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MÓDULO 02 – AULA 01 Compreensão dos Erros e Adoção de uma Cultura de Segurança PROFESSOR (A) Silvio Cesar da Conceição OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1. Compreender a importância dos erros relacionados ao cuidado. 2. Compreender a abordagem adequada diante da ocorrência dos erros. 3. Compreender a importância da Cultura de Segurança Positiva. Classificação dos Conceitos em Relação à Segurança do Paciente Existem muitas definições na literatura sobre segurança do paciente, que apresentam muitas semelhanças, mas também diferenças importantes. Sua diferenciação nem sempre é óbvia e distinta. Ao mesmo tempo, também há uma dificuldade prática em relação à classificação de eventos adversos e à determinação dos índices para a medição da segurança. Levando em consideração as dificuldades acima mencionadas, considerou-se necessário criar o terceiro eixo em relação às atividades de uma "Aliança Mundial para a Segurança do Paciente", intitulado "Taxonomia para a segurança do paciente" (OMS, 2005a). Taxonomia para a Segurança do Paciente 1 Discussão da Necessidade Em 2003, o Grupo de Trabalho da OMS sobre Taxonomia de Segurança do Paciente foi realizado em Genebra, primeiramente para discutir a necessidade de adotar uma terminologia comum para tudo relacionado à segurança do paciente, em segundo lugar para apresentar as várias definições sobre segurança do paciente e, em terceiro lugar, para ajudar a tornar conhecidos os métodos de classificação de eventos adversos e quase acidentes entre vários países. 2 Desenvolvimento de uma Estrutura de Classificação Um dos seis objetivos da Aliança Mundial para a Segurança do Paciente da OMS era a realização de um programa para a Taxonomia Internacional de Eventos de Segurança do Paciente, com base no trabalho já realizado pelo grupo de trabalho acima mencionado. A primeira reunião ocorreu em Vancouver em 2005, a fim de estabelecer os objetivos e a importância da classificação e do planejamento estratégico para seu desenvolvimento. 3 Publicação da Estrutura Conceitual Dois anos depois, em 2007, a OMS publicou a Estrutura Conceitual para a Classificação Internacional para a Segurança do Paciente (ICPS). Esse relatório, além da análise da estrutura, incluiu um conjunto de definições para 46 termos relacionados à estrutura e à segurança do paciente. Taxonomia para a Segurança do Paciente A estrutura da ICPS não só demonstra a taxonomia, como também organiza a forma de raciocinar a maneira que se estabelecem as relações entre as causas e consequências dos incidentes e de que forma as ações podem prevenir ou reduzi-los, na lógica de uma organização que aprende com os erros. Souza e Mendes (2014). Taxonomia para a Segurança do Paciente • Evento: algo que ocorre com ou envolve o paciente. • Circunstância: situação ou fator que pode influenciar um evento, agente ou pessoa. • Agente: substância, objeto ou sistema que age para produzir mudança. • Dano: dano da estrutura ou função do corpo e/ou qualquer efeito deletério dele oriundo. Inclui doenças, dano ou lesão, sofrimento, incapacidade ou disfunção e morte. O dano pode, assim, ser físico, social ou psicológico. • Dano associado ao cuidado de saúde: dano surgido por, ou associado a, planos ou ações realizadas durante o cuidado de saúde em vez de uma doença de base ou lesão. • Paciente/doente: pessoa que recebe cuidados de saúde. O termo paciente é mais utilizado no Brasil, enquanto doente é mais utilizado em Portugal. • Cuidados de saúde: serviços recebidos por indivíduos ou comunidades para promover, manter, monitorizar ou restaurar a saúde. • Saúde: estado de bem-estar físico, mental e social completo, e não apenas ausência de doença ou enfermidade. • Doença: disfunção fisiológica ou psicológica. • Erro: falha em executar um plano de ação como pretendido ou aplicação de um plano incorreto. Pode ocorrer por fazer a coisa errada (erro de ação ou comissão) ou por falhar em fazer a coisa certa (erro de omissão) na fase de planejamento ou na fase de execução. Os erros são, por definição, não intencionais. • Violação: divergência deliberada de um procedimento cirúrgico, um padrão ou regra. São de forma habitual intencionais, apesar de raramente maliciosas; e, em determinado contexto, podem se tornar rotineiras ou automáticas. Um exemplo de violação é a não adesão à higienização das mãos por profissionais de saúde.Souza e Mendes (2014). Taxonomia para a Segurança do Paciente Caso 1 – Um profissional observou que o frigorífico que guarda unidades de sangue estava com problema técnico, e, por isso, a temperatura estava alta. Essa é uma circunstância notificável: circunstância em que houve potencial significativo para o dano. Caso 2 – Uma unidade de sangue foi conectada ao paciente errado, mas o erro foi detectado antes do início da transfusão. Isso é um near miss: incidente que não atingiu o paciente. Caso 3 – Uma unidade de sangue foi conectada ao paciente errado, houve transfusão, mas não houve reação. Isso é um incidente sem danos: evento que atingiu o paciente, mas não causou dano discernível. Caso 4 – Uma unidade de sangue foi conectada ao paciente errado, houve transfusão, e o paciente morreu por reação hemolítica. Isso é um incidente com dano, ou um evento adverso: incidente que resulta em dano ao paciente. Souza e Mendes (2014). Teoria dos Sistemas e Fatores Humanos 1 Teoria dos Sistemas De acordo com a Teoria dos Sistemas, a maioria dos erros não é causada por negligência ou incapacidade, mas pelas vulnerabilidades dos sistemas, tornando o ambiente de trabalho propenso a erros. As condições latentes surgem de insuficiências ou defeitos nas funções organizacionais, como o desenvolvimento de políticas e protocolos, orçamentos, contratação, manutenção de equipamentos e gerenciamento de processos. 