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FICHAMENTO: Flávio Tartuce
DISCIPLINA: Direito Civil
DOCENTE: Gleiciane Rocha Amorim
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Sucessões. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
CAHALI, Francisco José. Inventário e Partilha. 6. ed. São Paulo: RT, 2007.
CARVALHO, Dimas Messias de; CARVALHO, Dimas Daniel de. Inventário e Partilha: Aspectos Práticos e Jurídicos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
OLIVEIRA, Euclides de; AMORIM, Sebastião. Inventário e Partilha. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
Tartuce Flávio Direito civil : direito das sucessões / Flávio Tartuce. – 16. ed. – [3. Reimp.] – Rio de Janeiro : Forense, 2023.
(Direito civil; 6)
VELOSO, Zeno. Direito Civil: Sucessões. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
O fichamento explora a complexidade do inventário no direito das sucessões, destacando sua importância na organização e distribuição dos bens após a morte de um indivíduo. Renomados doutrinadores, como Maria Helena Diniz, Zeno Veloso, Euclides de Oliveira, Sebastião Amorim, Francisco José Cahali, Dimas Messias de Carvalho e Dimas Daniel de Carvalho, abordam o inventário sob diversas perspectivas. O inventário judicial pode ser realizado pelo rito tradicional, arrolamento sumário e arrolamento comum, cada um com requisitos específicos, como a capacidade dos herdeiros e o valor dos bens. A Lei 11.441/2007 introduziu o inventário extrajudicial, uma alternativa mais rápida e econômica, adequada quando não há testamento ou herdeiros incapazes. A colação, doação inoficiosa e a partilha são aspectos cruciais para garantir a equidade entre os herdeiros. A inventariança e a legitimidade para abertura do inventário, assim como o pagamento das dívidas do falecido, são discutidos com enfoque nas responsabilidades legais e nos procedimentos estabelecidos pelo Código Civil e o Código de Processo Civil.
O inventário se configura como um procedimento jurídico de fundamental importância no ordenamento jurídico brasileiro, sobretudo quando se trata da sucessão de bens após a morte de um indivíduo. Para melhor compreensão do tema, este fichamento explorará o conceito de inventário sob diversas perspectivas, de acordo com as visões de renomados doutrinadores.
A ilustre jurista Maria Helena Diniz, ( 2005, p. 368) em sua obra clássica, define o inventário como um "processo judicial" previsto no Código Civil (art. 1.796) e no Código de Processo Civil (art. 982). Seu objetivo principal reside na "relação, descrição, avaliação e liquidação de todos os bens pertencentes ao de cujus ao tempo de sua morte, para distribuí-los entre seus sucessores" . 
Em consonância com a conceituação de Diniz, o saudoso Mestre Zeno Veloso ( 2008, p. 1.657) destaca os elementos basilares do inventário:
· Arrecadação: Reunião de todos os bens e direitos do falecido;
· Descrição: Detalhamento preciso de cada bem e direito;
· Avaliação: Determinação do valor monetário de cada item;
· Liquidação: Pagamento de dívidas e obrigações do falecido;
· Distribuição: Repartição dos bens líquidos entre os herdeiros, conforme a lei ou testamento.
Euclides de Oliveira e Sebastião Amorim (2009, p. 299), ressaltam as funções do inventário:
· Apuração dos bens: Determinação precisa do patrimônio deixado pelo falecido;
· Transferência legal: Atribuição formal dos bens aos herdeiros;
· Partilha extrajudicial: Possibilidade de realizar a divisão amigável dos bens, mesmo com a necessidade do inventário.
Francisco José Cahali (2007, p. 357). esclarece que o inventário funciona como o instrumento jurídico que concretiza a transferência da herança aos herdeiros, mesmo que, do ponto de vista jurídico, a transmissão dos bens já tenha ocorrido no momento do falecimento.
