Prévia do material em texto
SEMIÓTICA APLICADA AO DESIGN AULA 2 Prof. Suzie Nascimento 2 CONVERSA INICIAL Anteriormente, expliquei que este conteúdo não pretende ser exaustivo na teoria, mas sim apresentar alguns conceitos estudados em Semiótica que podem ajudá-lo a produzir artefatos, produtos e serviços mais significativos. Nesta etapa, quero convencê-lo de que a questão do repertório, seu e do cliente, é muito importante. Mas quero também tranquilizá-lo antecipando que alguns conhecimentos requerem prática, profissional e de vida. Você verá que é possível aumentar seu repertório de experiências por meio da Arte, assim como você pode permitir que pessoas tenham experiências novas por meio das coisas que você criará como designer. Para isso, precisa investir nos significados. Vamos lá? CONTEXTUALIZANDO Quando um músico ou artista deseja apresentar seu repertório, ele escolhe uma série de exemplares daquilo que sabe fazer. Quando um aluno vai fazer uma redação, busca em seu repertório de leituras argumentos que possam ser utilizados, almejando receber uma boa nota. Da mesma forma, o designer é refém do próprio repertório quando se vê desafiado em um novo trabalho. Quem tem pouco repertório acaba tendo que correr atrás do prejuízo. Cada atividade exige um repertório específico, por isso o encontro entre profissionais de diferentes áreas é tão rico, justamente porque permite criar maneiras de significar, permitindo uma intersemiose. Se liga Na definição de Santaella, utilizar linguagens distintas, formando com isso uma unidade coesa, é fazer “intersemiose” (Ramos, 2008, p. 32). Histórias e casos O movimento artístico brasileiro chamado Tropicália foi uma experiência com repertórios diferentes. Na ocasião, vários artistas se empenharam em romper as barreiras entre o que era considerado erudito e o que era considerado expressão popular. Assim, poetas concretos e compositores baianos produziram uma expressão artística única. 3 Santaella, ao estudar e escrever sobre a Tropicália, enfatizou que aquela era uma expressão artística inovadora, consistente, produto do encontro entre correntes distintas. Isso só foi possível porque cada uma daquelas correntes, notadamente uma popular, vinda da Bahia, e uma erudita, vinda da Arte Concreta tipicamente paulistana, possuía repertórios qualificados. Para complementar o raciocínio de Santaella, trago agora exemplos do meu próprio repertório de memórias. Quem foi jovem nos anos 80 lembrará das bandas roqueiras nascidas em Brasília, que misturavam o português bem falado a um humor tão ousado que hoje faria corar. Letras longas, quase sem refrão, que contavam verdadeiras histórias, muitas delas trágicas, outras tragicômicas. Aquela expressão artística, de grande apelo popular, não seria possível se seus criadores não tivessem o respaldo de um bom acervo de livros em casa e um vasto repertório de leitura. Saiba mais Quer saber mais sobre os aspectos semióticos do movimento Tropicália? Leia o capítulo “O hibridismo semiótico da Tropicália”, em: RAMOS, F. B. Tropicália: gêneros, identidades, repertórios e linguagens. Do ponto de vista da Semiótica, o repertório de quem produz é apenas uma parte do problema. Lembra que mencionei na etapa anterior que, para Nietzsche, Arte é prazer comunicado? Pois bem, um bom repertório precisa garantir a comunicabilidade. Isso quer dizer que o designer precisa se ocupar também com o repertório do outro, daquele a quem ele deseja oferecer seu produto. Agora, o maior desafio, sem dúvida, é desempenhar o papel de criador de signos, ou seja, inventar novas maneiras de comunicação. Você verá, nesta etapa, que uma das tarefas do designer é aumentar o repertório do cliente e, ainda assim, garantir uma boa comunicação. TEMA 1 – O REPERTÓRIO DO EMISSOR Para os fins práticos deste estudo, proponho uma analogia. Suponha que você tem uma caixinha onde guarda suas ferramentas de trabalho. Se elas são suas, fazem parte do seu acervo. Mas se você tem uma maneira particular de produzir alguma coisa com elas, então elas estão no seu repertório. No meu caso, a prática como professora para cursos de Design me levou a ter um pequeno repertório de filmes exemplares para o uso da Semiótica. Com isso, 4 quero dizer que já os assisti tantas vezes, escrevi e dei aulas sobre eles, que posso dizer com segurança que fazem parte do meu repertório de professora, mesmo que eu não tenha um grande acervo de filmes. Boa parte do conhecimento acumulado pode ser considerado acervo. Quando você toma posse deles e os usa na sua prática, eles incrementam o seu repertório. A infinidade de informações que você consome nas redes sociais e na internet, se chegam a se fixar na sua memória, podem ser acervo. Mas, convenhamos, a maioria é simplesmente descartável. Então, por favor, não confunda informação de internet com repertório. Quando um indivíduo inicia sua formação profissional, o esperado é que ele seja pobre de repertório, pois não tem conhecimento nem experiência. Com o tempo, os estudos vão se tornando mais complexos e o volume de coisas