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SAIBA A VERDADE! O dia a dia, as dificuldades e as soluções encontradas pelos gestores de empresas consagradas A ética, a onda verde e a responsabilidade social: como lidar com as preocupações da atualidade O desafio de gerir pessoas: unindo as individualidades em favor do todo e nos diferentes níveis hierárquicos ADMINISTRAÇÃO www.grupoa.com.br 2a Edição 34649_Serie A-Administracao 1 09/05/12 16:06 B328a Bateman, Thomas S. Administração [recurso eletrônico] / Thomas S. Bateman, Scott A. Snell ; tradução: Allan Vidigal Hastings ; revisão técnica: Gilmar Masiero. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2012. Editado também como livro impresso em 2012. ISBN 978-85-8055-082-5 1. Administração. I. Snell, Scott A. II. Título. CDU 658 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 Coordene como Sheryl e Alicia, observando como os gestores organizam suas empresas e delegam autoridade. Por décadas, a marca Whirlpool foi sinônimo de alta qualidade e alto desempenho em eletrodomésticos, como refrigeradores e máquinas de lavar. Ao fim da década de 1990, contudo, as vendas da empresa pararam de crescer e seus lucros caíram. Cortar custos foi apenas uma maneira de interromper a hemorragia, não uma re‑ ceita para a saúde no longo prazo. Por isso, o presidente ‑executivo David R. Whitwam reviu a maneira como a empresa se organizava. Em vez de isolar a gera‑ ção de ideias nos grupos de engenharia e marketing da divisão de produtos, fez dela responsabilidade de todos e nomeou Nancy R. Snyder Diretora de Inovação da Whirlpool. Ela estabeleceu programas de treinamento em inovação para todos os assalariados e criou um processo para conduzir as melhores ideias à etapa de desenvolvimento. Com o novo sistema, começaram a entrar as receitas vindas dos novos produtos.1 Whitwam percebeu que o sucesso de uma empresa, muitas vezes, depende da maneira como estão organizados o trabalho e as responsabilidades. O ideal é que os gestores tomem decisões que alinhem a estrutura da empresa com sua estraté‑ gia, de tal modo que os funcionários tenham a autoridade, as habilidades e a motivação para concentrar ‑se nas atividades com as quais mais podem contri‑ buir para o sucesso da empresa. Acho que o planejamento formal é necessário para projetos de longo prazo. Precisamos ficar na rota para chegar ao resultado final desejado. Não é uma boa ideia planejar formalmente questões que não sejam tão prementes, porque perdemos o foco sobre o que realmente importa. Além disso, não é bom gastar muito tempo fazendo algo que não vai nos ajudar a chegar aonde queremos estar. Alicia Catalano, Líder de Equipe de Vendas Ter aprendido mais sobre delegação na faculdade teria resultado na compreensão das vantagens de deixar que os outros deem apoio em tarefas e ajudem a gerenciar a carga de trabalho. Sheryl Freeman, Gestora de Programas seiscapítulo Organização Cap 06_gestao_BATEMAN.indd 127 16/02/2012 13:25:43 128 Administração creveremos as diversas formas de estrutura horizontal, inclusive a funcional, a divisional e a matricial. Daremos exemplos das maneiras como as empresas podem integrar suas estruturas: atingindo a coordenação por meio de padro‑ nização, planejamento e ajustes mútuos. Finalmente, iremos tratar da importância da flexibilidade e sensibilidade organi‑ zacionais – ou seja, da capacidade da empresa para mudar de forma e se adaptar a novas estratégias, inovações tecnológi‑ cas, mudanças do ambiente e outros desafios. OA6.1 Definir as características da estrutura organizacional: orgânicas ou mecânicas, de diferenciação e de integração. FUNDAMENTOS DA EMPRESA Muitas vezes, começamos a descrever a estrutura de uma empresa por meio de seu organograma. O organograma representa os cargos da empresa e a maneira como são organizados. Oferece uma visão da estrutura de subordina‑ ção (quem se reporta a quem) e das diversas atividades rea‑ lizadas por diferentes pessoas. A maioria das empresas cria organogramas oficiais para transmitir essas informações. A Figura 6.1 mostra um organograma tradicional. Veja‑ mos como diversas informações são transmitidas de maneira simples: • As caixas representam diferentes tarefas. • Os títulos das caixas mostram o trabalho que cada unidade realiza. • As relações de subordinação e autoridade são indicadas pelas linhas contínuas que mostram ligações entre superior e subordinado. • Os níveis de gestão são indicados pelo número de camadas horizontais do diagrama. Todos os funcionários de uma mesma hierarquia que res- pondem a uma mesma pessoa encontram ‑se no mesmo nível. O organograma da Figura 6.l lembra a estrutura das empresas que o sociólogo alemão Max Weber abordou ao tratar do conceito de burocracia, no começo do século XX. Muitos anos depois, dois estudiosos ingleses de gestão (Burns e Stalker) descreveram esse tipo de estrutura como organizações mecânicas, uma estrutura formal que • Os ocupantes de cada cargo têm responsabilidades mais amplas que mudam de acordo com as necessidades. • A comunicação se dá por meio de aconselhamento e informação, em vez de ordens e instruções. • A tomada de decisões e a influência são mais descentralizadas e informais. • A perícia é muito valorizada. • Os ocupantes de cada cargo fiam ‑se mais na capacidade de julgamento do que em regras. • A obediência à autoridade é menos importante do que o compromisso com as metas organizacionais. • Os funcionários confiam muito mais uns nos outros e relacionam ‑se de maneira mais informal e pessoal. As empresas orgânicas são muito dependentes de uma estrutura informal de redes de funcionários. Os bons gesto‑ res conhecem muito bem essas interações e incentivam os funcionários a trabalhar mais como companheiros de equipe do que como subordinados que aceitam ordens de seus che‑ fes.3 Como veremos mais adiante neste capítulo, quanto mais orgânica uma empresa, mais sensível será à mudança das exi‑ gências competitivas e às realidades do mercado. Além de diferir quanto à dependência de redes informais e organogramas formais, as estruturas das empresas podem variar em termos de sua diferenciação e integração. • Diferenciação significa que a empresa se compõe de unidades diversas que se dedicam a tipos diferentes de tarefas, usando habilidades e méto- dos de trabalho distintos. • Integração significa que as unidades diversas são reunidas de tal maneira que o trabalho é coordenado de forma a tornar global um deter- minado produto.4 A diferenciação