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PUERPÉRIO PATOLÓGICO COMPLICAÇÕES DO PERÍODO PÓS-PARTO DEFINIÇÃODEFINIÇÃO Em linhas gerais, o puerpério patológico define as complicações que se estendem do terceiro período após o parto até algumas semanas após (seis a oito semanas). Aproximadamente 200 a 300.000 mulheres morrem por ano em todo o mundo em consequência das complicações do período pós-parto. As principais complicações desse período são: ● Hemorragia pós-parto; ● Infecções puerperais; ● Alterações nas mamas lactantes; ● Doenças tromboembólicas; ● Transtornos psiquiátricos do pós-parto (depressão pós-parto). HEMORRAGIA PÓS-PARTOHEMORRAGIA PÓS-PARTO A hemorragia pós-parto permanece como a principal causa de mortalidade materna em todo o mundo, sendo responsável por 30% de todos os óbitos maternos nos países em desenvolvimento. Vale ressaltar que, no Brasil, a principal causa de morte materna continua sendo hipertensão e a hemorragia pós-parto configura a segunda causa mais importante. Mesmo nos países desenvolvidos e com melhores condições de assistência, a hemorragia pós-parto responde por 10% dos casos. Os assuntos de maior relevância neste tópico são as principais causas, os fatores predisponentes e as condutas terapêuticas recomendadas para a hemorragia puerperal. Dúvidas Acadêmicas do CapítuloTESTE SEU CONHECIMENTOConfira as dúvidas acadêmicas do capítulo clicando aqui PONTOS PRINCIPAISPONTOS PRINCIPAIS ● Conhecer as principais complicações pós-parto (hemorragias, infecções puerperais, alterações nas mamas lactantes, doenças tromboembólicas e transtornos psiquiátricos). ● Saber conduzir estas complicações. ● Conhecer as divergências na literatura sobre o assunto. Para ajudá-lo a localizar as divergências, há um símbolo para que você fique de vivo! Todas as controvérsias serão listadas ao final do capítulo. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da hemorragia puerperal. DEFINIÇÃO DEFINIÇÃO De acordo com a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), a hemorragia puerperal é definida e diagnosticada clinicamente como um sangramento excessivo que torna a paciente sintomática (vertigem, síncope) e/ou que resulta em sinais de hipovolemia (hipotensão, taquicardia ou oligúria). CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO PRIMÁRIA OU PRECOCE OU IMEDIATAPRIMÁRIA OU PRECOCE OU IMEDIATA Quando acontece nas primeiras 24h após o parto. SECUNDÁRIA OU TARDIASECUNDÁRIA OU TARDIA Quando ocorre após as primeiras 24h até 6 a 12 semanas após o parto. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO O diagnóstico é eminentemente clínico, baseado na avaliação de qualquer quantidade de perda sanguínea que ameace a estabilidade hemodinâmica da puérpera. A observação das suas repercussões hemodinâmicas reflete a real gravidade do quadro clínico ( ). TAB. 1TAB. 1 SINTOMAS RELACIONADOS À PERDA SANGUÍNEA EM PACIENTES COM HEMORRAGIA PÓS-PARTO E GRAUSSINTOMAS RELACIONADOS À PERDA SANGUÍNEA EM PACIENTES COM HEMORRAGIA PÓS-PARTO E GRAUS DE CHOQUE HEMORRÁGICO.DE CHOQUE HEMORRÁGICO. A qualidade da assistência médica influi de maneira importante na ocorrência das síndromes hemorrágicas periparto. QUE É O ÍNDICE DE CHOQUE (IC)? QUE É O ÍNDICE DE CHOQUE (IC)? O IC é uma forma simples de avaliar a gravidade da hemorragia puerperal, sendo um marcador de instabilidade Tabela 1 _ t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da O IC é uma forma simples de avaliar a gravidade da hemorragia puerperal, sendo um marcador de instabilidade hemodinâmica mais precoce do que a avaliação dos sinais vitais isoladamente. Ele consiste na divisão da frequência cardíaca pela pressão arterial sistólica e o resultado indica a conduta em ergencial para ten ta r estabilizar a paciente. Veja na : TAB. 2 TAB. 2 ÍNDICE DE CHOQUE.ÍNDICE DE CHOQUE. CAUSASCAUSAS A hemostasia uterina depende principalmente da contração miometrial e da produção de prostaglandinas e, em menor grau, da cascata de coagulação. Assim, qualquer fator que interfira em algum desses processos poderá acarretar um aumento da perda sanguínea da puérpera. ● Hipotonia e atonia uterina. ● Laceração de trajeto. ● Retenção placentária ou de fragmentos. ● Placentação anormal. ● Rotura uterina. ● Inversão uterina. ● Distúrbios de coagulação. QUATRO PRINCIPAIS CAUSAS DE HEMORRAGIA PÓS-PARTOQUATRO PRINCIPAIS CAUSAS DE HEMORRAGIA PÓS-PARTO ● Atonia uterina. ● Lacerações do trajeto. ● Retenção placentária ou fragmentos. ● Coagulopatia. Tabela 2 _ t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da MACETE!MACETE! A REGRA MNEMÔNICA DOS 4T: A REGRA MNEMÔNICA DOS 4T: ● Tônus: atonia uterina. ● Trauma: laceração de trajeto. ● Tecido: retenção placentária ou de fragmentos. ● Trombina: coagulopatia. FATORES PREDISPONENTESFATORES PREDISPONENTES Embora existam muitos fatores de risco para a hemorragia pós-parto, o conhecimento de todos esses fatores não é clinicamente útil visto que nem sempre a paciente pode apresentar um fator de risco para ter o evento. ● Multiparidade. ● Placentação anômala. ● Trabalho de parto prolongado. ● Trabalho de parto de evolução muito rápida. ● Anestesia geral (halogenados, pois levam ao relaxamento uterino). ● Infiltração miometrial por sangue (útero de Couvelaire). ● Miométrio mal perfundido (hipotensão que pode decorrer de analgesia). ● Sobredistensão uterina (gestação gemelar, polidramnia ou macrossomia fetal). ● Cesárea prévia e atual. ● Parto vaginal operatório (a fórcipe, versão com grande extração). ● Episiotomia. ● Tempo prolongado do terceiro período. ● Uso de ocitocina no primeiro período. ● Atonia uterina prévia. ● Descolamento prematuro de placenta. ● Corioamnionite. ● t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da ● Embolia amniótica. ● Níveis pressóricos maternos. PREVENÇÃOPREVENÇÃO Recomenda-se o manejo ativo do terceiro período do parto como forma de reduzir a incidência de hemorragia puerperal. A conduta ativa se resume às seguintes medidas: (1) administração de ocitocina; (2) massagem uterina; e (3) tração controlada do cordão. A ocitocina é administrada no momento da dequitação, aplicando-se dez unidades via intramuscular ou dez unidades em infusão venosa diluída. Esta é a medicação profilática mais efetiva e com menor número de efeitos colaterais. COMPLICAÇÕESCOMPLICAÇÕES As complicações mais relevantes da hemorragia pós-parto são: anemia, fadiga crônica, choque hipovolêmico, Coagulação Intravascular Disseminada (CID), insuficiência renal, hepática e respiratória. A síndrome de Sheehan — necrose hipofisária isquêmica — é uma complicação tardia da hemorragia obstétrica de qualquer etiologia, principalmente as causadas por atonia uterina e por descolamento prematuro de placenta. A hipóxia, em função do espasmo das artérias pituitárias leva à necrose da hipófise, a qual provoca uma insuficiência hipofisária em graus variados, que envolve agalactia, amenorreia, atrofia genital, hipotireoidismo e insuficiência adrenal. Atualmente, a ocorrência dessa síndrome é infrequente em virtude das medidas preventivas e terapêuticas ao choque hipovolêmico. HIPOTONIA/ATONIA UTERINAHIPOTONIA/ATONIA UTERINA Ocorre quando há perda na eficiência da manutenção da contração miometrial. Constitui a principal causa de hemorragia e choque hipovolêmico após o secundamento. É uma das principais indicações de histerectomia pós-parto. FATORES DE RISCOFATORES DE RISCO Possui como principais fatores de risco: ● Miométrio mal perfundido (hipotensão); ● Menor contração miometrial (leiomiomas uterinos e multiparidade); ● Anestesia geral (halogenados), que leva a relaxamento uterino; ● Sobredistensão uterina (gemelaridade, polidramnia e macrossomia); ● t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da ● Trabalho de parto prolongado; ● Trabalho de parto de evolução muito rápida; ● Atonia uterina em gestação prévia; ● Corioamnionite. MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O