vistas e lidas aumenta. Mas o que realmente faz diferença no repertório individual são as experiências: sucessos e fracassos. Nietzsche, em uma de suas reflexões sobre comunicação, argumentou que nós, humanos, somos mais eficientes na comunicação porque somos fisicamente frágeis. A tese é a de que indivíduos que conseguem o que querem à força não têm por que aprender a negociar. Se isso é fato, então explica por que os fracassos aumentam nosso repertório. Quando não sabemos fazer alguma coisa, temos de tentar de diversas maneiras, pesquisar, pedir ajuda. No processo, aumentamos nosso repertório. Então, sugiro que, caso você esteja começando, pense nas suas dificuldades como um processo de aumento de repertório. Nesta parte do nosso estudo, o principal é compreender o papel do emissor, ou seja, daquele que precisa de repertório para emitir uma mensagem. 5 Figura 1 – Meninos conversando por meio de brinquedo Crédito: pio3/Shutterstock. Mensagem, emissor e receptor são termos comuns para quem estuda comunicação. Na Figura 1, o menino da direita é o emissor, o da esquerda é o receptor e a mensagem é o que passaria de um ao outro pelo fio que une as duas partes do brinquedo. Você poderá estar se perguntando o que isso tem a ver com Design de moda, interiores, gráfico, animação e assim por diante. E eu te respondo: lembra que o artista, para nós, é um inventor de signos, e que Arte é a comunicação prazerosa? Então, por dedução, quem inventa signos comunica e por isso pode ser considerado um emissor. Trocando em miúdos, sempre que um designer cria, reinventa ou manipula signos, ele está emitindo uma mensagem. Você já sabe que essas mensagens se materializam por meio de substituições, sejam elas gestos, desenhos, materiais, língua, sons ou cheiros. Se liga Inventar signos é uma atividade artística. Seja qual for a sua área de atuação, certamente você espera se comunicar de maneira eficaz com seu potencial cliente. Você quer que ele entenda a sua mensagem. Toda mensagem que faz uso de convenções tem 6 mais chances de ser compreendida, porque segue leis que todos conhecem. Mas, para não correr o risco de se tornar irrelevante, você precisa ser aquele que melhor conhece a convenção e sabe utilizá-la de modo criativo. Pense na dificuldade que é fazer uma comunicação inovadora para datas tradicionais como Natal, Dia das Crianças, das mães, dos namorados. A sensação é a de que tudo já foi dito. Mas observe comigo a Figura 2. Trata-se de um cartão de Boas Festas que se apoia basicamente na convenção das cores e do pinheiro, que ficou convencionado como um símbolo das festividades. As felicitações de Natal e Ano Novo, que aparecem em inglês, são quase redundantes,de tão objetivo que é o cartão. A inovação ficou por conta da maneira como são representados os pinheiros. O cérebro do observador tem de deduzir que são cortes e que a sequência de cortes está representando um pinheiro. Como dizia Kant, esse tipo de jogo, entre imaginação e entendimento, é muito prazeroso. Figura 2 – Cartão natalino em três cores Crédito: Riseness/Shutterstock. Se você acompanhou o raciocínio, concluirá que um bom emissor, em termos de Design, sabe explorar criativamente as convenções, sabe fazer as substituições mais eficientes e, principalmente, sabe quando deixar uma parte do trabalho para a mente do receptor. Ou seja, há elementos da mensagem que devem ser apenas sugeridos. Uma boa analogia você encontra naqueles jogos de adivinhação/mímica nos quais uma pessoa fica fazendo gestos e um grupo de espectadores tem que adivinhar o nome da coisa imitada, que pode ser um filme, ator, brincadeira ou música. 7 Figura 3 – Moça fazendo jogo de adivinhação Crédito: Ground Picture/Shutterstock. Com isso, quero dizer que, para ser um emissor de sucesso, você precisa ir além da fala e escrita corretas, dos artefatos irrepreensivelmente úteis e ecológicos. Nas mensagens significativas, quantidade de signos e adequação ética não são sinônimos de qualidade. A chave é fazer a mente do observador trabalhar com prazer enquanto decifra um enigma. Ninguém será um bom emissor se não tiver um repertório qualificado e criatividade para utilizá-lo de modo inovador. Steven Shainberg e Wes Anderson, diretores que citei na etapa anterior, não produziriam filmes tão intrigantes se não fossem possuidores de um repertório de signos extraordinário e não estivessem dispostos a arriscar. Por isso, é tão desafiador para um jovem iniciante ultrapassar o uso ordinário dos signos que, de tão utilizados, já se tornaram velhos e pouco atrativos. O erro mais comum, conforme mencionei em etapa anterior, é exagerar, repetir em demasia, tornar-se óbvio. Quase como um vendedor que exagera nos argumentos para compensar um produto de qualidade questionável. Tive a oportunidade de ver alunos recorrendo ao mesmo estratagema, ou seja, tentar defender com argumentos um projeto conceitualmente fraco. Não funciona. 