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1 Disciplina: Fundamentos da Educação Especial Autores: M.e Ana Paula de Carvalho Revisão Conteúdos: Esp. Marcelo Alvino da Silva / D.ra Maria Tereza Costa Revisão Ortográfica: Jaqueline Morissugui Cardoso Ano: 2016 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Ana Paula de Carvalho Fundamentos da Educação Especial 1ª Edição 2016 Curitiba, PR Editora Sao Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA CARVALHO, Ana Paula de. Fundamentos da Educação Especial / Ana Paula de Carvalho – Curitiba, 2016. 59 p. Revisão de Conteúdos: Marcelo Alvino da Silva / Maria Tereza Costa. Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso. Material didático da disciplina de Fundamentos da Educação Especial – Faculdade São Braz (FSB), 2016. ISBN: 978-85-5475-022-0 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais, e grupos de estudos com alunos e tutores, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da disciplina Prezado aluno, seja bem-vindo à disciplina “Fundamentos da Educação Especial”. Essa temática é fundamental para a compreensão da Educação Especial nas suas fases históricas, destacando-se aspectos sociais e políticos, bem como os documentos legais e os diferentes conceitos que permeiam essa modalidade de ensino. O material foi elaborado a partir de assuntos selecionados especialmente para orientar sua aprendizagem. Para entender melhor o tema, busque bibliografias complementares e interaja com as mídias que o curso disponibiliza. No decorrer desta disciplina será abordada a Educação Especial e seus fundamentos por meio da análise de documentos legais e ações institucionais, buscando uma comparação entre os avanços da educação geral e da educação especial. É interessante notar que os conceitos que permeiam a educação especial não são cristalizados, dessa forma, serão apresentados diferentes pontos de vista ao analisar as políticas propostas para área. 6 Aula 1 – Evolução da Educação Especial no Brasil: componentes históricos, filosóficos e sociais Apresentação da Aula 1 Nesta aula serão evidenciados os principais fatos da história da Educação Especial no Brasil, bem como, os diferentes conceitos que permeiam essa modalidade de ensino nos distintos momentos históricos. Considerando os acontecimentos históricos e a evolução nos documentos que legislam sobre o assunto antes da aprovação da Constituição Federal de 1988. 1. História da Educação Especial no Brasil 1.1 Educação Especial no Período Imperial (1822-1889) Para demonstrar as considerações acerca da educação do Período Imperial, pode-se observar como ela foi descrita na primeira Constituição do Brasil (BRASIL, 1824): CONSTITUIÇÃO POLÍTICA DO IMPÉRIO DO BRAZIL DE 25 DE MARÇO DE 1824 Constituição Política do Império do Brasil, elaborada por um Conselho de Estado e outorgada pelo Imperador D. Pedro I, em 25.03.1824. Manda observar a Constituição Política do Império, oferecida e jurada por Sua Majestade o Imperador. TITULO 8º Das Disposições Geraes, e Garantias dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros. [...] Art. 8 Suspende-so o exercicio dos Direitos Politicos I- Por incapacidade physica, ou moral. [...] Art. 179 A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte. [...] XXXII- A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cidadãos; [...] Disponível na integra no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm 7 Vale reforçar que na supracitada Constituição, no Art. 179, a educação primária foi garantida aos “cidadãos”, sendo que dentre esses, devido ao entendimento no momento histórico, não estavam os negros escravizados, nem as mulheres, sendo ainda suspendido o exercício de direitos políticos “Por incapacidade physica, ou moral” (em seu Art. 8), o que era mais um fator que impossibilitava a participação de pessoas com deficiência nas instituições de “educação primária”. Pelo descaso do estado em relação ao público-alvo da Educação Especial, foram fundadas diversas instituições de caráter assistencial para o atendimento à esta demanda. Quanto ao atendimento voltado às pessoas com deficiência, no Período Imperial, não foram contempladas nada mais que poucas iniciativas isoladas. No Segundo Reinado, em 1854, Dom Pedro II fundou no Rio de Janeiro o “Imperial Instituto dos Meninos Cegos”, atualmente denominado “Instituto Benjamin Constant (IBC)”. Em 1857, foi fundado o “Imperial Instituto dos Surdos-Mudos”, igualmente no Rio de Janeiro (hoje designado “Instituto Nacional de Educação de Surdos” [INES]), sendo essas as primeiras instituições formadas no Brasil. Segundo Mazzotta (1996), essas ações particulares e isoladas atingiram apenas 0,22% da população de cegos e 0,15% dos surdos. Sobre as pessoas com deficiência intelectual, Jannuzzi (1992) explicita que o Período Imperial se caracterizou por uma sociedade rural e desescolarizada, silenciando sobre esses sujeitos, simplesmente, escondendo aqueles que mais se distinguiam. Assim, no Período Imperial notamos uma preocupação incipiente com a educação, na qual, basicamente, a educação especial foi vinculada a ações isoladas que nasceram desvinculadas da “educação primária” e atingiram um contingente muito pequeno da população. 8 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o livro Educação Especial no Brasil: História e Políticas Públicas, de autoria de Marcos J. S. Mazzotta. A obra aborda a história da educação especial, onde o autor analisa criticamente as várias medidas educacionais para essa população, traçando a evolução do atendimento educacional aos alunos com necessidades especiais no Brasil. 1.2 A educação especial após Período Imperial até a década de 1940 Antes da década de 30 percebe-se que a atenção voltada à educação é incipiente, pois assim como no Período Imperial, as ações continuaram descontinuadas. A exemplo disso, a Constituição Republicana (BRASIL, 1891), no que se refere à educação, era mais extensa do que a Constituição de 1824. Porém, a oferta de educaçãoprimária gratuita aos “cidadãos”, um direito que havia sido mencionado na Constituição de 1824, é “esquecida” nesse momento (JANNUZZI, 1992). CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 24 DE FEVEREIRO DE 1891 Nós, os representantes do povo brasileiro, reunidos em Congresso Constituinte, para organizar um regime livre e democrático, estabelecemos, decretamos e promulgamos a seguinte. [...] CAPÍTULO IV Das Atribuições do Congresso Art. 35 Incumbe, outrossim, ao Congresso, mas não privativamente: 2º) animar no País o desenvolvimento das letras, artes e ciências, bem como a imigração, a agricultura, a indústria e comércio, sem privilégios que tolham a ação dos Governos locais; 3º) criar instituições de ensino superior e secundário nos Estados; 4º) prover a instrução secundária no Distrito Federal (BRASIL, 1891). Disponível na integra no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao91.htm 9 Na década de 30, tem-se um momento historicamente relevante para a educação. Vieira (2008, p. 12) recorda que nessa década “[...] vários estados deflagram reformas (Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais)”. Ainda é importante mencionar que, em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, o primeiro passo dado em direção à criação do Ministério da Educação (MEC). Em meio ao movimento histórico da década, é aprovada a Constituição Federal, em 1934, a qual chega a estabelecer normas para a formulação do Plano Nacional de Educação. É importante lembrar que o primeiro Plano Nacional de Educação, no Brasil, só foi aprovado em 2001. Contudo, é relevante apontar que a ideia embrionária sobre a necessidade desse plano nasceu na Constituição de 1934. A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de Julho de 1934, trouxe avanços significativos para a educação, trazendo, inclusive, a ideia embrionária para a criação do Plano Nacional de Educação. Referente a Educação Especial a citada Constituição não previu atendimento para o público- alvo da educação especial. Essa Carta Magna evidencia novamente a necessidade do ensino primário gratuito, conforme trecho descrito a seguir: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 16 DE JULHO DE 1934 Nós, os representantes do povo brasileiro, pondo a nossa confiança em Deus, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para organizar um regime democrático, que assegure à Nação a unidade, a liberdade, a justiça e o bem-estar social e econômico, decretamos e promulgamos a seguinte CAPÍTULO II Da Educação e da Cultura Art. 150 - Compete à União: a) fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução, em todo o território do País; [...] Parágrafo único - O plano nacional de educação constante de lei federal, nos termos dos arts. 5º, nº XIV, e 39, nº 8, letras “a” e “e”, só se poderá renovar em prazos determinados, e obedecerá às seguintes normas: a) ensino primário integral gratuito e de frequência obrigatória extensivo aos adultos [...]