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PROCESSO DO TRABALHO HABEAS CORPUS E MANDADO DE SEGURANÇA docx

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HABEAS CORPUS NA JUSTIÇA DO TRABALHO
A expressão “habeas corpus”, originário do latim, significa “tenha o corpo”,
sendo entendida a expressão como ordem de libertação. Tendo previsão
constitucional, o habeas corpus é tido como um remédio judicial ou constitucional,
pois este tem o poder de cessar a violência e coação que indivíduos possam estar
sofrendo.
O habeas corpus na justiça do trabalho está previsto no inciso IV do art. 114 da
Constituição Federal – matéria incluída após a EC n° 45/2004:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o
ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;
A EC n° 45/2004 ampliou a competência de atuação da Justiça do Trabalho, em
que se vislumbraram, inicialmente, duas hipóteses de cabimento do habeas corpus no
âmbito trabalhista: prisão civil para depositário infiel e prisão criminal relacionada a
matéria trabalhista.
Quanto a hipótese relativa às causa criminais relacionadas à matéria trabalhista
assevera Anderson Ferreira Sobrinho, citando Guilherme Guimarães Feliciano (O
Habeas Corpus na Justiça do Trabalho. SOBRINHO, Anderson Ferreira. Editora São
Paulo. 2003. Pg.79):
A esse respeito, Guilherme Guimarães Feliciano observa que no nosso
sistema jurídico atual não permite falar-se “em um Direito Penal do Trabalho;
há, sim, disposições penais relacionadas às relações de trabalho e
ocasionalmente à Justiça do Trabalho, assim como institutos de Direito Penal
que assume relevância na órbita juslaboral [...]”
Ocorre que esta “competência criminal da Justiça do Trabalho” acabou afastada
por Ação Direta de Inconstitucionalidade com pedido de liminar para afastar qualquer
entendimento que reconheça à Justiça do Trabalho competência criminal, tese acolhida
pelo Supremo Tribunal Federal.
Dessa forma, o habeas corpus em matéria trabalhista não tem competência
para julgamento das causas criminais relacionadas à matéria trabalhista – mesmo que
os crimes cuja elementar do tipo penal forem compostos pela relação de trabalho
economicamente subordinado.
Observe- se que no crime de falso testemunho, por exemplo, praticado junto à
justiça do trabalho, este seria apurado junto à justiça federal e não justiça trabalhista,
demonstrando-se descabida a existência de habeas corpus em matéria criminal relativa
à justiça trabalhista.
Quanto a outra hipótese de impetração de habeas corpus na justiça do trabalho
– prisão por dívida civil - cabíveis algumas considerações. Após essa ampliação da
competência de atuação da Justiça do Trabalho, a prisão do depositário infiel veio a ser
excluída do ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que o Brasil é signatário do Pacto
de São José da Costa Rica – Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Ainda a
Súmula Vinculante n° 25 do STF reforça a ilicitude da prisão civil em nosso
ordenamento jurídico: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a
modalidade de depósito”.
Muito embora isso, há entendimentos de que por tratar-se a verba salarial de
verba de natureza alimentícia, seria a prisão civil cabível na justiça do trabalho, como
por exemplo na fase de execução. Isso por que restou proibido em nosso ordenamento
jurídico a prisão civil do depositário infiel, mas não a prisão civil em razão de dívida de
alimentos – como no caso da verba salarial.
Desta forma, havendo prisão civil por dívida trabalhista cabível a impetração de
habeas corpus na justiça do trabalho.
Além disto, há ainda uma outra aplicação do habeas corpus na seara
trabalhista, qual seja, especificamente contra a ilegalidade ou abuso de poder
praticado em face de uma relação de trabalho (atos e decisões ilegais de juízes, atos de
empregadores, de auditores fiscais do trabalho, ou mesmo de terceiros).
Note-se que ilegalidades e abusos de poder contra a liberdade de locomoção
também podem ser praticados em matéria trabalhista, notadamente pelos juízes e
tribunais do trabalho, ao ameaçarem ou cercearem a liberdade de locomoção de seus
jurisdicionados, por exemplo, quando do descumprimento de suas ordens.
Assim, a interpretação dada ao inciso IV do art. 114 da Constituição Federal
deve ser no sentido de assegurar a utilização do habeas corpus com vistas à proteção
da autonomia da vontade contra ilegalidade ou abuso de poder perpetrado, seja pela
autoridade judiciária, seja pelas partes da relação de trabalho. Dessa forma, restará
assegurado o livre exercício do trabalho, direito fundamental resguardado pelos artigos
1º, IV, 5º, XIII, 6º e 7º da Constituição Federal, bem como a dignidade da pessoa
humana.