Dimas Messias de Carvalho e Dimas Daniel de Carvalho (2012, p. 215-216). apresentam uma visão contemporânea do inventário, reconhecendo sua importância não apenas como um procedimento judicial, mas também como um instrumento de organização patrimonial e familiar:
· Organização patrimonial: Permite a identificação, avaliação e gestão adequadas dos bens do falecido;
· Planejamento sucessório: Facilita o planejamento da sucessão e evita conflitos entre os herdeiros;
· Segurança jurídica: Garante a legitimidade da transferência dos bens aos herdeiros e previne litígios futuros.
O termo "inventário", com suas raízes no latim "inventarium", carrega em si a essência da busca, da descoberta e da organização. "Invenire", o verbo que o origina, traduz a ação de diligenciar, de promover, de encontrar aquilo que se oculta. E é justamente essa busca meticulosa que define o inventário em sua forma mais ampla.
Em sua forma mais restrita, o inventário assume a forma de um registro detalhado, um arrolamento preciso de bens ou valores. Cada item é meticulosamente anotado, identificado e quantificado, seja por seu preço de mercado ou por uma estimativa precisa. Essa lista exaustiva serve como um mapa do patrimônio, revelando a riqueza material de um indivíduo ou a abundância de recursos em um local específico.
No âmbito do direito das sucessões, o inventário adquire um significado ainda mais profundo. Ele se transforma em uma ação judicial solene, com o nobre objetivo de reunir todos os bens e direitos do falecido, sejam eles encontrados em seu poder no momento do falecimento ou sob a posse de terceiros. Essa meticulosa busca culmina na criação de um balanço completo, onde as obrigações e encargos do falecido também são mapeados. A partir desse retrato financeiro preciso, é possível determinar o montante a ser partilhado entre os herdeiros, reconhecendo seus direitos e legitimando a divisão justa da herança.
Com a promulgação da Lei 11.441/2007, o panorama dos inventários se viu transformado. A classificação tradicional deu lugar a uma divisão mais abrangente, categorizando-os em inventário judicial e extrajudicial.
Segundo os ensinamentos de Euclides de Oliveira e Sebastião Amorim (2009, p. 328-329) o inventário judicial se apresenta em três distintas modalidades, cada qual com suas características e aplicações:
1. Inventário Judicial pelo Rito Tradicional:
Também conhecido como inventário comum, essa modalidade encontra amparo nos artigos 610 a 658 do CPC/2015, herdeiros dos artigos 982 a 1.030 do CPC/1973. Sua aplicação se dá quando não há consenso entre os herdeiros ou quando há incapazes entre eles, exigindo a tutela do Estado para garantir a segurança e a justiça no processo.
2. Arrolamento Sumário:
Destinado a otimizar o tempo e os custos, o arrolamento sumário surge como uma alternativa célere, prevista no artigo 659 do CPC/2015 (antigo art. 1.031 do CPC/1973). Para sua viabilização, alguns requisitos devem ser cumpridos:
· Maioridade e Capacidade: Todos os herdeiros devem ser maiores de idade e capazes, ou seja, aptos a exercer seus direitos por conta própria.
· Bens de Qualquer Valor: A modalidade se aplica independentemente do valor dos bens do espólio, diferentemente do arrolamento comum, que impõe um limite.
3. Arrolamento Comum:
O arrolamento comum, agora disciplinado pelo artigo 664 do CPC/2015 (antigo art. 1.036 do CPC/1973), apresenta uma característica marcante: o valor do espólio não pode ultrapassar mil salários mínimos. Essa modalidade se adequa a situações específicas, onde a simplicidade e a celeridade se tornam prioridades.
· Inventário Judicial pelo Rito Tradicional: Caracterizado pela solenidade e pelo acompanhamento de um juiz, esse rito envolve diversas etapas, como abertura do inventário, nomeação do inventariante, avaliação dos bens, pagamento de dívidas e partilha. 
· Arrolamento Sumário: Mais célere e informal, o arrolamento sumário dispensa a nomeação de inventariante e a avaliação individualizada dos bens. A partilha se dá por acordo entre os herdeiros, sob a supervisão de um advogado e homologação judicial. 
