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- -1 Apresentação da unidade 3 - Avaliação na Educação Infantil Debora dos Santos Olá, caro estudante! Vamos começar os estudos sobre a avaliação na educação infantil. A terceira unidade da disciplina abordará em detalhes como se dá o processo de avaliação da aprendizagem nessa etapa da educação básica. No primeiro tópico de estudos, conheceremos as especificidades da avaliação na educação infantil, verificando seus fundamentos e objetivos. No tópico seguinte, serão abordados os fundamentos teóricos e legais, com enfoque detalhado no que dispõe a legislação brasileira vigente, da não reprovação na educação infantil. No terceiro tópico, veremos quais são parâmetros de qualidade que as instituições de educação infantil devem seguir, bem como os indicadores que contribuem na avaliação educacional. Na sequência, tópico quatro, estudaremos sobre a documentação pedagógica na educação infantil, verificando sua importância e contribuição para o processo de avaliação. Destacaremos nesse tópico, ainda, os principais instrumentos avaliativos e demais documentos institucionais que compõem a documentação pedagógica. O quinto tópico se dedica aos registros contínuos do professor, levantando sua importância enquanto prática pedagógica que faz parte do trabalho diário do educador. Destacaremos como os registros e as observações contribuem de maneira decisiva para a reflexão contínua do fazer pedagógico e a melhoria da qualidade da educação. Por fim, no último tópico, teremos a oportunidade de conhecer a documentação pedagógica na abordagem educacional de Reggio Emilia. Veremos como ela surgiu e as particularidades que fizeram dela referência internacional de educação infantil. https://www.youtube.com/embed/MP7LjbD8SvU - -1 As especificidades da avaliação na Educação Infantil Debora dos Santos / Luciana Muniz Introdução Caro estudante, a avaliação é uma das tarefas mais complexas da prática pedagógica docente. Ela exige do professor um bom conhecimento teórico e uma boa organização da sua prática, principalmente em relação aos registros e à elaboração de critérios de avaliação. A cada nível educativo, esses critérios mudam em função das características do currículo e da faixa etária, bem como das políticas de educação. Neste tópico, veremos como acontece a avaliação na educação infantil e quais aspectos devem ser observados pelos educadores desse nível educacional. Buscaremos responder às seguintes questões: O que se avalia? Como se avalia? Com quais objetivos? Bons estudos! Os fundamentos e objetivos da avaliação na educação infantil A avaliação educacional é debatida em âmbito nacional, periodicamente, pelos órgãos públicos que orientam e definem referenciais para todas as redes de educação do país. As escolas devem estruturar seus documentos em função das bases curriculares vigentes. Assim, podemos dizer que fatores externos – políticas públicas – e internos – propostas pedagógicas – influenciam as formas e os critérios de avaliação. Na educação infantil, devemos nos atentar para uma particularidade contida nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI): As instituições de Educação Infantil devem criar procedimentos para acompanhamento do trabalho pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou classificação [...] (BRASIL, 2010, p. 29). Essa particularidade se refere à pouca idade das crianças e às rápidas e marcantes transformações nos aspectos do desenvolvimento cognitivo, motor e emocional. Assumimos, portanto, que a avaliação na educação infantil tem um caráter processual e, assim como a prática pedagógica, segue as características do desenvolvimento infantil. - -2 Figura 1 - Desenvolvimento infantil como critério para avaliação Fonte: John-james Gerner, Shutterstock, 2019. De acordo com o vol. 1 do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), a avaliação é uma importante ferramenta para o professor refletir sobre sua própria prática: Neste documento, a avaliação é entendida, prioritariamente, como um conjunto de ações que auxiliam o professor a refletir sobre as condições de aprendizagem oferecidas e ajustar sua prática às necessidades colocadas pelas crianças. É um elemento indissociável do processo educativo que possibilita ao professor definir critérios para planejar as atividades e criar situações que gerem avanços na aprendizagem das crianças. Tem como função acompanhar, orientar, regular e redirecionar esse processo como um todo (BRASIL, 1998, p. 59). Avaliar, portanto, é um exercício constante de olhar através de um espelho, por meio do qual o educador tem condições de visualizar seu próprio trabalho pedagógico e a oportunidade de rever suas práticas. - -3 O registro e a observação são os principais instrumentos de que dispõe o professor na educação infantil para avaliar as crianças. Os referenciais para avaliação auxiliam o professor na estruturação de sua rotina e subsidia a avaliação do seu trabalho e o acompanhamento das crianças. Nos cadernos do Proinfantil (2006), encontramos uma orientação bastante clara e importante em relação à avaliação: Para desenvolver uma prática avaliativa que dê mais importância aos processos do que aos resultados, é necessário que o(a) educador(a) desenvolva a capacidade de abrir os olhos, de olhar. Olhar para ver além do que está visível. Por isso, é fundamental que o(a) professor(a) desenvolva habilidades de observação do cotidiano das crianças que lhes permitam ver além do que é aparente ou daquilo que se apresenta. Nessa perspectiva, a avaliação é dinâmica, uma vez que deve se efetivar em diferentes situações em que ocorrem as aprendizagens das crianças (BRASIL, 2006, p. 18). Assim, com base no currículo e no planejamento, o professor busca identificar os avanços, os possíveis retrocessos, as interações, e as singularidades de cada criança. Sabemos, pelos estudos da psicologia do desenvolvimento, que cada criança tem um ritmo próprio de desenvolvimento e aprendizagem. Por isso, o currículo serve ao professor como referência na avaliação do processo. FIQUE ATENTO A avaliação na escola cumpre o importante papel de fornecer elementos para avaliar o desenvolvimento das crianças; avaliar a adequação das metodologias; avaliar o trabalho do professor; projetar ações futuras; e indicar a necessidade de ajustes nas práticas pedagógicas. SAIBA MAIS Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do capítulo 2 do livro Portfólio, avaliação , da autora Benigna Maria de Freitas Villas Boas. Editora Papirus. Ano:e trabalho pedagógico 2015. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574640 https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574640 - -4 Figura 2 - Compreender os ritmos individuais Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2019. Villas Boas (2015) apresenta dois tipos de avaliação: a , aquela em que os estudantes sabem avaliação formal que estão sendo avaliados, como e o que está sendo avaliado, de maneira sistemática e organizada. A outra forma é a que acontece a todo o momento, não apenas na sala de aula, e inclui percepções doavaliação informal, educador de todo o processo educacional. A avaliação informal, segundo a autora, é bastante delicada, pois pode servir tanto em favor da aprendizagem, como também como forma de controle e punição (VILLAS BOAS, 2015). Pode, assim, contribuir para o reforço de estigmas, rótulos e preconceitos. EXEMPLO Quando o educador considera o desempenho, o interesse e a superação de uma criança nas suas atividades e brincadeiras no grupo e individualmente com relação a um roteiro definido de análise, é um exemplo formal de avaliação. Um registro de manifestações espontâneas sem indicadores prévios de análise pode representar uma avaliação informal. - -5 Se há a falta de cautela e consciência por parte do educador na aplicação da avaliação informal, o encorajamento, o acompanhamento e a colaboração ao processo de aprendizagem, ganhosimportantes dessa forma avaliativa, podem se perder. Objetivos da avaliação na educação infantil O objetivo da avaliação deve ser prioritariamente a promoção da aprendizagem. Sem esse objetivo, a avaliação não faz o menor sentido. Segundo Villas Boas (2015), além da avaliação da aprendizagem, avalia-se também o trabalho realizado dentro e fora da sala de aula. A autora afirma que “[...] aprendizagem e avaliação andam de mãos dadas – a avaliação sempre ajudando a aprendizagem” (VILLAS BOAS, 2015, p. 29). FIQUE ATENTO A avaliação está presente em todo o