cria cargos especializados Em uma estrutura organizacional, a diferenciação se cria por meio da divisão do trabalho e da especialização de car‑ gos. Divisão do trabalho significa que o trabalho da empresa se subdivide em tarefas menores a serem realiza‑ das por pessoas e unidades de toda a organização. Espe- cialização significa que diferentes pessoas ou grupos realizam partes específicas de uma tarefa maior. Os dois conceitos estão, é claro, intimamente associados. Secretá‑ rios executivos e contabilistas se especializam em realizar Podem levar meus ativos, mas deixem minha organização e, em cinco anos, terei recuperado tudo. Alfred P. Sloan Jr. Este capítulo dedica ‑se às dimensões vertical e horizontal da estrutura organizacional. Começaremos pelos princípios básicos de diferenciação e integração. Em seguida, iremos discutir a estrutura vertical, que inclui as questões de autori‑ dade, hierarquia, delegação e descentralização. Depois, des‑ tem por objetivo promover a eficiência interna.2 Mas foram além disso, sugerindo que existe uma outra opção para as empresas modernas: a estrutura orgânica, que é muito menos rígida e, na verdade, enfatiza a flexibilidade. A estru‑ tura orgânica pode ser descrita da seguinte maneira: Cap 06_gestao_BATEMAN.indd 128 16/02/2012 13:25:43 CAPÍTULO 6 | Organização 129 tarefas diferentes; no mesmo sentido, as tarefasde marke‑ ting, finanças e recursos humanos dividem ‑se entre seus departamentos respectivos. Especialização e divisão do tra‑ balho são necessárias por causa das muitas tarefas que são realizadas em uma empresa. O trabalho dela como um todo seria complexo demais para uma só pessoa.5 A diferenciação é elevada quando uma empresa tem muitas subunidades e muitos especialistas que pensam de maneiras diferentes. Os professores de Harvard, Lawrence e Lorsch, levantaram que as empresas, em ambientes comple‑ xos e dinâmicos, desenvolviam elevado grau de diferencia‑ ção para lidar com os desafios enfrentados. As empresas em ambientes simples e estáveis tinham baixos níveis de dife‑ renciação. As empresas em ambientes intermediários ti‑ nham diferenciação intermediária.6 A integração coordena os esforços dos funcionários Enquanto as empresas diferenciam suas estruturas, os ges‑ tores devem, ao mesmo tempo, considerar aspectos de inte‑ gração. As tarefas especializadas de uma empresa não podem ser completamente independentes; exigem certo grau de comunicação e cooperação. A integração e o con‑ ceito a ela relacionado de coordenação se referem aos procedimentos que ligam as diversas partes da empresa para realizar sua missão geral. A integração se obtém por meio de mecanismos estrutu‑ rais que aumentam a colaboração e a coordenação. Qualquer atividade que ligue uni dades de trabalho realiza uma fun‑ ção integradora. Quanto mais diferenciada uma empresa, maior a necessidade de inte‑ gração entre suas unidades. Lawrence e Lorsch observa‑ ram que empresas altamen‑ te diferenciadas eram bem‑ ‑sucedidas quando também apresentavam altos níveis de integração, e tinham maior chance de fracassar quando estavam em ambientes com‑ plexos, mas deixavam de in‑ tegrar adequadamente suas atividades.7 Entretanto, o foco na integração pode retardar a inovação, pelo menos por al‑ gum tempo. Em um estudo que acompanhou resultados em empresas de tecnologia da informação que adquiriam ou‑ tras empresas, aquelas com maior integração estrutural ti‑ nham menor chance de introduzir novos produtos pouco depois da aquisição, mas a integração teve menor impacto sobre lançamentos de produtos envolvendo empresas ad‑ quiridas mais experientes.8 Estes conceitos permearão todo o restante do capítulo. Primeiro, trataremos da diferenciação vertical dentro da estrutura organizacional – a autoridade em uma empresa, o conselho de administração, o presidente ‑executivo e os níveis hierárquicos, além de questões ligadas à delegação e à ORGANOGRAMA A estrutura de subordinação e divisão do trabalho em uma empresa. ORGANIZAÇÃO MECÂNICA Uma forma de organização que procura maximizar a eficiência interna. ESTRUTURA ORGÂNICA Uma forma organizacional que enfatiza a flexibilidade. DIFERENCIAÇÃO Um aspecto do ambiente interno da empresa criado pela especialização de cargos e pela divisão do trabalho. INTEGRAÇÃO O nível no qual unidades diferenciadas trabalham juntas e coordenam seus esforços. DIVISÃO DO TRABALHO A atribuição de diversas tarefas para diferentes pessoas ou grupos. ESPECIALIZAÇÃO Um processo pelo qual diferentes pessoas e unidades realizam diferentes tarefas. COORDENAÇÃO Os procedimentos que ligam as diversas partes de uma empresa para realizar sua missão geral. Um organograma convencionalF I G U R A 6.1 Financeiro P&D Marketing Pessoal Divisão de produtos químicos Pessoal Financeiro Produção Vendas Divisão de produtos metálicos Pessoal Financeiro Produção Vendas Presidente Cap 06_gestao_BATEMAN.indd 129 16/02/2012 13:25:43 130 Administração descentralização. Em seguida, iremos nos voltar para a dife‑ renciação horizontal na estrutura organizacional, explo‑ rando as questões de departamentalização que criam empresas funcionais, divisionais e matriciais. Em seguida, abordaremos aspectos ligados à integração estrutural, inclusive coordenação, papéis organizacionais, interdepen‑ dência e cruzamento de fronteiras. Finalmente, iremos ver como essas questões se aplicam a empresas que buscam maior agilidade. OA6.2 Resumir a forma de operação da autoridade e quem cos- tuma deter a autoridade máxima em uma empresa. A ESTRUTURA VERTICAL A dimensão vertical da estrutura das empresas molda os relacionamentos de subordinação, de autoridade, de res‑ ponsabilidade e accountability. A autoridade é concedida formal e informalmente No mais básico dos níveis, o funcionamento de qualquer empresa depende do uso da autoridade, o direito legítimo de tomar decisões e dizer aos outros o que fazer. Por exem‑ plo, um chefe tem autoridade para dar uma ordem a um subordinado. Tradicionalmente, a autoridade reside mais nos cargos do que nas pessoas. O papel do vice ‑presidente de uma divisão qualquer tem autoridade sobre a divisão em questão, independentemente de quantas pessoas passem pelo cargo e de quem o detenha em um dado momento. Em empresas de capital fechado, os proprietários têm a autoridade máxima. Na maioria das empresas de pequeno porte e estrutura simples, o proprietário também age como gestor. Às vezes, o proprietário contrata outra pessoa para gerir a empresa e os funcionários. O proprietário