. Disponível na integra no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm 10 Nessa Constituição não encontra-se nenhum tipo de previsão ao atendimento para o público da Educação Especial, sendo que esse contingente ficou à mercê das poucas ações filantrópicas existentes. Nas obras de Mazzotta (1996) e Bueno (1993) encontram-se a criação de 8 instituições filantrópicas para o atendimento às pessoas com deficiência no período, de 1920 a 1930. PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES CRIADAS ENTRE 1920 A 1930 Instituição Localidade Ano Instituto Pestalozzi Canoas-RS 1926 Instituto de Cegos Padre Chico São Paulo-SP 1928 Instituto Sodalício da Sacra Família Rio de Janeiro-RJ 1929 Instituto Santa Terezinha Campinas-SP 1929 Instituto Pestalozzi Minas Gerais-BH 1932 Instituto dos Cegos do Recife Recife-PE 1935 Fundação Dona Paulina de Queiroz São Paulo-SP 1936 Instituto dos Cegos da Bahia Salvador/BA 1936 Fonte: (BUENO, 1993 apud MAZZOTTA, 1996). Em detrimento aos avanços notados na Carta Magna de 1934, em 1937, é aprovada a Constituição dos Estados Unidos do Brasil. Para Vieira (2008) esse texto apresentou orientação oposta à Carta Magna liberal de 1934, pois foi claramente inspirado em regimes fascistas europeus. Essa ruptura é notada, principalmente, no art. 129, quando o ensino primário, apesar de ter sido considerado “obrigatório e gratuito”, apresenta um caráter de gratuidade parcial, pois seria exigida uma contribuição aos que quisessem cursar essa etapa e não pudessem alegar escassez de recursos. 11 Vieira (2008) explicita que a: “[...] ideia de gratuidade da Constituição de 1934 o texto de 1937 contrapõe uma concepção estreita e empobrecida [...]” na qual a “[...] educação gratuita é, pois, a educação dos pobres” (VIEIRA, 2008, p. 14). No ano de 1946, tem-se a aprovação de nova Constituição, o “espírito” da Carta Maior de 1934 parece ser retomado, conforme pode-se notar nos trechos transcritos a seguir: CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 18 DE SETEMBRO DE 1946 CAPÍTULO II Da Educação e da Cultura Art. 166 - A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola. Deve inspirar-se nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana. [...] Art 168 - A legislação do ensino adotará os seguintes princípios: I - o ensino primário é obrigatório e só será dado na língua nacional; [...] Art 169 - Anualmente, a União aplicará nunca menos de dez por cento, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenção e desenvolvimento do ensino. [...] Art 172 - Cada sistema de ensino terá obrigatoriamente serviços de assistência educacional que assegurem aos alunos necessitados condições de eficiência escolar. Disponível na integra no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao46.htm Para Carvalho (2007) a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de Setembro de 1946, por meio da aprovação de seu artigo 172, transcrito acima, menciona a necessidade de condições de eficiência escolar aos “necessitados”. Embora sem deixar claro o sentido dos “necessitados”, nem à que assistência se refere, pode-se dizer que já havia a preocupação com a diferença. Havia também a compreensão de que o sistema educacional não pode ficar alheio à problemática de seus alunos. Uma ideia embrionária, talvez, do que hoje, mais de meio século depois, defendemos como a resposta educativa da escola, em atenção à diversidade (CARVALHO, 2007, p.88). 12 Para Refletir Será que ao utilizar o termo “necessitados”, os legisladores, em 1946, já pensavam em uma possível inclusão de alunos que tinham algum tipo de Necessidade Educacional Especial? Ou será que eles se referiam às necessidades de alunos em situação econômica desfavorável? De qualquer forma, já havia algum tipo de preocupação com o diferente, com o aluno que estava fora dos padrões esperados. Sousa e Prieto (2002, p. 129), também pesquisadoras da área, ao se remeterem à citação de Carvalho (2007) reproduzida acima, destacam que, no Art. 172 da Carta Constitucional de 1946, não se contemplou, precisamente, o direito à educação especial. O Art. 166, retoma a educação como direito de todos, porém não cita a necessidade da sua gratuidade. Na Constituição de 1946, no Art. 169, ficaram determinadas especificações sobre como deve ocorrer o financiamento da educação. Esse direcionamento de recursos também estava previsto na Constituiçãoaprovada em 1934. Note-se que na Constituição de 1937 não foram explicitados mecanismos de financiamento da educação. Nesse sentido, enquanto há indícios normativos da luta pelo financiamento da educação pública no Brasil, havendo oscilação quanto à verba destinada à educação entre definições mais e menos nítidas, o atendimento às pessoas com deficiência ocorreu até esse período, principalmente, por ações ligadas à filantropia, sendo que na década de 40 foram criadas, aproximadamente, 11 instituições com esse caráter. 13 PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES CRIADAS NA DÉCADA DE 40 Instituição Localidade Ano Instituto dos Cegos de são Rafael Taubaté/SP 1940 Instituto dos Cegos de Santa Luzia Porto Alegre/RS 1941 Lar-Escola São Francisco São Paulo/SP 1943 Instituto dos Cegos do Ceará Fortaleza/CE 1943 Instituto Paranaense dos Cegos Curitiba/PR 1944 Instituto dos Cegos da Paraíba João Pessoa/PB 1944 Instituto Pestalozzi Rio de Janeiro/RJ 1945 Instituição Beneficente Nosso Lar São Paulo/SP 1946 Instituto Santa Inês Belo Horizonte/MG 1947 Instituto dos Cegos do Brasil Central Uberaba/MG 1948 Instituto dos cegos de Lins São Paulo/SP 1948 Fonte: (BUENO, 1993 apud MAZZOTTA, 1996). É importante notar que na década de 40, foram, sobretudo, as instituições filantrópicas que acolheram o público-alvo da Educação Especial. A educação primária legislada nas Constituições brasileiras silencia a respeito desses sujeitos que eram muitas vezes “escondidos” nos ambientes que os acolhiam. Bueno (1993), reforça que esse avanço apartado da Educação Comum e da Educação Especial contribuiu para que a Educação Especial se situasse no campo da benemerência e da caridade e não do direito à educação. Converse Com Seus Colegas Como foi possível perceber a Educação Especial já nasceu enraizada às ações filantrópicas e assistenciais. Discuta com seus colegas o impacto desse histórico nas características atuais da Educação Especial. 14 1.3 A Educação Especial nas décadas de 50 a 70 no Brasil A década de 50 é um marco para a educação especial, pois foi nessa década que foram tomadas as primeiras iniciativas oficiais nacionais referentes à educação das pessoas com deficiência (MAZZOTTA, 1996). De acordo com Mazzotta (1996), as primeiras iniciativas oficiais, derivaram da ocorrência de Campanhas que foram oficializadas por decretos federais, sendo que ocorreu, em 1957, a “Campanha para a Educação do Surdo Brasileiro (CESB)”. Essa Campanha surgiu por meio das influências do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), que foi inaugurado no Brasil Imperial como já vimos anteriormente. No ano seguinte emergiu, vinculada ao Instituto Benjamin Constant (IBC), a “Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes da Visão”. Depois de um ano essa desvinculou-se do IBC e foi oficializada pelo Decreto nº 44.236, de 31 de maio de 1960, passando a se chamar “Campanha Nacional de Educação dos Cegos (CNEC)”. No mesmo ano da oficialização da Campanha dos cegos, foi organizada, nas gestões da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e Pestalozzi, a “Campanha Nacional da Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais (Cademe)”, também oficializada por decreto (MAZZOTTA, 1996, p. 49-53). Essas Campanhas foram as primeiras iniciativas oficiais na tentativa de ampliação do atendimento às pessoas com deficiência, mas: “[...] foram perdendo força, por conta de seu caráter filantrópico e pela pouca abrangência que tiveram. Em 1963, foram extintas pelo Governo Federal” (ROMERO; NOMA, 2005, p.3). Por não se constituírem como uma prioridade governamental, essas campanhas não conseguiram expandir os atendimentos às pessoas com deficiência pelo viés público, havendo significativa participação das instituições filantrópicas que assumiram esse papel por haver negligência do Estado (enquanto União, Estados, Distrito Federal e Munícipios, que são os garantidores de direitos básicos a todos os cidadãos), no atendimento das pessoas com deficiência. 