processo educacional, desde o planejamento das ações pedagógicas, dentro e fora da sala de aula. Os dois tipos de avaliação, a formal e a informal, complementam-se e devem estar a serviço da aprendizagem. - -6 Figura 3 - Avaliação a serviço da aprendizagem Fonte: oliveromg, Shutterstock, 2019. Diante disso, é fundamental conhecermos quem estamos avaliando e com qual objetivo, respeitando individualidades, faixa etária, nível de maturidade e maturação biológica. A observação atenta e sensível, acompanhadas de registros fidedignos, são muito importantes. - -7 Figura 4 - Observação atenta e sensível Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2019. É importante ter em mente os objetivos da educação infantil para cada faixa etária. De acordo com o RCNEI (1998), o objetivo da educação infantil, de 0 a 3 anos, é oportunizar, por meio de um ambiente acolhedor, condições para que as crianças sejam capazes de identificar e manifestar suas necessidades essenciais. Devem poder expressar sentimentos e desejos por meio de diferentes recursos, desenvolvendo progressivamente a autonomia; familiarizar-se com sua própria imagem e corpo; compreender sensações e limitações; desenvolver o autocuidado; interagir e se relacionar com outras crianças e profissionais da instituição. Já para crianças de 4 a 6 anos, além de aprofundar as capacidades anteriores, a instituição deve propiciar um ambiente favorável para ampliação da autoconfiança e valorização da autoestima; identificação e enfrentamento de conflitos; valorização do espírito de cooperação e de atitudes solidárias; adoção de hábitos saudáveis e autocuidado (BRASIL, 1998). Conhecer quem são os educandos, suas experiências, seu contexto social e familiar precede a avaliação. A partir desse conhecimento prévio, parte-se para o que se deseja com a ação educacional. A avaliação acompanha e está intrínseca a todo esse processo. Nesse sentido, conhecer os objetivos educacionais traçados para as instituições de ensino que atendem crianças de 0 a 6 anos é primordial para a realização da avaliação. - -8 Fechamento Neste tópico, percebemos que o ato de avaliar está presente em todo o processo educacional, permeando sempre o trabalho pedagógico. Vimos que existem dois tipos de avaliação, complementares: a avaliação formal e a informal. Por fim, destacamos os objetivos educacionais na educação infantil, específicos para cada faixa etária. Para crianças de 0 a 3 anos, estão relacionados ao desenvolvimento de autonomia, segurança, interação, socialização e autocuidado. Já de 4 a 6 anos, os objetivos se voltam para a valorização da autoimagem, a resolução de conflitos e o conhecimento de regras básicas de convivência, além do aprofundamento das habilidades já desenvolvidas na faixa etária anterior. Referências BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010. Disponível em: http://www.uac.ufscar.br/domumentos-1/diretrizescurriculares_2012.pdf. Acesso em: 15 mar. 2019. BRASIL. . Módulo IV, Unidade 3, Livro de Estudos – Vol. 2. LOPES, K. R.; MENDES, R. P.; FARIA, V. L. B.Proinfantil de (Orgs.). Brasília: MEC/SEB/SEED: 2006. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage . Acesso em: 15 mar. 2019./materiais/0000012795.pdf BRASIL. . Brasília: MEC/SEF, 1998.Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Volume 1 Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2019.http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf BRASIL. . Brasília: MEC/SEF, 1998.Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Volume 2 Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2019.http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume2.pdf MICARELLO, H. . Consulta pública. Portal MEC, 2010. DisponívelAvaliação e Transições na Educação Infantil em: http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2010-pdf/7163-2-11-avaliacao-transicoes-hilda-micarello/file . Acesso em: 15 mar. 2019. VILLAS BOAS. B. M. de F. Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico. Campinas: Papirus, 2015. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574640. Acesso em: 15 mar. 2019. http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000012795.pdf http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000012795.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume2.pdf http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2010-pdf/7163-2-11-avaliacao-transicoes-hilda-micarello/file https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574640 http://www.uac.ufscar.br/domumentos-1/diretrizescurriculares_2012.pdf - -1 LDB e a não reprovação na Educação Infantil Debora dos Santos / Luiza Alves da Silva Introdução Caro estudante, o propósito deste tópico é discutir as bases teóricas e legais que fundamentam a não reprovação na educação infantil no Brasil. Ressalte-se que tal condição está fundamentada legalmente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394/96, bem como nos demais documentos norteadores dessa etapa de ensino. Com base nessa premissa, o ensino na educação infantil deve ser ministrado nos mesmos moldes das demais etapas da educação? É possível conceber a não reprovação nas demais etapas da educação básica? Ao se pensar no processo avaliativo na educação infantil enquanto algo diferenciado, que objetive o desenvolvimento integral do aluno, quais critérios devem ser adotados para alcançar tal propósito? Fundamentos teórico-metodológicos da não reprovação na educação infantil A avaliação se constitui como parte importante do processo educativo. Este, por sua vez, deve ser entendido como algo que ocorre de maneira gradativa, cumulativa e a partir de mediações e intervenções intencionais de alguém mais experiente (VILLAS BOAS, 2017). - -2 Figura 1 - Aprendizagem e desenvolvimento gradativo e cumulativo Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2019. Partindo desse pressuposto, a avaliação na educação infantil precisa ocorrer mediante a utilização de mecanismos e instrumentos que levem em conta as especificidades e características que essa etapa da escolarização apresenta. Eles são: estrutura e ambiente adequados, nível de aprendizagem, estratégias de ensino específicas, aspectos a serem avaliados e instrumentos e mecanismos de avaliação (ALVES, 2013). - -3 Na educação infantil, o ensino dirigido dá lugar à criação de espaços favoráveis ao desenvolvimento integral – físico, psíquico e emocional – das crianças. Para isso, a educação infantil pressupõe a criação de espaços adequados à faixa etária, ou seja, salas equipadas com berços, colchonetes, fraldários, brinquedos e desenhos coloridos que emitam sons para os bebês; se for uma turma de pré-escola, salas equipadas com carteiras e cadeiras pequenas, desenhos coloridos nas paredes, livros infantis, brinquedos e quebra-cabeças. Além disso, cabe aos educadores planejarem a utilização de atividades lúdicas e estimulantes, pois a base para o desenvolvimento, na primeira infância, é a proposição desse tipo de atividades, tendo em vista que a imitação tem papel preponderante. Logo, as ações por meio de representações e ilustrações serão mais significativas para o processo de aprendizagem da criança (SILVA, 2017). Outro elemento fundamental da educação é o estabelecimento de rotinas e regras. Na primeira infância, a criança está em fase de adaptação ao mundo que a rodeia. Ou seja, ela nasce e possui necessidades biológicas (comer, defecar, ter frioou calor), demonstradas, em princípio, pelo choro. No entanto, conforme vai apreendendo as informações da realidade, novas necessidades são criadas e mesmo as consideradas biológicas se transformam e ganham um sentido psíquico (SILVA, 2017). EXEMPLO Um exemplo de avaliação por meio de observação e registro, sem o objetivo de promoção ou diagnóstico, são avaliações individuais descritivas, bastante comuns nas creches e pré-escolas. Nessa avaliação, o educador relata aspectos observados do desenvolvimento da criança ou do bebê, como, por exemplo, detalhes das brincadeiras favoritas, aspectos do desenvolvimento motor com detalhes do que a criança já é capaz de fazer, como movimento de pinça, chutar ou agarrar uma bola, ou se a criança já caminha, engatinha, arrasta-se, etc. Todos esses registros têm o objetivo de acompanhar o processo de desenvolvimento da criança, e não promovê-la para a próxima fase. Mesmo que a criança ainda não caminhe ou não esteja desfraldada, por exemplo, ela “avançará” para a próxima turma, correspondente a sua faixa etária. FIQUE ATENTO Na educação infantil, prioriza-se