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Classificação das Constituições

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Direito Constitucional – Classificação das 
Constituições e Aplicabilidade das normas 
constitucionais 
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Sumário 
SUMÁRIO 2 
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 4 
(1) RECADO INICIAL 4 
(2) CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 4 
(A) QUANTO À ORIGEM 4 
(A.1) DEMOCRÁTICA 4 
(A.2) OUTORGADA 4 
(A.3) CESARISTA 5 
(A.4) DUALISTAS (OU CONVENCIONADAS) 6 
(B) QUANTO À ESTABILIDADE (MUTABILIDADE OU PROCESSO DE MODIFICAÇÃO) 7 
(B.1) IMUTÁVEL 7 
(B.2) RÍGIDA 8 
(B.3) FLEXÍVEL 9 
(B.4) SEMIRRÍGIDA 9 
(C) QUANTO À FORMA 11 
(C.1) ESCRITA 11 
(C.2) NÃO ESCRITA 11 
(D) QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO 12 
(D.1) DOGMÁTICA 12 
(D.2) HISTÓRICA 12 
(E) QUANTO À EXTENSÃO 13 
(E.1) ANALÍTICA 13 
(E.2) CONCISA 14 
(F) QUANTO AO CONTEÚDO 15 
(F.1) MATERIAL 15 
(F.2) FORMAL 16 
(G) QUANTO À FINALIDADE 18 
(G.1) GARANTIA 18 
(G.2) BALANÇO 18 
(G.3) DIRIGENTE 19 
(H) QUANTO AO LOCAL DA DECRETAÇÃO 20 
(H.1) HETEROCONSTITUIÇÃO (OU CONSTITUIÇÃO HETERÔNOMA) 20 
(H.2) AUTOCONSTITUIÇÃO 20 
(I) QUANTO À INTERPRETAÇÃO 20 
(I.1) NOMINALISTA 20 
(I.2) SEMÂNTICA 21 
(J) QUANTO À CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE = CRITÉRIO ONTOLÓGICO 21 
(J.1) NORMATIVA 22 
(J.2) NOMINATIVA 22 
(J.3) SEMÂNTICA 22 
(3) APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 24 
(A) A CLASSIFICAÇÃO DE JOSÉ AFONSO DA SILVA 26 
(B) A CLASSIFICAÇÃO DE MARIA HELENA DINIZ 48 
(C) A CLASSIFICAÇÃO DE UADI LAMMÊGO BULOS 49 
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(4) QUESTÕES RESOLVIDAS EM AULA 49 
(5) OUTRAS QUESTÕES: PARA TREINAR 60 
(6) RESUMO DIRECIONADO 104 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 109 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES E 
APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
(1) Recado inicial 
Lembre-se que esta aula foi produzida para o curso de Direito Constitucional Avançado para 
Concursos Públicos, sendo datada de março de 2019. Como o conteúdo de Direito Constitucional é o 
que mais se altera no mundo jurídico (em razão das constantes mudanças legislativas e, em especial, das 
incessantes novas decisões do STF), não desperdice seu tempo ou arrisque sua aprovação estudando um 
material desatualizado. Busque sempre a versão oficial da aula no site do nosso curso! 
 (2) Classificação das Constituições 
A doutrina, no intuito de classificar as Constituições, apresenta variados critérios tipológicos. Na 
tentativa de organizar os mais utilizados e os mais cobrados em provas de concursos públicos, 
analisaremos, a seguir, os principais. Note, meu caro aluno, que este é um tema exclusivamente 
doutrinário: não vamos ler artigos da nossa Constituição, tampouco vamos visitar entendimentos do 
STF. Nossa tarefa é a de organizar e simplificar o modo como os doutrinadores apresentam esses 
múltiplos critérios de classificação das Constituições. 
(A) Quanto à origem 
Neste critério, teremos duas tipologias muito cobradas em prova (democrática e outorgada) e 
duas menos incidentes (cesarista e dualista). Veremos todas as quatro. E já me adianto lhe avisando que, 
quanto à origem, nossa Constituição Federal de 1988 pode ser considerada democrática. 
(A.1) Democrática 
Também chamada de promulgada ou popular, esta Constituição tem seu texto elaborado por 
intermédio da participação do povo, de modo direto ou indireto (por meio de representantes eleitos). 
Homenageia o Princípio Democrático na medida em que confirma a soberania popular, demonstrando 
que Governo legítimo é aquele que se constrói afirmando a vontade e os interesses de seus governados. 
Como exemplo desta tipologia, podemos citar as Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988. 
(A.2) Outorgada 
Considera-se outorgada (imposta, ditatorial ou autocrática) a Constituição que é feita sem 
qualquer resquício de participação popular, sendo imposta aos nacionais como resultado de um ato 
unilateral do governante. O povo não participa do seu processo de formação, nem mesmo 
indiretamente. Como exemplo, podemos citar as Constituições Brasileiras de 1824, 1937, 1967 e a EC nº 
1/1969. 
Veja, a seguir, uma ilustração de como o examinador pode exigir o tema: 
 