Um exemplo atual de grande repercussão de impetração de habeas corpus na
seara trabalhista é o caso do jogador de futebol Oscar. Na época da decisão, Oscar,
treinava no Sport Club Internacional, de Porto Alegre (RS), clube com o qual tinha
contrato. Mas, por determinação da Justiça do Trabalho no Estado de São Paulo, ele foi
inscrito na Confederação Brasileira de Futebol como jogador do São Paulo Futebol
Clube. O clube determinava o restabelecimento obrigatório do atleta ao vínculo
desportivo com o São Paulo Futebol Clube.
O ministro do Tribunal Superior do Trabalho Guilherme Caputo Bastos
concedeu habeas corpus em favor do jogador de futebol Oscar dos Santos Emboaba
Júnior, “o atleta poderá trabalhar em qualquer lugar que pretenda”. Confirmando a
competência de conceder habeas corpus no âmbito do processo trabalhista.
Por fim, em que pese a competência hierárquica para análise de habeas corpus
impetrado na Justiça do Trabalho, esta organiza-se da seguinte forma:
Quanto ao juiz do trabalho de primeira instância, este não detém competência
para conhecer do habeas corpus, uma vez que se acha na base da estrutura
"hierárquica" da Justiça do Trabalho. Eventual coação existente em decisão de juiz de
trabalho de 1° instância deve ser apreciado pelo TRT competente na região.
Já o habeas corpus impetrado contra decisão de membro do TRT deve ser
apreciado pelo TST.
E, por fim, as coações produzidas por membros do Tribunal Superior do
Trabalho, devem ser apreciados pela Suprema Corte, cuja competência constitucional
prevalece e sobrepõe-se a qualquer outra.
MANDADO DE SEGURANÇA
O mandado de segurança é um remédio constitucional que tem por objetivo
garantir direito líquido e certo, individual ou coletivo, que esteja sendo violado ou
ameaçado por ato de uma autoridade, em ato ilegal ou inconstitucional, não amparado
por habeas corpus ou habeas data, conforme versa o art. 5º LXIX, CF e atualmente
regulado pela lei 12.016/2009.
A doutrina classifica o mandado de segurança como sendo uma ação
constitucional, de natureza mandamental, processada por rito especial destinada a
tutelar o direito líquido e certo contra ato de autoridade praticado com ilegalidade ou
abuso de poder. Antes da EC nº 45/04 o mandado de segurança era utilizado apenas
contra ato judicial e apreciado pelo TRT.
No Processo do trabalho o mandado de segurança está sendo usado para
impugnar decisões interlocutórias que viole o direito líquido e certo, embora esta não
seja a sua finalidade constitucional.
O habeas corpus tem como finalidade a garantia da liberdade de locomoção,
geralmente para evitar atos ilegais de investigações e ações criminais. O habeas data
visa a garantia da obtenção de informações sobre a própria pessoa e de correção de
dados sobre ela em bancos de dados.
O mandado de segurança por sua vez, tem o objetivo de obter um mandado
judicial para proteger o direito do autor que foi violado ou que está na iminência de
ser.
Deve ser impetrado por pessoa física ou jurídica, através de advogado devendo
ser ajuizada contra autoridade pública.
Forma do mandado de segurança
Por se tratar de direito líquido e certo, não abre margem para uma discussão
complexa, portanto não há oportunidade para produção de provas. As provas devem
ser pré-constituídas,devendo ser juntados os documentos à petição inicial conforme o
entendimento da súmula 415 TST. Caso o impetrante não possua acesso à tais
documentos probatórios e estes estejam sob posse de autoridade pública pode
requerer ao magistrado que determine a exibição de tais documentos.
O prazo para que seja impetrado é de 120 dias contados da data de que a
pessoa interessada teve ciência do ato que deseja impugnar, sob pena de decadência
da medida, estando previsto no art. 23 da lei do mandado de segurança nº
12.016/2009.
Após ser impetrado o mandado de segurança, será sorteado o relator para que
seja apreciada a medida liminar, ficando a critério deste a procedência do pedido
liminar, se deferida, o relator imediatamente intimará a autoridade coatora para o
cumprimento desta.