a organização dos espaços e tempos do cotidiano escolar, para que as crianças, por meio do livre brincar, da exploração de diferentes elementos e de atividades lúdicas, desenvolvam-se, socializem e descubram o mundo ao seu redor. - -4 Figura 2 - Choro: manifestação das necessidades básicas Fonte: Aaron Amat, Shutterstock, 2019. Tal processo deve ser considerado enquanto algo extremamente importante para o desenvolvimento do bebê. Por outro lado, é fundamental que determinadas intervenções sejam realizadas objetivando a apropriação e a internalização por parte do bebê de regras de convivência em sociedade. Dentre elas, pode-se destacar a hora de dormir, a hora de brincar, a forma de expressar que está com fome ou que precisa ser higienizado, entre outras. FIQUE ATENTO Necessidades biológicas são aquelas que já nascem com o sujeito. Possuem como característica principal o fato de serem alheias à vontade. São consideradas necessidades biológicas: a fome, a sede, o controle do esfíncter, a sinestesia, entre outras. - -5 Desse modo, o processo avaliativo na educação infantil precisa ter maior abrangência e levar em conta vários aspectos constitutivos do desenvolvimento humano. Em outras palavras, a avaliação precisa contemplar o desenvolvimento integral do sujeito, bem como compreender esse desenvolvimento enquanto algo cumulativo e processual (VILLAS BOAS, 2017). Figura 3 - Avaliação com foco nas conquistas individuais Fonte: Sunny studio, Shutterstock, 2019. A avaliação deve ser realizada com foco nas conquistas da criança, no que ela já realiza sozinha, no que faz com auxílio e no que ainda não aprendeu a realizar de forma autônoma e independente. - -6 Fundamentos legais da não reprovação na educação infantil Antes de continuar os estudos, é importante reiterar a concepção de criança adotada até aqui: enquanto um sujeito biopsicossocial em desenvolvimento, com capacidade e possibilidade para aprender e se desenvolver a partir da qualidade das relações que estabelece com seus pares e das experiências e mediações que lhe são possibilitadas no decorrer de sua existência (SILVA, 2017). Além disso é necessário, no processo educativo desse pequeno indivíduo, buscar compreendê-lo em sua totalidade, contemplando-o nos aspectos biológico, psíquico, cognitivo, emocional e afetivo, como alguém que irá aprender e se desenvolver de maneira gradativa, processual, cumulativa e interativa (VILLAS BOAS, 2017). Figura 4 - Aprendizagem processual e interativa Fonte: tankist276, Shutterstock, 2019. Na mesma direção, enquanto fundamento legal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394 /96), ao normatizar no art. 31 a organização e a oferta da educação infantil, aponta, no inciso I, que a avaliação deve ocorrer "[...] mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental [...]” (BRASIL, 1996). Esse fundamento legal, assim como as demais menções à educação em nossa legislação (Constituição de 1888, https://www.youtube.com/embed/MP7LjbD8SvU - -7 Esse fundamento legal, assim como as demais menções à educação em nossa legislação (Constituição de 1888, Estatuto da Criança e do Adolescente), fortalece a concepção de um planejamento pedagógico e avaliação que considere o sujeito em sua totalidade. Na educação infantil, a perspectiva de ensino não tem como propósito a valorização da quantidade dos conteúdos apropriados e, sim, a qualidade das referidas apropriações, ou seja, as mudanças de comportamento, os avanços no desenvolvimento psicomotor, a qualidade das interações sociais e as alterações na condição de análise, memorização e raciocínio lógico alcançadas. Fechamento Neste tópico, vimos que os educadores, no processo de ensino-aprendizagem na educação infantil, devem contar com instrumentos que levem sempre em conta as particularidades dessa etapa da educação. Observamos, ainda, que na educação infantil não há um ensino dirigido, mas ações planejadas e intencionais, aplicadas em espaços favoráveis para o desenvolvimento integral – físico, psíquico e emocional – das crianças. As crianças passam diretamente pelas classes da educação infantil, até o ingresso no ensino fundamental, sem possibilidade de reprovação, conforme disposto na LDB n. 9.394/96. Referências ALVES, J. F. Avaliação educacional: da teoria à prática. Rio de Janeiro: LTC, 2013. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. .Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2019.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm MALHEIROS, B. T. Didática Geral. Rio de Janeiro: LTC, 2012. Disponível em: https:// biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=563168. Acesso em: 15 mar. 2019. SILVA, L. A. da. : contribuições à aquisição dePedagogia Histórico-Crítica e Psicologia Histórico-Cultural leitura e escrita de alunos com deficiência visual. Curitiba: Appris 2017. SAIBA MAIS Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do capítulo 3 do livro Didática geral, do autor Bruno Taranto Malheiros. Editora LTC. Ano: 2012. Disponível em: https:// biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=563168. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-216-2249-9 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm http://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-216-2156-0 https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=563168 https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=563168 - -8 VILLAS BOAS, B. M. de F. Avaliação: interações com o trabalho pedagógico. Campinas: Papirus, 2017. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574870. Acesso em: 15 mar. 2019. https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574870 - -1 Indicadores de qualidade na Educação Infantil Debora dos Santos / Luzia Alves da Silva Introdução Caro estudante, as instituições de educação infantil são orientadas pelos Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil, documento que orienta as ações nas instituições em busca de melhoria na qualidade do ensino. Você sabe quais são esses parâmetros de qualidade? Sabe de que forma as instituições são avaliadas? E como esses parâmetros são mensurados? Para verificar se esses parâmetros de qualidade estão sendo atendidos, as instituições devem atender aos Indicadores de Qualidade na Educação Infantil. Neste tópico, veremos de forma mais detalhada o que são Parâmetros e Indicadores de qualidade, o que os diferencia e quais são os indicadores que balizam a qualidade na educação infantil em nosso país. Bons estudos! Conceituando qualidade na educação infantil A educação infantil é considerada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LBD n. 9.394/96) como a primeira etapa da educação básica, atendendo crianças de 0 a 5 anos em creches e pré-escolas. Podeser ofertada em tempo integral ou em um dos turnos: matutino ou vespertino. - -2 Figura 1 - Educação infantil: 1ª etapa da educação básica Fonte: Dainis, Shutterstock, 2019. É possível observar avanços consideráveis na legislação da educação e no atendimento das necessidades específicas da educação infantil, do ponto de vista da necessidade de uma nova organização e estrutura das instituições para o atendimento das crianças, bem como na criação de diferentes documentos norteadores e orientadores do trabalho pedagógico nessa importante etapa educativa. No entanto, a concepção de ensino que deve permear o entendimento e a compreensão de um profissional da educação infantil precisa se diferenciar da de alguém que está atuando em uma outra modalidade de ensino. - -3 Figura 2 - Desenvolvimento pleno Fonte: spass, Shutterstock, 2019. Esses entendimentos são fundamentais para que se possa construir um conceito de qualidade no ensino da educação infantil, tendo em vista que a ação pedagógica deverá ser organizada de forma a possibilitar ao aluno não apenas o acesso aos conteúdos escolares, mas também às condições necessárias ao seu desenvolvimento pleno e integral. - -4 Nessa perspectiva, realizar uma abordagem sobre a qualidade no ensino infantil requer a reflexão acerca do conjunto das ações desenvolvidas. Através dela, é possível disponibilizar aos alunos um espaço que garanta o direito a um ensino que contribua para a aprendizagem e o desenvolvimento de forma ampla e irrestrita, com os devidos apoios necessários durante todo o processo. Os indicadores de qualidade na Educação Infantil O Ministério da Educação, através da Secretaria da Educação Básica (SEB), em documento norteador da avaliação da educação infantil, assim conceitua