confere a esse gestor alguma autoridade para supervisionar as opera‑ ções, mas o gestor responde ao proprietário, que retém a autoridade máxima. Em empresas maiores, o princípio é o mesmo, mas a estrutura da alta administração tem diversos componentes: • Conselho de administração – Nas sociedades por ações, os proprietários são os acionistas. Como há muitos acionistas e eles não costumam dis‑ por de informações oportunas, poucos se envolvem diretamente na gestão da empresa. Os acionistas elegem um conselho de administração para supervisioná ‑la. O conselho, liderado por seu presidente, toma decisões gerais sobre ela, sujeito às condições dos estatutos sociais. Os conselhos de administração selecionam, avaliam, recompensam e, às vezes, subs‑ tituem o presidente ‑executivo; determinam a orientação estratégica da empresa e avaliam seu desempenho financeiro e garantem uma conduta ética, socialmente responsável e legal.9 Entre os membros do conselho de administração costuma haver alguns altos executivos – chamados de dire- tores internos. Os diretores externos do conselho costumam ser executivos de outras empresas. Os conselhos bem ‑sucedidos tendem a participar ativa e criticamente da determinação das estratégias das empresas. • Presidente ‑executivo – A autoridade oficialmente incorporada no conse‑ lho de administração é atribuída a um presidente ‑executivo (CEO) que ocupa o topo da pirâmide organizacional. Ele é pessoalmente responsá‑ vel perante o conselho e os proprietários a respeito do desempenho da empresa. Em algumas sociedades por ações, uma só pessoa reúne os car‑ gos de presidente ‑executivo e presidente da empresa.10 Em alguns casos, o cargo de presidente do conselho de administração pode ser honorário e envolver pouco além da coordenação de assembleias. Se o presidente da empresa também for o CEO, o presidente é o segundo no comando. ? VOCÊ SABIA? Nas grandes sociedades por ações, a maioria dos conselhos de administração tem entre 9 e 13 membros. Os conselhos têm empregado mais diretores externos, inclusive presidentes -executivos e vice- -presidentes financeiros aposentados.11 0 50% 23% 44% 6% 18% 82% 78% 100% Porcentagem de membros independentes Porcentagem de conselhos nos quais o presidente- -executivo é o único membro interno Porcentagem de novos membros com formação em finanças 1998 2008 Cap 06_gestao_BATEMAN.indd 130 16/02/2012 13:25:44 CAPÍTULO 6 | Organização 131 • Alta administração – Os presidentes ‑executivos podem compartilhar sua autoridade com outros membros da alta administração, que costuma ser composta do presidente ‑executivo, do vice ‑presidente de operações, do vice ‑presidente financeiro e outros. Em vez de tomardecisões críticas por conta própria, os presidentes ‑executivos de empresas como Shell, Honeywell e Merck reúnem ‑se regularmente com suas equipes de alta administração para tomar decisões conjuntas.12 A autoridade formal dos cargos costuma ser o principal meio pelo qual se toca uma empresa. As ordens dadas por um chefe a um subordinado normalmente são cumpridas. À medida que isso acontece em toda a empresa, dia após dia, esta avança e realiza suas metas.13 Entre‑ tanto, a autoridade nem sempre depende dos car‑ gos. Pessoas com experiência, perícia, ou qualidades pessoais específicas podem ter uma considerável autoridade informal – como os cientistas em empre‑ sas de pesquisa, por exemplo, ou funcionários que entendem de computadores. A hierarquia define os níveis de autoridade No Capítulo 1, discutimos os três níveis gerais da pi‑ râmide organizacional, frequentemente chamada de hierarquia. O presidente ‑executivo ocupa o topo da pirâmide, na qualidade de membro mais graduado da alta administração. O nível administrativo supe‑ rior também abrange os vice ‑presidentes – os gesto‑ res estratégicos encarregados da empresa toda. O segundo nível da organização é o da administração intermediária. Nele, os gestores estão encarregados veis hierárquicos. A General Electric tinha 29 deles; hoje, tem apenas alguns poucos e sua estrutura hierárquica é praticamente chata. A maio‑ ria dos executivos de hoje acredita que um menor número de níveis hierárquicos leva a uma empresa mais eficiente, rápida e eficaz em custos. Isso também se aplica às subunidades das grandes socieda‑ des por ações. Um estudo com 234 agências de uma insti‑ AUTORIDADE O direito legítimo de tomar decisões e dizer a outras pessoas o que fazer. Dois respeitados executivos, Bill Gates (esq.), da Microsoft, e Brad Anderson (dir.), da Best Buy, debatem a popularidade do Xbox 360 na cerimônia de inauguração de uma loja em Bellevue, Washington. de unidades ou departamentos. O nível inferior, composto da administração de linha e dos funcionários, abrange ge‑ rentes de filiais ou agências, gerentes de vendas, superviso‑ res e outros gestores da linha de frente, além dos funcioná‑ rios que se reportam diretamente a eles. Este nível também é chamado de nível operacional da empresa. A estrutura de autoridade é a cola que une esses três níveis. Em geral, mas nem sempre, as pessoas dos níveis mais elevados têm a autoridade para tomar decisões e dizer aos ocupantes dos níveis inferiores o que fazer. Por exem‑ plo, os gestores intermediários podem dar ordens aos supervisores da linha de frente; estes, por sua vez, coorde‑ nam os trabalhadores do nível de operações. Uma forte tendência das empresas norte ‑americanas nas últimas décadas tem sido a redução do número de ní‑ tuição financeira revelou que as agências com menos níveis ten‑ diam a apresentar maior eficiên‑ cia operacional do que as que ti‑ nham mais.14 Esta tendência, aliada a pes‑ quisas, poderia parecer sugerir que a hierarquia fosse algo ruim, mas o empreendedor Joel Spolsky aprendeu que uma estrutura completamente chata não é necessariamente o ideal. Quando ele e Michael Pryor fun‑ daram a Fog Creek Software, decidiram que dariam poder aos funcionários, fazendo com que todos se reportassem aos dois proprietários. O sistema funcionou bem por alguns anos, até que a Fog Creek atingiu 17 funcionários em tempo integral. Com esse porte, a empresa não era mais uma pequena família feliz: os funcionários tinham preocupações e sentiam dificuldade para abordar os sócios e reunir ‑se com eles. Assim, Spolsky e Pryor nomea‑ ram dois dos funcionários líderes das equipes de progra‑ mação. Os funcionários tinham mais facilidade para conversar com os líderes de suas equipes e Spolsky con‑ cluiu que esse nível de “gestores intermediários” ajudou