8 Penso que, para quem está começando, há duas possibilidades: aprender com os melhores na sua área e fazer uma imersão em si mesmo. Não creio que seja preciso escolher uma ou outra, e esse é o assunto do próximo tópico. TEMA 2 – CONHECE-TE A TI MESMO O famoso templo de Apolo, em Delfos, traz esta enigmática inscrição: conhece-te a ti mesmo. Sócrates, famoso pensador grego, também ficou conhecido por instigar seus interlocutores a fazerem questionamentos internos a fim de conhecerem a si mesmos. E como é que alguém poderia conhecer a si mesmo? Ou ainda, qual o interesse disso para uma disciplina que se propõe a explorar a Semiótica de maneira prática? A primeira pergunta é mais difícil de responder porque não há muito acordo sobre o que é, e se existe, esse “si mesmo” realmente. Os psicólogos vêm debatendo o “eu” há algum tempo, e este estudo não tem ambição de resolver essa questão em definitivo. Em compensação, na etapa anterior, já apresentei uma dica importante sobre o porquê isso importa na prática do Design. Qualquer pessoa pode compreender um pouco mais do seu próprio eu por meio de experiências com objetos, com poesia, música e cinema (Nascimento, 2014a, p. 113). Nós nos experimentamos, conhecemos nossas sensações e reações, interagindo com as coisas. Quantas vezes você já se apaixonou pelo herói ou heroína de uma série, e quantas vezes já teve ímpetos de matar o vilão? Assim, de certa maneira, é somente na experiência com o que está fora de nós que podemos conhecer a nós mesmos. Você pode deduzir disso que o filtro que utiliza para escolher aquilo que ouve, assiste ou lê determinará quais as sensações interiores você conhecerá. Um ator que precisa interpretar um assassino não tem que assassinar ninguém para fazê-lo bem. Ele precisa conhecer o sentimento, a emoção. Por isso dependerá de que alguém, antes dele, tenha colocado em Arte aqueles sentimentos, do contrário não poderá experimentá-los. Para isso, ele precisará dos livros, da música, e das artes representacionais. Um bom exemplo você encontra nos quadros de Caravaggio (1571-1610). Diz-se que o pintor italiano do século 16 tinha predileção por cenas violentas, a maioria retirada dos relatos bíblicos. Essa violência o observador constata nas cores, nas marcas do pincel, nas expressões dos personagens. Caravaggio ambicionou representar aquelas emoções fortes e, ao fazê-lo, disponibilizou-as para todos nós. 9 Figura 4 – Salomé com a cabeça de São João Batista Crédito: National Gallery/PD-CC. Se fosse solicitado a um designer que criasse um artefato em analogia ao quadro de Caravaggio, ele teria que encontrar meios para expressar essa mesma emoção. Melhor dizendo, teria que encontrar meios para que seu cliente experimentasse aquelas emoções no seu produto. Para isso teria de utilizar as formas, os materiais e as cores (Nascimento, 2014a). É um erro grosseiro achar que experimentar sensações por meio da Arte pode induzir pessoas a fazerem coisas que elas não fariam. O que a Arte permite, e isso é bom, é que todos nós nos conheçamos, aprendamos a lidar com as emoções, e isso sem consequências sociais graves. Através da Arte podemos sentir ódio, e aprender a lidar com ele. Podemos nos frustrar, e aprender a lidar com isso. Quem gosta de filmes de terror, ou brinquedos que causam medo, terá muito mais repertório para esse tipo de sensação do que eu, que não subiria em uma montanha-russa nem sob tortura. Igualmente, quem gosta de narrativas romanceadas, com o tempo armazenará infinitos signos para o que é amar, ser amado, perder o amor e assim por diante. Quem gosta de futebol, no Brasil, desde pequeno aprende a lidar com a frustração, aprende que o mundo não é justo e que não deve levar as coisas tão a sério. Aprender isso na realidade da vida seria muito mais traumático. Esses são apenas alguns exemplos de como as coisas nos dão a oportunidade de conhecer nossas próprias emoções. 10 Veja que significativa é a Figura 5. Trata-se de uma imagem muito bem construída do ponto de vista da Semiótica. Ela exige um repertório específico para ser produzida e compreendida. Quem a vê deve conhecer o artefato, deve reconhecer onde ele está e saber para que serve. Somente assim decifrará a narrativa. De posse desse repertório, o espectador conclui que houve um jogo e que o atleta perdeu — o jogo e o controle emocional — descontando sua ira na raquete. O observador poderá ainda ser empático ao jogador ou recriminá-lo. Todas essas emoções são possíveis por meio de uma simples foto significativa. Figura 5 – Fotografia de raquete de tênis quebrada Crédito: Elkhophoto/Shutterstock. Vistos dessa maneira, os produtos criados por designers precisam, muitas vezes, ser como essa raquete, o lugar para onde o cliente irá dirigir suas emoções inconsequentemente. É por causa desse mecanismo que existem os caçadores de tendência, que são aqueles que observam as escolhas de compras das pessoas e deduzem, a partir delas, certos sentimentos e sensações que servem de indícios do futuro (Nascimento, 2014a). Nas nossas ações de compra, em geral, acontece um duplo movimento: conhecemos a nós mesmos e nos revelamos. 