indicadores: [...] são sinais que revelam aspectos de determinada realidade e que podem qualificar algo. Por exemplo, para saber se uma pessoa está doente, usamos vários indicadores: febre, dor, desânimo. Para saber se a economia do país vai bem, usamos como indicadores a inflação e a taxa de juros. A variação dos indicadores nos possibilita constatar mudanças (a febre que baixou significa que a pessoa está melhorando; a inflação mais baixa no último ano diz que a economia está melhorando) (BRASIL, 2009, p. 14). Os indicadores de qualidade têm o objetivo de auxiliar a avaliação da qualidade na educação, por parte dos profissionais que atuam nas instituições de ensino, prevendo a participação de toda a comunidade escolar, incluindo pais, alunos e comunidade de maneira geral. FIQUE ATENTO O desenvolvimento pleno e integral de uma criança quer dizer um desenvolvimento que ocorra de maneira constante, sem interrupções referentes aos aspectos biológico, motor, afetivo, psicológico, sensorial, intelectual e cognitivo. - -5 Segundo o MEC (2009, p. 14), para diagnosticar a qualidade de uma instituição de educação infantil é necessário considerar alguns pontos relevantes: [...] respeito aos direitos fundamentais, [...] reafirmados em nossa Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). [...] reconhecimento e a valorização das diferenças de gênero, étnico-racial, religiosa, cultural e relativas a pessoas com deficiência. [...] respeito ao meio ambiente, o desenvolvimento de uma cultura de paz e a busca por relações humanas mais solidárias. [...] atendimento a finalidades da educação e a forma de organização do sistema educacional, regulamentado nos âmbitos federal, estadual e municipal. [...] conhecimentos científicos sobre o desenvolvimento infantil, a cultura da infância, as maneiras de cuidar e educar a criança pequena em ambientes coletivos e a formação dos profissionais de educação infantil. Todos esses aspectos precisam ser considerados ao avaliar a qualidade na educação infantil. Eles representam um ponto de partida sem os quais não é possível garantir a qualidade mínima necessária para que se oportunize um ambiente favorável à aprendizagem e ao desenvolvimento das crianças. FIQUE ATENTO O estabelecimento de indicadores de qualidade claros e definidos contribuem para uma avaliação transparente e assertiva dos padrões mínimos de qualidade exigidos para o funcionamento de uma instituição de educação infantil. Seja ela, pública ou privada e além municiar as equipes pedagógicas, serve de instrumento para a comunidade identificar se os parâmetros de qualidade estão sendo atendidos. - -6 Figura 3 - Os indicadores como subsídio para aferir a qualidade Fonte: Jirsak, Shutterstock, 2019. Tendo em vista que os referidos indicadores têm por finalidade possibilitar um processo de autoavaliação por parte das instituições, é relevante que se consiga utilizá-los de maneira coerente e assertiva. Os indicadores estão pautados em aspectos fundamentais da qualidade na educação e traduzidos em sete dimensões: 1 – planejamento institucional; 2 – multiplicidade de experiências e linguagens; 3 – interações; 4 – promoção da saúde; 5 – espaços, materiais e mobiliários; 6 – formação e condições de trabalho das professoras e demais profissionais; 7 – cooperação e troca com as famílias e participação na rede de proteção social. (MEC, 2009. p. 19) Essas dimensões devem ser discutidas pelo coletivo escolar, por meio de uma avaliação coletiva e participativa. https://www.youtube.com/embed/MP7LjbD8SvU - -7 Figura 4 - Reunião de avaliação coletiva, participativa e propositiva Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2019. O MEC orienta como as instituições de ensino podem conduzir as reuniões de avaliação, com sugestões de dinâmicas que favoreçam a participação de todos. A ideia é que após debate em plenário, ao final da reunião, tenha-se como resultado um plano de ação visando superar pontos de atenção e melhorias identificados no momento da avaliação pelo grupo. O exemplo acima demonstra o potencial transformador e reflexivo das reuniões de avaliação e autoavaliação. O EXEMPLO Imaginemos um exemplo de indicador que não está sendo atendido em certa instituição de ensino: a promoção da saúde. Na reunião de avaliação, pais e funcionários observaram que a alimentação oferecida pela prefeitura está pouco diversificada, o que pode influenciar na nutrição das crianças. As cozinheiras precisam usar a criatividade com os poucos ingredientes à disposição. Com frequência, no lanche da tarde, os alunos comem apenas mingau de amido de milho. No plano de ação, famílias e funcionários incluíram: reunião com a nutricionista responsável pelo cardápio da escola, utilização de recursos da Associação de Pais e Mestres para comprar frutas de forma paliativa, entre outros. - -8 O exemplo acima demonstra o potencial transformador e reflexivo das reuniões de avaliação e autoavaliação. O envolvimento e engajamento da comunidade nesses momentos é fundamental, pela busca constante da melhoria da qualidade na educação. Os indicadores possibilitam e mobilizam esse movimento. A busca pela qualidade na educação deve ser uma constante, pois ela não cessa em determinado momento. A qualidade dos processos educacionais como um todo exige movimento constante: um movimento de avaliação, reflexão e ação. Fechamento Neste tópico, vimos que a qualidade na educação infantil está pautada em dois documentos elaborados pelo Ministério da Educação. Eles definem parâmetros que orientam a qualidade nas instituições de educação e indicadores que aferem se as dimensões da qualidade estão sendo atendidas. São sete as dimensões que devem ser levadas em conta no momento da avaliação, discutidas, idealmente, pelos participantes do coletivo escolar: comunidade, gestores, professores, entre outros. O MEC sugere uma metodologia para a realização dessas avaliações: os participantes debatem cada uma das dimensões e propõem ações de melhoria. Referências BRASIL. . Brasília: MEC/SEB, 2009. Disponível em:Indicadores de Qualidade na Educação Infantil .http://www.indicadoreseducacao.org.br/wp-content/uploads/2013/07/INDIQUE_EDUCACAO_INFANTIL.pdf Acesso em: 18 mar. 2018. BRASIL. Lei n.9.394, de 20 de dezembro de 1996. .Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 15 mar. 2019. SAVIANI, D.; DUARTE, N. Campinas:Pedagogia histórico-crítica e luta de classes na educação escolar. Autores Associados, 2013. SAIBA MAIS Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do capítulo 5 do livro Avaliação: interações com o trabalho pedagógico, da autora Benigna Maria de Freitas Villas Boas. Editora Papirus. Ano: 2018. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp? codigo_sophia=574870. http://www.indicadoreseducacao.org.br/wp-content/uploads/2013/07/INDIQUE_EDUCACAO_INFANTIL.pdf https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574870 - -9 SILVA, L. A. da. : contribuições à aquisição dePedagogia Histórico-Crítica e Psicologia Histórico-Cultural leitura e escrita de alunos com deficiência visual. Curitiba: Appris, 2017. VILLAS BOAS, B. M. de F. Avaliação: interações com o trabalho pedagógico. Campinas: Papirus, 2017. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574870 Acesso em: 15 mar. 2019. https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574870 - -1 A documentação pedagógica na Educação Infantil Debora dos Santos / Luzia Alves da Silva Introdução Caro estudante, vamos estudar, neste tópico, a importância da documentação pedagógica na educação infantil, delimitando em que ela consiste e discutindo sua função e seus objetivos no processo educativo. Antes de começar, vale a pena refletir: Quais documentos compõem a documentação pedagógica de uma instituição de ensino? De quem é a responsabilidade em elaborá-los? Onde devem ficar armazenados? Para responder aos questionamentos, retomaremos brevemente o ato de documentar na história da educação infantil e a documentação enquanto atribuição do educador, bem como os elementos que a constituem. Destacaremos, ao longo do tópico, os principais instrumentos avaliativos e demais documentos institucionais que compõem a documentação pedagógica. Bons estudos! Documentação pedagógica na Educação Infantil: história, conceito e objetivo O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001) conceitua a palavra “documentar” como "[...] ato, processo ou efeito de documentar. Reunião de documentos com o propósito de esclarecer ou provar alguma coisa". Historicamente, o