15 Permanecendo a necessidade da sociedade civil mobilizada atender os alunos com deficiências em instituições filantrópicas, de 1950 a 1957, de acordo com os registros de Mazzotta (1996) e Bueno (1993) foram criadas cerca de sete instituições com esse caráter. PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES CRIADAS ENTRE 1950 A 1957 Instituição Localidade Ano Associação de Assistência à Criança Defeituosa – AACD São Paulo/SP 1950 Escola Epheta Curitiba/PR 1950 Instituto Pestalozzi de São Paulo São Paulo/SP 1952 Escola Luiz Braille Pelotas/RS 1952 Assoc. de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) Rio de Janeiro/RJ 1954 Assoc. Bras. Benef. de Reabilitação Rio de Janeiro/RJ 1954 Instituto Educacional São Paulo São Paulo/SP 1954 Fonte: (BUENO, 1993 apud MAZZOTTA, 1996). Em 1961, foi homologada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 4.024/61, e pela primeira vez na história do Brasil, a Educação Especial foi mencionada de forma objetiva em um documento legal. Essa Lei ficou em tramitação por 13 anos. Para Vieira (2008), as polêmicas que levaram à uma aprovação morosa da mesma, influenciaram seu texto, que se caracterizou “conciliatório” e propenso aos interesses privados, em detrimento da defesa de uma educação pública. 16 LEI Nº 4.024, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1961 Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. TÍTULO II Da Direito à Educação Art. 2º - A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola TÍTULO X Da Educação de Excepcionais Art. 88 - A educação de excepcionais, deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade; Art. 89 - Toda iniciativa privada considerada eficiente pelos conselhos estaduais de educação, e relativa à educação de excepcionais, receberá dos poderes públicos tratamento especial mediante bolsas de estudo, empréstimos e subvenções Disponível no acesso: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L4024.htm No Art. 2º, quando o “lar” é citado antes que a “escola”, percebe-se que a Lei nº 4.024/61 prevê a educação como um direito, mas que deve ser garantido em primeira instância pela família, depois pelo Estado. Também é notável que o ensino gratuito de caráter público para todos não é citado nessa Lei. Contudo, o avanço no que condiz à educação especial é notável. No Art. 88, pela primeira vez em documento legal, é demonstrada, em âmbito nacional, uma preocupação mais objetiva com a educação especial. No art. 89 da Lei supracitada, está previsto “tratamento especial, mediante bolsas de estudos, empréstimos e subvenções” às iniciativas privadas consideradas eficientes pelos conselhos estaduais de educação. Para Mazzotta (1996), não há uma definição da natureza dos serviços educacionais prestados pela iniciativa privada, nem mesmo estava previsto se os tais serviços deveriam se caracterizar como escolares. Além disso, o Art. 89, parece ter incentivado a ampliação de instituições filantrópicas e assistenciais para o atendimento aos alunos “excepcionais”, contribuindo para que o Estado nacional, enquanto propositor e financiador de políticas públicas de educação, se isentasse consideravelmente nesse campo. Em 1967, foi aprovada a Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1967). Apesar dessa Constituição ter sido aprovada no Período Militar, a mesma “[...] foi concebida num cenário em que a supressão das liberdades 17 políticas ainda não atingira seu estágio mais agudo” (VIEIRA, 2008a, p. 17). Assim, ao tratar da educação não houve uma ruptura com avanços anteriores, conforme pode-se notar no trecho transcrito a seguir: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1967 O Congresso Nacional, invocando a proteçãode Deus, decreta e promulga a seguinte CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. TÍTULO IV Da Família, da Educação e da Cultura Art. 168 - A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola; assegurada a igualdade de oportunidade, deve inspirar-se no princípio da unidade nacional e nos ideais de liberdade e de solidariedade humana. Disponível na integra no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao67.htm Note que a previsão no tocante à educação é muito similar a constante na Constituição de 1946. Sobre a educação especial, a Constituição de 1967, silenciou sobre os avanços já contidos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, aprovada em 1961. Em 1971, foi aprovada a Lei nº 5.692 e a educação especial é abordada nessa Lei. LEI Nº 5.692, DE 11 DE AGOSTO DE 1971 Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências CAPÍTULO I Do Ensino de 1º e 2º graus. Art. 9º - Os alunos que apresentem deficiências físicas ou mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de Educação. Disponível na integra no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao67.htm 18 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, promulgada em 1971, não trouxe avanços quando comparada à aprovada em 1961, pois na anterior havia uma previsão da integração do aluno, enquanto que na Lei de 1971, não há nenhuma especificação do “tratamento especial” a ser ofertado. Curiosidade É importante notar que na Lei nº 5.692/71 o público-alvo da Educação Especial fica previsto de forma confusa, pois, no Art. 9º, só são contemplados os alunos que apresentam “deficiência físicas ou mentais”. Conforme salienta Sousa e Prieto (2002) o entendimento na época foi de que os alunos com deficiências auditiva e visual estariam contemplados no categoria “deficiência física”, equivoco superado em legislações aprovadas posteriormente. É importante mencionar que após o período das campanhas citadas anteriormente, em 1971, por meio da Portaria nº 86, foi criado um “Grupo Tarefa” vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. Esse grupo teve como responsabilidade estudar a problemática da educação especial e trouxe ao Brasil o especialista norte americano James Gallagher que apresentou um relatório de estudos (MAZZOTTA, 1996). O relatório do especialista estrangeiro e estudos do Grupo Tarefa contribuíram para que o Centro Nacional de Educação Especial (Cenesp) fosse criado, em 1973, sendo um marco importante na história da Educação Especial no Brasil. A criação desse Centro se deu por incentivo de um relatório elaborado por James Gallagher e, logo após sua criação, o Cenesp elaborou suas diretrizes. Posteriormente, em 1986, por meio do Decreto nº 93.613, o Cenesp foi transformado em Secretaria de Educação Especial (Sesp), sendo que a Sesp manteve basicamente a estrutura do referido Centro. No mesmo ano foi instituída a Coordenadoria Nacional para a Integração das Pessoas Portadoras de Deficiência (Corde). A história é importante para explicar, sobretudo, o porquê que até recentemente a Educação Especial é ainda vista como uma modalidade de ensino apartada da educação de forma geral. Denotada pelo descaso 19 governamental, já nasceu de movimentos sociais filantrópicos e assistenciais que buscaram abarcar uma função que, ao nosso ver, seria do Estado, uma vez que no caso das pessoas sem deficiência, a educação já tem indícios da necessidade de gratuidade no período do Brasil Imperial. Resumo da Aula 1 Nesta aula, apresentou-se a história da Educação Especial anterior à aprovação da Constituição Federal de 1988 e da LDB/ 96. No Brasil Imperial notou-se uma preocupação incipiente com a educação de forma geral, sobre a educação especial foram descritas ações muito particulares que atingiram um contingente ínfimo da população. Nas décadas de 1930 e 1940, apesar dos movimentos em prol da educação, a abrangência do atendimento ao público da educação especial esteve delegada a ações filantrópicas. Na década de 1950, temos o início das Campanhas, primeiras ações oficiais registradas em prol dos alunos público-alvo da educação especial. Na LDB/61, pela primeira vez, a educação especial é citada de forma objetiva, contudo a LDB/71 não traz contribuições significativas para a área. Em 1973, há outro marco para a área, a criação Centro Nacional de Educação Especial (Cenesp). Observamos, com base nos fatos históricos, que as ações do Estado são diferentes quando tratamos da educação de forma geral e quando sinalizamos a educação especial, sendo que nessa área específica foi a sociedade civil mobilizada que, por meio da criação de instituição filantrópica, atendeu esse contingente da população. 20 Atividade de Aprendizagem Busque no texto uma ou duas das instituições filantrópicas criadas no período estudado e pesquise se elas estão em funcionamento. Pesquise se atualmente elas contam com investimento governamental. Procure instituições públicas que contam com ações inclusivas ofertando Atendimento Educacional Especializado (AEE) para alunos público-alvo da educação especial na mesma localidade da instituição que você escolheu e discorra sobre o tema. Aula 2 – Educação Especial: da Constituição Federal (1988) à Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996) Apresentação Aula 2 Nesta aula o foco será a Constituição Federal de 1988, tendo em vista a importância dessa Carta Magna para a educação de forma geral, bem como para a educação especial. Nesta aula também serão apresentados conteúdos concernentes à Declaração de Jomtien (1990), Declaração de Salamanca (1994), Política Nacional de Educação Especial (1994) e sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada em 1996. 