11 Como designer, você terá mais dificuldade em produzir um artefato significativo para alguém que está carente de amor, se não conhece essa emoção. Isso vale para segurança, otimismo, frustração, vazio, alegria. Enfim, o ser humano tem infinitas sensações e emoções que ele pode experimentar por meio dos artefatos e serviços que você irá produzir. Isso quer dizer que, como responsável por emitiro discurso, você precisa estar bem abastecido de recursos. Deve conhecer muitas sensações e emoções, e saber como substituí- las por signos. Aprender com os artistas a entrar, de maneira muito real, em cada afeto. Ainda me lembro da tristeza que eu senti ao ler a letra de Cobaias de Deus, no encarte que acompanhava o CD Burguesia. Soube, naquele momento, que o poeta Cazuza estava morrendo. Aquela foi uma emoção real para mim, muito embora eu não tenha estado perto da morte. Com Tempestade, que o Legião Urbana lançou pouco tempo antes da morte de Renato Russo, soube, pelas letras, que também ele estava morrendo. Foram dois poetas que me mostraram o horror de ver a própria vida acabar antes da hora. Agora, muito embora você possa adquirir parte desse repertório por meio da Arte como aconteceu comigo, a prática mostra que é melhor, sempre que possível, ter experiências não mediadas, ou seja, mais concretas. Digo isso porque as gerações atuais podem substituir boa parte das suas relações pessoais por outras, virtuais. Isso muda o tipo de experiência. Experiências virtuais têm seu valor, mas elas nos protegem, nos deixam dentro de uma bolha. Como dizem as mães, é preciso descer para brincar no parquinho, ainda que haja o risco de ralar os joelhos. Figura 6 – Crianças brincando de rolimã Crédito: FamVeld/Shutterstock. 12 Mas fique atento para este detalhe: um artista, hoje, pode pensar a sua Arte como produto de subjetividade, ou seja, mera expressão de si mesmo. Não é isso que proponho quando sugiro que aprendamos com os artistas. Como designers, é preciso haver comunicação. O seu papel seria produzir artefatos e produtos que ecoem as sensações e desejos de outras pessoas. Nesse sentido, o Design é um reflexo da cultura e do grupo social no qual está inserido (Nascimento, 2014a). Ele não tem autonomia para determinar o destino daquilo que produz e, portanto, sua obra será sempre inacabada. TEMA 3 – UMA OBRA INACABADA À ESPERA DA SUA SIGNIFICAÇÃO Há muitos anos, tive a oportunidade de ler o clássico O Espírito das Roupas: a Moda no Século Dezenove, de Gilda de Mello e Souza, publicado em 1987. Na época, eu era estudante de moda e me senti impactada com a maneira consistente com a qual a autora argumentava que havia, sim, arte nas roupas. Um costureiro, escreveu ela, trabalha tal qual qualquer artista, quando está fechado em seu ateliê: ele tem de respeitar o destino, a vocação da matéria. Para isso, utilizará volume, linha, ritmo e cor. Um trabalho extremamente técnico e familiar ao designer. Para o nosso tema, o relevante é a maneira como Gilda de Mello e Souza descreveu as roupas como uma obra sempre inacabada, à espera da sua significação. Segundo esse conceito, a roupa só alcançaria a sua verdadeira identidade quando houvesse, dentro dela, um corpo vivo. Por isso, seria uma obra que o artista confia a alguém, para que ele a complete (Nascimento, 2014a). Você verá, em etapas posteriores, que a Semiótica Peirceana faz uma leitura análoga, à medida que prescreve que o signo significa alguma coisa para alguém, ou seja, há um interlocutor ao qual cabe interpretar o signo, sem o qual ele não existirá. Nesse sentido, a obra do designer também será confiada a alguém, inacabada. Disso decorre que o caráter significativo de um artefato ou produto estará sempre em aberto, sujeito ao inesperado e à surpresa. Nunca me esqueço do senhor Wilson, do filme Náufrago. Quem projetou a bola não o fez pensando em humanizá-la, mas foi esse o seu destino. Dica O diretor Robert Zemeckis, ao produzir Náufrago (2000), utilizou atributos humanos para fazer com que o espectador criasse um vínculo afetivo com 13 aquela bola. Lembra dos comentários, da etapa anterior, sobre os atributos da pedra e da água? No filme, bastou a bola ter o rascunho aproximado de um rosto, e um capim que parecia cabelo. O restante foi impulsionado pela solidão e pelo desespero do náufrago. A ideia repercutiu tanto que, em 2022, o artefato foi leiloado por mais de R$ 300 mil. Voltarei ao exemplo de Náufrago várias vezes. Seria uma boa ideia você assistir. Se liga Em que pese todos os seus esforços, quem irá confirmar se o seu produto tem, ou não, algum significado, é o interpretante, aquele para quem ele adquire significado. Na etapa anterior, mencionei que no livro do Gênesis, Moisés explica para os hebreus quem era Deus por meio dos atributos da pedra, assim como Zemeckis faz com que o espectador desenvolva afetividade por uma bola, reconhecendo nela atributos humanos, por semelhança. Portanto, introduzir certos atributos nos artefatos ou produtos é uma maneira de levar o observador, ou cliente, à relação afetiva que se espera. No exemplo que eu capturei do livro de Gilda de Mello e Souza, o