ato de documentar as ações pedagógicas na educação infantil foi defendido pelo educador francês Celestin Freinet (1896-1966), ao propor a organização, nas instituições de educação infantil, do "livro da vida": um caderno de registro dos fatos mais importantes da vida dos alunos (MENDONÇA, 2010). O registro se daria por meio de textos e desenhos feitos pela criança, configurando-se em exercício da linguagem escrita. A documentação pedagógica passou a ser difundida a nível internacional com maior intensidade em 1990, a partir de experiências bem-sucedidas na cidade italiana de Reggio Emile (MARQUES; ALMEIDA, 2011). Para as autoras, [...] A abordagem passa a ser reconhecida pela excelência na qualidade das experiências educativas proporcionadas à criança, desenvolvidas com base na denominada "teoria das cem linguagens" elaborada por Loris Malaguzzi – pedagogo que esteve à frente da direção das pré-escolas municipais da cidade – em parceria com educadores, crianças e famílias. Parece-nos ser nesse contexto que o conceito e a prática da documentação pedagógica na educação infantil ganham força, e ela passa a ser entendida enquanto elemento intrínseco ao fazer pedagógico cotidiano: a documentação permite - -2 ser entendida enquanto elemento intrínseco ao fazer pedagógico cotidiano: a documentação permite ao educador observar a criança em seu processo de construção do conhecimento, fornecendo pistas ao planejamento, entendido como processo construído com base na observação que se faz dos interesses e das necessidades das crianças, em uma pedagogia da escuta (MARQUES; ALMEIDA, 2011, p. 414-415). Tendo por pressuposto o percurso histórico desenvolvido pelos profissionais da educação que se propuseram a estudar essa forma de registro, encaminhamento e implementação nas escolas de educação infantil em âmbito internacional, é fundamental que os educadores compreendam não apenas a finalidade da documentação pedagógica, mas também a sua organização, objetivos e estrutura. Caracteriza-se como atribuição do professor e da equipe pedagógica da escola a elaboração, a organização, a seleção e o cuidado com a documentação pedagógica. EXEMPLO Um exemplo de boa prática na documentação pedagógica é a prática da escola de Educação Infantil Padre Carmelo, que atua com crianças de 0 a 3 anos. Sabe-se que nessa etapa os pais se sentem bastante inseguros ao matricular seus filhos, devido à preocupação em saber se eles receberão os cuidados necessários. Para responder a tal demanda, a escola implementou um aplicativo denominado "O diário de Carmelo". Nele, os pais sabem em tempo real as ações que estão sendo desenvolvidas com as crianças, já que todos os dados são devidamente registrados na plataforma. - -3 Figura 1 - Documentação pedagógica Fonte: Kinga, Shutterstock, 2019. De acordo com Marques (2015, p. 4), a documentação pedagógica favorece “[...] na reflexão sobre a prática, na avaliação do processo de aprendizagem das crianças, no planejamento, contribuindo para seu processo de formação e desenvolvimento profissional [...]”. Torna-se um material riquíssimo que, além de ajudar o professor, serve às crianças, que constroem junto do educador a memória da sua trajetória educacional, e aos pais, que têm acesso ao trabalho pedagógico desenvolvido e conseguem visualizar o desenvolvimento dos filhos. A documentação pedagógica se constitui em um importante elemento não só na dinâmica de estruturação e de organização técnica e pedagógica, mas também no processo de funcionamento da instituição. A partir dela, tornam-se visíveis as ações desenvolvidas pela escola, de forma a facilitar os processos de avaliação institucional, na medida em que podem servir como indicadores da qualidade do ensino desenvolvido. FIQUE ATENTO A documentação pedagógica, mais que simples documentos arquivados e acumulados na escola, representa um importante material para subsidiar as práticas pedagógicas do professor. - -4 Figura 2 - Visibilidade das ações desenvolvidas Fonte: tadamichi, Shutterstock, 2019. A documentação pedagógica contribui de forma significativa para o desenvolvimento das ações pedagógicas por permitir ao professor observar o percurso já realizado pelos alunos e identificar os avanços obtidos e as dificuldades a serem superadas. Dessa forma, poderá estabelecer um processo avaliativo com base em mecanismos objetivos e que forneça os dados necessários para o desenvolvimento de práticas pedagógicas satisfatórias e condizentes com a realidade da instituição. Elementos constitutivos da documentação pedagógica Temos diferentes modalidades de documentação, cada uma com objetivos e destinatários distintos, sendo relevante considerar que a elaboração/organização dos diferentes tipos de documentação pedagógica se realizam em conformidade com os objetivos previamente estabelecidos. Segundo Marques e Almeida (2011, p. 416-417, grifos do autor), "Em linhas gerais, podemos conceituar como documentação sistematização do , produção de memória sobre uma experiência, ação que implica a seleção e a organizaçãotrabalho pedagógico de diferentes registros coletados durante o processo". - -5 Figura 3 - Registro para (e com) a criança Fonte: alphaspirit, Shutterstock, 2019. A documentação pedagógica também é composta por relatórios avaliativos, portfólios, registros do professor, a proposta pedagógica da instituição e fichas cadastrais dos alunos, bem como os documentos pessoais contidos na pasta individual de cada aluno. - -6 Nesse sentido, refletir sobre a importância da documentação pedagógica na educação infantil demanda compreendê-la enquantoum conjunto de dados levantados a partir de informações e registros, que visa orientar as ações a serem desenvolvidas no interior da instituição. SAIBA MAIS Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do capítulo 4 do livro Avaliação: interações com o trabalho pedagógico, da autora Benigna Maria de Freitas Villas Boas. Editora Papirus. Ano: 2017. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp? codigo_sophia=574870. https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574870 - -7 Figura 4 - Registros e documentos compõe a documentação pedagógica Fonte: Modella, Shutterstock, 2019. Diante disso, é de fundamental importância o estabelecimento de critérios rigorosos não só no registro e na elaboração, mas também na seleção e na organização dos elementos que vão compor a documentação pedagógica de uma instituição de educação infantil. - -8 A mesma precaução do processo de elaboração da documentação pedagógica de uma instituição de educação infantil deve ser dispensada no momento da seleção e da preservação. Para facilitar a pesquisa de informações referentes a cada aluno individualmente, deve-se arquivar em sua pasta todas as informações que lhe dizem respeito. Toda essa documentação precisa estar de fácil acesso a todos os profissionais da instituição de forma ágil e prática. Fechamento Neste tópico, abordamos o significado que possui a documentação pedagógica para as instituições de ensino de educação infantil. Por meio dela, torna-se possível conhecer as ações desenvolvidas na instituição, identificar os avanços e dificuldades dos alunos e viabilizar os elementos necessários para que o professor tenha subsídios na construção de um planejamento sólido, objetivo e em conformidade com necessidades coletivas e individuais. Além disso, vimos também que a documentação pedagógica é composta por produções dos alunos, registros avaliativos, fichas cadastrais e portfólios, e que todos esses documentos estão a serviço dos professores, alunos e pais, uma vez que permitem visualizar toda a trajetória educacional do aluno, bem como seus avanços e o processo de desenvolvimento. Referências HOUAISS, A.; VILLAR, M. de S. . Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa MARQUES, A. C. T. L.; ALMEIDA, M. I. de. A documentação pedagógica na Educação Infantil: traçando caminhos, construindo possibilidades. , Cuiabá, v. 20, n. 44, p. 413-428, set./dez. 2011.Revista Educação Pública Disponível em: .http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/educacaopublica/article/viewFile/315/283 Acesso em: 26 fev. 2019. MARQUES, A. C. T. L. : estudo de caso em pré-A documentação pedagógica no cotidiano da educação infantil escolas públicas. In: 37ª Reunião Nacional da ANPEd, Florianópolis, 2015, p. 1-18. Disponível em: http://www. . Acesso em: 26 fev. 2019.anped.org.br/sites/default/files/trabalho-gt07-3559.pdf FIQUE ATENTO Além dos critérios de registro, deve haver cuidado com o arquivamento das informações. É necessário planejar quais registros serão feitos e em que momentos serão coletados, de que forma serão realizados, além de quais elementos e produção dos alunos entrarão no acervo. http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/educacaopublica/article/viewFile/315/283 http://www.anped.org.br/sites/default/files/trabalho-gt07-3559.pdf http://www.anped.org.br/sites/default/files/trabalho-gt07-3559.pdf - -9 MENDONÇA, C. N. de. A documentação pedagógica como processo de investigação e reflexão na educação . 