2. Educação Especial a partir da Constituição Cidadã 2.1 A educação especial na Constituição Cidadã A Constituição Federal de 1988 (CF/88), também conhecida como Constituição Cidadã, configura-se como um marco importante para a educação, apresentando 10 artigos específicos sobre o tema (art. 205 - 214). Vieira (2008) menciona que a CF/88 expressa, no art. 206, inciso I, o princípio da “[...] igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”. Em comparação com as Constituições anteriores, é possível mencionar que nenhuma havia avançado tanto quanto a CF/88. 21 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem- estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. CAPÍTULO III DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO Seção I Da Educação [...] Art. 208 - O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; [...] III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino [...] § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. [...] Disponível na integra no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htmDentre os avanços da CF/88, destaca-se que quando da sua aprovação, o ensino fundamental, enquanto etapa obrigatória (Art. 208, Inciso I) foi previsto como “direito público subjetivo” (art. 208, Parágrafo 1º). A Constituição Federal, aprovada em 1988, foi um marco na garantia dos direitos à educação, inclusive para os alunos com deficiência. O ensino obrigatório e subjetivo, atualmente, é garantido por Emenda Constitucional para a educação básica, e a sua aprovação (Emenda Constitucional nº 59, de 2009), ampliou-se os anos de educação obrigatória, passando a ser obrigatória e gratuita toda a educação básica. A Constituição supracitada também foi um marco para a educação especial, pois na mesma “[...] lograram-se para as pessoas com deficiência, em grande medida, garantias de acesso aos direitos em condições igualitárias aos demais indivíduos” (ROMERO; NOMA, 2005). Contudo, é importante salientar que a Constituição se refere somente às pessoas com deficiência, não se remetendo às pessoas com altas habilidades 22 ou superdotação ou com transtornos globais do desenvolvimento. Apesar de garantir o ensino público e gratuito como direito subjetivo, explicita que o AEE, no caso dos alunos com deficiência, deve acontecer preferencialmente na rede regular, deixando uma brecha para que o mesmo ocorra em espaços não públicos e evidenciando mais uma vez a “timidez” do Estado para assumir a educação destes alunos. Para Refletir Sendo o ensino fundamental e, posteriormente, a educação básica, direito subjetivo aprovado na Constituição Federal de 1988, não é contraditório pensar que no caso dos alunos público-alvo da educação especial há um termo “preferencialmente” que pode vir a intrincar as possibilidades de acesso do aluno com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) na rede regular de ensino que tem oferta pública garantida? 2.2 A educação especial e a década de 90 A partir da década de 90, assim como observa Mazzotta (1996) por meio da análise de textos legais do período, há uma tendência nas ações estatais para a integração do público atendido pela Educação Especial na rede regular de ensino. Destaca-se que no período houve a extinção da Secretaria de Educação Especial (SESP) que ocorreu em 1990, sendo que a mesma passou, neste ano, suas atividades para a Secretaria Nacional de Educação Básica (SENEB). A SENEB, buscando contemplar as ações de educação especial, incluiu como um de seus órgãos o Departamento de Educação Supletiva e Especial (DESE). Mazzotta (1996) apresenta em seu estudo as atribuições do SENEB e do DESE, percebendo que em meio às atribuições do SENEB há ações incisivas, como: sugerir; zelar pelo cumprimento; 23 criar; produzir elaborar. As ações que cabiam ao DESE eram bem menos incisivas, como: subsidiar; apoiar; viabilizar; fomentar; propor; contribuir. Ainda em 1990, foi elaborado pelo DESE um documento intitulado Proposta do Grupo de Trabalho Instituído pela Portaria nº 6 de 22 de agosto de 1990. Mazzotta (1996) explicita que este documento oficial prevê, pela primeira vez, que o MEC encare a educação especial inserida no contexto de educação para todos. Reconheceu-se na mesma, art. 58, a educação especial como uma “[...] modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1996a). “Nesta definição já fica patente que a LDB/96 não trata a educação especial à parte da escola comum, entretanto também não garante que a mesma ocorra neste espaço. (CARVALHO, 2012, p. 35). 2.2.1 Conferência de Jomtien Não por acaso o MEC, em 1990, passou a considerar a educação especial no contexto da educação para todos. Nesse sentido, é interessante considerar que a inserção da educação especial nesse contexto tem uma relação com o fato de o Brasil ter sido consignatário da Conferência Mundial Sobre Educação Para Todos, realizada em Jomtien (Tailândia), em março de 1990. Observe fragmento da Declaração dessa Conferência transcrito a seguir: 24 DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA TODOS CONFERÊNCIA DE JOMTIEN – 1990 PLANO DE AÇÃO PARA SATISFAZER AS NECESSIDADES BÁSICAS DE APRENDIZAGEM. ARTIGO 3 UNIVERZALIZAR O ACESSO À EDUCAÇÃO E PROMOVER A EQUIDADE [...] Da Educação [...] 5. As necessidades básicas de aprendizagem das pessoas portadoras de deficiências requerem atenção especial. É preciso tomar medidas que garantam a igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo de deficiência, como parte integrante do sistema educativo. [...] Disponível na integra no acesso: http://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10230.htm No item transcrito acima outorgou-se a necessidade do acesso à educação às pessoas com “todo e qualquer tipo de deficiência”, definindo-se, inclusive, que essa ação deve ocorrer “como parte integrante do sistema educativo”. Para Moreira (2014) a Declaração de Jomtien, apesar de ser “bastante ampla e generalista”, objetivou garantir o direito à educação especial e responsabilizar as autoridades dos países signatários por essa tarefa. Entendemos que, dessa forma, a citada Declaração impulsionou uma série de ações que, apesar de limitadas, trouxeram avanços na educação especial, no Brasil, na década de 1990. Curiosidade Em 1992, a Secretaria de Educação Especial (SEESP) foi reativada contribuindo para que, em 1994, fosse aprovada a primeira Política de Nacional de Educação Especial (BRASIL, 1994). 25 2.2.2 Política Nacional de Educação Especial (1994) Nesse sentido, em 1992, ano em que o Ministério da Educação e Cultura passou a ser Ministério da Educação e do Desporto (somente em 1995, o MEC passou a ser Ministério da Educação), a Secretaria de Educação Especial (SEESP) é reativada. Essa ação contribuiu para que a Política Nacional de Educação Especial fosse aprovada em 1994, sendo que esse documento teve como objetivo geral fundamentar e orientar o: [...] processo global da educação de pessoas portadoras de deficiências, de condutas típicas e de altas habilidades, criando condições adequadas para o desenvolvimento pleno de suas potencialidades, com vistas ao exercício consciente da cidadania (BRASIL, 1994, p. 45). Na Política de Nacional Educação Especial, aprovada em 1994, a definição do processo de integração que está assim expressa. Processo gradual e dinâmico, que pode tomar distintas formas de acordo com as necessidades e habilidades dos alunos. A integração educativa-escolar refere-se ao processo de educar- ensinar, no mesmo grupo, a crianças com e sem necessidades educativas especiais, durante uma parte ou na totalidade do tempo de permanência na escola (BRASIL, 1994, p. 18). Na mesma Política, há outra definição do processo de integração, constante em seus “Fundamentos Axiológicos”. Do ponto de vista operacional, o ideal da integração ocorre em níveis progressivos desde a aproximação física, incluindo a funcional e a social, até a instrucional (frequência à classe de ensino comum) (BRASIL, 1994, p. 38 e 39). Vocabula rio Axiológico: é tudo aquilo que se refere a um conceito de valor ou que constitui uma axiologia, isto é, os valores predominantes em uma determinada sociedade. De acordo com a perspectiva expressa, a integração se caracteriza como um “processo gradativo” que oportunizaria a participação dos alunos na escola regular. Contudo, parece que esses alunos só ingressariam na escolar regular 26 ao atingirem determinados níveis de aprendizagem. Nesse sentido, concordamos com a definição de integração expressa a seguir: [...] seriam integrados na educação básica aqueles sujeitos com diagnósticos de deficiências, altas habilidades e condutas típicas que conseguissem atingir níveis de desenvolvimento e condutas adequadas aosprocessos educacionais da escola regular. E aqueles que não obtivessem esses mesmos desempenhos não seriam integrados. Essa foi uma compreensão que se popularizou no meio educacional brasileiro, não sem polêmica [...] (GARCIA, 2004, p. 83). O conceito de “integração”, como afirma a mesma autora, parece não ter alcançado, em 1994, o conceito de “inclusão” difundido por documentos como a já citada “Declaração Mundial de Educação para Todos” (1990). 