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Questão para fixar 
[FCC - 2004 - TRF - 4ª REGIÃO - Analista Judiciário - Área Judiciária - Execução de Mandados] No que diz 
respeito à classificação das constituições, considerando- se a origem, observa-se que umas derivam do 
trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte, composta de representantes do povo, eleitos com a 
finalidade de sua elaboração, sendo que outras são elaboradas e estabelecidas sem a participação popular, 
através de imposição do poder na época. Nesses casos, tais constituições são denominadas, 
respectivamente: 
A) analíticas e sintéticas. 
B) outorgadas e históricas. 
C) históricas e dogmáticas. 
D) promulgadas e outorgadas. 
E) dogmáticas e promulgadas. 
Comentário: 
Já no enunciado o examinador explicitou o que desejava: que você fosse capaz de denominar e distinguir as 
Constituições que são fruto dos trabalhos de uma Assembleia Constituinte, composta por representantes 
do povo (isto é, uma Constituição democrática ou promulgada), dos textos elaborados sem qualquer tipo 
de participação popular (as Constituições outorgadas – ou ditatoriais). Fica claro, deste modo, que a 
alternativa que estamos procurando é a ‘d’. 
Gabarito: D 
 
(A.3) Cesarista 
Da mesma forma que a outorgada, a Constituição cesarista tem seu texto elaborado sem a 
participação do povo. No entanto, e diferentemente daquela, para entrar em vigor dependerá de 
aprovação popular que a ratifique (confirme) depois de pronta. 
Apesar de a população ser chamada ao processo de formação do documento constitucional, não 
pense, meu caro aluno, que este texto será democrático: afinal, tal participação é meramente formal, 
dada por meio da concordância popular a um documento já pronto, inteiramente produzido, sem 
nenhuma possibilidade de o povo inserir ali algum conteúdo novo. 
Portanto, temos que afastar o caráter popular dessas Constituições cesaristas, pois a participação 
dos indivíduos, nesses casos, não é realmente democrática – só ocorre no intuito de conferir aparência 
de legítima (uma “roupagem democrática”) à tirânica e autoritária vontade do detentor do poder. 
Vejamos agora uma questão de prova acerca dessa tipologia: 
 
