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Patologia dos Órgãos e Sistemas - Patologias do Esôfago Introdução O esôfago apresenta uma porção torácica e uma abdominal com 3-4 cm de comprimento, atravessa o diafragma pelo hiato esofágico que é uma abertura muscular com tensão normal que apenas sustenta o esôfago na posição adequada Para modular a comunicação entre esôfago e estômago existe o esfíncter esofágico inferior (EEI) que fica constantemente contraído e relaxa somente diante de estímulos neurais para permitir a passagem do alimento durante a deglutição. O controle do EEI e do peristaltismo do esôfago é feito por plexos neurais ramos do nervo vago Anomalias Congênitas Para o esôfago ser formado durante a embriogênese dois brotos, um proximal e um distal, se proliferam e se unem para compor um tubo único que será canalizado posteriormente. Anomalias nesse processo são raras, especialmente a agenesia que é a não formação do esôfago durante a embriogênese Atresia esofágica Atresia esofágica é a formação incompleta do esôfago caracterizada por um segmento do órgão na forma de cordão fino e não canalizado. Associada a atresia pode existir a fístula traqueoesofágica, isto é, a comunicação entre a luz da traqueia e a luz do esôfago que oferece possibilidade de broncoaspiração, pneumonia aspirativa e óbito Varizes de Esôfago As principais causas de varizes de esôfago são a cirrose hepática e esquistossomose hepato-esplênica, quadros que levam à hipertensão portal, dificuldade de drenagem venosa, congestão passiva crônica e, consequentemente, varizes de esôfago que são definidas como dilatações tortuosas e circunscritas do plexo submucoso ou periesofágico Pacientes com cirrose hepática apresentam destruição crônica do tecido hepático, insuficiência hepática e diminuição da síntese de fatores de coagulação. Dessa forma, a principal consequência de varizes de esôfago por cirrose hepática é a hemorragia digestiva alta intensa que é a principal causa de óbito nos pacientes com cirrose Acalasia Acalasia ou megaesôfago é uma disfunção motora causada por alterações dos plexos neurais ramos do nervo vago que levam à diminuição do peristaltismo (aperistalse) do esôfago, relaxamento parcial ou incompleto do EEI durante a deglutição e aumento de seu tônus basal, o que favorece acúmulo de alimentos e consequente dilatação do órgão que se manifesta através de disfagia com piora progressiva ●Acalasia primária: tem etiologia desconhecida, podendo ser causada por alterações degenerativas da inervação intrínseca do esôfago, nervo vago ou núcleo dorsal do nervo vago ●Acalasia secundária: mais comum no Brasil, é causada pela doença de Chagas. O processo inflamatório e destruição persistentes de células musculares lisas e do plexo neural do esôfago causados pelo Trypanosoma cruzi e respostas imunes levam ao desenvolvimento dessa forma da doença Hérnia Hiatal Hernia hiatal é uma disfunção motora mais comum que o megaesôfago e consiste na passagem da porção abdominal do esôfago e parte do estômago através do hiato esofágico. A etiopatogenia se baseia na associação entre o enfraquecimento da musculatura que compõe o hiato esofágico que ocorre com o envelhecimento e o aumento da pressão intrabdominal presente na obesidade, gravidez, ascite, bronquite crônica pela tosse recorrente e bulimia pelos vômitos recorrentes O novo posicionamento do hiato esofágico forma um esfíncter no estômago com funcionamento independente da alimentação. Dessa forma, há disfagia, diminuição da drenagem do alimento pelo estômago, dilatação do esôfago e consequente afrouxamento do EEI que favorece a ocorrência de refluxo gastroesofágico que, quando recorrente, leva à esofagite crônica, úlceras pépticas e hemorragias pequenas Esofagite Aguda Esofagite aguda é o processo inflamatório agudo do esôfago que pode ser causado por infecções por estafilococos, vírus herpes simples ou cândida; traumas causados por alimentos quentes, irritantes ou cáusticos; sondas nasogástricas, radioterapia de tórax ou quimioterapia graças a destruição de células em processo de divisão celular, incluindo as do esôfago que estão em constante renovação. Esofagite Crônica Esofagite crônica é mais prevalente do que a aguda, sendo caracterizada pela inflamação crônica do esôfago graças ao refluxo gastroesofágico recorrente presente na hérnia de hiato principalmente, por isso a incidência de esofagite crônica aumenta com o envelhecimento. A esofagite crônica pode levar ao desenvolvimento de esôfago de Barret, úlceras pépticas e pequenas hemorragias, fibrose cicatricial seguida de estenose e disfagia progressiva Os fatores que podem levar à esofagite crônica são a hérnia de hiato, diminuição da eficiência do mecanismo anti-refluxo ou da capacidade de limpeza de materiais refluídos, relaxamento do EEI, aumento do volume gástrico e menor capacidade regenerativa natural da mucosa esofágica Esôfago de Barrett Esôfago de Barrett é a complicação mais grave da esofagite crônica, sendo caracterizado por ilhas de metaplasia intestinal no terço distal do esôfago (maior contato com material refluído), isto é, substituição adaptativa benigna do epitélio estratificado escamoso normal do terço distal do órgão por epitélio colunar com glândulas mucosas intestinais O refluxo esofágico recorrente leva à ulceração da mucosa do esôfago seguida de reepitelização, metaplasia antral ou intestinal. O processo inflamatório crônico que se estabelece envolve lesão e regeneração celular constantes, intensa divisão celular e oferece risco de desenvolvimento de adenocarcinoma de esôfago Neoplasias Neoplasias benignas do esôfago