2009. 132 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Filosofia e Ciências, 2009.infantil Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2019.https://repositorio.unesp.br/handle/11449/102213 VILLAS BOAS, B. M. de F. Avaliação: interações com o trabalho pedagógico. Campinas: Papirus, 2017. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574870. Acesso em: 15 mar. 2019. https://repositorio.unesp.br/handle/11449/102213 https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574870 - -1 Registros contínuos do professor e a elaboração de relatórios de aprendizagem Debora dos Santos Introdução Caro aluno, vamos destacar, neste tópico, os registros e relatórios de aprendizagem realizados pelos educadores como instrumentos a serviço da avaliação da aprendizagem e como prática pedagógica no dia a dia do trabalho pedagógico. Estudaremos os principais instrumentos utilizados na educação infantil e como eles contribuem para o trabalho dos educadores, além de como esses registros podem ser realizados e quais aspectos privilegiar no que foi observado e vivenciado durante a prática pedagógica. Veremos, também, a avaliação como instrumento de melhoria da qualidade da educação infantil, reflexão do trabalho docente e registro da trajetória, da evolução do desenvolvimento das crianças na educação infantil. Bons estudos! A avaliação por meio da observação e registro Pensar em avaliação na educação infantil pressupõe uma constante reflexão sobre as práticas pedagógicas, bem como exige que não se percam de vista os objetivos da educação infantil. A avaliação, nessa etapa da educação básica, deve ser processual e formativa, visando a observação e o registro de todo desenvolvimento e evolução da criança. Para isso, os educadores contam com alguns instrumentos para ajudar nos processos de avaliação e acompanhamento da aprendizagem. Esses instrumentos se configuram em diferentes registros realizados pelos educadores sobre – e com – os alunos. https://www.youtube.com/embed/MP7LjbD8SvU - -2 Na organização desses registros, os professores contam com portfólios, dossiês e relatórios avaliativos. Eles permitem que, além dos próprios educadores, os pais tenham uma visão da evolução na aprendizagem das crianças, das características marcantes e dos avanços no desenvolvimento escolar. Em outras palavras: é possível acompanhar, por meio desses instrumentos, a história do aluno na educação infantil. FIQUE ATENTO A avaliação na educação infantil requer profundo alinhamento com os objetivos educacionais: os educadores precisam de conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento infantil. A avaliação deve ser a balizadora da qualidade na educação infantil. - -3 Figura 1 - Registros: parte integrante do trabalho pedagógico Fonte: Shutterstock, 2019. Guedes (2006) destaca a importância da investigação por parte dos educadores e afirma que, tal qual “detetives”, eles precisam olhar, escutar e observar com atenção o que as crianças demonstram e o que lhes chama a atenção. As anotações fornecerão elementos não só para uma melhor compreensão das particularidades de cada aluno, mas também para o planejamento mais preciso do trabalho. - -4 Figura 2 - Trabalho investigativo Fonte: Rob Hyrons, Shutterstock, 2019. O registro, aliado ao olhar atento, promove a reflexão. Registrar as vivências das crianças permite acompanhar seus avanços, descobertas, aprendizagens e conquistas. Guedes (2006, p. 13) alerta que, na docência, não podemos contar com a nossa memória: “Se não registramos nossas experiências corremos o risco de esquecer detalhes preciosos do vivido!”. Essa perspectiva de avaliação está prevista no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, que define que a avaliação deve ser contínua e estar a serviço da reflexão e melhoria das práticas pedagógicas, visando ainda o acompanhamento do desenvolvimento integral da criança nos aspectos físicos, psíquicos, intelectuais e sociais (BRASIL, 1998). FIQUE ATENTO Os registros são parte integrante do trabalho do educador. Devem fazer parte de sua rotina escolar porque possibilitam, além do acompanhamento do processo de aprendizagem e de uma avaliação processual e formativa, a reflexão contínua sobre o próprio fazer pedagógico. - -5 Como realizar os registros Como vimos anteriormente, os educadores contam com uma série de instrumentos que permitem organizar e sistematizar os registros. No entanto, cada educador pode ter sua própria maneirade anotar as vivências observadas. O importante é registrar qualquer situação, fato ou peculiaridade que julgar interessante e que represente características marcantes de determinada criança, como, por exemplo, avanços observados, mudanças no comportamento, fatos curiosos, etc. Muitos são os motivos para abrir um bloco de anotações e começar a tomar notas do que é observado, assim como das reflexões que, inevitavelmente, emergem dessa ação educativa. Figura 3 - Ação docente a partir da reflexão Fonte: Sofi Photo, Shutterstock, 2019. - -6 Faria e Besseler (2014, p. 162-163) destacam que os registros podem ser muito ricos com a participação crianças: A criança, enquanto sujeito ativo na construção de seu conhecimento, deve ser tida como parceira em todas as situações de seu cotidiano escolar, inclusive na construção dos registros de acompanhamento da prática pedagógica. Estes pequenos educandos avaliam suas experiências, expressando-as por meio de múltiplas linguagens: dos gestos, da fala, do desenho, da escrita, dentre outras. Atentos a essas linguagens, os educadores podem perceber como as crianças estão atribuindo sentido às suas experiências dentro e fora da escola, para assim poderem ajudá-las a se conhecerem e estabelecerem nexos entre as várias situações que vivenciam. Um instrumento de avaliação bastante conhecido e utilizado na educação é o portfólio. O portfólio consiste em um acervo com as produções das crianças. Geralmente organizado em pastas, pode conter fotos, objetos e demais produções das crianças. A construção do portfólio e a definição dos itens deve ser feito em conjunto com as crianças. Segundo Villas Boas (2015), o portfólio é muito mais do que apenas um arquivo de atividades: a seleção dos trabalhos precisa passar por avaliação crítica e cuidadosa, envolvendo a análise da qualidade dos materiais e das estratégias de aprendizagem utilizadas. Vale destacar que, no caso da educação infantil, a escolha de objetos, registros fotográficos e produções dos alunos deve privilegiar as diferentes vivências de cada um, e o julgamento da qualidade deve ser voltado para as experiências vivenciadas pelas crianças e os que determinado objeto, desenho ou registro provocou noinsights educador. EXEMPLO Para compor o portfólio individual de uma criança com dificuldades de adaptação ao ambiente escolar, a educadora observou atentamente em quais situações ela se mostrava mais segura, quais objetos e brincadeiras a deixavam mais calma e concentrada e se ela preferia o ambiente interno ou externo. Todas as observações eram anotadas. Com base nelas, a professora passou a planejar determinadas vivências em sala de aula que favoreciam a sensação de segurança. Todas as vivências eram registradas por meio de fotos, relatos e objetos. Essa situação é um exemplo de boa prática de construção do portfólio. A escolha dos itens e relatos que o comporão não pode ser aleatória. Precisam ter relevância e significado, trazendo à luz marcos do desenvolvimento, bem como das situações e atividades que o favorecem e propulsionam. - -7 Temos ainda, como instrumento no processo de avaliação educacional, os registros avaliativos. Esses registros podem trazer considerações sobre uma turma ou ser individuais. Neles, o educador vai destacar, a partir de suas observações, diferentes aspectos acerca do desenvolvimento escolar, seja individual, seja coletivo. Considerando os objetivos da avaliação na educação infantil, ele deverá destacar as características da(s) criança(s) e como observou o seu desenvolvimento. Figura 4 - Observação e registro como reflexão da prática docente Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2019. Neste espaço, o educador pode descrever brinquedos e brincadeiras preferidas, a maneira como a criança se socializa com as outras crianças e demais adultos, além dos vários aspectos do seu desenvolvimento psicológico, intelectual, físico e social. SAIBA MAIS Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico, da autora Benigna Maria de Freitas Villas Boas. Editora Papirus. Ano: 2015. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574640. https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574640 - -8 Vale reforçar que todas as suas observações têm o único objetivo de acompanhamento da aprendizagem. Na educação infantil, não existe um comportamento ou resultado esperados; é preciso, porém, oferecer um ambiente adequado e favorável ao pleno desenvolvimento da criança. Esse ambiente precisa ter um “[...] conjunto de aspectos próprios que a qualificam como ambiente educativo” (BONDIOLI, 2004, p. 142-143). Um desses aspectos é a avaliação, que, por meio da observação e do registro, servirá como indicador da qualidade da aprendizagem e da prática docente. Fechamento Neste tópico, vimos que a avaliação na educação infantil é orientada por diferentes instrumentos que se constituem como os registros realizados pelos educadores. Destacou-se a importância de os registros serem uma prática contínua no trabalho pedagógico, além de sua relevância enquanto indicador de qualidade do trabalho na educação infantil. Por fim, foram destacados dois dos instrumentos principais: o portfólio e o registro avaliativo. Enfatizamos seus papeis múltiplos: estão à serviço dos educadores, que podem, com eles, refletir constantemente sobre sua pratica pedagógica; das crianças, que auxiliam na construção do portfólio e conseguem visualizar suas conquistas; e das famílias, que ganham acesso à memória e à evolução das crianças na educação infantil. Referências ARAGÃO, R. O Portfólio como novo instrumento de avaliação. , Brasília, n. 41, p. 14-17, nov.Revista Criança 2006. Disponível em: . Acesso em: 18 mar.http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/revcrian_41.pdf 2019. BARBOSA, M. C. S. O acompanhamento das aprendizagens e a avaliação. , PortoRevista Pátio Educação Infantil Alegre, v. II, n. 4, p.16-19, abr./jun. 2004. BARROS, A. P. de. Processos de avaliação do trabalho na educação infantil: uma experiência com o processo de construção participativa dos indicadores de qualidade. In: ENCONTRO DE PESQUISADORES DO PROGRAMA EDUCAÇÃO, 2011, São Paulo. Anais eletrônicos [...] São Paulo, 2011. BONDIOLI, A. O projeto pedagógico da creche e sua avaliação: a qualidade negociada. Campinas: Autores Associados. 2004. BRASIL. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Volume 1. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2019.http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf BRASIL. . Brasília: MEC/SEF, 1998.Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Volume 2 Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2019.http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume2.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/revcrian_41.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume2.pdf - -9 FARIA, A. P.; BESSELER, L. H. A avaliação na educação infantil: fundamentos, instrumentos e práticas pedagógicas. , Presidente Prudente-SP, v. 25, n. 3, p. 155-169, set./dez. 2014. Disponível em:Nuances http://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/view/3048/2711. Acesso em: 18 mar. 2019. GUEDES. A. O. Elaboração e organização de instrumentos de acompanhamento e avaliação da aprendizagem e desenvolvimento das crianças. , Brasília, n. 41, p. 12-13, nov. 2006. Disponível em: Revista Criança http://portal. mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/revcrian_41.pdf. Acesso em: 18 mar. 2019. VILLAS BOAS, B. M de F. Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico. Campinas: Papirus, 2015. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574640. Acesso em: 18 mar. 2019. http://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/view/3048/2711 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/revcrian_41.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/revcrian_41.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/revcrian_41.pdfhttps://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574640 - -1 A abordagem educacional de Reggio Emilia Debora dos Santos Introdução Caro estudante, você conhece a experiência de Reggio Emilia na Itália? Já ouviu falar sobre suas práticas docentes voltadas à educação infantil? Neste tópico, destacaremos os elementos que fizeram a proposta educacional de Reggio Emilia mundialmente conhecida, exercendo, inclusive, importante influência sobre a educação infantil no Brasil. Vamos conhecer, no último tópico da unidade, mais sobre essa experiência educacional reconhecida pela excelência, alta qualidade e boas práticas. Veremos também, de maneira sucinta, como ela surgiu e quais suas características, especialmente no que se refere à documentação pedagógica. Bons estudos! A abordagem Reggio Emilia e o que ela tem a nos ensinar A abordagem educacional de Reggio Emilia tem essa nomenclatura por ter origem nas escolas de educação infantil da cidade de mesmo nome, situada no norte da Itália. Trata-se de uma experiência mundialmente reconhecida pelas suas características singulares e alta qualidade alcançada na educação de crianças entre 0 e 6 anos. A proposta educacional de Reggio Emilia surge no contexto do pós-guerra, na década de 1940, do desejo de um grupo de cidadãos que ansiavam por reconstruir o “[...] tecido social, cultural e político” (UNIVESP TV, 2011) da comunidade, por meio da criação de uma escola para crianças pequenas. Para Sá (2010, p. 57), “[...] desde sua origem, Reggio Emilia é uma escola diferente, enraizada na vontade das famílias de construir um mundo melhor por meio da educação”. Do encontro de Loris Malaguzzi, professor universitário e estudioso das teorias pedagógicas, com a comunidade local, surge o que viria a ser mais tarde a abordagem de Reggio Emilia. A experiência passou a ser conhecida internacionalmente a partir de década de 1990, por ter suas escolas reconhecidas entre as melhores do mundo. Podemos dizer que a proposta pedagógica de Reggio Emilia é sustentada por pilares que permeiam o trabalho educativo. Destacam-se quatro, fortemente presentes. - -2 Figura 1 - Pilares educacionais Fonte: Elaborada pela autora, 2019. Uma especificidade da proposta é a presença de ateliês e atelieristas nas escolas, com o objetivo de ampliar as possibilidades de expressões e manifestações artísticas das crianças – valorizando, assim, outras formas de linguagem, não apenas as já codificadas e reconhecidas (UNIVESP TV, 2011). - -3 Figura 2 - Presença de ateliê nas escolas Fonte: YanLev, Shutterstock, 2019. A atelierista faz parte de uma equipe multi e interdisciplinar, junto à professora da classe, à cozinheira, às auxiliares, à pedagoga, que trabalham de maneira colaborativa, ampliando as experiências. Todo o trabalho parte do pressuposto de que estão presentes nas crianças, de maneira intrínseca, a curiosidade e a criatividade. EXEMPLO Um exemplo da interdisciplinaridade é a integração da cozinheira na equipe enquanto partícipe do processo educativo. As crianças não apenas recebem o alimento, e a cozinheira não apenas cozinha. O ato de cozinhar nas escolas de Reggio Emilia se transforma em ato pedagógico e em vivência para as crianças, cheio de significados e aprendizagens. Elas aprendem, saboreando os alimentos, a conhecer texturas, cores, sabores, os utensílios utilizados na cozinha, cooperação, cuidado, amor e zelo ao cozinhar para si e para os colegas. - -4 Outro destaque da abordagem de Reggio Emilia é a presença de um currículo flexível, construído a partir das ideais que emergem do cotidiano escolar e das observações das crianças. Há, ainda, a forte presença e participação dos pais e da comunidade na escola, o que ajuda a perpetuar as suas origens como uma escola nascida da organização de pais desejosos, no pós-2ª Guerra, de um mundo melhor para seus filhos. As 100 linguagens da criança Um dos pilares da educação de Reggio Emilia é a valorização das múltiplas linguagens da criança. Nesta abordagem, a criança é estimulada a se expressar por meio de diferentes linguagens, movimentos