principal achado clínico é o sangramento vaginal que, não necessariamente, é volumoso. Este pode ser moderadoe contínuo, até o momento em que se verifica hipovolemia importante. Ao exame físico, encontra-se o útero subinvoluído, acima da cicatriz umbilical, flácido e depressível. Considerando a sua frequência e importância, a avaliação da contratilidade uterina deve ser a primeira conduta do exame físico em uma paciente com hemorragia puerperal. CONDUTACONDUTA MEDIDAS GERAISMEDIDAS GERAIS ● Acesso venoso calibroso com infusão rápida de 2.000 a 3.000 ml de Soro Fisiológico (SF) 0,9% ou Ringer lactato. ● Cateter vesical de demora para controle do débito urinário (manter débito urinário acima de 30 ml/h). ● Reserva de hemoderivados. ● Massagem do fundo uterino. Ela pode ser externa ou mesmo com as duas mãos: a primeira comprime o fundo uterino e a segunda mão, fechada e colocada por via vaginal, comprime a parede anterior do útero. Esta manobra é denominada de manobra de Hamilton ( ).Figura 1_ _ t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da TRATAMENTO FARMACOLÓGICOTRATAMENTO FARMACOLÓGICO URETÔNICOSURETÔNICOS São medicações que promoverão a contratilidade uterina e são consideradas de primeira linha no tratamento. Elas deverão sempre ser utilizadas antes de partir para o tratamento cirúrgico. OCITOCINAOCITOCINA É a medicação de escolha. Devem ser usadas 5 unidades em bolus, IV, ou 10 a 20 unidades em 1.000 ml de SF 0,9% a 250 ml/h. METILERGONOVINA OU ERGOMETRINA METILERGONOVINA OU ERGOMETRINA É um medicamento de segunda linha. Deve ser usada na dose de 0,2 mg, intramuscular. Prom ove contração uterina generalizada e tetânica. Esta medicação não deve ser usada em hipertensas (pré-eclâmpsia ou eclâmpsia) ou cardiopatas. MISOPROSTOLMISOPROSTOL Agente uterotônico prostaglandínico. A dose empregada é de 600–1.000 mcg via oral, sublingual ou retal. Pode ter como efeito colateral diarreia, febre e calafrio. ÁCIDO TRANEXÂMICOÁCIDO TRANEXÂMICO É um agente antifibrinolítico que pode ser administrado via oral ou via retal. Um grande estudo recente demonstrou redução da mortalidade no tratamento da hemorragia puerperal com ácido tranexâmico em associação com as medicações uterotônicas habituais, enquanto outros estudos menores demonstraram benefício também na profilaxia da hemorragia pós-parto. A dose utilizada para o tratamento da hemorragia puerperal é de 1 g, intravenoso, por dez minutos, seguido de uma infusão de 1 g por 8h. FIG. 1 MANOBRA DE HAMILTON. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da PROSTAGLANDINAS INTRAMIOMETRIAIS OU VENOSAS PROSTAGLANDINAS INTRAMIOMETRIAIS OU VENOSAS São medicamentos que não estão disponíveis no Brasil, mas podem ser empregados. A principal limitação é o grande número de efeitos colaterais. TÉCNICAS DE TAMPONAMENTOTÉCNICAS DE TAMPONAMENTO Estão recomendadas quando houver falha na contração uterina bimanual e na terapia medicamentosa. As seguintes formas de tamponamento são possíveis. BALÃO DE BAKRIBALÃO DE BAKRI Consiste em um balão inflado com 300 a 500 ml de solução salina dentro do útero. Estudos demonstraram que 85% das mulheres que utilizaram esse balão não precisaram de tratamentos adicionais. Ele deve ser removido 12h após a inserção ( ). No mesmo sentido, também é possível utilizar o balão de Sengstaken-Blakemore, normalmente utilizado para hemorragias esofagianas SONDA DE FOLEYSONDA DE FOLEY Caso não esteja disponível o balão de Bakri, é possível a inserção de várias sondas de Foley com balão de 60 ml inflado com solução salina para conter o sangramento. Também deve ser retirada após 12 a 24h. Figura 2Figura 2__ _ FIG. 2 BALÃO DE BAKRI. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da TRATAMENTO CIRÚRGICOTRATAMENTO CIRÚRGICO Está indicado nos casos de falha das medidas anteriormente descritas. É importante salientar que devem ser também afastadas outras causas de sangramento, como retenção de restos ovulares, lacerações do trajeto e coagulopatias. SUTURAS DE B-LYNCHSUTURAS DE B-LYNCH Corresponde à sutura uterina com fio absorvível (catgut cromado ou Vicryl®) que tem sido executada em casos de atonia não responsiva aos uterotônicos. Possui como vantagens a preservação da fertilidade e evita a histerectomia ( ).Figura 3_ _ t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da LIGADURA DAS ARTÉRIAS UTERINASLIGADURA DAS ARTÉRIAS UTERINAS Tecnicamente, procede-se à ligadura das artérias uterinas em dois pontos (assinalados na ). LIGADURA DAS ARTÉRIAS HIPOGÁSTRICAS LIGADURA DAS ARTÉRIAS HIPOGÁSTRICAS A ligadura das artérias hipogástricas deve ser feita logo após a bifurcação das ilíacas, anteriormente à emergência das artérias uterinas. Tecnicamente, realiza-se a ligadura dupla da artéria sem secção dela, para que não haja risco de rompimento espontâneo. FIG. 3 SUTURA DE B-LYNCH. Figura 4_ _ FIG. 4 LIGADURA DA ARTÉRIA UTERINA. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da EMBOLIZAÇÃO SELETIVA DAS ARTÉRIAS UTERINASEMBOLIZAÇÃO SELETIVA DAS ARTÉRIAS UTERINAS É um procedimento eficiente, mas que requer uma equipe de radiologia qualificada e à disposição, o que, na maioria das vezes, não é possível no meio obstétrico. HISTERECTOMIAHISTERECTOMIA É a última opção em caso de hemorragias pós-parto de causa uterina. Quando indicada, deve ser preferencialmente realizada a histerectomia subtotal (deixando o colo do útero), pois esta técnica é mais rápida, simples, segura e associada à menor perda de sangue. A histerectomia total, por outro lado, é necessária em casos de placenta prévia, acreta ou rotura do segmento inferior. LACERAÇÕES DO TRAJETOLACERAÇÕES DO TRAJETO As lacerações do trajeto constituem a segunda maior causa de hemorragia puerperal precoce. A presença de sangramento persistente em paciente com útero contraído deve levantar a suspeita de lesões traumáticas do canal de parto, principalmente no períneo, na vagina, ou no colo uterino. Os principais fatores de risco para hemorragia por laceração do trajeto são: ● Episiotomia extensa; ● Feto macrossômico; ● Manobra de Kristeller intempestiva e/ou inadequada; ● Parto pélvico operatório (fórcipe, versão com grande extração). O tratamento é realizado por revisão sistemática do canal de parto, hemostasia imediata e correção das lacerações. Em algumas situações de sangramento intenso, o uso de sedação e anestesia geral de curta duração pode ser necessário. As medidas gerais, como acesso venoso calibroso com reposição volêmica, cateterismo vesical de demora e o uso de uterotônicos, estão indicadas para controle do estado hemodinâmico da paciente. RETENÇÃO PLACENTÁRIA OU DE RESTOS PLACENTÁRIOSRETENÇÃO PLACENTÁRIA OU DE RESTOS PLACENTÁRIOS A retenção da placenta ou de restos placentários causa hemorragia em virtude da dificuldade de contração miometrial. Eles dificultam as contrações uterinas e, consequentemente, a involução normal que torna impossível a regeneração endometrial. Por essa razão, ocorrem perdas sanguíneas contínuas, ora escassas, ora abundantes. A retenção da placenta ou de seus remanescentes (restos) pode resultar da retenção de cotilédones avulsos, lobo sucenturiado ou acretismo placentário. Ao exame, além de graus variados de hemorragia, observamos o útero discretamente aumentado de tamanho em relação à época do puerpério e o canal cervical dilatado. O diagnóstico pode ser confirmado t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da tamanho em relação à época do puerpério e o canal cervical dilatado. O diagnóstico pode ser confirmado pela ultrassonografia. O exame histopatológico do material obtido é indispensável, pois deve-se excluir a presença de doença trofoblástica gestacional. A dosagem plasmática de beta-hCG também é útil para este fim. A prevenção deste quadro consiste na revisão sistemática e rotineira da placenta, imediatamente após a dequitação. O tratamento baseia-se