· Arrolamento Comum: Semelhante ao arrolamento sumário, essa modalidade também prescinde de inventariante e avaliação individualizada dos bens. A partilha consensual entre os herdeiros, com assistência de advogado, é homologada por um juiz.
O inventário judicialpelo rito tradicional, também conhecido como inventário comum, é a modalidade mais utilizada para a partilha de bens após o falecimento de alguém. Regido pelo Código de Processo Civil (CPC), esse rito apresenta prazos específicos para sua abertura e encerramento, além de disposições sobre sua suspensão em situações excepcionais.
O artigo 611 do CPC estabelece os prazos basilares para o inventário judicial pelo rito tradicional:
· Abertura do Inventário: Deve ser requerida dentro de dois meses a contar da data do falecimento.
· Encerramento do Inventário: O processo completo, incluindo a partilha dos bens, deve ser finalizado no prazo de doze meses após a abertura do inventário.
Em casos excepcionais, o juiz pode prorrogar os prazos mencionados acima, seja de ofício (por iniciativa própria) ou a pedido de um dos interessados na herança. Essa flexibilidade visa garantir a justa resolução das pendências e evitar a aplicação de sanções em situações de força maior.
O inventário deve ser aberto dentro de dois meses a contar da data do falecimento, conforme previsto no artigo 611 do Código de Processo Civil (CPC).
EGITIMIDADE PARA ABERTURA DO INVENTÁRIO:
· Herdeiros e Cônjuge: Em regra, os herdeiros e o cônjuge sobrevivente são os legitimados para abrir o inventário.
· Credores: No caso de inércia dos herdeiros e do cônjuge, ou quando o falecido deixa dívidas, o credor também possui legitimidade para requerer a abertura do inventário, conforme o artigo 988, inciso VI, do CPC.
· Administrador Provisório: Na ausência de herdeiros, cônjuge ou inventariante nomeado, o juiz pode designar um administrador provisório para zelar pelos bens do espólio até a nomeação do inventariante definitivo.
INVENTARIANÇA: ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES:
· Conceito: A inventariança é o munus, o encargo de administrar o espólio e conduzir o inventário, conforme a legislação e as disposições testamentárias.
· Nomeação do Inventariante: O inventariante, responsável pela inventariança, é geralmente o cônjuge sobrevivente ou o herdeiro mais velho, conforme a ordem legal estabelecida no artigo 990 do CPC.
· Atribuições: O inventariante possui diversas atribuições, dentre elas: 
· Localização e Arrolamento dos Bens: Buscar e listar todos os bens do falecido, incluindo imóveis, veículos, contas bancárias, investimentos e outros.
· Pagamento de Dívidas: Quitar as dívidas do falecido com o dinheiro do espólio, observando a ordem de preferência legal.
· Apresentação do Inventário: Elaborar e apresentar ao juiz o inventário, que contém a relação detalhada dos bens, dívidas e herdeiros.
· Partilha dos Bens: Distribuir os bens do espólio entre os herdeiros, de acordo com a lei ou testamento.
· Responsabilidades: O inventariante responde por seus atos perante o juiz, os herdeiros e os credores do falecido. Essa responsabilidade pode ser civil, caso haja negligência ou má-fé na administração do espólio, ou criminal, em caso de fraude ou desvio de bens.
· Administrador Provisório:
· Função: O administrador provisório, nomeado pelo juiz na ausência de herdeiros, cônjuge ou inventariante definitivo, tem a função de zelar pelos bens do espólio até a nomeação do inventariante.
· Atribuições: As atribuições do administrador provisório são semelhantes às do inventariante, incluindo a guarda dos bens, o pagamento de despesas urgentes e a apresentação de relatórios ao juiz.
· Responsabilidade: O administrador provisório também responde por seus atos perante o juiz e os herdeiros do falecido.
O arrolamento comum, previsto nos artigos 664 e seguintes do Código de Processo Civil (CPC), surge como uma alternativa célere e simplificada para a partilha de bens quando o valor do espólio não supera mil salários mínimos. Comparado ao inventário tradicional, essa modalidade apresenta características e requisitos próprios.