a empresa a funcionar melhor.15 Autoridade sem sabedoria é como um machado sem uma ponta firme, serve mais para bater do que para cortar. Anne Bradstreet Cap 06_gestao_BATEMAN.indd 131 16/02/2012 13:25:44 CAPÍTULO 6 | Organização 135 OA6.6 Definir os tipos básicos de estrutura organizacional e resumir seus pontos fortes. A ESTRUTURA HORIZONTAL À medida que aumenta a complexidade das suas tarefas, a empresa inevitavelmente se divide – ou seja, se departa‑ mentaliza. Os departamentos de linha são os responsá‑ veis pelas atividades ‑objeto da empresa. Essas unidades lidam diretamente com os bens ou serviços primários desta; produzem, vendem, ou atendem clientes. Na General Motors, os departamentos de linha abrangem projeto de produto, fabricação, montagem, distribuição e similares. Os gestores de linha costumam ter muita autoridade e muito poder, e são responsáveis pela tomada das principais deci‑ sões operacionais. Também são responsáveis pelo resultado que suas decisões trazem para o bottom ‑line. Departamentos de apoio são aqueles que fornecem habilidades especializadas em respaldo dos departamentos de linha. Entre eles estão os departamentos de pesquisa, jurídico, contábil, de relações públicas e de recursos huma‑ nos. Em grandes empresas, cada uma dessas unidades pode ter seu próprio vice ‑presidente e alguns podem ter muita autoridade, como ocorre quando os grupos de con‑ tabilidade ou finanças aprovam e monitoram atividades orçamentárias. Em empresas de estrutura tradicional, são comuns os conflitos entre os departamentos de linha e os de apoio. Um motivo para isso é o fato de que as carreiras e o sucesso em muitas funções de apoio dependem da perícia na área de atenção específica, enquanto o sucesso nas funções de linha depende mais do conhecimento do setor no qual a em‑ presa opera. Assim, enquanto os gestores de linha podem buscar novos produtos e clientes, os de apoio podem pare‑ cer sufocar essas iniciativas por meio de seu foco em exi‑ gências e procedimentos. Os gestores de linha podem parecer mais dispostos a assumir riscos em nome do cres‑ cimento, enquanto os de apoio parecem mais focados em proteger as empresas do risco. Nas empresas de hoje, con‑ tudo, as unidades de apoio tendem a ser menos focadas em A organização funcionalF I G U R A 6. Compras Produção Marketing Presidente- -executivo Financeiro Tecnologia da informação Recursos Humanos monitoramento e controle do desempenho e mais interes‑ sadas na prestação de apoio estratégico e assessoria es‑ pecializada.26 Por exemplo, os gestores de recursos hu‑ manos ampliaram seu foco, saindo da mera criação de procedimentos que atendam às exigências legais, para ajudar as empresas a plane‑ jar, recrutar, desenvolver e manter os tipos de funcio‑ nários que lhes irão conferir uma vantagem competitiva de longo prazo. Esse tipo de pensamento estratégico não só torna os gestores de apoio mais valiosos para suas em‑ presas como também reduz os conflitos entre os depar‑ tamentos de linha e de apoio. À medida que as empre‑ sas dividem o trabalho entre diferentes unidades, pode‑ mos detectar padrões na maneira como os departa‑ mentos se agrupam e se or‑ ganizam. As três abordagens básicas à departamenta- lização são a funcional, a divisional e a matricial. Organizações funcionais geram especialistas eficientes Em uma organização funcional, os cargos (e departa‑ mentos) são especializados e agrupam ‑se de acordo com funções de negócio e as habilidades que exigem: produção, ORGANIZAÇÃO CENTRALIZADA Uma empresa na qual os executivos de alto nível tomam a maioria das decisões e confiam sua implementação aos níveis inferiores. ORGANIZAÇÃO DESCENTRALIZADA Uma empresa na qual os gestores de mais baixo nível tomam decisões importantes. DEPARTAMENTOS DE LINHA As unidades que lidam diretamente com os bens e serviços primários da empresa. DEPARTAMENTOS DE APOIO As unidades que apoiam os departamentos de linha. DEPARTAMENTALIZAÇÃO A subdivisão de uma empresa em unidades menores. ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL A departamentalização emtorno de atividades especializadas, como produção, marketing e recursos humanos. Cap 06_gestao_BATEMAN.indd 135 16/02/2012 13:25:47 136 Administração marketing, recursos humanos, pesquisa e desenvolvimento, finanças, contabilidade e assim por diante. A Figura 6.3 apresenta um organograma funcional básico. A tradicional abordagem funcional à departamentaliza‑ ção traz diversas vantagens em potencial:27 1. Podem ser realizadas economias de escala. Quando se agrupam pessoas com habilidades semelhantes, a empresa pode comprar equipamentos mais eficientes e obter descontos pelo grande volume de compras. 2. O monitoramento do ambiente torna ‑se mais eficaz. Cada grupo funcio‑ nal mostra ‑se mais alinhado aos acontecimentos no próprio campo e, por isso, pode adaptar ‑se mais prontamente. 3. Os padrões de desempenho são mais bem mantidos. Pessoas com trei‑ namento e interesses parecidos podem desenvolver uma preocupação comum com o desempenho em seus cargos. 4. As pessoas têm mais oportunidades de treinamento especializado e desenvolvimento aprofundado de habilidades. 5. Os especialistas em funções técnicas ficam relativamente livres do tra‑ balho administrativo. 6. A tomada de decisão e as linhas de comunicação são simples e facil‑ mente compreendidas. Mas a forma funcional também tem desvantagens. As pessoas podem preocupar ‑se mais com sua função do que com a empresa como um todo, e a atenção que dedicam às tarefas funcionais pode desviar o foco da qualidade geral do produto e da satisfação do cliente. Os gestores desenvolvem perícia funcional, mas carecem de conhecimento sobre outras áreas do negócio; tornam ‑se especialistas, e não generalistas. Surgem conflitos entre funções e a comunica‑ ção e a coordenação são prejudicadas. Em suma, essa estru‑ tura pode promover a diferenciação funcional, mas não a integração funcional. Com isso, a estrutura funcional pode ser mais apro‑ priada em ambientes simples e estáveis. Se a organização tornar ‑se fragmentada (ou desintegrada), pode ter dificul‑ dade para desenvolver novos produtos e levá ‑los ao mer‑ cado, assim como para reagir rapidamente a mudanças de exigências dos clientes e outras. Principalmente quando as empresas estão crescendo e o ambiente empresarial está em mutação, elas precisam integrar suas áreas de trabalho com mais eficácia para obter flexibilidade e sensibilidade. Outras formas de departamentalização podem ser