na infusão de ocitócitos (para estímulo da contração miometrial), na remoção da placenta ou dos restos placentários, após anestesia, mediante a manobra de Credé (processo utilizado para o descolamentoda placenta), curagem (extração manual da placenta) ou curetagem uterina (restos placentários). A manobra de Credé ( ) tem como pré-requisito o cateterismo vesical. A seguir, o operador posiciona-se à direita. A mão esquerda se apoia na parede abdominal, segura o fundo de útero e corrige sua eventual anteflexão. Espera-se que o útero responda à pequena massagem, o órgão fica entre o polegar que se coloca na face ventral e os outros dedos posicionados na face dorsal. Em outras palavras, a expressão deve ser cautelosa, no sentido anteroposterior do fundo uterino para baixo. Devem ser realizadas duas a três tentativas. Em caso de insucesso, não se deve insistir na manobra devido ao risco de dequitação incompleta com retenção de cotilédones ou de membranas, inversão uterina e choque, sobretudo se a expressão uterina foi rude. Assim, a falha da manobra de Credé impõe a realização do descolamento manual da placenta (curagem). Figura 5_ _ FIG. 5 MANOBRA DE CREDÉ. Para o deslocamento artificial da placenta. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da A extração manual da placenta ( ) deve ser preferencialmente realizada com a paciente sob narcose. A intervenção se inicia com a introdução da mão direita na vagina, até penetrar no útero e atingir a zona placentária, utilizando o cordão umbilical como guia. A mão esquerda fica espalmada na parede abdominal em nível do fundo uterino. Após a identificação da borda placentária, inicia-se a manobra de descolamento pelo plano de clivagem e insinuam-se progressivamente os dedos em direção acima, até a completa separação de toda superfície placentária inserida. Figura 6_ _ t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da FIG. 6 EXTRAÇÃO MANUAL DA PLACENTA. A: introdução da mão direita até alcançar a placenta e a apreensão do fundo uterino. B: descolamento da placenta pelo plano de clivagem. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da O descolamento deve ser realizado cautelosamente para evitar acidentes e complicações, como hemorragias e inversão uterina. A curagem digital deve ser empregada nos casos de dúvida após o descolamento, quando há suspeita de retenção de restos ovulares após o exame da placenta delivrada. Cabe aqui salientar que nem sempre a realização da extração manual da placenta é fácil, pois às vezes existem aderências parciais ou totais (sinais típicos de acretismo placentário) ou outras complicações (rotura uterina e hemorragias abundantes). Nestas situações, deve-se buscar um meio mais eficiente apesar de radical: a histerectomia. HEMATOMASHEMATOMAS Em alguns casos, a perda sanguínea pode não se exteriorizar e ficar retida na forma de um hematoma. Os hematomas mais comuns são os vulvoperineais, vaginais, pós-episiotomias e subperitoneais. O diagnóstico é, em geral, fácil, exceto pela variedade subperitoneal. Observa-se uma tumoração de crescimento rápido, não redutível, de coloração azul ou violácea e dolorosa. Se houver infecção da coleção, ocorre febre ( ).Figura 7_ _ t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da ATENÇÃOATENÇÃO ● Manobra de Credé: consiste na compressão do fundo uterino antes do desprendimento placentário. ● Manobra de Harvey: consiste em procedimento semelhante quando já ocorreu o descolamento da placenta. Os hematomas genitais são reabsorvidos, se rompem, se encistam ou se infectam. Podem, ainda, se manifestar como um quadro de choque, principalmente os grandes hematomas intracavitários. Em linhas gerais, o prognóstico e a conduta dependem do volume de sangue represado. Nos hematomas pouco volumosos, a conduta pode ser expectante, já que em sua grande maioria são reabsorvidos. Nos hematomas volumosos, com compressão de órgãos vizinhos e dor intensa, indica-se a abertura seguida de hemostasia do vaso sangrante, colocação de dreno e curativo compressivo. Diante da confirmação diagnóstica de grandes hematomas intracavitários, está indicada a laparotomia para esvaziá-lo e, obviamente, a laqueadura do(s) vaso(s) sangrante(s). INVERSÃO UTERINAINVERSÃO UTERINA É a invaginação do fundo uterino, em forma de dedo de luva, que pode alcançar o segmento inferior, ultrapassá-lo, chegar à vagina (inversão parcial) e surgir fora da vulva (inversão total). É uma complicação rara e que se deve à má assistência ao secundamento, com tração exagerada do cordão umbilical ligado à placenta ainda implantada ao fundo uterino. A inversão uterina aguda possui como fatores predisponentes: ● Placenta fúndica; ● Atonia uterina; ● Multiparidade; ● Acretismo placentário. As causas de maior expressão para explicar a inversão uterina puerperal, sejam predisponentes ou determinantes, são: FIG. 7 HEMATOMA VULVAR. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da determinantes, são: ● Hipotonia uterina; ● Esvaziamento súbito da cavidade uterina, principalmente se ela estava muito distendida; ● Pressão violenta sobre o corpo da matriz relaxada, com o objetivo de extrair a placenta; ● Tração sobre o cordão umbilical ou sobre a placenta parcialmente aderida. Existem várias classificações para as inversões uterinas. A classificação cronológica é puramente clínica e agrupa o acidente em inversões agudas e crônicas. A classificação anatômica nomeia as diversas formas de inversão de acordo com o grau de reviramento e a intensidade do descenso ( ). Clinicamente, a inversão uterina se apresenta com dor aguda e hemorragia precoce que leva ao choque em minutos. O choque é classicamente de origem neurogênica, resultante de estiramento dos ligamentos largos e dos nervos peritoneais, além da pressão sobre os ovários. Assim, o grau de choque pode não guardar relação com a perda sanguínea. O diagnóstico é feito através do exame físico, com a ausência do fundo uterino no exame abdominal e uma massa firme palpável no colo uterino ou abaixo dele. ATENÇÃOATENÇÃO CONDIÇÕES CLÁSSICAS PARA O DIAGNÓSTICO DE INVERSÃO UTERINA AGUDA ● Útero não encontrado na palpação abdominal. ● Choque. ● Hemorragia. O tratamento inclui a instituição de dois acessos venosos distintos, um para perfusão de solução salina e outro para hemotransfusão, e a correção manual imediata da inversão uterina, de preferência sob anestesia Figura 8_ _ FIG. 8 FORMAS DE INVERSÃO UTERINA. A: depressão do fundo. B: inversão parcial. C: inversão completa. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da outro para hemotransfusão, e a correção manual imediata da inversão uterina, de preferência sob anestesia geral. Posiciona-se a palma da mão no centro do fundo de útero, que agora está invertido, e a ponta dos dedos realiza pressão para cima. Esta manobra recebe o nome de manobra de Taxe ( ). Durante a realização da manobra, devem ser empregados uterolíticos (betamiméticos ou sulfato de magnésio) com o objetivo de facilitar a reposição do órgão na pelve materna. Logo após o sucesso da manobra, suspende-se o uterolítico e administra-se ocitocina em altas doses para manter o útero em sua posição. A manobra de Taxe é efetiva em mais de 90% dos casos, sem a necessidade de realização de procedimento adicional. Em caso de insucesso da manobra, recorre-se à laparotomia que consiste na tração do fundo uterino até sua posição original utilizando-se pinças de Allis. Esta abordagem cirúrgica é denominada procedimento de Huntington ( ). Ocasionalmente, suturas de tração podem ser úteis. Após o reposicionamento uterino, a perfusão de ocitocina deve ser mantida e está indicado o tamponamento vaginal cerrado durante algumas horas. Figura 9_ _ FIG. 9 INVERSÃO UTERINA E MANOBRA DE TAXE PARA SUA CORREÇÃO. A: útero invertido, exteriorizando pela vulva. B: manobra de Taxe. Figura 10_ _ t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da OUTRAS CAUSASOUTRAS CAUSAS Este capítulo não tem o objetivo de avaliar os defeitos da coagulação e as síndromes hematológicas associadas à hemorragia puerperal. Causas como rotura uterina e placentação anormal foram detalhadas na apostila MEDCURSOObstetrícia FIG. 10 OPERAÇÃO DE HUNTINGTON PARA CURA DA INVERSÃO UTERINA A: laparotomia e pinçamento de cada lado da zona invaginada. B: tração do útero para cima, com colocação de outras pinças nas partes inferiores do órgão que ainda estão invertidas. C: repetição do procedimento até que a inversão esteja totalmente revertida. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da Causas como rotura uterina e placentação anormal foram detalhadas na apostila MEDCURSO Obstetrícia volume 3 — Sangramento na Gravidez. INFECÇÕES PUERPERAIS OU MORBIDADE FEBRILINFECÇÕES PUERPERAIS OU MORBIDADE FEBRIL PUERPERALPUERPERAL DEFINIÇÃO DEFINIÇÃO É um termo geral empregado para descrever processos infecciosos no trato genital após o parto. A infecção puerperal ou morbidade febril puerperal pode ser definida como um quadro febril (temperatura corporal superior a 38°C) com duração superior a 48h, dentro dos primeiros dez dias do puerpério, excluindo-se as primeiras 24h. O aumento da temperatura corporal nas primeiras 24h após o parto é um achado comum no puerpério. A etiologia dos picos febris nas primeiras 24h não é totalmente conhecida. No entanto, estudos atribuem o aumento da temperatura corporal à resposta endocrinometabólica normal da mulher ao estresse do parto. Chamamos a sua atenção no capítulo de “Puerpério Fisiológico” sobre as divergências na literatura em relação ao período em que o aumento da temperatura corporal é considerado fisiológico. ATENÇÃOATENÇÃO É importante lembrar que a ausência de febre não significa ausência de infecção. Da mesma forma, a ocorrência de pico febril isolado é frequente no puerpério e normalmente apresenta resolução espontânea, sobretudo após parto normal. Portanto, a febre não é parâmetro único da infecção puerperal, mas sim um sinal objetivo que deve ser observado e avaliado cuidadosamente. A antibioticoterapia desnecessária deve ser evitada, mas é essencial sua introdução quando a infecção se instala. AUMENTO FISIOLÓGICO DA TEMPERATURA CORPORAL AUMENTO FISIOLÓGICO DA TEMPERATURA CORPORAL De acordo com a definição de infecção puerperal, o aumento da temperatura corporal pode ser considerado fisiológico se iniciar nas primeiras 24h e durar menos do que 48h. CAUSASCAUSAS A maioria dos processos infecciosos febris no pós-parto é causada por infecção do trato genital inferior. ENDOMETRITEENDOMETRITE É considerada a forma clínica mais frequente de infecção puerperal e, provavelmente, constitui o início de quase todos os processos infecciosos do útero e anexos. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da Apesar de ser um tema dos mais controversos, a morbidade febril do puerpério pode apresentar como causas: ● Infecções do útero e anexos; ● Infecções da ferida operatória (abdominal ou perineal); ● Infecções da mama (mastites): por motivos didáticos e das divergências na literatura, este assunto será abordado no tópico sobre alterações da mama lactante; ● Infecções em outros sítios (infecções urinárias). FATORES DE RISCOFATORES DE RISCO A cesariana é isoladamente o principal fator de risco para infecção puerperal. Aumenta significativamente a morbimortalidade materna. Quando comparada ao parto vaginal, a cesárea aumenta o risco de endometrite, tromboflebite pélvica e choque séptico de cinco a trinta vezes. A resume os principais fatores de risco anteparto, intraparto e pós-parto associados à infecção puerperal. TAB. 3TAB. 3 PRINCIPAIS FATORES DE RISCO ANTEPARTO E INTRAPARTO ASSOCIADOS À INFECÇÃO PUERPERAL.PRINCIPAIS FATORES DE RISCO ANTEPARTO E INTRAPARTO ASSOCIADOS À INFECÇÃO PUERPERAL. ANTEPARTO INTRAPARTO E PÓS-PARTO ● Baixo nível socioeconômico. ● Desnutrição (diminui ção da capacidade de resposta imunológica). ● Anemia materna. ● Obesidade. ● Diabetes mellitus. ● Terapia imunossupressora. ● Infecções do trato genital inferior (principal mente a vaginose bacteriana). ● Higiene pessoal. ● Ausência de assistência pré-natal. ● Cesariana. ● Rotura prematura das membranas. ● Corioamnionite. Tabela 3 t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da ● Múltiplos exames vaginais. ● Trabalho de parto prolongado. ● Monitori zação fetal interna. ● Perdas sanguíneas acentuadas no pós-parto. ● Retenção placentária. ● Traumatismo de canal de parto. ● Fissuras mamárias. *É um fator de risco se as mastites forem incluídas na definição de infecção puerperal. PRINCIPAL FATOR DE RISCO PARA INFECÇÃO PUERPERALPRINCIPAL FATOR DE RISCO PARA INFECÇÃO PUERPERAL A cesariana é isoladamente o principal fator de risco para infecção puerperal CONDIÇÕES ASSOCIADAS À VIA DE PARTOCONDIÇÕES ASSOCIADAS À VIA DE PARTO Algumas condições relacionadas diretamente à via de parto podem elevar de forma significativa o risco do desenvolvimento de infecção puerperal. EM PARTOS VAGINAISEM PARTOS VAGINAIS Os principais fatores de risco para infecção puerperal associados a esta via de parto incluem: ● Rotura de membranas superior a 12h; ● Bacteriúria intraparto; ● Múltiplos toques vaginais; ● Monitoração interna; ● Corioamnionite; ● Traumatismo intraparto. EM CESARIANASEM CESARIANAS A cesariana é o fator de risco mais importante para o desenvolvimento de infecção puerperal. Em comparação aos partos vaginais, a cesárea eleva o risco de endomiometrite em 5–30 vezes, o de bacteremia em 2–10 vezes, o de abscesso e tromboflebite pélvica séptica em duas vezes e o de morte por t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da infecção em cerca de 80 vezes. Apesar destas altas taxas de infecção relacionadas às operações cesarianas, existem alguns fatores que podem aumentar ainda mais o risco de complicações infecciosas após um parto operatório: ● Trabalho de parto prolongado; ● Rotura de membranas superior a 12h; ● Anestesia geral; ● Monitoração intraútero. Outros fatores de risco relacionados a esta via de parto, principalmente pelas comissões de controle de infecção hospitalar, são: ● Qualidade dos cuidados assistenciais; ● Técnicas de assepsia dos profissionais e de preparo da paciente; ● Qualidade da técnica cirúrgica e a assistência durante o período de trabalho de parto. MICROBIOLOGIAMICROBIOLOGIA Os micro-organismos que invadem o sítio placentário e as incisões perineais ou abdominais geralmente fazem parte da microbiologia do trato genital inferior. As bactérias mais comumente envolvidas em infecções do trato genital feminino estão listadas na . A maioria das bactérias é pouco virulenta e dificilmente causa infecção em tecido sadio. A identificação dos patógenos responsáveis pela maior parte das infecções puerperais é muito difícil, pois depende da cultura da secreção uterina, que é muito pouco confiável. Os micro-organismos envolvidos e a fisiopatologia da endometrite são similares àqueles da corioamnionite, sendo comum a presença prévia de infecção intra-amniótica clínica ou subclínica. A clamídia é a bactéria associada à endometrite puerperal tardia (após o 10º dia). TAB. 4 TAB. 4 MICRO-ORGANISMOS ENVOLVIDOS EM INFECÇÃO PUERPERAL.MICRO-ORGANISMOS ENVOLVIDOS EM INFECÇÃO PUERPERAL. Aeróbios Gram-positivos Aeróbios Gram-positivos ● Streptococcus beta-hemolíticos dos grupos A, B (Streptococcus agalactiae) e D. ● Enterococcus faecalis. ● Staphylococcus aureus. Aeróbios Gram-negativosAeróbios Gram-negativos Tabela 4 t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da ● Escherichia coli. ● Klebsiella sp. ● Proteus sp. ● Enterobacter sp. ● Pseudomonas aeruginosa. ● Neisseria gonorrhoeae. Anaeróbios Gram-positivosAnaeróbios Gram-positivos ● Peptococcus sp. ● Peptostrep tococcus sp. ● Clostridium perfringens. ● Clostridium welchii. Anaeróbios Gram-negativosAnaeróbios Gram-negativos ● Bacterioides