como os leiomiomas são raras, enquanto neoplasias malignas são muito mais comuns, representam 10% dos tumores de trato digestivo e quase sempre têm diagnóstico tardio, por isso apresentam elevadas taxas de mortalidade ●Adenocarcinoma: acomete o terço distal do esôfago e tem como principal fator de risco o esôfago de Barrett ●Carcinoma espinocelular: localizado geralmente no terço médio do esôfago, tem como principais fatores de risco: acalasia, esofagite crônica, nitratos e nitrosaminas presentes em conservantes alimentícios, aflotoxina produzida pelo Aspergillus, etilismo e tabagismo Hepatites Introdução Hepatite é o processo inflamatório do fígado cujas principais causas são o álcool e infecções virais, além de infecções bacterianas ou fúngicas, medicamentos e autoimunidade Hepatite Alcoólica Hepatite alcoólica é o processo inflamatório do fígado caracterizado pela presença de degeneração gordurosa e necrose de hepatócitos Hepatite alcoólica, assim como a esteatose e a cirrose hepática, faz parte da doença hepática alcoólica Patogenia O álcool induz o citocromo P450, uma grande família de enzimas que metaboliza drogas, leva à inflamação e necrose de hepatócitos. A metabolização do álcool forma o substrato tóxico acetaldeído e radicais livres de oxigênio que danificam o DNA, membrana celular e nuclear de hepatócitos. O álcool induz ataques imunológicos aos hepatócitos danificados e neoantígenos hepáticos, danifica microtúbulos e mitocôndrias, dessa forma ocorre diminuição da produção de ATP, deficiência da bomba sódio-potássio ATPase, degeneração hidrópica e balonização de hepatócitos Achados histopatológicos Hepatite alcoólica é precedida pela esteatose na DHA, então há degeneração gordurosa de hepatócitos. Evidencia-se também balonização de hepatócitos pela lesão de mitocôndrias, infiltrado neutrofílico nos lóbulos hepáticos pela indução de ataques imunológicos e Corpúsculos de Mallory (indicam hepatite alcoólica, mas não são patognomônico) que são estruturas formadas a partir da degeneração hialina de hepatócitos fruto da necrose celular. Hepatite Viral Aguda Hepatite viral aguda é caracterizada por infiltrado inflamatório com predomínio de neutrófilos nos espaços porta, necrose individual de hepatócitos que leva à formação de corpúsculos de Councilman, alterações reativasde células de Kupffer e balonização de hepatócitos Hepatite Viral Crônica Hepatite viral crônica é caracterizada pela presença de infiltrado linfoplasmocitário portal que ultrapassa a membrana limitante, necrose individual de hepatócitos, necrose em “saca-bocado” e necrose em ponte portal-portal, portal- central ou central-central. Quando a hepatite crônica está inativa, a arquitetura hepática permanece preservada e há evidências de fibrose portal com alargamento dos espaços porta acometidos Avaliação da evolução A hepatite crônica pode ter sua evolução avaliada através da graduação da intensidade da atividade inflamatória de 0 a 4 e estadiamento das lesões irreversíveis (fibrose) através da biópsia hepática e classificação de Metavir. Observações Portador são é o paciente com hepatite crônica inativa ou sorologia positiva e sem sinais ou sintomas clínicos. Hepatite fulminante é o quadro de necrose maciça do fígado Cirrose Hepática Introdução Cirrose hepática é o quadro anatomopatológico que envolve faixas de fibrose de grau variável, desarranjo arquitetural e formação difusa de nódulos regenerativos hiperplásicos. As principais causas de cirrose hepática são hepatites virais e alcoolismo, além de doença hepática gordurosa não alcoólica, esteatohepatite não alcoólica, doenças biliares, hemocromatose e hepatite autoimune Os pacientes com hepatite que tem risco de desenvolver cirrose são: alcoolistas crônicos, portadores de hepatite crônica ativa, portadores de hepatite B, C ou D Fisiopatogenia Agentes infecciosos liberam endotoxinas que junto das citocinas inflamatórias vão estimular fibrinogênese, stress oxidativo e degeneração gordurosa. Há lesão de hepatócitos, indução de apoptose, respostas imunes com liberação de citocinas inflamatórias que induzem as células de Ito (células estelares) a se tornarem fibroblastos que passam a depositar fibras colágenas nos espaços de Disse que leva à fibrose perivenular e sinusoidal. Durante o reparo tecidual ocorre a formação de novos hepatócitos que se organizam em ilhas chamadas de nódulos de regeneração Macroscopia Macroscopicamente se observa um fígado com consistência endurecida, hepatomegalia inicial que é substituída por alteração da arquitetura e atrofia do órgão graças a retração das fibras colágenas nos espaços de Disse. Quando a cirrose tem etiologia viral, os nódulos de regeneração têm mais de 3 mm e caracterizam uma cirrose macronodular. Quando a cirrose tem etiologia alcoólica surgem nódulos regenerativos com menos de 3 mm que caracterizam uma cirrose micronodular Complicações Cirrose hepática pode levar à hipertensão portal seguida de varizes de esôfago passíveis de ruptura e consequente hemorragia digestiva alta intensa graças a incapacidade do fígado de sintetizar adequadamente os fatores de coagulação. A insuficiência hepática crônica pode causar insuficiência renal, coagulopatias e alterações endócrinas como ginecomastia, diminuição da libido e atrofia testicular Outras possíveis complicações da cirrose hepática são a esplenomegalia congestiva, carcinoma hepatocelular, ascite, encefalopatia hepática, hemorroidas, colestase e icterícia por obstrução extrínseca do fluxo biliar graças à fibrose, redução da captação hepática de bilirrubinas e diminuição da excreção hepatocelular de bilirrubinas.