A autoridade coatora, tem o prazo de 10 dias para prestar informações
necessárias. Ministério Público deverá ser intimado de todos os processos desta
natureza para analisar e verificar no prazo de 10 dias se há necessidade de
manifestação. O processo de mandado de segurança tem preferência sob os outros
atos processuais, salvo o habeas corpus.
Sendo acolhido o mandado de segurança, anulará o ato ilegal ou impedirá que
ele ocorra.
Caso seja indeferido o mandado de segurança, caberá contra as decisões dos
Tribunais regionais recurso ordinário ao Tribunal Superior do Trabalho no prazo de 8
dias.
Quando não será concedido?
Não será concedido o mandado de segurança nas hipóteses do art. 5º I, II e III
da Lei 12.016/2009;
I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo,
independentemente de caução;
II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
III - de decisão judicial transitada em julgado.
Mandado de Segurança na Justiça do Trabalho
Na justiça do trabalho, o mandado de segurança é um procedimento especial
que tramita no rito sumaríssimo. De forma geral, a competência de impetração é dos
Tribunais Regionais, contra os atos das Varas do Trabalho. Já as Varas do trabalho, após
a EC 45/2004 a qual criou os incisos IV e VII no art. 14 da CF, terão competências para
apreciar e julgar os mandados de segurança impetrados contra a autoridade
administrativa incumbida da fiscalização das relações de trabalho.
Através da ação coletiva busca-se a proteção dos direitos de determinada
categoria e que é idêntica à ação individual. Possui legitimidade para impetrar o
mandado de segurança coletivo as entidades de classe e associações desde que
legalmente constituídas e em funcionamento no mínimo um ano, partidos políticos
com representação no Congresso Nacional ou organização sindical.
“Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser:
coletivos (os de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas
ligadas entre si) ou individuais homogêneos (os decorrentes de origem comum e da
atividade ou situações específicas da totalidade ou parte dos associados ou membro
do impetr ante)”.
O art. 25 da Lei 12.016/2009, determina que no mandado de segurança não
cabem a interposição de embargos infringentes e a condenação ao pagamento de
honorários advocatícios, sem prejuízo da aplicação de sanções no caso de litigância de
má-fé, prevendo, no âmbito legal, as Súmulas/STF nº 597 e 512.
BIBLIOGRAFIA:
http://www.tst.jus.br/noticias/-/asset_publisher/89Dk/content/id/1583898
https://jus.com.br/artigos/18597/habeas-corpus-na-justica-do-trabalho/1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
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O Habeas Corpus na Justiça do Trabalho. SOBRINHO, Anderson Ferreira. Editora São
Paulo. 2003.
http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13
692
https://wsaraiva.com/2013/06/01/mandado-de-seguranca-o-que-e-e-para-que-serve/
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/26413362/mandado-de-seguranca
http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/215/Mandado-de-seguranca
http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artig
o_id=2505
http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13692
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http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2505
QUADRO COMPARATIVO HABEAS CORPUS E MANDADO DE SEGURANÇA
HABEAS CORPUS MANDADO SEGURANÇA
Previsto no art. 114, inciso IV da CF Previsto no art. 5º LXIX, CF e Lei n°
12.016/2009
contra a ilegalidade ou abuso de poder
praticado em face de uma relação de
trabalho (Cabível quando da prisão civil
em decorrência de débito trabalhista e
contra atos e decisões ilegais de juízes,
atos de empregadores, de auditores
fiscais do trabalho, ou mesmo de terceiros
que violem o direito de locomoção do
indivíduo)
destinada a tutelar o direito líquido e
certo contra ato de autoridade praticado
com ilegalidade ou abuso de poder
(Cabível para impugnar decisões
interlocutórias que violem o direito
líquido e certo)
Não há especificação se os direitos
protegidos pelo habeas corpus sejam
coletivos ou individuais, mas, a princípio,
tratar-se-ão de direitos de cunho
individual.
Os direitos protegidos pelo mandado de
segurança coletivo podem ser:
coletivos (os de natureza indivisível, de
que seja titular grupo ou categoria de
pessoas ligadas entre si)
ou individuais homogêneos (os
decorrentes de origem comum e da
atividade ou situações específicas da
totalidade ou parte dos associados ou
membro do impetrante)
Não há prazo especificado, mas deve ser
impetrado enquanto persistirem as causas
de ilegalidade ou abuso de poder em face
de uma relação de trabalho.
Prazo para que seja impetrado é de 120
dias contados da data de que a pessoa
interessada teve ciência do ato que deseja
impugnar, sob pena de decadência da
medida

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