mais flexíveis e sensíveis do que a estrutura funcional. Demandas por qualidade total, atendimento ao cliente, inovação e velocidade evidenciaram as limitações da forma funcional. Organizações funcionais, com sua alta diferen‑ ciação, criam barreiras à coordenação entre funções. Ainda assim, a organização funcional não irá desaparecer, em parte porque sempre haverá necessidade de especialistas funcionais, mas os gestores funcionais tomarão menos decisões. As principais unidades serão equipes interfuncio‑ nais com responsabilidades integradoras por produtos, pro‑ cessos, ou clientes.28 As organizações divisionais desenvolvem um foco sobre o cliente À medida que as empresas crescem e se diversificam, seus departamentos funcionais enfrentam dificuldades para A organização divisionalF I G U R A 6. Divisão A Presidente- -executivo Operacional FinanceiroMarketing Operacional FinanceiroMarketing Operacional FinanceiroMarketing Divisão B Divisão C Operacional FinanceiroMarketing Divisão D Cap 06_gestao_BATEMAN.indd 136 16/02/2012 13:25:48 CAPÍTULO 6 | Organização 137 As organizações podem criar estruturas divisionais de diversas maneiras: • Divisões de produto – Todas as funções que contribuem para um dado produto se organizam sob um gestor desse produto. A Johnson & John‑ son é um exemplo dessa forma. Tem mais de 250 divisões independen‑ tes, muitas das quais responsáveis por linhas de produto específicas. Sua subsidiária, a Cordis Corporation, tem divisões que desenvolvem e vendem produtos para tratamento de doenças vasculares, enquanto os produtos da McNeil ‑PPC abrangem os produtos de higiene bucal Listerine e Plax. A abordagem à departamentalização por produtos tem vantagens e desvantagens.30 As necessidades informacionais são mais facil‑ mente geridas porque as pessoas dedicam ‑se a um só produto. Estão comprometidas em tempo integral a uma só linha e, por isso, estão cientes de como seus cargos se encaixam no quadro geral. As res‑ ponsabilidades são claras e os gestores são mais independentes e têm maior responsabilidade. Além disso, os gestores recebem trei‑ namento mais amplo. Como a estrutura por produto é mais flexível do que a funcional, é mais adequada a ambientes instáveis, quando a capacidade de adaptação rápida é importante. Por outro lado, a coordenação entre linhas de produto e divisões é difícil. E, embora os gestores aprendam a ser generalistas, podem deixar de adquirir a pro‑ fundidade de conhecimento que se desenvolve na estrutura funcional. As funções não são centralizadas na sede e a duplicação de esforços é dispendiosa. Como a tomada de decisões é descentralizada, a alta administração pode perder o controle sobre as decisões tomadas nas divisões. Uma boa gestão de todas as questões ligadas à descentrali‑ zação e à delegação, como vimos anteriormente, é essencial para que essa estrutura seja eficaz.31 • Divisões por cliente – As divisões se constroem em torno de clien‑ tes. A Pfizer recentemente subs‑ tituiu suas divisões por localida‑ de por três outras baseadas em grupos de clientes: cuidados pri‑ mários, cuidados especializados e mercados emergentes. A com‑ panhia farmacêutica espera, com isso, tornar ‑se mais sensível às ne‑ cessidades dos médicos em cada grupo de seus pacientes.32 No mesmo sentido, um hospital pode organizar seus serviços em torno de casos pe‑ diátricos, adultos, psiquiátricos e emergenciais. Os departamentos de crédito dos bancos costumam ter grupos diferentes encarregados das necessidades de pessoas físicas e jurídicas. • Divisões geográficas – As divisões são estruturadas em torno de regiões geográficas. As distinções podem ser por distrito, território, região e país. O Macy’s Group, antigamente chamado Federated Department Stores, tem divisões geográficas para suas operações que atendem Estados ou re‑ giões dos Estados Unidos: Macy’s East, Macy’s Florida, Macy’s Midwest, Macy’s North, Macy’s Northwest, Macy’s South e Macy’s West, além da Macys.com, que atende compradores pela internet. Os executivos da Ford Motor Company incluem o presidente ‑executivo da Ford da Europa, o da Ford do México e o presidente da Ford Motor (China) Ltda. A principal vantagem da departamentalização por pro‑ duto, por cliente e regional é a capacidade de concentrar o foco sobre as necessidades dos clientes e fornecer um aten‑ dimento melhor e mais rápido. Mas, novamente, a duplica‑ ção de atividades entre muitos grupos de clientes e regiões geográficas é dispendiosa. O estabelecimento de divisões por clientes melhorou as decisões estratégicas da Det Norske Veritas (DNV), uma empresa norue‑ guesa que presta serviços ligados à gestão de riscos. Inicial‑ mente, a empresa presumiu que qualquer colaboração entre divisões iria aumentar as vendas e os lucros, mas o primeiro esforço nesse sentido fra‑ cassou. A administração tentou combinar os esforços de duas unidades de negócios: seu grupo de consultoria e uma unidade que inspecionava as cadeias de produção de empresas de alimentos. A ideia era permitir que os grupos combinados ajudassem as empresas do setor alimentício a reduzir os riscos em suas cadeias de suprimentos. Entretanto, os membros dos grupos foram lentos no compartilhamento de informações sobre clientes, pensavam que o tempo gasto no projeto conjunto minava os esforços da pró‑ pria divisão (pelos quais seu desempenhoera medido) e criaram conflitos que levaram a atrasos e estouros de orçamento. Decepcionados com esses primeiros resultados, os executivos da DNV avaliaram a decisão tomada e perceberam que estavam criando um pro‑ jeto de colaboração sem antes priorizar as oportunidades de mercado, identificar o impacto sobre os lucros de cada divisão e recompensar os funcionários pela colaboração. Para melhorar decisões futuras, reestru‑ turaram a empresa sob a forma de unidades de negócio que atendiam a mercados específicos. Com base no conhecimento que tinham do mercado, cada unidade investigava onde a colaboração faria sentido para atender as necessidades da clientela. Como a unidade toda se beneficiaria, era mais fácil atrelar as recompensas à colaboração. Um caso de sucesso ocorreu na unidade que servia o setor marítimo. Os gestores determinaram que os especialistas em TI da unidade colaborariam com o grupo de gestão de risco para ajudar as empresas transportadoras a gerenciar o risco de falha de seus sistemas de computação. Desta vez, a reação dos clientes e dos funcionários foi entusiástica.33 ORGANIZAÇÃO DIVISIONAL Um tipo de departamentalização