corporais, encenações, desenhos, construções, colagens, montagens, pinturas, esculturas, entre outras. Figura 3 - Expressão por meio de múltiplas formas Fonte: conrado, Shutterstock, 2019. Loris Malaguzzi escreveu um poema que traduz bem essa visão sobre as múltiplas possibilidades da infância. Alguns versos: [...] A criança tem cem mãos, cem pensamentos, cem modos de pensar, - -5 A criança tem cem mãos, cem pensamentos, cem modos de pensar, de jogar e de falar. [...] A escola e a cultura separam-lhe a cabeça do corpo. Dizem-lhe: de pensar sem as mãos, de fazer sem a cabeça, de escutar e de não falar, De compreender sem alegrias, de amar e maravilhar-se só na Páscoa e no Natal. Dizem-lhe: de descobrir o mundo que já existe e, de cem, roubaram-lhe noventa e nove. [...] Dizem-lhe: que as cem não existem. A criança diz: ao contrário, as cem existem (MALLAGUZZI, 1999). Assim, justifica-se a presença do ateliê, do atelierista, da criança na cozinha da escola, dos espaços minuciosamente planejados para que a criança expresse toda a sua multiplicidade. Ao educador, cabe o papel de provocar, estimular, encorajar, observar e auxiliar os pequenos alunos a construírem suas representações e compreensões do mundo ao redor. A documentação pedagógica Observar, registrar e documentar é uma prática especialmente presente na educação infantil, com forte influência da experiência de Reggio Emilia. Segundo Marques e Almeida (2011), a prática pedagógica foi adotada no Brasil pelo reconhecimento internacional de qualidade e pela difusão dos textos, cursos e palestras sobre a abordagem italiana. Observar as crianças registrando seus movimentos, falas e interações ajuda o educador a reconstruir o próprio pensamento e a compreender mais a fundo a lógica da criança. Ela é singular e, segundo Marques e Almeida (2011, p. 110), “[...] a documentação mostra a especificidade do pensamento infantil [...]”. Além disso, é possível construir a memória do trabalho desenvolvido com e pelo grupo. Por meio da seleção de registros significativos, a documentação consolida e informa aos pais e à comunidade o trabalho realizado. De acordo com Sá (2010), a documentação – dos trabalhos e produções das crianças, por exemplo – ficam expostas por toda a escola pelo tempo que for necessário. FIQUE ATENTO Tornar visível a didática utilizada e evidenciar percursos e conceitos trabalhados com as crianças são parte dos objetivos da documentação pedagógica. - -6 O registro das produções, fotos, fragmentos de discussões e produções artísticas representa o trabalho desenvolvido pelo grupo, sem dar ênfase a produções individuais. A escolha dos materiais, que pode estar organizada em pastas, cartazes e exposições, é feita de maneira colaborativa. Os pais também podem ser convidados a participar do processo. Fonte: s_oleg, Shutterstock, 2009. Todo o material exposto exemplifica o trabalho realizado com e pelo grupo e “[...] diz respeito ao processo educativo vivenciado por todos e que o exposto é um exemplo apenas dessa vivência” (SÁ, 2010, p. 67). FIQUE ATENTO A documentação pedagógica não evidencia o trabalho individual. A seleção dos elementos que servirão como exemplos para ilustrar o trabalho desenvolvido e o processo de desenvolvimento do grupo privilegia o significado que cada registro representa e como ele se comunica com o que foi realizado. Ou seja, nem todos os trabalhos estarão presentes, necessariamente, nos registros. Mas os processos educacionais vivenciados pelos alunos terão que estar representados. - -7 Como não há documentação individual, o acesso à documentação é para todos, indistintamente, abrangendo toda a comunidade. A documentação pode ser levada para a casa por quem desejar, por período pré-determinado, independentemente de quem a produziu. A regra vale para toda a comunidade, com ou sem filhos matriculados na escola. Fechamento Neste tópico, conhecemos a abordagemde Reggio Emilia, originada a partir dos anseios de uma comunidade italiana que desejava reconstruir sua história, no contexto do pós-guerra da década de 1940, através da educação das crianças pequenas. Referência mundial na educação infantil, contou com a importante contribuição de Loris Malaguzzi. Vimos ainda que essa experiência educacional de sucesso se caracteriza pelo trabalho colaborativo, pela valorização das múltiplas linguagens da criança e sua autonomia, pela participação ativa dos pais e da comunidade e pela construção de um ambiente educativo. Referências CONHECENDO Reggio Emilia. Univesp TV, 2011. 1 vídeo (21m20s). Disponível em: https://www.youtube.com . Acesso em: 11 mar. 2019./watch?v=vEnTD8wOZz4 MALAGUZZI, L. Histórias, ideias e filosofia básica. In: EDWARDS, C.; GANDINI, L.; FORMAN, G. As cem linguagens : a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre: Artmed, 1999, p. 59-da criança 114. MARQUES, A. C. T. L.; ALMEIDA, M. I. de. A documentação pedagógica na abordagem de Reggio Emilia. , Santos, v. 3, n. 5, p. 102-128, jan./jun. 2011. Disponível em: Pesquiseduca http://periodicos.unisantos.br/index. . Acesso em: 18 mar. 2019.php/pesquiseduca/article/view/155/pdf_1 OSTETTO, L. E. (Org.). Registros na educação infantil: pesquisa e prática pedagógica. Campinas: Papirus, 2017. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574872. Acesso em: 18 mar. 2019. SAIBA MAIS Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do capítulo 1 do livro Registros na educação infantil: pesquisa e prática pedagógica, organizado pela autora Luciana Esmeralda Ostetto. Editora Papirus. Ano: 2017. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/ index.asp?codigo_sophia=574872162896. https://www.youtube.com/watch?v=vEnTD8wOZz4 https://www.youtube.com/watch?v=vEnTD8wOZz4 http://periodicos.unisantos.br/index.php/pesquiseduca/article/view/155/pdf_1 http://periodicos.unisantos.br/index.php/pesquiseduca/article/view/155/pdf_1 https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574872 https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=574872 - -8 SÁ, A. L. de. Um olhar sobre a abordagem educacional de Reggio Emilia. , Belo Horizonte, ano 7, n. 8, p. 55-Paidéia 80, jan./jun. 2010, p. 55-80. Disponível em: .http://www.fumec.br/revistas/paideia/article/view/1281/862 Acesso em: 18 mar. 2018. http://www.fumec.br/revistas/paideia/article/view/1281/862 Apresentação da unidade 3 - Avaliação na Educação Infantil Topico 1 - As especificidades da avaliação na Educação Infantil Introdução Os fundamentos e objetivos da avaliação na educação infantil Desenvolvimento infantil como critério para avaliação Compreender os ritmos individuais Objetivos da avaliação na educação infantil Avaliação a serviço da aprendizagem Observação atenta e sensível Fechamento Referências Topico 2 - LDB e a não reprovação na Educação Infantil Introdução Fundamentos teórico-metodológicos da não reprovação na educação infantil Aprendizagem e desenvolvimento gradativo e cumulativo Choro: manifestação das necessidades básicas Avaliação com foco nas conquistas individuais Fundamentos legais da não reprovação na educação infantil Aprendizagem processual e interativa Fechamento Referências Topico 3 - Indicadores de qualidade na Educação Infantil Introdução Conceituando qualidade na educação infantil Educação infantil: 1ª etapa da educação básica Desenvolvimento pleno Os indicadores de qualidade na Educação Infantil Os indicadores como subsídio para aferir a qualidade Reunião de avaliação coletiva, participativa e propositiva Fechamento Referências Topico 4 - A documentação pedagógica na Educação Infantil Introdução Documentação pedagógica na Educação Infantil: história, conceito e objetivo Documentação pedagógica Visibilidade das ações desenvolvidas Elementos constitutivos da documentação pedagógica Registro para (e com) a criança Registros e documentos compõe a documentação pedagógica Fechamento Referências Topico 5 - Registros contínuos do professor e a elaboração de relatórios de aprendizagem Introdução A avaliação por meio da observação e registro Registros: parte integrante do trabalho pedagógico Trabalho investigativo Como realizar os registros Ação docente a partir da reflexão Observação e registro como reflexão da prática docente Fechamento Referências Topico 6 - A abordagem educacional de Reggio Emilia Introdução A abordagem Reggio Emilia e o que ela tem a nos ensinar Pilares educacionais Presença de ateliê nas escolas As 100 linguagens da criança Expressão por meio de múltiplas formas A documentação pedagógica Fechamento Referências