2.2.3 Declaração de Salamanca Em 1994, seguindo a linha da Declaração de Jomtien, é aprovada, na Espanha, a Declaração de Salamanca, na qual o Brasil também foi signatário. Essa Declaração teve como princípio orientador a consideração de que as escolas devem acolher todas as crianças, sendo, inclusive, mais incisiva que a Declaração de Jomtien. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA (1994) Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais. ARTIGO 3 ESTRUTURA DE AÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL [...] 5. O princípio que orienta esta Estrutura é o de que escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Aquelas deveriam incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos desavantajados ou marginalizados. Tais condições geram uma variedade de diferentes desafios aos sistemas escolares. [...] Disponível na integra no acesso: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf 27 Observe que o conceito de inclusão outorgado na Declaração de Salamanca se difere do conceito de integração delineado na Política Nacional de Educação Especial, aprovada no mesmo ano, pois, na citada Declaração compreende-se que todos, independentemente das suas condições, devem ser incluídos em escolas regulares. 2.2.4 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional dá continuidade à atenção política destinada à educação, na década de 1990. Em 1996, buscando desdobrar as previsões legais da Constituição Federal de 1988 (CF/88), foi homologada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/96). Vale reforçar que a CF/88 trouxe avanços significativos para a educação, inclusive para a educação especial. É interessante notar, que o Capítulo sobre educação aprovado na CF/88 é o mais extenso quando comparamos com as constituições brasileiras anteriores. Essa valorização da educação, constante na CF/88, abriu caminhos para que uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional fosse discutida. Mas, somente oito anos após a promulgação da CF/88, foi homologada a LDB/96, Lei nº 9.394, que ainda está em vigência, mas com ajustes conforme a Lei 12.796/13, de 04 de abril de 2013. Em linhas gerais, a LDB/96: Trata-se de um texto de 92 artigos, que apresenta os princípios, fins, direitos e deveres (arts. 1º a 7º); dispositivos sobre a organização da educação nacional, aí incluindo as incumbências das diferentes esferas do Poder Público (arts. 8º a 20); níveis e modalidades de ensino – educação básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) e Educação Superior, Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional (arts. 21 a 60); Profissionais da Educação (arts. 61 a 67); Recursos Financeiros (arts. 68 a 77); Disposições Gerais (arts. 78 a 86); e Disposições Transitórias (arts. 87 a 92). (VIEIRA, 2008, p. 20). 28 Saiba Mais De acordo com o expresso na LDB/96, a educação escolar no Brasil é composta por dois níveis de ensino, sendo eles: a educação básica e o ensino superior. A educação básica compreende três etapas: a educação infantil (atende crianças com até cinco anos), o ensino fundamental (atende alunos de seis a 14 anos) e o ensino médio (atende alunos de 15 a 17 anos). As modalidades de ensino permeiam os níveis supracitados, sendo elas: educação especial, educação de jovens e adultos e educação profissional. Vale-se destacar alguns trechos da LDB/96: LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. [...] TÍTULO III Do Direito à Educação e do Dever de Educar Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade Art. 5º O acesso à educação básica obrigatória é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo. TÍTULO V Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino CAPÍTULO V Da Educação Especial [...] Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. § 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. [...] Disponível na integra no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm 29 Vale destacar que o texto anterior do Art. 58 era: “Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”. Nota-se que, no Art. 4º, da LDB/96, transcrito acima, a educação básica fica assegurada, em acordo com a CF/88, como obrigatória. No Art. 5º, também corroborando com o já previsto na CF/88, detalha-se a necessidade do ensino obrigatório ser um direito subjetivo. É importante elucidar que, conforme nos indica Moreira (2014), a LDB/96 foi aprovada em um contexto político neoliberal. Nesse sentido as Declarações de Salamanca e Jomtien, mencionadas anteriormente, também exerceram influência na promulgação dessa Lei. Nesse sentido, observe que na LDB/96 dedicou-se um Capítulo exclusivo para a educação especial. Para Ferreira (1998, p. 1) “[...] um capítulo exclusivo para a educação especial parece relevante para uma área tão pouco contemplada, historicamente, no conjunto das políticas públicas brasileiras”. Ferreira (1998), ao discutir a LDB/96, se atenta ao fato de que, tendo em vista que há um Capítulo que só trata da educação especial, são comuns preocupações com o caráter discriminador de normas específicas, mas: [...] que a referência específica [à educação especial] em uma lei geral da educação, mesmo que não fosse na forma de capítulo, ainda é importante em nosso país, onde o acesso à educação das pessoas com deficiência é escasso e revestido de caráter de concessão e do assistencialismo (FERREIRA, 1998, p. 1). É interessante observar que no Art. 58, transcrito acima, a educação especial é reconhecida como uma “modalidade de educação escolar” e que sua oferta deveria ocorrer “preferencialmente na rede regular de ensino”. Ferreira (1998), expressa sua opinião, mencionando a importância das definições mais especificas de Educação Especial como importante no contexto brasileiro. Nessa definição fica patente que na LDB/96 a Educação Especial não está a parte da escola regular. Entretanto, a mesma Lei, ao utilizaro termo “preferencialmente”, parece alertar que a prioridade do local para a oferta da Educação Especial é a escola comum. 30 Carvalho (2007, p. 92), afirma que em quaisquer conceituações sobre o verbo preferir, “[...] subentende-se que há uma escolha”, abrindo precedente para que a educação especial continue ocorrendo em espaços diferentes, como nas instituições de caráter filantrópico e assistencial que se estabeleceram historicamente no Brasil. Sobre o Parágrafo (§) 1º, do Art. 58, também transcrito acima, Carvalho (2007) observa que o termo “quando necessário” pode ser considerado inadequado, já que o apoio especializado sempre será necessário “[...] seja ao próprio aluno, ao seu professor do ensino regular ou à sua família” (CARVALHO, 2007, p. 93 e 94). A intenção da autora é de orientar que, tendo em vista a histórica “timidez” do Estado em relação à Educação Especial, o termo “quando necessário” não deve ter sido cunhado sem intenção. No Parágrafo (§) 2º, do Art. 58, observa-se que as “condições” consideradas para a inclusão (ou não) do aluno com necessidades educacionais especiais no sistema de ensino são as “condições específicas do aluno”. Ou seja, nesse momento a LDB/96 silencia sobre as condições da escola para receber esse alunado. Nesse sentido Ferreira (1998), ao analisar o previsto nesse Parágrafo, considera que o mesmo preserva a ideia de um “continuum de opções” que tem por base as características do alunado, não considerando como central as condições a serem ofertadas pelo sistema de ensino. Se é fato que a presença de determinadas características individuais exige apoios ou programas especializados na educação, também sabemos que não chegamos a desenvolver no Brasil, em termos gerais, modalidades combinadas ou intermediárias de atendimento que atenuassem a segregação. Se a legislação se fixar de modo dominante nas características pessoais e deixar em segundo plano as condições do sistema de ensino, pode ser dificultado o surgimento de programas menos restritivos (FERREIRA, 1998, p. 3). Em acordo, o Art. 58, Parágrafo 2º, da LDB/96, traz “condições específicas” dos alunos público-alvo da Educação Especial, as quais são consideradas para verificar a (im) possibilidade da integração desses alunos nas “classes comuns do ensino regular. O “continuum de opções” (classes, escolas ou serviços especializados) proposto nesse Parágrafo e o entendimento de que, esse continuum considera as “condições específicas dos alunos” nos desvela 31 que a LDB/96 intenciona