O arrolamento comum se aplica exclusivamente quando o valor total dos bens do espólio for igual ou inferior a mil salários mínimos. Essa quantia, estabelecida no artigo 664 do CPC, serve como parâmetro para determinar a viabilidade dessa modalidade simplificada.
Para que o arrolamento comum seja cabível, além do limite de valor dos bens, alguns requisitos essenciais devem ser cumpridos:
· Herdeiros Capazes: Todos os herdeiros devem ser maiores de idade e capazes, ou seja, aptos a exercer seus direitos por conta própria.
· Acordo Inexistente: A modalidade não admite a existência de acordo entre os herdeiros sobre a partilha dos bens.
· Ausência de Inventário em Curso: Não pode haver outro inventário em andamento para o mesmo espólio.
O arrolamento comum se destaca pela simplicidade do seu rito processual, em comparação ao inventário tradicional. As principais características dessa modalidade incluem:
· Dispensabilidade de Termo de Compromisso: O inventariante não precisa assinar termo de compromisso, como ocorre no inventário tradicional.
· Atribuição de Valor dos Bens pelo Inventariante: Cabe ao inventariante apresentar, junto com suas declarações, a estimativa do valor de cada bem do espólio e o plano de partilha.
· Faculdade de Impugnação: As partes ou o Ministério Público podem impugnar a estimativa de valor dos bens, caso discordem. Nessa situação, o juiz nomeará um avaliador para emitir um laudo.
· Audiência de Partilha: O juiz designará uma audiência para deliberar sobre a partilha, decidindo sobre as reclamações e ordenando o pagamento das dívidas não impugnadas.
· Formalização em Termo Único: Lavrar-se-á um único termo, assinado pelo juiz, inventariante e partes presentes ou seus advogados.
o ordenamento jurídico brasileiro prevê diversas modalidades de inventário judicial, cada qual com suas características e aplicações específicas.
 INVENTÁRIO TRADICIONAL (OU COMUM):
· Modalidade mais utilizada: Aplica-se quando não há consenso entre os herdeiros ou quando há incapazes entre eles, exigindo a intervenção do Estado para garantir a segurança e a justiça no processo.
ARROLAMENTO SUMÁRIO:
· Modalidade célere e simplificada: Destinada a inventários com valor total dos bens do espólio inferior a mil salários mínimos.
ARROLAMENTO COMUM:
· Modalidade simplificada para inventários de menor valor: Aplica-se quando o valor total dos bens do espólio é igual ou inferior a mil salários mínimos, mas não há acordo entre os herdeiros sobre a partilha.
INVENTÁRIO ORFANOLÓGICO:
· Modalidade para inventários com herdeiros menores, incapazes, ausentes ou desconhecidos: Aplica-se quando há pelo menos um herdeiro nessa situação, exigindo a nomeação de um tutor ou curador para representá-lo.
INVENTÁRIO DE PROVEDORIA:
· Modalidade para inventários com testamento ou codicilo: Aplica-se quando o falecido deixou disposições testamentárias que precisam ser cumpridas.
· 
INVENTÁRIO DE MAIORES:
· Modalidade simplificada para inventários com herdeiros maiores e capazes: Aplica-se quando todos os herdeiros são maiores de idade e capazes, e não há testamento.
INVENTÁRIO CONJUNTO:
· Modalidade para inventários que abrangem mais de um espólio: Aplica-se quando há bens de diversos falecidos a serem partilhados no mesmo processo.
INVENTÁRIO NEGATIVO:
· Modalidade para inventários em que não há bens a serem partilhados: Aplica-se quando o falecido não deixou bens, mas há interesse em declarar a inexistência de patrimônio para fins jurídicos.
· 
O inventário extrajudicial, introduzido pela Lei 11.441/2007 e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) através da Resolução 35/2007, surge como uma alternativa célere, econômica e consensual para a partilha de bens do espólio. No entanto, dúvidas persistem sobre a viabilidade dessa modalidade em casos que envolvam nascituros.