bi vius/fragi lis/disiens. ● Fusobacterium sp. OutrasOutras ● Mycoplasma hominis. ● Chlamydia trachomatis. PROFILAXIAPROFILAXIA As medidas profiláticas ancoram-se em uma assistência obstétrica adequada. ● Investigação e correção de fatores predisponentes:alterações nutricionais, anemia e infecções genitais devem ser tratadas. ● Manutenção da integridade das membranas. ● Toque vaginal parcimonioso. ● Assistência ao parto com assepsia e antissepsia rigorosas: a antissepsia vaginal com clorexidina durante o trabalho de parto parece prevenir a infecção puerperal. No entanto, são necessários mais estudos para comprovar a ação benéfica desse agente na prevenção da infecção puerperal. ● Correção de distocias e discinesias uterinas: a correção de distocias e discinesias impede o trabalho de parto prolongado. ● Sutura de lacerações do trajeto: diminui a ocorrência de infecção puerperal. ● Uso de antibióticos no perioperatório: a utilização de antibióticos na cesariana reduz a incidência de t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da Uso de antibióticos no perioperatório: a utilização de antibióticos na cesariana reduz a incidência de endometrite e infecção de parede abdominal em cerca de 70%, tanto na cesariana eletiva quanto na de urgência e preferencialmente 30 a 60 minutos antes do início da cirurgia. Não há recomendação de profilaxia antibiótica no parto vaginal. O antibiótico profilático recomendado para profilaxia da infecção puerperal na cesariana é a cefazolina 1 a 2 g, IV, dose única, sendo possível a utilização de clindamicina 600 mg, IV, nas pacientes alérgicas a betalactâmicos. TIPOS DE INFECÇÃO PUERPERALTIPOS DE INFECÇÃO PUERPERAL A resume os principais tipos de infecção puerperal. ENDOMETRITE/ENDOMIOMETRITEENDOMETRITE/ENDOMIOMETRITE As infecções que envolvem o endométrio são denominadas de endometrite, e as que envolvem o endométrio e miométrio são chamadas de endomiometrite. Como já mencionamos, a endometrite é possivelmente o início de quase todos os processos infecciosos do útero e anexos, e é a infecção puerperal mais prevalente. Surge comumente entre o quarto e o quinto dia após o parto. Os sintomas comuns são febre alta (39°C), útero subinvoluído, doloroso, amolecido, com o colo entreaberto e exteriorizando lóquios piossanguinolentos fétidos. Não há empastamento dos paramétrios ou massas palpáveis. ATENÇÃOATENÇÃO Figura 11 _ _ FIG. 11 TIPOS DE INFECÇÃO PUERPERAL. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da ATENÇÃOATENÇÃO A tríade de Brumm consiste no achado de útero doloroso, amolecido e hipoinvoluído encontrado nas pacientes com infecção puerperal. A endometrite é geralmente uma infecção polimicrobiana causada por bactérias que atingem o útero por via ascendente e que encontram no endométrio e no sítio de implantação da placenta bons meios de cultura. As complicações da endometrite se relacionam à extensão da infecção para as cavidades pélvica e peritoneal com parametrite, salpingite, peritonite, abscesso pélvico, fasciíte necrosante, choque séptico e tromboflebite pélvica séptica. A antibioticoterapia deve ser iniciada logo após o diagnóstico e deve ser mantida até a paciente se tornar afebril, por 72h, e assintomática. O esquema antibiótico comumente recomendado é: ● Clindamicina: 900 mg, IV, 8/8h; ● Gentamicina: 1,5 mg/kg, IV, a cada 8h. Nos casos de sepse ou na suspeita de infecção por enterococo ou anaeróbio, pode-se adicionar ampicilina ou metronidazol, respectivamente, para aumentar o espectro antibiótico: ● Ampicilina: 2 g, IV, a cada 6h; ● Metronidazol: 500 mg, IV, a cada 8h. COMPLICAÇÕESCOMPLICAÇÕES PARAMETRITEPARAMETRITE Em geral, está associada à endometrite. Há espessamento de paramétrios, habitualmente unilateral, o toque genital é muito doloroso e a febre é alta. O tratamento é clínico e consiste na antibioticoterapia com o mesmo esquema recomendado para endometrite. SALPINGITESALPINGITE Geralmente, está associada à endomiometrite. Há dor abdominal aguda, principalmente nas fossas ilíacas, defesa abdominal discreta e febre alta. O toque evidencia anexos extremamente dolorosos. O tratamento é clínico e o esquema de antibióticos é o mesmo recomendado para endometrite. ABSCESSO PÉLVICOABSCESSO PÉLVICO Caracteriza-se pela presença de febre persistente, geralmente vespertina, em paciente com antibioticoterapia t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da Caracteriza-se pela presença de febre persistente, geralmente vespertina, em paciente com antibioticoterapia adequada e massa pélvica identificável à palpação abdominal, ao exame bimanual ou à ultrassonografia. O tratamento consiste na drenagem do abscesso associada à antibioticoterapia (mesmo esquema da endometrite) por dez dias. PERITONITEPERITONITE A paciente apresenta febre alta, palidez, pulso rápido, dor pélvica intensa, inicialmente em hipogástrio, mas posteriormente tornando-se difusa. A descompressão súbita da parede abdominal é dolorosa (sinal de Blumberg) e há diminuição do peristaltismo ou distensão abdominal com íleo paralítico. O toque vaginal é hipersensível, às vezes com abaulamento de fundo de saco. A evolução para peritonite é mais comum quando o germe responsável pela infecção é de extrema virulência, como o Streptococcus beta-hemolítico. Em linhas gerais, o esquema antibiótico recomendado é o mesmo da endometrite. TROMBOFLEBITE PÉLVICA SÉPTICATROMBOFLEBITE PÉLVICA SÉPTICA É um diagnóstico de exclusão. Ocorre nas pacientes em antibioticoterapia que possuem remissão parcial dos sintomas, mas permanecem com febre após 48 a 72h. Os picos febris são acompanhados de taquicardia significativa e desproporcional. Na presença de taquipneia, dor torácica e hemoptoicos, a presença de embolia pulmonar deve ser suspeitada como complicação. Caracteriza-se pela formação de coágulos nos vasos pélvicos relacionada a infecções. Estão envolvidos os vasos ovarianos, ilíacos comuns, hipogástricos, vaginais e veia cava, sendo a veia ovariana o sítio mais comum. A ultrassonografia com dopplerfluxometria evidencia ausência de fluxo na veia ovariana, no entanto, a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética fornecem o diagnóstico e avaliam com mais precisão a extensão do processo. O tratamento é frequentemente empírico e consiste em um teste terapêutico com o uso de heparina associado aos antibióticos. A heparinização deve ser em doses plenas de heparina de baixo peso molecular (1 mg/kg a cada 12h). A resposta clínica ocorre em 48 a 72h do início do tratamento com heparina. Mesmo após suspensão da antibioticoterapia, a heparina deve ser mantida por sete a dez dias. Vale ressaltar que alguns estudos questionam a eficácia da heparina nestes casos. SEPSE E CHOQUE SÉPTICOSEPSE E CHOQUE SÉPTICO A sepse consiste no conjunto de alterações fisiológicas e consequências clínicas da presença de micro- organismos ou seus produtos na corrente sanguínea ou tecidos. A paciente apresenta fácies toxêmica, febre alta, taquicardia, mialgia, irritabilidade, letargia e hipotensão. Esta última nem sempre está presente. Hipotermia é incomum, mas pode ocorrer na sepse grave. Na sepse causada por Clostridium, a evolução é dramática. A maioria dos casos de choque séptico é subsequente à infecção por enterobactérias, principalmente a Escherichia coli. Essas bactérias produzem endotoxinas capazes de deflagrar inúmeras reações químicas no organismo afetado: ativação da cascata de coagulação, ativação do sistema complemento e ativação do sistema formador de cininas. A liberação desses mediadores promove vasodilatação seletiva que acarreta a distribuição desigual do fluxo sanguíneo. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da Pacientes com infecção puerperal que iniciem quadro de taquipneia, oligúria, vasodilatação periférica e hipotensão refratária à reposição volêmica agressiva, na ausência de hemorragia ativa, estão possivelmente em choque séptico. A agregação plaquetária e leucocitária pode obstruir pequenos vasos, levando à isquemia focal com edema intersticial e até necrose tecidual. A presença de gangrena gasosa, hemólise intravascular, icterícia, coagulação intravascular disseminada e insuficiência renal aguda denunciam uma maior gravidade do quadro. Estas pacientes devem serencaminhadas ao centro de terapia intensiva, e deve ser avaliada a necessidade de tratamento cirúrgico, como desbridamento de parede abdominal, drenagem de abscessos intracavitários ou histerectomia. FASCIÍTE NECROSANTEFASCIÍTE NECROSANTE É uma complicação rara, mas potencialmente fatal que pode acometer episiorrafias, feridas operatórias e lacerações perineais. É uma infecção grave com extensas áreas de necrose que ocorre entre o terceiro e o quinto dia após o parto. A infecção inicial pode ser causada pelo Streptococcus beta-hemolítico do grupo A, mas normalmente a flora é polimicrobiana. A presença de gás em tecidos moles pelo exame físico (enfisema subcutâneo) e exames de imagem (TC ou RM) sugere infecção por Clostridium difficile. O quadro clínico inicial é de edema e eritema na pele, com evolução para uma coloração azulada ou castanha, de aspecto gangrenoso, com formação de vesículas e bolhas. A exploração cirúrgica precoce pode salvar a vida da paciente. O tratamento exige desbridamento cirúrgico agressivo associado ao uso de antibióticos de amplo espectro e monitorização em CTI. Mesmo assim, a mortalidade é extremamente alta, alcançando 25% mesmo com o tratamento adequado. ATENÇÃOATENÇÃO Falou em infecção grave com presença de gás em tecidos moles pelo exame físico (enfisema subcutâneo) e exames de imagem (RX, TC ou RM), pense sempre em infecção por Clostridium! INFECÇÕES DE EPISIORRAFIAINFECÇÕES DE EPISIORRAFIA As infecções geralmente resultam de traumatismos e hematomas contaminados pela microflora vaginal. Normalmente, as pacientes referem dor intensa na região perineal associada à hipertermia, calor e sinais de abscesso em formação. A ferida operatória deverá ser aberta cirurgicamente e explorada em busca de abscessos. A antibioticoterapia pode ser oral em pacientes com manifestação exclusivamente local, mas o tratamento é obrigatoriamente venoso caso haja manifestação sistêmica. É possível a utilização de banho de assento ou substâncias antissépticas após o tratamento inicial para manter a higiene local. A maior parte das infecções de episiotomia irá cicatrizar por segunda intenção, mas é possível a ressutura se não houver mais sinais de infecção e com presença de tecido de granulação. INFECÇÃO DE PAREDE ABDOMINALINFECÇÃO DE PAREDE ABDOMINAL t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da A ferida operatória apresenta-se com hiperemia, calor, celulite e secreção purulenta. Os principais fatores de risco são obesidade, imunossupressão, tempo cirúrgico prolongado, desnutrição, técnica cirúrgica inadequada e presença de outras infecções. Os principais agentes etiológicos encontrados são Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus aureus e Escherichia coli. O tratamento nas formas mais leves pode ser feito ambulatorialmente, com retirada completa ou alternada dos pontos da pele e prescrição de antibioticoterapia (ampicilina, cefalexina ou clindamicina). ALTERAÇÕES NAS MAMAS LACTANTESALTERAÇÕES NAS MAMAS LACTANTES INGURGITAMENTO MAMÁRIOINGURGITAMENTO MAMÁRIO Caracteriza-se por estase láctea repentina em puérperas com bom estado geral, acompanhada de desconforto e hiperdistensão mamária e de hipertermia local e sistêmica, mas que normalmente não alcança 39°C. A maioria dos casos de ingurgitamento ocorre entre 48 e 72h pós-parto e reflete a apojadura. São várias as causas envolvidas neste processo: pega papilar inadequada, sucção ineficiente, dificuldade de ejeção láctea, produção excessiva de leite e obstrução do ducto mamário resultante da formação intraductal de cristais, que possivelmente decorre de dieta rica em cálcio. Na gênese do ingurgitamento estão envolvidos basicamente três processos: ● Aumento da vascularização da mama e congestão vascular secundária à saída da placenta; ● Acúmulo de leite nas mamas; ● Edema secundário à obstrução da drenagem linfática causada pela estase do leite e por aumento da vascularização dos alvéolos. O melhor tratamento para o quadro é a manutenção do aleitamento, o apoio físico e psicológico à puérpera. As mamas devem ser erguidas com sutiãs adequados, a frequência das mamadas deve ser aumentada e o excesso de leite ordenhado após a amamentação, de forma manual ou com bombas elétricas adequadas. A realização de massagens circulares, principalmente nas áreas mais dolorosas e enrijecidas, facilita a saída do leite e promove alívio da sintomatologia materna. É possível a utilização de analgésicos comuns, porém não há indicação de antibióticos. Atualmente, o uso de compressas não é recomendado principalmente pelo efeito rebote que provocam. Além disso, movida pelo desespero e pela dor, a mãe tende a exagerar na temperatura da compressa (muito quente ou muito gelada), frequentemente ocasionando queimaduras locais. ATENÇÃOATENÇÃO USO DE COMPRESSAS FRIAS OU QUENTES t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da O uso de compressa fria no intervalo das mamadas pode diminuir a dor e o edema. A compressa quente antes de amamentar estimula o reflexo da ocitocina, favorecendo o afluxo de leite. Atualmente, o uso de compressas não é recomendado, principalmente pelo efeito rebote que provocam. Além disso, movida pelo desespero e pela dor, a mãe tende a exagerar na temperatura da compressa (muito quente ou muito gelada), frequentemente ocasionando queimaduras locais. FISSURAS MAMÁRIASFISSURAS MAMÁRIAS São erosões alongadas em torno das papilas resultantes, na maioria das vezes, da pega inadequada do recém-nascido por má técnica ou por ingurgitamento mamário ( ). Elas resultam em dor durante a amamentação e constituem uma causa importante de desmame. Além disso, as fissuras permitem a entrada de germes no parênquima e predispõem à ocorrência de mastites, pois são soluções de continuidade. Figura 12_ _ t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da A principal forma de prevenção e tratamento das fissuras é o posicionamento adequado e a pega correta. Também é possível orientar a lubrificação das mamas com o próprio leite antes e após cada mamada, evitando-se o uso de pomadas ou cremes nas papilas. Na presença dessas lesões, a paciente não deve suspender a lactação e deve realizar ordenha frequente para evitar e/ou tratar o ingurgitamento mamário. MASTITE PUERPERALMASTITE PUERPERAL A mastite é um processo infeccioso, agudo ou crônico, que pode acometer todos os tecidos mamários (glandular, subcutâneo ou pele), sendo a forma aguda puerperal a mais comum. Na maioria das vezes, deriva de germes saprófitas da pele. Em geral, a presença de fissuras mamárias resulta em quebra dos mecanismos de defesa do organismo e em aumento do número de bactérias sobre a pele da mama. A penetração dos germes ocorre pelos linfáticos superficiais, expostos pelas fissuras papilares. O principal agente etiológico é o Staphylococcus aureus. Pode ser encontrado com menor frequência o Staphylococcus epidermidis e o Streptococcus do grupo B. Nas formas graves, com a consequente evolução para ulceração e necrose, associam-se bactérias Gram-negativas aeróbicas (E. coli, Pseudomonas e Serratia) ou germes anaeróbios como os bacteroides. Possui como fatores de risco: a primiparidade e idade < 25 anos, ingurgitamento mamário, fissura papilar, episódio anterior de mastite, traumas diretos sobre as mamas, infecção da rinofaringe do lactente, má higiene e anormalidades papilares. O processo tem início com a estase láctea. A seguir, surgem os sinais clássicos de inflamação: dor, calor, rubor, de início súbito associado a febre alta (39 a 40ºC), calafrios e turgência