2 Teoria dos Fatores Humanos De acordo com a Teoria dos Fatores Humanos, "a mudança da natureza humana não é possível, mas o que é possível é a mudança das condições em que os seres humanos trabalham". A relação dessa teoria com o desenvolvimento da "cultura de segurança" se baseia em três princípios: prevenção de erros, não ocultação de erros e desenvolvimento de métodos que moderem as consequências dos erros. 3 Importância da Cultura de Segurança Ao longo do tempo, deu-se um valor especial às causas dos acidentes profissionais, e a pesquisa em indústrias de alto risco contribuiu muito para o entendimento do impacto dos sistemas e dos fatores humanos na segurança organizacional. Indicadores de Qualidade e Segurança do Paciente Indicador de qualidade pode ser definido como uma medida quantitativa sobre algum aspecto do cuidado ao paciente. Seu uso permite o monitoramento do desempenho dos serviços de saúde, a programação de ações de melhoria de qualidade e orienta os pacientes para que realizem escolhas mais bem informadas. A utilidade dos indicadores depende de sua validade, confiabilidade e viabilidade Gouvêa e Travassos (2010). Sistemas de Notificação de Eventos Adversos Importância da Notificação A criação de um sistema de notificação de eventos adversos é uma das recomendações práticas da AHRQ para a segurança do paciente. Esse sistema permite que os profissionais de saúde relatem problemas sem medo de punição, possibilitando a análise das causas raízes e a implementação de melhorias. Cultura Justa Uma cultura de segurança positiva incentiva a notificação de eventos adversos por meio de uma abordagem justa e construtiva. Os profissionais de saúde devem se sentir seguros para relatar problemas, sabendo que a organização responderá de maneira apropriada, sem punições injustas. Aprendizado Organizacional A análise cuidadosa dos eventos adversos notificados permite que a organização identifique as causas raízes e implemente melhorias para evitar a recorrência. Esse aprendizado contínuo é fundamental para uma cultura de segurança positiva. Características de uma Cultura deSegurança Positiva Liderança Comprometida Uma cultura de segurança positiva requer liderança comprometida com a segurança do paciente. Os líderes devem demonstrar um compromisso visível e ativo com a segurança, definindo metas claras e alocando recursos adequados. Comunicação Aberta Uma cultura de segurança positiva incentiva a comunicação aberta sobre erros e eventos adversos. Os profissionais de saúde devem se sentir seguros para relatar problemas sem medo de punição, e a organização deve responder de maneira justa e construtiva. Aprendizado Contínuo Uma cultura de segurança positiva valoriza o aprendizado contínuo. A organização deve analisar cuidadosamente os erros e eventos adversos, identificar as causas raízes e implementar melhorias para evitar a recorrência. Trabalho em Equipe Uma cultura de segurança positiva promove o trabalho em equipe e a colaboração entre os profissionais de saúde. Isso envolve a definição de papéis e responsabilidades claros, a coordenação eficaz das atividades e o respeito mútuo. Avaliação da Cultura de Segurança do Paciente https://csp.qualisaude.telessaude.ufrn.br/ Recomendações Práticas para a Segurança do Paciente Avalie e Melhore a Cultura de Segurança Avalie e melhore a cultura de segurança do paciente em seu hospital. Cultive o Trabalho em Equipe Cultive o espírito de equipe e crie parcerias construtivas. Limite os Turnos da Equipe Limite os turnos do pessoal tanto quanto possível. Implemente Práticas Seguras Implemente práticas seguras, como a colocação segura de tubos no peito, a prevenção de infecções hospitalares e a minimização do uso de cateteres urinários. Conclusões A segurança do paciente é um tema complexo que envolve a classificação de eventos adversos, a definição de indicadores de segurança e o desenvolvimento de uma cultura organizacional positiva. A adoção de uma taxonomia comum, a implementação de práticas seguras e a criação de sistemas de notificação são fundamentais para promover a segurança do paciente. Ao cultivar uma cultura de segurança baseada na liderança comprometida, comunicação aberta e aprendizado contínuo, as organizações de saúde podem melhorar continuamente a qualidade dos cuidados prestados aos pacientes. REFERÊNCIAS 1. Vasiliki Kapaki; Kyriakos Souliotis. Patient Safety and Medical Errors: Building Safer Healthcare Systems for Better Care. 2017. 2. Gouvêa, C. S. D. de ., & Travassos, C.. (2010). Indicadores de segurança do paciente para hospitais de pacientes agudos: revisão sistemática. Cadernos De Saúde Pública, 26(6), 1061–1078. https://doi.org/10.1590/S0102- 311X2010000600002 3. Patient safety assessment manual / World Health Organization. Regional Office for the Eastern Mediterranean .- 3rd ed. 4. Mendes W. Taxonomia em segurança do paciente. In Segurança do Paciente: conhecendo os riscos nas organizações. de saúde, 2014. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2010000600002 https://doi.org/10.1590/S0102-311X2010000600002 Slide 1 Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12 Slide 13 Slide 14 Slide 15 Slide 16 Slide 17