costureiro provavelmente introduziu no seu vestido atributos que seriam atrativos para um cliente específico, que ele manteve em mente durante sua criação. Quase como se o vestido tivesse de dizer, por si mesmo, para que, ou para quem, ele havia sido criado. Novamente, não há como ter controle dessa relação, o que há são tentativas. A expectativa de controle sobre a reação dos clientes ao seu produto faz com que você tome certas decisões projetuais. Gosto de observar o mobiliário como artefatos que se esforçam por dizer para que foram feitos. Imagino-os como artefatos “desejantes”, coisas que desejam se completar ou serem acabadas em um determinado uso ou lugar. Analise comigo as figuras 7 e 8. Você concorda que essas luminárias só se completam quando estão no lugar certo? A luminária que deseja estar na parede, criando efeitos óticos, não é a mesma que deseja uma mesa que a acompanhe. Sem a parede e sem a mesa, esses objetos ficam incompletos e inadequados. 14 Figura 7 – Arandelas de parede Crédito: Ecaterina Glazcova/Shutterstock. Figura 8 – Luminárias de mesa Crédito: Vfilimonov/Shutterstock. 15 Então, você, designer, pode e deve tentar dirigir o uso dos seus artefatos e produtos, mesmo sabendo que eles serão sempre uma obra inacabada. Eles devem expressar o que desejam, de maneira inteligente. Artefatos pouco claros demandarão excesso de informação publicitária e, com isso, correm o risco de ficar cansativos, pois não deixam nada com que o observador se ocupar. TEMA 4 – ARTEFATOS SÃO CHAMADOS À EXISTÊNCIA POR DESEJOS Na etapa anterior, mencionei o filme A pele, de Steven Shainberg. O filme é interessante para o estudo da aplicabilidade da Semiótica, sob vários aspectos. A trama, mesmo, é uma mistura de biografia com ficção. Shainberg teve de fazer malabarismos para explicar ao espectador que ele não pretendia ser biográfico no sentido literal, ou seja, aquela poderia não ser a história de Diane Arbus, personagem interpretada por Nicole Kidman (Nascimento; Campos, 2016). Por outro lado, pretendeu ser muito verdadeiro em relação aos sentimentos que Arbus teria experimentado ao longo da sua curta e trágica vida. Já observei, e reafirmo, Shainberg é obcecado por substituições síngeas, o que faz dos seus filmes, A pele em particular, uma fonte inesgotável de estudo (Nascimento; Campos, 2016). Para familiarizá-lo com o contexto, informo que o casal Arbus apresentado na película é real e foi muito famoso entre os anos 50 e 60 em função das fotos de moda que produziu para revistas importantes do segmento. Quando Diane, a esposa, decidiu fazer carreira solo, rompeu drasticamente com a moda. Suas fotos mais famosas, depois da mudança, são uma sequência de retratos feitos durante uma viagem, na qual encontrou exóticos personagens, vários deles trabalhando em circo (Nascimento, 2014b). Shainberg substituiu essa ruptura e esses personagens pela figura sedutora do vizinho Lionel Sweenay, cujos cabelos desciam pela tubulação e com quem a Arbus de Shainberg manteria um romance proibido. Anosdepois da morte da Arbus verdadeira, Carol Schloss escreveu um ensaio muito sensível sobre a alegada mudança temática do seu trabalho fotográfico, indo da moda para personagens de circo. Segundo a autora, essa ruptura temática nunca existiu no trabalho de Arbus. Para Schloss, Diane apenas radicalizou uma característica que já estava presente em suas fotos de moda: a denúncia de que as coisas criadas não são suficientes para dizer o que nós somos (Nascimento, 2014b). Aprende-se com Schloss que essa insuficiência é 16 revelada pela expressão insatisfeita dos retratados. Muito sagazmente, Arbus teria ido à procura de personagens circenses cujas poses e roupas faziam referência de modo inequívoco ao mundo da moda, que ela conhecia tão bem desde o seu tempo nas revistas. Para entender o artifício, observe comigo os retratos das figuras 9 e 10. São dois homens utilizando o mesmo modelo de chapéu, terno e camisa semelhantes. No entanto, o personagem da Figura 10 parece tragicômico. Claro, a maquiagem e o chapéu inclinado estão ali para não deixar dúvida. Nos retratos de Arbus, se você procurar por eles na internet, verá que a expressão é muito semelhante. O que Schloss argumenta é que as pessoas dos retratos veem a si mesmas como as modelos das revistas, buscam concretizar essa autoimagem nos artefatos de moda, mas o resultado não convence. Figura 9 – Homem com traje típico Crédito: Susan Law Cain/Shutterstock. 17 Figura 10 – Ilustração de homem atuando como palhaço Crédito: Everett Collection/Shutterstock. Na série de retratos de Arbus, a inadequação ficava mais do que evidente, e com isso se imortalizou a narrativa que Schloss descreve. Aquelas plumas, óculos e vestidos teriam falhado em atender às reivindicações internas de quem os vestia, e isso teria ficado evidente nos olhares que Arbus conseguiu capturar com suas lentes. Com Schloss, aprendemos que os seres humanos anseiam por expressar a si mesmos nas coisas, conhecer-se, experimentar-se, e nem sempre isso acontece. Certa vez, Arbus disse estar convicta de que havia coisas que ninguém veria se ela não as fotografasse (Nascimento; Campos, 2016). Parafraseando Arbus, eu diria que há desejos, reivindicações internas, que as pessoas só poderão experimentar por meio do seu trabalho como designer. Pense que você pode ampliar as possibilidades, contribuindo para diminuir as frustrações. 