que agrupa as unidades em torno de produtos, clientes, ou regiões geográficas. Organização funcional Um departamento central de compras Departamentos separados de marketing, produção e engenharia para toda a empresa Um departamento munici- pal central de saúde Departamentos de inspeção, manutenção e suprimentos para toda a fábrica Organização divisional Uma unidade de compras para cada divisão Especialistas em marke- ting, design, produção e engenharia no grupo de cada produto Unidades de saúde separadas para escola e para prisão Inspeção, manutenção e suprimentos realizados por cada equipe de produção gerenciar uma ampla gama de produtos, clientes e regiões geográficas. Nesse caso, as empresas podem se reestruturar e criar uma organização divisional, que agrupa todas as funções em uma só divisão e duplica funções em todas as divisões. No organograma divisional da Figura 6.4, cada di‑ visão tem seus próprios departamentos operacionais, de marketing e financeiro. Cada divisão pode agir quase como se fosse uma empresa ou um centro de lucros em separado e trabalhar com autonomia para realizar as metas da empresa como um todo. Eis alguns exemplos de como as mesmas tarefas seriam organizadas sob estruturas funcionais e divisionais:29 Cap 06_gestao_BATEMAN.indd 137 16/02/2012 13:25:49 138 Administração As organizações matriciais querem o melhor aspecto de dois mundos Uma organização matricial é uma forma híbrida em que se sobrepõem as formas funcional e divisional. Os ges‑ tores e funcionários reportam ‑se a dois chefes – um gestor funcional e um gestor divisional –, criando uma dupla linha de comando. Na Figura 6.5, por exemplo, cada gestor de projeto reúne funcionários de cada área funcional para for‑ mar um grupo de projeto. Os profissionais dedicados a esses projetos reportam ‑se tanto ao gestor do projeto em que estão quanto ao gestor de sua área funcional. Um bom exemplo de estrutura matricial pode ser encon‑ trado na Time Inc., a principal editora de revistas dos Esta‑ dos Unidos e da Grã ‑Bretanha. Nos principais títulos da editora, como a Time, a Sports Illustrated e a People, os ges‑ tores de produção responsáveis pela criação das revistas reportam ‑se tanto aos editores específicos quanto a um exe‑ cutivo graduado encarregado da produção. No nível corpo‑ rativo, a Time Inc. realiza enormes economias de escala ao comprar papel e tinta em grandes lotes e coor‑ denar as atividades de produção da empresa como um todo. Ao mesmo tempo, os gestores de produção dedi‑ cados a cada título podem garantir atendimento às diferentes necessi‑ dades e agendas de suas respectivas revistas. Esquemas matriciais seme‑ lhantes aplicam ‑se a outros gestores, como os de circulação e financeiro. Com isso, a empresa procura beneficiar ‑se das estruturas organizacionais, tanto divisional quanto funcional. Como as demais estruturas organizacionais, a matricial tem pontos fortes e pontos fracos:34 Vantagens • A tomada de decisões é descentralizada a um ponto que permite o correto processamento das informações e a aplicação do conhecimento relevante. • Há amplas redes de comunicação para ajudar a processar grandes volu‑ mes de informação. • Com a delegação das decisões aos níveis adequados, os altos níveis de gestão não se sobrecarregam com decisões operacionais. • A utilização de recursos é eficiente porque os principais insumos são compartilhados por diversos programas ou produtos importantes. • Os funcionários aprendem as habilidades colaborativas necessárias para operar em um ambiente caracterizado por reuniões frequentes e intera‑ ções mais informais. • Criam ‑se rotas de carreira duplas à medida que mais opções de carreira surgem dos dois lados da empresa. ORGANIZAÇÃO MATRICIAL Uma organização composta de relações duplas de subordinação na qual alguns gestores reportam-se a dois superiores – um gestor funcional e um divisional. PRINCÍPIO DA UNIDADE DE COMANDO Uma estrutura na qual cada funcionário reporta-se a um chefe, que, por sua vez, reporta-se a um outro chefe. ORGANIZAÇÃO EM REDE Um agrupamento de empresas independentes e geralmente de função única que colaboram em relação a um produto ou serviço. Estrutura organizacional matricialF I G U R A 6. Diretor financeiro Presidente- -executivo Diretor de produção Gestor do projeto A Gestor do projeto B Diretor de engenharia Diretor de pessoal Grupo de produção dois chefes Grupo de produção dois chefes Grupo de engenharia dois chefes Grupo de engenharia dois chefes Grupo de pessoal dois chefes Grupo de pessoal dois chefes Grupo de contábil dois chefes Grupo de contábil dois chefes Cap 06_gestao_BATEMAN.indd 138 16/02/2012 13:25:49 CAPÍTULO 6 | Organização 139 Desvantagens • Podem surgir confusões, porque as pessoas não têm um único superior perante o qual se sintam responsáveis. • O conceito incentiva os gestores que compar‑ tilham subordinados a lutar por poder. • Pode surgir uma crença equivocada que a gestão matricial seja o mesmo que a tomada de decisões em grupo – isto é, que todos de‑ vam ser consultados a respeito de cada decisão. • Um excesso de democracia pode levar à falta de ação. Muitas das desvantagens decorrem da violação inerente da estrutura ma‑ tricial ao princípio da unidade de comando, segundo o qual cada pessoa deve ter um só chefe. Reportar ‑se a dois superiores pode criar confusão e uma situação interpessoal difícil, a menos que sejam tomadas medidas para impedir o surgimento desses problemas. habilidades de sobrevivência Os proble‑ mas podem, em grande parte, ser evitados se os principais gestores aprenderem as habilidades comportamentais que a estrutura matricial exige.35 Essas habilidades variam depen‑ dendo da função do gestor. O principal executivo precisa aprender a equilibrar poder e ênfase entre o aspecto de pro‑ duto e o funcional. Os gestores intermediários, que são os gestores de produto, ou divisão, e os gestores funcionais, preci‑ sam aprender a colaborar e gerenciar de maneira construtiva seus conflitos. Os gestores com dupla linha de subordinação, que se reportam a um gestor de produto ou divisão e um gestor funcional, precisam aprender a ser responsáveis perante dois superiores. Isso significa priorizar diversas demandas e, às vezes, até mesmo conciliar ordens confli‑ tantes. Algumas pessoas operam mal sob condições ambí‑ guas como essa, sinalizando o fim de suas carreiras na empresa. Outras aprendem a ser proativas, comunicam ‑se efetivamente com os dois superiores, superam as dificulda‑ des e