· Art. 610 do CPC/2015: Dispõe que o inventário judicial se aplica quando há testamento ou interessado incapaz, não mencionando explicitamente o nascituro. 
· Art. 733 do CPC/2015: Permite o divórcio e a extinção da união estável extrajudicialmente, desde que não haja nascituro ou filhos incapazes. 
· Recomendação CNJ n. 22/2016: Estabelece que os tabelionatos de notas podem realizar inventáriosextrajudiciais, mesmo com a presença de filhos emancipados, mas não menciona o nascituro.
Embora a legislação não seja expressa sobre a presença de nascituro no inventário extrajudicial, a Recomendação CNJ n. 22/2016 busca suprir essa lacuna, permitindo a realização da modalidade mesmo com a existência de filhos em gestação.
DA PENA DE SONEGADOS
 Sonegados são os bens que deveriam ter sido inventariados ou trazidos à colação, sendo ocultados pelo inventariante ou por algum dos herdeiros.
sonegação de bens, prevista no art. 1.992 do Código Civil Brasileiro (CC), caracteriza-se pela ocultação dolosa de bens da herança por parte de um herdeiro, inventariante ou testamenteiro. Para a configuração da pena de sonegados, exigem-se dois elementos indissociáveis:
· Elemento Objetivo: A efetiva ocultação de bens do espólio, evidenciada pela ausência dos bens na descrição do inventário, omissão na colação ou recusa na restituição.
· Elemento Subjetivo: A intenção deliberada de prejudicar os demais herdeiros, caracterizada pelo dolo do sonegador, que age com má-fé e conhecimento da ilicitude do seu comportamento.
A sonegação de bens pode se manifestar de diversas formas, abrangendo diferentes condutas do sonegador:
· Ocultação de Bens no Inventário: Quando o herdeiro omite bens do espólio na descrição do inventário, mesmo ciente de sua existência e posse.
· Omissão na Colação: Na hipótese de o herdeiro receber doações em vida do falecido e não as trazer à colação no inventário, configurando sonegação.
· Negação da Restituição: Quando o herdeiro se recusa a restituir bens da herança que se encontram em seu poder, mesmo após a devida formalização da partilha.
sonegação de bens gera graves consequências jurídicas para o sonegador, previstas no art. 1.992 do CC:
· Perda do Direito sobre os Bens Sonegados: O herdeiro que sonegar bens perde automaticamente o direito à sua parte sobre os bens ocultados. Essa perda é definitiva e irreversível.
· Inclusão dos Bens Sonegados na Sobrepartilha: Os bens sonegados são reincorporados ao espólio e submetidos à sobrepartilha, beneficiando os demais herdeiros prejudicados pela ocultação.
· Indenização por Danos Causados: O sonegador pode ser responsabilizado por perdas e danos causados aos demais herdeiros em decorrência da sonegação.
O PAGAMENTO DAS DÍVIDAS
 O Código Civil e também o Código de Processo Civil preveem importantes regras quanto ao pagamento das dívidas do falecido, e que interessam diretamente ao inventário e à partilha.
No intrincado universo das sucessões, o pagamento das dívidas do falecido se configura como um capítulo crucial, exigindo atenção minuciosa e conhecimento das normas legais para garantir a justa aplicação do patrimônio e a proteção dos direitos de todas as partes envolvidas. Neste cenário, o Código Civil e o Código de Processo Civil (CPC) assumem papeis centrais, estabelecendo regras e procedimentos para a correta gestão das dívidas e sua relação com o inventário e a partilha.
· Art. 1.997 do Código Civil: Determina que a herança responde pelas dívidas do falecido, estabelecendo a responsabilidade do espólio por quitar os débitos. 
· Art. 796 do CPC: Reforça a responsabilidade do espólio pelas dívidas, mas prevê que, após a partilha, cada herdeiro responde pelas dívidas na proporção da parte que lhe coube na herança, limitando-se ao valor da herança recebida. 