posicionar-se em uma concepção integracionista de Educação Especial. Considera-se importante esclarecer que a inclusão pleiteada nas Declarações de Jomtien (1990) e Salamanca (1994) abasteceram discussões sobre o assunto no Brasil, impulsionando publicações oficiais com uma maior responsabilização do Estado referente à necessidade de garantia da educação para todos. Contudo, essas Declarações foram infimamente contempladas na Política Nacional de Educação Especial (1994) e parcialmente contempladas na LDB/96, uma vez que nesses documentos legais é consenso uma necessidade de um “continuum de opções” para atender aos alunos público-alvo da educação especial, sendo que a oferta dessas opções opera em detrimento da obrigatoriedade desses alunos estarem matriculados no sistema regular de ensino. Resumo da Aula 2 Nesta aula explicitou-se a importância da Constituição Federal, aprovada em 1988, para a educação. Posteriormente foram apresentados os principais pontos das Declarações de Jomtien (1990) e Salamanca (1994) expondo que as mesmas incitaram a promulgação de documentos legais no Brasil que trataram sobre a educação especial, realizando breve análise dos seguintes documentos: Política Nacional de Educação Especial (1994) e LDB/96. Atividade de Aprendizagem Busque artigos que diferenciam os termos “integração” e “inclusão” e construa uma tabela elencando as principais diferenças entre essas concepções de ensino que permeiam a educação especial no Brasil, discorrendo sobre as suas especificidades. 32 Aula 3 – Movimento das políticas de educação especial dos Parâmetros Curriculares Nacionais ao Plano de Desenvolvimento da Educação Apresentação da Aula 3 Nesta aula a ênfase será sobre a Educação Especial nos Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares (1998), Plano Nacional de Educação (2001), nas Diretrizes Nacionais Para a Educação Especial na Educação Básica (2001) e no Plano de Desenvolvimento da Educação (2007), abordando o conceito de Educação Especial nesses documentos legais, os quais vão se aproximando da Educação Inclusiva proposta nas Declarações de Jomtien e Salamanca. 3.1 Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares (1998) Buscando-se desdobrar o Art. 58, da LDB/96, o qual prevê a Educação Especial como modalidade de ensino, em 1998, foram publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): Adaptações Curriculares, os quais visam tratar sobre as estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares (1998) utiliza-se o termo “necessidades educacionais especiais” para se referir ao público-alvo da educação especial, em detrimento de outros termos utilizados anteriormente. A justificativa para a adoção desse termo tem como “[...] propósito deslocar o foco do aluno e direcioná-lo para as respostas educacionais que eles requerem, evitando enfatizar os seus atributos ou condições pessoais que podem interferir na sua aprendizagem e escolarização” (BRASIL, 1998, p. 23). No decorrer dos PCN supracitados, nota-se o enfoque sobre a necessidade da transição do modelo “médico-terapêutico” (no qual os alunos, público-alvo da educação especial, teriam acesso apenas a atendimentos terapêuticos focados para suas necessidades especiais), para um modelo que favoreça a participação de todos na escola, por meio da transformação desse espaço em um ambiente inclusivo. Nesse sentido, ao tratar do Currículo Escolar nos PCN, menciona-se que: 33 Ver as necessidades especiais dos alunos atendidas no âmbito da escola regular requer que os sistemas educacionais modifiquem, não apenas as suas atitudes e expectativas em relação a esses escola para todos, que dê conta dessas especificidades (BRASIL, 1998, p. 31). Neste documento destaca-se a necessidade da adequação curricular para atender a todos os alunos, visualizando o progresso dos mesmos e tendo em vista as possibilidades e diferenças de cada um, propondo-se, também, a considerar o cotidiano das escolas e os valores que orientam as práticas pedagógicas. Nesse sentido, os PCN versam sobre as adaptações curriculares necessárias em uma perspectiva da educação para todos. Discorre sobre a necessidade das seguintes adaptações: “adaptações no nível do projeto pedagógico” (p. 40), “adaptações relativas ao currículo da classe” (p. 42), “adaptações individualizadas do currículo” (p. 43), “adaptações de acesso ao currículo” (p. 44) e “adaptações nos elementos curriculares” (p. 49). É importante observar que as adaptações curriculares nos PCN não são decisões que envolvem somente o professor e o aluno, devendo ser realizadas em três níveis: no currículo escolar/projeto pedagógico (focalizando a organização escolar e os serviços de apoio); no currículo desenvolvido na sala de aula (destacando o como fazer para integrar e ensinar o aluno); no nível individual (definição do nível de competência curricular do educando). Ao versar sobre as “adaptações de acesso ao currículo” supracitadas, nos PCN destaca-se as especificidades dos alunos com: “deficiência visual” (p. 45), “deficiência auditiva” (p. 46), “deficiência mental” (p. 47), “deficiência física” (p. 47), “deficiências múltiplas”(p. 48), “superdotação” (p. 48), “condutas típicas de síndromes e quadros clínicos” (p. 49). É interessante observar que há um capítulo, nos referidos PCN, intitulado “Diversificação Curricular”, o qual versa sobre as adaptações curriculares nos Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares (1998), onde estão 34 previstas as “adaptações significativas no currículo”, indicando-se conteúdos curriculares de “caráter mais funcional e prático”. Em referência à essas adaptações consta que: Alguns alunos com necessidades especiais revelam não conseguir atingir os objetivos, conteúdos e componentes propostos no currículo regular ou alcançar os níveis mais elementares de escolarização. Essa situação pode decorrer de dificuldades orgânicas associadas a déficits permanentes e, muitas vezes, degenerativos que comprometem o funcionamento cognitivo, psíquico e sensorial, vindo a constituir deficiências múltiplas graves (BRASIL, 1998, p. 53). Vale reforçar que, propõe-se então, nos PCN, que para esses alunos sejam realizadas “adaptações significativas no currículo”, indicando-se conteúdos curriculares de “caráter mais funcional e prático”. Por último, versa-se nos PCN sobre “avaliação e promoção”, separando- se o processo avaliativo em face: das “necessidades especiais” do aluno, do “contexto escolar” e do “contexto familiar”. Sobre a “promoção” dos alunos com necessidades educacionais especiais, esclarece-se que para a mesma deve-se “[...] seguir os critérios adotados para todos os demais ou adotar adaptações, quando necessário” (BRASIL, 1998, p. 58), sendo que a “[...] decisão sobre a promoção deve envolver o mesmo grupo responsável pela elaboração das adaptações curriculares do aluno” (BRASIL, 1998, p. 58). Converse Com Seus Colegas Consulte os PCN e leia a parte que trata dos critérios de “avaliação e promoção”, discuta como esses critérios são utilizados hoje nas escolas. Disponível no acesso: http://www.conteudoescola.com.br/pcn-esp.pdf De modo geral, percebe-se que a intenção da publicação dos referidos PCN é de consubstanciar a participação do aluno com necessidades educacionais especiais na dinâmica da escola regular, havendo previsão para participações relativas (com as adaptações significativas no currículo) e exceções (participação em instituições especiais) quando esses alunos não 35 apresentarem “condições” de serem integrados e incluídos no sistema regular de ensino. Franco (2000) ao analisar os PCN e as adaptações curriculares para alunos com necessidades educacionais especiais, elucida que as escolas especiais ou mesmo a escola para todos sobre a qual os PCN versam, tendem a enfatizar mecanismos para a reabilitação do educando a partir de uma norma dominante, afirmado que: Parece-nos que, no esforço de oferecer a todos os saberes legalmente instituídos, corre-se, portanto, o risco da banalização de conceitos, fazendo-se esvaziar o conteúdo epistemológico do que se ensina e criando, também, uma baixa expectativa avaliatória, invertendo-se a perspectiva inclusiva, e criando-se uma exclusão velada (FRANCO, 2000). Franco (2000), apresenta uma ótica diferente, segundo a qual a escola para todos na verdade intenciona homogeneizar as diferenças, em detrimento das necessidades específicas dos alunos com necessidades especiais. Nesse sentido os PCN silenciam sobre a seleção histórica dos conhecimentos, colocando o currículo escolar como algo imutável. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o artigo Os PCN e as adaptações curriculares para alunos com necessidades educacionais especiais: um debate, de autoria de Monique Franco. A obra faz uma crítica à visão de integração/inclusão, aproximando esses conceitos da tendência à normatização social. Disponível no acesso: http://23reuniao.anped.org.br/textos/1515t.PDF 3.2 Plano Nacional de Educação (2001) Em 2001, foi aprovado o primeiro Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2001), no Brasil, o qual em como objetivos gerias: - a elevação global do nível de escolaridade da população; - a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis; - a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência, com sucesso, na educação pública e 36 democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 2001, p. 8). É interessante observar que o PNE 2001 foi aprovado em meio a um debate político muito grande, pois o primeiro Projeto de Lei (PL) sobre o assunto, conhecido como PNE da Sociedade Brasileira, foi praticamente substituído pelo PL 4.155/98, com 158 emendas, sendo 71 aprovadas, de forma parcial ou total. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o artigo Avaliação do Plano Nacional de Educação 2001-2009: questões para reflexão, de autoria de Márcia Ângela da S. Aguiar. O mesmo traz análises muito interessantes sobre o PNE 2001 e seus alcances. Disponível no acesso: http://www.scielo.br/pdf/es/v31n112/04 Nos itens que tratam da educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio), da educação superior e da educação a distância consta que para as ações voltadas à educação especial no PNE/2001 devem ser consideradas as proposições feitas no item 8 do referido plano, destinado para esse fim. Referente à formação de professores para a educação especial, consta a necessidade de qualificação em cursos de especialização que tratem do assunto. O item 8 do PNE/2001 versa sobre a educação especial e é dividido em: “8.1 diagnóstico”; “8.2 Diretrizes”; e “8.3 Objetivos e Metas”. 37 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Para ampliar seus conhecimentos leia o item 8 do PNE/2001 (páginas 51-57), a qual trás as especificidades referentes ao Diagnóstico, Diretrizes, Objetivos e Metas sobre a Educação Especial. Disponível no acesso: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/L10172.pdf No primeiro parágrafo sobre o diagnóstico da Educação Especial no Brasil, já é patente que no PNE/2001 há um posicionamento tímido em relação à inclusão dos alunos público-alvo da educação especial na escola regular. Como é possível notar no fragmento a seguir: “Trata-se, portanto, de duas questões - o direito à educação, comum a todas as pessoas, e o direito de receber essa educação sempre que possível junto com as demais pessoas nas escolas ‘regulares’” (BRASIL, 2001, p. 51). Porém, o diagnóstico traçado no PNE/2001 é interessante por apresentar os óbices de uma modalidade de ensino que foi relegada às ações filantrópicas historicamente. A saber, o diagnóstico do plano aponta, dentre outros aspectos, o ínfimo de número de alunos com necessidades especiais matriculados nas escolas regulares; a falta de professores com formação na área de educação especial e os déficits nos serviços de educação especial ofertados. No PNE/2001, há 28 objetivos e metas traçadas para educação especial. Destaca-se que o plano prevê a “generalização” do ensino para a demanda da educação especial e, de acordo com Góes (2009), esta previsão pode ser considerada nebulosa, pois ao garantir a educação aos alunos do ensino fundamental o plano é mais específico, prevendo atingir “toda a clientela”. Há também nas metas previsão de continuidade nas parcerias do Estado com entidades “não governamentais” e “organizações civis”, orientação que nos parece intencional, buscando-se, dessa forma, a não ampliação dos serviços de educação especial no âmbito público. 38 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o artigo Educação Especial: da LDB aos Planos Nacionais de Educação – do MEC e Propostada Sociedade Brasileira, de autoria de César Augusto Minto, o qual traz uma análise minuciosa sobre a perspectiva da educação especial defendia em cada um dos PL que deram origem ao PNE 2001. Disponível no acesso: http://www.abpee.net/homepageabpee04_06/artigos_em_p df/revista6numero1pdf/r6_art01.pdf Saviani (2014) ao analisar os avanços do PNE 2001, em 2014, elucidou que o “plano foi solenemente ignorado”, não passando, inclusive pela avaliação prevista para o seu quarto ano (SAVIANI, 2014), pois os avanços educacionais alcançados após a aprovação do referido plano não pareciam ter relação direta com as metas estabelecidas nele, sendo fruto de “[...] uma dinâmica na sociedade que faz com que, com plano ou sem plano, algumas pressões têm de ser [sejam] atendidas” (SAVIANI, 2014). O pesquisador cita, que o PNE/2001, de acordo com o previsto, deveria ter passado por uma avaliação no seu quarto ano, o que não ocorreu e que “[..] na verdade, o referido PNE não passou de uma carta de intenções e a lei que o instituiu permaneceu letra morta, sem nenhum influxo nas medidas de política educacional e na vida das instituições escolares” (SAVIANI, 2014). 3.3 Diretrizes Nacionais Para a Educação Especial na Educação Básica (2001) Também, em 2001, foram aprovadas as Diretrizes Nacionais Para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001). Nas citadas diretrizes consta a seguinte definição da Educação Especial: Modalidade da educação escolar; processo educacional definido em uma proposta pedagógica, assegurando um conjunto de recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para 39 apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica (BRASIL, 2001, p. 39, grifos nossos). Nesse sentido, há uma ampliação da concepção de Educação Especial nas referidas diretrizes, pois as mesmas preveem o apoio, a complementação e a suplementação da escolarização por meio da Educação Especial, sendo interessante observar que “em alguns casos” é prevista a substituição dos serviços educacionais comuns, ou seja, o aluno poderia frequentar a escola especial, inclusive, em detrimento da escola regular. Importante Atualmente, o Atendimento Educacional Especializado (AEE), “carro chefe” das políticas de educação especial ofertadas pelo MEC, é, de fato, o serviço de complementação curricular (que ocorre, normalmente, nos casos de alunos com deficiência ou transtornos globais do desenvolvimento) ou suplementação (que ocorre, normalmente, no caso dos alunos com altas habilidades ou superdotação). Nas citadas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica há um posicionamento a favor da Educação Inclusiva, de acordo com o qual não é o aluno que teria que se ajustar à escola, e sim a escola que teria que se ajustar ao aluno. Ao apresentar a deliberação sobre o lócus dos serviços de Educação Especial, esse documento traz como definição que: “A educação especial deve ocorrer em todas as instituições escolares que ofereçam os níveis, etapas e modalidades da educação escolar previstos na LDBEN” (BRASIL, 2001, p. 41). Ao utilizar “deve” fica nítida a preferência do atendimento desse contingente em escolas regulares e da necessidade da oferta de serviços de educação especial nas escolas regulares. 40 Em sua extensão sequencial consta a seguinte definição: “Extraordinariamente, os serviços de educação especial podem ser oferecidos em classes especiais, escolas especiais, classes hospitalares e em ambiente domiciliar” (BRASIL, 2001, p. 42). Com este parágrafo continua abrindo-se precedente para que o ensino dos alunos que necessitam de educação especial ocorra em outros ambientes. A saber, esses outros ambientes são, sobretudo, as escolas especiais de caráter assistencial e filantrópico. 3.4 Plano de Desenvolvimento da Educação (2007) O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), aprovado em 2007, agregou 29 ações do MEC que abrangem os níveis e modalidades de ensino, bem como medidas de apoio e infraestrutura. Saviani (2007) esclarece que para a modalidade educação especial, foram dirigidas três ações no PDE, a saber: a) “salas de recursos multifuncionais”, equipadas com televisão, computadores, DVDs e materiais didáticos destinados ao atendimento especializado aos alunos portadores de deficiências; b) “Olhar Brasil”, um programa desenvolvido conjuntamente pelos ministérios da educação e da saúde para identificar os alunos com problemas de visão e distribuir óculos gratuitamente; c) “Programa de Acompanhamento e Monitoramento do Acesso e Permanência na Escola das Pessoas com Deficiências Beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social”, dirigido prioritariamente à faixa etária de 0 a 18 anos (SAVIANI, 2007, p. 1236) Garcia (2013) elucida que o “Programa Educação Inclusiva: direito a diversidade” também está vinculado ao PDE. Esse Programa trata sobre a formação continuada de professores para atuar na educação especial e foi instituído em 2003. De acordo com o que consta na página do MEC o programa atua promovendo a “[...] formação continuada de gestores e educadores das redes estaduais e municipais de ensino para que sejam capazes de oferecer educação especial na perspectiva da educação inclusiva”. O objetivo do mesmo é: “[...] que as redes atendam com qualidade e incluam nas classes comuns do ensino regular os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação”. 