gerenciam de forma construtiva esses relacionamen‑ tos profissionais. a forma matricial hoje A popularidade daforma matricial diminuiu durante o fim da década de 1980, quando muitas empresas tiveram dificuldades para imple‑ mentá‑la. Ultimamente, contudo, a forma ressurgiu. Os motivos para isso incluem pressões de consolidação de cus‑ tos e velocidade de chegada ao mercado, criando uma necessidade de melhor coordenação entre funções nas uni‑ dades de negócio e uma necessidade de coordenação entre países, no caso de empresas com estratégias de negócio glo‑ bais. Muitos dos desafios criados pela estrutura matricial são especialmente agudos no contexto internacional, prin‑ cipalmente pelas distâncias envolvidas e as diferenças entre os mercados locais.36 O segredo da gestão das organiza‑ ções matriciais de hoje não está na es‑ trutura em si, mas na compreensão do fato de que a matriz é um processo. En‑ tre os gestores que adotaram a estrutu‑ ra matricial pela complexidade dos de‑ safios que enfrentam, muitos dos que tiveram dificuldades de implementação deixaram de modificar as relações tra‑ balhistas e gerenciais em suas empre‑ sas. Não se pode criar uma organiza‑ ção flexível simplesmente por meio da alteração de sua estrutura. Para per‑ mitir que a informação flua livremen‑ te por uma organização, os gestores também precisam dar atenção às nor‑ mas, valores e atitudes que moldam os comportamentos.37 As organizações em rede baseiam -se em colaboração Até aqui, tratamos de variações sobre a organização hie‑ rárquica tradicional, na qual são realizadas todas as funções de negócio da empresa. Por outro lado, uma organização em rede é um grupo de empresas independentes e predo‑ minantemente monofuncionais que colaboram para produ‑ zir um produto ou serviço. Como se vê na Figura 6.6, a organização em rede não descreve uma organização, mas uma rede de relacionamentos entre muitas empresas. As organizações em rede são arranjos flexíveis entre projetistas, Empresas com pessoal altamente especializado, como a NASA, costumam usar uma estrutura matricial. A imagem mostra a astronauta Susan J. Helms (esq.) com o cosmonauta russo Yury V. Usachev, na Estação Espacial Internacional. A+ DICA O valor da colaboração é especialmente pronunciado nas organizações matriciais. No tipo de estrutura encontrado na Figura 6.5, os membros de grupos de projeto podem não estar permanentemente associados ao gestor do projeto. Podem voltar para sua área funcional uma vez concluído o projeto. Para que esse grupo opere de maneira eficaz, o estilo tradicional de gestão de comando e controle pode não ser o mais adequado. Ele poderia obter a conformidade dos membros do grupo, mas não o seu comprometimento pleno, dificultando a realização das metas do projeto. Além disso, como a organização matricial recorre a membros dos grupos funcionais para explorar suas especialidades, é muito importante conquistar sua contribuição total. Um processo em colaboração, pelo qual o gestor e os participantes desenvolvem um senso compartilhado de “propriedade” do trabalho que fazem, irá gerar melhores ideias, participação e compromisso com o projeto e seus resultados. Cap 06_gestao_BATEMAN.indd 139 16/02/2012 13:25:50 140 Administração fornecedores, produtores, distribuidores e clientes, nos quais cada empresa pode executar sua própria competência central e, ao mesmo tempo, trabalhar de maneira eficaz com as demais participantes da rede. Os membros de uma rede muitas vezes compartilham eletronicamente suas informa‑ ções para reagir rapidamente a demandas da clientela. A fronteira normal da organização torna ‑se tênue, ou porosa, à medida que os gestores de cada organização interagem com os membros da rede. A rede como um todo, portanto, pode exibir a especialização técnica da estrutura funcional, a sen‑ sibilidade ao mercado da estrutura por produtos e a flexibili‑ dade da estrutura matricial.38 Uma versão muito flexível da organização em rede é a rede dinâmica – também chamada de empresa modular, ou virtual. Ela se compõe de arranjos temporários entre os membros e pode ser montada e desmontada em resposta a um ambiente competitivo em mutação. Os membros da rede ficam unidos por contratos que estipulam os resulta‑ dos esperados (mecanismos de mercado), em vez de hierar‑ quia e autoridade. Empresas de fraco desempenho podem ser removidas e substituídas. Esses esquemas são comuns nos setores de eletrônicos, brinquedos e vestuário, que criam e vendem rapidamente produtos ligados a modismos. As redes dinâmicas também são adequadas a organizações nas quais grande parte do trabalho pode ser realizado independentemente por espe‑ cialistas. Por exemplo, os mais de 200 designers gráficos filiados à Logoworks prestam serviços a pequenas empresas em busca de trabalhos profissionais, sem as despesas fixas de uma agência de publicidade. Um produto popular da Logoworks é um conjunto de ideias para desenho de logo‑ marcas criado por três designers e vendido ao preço de US$ 399; o cliente escolhe a predileta, todos os designers recebem honorários fixos e aquele cuja ideia for escolhida recebe uma bonificação. A Logoworks faz publicidade online, contrata alguns designers e negocia contratos de freelancer com os demais.39 As redes de sucesso podem oferecer flexibilidade, inova‑ ção, reação rápida a ameaças e oportunidades, e custos e riscos reduzidos. Mas, para que esses esquemas deem certo, é necessário que sejam cumpridas diversas condições: A organização em redeF I G U R A 6.6 Designers Produtores Fornecedores Distribuidores Corretores / Gestores FONTE: R. Miles and C. Snow, “Organizations: New Concepts for New Forms”, California Management Review, Spring 1986, p. 65. Copyright © 1986 by The Regents of the University of California. Reimpresso de California Management Review, vol. 28, n. 3. I A rede da Kiva espalha -se pelo mundo Imagine uma rede sem fins lucrativos que convide pessoas a emprestar dinheiro a estranhos – empreendedores lutando para sobreviver em países em desenvolvimento. Dos empréstimos, 99% são honrados. Além da devolução, o credor não obtém qualquer retorno sobre o investimento – a não ser a satisfação de ajudar outra pessoa a ter sucesso. Loucura? Foi o que os investidores em capital de risco disseram a Matt e a Jessica Flannery quando os dois esboçaram sua ideia de uma organização de microcrédito pessoa -a -pessoa. Mas a Kiva hoje faz dife- rença nas vidas de centenas de milhares de empreendedores do Terceiro Mundo. Eis como