· Art. 1.792 do Código Civil: Estabelece o princípio da responsabilidade limitada dos herdeiros, impedindo que respondam pelas dívidas do falecido com recursos além do que receberam na herança.
O CPC de 2015 trouxe alterações significativas em relação ao CPC de 1973 no que tange ao pagamento das dívidas do falecido:
· Art. 597 do CPC/1973: Utilizava a expressão "cada herdeiro responde por elas na proporção da parte que na herança lhe coube", sem mencionar a limitação da responsabilidade ao valor da herança recebida.
· Art. 796 do CPC/2015: Inclui a expressão "dentro das forças da herança", explicitando a limitação da responsabilidade dos herdeiros ao valor da herança recebida por cada um.
o intrincado universo das sucessões, a colação surge como um instrumento fundamental para garantir a justa partilha dos bens do falecido, promovendo a igualdade entre os herdeiros e assegurando o cumprimento das legítimas. Compreender os meandros da colação, seus requisitos e efeitos jurídicos é crucial para um inventário justo e transparente.
colação, prevista nos artigos 2.002 a 2.012 do Código Civil Brasileiro (CC) e nos artigos 639 a 641 do Código de Processo Civil (CPC), consiste na obrigação legal de determinados herdeiros de conferir ao espólio os bens doados pelo falecido em vida, a fim de igualar as legítimas dos herdeiros necessários.
Em outras palavras, a colação visa corrigir distorções na partilha causadas por doações realizadas pelo falecido em vida, assegurando que todos os herdeiros necessários recebam sua quota mínima legal (legítima) da herança.
A obrigação de colação recai sobre os herdeiros descendentes do falecido que concorrem à sucessão legítima e que receberam doações ou dotes do falecido em vida.
A colação pode ser realizada de duas maneiras:
· Colação real: O herdeiro colacionário entrega ao espólio o próprio bem doado.
· Colação fictícia: O herdeiro colacionário não entrega o bem doado, mas sim o seu valor, apurado em dinheiro à época da doação.
A colação deve ser realizada no momento da partilha dos bens, durante o inventário.
DOAÇÃO INOFICIOSA
A doação inoficiosa, prevista no art. 549 do Código Civil Brasileiro (CC), caracteriza-se pela transferência gratuita de bens pelo falecido em vida que ultrapasse a porção disponível (parte que o doador poderia dispor em testamento sem lesar a legítima dos herdeiros).
Para a configuração da doação inoficiosa, exigem-se três elementos indissociáveis:
· Doação: Transferência gratuita de um bem do doador para o donatário.
· Excesso da Parte Disponível: A doação deve exceder a quota que o doador poderia dispor em testamento sem prejudicar a legítima dos herdeiros.
· Prejuízo à Legítima: A doação deve comprometer a legítima dos herdeiros, ou seja, a parcela mínima da herança que por lei cabe a cada um deles.
DA PARTILHA 
Como é notório, a partilha é o instituto jurídico pelo qual cessam a indivisibilidade e a imobilidade da herança, uma vez que os bens são divididos entre os herdeiros do falecido.
A partilha, prevista nos artigos 2.013 a 2.022 do Código Civil Brasileiro (CC) e nos artigos 647 a 658 do Código de Processo Civil (CPC), caracteriza-se pelo ato jurídico que põe fim à indivisibilidade e à imobilização da herança, dividindo os bens entre os herdeiros de acordo com as quotas hereditárias a que cada um tem direito.
É importante destacar que a partilha possui natureza jurídica declaratória, não constitutiva. Isso significa que ela apenas reconhece e formaliza os direitos preexistentes dos herdeiros à herança, não os cria.
O direito à partilha é inerente aos herdeiros, sendo independente da vontade do testador. Ou seja, mesmo que o testamenteiro tenha disposto em testamento sobre a divisão da herança, os herdeiros podem livremente optar por realizar a partilha de acordo com as regras legais.