mamária extensa ( ). Pode cursar com adenopatia. FIG. 12 FISSURA DA PAPILA. Figura 13_ _ t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da As principais medidas profiláticas são a higiene adequada e a prevenção do ingurgitamento mamário e de fissuras. O diagnóstico é realizado a partir do quadro clínico de dor mamária, associada a sinais flogísticos localizados (edema, calor, eritema e endurecimento da pele) além de febre alta. O tratamento das pacientesenvolve o uso de analgésicos, antitérmicos, suspensão adequada das mamas (sutiãs adequados), esvaziamento completo das mamas para evitar a estase (preferencialmente por ordenha manual) e antibioticoterapia. O antibiótico normalmente utilizado para o tratamento ambulatorial é a cefalexina 500 mg a cada 6h por 7 a 14 dias, mas alguns autores também recomendam o uso de amoxicilina 500 mg de 8/8h. Nos casos mais graves, utiliza-se o tratamento venoso com oxacilina 500 mg, IV, a cada 6h associada à cefoxitina, IV, a cada 8h. Se possível, a cultura do leite deve ser realizada para orientar a antibioticoterapia. A amamentação deve ser mantida em ambas as mamas, com início preferencialmente pela mama não afetada. Como já mencionamos anteriormente, a mama comprometida deve ser totalmente esvaziada. A ingesta de líquidos deve ser incentivada. A evolução arrastada da mastite está frequentemente associada à presença de germes resistentes aos antibióticos utilizados, dose insuficiente ou evolução para abscesso mamário. ABSCESSO MAMÁRIOABSCESSO MAMÁRIO Corresponde à presença de coleção purulenta no parênquima mamário. A antibioticoterapia deve ser instituída, e a drenagem cirúrgica sob anestesia está indicada se houver flutuação ( ). A incisão cirúrgica deve ser radial e o mais distante possível da aréola para que se possa preservar a lactação e para se evitar a secção dos ductos principais. FIG. 13 SINAIS INFLAMATÓRIOS DA MAMA. Figura 14_ _ t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da Em linhas gerais, a amamentação deve ser mantida, exceto nos casos de drenagem purulenta espontânea pela papila e de incisão cirúrgica muito próxima da papila. Nessas situações, a amamentação na mama contralateral deve prosseguir normalmente, e a mama afetada deve ser esvaziada por ordenha manual ou por bomba elétrica adequada. A amamentação deve ser restabelecida tão logo o processo infeccioso tenha se resolvido. DOENÇAS TROMBOEMBÓLICASDOENÇAS TROMBOEMBÓLICAS O Tromboembolismo Venoso (TEV) pode surgir em qualquer momento do ciclo gravídico-puerperal, ocorrendo metade dos casos durante a gravidez e a outra metade no puerpério, principalmente na primeira semana pós-parto. Como o puerpério é significativamente menor que a gestação, considera-se que este é o momento de maior risco de TEV para a paciente, estando este risco aumentado quando ela é submetida à cesariana. Deve-se suspeitar de Trombose Venosa Profunda (TVP) na puérpera que apresenta dor súbita em membro inferior associada a edema assimétrico, eritema e calor. A dor durante a dorsiflexão do pé (sinal de Homans) FIG. 14 ABSCESSO MAMÁRIO. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da inferior associada a edema assimétrico, eritema e calor. A dor durante a dorsiflexão do pé (sinal de Homans) é bastante característica da TVP, porém pode não estar presente nas tromboses proximais ou mesmo pélvicas, assim como os sinais flogísticos mencionados. Achados como dispneia, taquicardia, dor torácica e hemoptoicos falam a favor de embolização pulmonar. O diagnóstico de TVP e TEV em uma puérpera é feito da mesma forma que em pacientes não gestantes, utilizando principalmente a dopplervelocimetria dos membros inferiores e a angiotomografia. Vale ressaltar que o D-dímero, muito utilizado em não gestantes para investigação de TVP e TEV, está fisiologicamente aumentado na gestação e principalmente após a cesariana. Frente a uma suspeita diagnóstica de TVP, é importante iniciar imediatamente a anticoagulação para evitar a embolia pulmonar, já que esta é mais grave e potencialmente fatal. O tratamento poderá ser suspenso caso a suspeita diagnóstica não se confirme. A anticoagulação inicial é feita com heparina em doses terapêuticas, dando-se preferência pela de baixo peso molecular. A mais utilizada é a enoxaparina, na dose de 1 mg/kg a cada 12h. Durante a amamentação, o warfarin é seguro e, portanto, uma alternativa ao uso da heparina caso a anticoagulação seja necessária por um longo período. Os novos agentes anticoagulantes não devem ser utilizados durante a amamentação devido à falta de estudos de segurança. TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS DO PÓS-PARTOTRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS DO PÓS-PARTO DISTÚRBIOS DO HUMORDISTÚRBIOS DO HUMOR DEPRESSÃO PÓS-PARTODEPRESSÃO PÓS-PARTO É um episódio de depressão maior que ocorre nas primeiras quatro semanas do puerpério. Adolescentes, pacientes com história de depressão ou ansiedade durante a gravidez, a ocorrência de eventos traumáticos durante a gestação, recém-nascido internado em unidade de terapia intensiva neonatal, eventos adversos obstétricos graves, pouco suporte social e a presença de transtornos do humor prévios ao ciclo gravídico- puerperal são os principais fatores de risco. Pacientes com blues puerperal podem evoluir para depressão pós-parto, o que justifica o seu acompanhamento mais próximo. As manifestações clínicas são similares àquelas apresentadas por pacientes com depressão não relacionada à gravidez: humor depressivo; falta de interesse ou prazer; alteração no apetite ou peso; distúrbios do sono; fadiga; disfunção cognitiva; e sentimento de incapacidade ou culpa. Uma característica significativa da depressão pós-parto é a falta de interesse nos cuidados do recém-nascido e na amamentação, além de afastamento. Muitos destes sintomas são atribuídos ao puerpério, o que faz com que a depressão pós-parto seja subdiagnosticada. Nos casos mais graves, há ideação suicida. DIVERGÊNCIAS NA LITERATURA DIVERGÊNCIAS NA LITERATURA A seguir, apresentaremos algumas das divergências encontradas sobre o puerpério patológico. Algumas delas já foram exploradas nas provas de residência médica. Por este motivo, nas provas de Obstetrícia, vale sempre a pena conferir as referências bibliográficas dos concursos que você se submeterá. Fique de nelas! t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da DEFINIÇÃO DE HEMORRAGIA PÓS-PARTODEFINIÇÃO DE HEMORRAGIA PÓS-PARTO Manual de Gestação de Alto Risco do Ministério da Saúde (2022), Rezende Obstetrícia (14ª edição, 2022, e 13ª edição, 2016) e Tratado de Obstetrícia da Febrasgo (2019) Definem as perdas sanguíneas patológicas como aquelas acima de 500 ml após parto vaginal ou > 1.000 ml após o parto cesáreo. Para fins de definição clínica, qualquer perda de sangue que cause instabilidade hemodinâmica também pode ser considerada hemorragia pós-parto. A 14ª edição do Rezende Obstetrícia utiliza a definição da OMS, considerando hemorragia pós-parto como a estimativa visual de perda sanguínea pós-parto, acima de 500 ml, e HPP grave como estimativa visual de perda sanguínea pós-parto, acima de 1.000 ml. Williams Obstetrics (26ª edição, 2022, e 25ª edição, 2018) Não deixa claro qual é a definição. Diz que, tradicionalmente, seria a perda de pelo menos 500 ml de sangue após o terceiro período, mas que este conceito seria problemático. Depois menciona que o ACOG considera como hemorragia pós-parto a perda de 1.000 ml seguida de sinais e sintomas de hipovolemia. Zugaib Obstetrícia (4ª edição, 2020, e 3ª edição, 2016) Adota a definição da FIGO (Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia): a hemorragia puerperal é definida e diagnosticada clinicamente como um sangramento excessivo que torna a paciente sintomática (vertigem, síncope) e/ou que resulta em sinais de hipovolemia (hipotensão, taquicardia ou oligúria). Rotinas em