 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