A partilha pode ser classificada em três tipos:
· Partilha Amigável (Extrajudicial): Realizada fora do âmbito judicial, por meio de acordo entre os herdeiros, com a assistência de um advogado. É a forma mais célere e econômica de partilha.
· Partilha Judicial: Realizada no âmbito judicial, por meio de um processo de inventário, quando não é possível chegar a um acordo amigável entre os herdeiros. É a forma mais complexa e demorada de partilha.
· Partilha em Vida: Realizada ainda em vida do falecido, com a sua anuência, através de doações ou outros atos jurídicos. É uma forma de antecipar a divisão da herança e evitar conflitos futuros.
partilha deve seguir as seguintes regras:
· Observância das Legítimas: A partilha deve garantir que cada herdeiro receba sua quota mínima legal (legítima), prevista no art. 1.846 do CC.
· Igualdade entre os Herdeiros:A partilha deve ser realizada de forma justa e equitativa, garantindo que todos os herdeiros recebam quotas proporcionais à sua ordem sucessória.
· Consideração das Disposições Testamentárias: As disposições testamentárias do falecido devem ser respeitadas, desde que não prejudiquem a legítima dos herdeiros.
· Avaliação dos Bens: Os bens do espólio devem ser avaliados por um perito, se necessário, para garantir a justa divisão dos valores.
· Formalização da Partilha: A partilha deve ser formalizada por meio de um termo de partilha, lavrado por um advogado ou por um tabelião.
O procedimento para partilha varia de acordo com o tipo de partilha escolhido:
· Partilha Amigável: Os herdeiros se reúnem com um advogado para elaborar o termo de partilha, que deve ser assinado por todos os envolvidos.
· Partilha Judicial: A partilha é realizada no âmbito de um processo de inventário, sob a condução do juiz.
PARTILHA EM VIDA
 Abordadas as regras sobre a partilha judicial, a última modalidade a ser estudada é a partilha em vida, que somente tem tratamento no Código Civil, e não no Código de Processo Civil.
A partilha em vida, prevista no Código Civil Brasileiro (CC) nos artigos 2.014 a 2.021, caracteriza-se pela divisão antecipada da herança, realizada pelo autor da herança (ascendente) em favor de seus herdeiros (descendentes), por meio de ato entre vivos (doação) ou de última vontade (testamento).
Para a validade da partilha em vida, alguns requisitos essenciais devem ser observados:
· Reserva da Legítima: A partilha em vida não pode prejudicar a legítima dos herdeiros, ou seja, a quota mínima legal que por lei cabe a cada um deles na herança.
· Tutela do Mínimo: O autor da herança deve reservar o mínimo necessário para sua própria sobrevivência e dignidade, de acordo com o art. 548 do CC.
· Disposição Detalhada dos Bens: O autor da herança deve especificar os bens e valores que compõem cada quinhão hereditário, evitando ambiguidades e conflitos futuros.
· Formalização por Escrita: A partilha em vida deve ser formalizada por escritura pública ou por testamento, garantindo sua validade jurídica.
GARANTIA DA EVICÇÃO
A evicção, prevista nos artigos 447 a 457 do Código Civil Brasileiro (CC), caracteriza-se pela perda de um bem em virtude de uma decisão judicial ou ato administrativo que o reconhece como propriedade de terceiro. Em outras palavras, o herdeiro que recebe um bem em partilha pode ser privado dele se for constatado que o verdadeiro dono é outra pessoa.
A garantia da evicção, por sua vez, está prevista no art. 2.024 do CC e impõe aos coerdeiros (herdeiros que dividem a herança) a obrigação recíproca de indenizar-se caso um dos bens aquinhoados seja objeto de evicção. Ou seja, se um herdeiro perder um bem por causa da evicção, os demais herdeiros são responsáveis por ressarci-lo pelos danos causados.
É importante distinguir a evicção dos vícios redibitórios, que se referem a defeitos ocultos do bem que o tornam impróprio para o uso a que se destina. A garantia contra vícios redibitórios se aplica apenas aos contratos comutativos, como compra e venda, e não à partilha em herança.