Obstetrícia (7ª edição, 2017) A hemorragia pós-parto é definida como a perda sanguínea de mais de 500 ml. Manual de Ginecologia e Obstetrícia SOGIMIG (6ª edição, 2017) Três definições tradicionais são aceitas segundo essa fonte bibliográfica: ● Perda sanguínea estimada em 500 ml ou mais nos partos vaginais e acima de 1.000 ml nas cesarianas; ● Queda de 10% no hematócrito (possui pouco valor na vigência de sangramento, pois tem valor retrospectivo); ● Perda sanguínea em volume que comprometa a estabilidade hemodinâmica da puérpera, resultando em sinais clínicos de hipovolemia (hipotensão, taquicardia e oligúria), além de sintomascomo síncope, vertigem ou turvação visual (critério adotado pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia — FIGO). CLASSIFICAÇÃO DA HEMORRAGIA PUERPERALCLASSIFICAÇÃO DA HEMORRAGIA PUERPERAL Williams Obstetrics (26ª edição, 2022, e 25ª edição, 2018) ● Precoce: quando ocorrem nas primeiras 24h após o parto. ● Tardia: quando ocorre após as primeiras 24h. Rezende Obstetrícia (14ª edição, 2022) e Zugaib Obstetrícia (4ª edição, 2020, e 3ª edição, 2016) ● Primária: quando ocorre nas primeiras 24h após o parto. ● Secundária: é aquela que acontece entre 24h e 12 semanas do pós-parto. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da Tratado de Obstetrícia da Febrasgo (2019) ● Primária: se acontece nas primeiras 24h após o parto. ● Secundária: quando ocorre após as primeiras 24h até seis a doze semanas após o parto. Rotinas em Obstetrícia (7ª edição, 2017) ● Imediata: se acontece nas primeiras 24h após o parto. ● Tardia: quando presente após as primeiras 24h, mas ocorre sempre antes de seis semanas após o parto. Manual de Ginecologia e Obstetrícia SOGIMIG (6ª edição, 2017) ● Primária ou precoce: se acontece nas primeiras 24h após o parto. ● Secundária ou tardia: quando ocorre após as primeiras 24h até 12 semanas após o parto. Rezende Obstetrícia (13ª edição, 2016) ● Primária ou precoce: se acontece nas primeiras 24h após o parto. ● Secundária ou tardia: quando ocorre após as primeiras 24h até 6 a 12 semanas após o parto. FREQUÊNCIA DOS "4 Ts" DA HEMORRAGIA PÓS-PARTO FREQUÊNCIA DOS "4 Ts" DA HEMORRAGIA PÓS-PARTO Manual de Gestação de Alto Risco do Ministério da Saúde (2022) Descreve os “4 Ts”, mas não as suas frequências. Williams Obstetrics (26ª edição, 2022, e 25ª edição, 2018) e Rotinas em Obstetrícia (7ª edição, 2017) Não descrevem os "4 Ts" e esta frequência. Rezende Obstetrícia (14ª edição, 2022, e 13ª edição, 2016) e Tratado de Obstetrícia Febrasgo (2019) A 14ª edição do Rezende Obstetrícia e o Tratado da Febrasgo invertem o segundo com o terceiro T: Tônus 70%, Tecido 19%, Trauma 10% e Trombina 1%. A 13ª edição do Rezende Obstetrícia definia a incidência como Tônus 80%, Trauma 15%, Tecido 5% e Trombina < 1%. Zugaib Obstetrícia (4ª edição, 2020, e 3ª edição, 2016) A 4ª edição coloca nesta ordem: tônus 70%, trauma 19%, Tecido 10% e Trombina 1%. Já a 3ª edição só menciona a frequência da atonia uterina de 80%, sem descrever os "4 Ts". Hermógenes Obstetrícia Básica (3ª edição, 2015) Menciona os "4 Ts", mas relata apenas a frequência de 90% da hipotonia uterina. DEFINIÇÃO GERAL DE INFECÇÃO PUERPERALDEFINIÇÃO GERAL DE INFECÇÃO PUERPERAL t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da DEFINIÇÃO GERAL DE INFECÇÃO PUERPERALDEFINIÇÃO GERAL DE INFECÇÃO PUERPERAL Williams Obstetrics (26ª edição, 2022, e 25ª edição, 2018) Infecção puerperal é um termo genérico usado para descrever qualquer infecção bacteriana do trato genital após o parto. Rezende Obstetrícia (14ª edição, 2022, e 13ª edição, 2016) A infecção puerperal corresponde à toda infecção que se origina no sistema genital durante o puerpério. A morbidade febril puerperal é definida como a temperatura de, no mínimo, 38°C, durante dois dias quaisquer, dos primeiros dez do pós-parto, excluídas as 24h iniciais. Zugaib Obstetrícia (4ª edição, 2020, e 3ª edição, 2016) Infecção puerperal é um termo genérico usado para descrever qualquer infecção bacteriana do trato genital após o parto, incluindo a endometrite, endomiometrite ou endomioparametrite. Define morbidade febril puerperal como temperatura de 38°C ou mais, a qual ocorre em dois de qualquer um dos primeiros dez dias pós-parto, excetuando os dois primeiros, aferida por via oral através de técnica padrão, pelo menos quatro vezes ao dia, o que inclui todos os estados febris no puerpério. Tratado de Obstetrícia da Febrasgo (2019) Define apenas morbidade febril puerperal, que seria a presença de temperatura de, no mínimo, 38°C durante dois dias consecutivos, entre os primeiros 10 dias pós-parto, em pelo menos quatro tomadas diárias por via oral (excluídas as 24h iniciais). Inclui, além da endometrite, a mastite, a infecção urinária e a pneumonia puerperal no mesmo espectro. Manual de Ginecologia e Obstetrícia SOGIMIG (6ª edição, 2017) Esta fonte denomina infecção puerperal como qualquer infecção bacteriana que acometa os órgãos genitais femininos após o parto. TRATAMENTO ANTIBIÓTICO PARA ENDOMETRITETRATAMENTO ANTIBIÓTICO PARA ENDOMETRITE Williams Obstetrics (26ª edição, 2022, e 25ª edição, 2018) O tratamento de escolha após a cesariana é feito com clindamicina e gentamicina. O autor menciona que a infecção após o parto vaginal pode ser tratada com anbitiótico oral ou intramuscular, mas não especifica qual. Rezende Obstetrícia (14ª edição, 2022, e 13ª edição, 2016) Este livro recomenda o tratamento com clindamicina associada à gentamicina, conforme mencionado no texto. É relatado, ainda, que a ampicilina ou o metronidazol podem ser adicionados para prover cobertura contra anaeróbios nos casos de parto cesáreo. Zugaib Obstetrícia (4ª edição, 2020, e 3ª edição, 2016) Na 4ª edição, o autor recomenda clindamicina em associação com gentamicina ou ampicilina/sulbactam. Já na 3ª edição, as combinações recomendadas são clindamicina em associação com gentamicina e ampicilina ou penicilina associada à aminoglicosídeo (gentamicina ou amicacina) e ao metronidazol (esquema tríplice). Tratado de Obstetrícia da Febrasgo (2019) Recomenda o uso de gentamicina e clindamicina. Menciona que a clindamicina pode ser substituída pelo metronidazol caso a mãe não esteja amamentando. Rotinas em Obstetrícia (7ª edição, 2017) Essa fonte não detalha a antibioticoterapia para endometrite. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da Manual de Ginecologia e Obstetrícia SOGIMIG (6ª edição, 2017) Os esquemas recomendados são: ● Esquema duplo: clindamicina 600 mg, IV, a cada 8h + gentamicina 5 mg/kg de peso, IV, em dose única diária; ● Esquema tríplice: penicilina cristalina, cinco milhões de unidades, IV, a cada seis horas ou ampicilina 2 g, IV, a cada 6h + metronidazol 500 mg/kg de peso, IV, a cada 6h + gentamicina 5 mg/kg, IV, em dose única diária. TEMPO DE TRATAMENTO DAS MASTITESTEMPO DE TRATAMENTO DAS MASTITES Williams Obstetrics (26ª edição, 2022) Recomenda o tratamento por 10 dias. Rezende Obstetrícia (14ª edição, 2022, e 13ª edição, 2016) O tratamento recomendado é de 14 dias Zugaib Obstetrícia (4ª edição, 2020, e 3ª edição, 2016), Williams Obstetrics (25ª edição, 2018) e Manual de Ginecologia e Obstetrícia SOGIMIG (6ª edição, 2017) O tratamento recomendado é de 10–14 dias. Tratado de Obstetrícia da Febrasgo (2019) O autor recomenda o tratamento por 7–14 dias, dependendo da resposta da paciente. Se bem orientada, realizando esvaziamento, o curso é de sete dias. Rotinas em Obstetrícia (7ª edição, 2017) Este livro não faz menção a esta informação. Dúvidas Acadêmicas do CapítuloTESTE SEU CONHECIMENTOConfira as dúvidas acadêmicas do capítulo clicando aqui Questões da ApostilaREALIZAR AS QUESTÕES Realize as questões de concursos selecionadas para esta apostila e depois confira os comentários da nossa equipe acadêmica. Tabela de ExamesVER TABELAExames laboratoriais em clínica médica. t.m e/ m ed ic in al iv re 2 pr oi bi da v en da