funciona essa organização em rede. Os pretendentes a credores visitam o site da Kiva <www.kiva.org>, veem as fotos e histórias dos empreendedores, escolhem um ou mais para ajudar (emprestando de US$ 25 a US$ 150 por empreendedor) e enviam o dinheiro. A PayPal encaminha os fundos a uma instituição de microfinancia- mento (IMF) no país do empreendedor. A IMF processa o empréstimo e entrega o dinheiro em moeda corrente na casa do destinatário. Esses “bancos de bicicleta” cobram juros de 20% em média – muito menos do que as taxas que frequentemente vão de 100% a 200% nos países em desenvolvimento. Desde seu lançamento, em 2005, a Kiva levantou mais de US$ 27 milhões em em- préstimos junto a mais de 270 mil pessoas. A maioria é honrada dentro de um ano e a taxa de inadimplência é cerca de 1%, apenas. As operações da Kiva são transparentes. Em- bora a empresa analise cuidadosamente as IMFs antes de permitir sua filiação (e as IMFs, por sua vez, analisem os devedores), alguns relacionamentos dão errado. Os de- talhes sobre alianças fracassadas e deve- dores inadimplentes são publicados no site para que todos possam ver. A primeira beneficiária de um emprés- timo da Kiva foi uma mulher de Uganda que tinha uma peixaria. Um empréstimo de US$ 550 lhe permitiu expandir o empreendi- Premal Shah (esq.) e Matt são cofundadores da Kiva.org, que teve início em 2005. A foto os mos- tra do lado de fora do escritório da Kiva.org em São Francisco, Califórnia. Cap 06_gestao_BATEMAN.indd 140 16/02/201213:25:50 CAPÍTULO 6 | Organização 141 • A empresa precisa escolher a especialidade certa. Deve ser algo (bens ou serviços) de que o mercado precise e que a empresa possa fornecer melhor do que as demais – sua competência essencial. • A empresa deve optar por colaboradores que também sejam excelentes no que fazem e que forneçam pontos fortes complementares. • A empresa precisa certificar ‑se de que todos os participantes entendam perfeitamente as metas estratégicas da parceria. • Cada uma das participantes deve poder confiar informações estratégi‑ cas a todas as demais e, além disso, confiar que cada uma forneça pro‑ dutos de qualidade, mesmo que o negócio cresça rapidamente e imponha pesada demanda. Em uma rede, o papel dos gestores passa de comando e controle para algo mais assemelhado à função de um corre- tor. Gestores/corretores representam importantes papéis de fronteira que ajudam a integração e a coordenação da rede:40 • Papel de projetista. O corretor age como um arquiteto de rede que ima‑ gina um conjunto de grupos ou empresas cuja especialização coletiva possa ser focada sobre um bem ou serviço específico. • Papel de engenheiro de processo. O corretor age como um cooperador de rede que assume a iniciativa de estabelecer o fluxo de recursos e relacionamentos e certifica ‑se de que todos compartilhem os mesmos objetivos, padrões, pagamentos etc. • Papel de alimentador. O corretor age como um criador que nutre e apri‑ mora a rede (em um processo assemelhado à construção de equipes) para garantir que os relacionamentos sejam sadios e mutuamente benéficos. OA6.7 Descrever os principais mecanismos de coordenação do trabalho. INTEGRAÇÃO ORGANIZACIONAL Além de estruturar a organização em termos de diferencia‑ ção – a maneira como a organização se compõe de diferentes cargos e tarefas e a forma como estes se encaixam em um or‑ ganograma –, os gestores também precisam dar atenção à in‑ tegração e à coordenação – a maneira como todas as partes da organização operam em conjunto. Muitas vezes, quanto mais diferenciada a organização, mais difícil pode ser a integração. Por causa da especialização e da divisão do trabalho, diferen‑ tes grupos de gestores e funcionários desenvolvem diferentes orientações. Os funcionários pensam e agem de maneiras di‑ ferentes, dependendo de estar em um departamento ou em um grupo divisional, ser de linha ou de apoio e assim por diante. É difícil para os gestores integrar todas as atividades quando se concentram em suas unidades específicas. Os gestores podem usar diversas abordagens para alimen‑ tar a coordenação entre unidades e pessoas interdependen‑ tes. Em algumas situações, os gestores podem perceber que os funcionários precisam trabalhar bem unidos para atingir objetivos conjuntos e, por isso, desenvolvem a confiança mútua, os treinam em um conjunto comum de habilidades e recompensam o trabalho em equipe. Em outros casos, as REDE DINÂMICA Arranjos temporários entre parceiros que podem ser montados e remontados para adaptar-se ao ambiente. CORRETOR Alguém que monta uma rede e coordena os participantes. mento e contratar funcionários. Ela quitou o empréstimo em meses. Quem concede os empréstimos? Os contribuintes distribuem -se entre as idades de 25 a 60 anos. Pouco mais de metade são homens; dois terços ganham mais de US$ 50 mil por ano. Na outra ponta, mais mulheres do que homens recebem os em- préstimos da Kiva (as mulheres também apresentam menor taxa de inadimplência). Enquanto a maioria das organizações sem fins lucrativos fica com até 50% das contri- buições para cobrir despesas administrati- vas, 100% dos fundos doados à Kiva vão para os empréstimos. Premal Shah, presidente da empresa, in te- ressou -se pelo microfinanciamento quando estudava economia em Stanford e recebeu uma bolsa para estudar o assunto na Índia. Mais tarde, entrou para a PayPal como ges- tor de produto; atualmente, a empresa abre mão de todas as tarifas de transação sobre a remessa dos fundos ao destinatário. Shah observa: “o conceito de aceitar um pouco de crédito e deixar alguém apostar em você é muito americano”. Talvez, mas o impacto se fez sentir em dúzias de países. ❖ P: Perguntas para discussão • Como pode a flexibilidade de uma organização em rede permitir à Kiva atender uma necessidade com maior eficácia do que os credores tradicionais? • Quem são os colaboradores da Kiva? Como a empresa cultiva a confiança entre esses participantes? FONTES: “When Small Loans Make a Big Difference”, Forbes, 3 de junho de 2008, <http://www.forbes.com>; Jeffrey M. O’Brien, “The Only Nonprofit That Matters”, Fortune, 26 de fevereiro de 2008, <http://money.cnn.com>; Lee Rickwood, “Next Gen Giving: Charity and Social Networks”, PC World, 20 de fevereiro de 2008, <http://www.pcworld.ca>; e Elinor Mills, “Kiva Humanizes Microlending to Third -World Entrepreneurs”, CNET News, 8 de fevereiro de 2008. Cap 06_gestao_BATEMAN.indd 141 16/02/2012 13:25:50 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.