Para que a garantia da evicção seja aplicável, alguns requisitos devem ser observados:
· Evicção Real: Deve haver a perda efetiva do bem em virtude de uma decisão judicial ou ato administrativo.
· Boa-fé do Herdeiro Evicto: O herdeiro que perdeu o bem deve ter agido de boa-fé, sem conhecimento de que o bem não pertencia ao falecido.
· Notificação dos Coerdeiros: O herdeiro evicto deve notificar os demais herdeiros sobre a evicção para que estes possam exercer seu direito de defesa.
Em caso de evicção, os coerdeiros são responsáveis por indenizar o herdeiro evicto pelos seguintes valores:
· Valor do Bem Evicto: O valor do bem à época da evicção, acrescido de juros legais.
· Despesas com o Processo: As despesas com o processo judicial que resultou na evicção.
· Danos e Prejuízos: Outros danos e prejuízos comprovados que o herdeiro evicto tenha sofrido em decorrência da perda do bem.
DA ANULAÇÃO, DA RESCISÃO E DA NULIDADE DA PARTILHA
A anulação da partilha, prevista no art. 2.027 do Código Civil (CC) e no art. 657 do Código de Processo Civil (CPC), visa desconstituir a partilha já realizada, como se nunca tivesse existido. Isso ocorre quando a partilha foi realizada com vícios que a invalidam, como:
· Dolo: Engano deliberado de um dos herdeiros para prejudicar os demais.
· Coação: Uso de violência ou ameaça para forçar um herdeiro a aceitar a partilha.
· Erro Essencial: Engano sobre fato relevante que influenciou a decisão do herdeiro na partilha.
· Intervenção de Incapaz: Participação de um herdeiro incapaz na partilha, como um menor de idade ou um portador de deficiência mental.
O prazo para anulação da partilha é de um ano, contado a partir da data em que o herdeiro lesado tomou conhecimento do vício.
A rescisão da partilha, prevista no art. 1.030 do CPC, aplica-se à partilha judicial, ou seja, aquela realizada no âmbito de um processo de inventário. A rescisão ocorre quando a partilha foi realizada com descumprimento de formalidades legais ou quando prejudicou um herdeiro ou incluiu um que não tinha direito à herança.
O prazo para rescisão da partilha é de dois anos, contado a partir da data da homologação da partilha pelo juiz.
A nulidade da partilha é um caso mais extremo, previsto no art. 169 do CC, que ocorre quando a partilha foi realizada com violação de normas de ordem pública, como a falta de quinhão para um herdeiro necessário ou a doação de bens em excesso da parte disponível do falecido.
A nulidade da partilha é absoluta e insanável, podendo ser declarada a qualquer tempo por qualquer pessoa que tenha interesse.
A anulação, rescisão e nulidade da partilha se configuram como instrumentos jurídicos essenciais para garantir a justiça e a segurança na divisão da herança. Compreender as diferenças entre esses mecanismos, seus requisitos, prazos e efeitos é crucial para que herdeiros lesados possam buscar a reparação de seus direitos e garantir que a vontade do falecido seja respeitada de forma justa e equitativa.
 Conclui-se que o inventário é um procedimento essencial no direito das sucessões, garantindo a justa divisão dos bens do falecido entre os herdeiros. A análise das diferentes modalidades de inventário, seja judicial ou extrajudicial, revela a flexibilidade do ordenamento jurídico brasileiro em adaptar-se às necessidades e condições dos envolvidos. A legislação vigente, juntamente com as contribuições doutrinárias, proporciona um arcabouço jurídico robusto para assegurar a transparência e a equidade na partilha dos bens. A inventariança e o pagamento das dívidas do falecido são elementos que demandam rigorosa atenção para evitar litígios futuros e proteger os direitos dos herdeiros. A compreensão das nuances do inventário, colação e doação inoficiosa é vital para a aplicação eficiente do direito das sucessões, promovendo a harmonia e a organização patrimonial familiar.

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