18 Exemplos típicos podem ser vistos na ampliação dos tamanhos das roupas e das cores das maquiagens. Até poucos anos atrás, uma pessoa maior ou com pele mais escura teria dificuldades em se manifestar adequadamente por meio de roupas e maquiagens. O mercado tem ampliado consideravelmente essas possibilidades. O importante neste tópico é que você compreenda que o seu cliente, o usuário, o interpretante do signo que você criou, tem o poder de recriar o seu produto por meio de desejos. Você pode desenvolver uma bola, e ele, no desespero, pode fazer dela um ser humano. Ou, você pode criar uma animação para crianças, e um adulto encontrar algo de si nela. Como designer, você não terá muito controle sobre o que as pessoas esperam ou farão com suas produções. O que importa é que elas sejam ricas em possibilidades. Importa que sejam produtos, de fato, artísticos. Analise, por exemplo, a riqueza do trabalho de Arbus. O que ela produziu foi tão rico que sobreviveu a uma mudança radical de temática, serviu de fonte inspiracional para o complexo trabalho semiótico de Shainberg, inspirou um ensaio crítico atemporal escrito por Schloss, eu mesma, depois de conhecer esses trabalhos, escrevi vários artigos sobre isso e você está se beneficiando de Arbus nesta etapa. Prova-se assim que um trabalho significativo é inesgotável, atemporal e universal. Se você fizer bem o seu trabalho, seu produto será um acréscimo no mundo e na vida das pessoas, pois poderá substituir inúmeros desejos, atendendo a muitas reivindicações internas. Passo agora a exemplos menos filosóficos e mais práticos. Tenho em casa uma mesa de madeira que ganhei da minha mãe. Tem tampo redondo dobrável e, embaixo, uma estrutura onde podem ser guardadas as quatro cadeiras, também dobráveis. Enfim, minha mãe podia abrir a mesa quando recebia os filhos e netos, e usá-la como aparador quando estava sozinha, nas rotinas da casa. Ela comprou a mesa pela flexibilidade do tamanho, que se adequava à variação do número de pessoas à mesa. Eu detestava, porque sempre batia os joelhos naquela estrutura. No entanto, observando a Figura 11, hoje estou segura de que o problema não era a mesa, e sim um desencontro de desejos. O destino daquela mesa, ou seja, o seu desejo, não era estar na sala da minha mãe. Quem a projetou pensou em um mobiliário que pudesse ser utilizado em área externa por algumas horas e depois fosse guardado, quem sabe, em uma garagem. Na casa da minha mãe, pelo desejo dela, virou uma mesa de copa. 19 Figura 11 – Cena típica de churrasco em área externa Crédito: Gorodenkoff/Shutterstock. Sempre penso nisso quando coloco meus anéis. Com a idade, passei a achar que certos anéis grandes não favoreciam a minha mão. Talvez eu devesse dizer, em respeito aos artefatos, que minha mão deixou de favorecê-los. Minha opção foi passar a utilizar anéis menores, nas falanges, aumentando, assim, o comprimento dos meus dedos. Figura 12 – Uso de anéis Crédito: Suzie Ferreira do Nascimento. 20 Como professora de Semiótica aplicada, não posso ignorar que o designer que projetou os anéis que uso nas falanges pode ter passado horas encontrando a melhor maneira de apresentá-los na base do dedo anelar. Mesmo assim, eu opto por usá-los nas falanges dos dedos. A mesa da minha mãe e meus anéis são dois exemplos pessoais de que aquele que usa tem o poder de trazer à existência características do artefato que o designer não previu. Mas isso só é possível porque o artefato possui bons atributos e a potencialidade para isso. Em outras palavras, quem o concebeu deixou ali possibilidades em aberto que o usuário pode explorar. Os retratos de Arbus trataram de mostrar quando os artefatos falham nesta missão. TEMA 5 – ALARGANDO A REALIDADE DO CLIENTE Ao longo desta etapa, argumentei de várias maneiras em favor de uma atenção especial para a significação daquilo que você faz. Iniciei falando sobre a importância de ter repertório, expliquei que ele depende de autoconhecimento, adverti que as produções dos designers costumam ser obras abertas, à espera de alguém que as interprete e, por último, disse que o usuário, receptor ou interpretante, tem o poder de dar novos significados ao seu produto por meio dos seus desejos. Quero finalizar convidando você a se engajar no desafio de alargar a realidade das pessoas, mais precisamente, do seu usuário ou cliente. Aproveito a oportunidade para aumentar o seu repertório sobre a teoria do Design, introduzindo aqui alguma informação sobre Vilém Flusser, um filósofo tcheco que viveu no Brasil nos anos 70. Tinha um profundo interesse pelo Design, e era também leitor de Nietzsche. É um dos poucos autores que escreveu sobre teoria do Design em português. Seus ensaios são