41 Garcia (2013) esclarece que, a partir de 2007, o programa supracitado passou a desenvolver outra modalidade de curso, a saber, o Curso de Aperfeiçoamento de Professores do Atendimento Educacional Especializado, ação estreitamente ligada ao Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais. De acordo com o que consta no site do MEC, o Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais, tem como objetivo: Apoiar a organização e a oferta do Atendimento Educacional Especializado – AEE, prestado de forma complementar ou suplementar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades/superdotação matriculados em classes comuns do ensino regular, assegurando-lhes condições de acesso, participação e aprendizagem (BRASIL/MEC, 2008. S/p.). Este programa oferta às escolas públicas de ensino regular um “conjunto de equipamentos de informática, mobiliários, materiais pedagógicos e de acessibilidade para a organização do espaço de atendimento educacional especializado” (BRASIL/MEC, S/d.S/p.). Pesquise Navegue no site do MEC e conheça os programas que tratam sobre educação especial e inclusiva. Para acessá-los, clique sobre o menu “SECRETARIAS” para que seja expandido, exibindo suas opções. Depois clique na opção “Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – SECADI”. Posteriormente, clique no botão “Programas e Ações” que está situado sob o título da página. Para ampliar sua gama de conhecimentos você pode acessar outros botões na página. Saviani (2007) ao confrontar a estrutura do PDE com a estrutura do PNE (já citado nesse material) percebe que o primeiro não se caracteriza, de fato, como um plano, por se caracterizar por um conjunto de ações que “[...] teoricamente, se constituiriam em estratégias para a realização dos objetivos e metas previstos no PNE” (SAVIANI, 2007, p. 1239, grifos nossos). 42 Saviani (2007), esclarece que o termo “teoricamente”, destacado na citação acima, foi cunhado propositalmente, já que, de fato, o PDE não é satisfatório em termosde cumprimento das metas expressas no PNE/2001, sendo que o PDE apresentou ações que não se articularam organicamente com as metas expressas no PNE/2001 que estava em vigor quando da publicação do PDE. Nota-se que o conceito de Educação Inclusiva, de acordo com o qual a escola se prepara para receber o aluno da educação especial e não o aluno precisa se preparar para ingressar na escola, vem se aproximando, paulatinamente, das políticas brasileiras. Contudo, de acordo com o constante nas políticas analisadas nessa aula, é possível perceber que não há um rompimento com as instituições de caráter filantrópico e assistencial que atendem o público-alvo da educação especial. É interessante atentar-se para o conflito público-privado existente em relação à educação especial, uma vez que as escolas regulares são, na sua maioria, públicas, enquanto que as escolas especiais apresentam, sobretudo, caráter filantrópico/assistencial, ou seja, são privadas, gerando, assim, nas políticas nacionais, uma disputa público-privada para o direcionamento de verbas governamentais. Resumo da Aula 3 Nesta aula o foco foi sobre a concepção da Educação Especial nas políticas estudadas, percebendo-se que: os PCN (1998), ao versarem sobre as necessidades das adaptações curriculares, buscam uma transição do modelo médico-terapêutico para uma educação inclusiva. Percebe-se que a intenção dos PCN é de consubstanciar a participação do aluno com necessidades educacionais especiais na dinâmica da escola regular, havendo previsão para participações relativas (com as adaptações significativas no currículo) e exceções (participação em instituições especiais) quando esses alunos não apresentarem “condições” para serem integrados e incluídos no sistema regular de ensino. 43 Atividade de Aprendizagem Leia o artigo Os PCN e as adaptações curriculares para alunos com necessidades educacionais especiais: um debate, de autoria de Monique Franco, indicado para leitura nesta aula e discorra sobre o mesmo. O artigo está disponível no acesso: http://23reuniao.anped.org.br/textos/1515t.PDF Aula 4 – A educação especial e a perspectiva inclusiva Apresentação da Aula 4 Nesta aula o foco será a nova Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008a) e seus desdobramentos nos seguintes documentos legais: Decreto nº 6.571/2008, Resolução nº 04/2009 e no Decreto nº 7.611/2011, evidenciando as tratativas da aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE/2014) e seus reflexos na Educação Especial. 4.1 Nova Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) e seus desdobramentos Em 2008, é publicada a nova Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Esse documento, seguindo um movimento que vem sendo sinalizado desde a aprovação da Declaração de Jomtien, propõe uma mudança de paradigma mais evidente no que tange à Educação Especial, pois orienta o sistema de ensino para uma educação especial complementar e não mais substitutiva. O objetivo da Política em voga é: [...] assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade 44 arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008). Observe que o público alvo da educação especial é balizado nessa política, contemplando os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o que pode ser visto como positivo por trazer uma definição mais evidente sobre os alunos que necessitam dos serviços de educação especial. Porém, esse balizamento foi criticado por pesquisadores da área, como Garcia (2013). A autora elucidou que a restrição do público alvo da educação especial aumenta a necessidade de diagnósticos médicos e pode impactar sobre autonomia docente. Em 2008, com a finalidade de regulamentar a Política supracitada, foi homologado o Decreto nº 6.571, que dispôs sobre o AEE, determinando-se apoio técnico e financeiro aos sistemas de ensino público para a ampliação desse atendimento direcionado ao público da Educação Especial. DECRETO Nº 6.571, DE 17 DE SETEMBRO DE 2008 Dispõe sobre o atendimento educacional especializado, regulamenta o parágrafo único do art. 60 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e acrescenta dispositivo ao Decreto nº 6.253, de 13 de novembro de 2007. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, e tendo em vista o disposto no art. 208, inciso III, ambos da Constituição, no art. 60, parágrafo único, da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e no art. 9º, § 2º, da Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007: Art. 1º A União prestará apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na forma deste Decreto, com a finalidade de ampliar a oferta do atendimento educacional especializado aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular. [...] Disponível na integra no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/Decreto/D6571.htm Vale reforçar que este Decreto restringiu o apoio técnico às instituições de ensino públicas, que são, na sua maioria, escolas regulares. Para regulamentação do decreto supracitado e para que não houvesse equívocos quanto a implementação do AEE, em 2009, o Conselho Nacional de Educação 45 (CNE) publicou a Resolução nº 04 que instituiu as Diretrizes Operacionais para o AEE na educação básica. Esse documento definiu, no art. 3º, que a educação especial “[...] se realiza em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, tendo o AEE como parte integrante do processo educacional” (BRASIL, 2009). Contudo, esses desdobramentos da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) trouxeram grande incomodo para a sociedade civil brasileira, sobretudo, para os gestores das escolas especiais de caráter filantrópico e assistencial que, historicamente, atendem aos alunos público-alvo da educação especial e que contam com repasses financeiros governamentais para a execução desse serviço. Assim, em novembro de 2011, ocorre a aprovação do Decreto nº 7.611 que “[...] dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências” (BRASIL, 2011), revogando-se o Decreto 6.571 (BRASIL, 2008). Esse decreto apresenta uma perspectiva que difere da que havia sido apresentada no decreto anterior por ser mais receptivo aos serviços de educação especial ofertado por instituições filantrópicas e assistenciais, conforme pode ser notado no Art. destacado a seguir: DECRETO Nº 7.611, DE 17 DE NOVEMBRO DE 2011 Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, alínea “a”, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 208, inciso III, da Constituição, arts. 58 a 60 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, art. 9o, § 2o, da Lei no 11.494, de