variados, e sua obra nunca foi sistematizada, mas ele tem alguns princípios valiosos que nos ajudarão com a aplicabilidade da Semiótica. Saiba mais Para saber mais sobre Flusser, leia o capítulo “Explorações do ser”, de Anke Finger, no dossiê Flusser, que você encontra em: VÁRIOS AUTORES. CULT – Dossiê: Vilém Flusser. Flusser não era muito entusiasta da Arte como expressão subjetiva, no sentido de não ter compromisso em fazer uma comunicação clara. Ao contrário, defendeu que a experiência da Arte é algo que acontece depois que ela está 21 pronta, uma ação futura. O que Flusser está dizendo é que só é possível afirmar alguma coisa sobre uma Arte depois que elafoi assimilada por alguém. Nesse sentido, ele segue Kant, porque entende que a beleza de alguma coisa tem a ver com a sua compreensão. O interessante, para nós, é que Flusser condiciona a beleza ao balanço entre o que já se sabe sobre uma coisa e o que ela tem de novidade (Nascimento, 2014a). Se você retomar o assunto da etapa anterior, lembrará que foi exatamente isso que eu disse a respeito das substituições. Um bom trabalho em termos de Semiótica precisa apresentar a quantidade exata de novidade e os recursos necessários à sua apreensão, do contrário, será excessivamente ruidoso, entediante ou confuso. Mas Flusser tem mais a oferecer para a sua prática. Ele dizia que o designer que não apresenta novidade alguma em seu produto não aumenta o domínio da realidade. Por outro lado, se a novidade é muita, não seria compreendido, e isso também não aumentaria o parâmetro do que é considerado real. Nos termos de Nietzsche, em qualquer dos casos, o designer estaria falhando no papel de inventor de signos (Nascimento, 2014a). Talvez você esteja se perguntando por que isso é importante. Lembre-se do que argumentei anteriormente: as pessoas se reconhecem na experiência que têm com as coisas. É possível sentir emoções novas indo ao cinema, lendo um livro, vendo ou usando uma joia, aprendendo um jogo e assim por diante. Com isso, o parâmetro de realidade da pessoa se vê aumentado. No caso dos modelos de Arbus, eles desejavam apresentar a si próprios e encontraram um limite nos artefatos, como se não houvesse artefatos suficientes para representá-los. Seja indo ao cinema, comprando um artefato ou vestindo uma roupa, a pessoa está tendo, ou deseja ter, uma experiência que pode ser alargadora. Quando conhecemos mais e melhor nossas sensações, nosso mundo aumenta. Ou seja, como designer, você pode aumentar o parâmetro do real permitindo que o usuário tenha experiências reais por meio de signos que você insere no seu produto. No meu caso, amadureci com os sentimentos tristes que Cazuza e Renato Russo colocaram em suas letras. Graças à sua Arte, tornei-me uma pessoa mais experiente e, em certo sentido, minha realidade foi aumentada. Muitos garotos aumentam seu parâmetro do real com jogos. Quem nasce em apartamento e se muda para uma casa térrea, ou vice-versa, terá uma série de novas experiências com o espaço, com a Arquitetura, com o mobiliário, e com isso alargará a sua própria realidade. Quem está habituado a andar de carro, 22 quando anda de moto ou bicicleta, tem o seu repertório de experiências aumentado, e assim também a sua realidade. Enfim, toda nova experiência estimulada pelas coisas é um aumento do parâmetro do real. Anteriormente também argumentei que você deve se inspirar nas casas de luxo, que se arriscam bastante nas suas peças publicitárias. Quero insistir um pouco mais nisso, agora à luz de Nietzsche e Flusser. Nietzsche escreveu um ensaio crítico a respeito da obra de Richard Wagner, cuja música você deve conhecer pela famosa Cavalgada das Valquírias, que o diretor Francis Ford Coppola imortalizou em Apocalypse Now (1979). A verdade é que há muitas outras obras de Wagner em filmes, e a maioria de nós nem sabe. Embora Nietzsche não o diga com estas palavras, o que subjaz à sua crítica a Wagner é um problema de Semiótica. Wagner, para agradar seu público, começou a produzir dramas musicados, ou seja, começou a colocar a música como um acessório àquilo que era falado na cena. Para Nietzsche, uma corrupção inaceitável. A preferência dos cineastas atuais pela instrumentalidade de Wagner prova que o filósofo germânico estava certo: músicas como a Wagneriana são tão eloquentes que devem ser colocadas no lugar das palavras, e não à sua sombra. Veja o que mencionei há pouco sobre Cazuza e Renato Russo. No meu caso, a força das palavras suplantou meu interesse pelas músicas, que só vim a conhecer em um segundo momento. Esse é um exemplo da força atrativa que as palavras têm para nós, humanos modernizados. Por motivo similar, já não temos interesse em cinema mudo. Dica O diretor de cinema Lars von Trier utilizou o prelúdio de Tristão e Isolda, de Wagner, como trilha sonora em seu filme Melancolia (2011). A música de Wagner é a ferramenta utilizada pelo diretor para significar o desespero dos personagens com a aproximação do fim do mundo. O principal, para esta abordagem, é que você preste atenção no motivo pelo qual Wagner começou a submeter sua música às palavras: o público. Portanto, assim como você e eu, Richard Wagner também precisava atender certas demandas comerciais e, com isso, conforme a opinião de Nietzsche, empobreceu sua música. Quem poderá dizer quantas Cavalgadas das Valquírias 23 Wagner produziria se não tivesse optado pelo drama? Quantas experiências deixaram de ser disponibilizadas ao público em função dessa opção? Da mesma maneira, nós, assim acuados, quando privamos as pessoas de experiência, deixamos de dar a elas a oportunidade de alargar suas realidades, de estenderem seus parâmetros do real. A consequência é que o mundo vai encolhendo e ficando cada vez mais monótono. Nietzsche entendeu, e lamentou, que a música de Wagner estivesse adoecendo por ser produto da demanda de uma sociedade que também adoecia e não era mais capaz de ter experiências puramente musicais (Nascimento, 2014a). Você e eu estamos sujeitos às mesmas pressões. Profissionalmente, você terá de decidir o quanto estará disposto a arriscar em favor de um alargamento do parâmetro do real, quando a maioria dos seus clientes desejar ficar na sua zona de conforto. Ou, o que é mais provável, terá de decidir o quanto de refinamento exigirá dos sentidos dos seus clientes, em uma época em que todos estamos brutalizados pelo excesso de estímulos. TROCANDO IDEIAS Certa ocasião, assisti ao comercial de uma empresa especializada em artefatos para churrasco. Já eram bem audíveis as demandas por igualdade entre os gêneros, e a empresa resolveu arriscar com o tema. No geral, não surpreendia: um grupo de mulheres, vegetais na grelha, e assim por diante. O inusitado é que, lá pelas tantas, aparecia uma moça delicada segurando um enorme saco de carvão. A mensagem era clara: igualdade de direitos requer igualdade de deveres. O autor da publicidade utilizou, propositalmente, uma dupla linguagem: enquanto afirmava a igualdade com os recursos mais óbvios, questionava sua validade com recursos mais sutis. A experiência trivial de assistir aquele comercial alargou minha realidade, pois demonstrou que ainda é possível ser criativo. Você lembra quando foi a última vez que assistiu a um comercial inteligente, daqueles que somente algumas pessoas entendem a mensagem? Compartilhe com seus colegas no Fórum! 24 NA PRÁTICA Procure imagens de luminárias sem ambientação, apenas a foto técnica, variando nos estilos. Em seguida, procure imagens que poderiam ser a ambientação daquela luminária. Veja o exemplo: Figura 13 – Luminária de pé Crédito: Krakenimages.com/Shutterstock. Figura 14 – Design de interior Crédito: vanitjan/Shutterstock. 25 Observe que a luminária tem um pé alto, ajuste de inclinação e não ilumina o teto. O objeto que ela deve iluminar estará abaixo, provavelmente um pouco deslocado. Por outro lado, a Figura 14 mostra uma poltrona confortável, acompanhada de uma estante com livros, mas sem luminária. Conforme o que você estudou nesta etapa, a luminária deve estar ao lado daquela poltrona. Repita o exercício quantas vezes forem necessárias, até se sentir seguro do raciocínio. Será importante para as próximas etapas. FINALIZANDO Nesta etapa, você aprendeu o valor de um bom repertório. Sugeri, a partir das minhas próprias experiências, que você pode adquirir repertório por meio da arte, dos jogos e das séries. Isso porque as emoções experimentadas na fantasia são reais.Assistindo, jogando, tocando algo ou ouvindo algum som, todos nós aprendemos um pouco mais sobre nós mesmos e, assim, aumentamos nossa realidade. Você também aprendeu que os produtos que criará devem ser ricos em significado, pois estarão abertos ao mundo, a uma série de interpretações que talvez você não possa prever. Como designer, você pode ser generoso e oferecer ao mundo novas experiências. 26 REFERÊNCIAS NASCIMENTO, S. F. Moda e linguagem: Nietzsche e Arbus, uma aproximação. Revista Dobras, 2014b. Disponível em: <https://dobras.emnuvens.com.br/dobras/article/view/39/39>. Acesso em: 24 abr. 2024. _____. O criador de roupas enquanto artista. Modapalavra, ano 7, n. 13, jan./jun. 2014a. Disponível em: <https://revistas.udesc.br/index.php/modapalavra/article/view/5127/3314>. Acesso em: 24 abr. 2024. _____. CAMPOS, J. L. Possibilidades artísticas a partir da obra de Diane Arbus. Temática, ano XII, n. 12. Dez./2016. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica>. Acesso em: 24 abr. 2024. RAMOS, F. B. Tropicália: gêneros, identidades, repertórios e linguagens. 1. ed. Porto Alegre: Educs, 2008. E-book. Disponível em: <https://plataforma.bvirtual.com.br>. Acesso em: 24 abr. 2024. SHLOSS, C. À margem: moda e dor na obra de Diane Arbus. In: BENSTOCK, S.; FERRISS, S. (Orgs.). Por dentro da moda. Tradução de Lúcia Olinto. Rio de Janeiro: Rocco, 2002. CONVERSA INICIAL CONTEXTUALIZANDO TEMA 1 – O REPERTÓRIO DO EMISSOR TEMA 2 – CONHECE-TE A TI MESMO TEMA 3 – UMA OBRA INACABADA À ESPERA DA SUA SIGNIFICAÇÃO TEMA 4 – ARTEFATOS SÃO CHAMADOS À EXISTÊNCIA POR DESEJOS TEMA 5 – ALARGANDO A REALIDADE DO CLIENTE TROCANDO IDEIAS NA PRÁTICA FINALIZANDO REFERÊNCIAS