 
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Questão para fixar 
[CETRO - 2017 - TJ-RJ - Titular de Serviços de Notas e de Registros] Acerca da Constituição classificada, 
quanto à origem, como cesarista, é correto afirmar que: 
A) é constituída derivadamente pelo órgão parlamentar, tendo por instrumento a emenda de reforma ou de 
revisão. 
B) é formada por meio de plebiscito popular sobre um projeto já elaborado. 
C) é imposta, sem participação popular, por quem não recebeu poder para tanto. 
D) é oriunda dos trabalhos de uma Assembleia Constituinte eleita para tanto. 
E) advém de um compromisso instável de duas forças políticas rivais e, se converte, mais adiante, numa 
estipulação unilateral camuflada.Comentário: 
A alternativa que deveremos marcar é a ‘b’: a Constituição classificada quanto à sua origem como cesarista 
tem o seu texto elaborado sem a participação do povo, mas, para entrar em vigor, dependerá da aprovação 
popular que a ratifique depois de pronta. 
A alternativa ‘a’ não deverá ser marcada pois remete que uma Constituição cesarista é constituída de forma 
derivada por um órgão parlamentar, tendo por instrumento a emenda de reforma ou de revisão. Já sabemos 
que uma Constituição cesarista é escrita, sem a participação do povo, que apenas realizará o trabalho de 
ratificá-la depois de pronta. 
Por seu turno, a alternativa ‘c’ nos apresenta a ideia de uma Constituição classificada quanto à sua origem 
como outorgada, enquanto a alternativa ‘d’ nos apresenta a Constituição classificada como promulgada 
quanto à sua origem. 
Por fim, a alternativa ‘e’ define a Constituição classificada quanto à sua origem como dualista. 
Gabarito: B 
 
(A.4) Dualistas (ou convencionadas) 
Também chamadas de pactuadas, as Constituições dualistas – absolutamente antiquadas e 
inexistentes na atualidade – são formadas por textos constitucionais que nascem do instável 
compromisso (ou pacto) entre forças opositoras, no caso entre o monarca e o Poder Legislativo 
(representação popular), de forma que o texto constitucional se constitua alicerçado simultaneamente 
em dois princípios antagônicos: o monárquico e o democrático. Tais constituições representaram o 
momento na história no qual surgiram as “monarquias constitucionais” ou “representativas”, em claro 
abandono das “monarquias absolutas”. 
Vejamos, agora, outra maneira de como o assunto poderá ser cobrado em sua prova: 
 
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Questão para fixar 
[CESPE - 2018 - PC-MA - Delegado de Polícia Civil] De acordo com a doutrina majoritária, quanto à origem, 
as Constituições podem ser classificadas como: 
A) promulgadas, que são ditas democráticas por se originarem da participação popular por meio do voto e 
da elaboração de normas constitucionais. 
B) outorgadas, que surgem da tradição, dos usos e costumes, da religião ou das relações políticas e 
econômicas. 
C) cesaristas, que são as derivadas de uma concessão do governante, ou seja, daquele que tem a titularidade 
do poder constituinte originário. 
D) pactuadas, que são formadas por dois mecanismos distintos de participação popular, o plebiscito e o 
referendo, ambos com o objetivo de legitimar a presença do detentor do poder. 
Comentário: 
Após esse nosso detalhado estudo da classificação das Constituições quanto à origem, parece-me que é 
tarefa simples assinalar a assertiva “A” como correta. Como vimos, as Constituições promulgadas (ou 
democráticas), são mesmo confeccionadas a partir de uma participação popular. As demais definem de 
modo equivocado as outras tipologias de classificação. 
Gabarito: A 
 
(B) Quanto à estabilidade (mutabilidade ou processo de modificação) 
Neste critério, teremos duas tipologias muito cobradas em prova (rígida e flexível) e duas menos 
incidentes (imutável e semirígida). Comentarei todas as quatro. E novamente me adianto lhe avisando 
que, quanto à estabilidade, nossa Constituição Federal de 1988 pode ser considerada rígida. 
(B.1) Imutável 
Também chamada de “granítica” ou “intocável” é uma Constituição dotada de uma fantasiosa 
pretensão: a de ser eterna. Ela não permite nenhuma mudança de seu texto, pois não prevê 
procedimento de reforma. Está completamente em desuso e representa, nos dias de hoje, uma mera 
lembrança histórica – afinal, não podemos imaginar, na atualidade, um documento constitucional que 
ignore, em absoluto, as mudanças sociais e políticas. 
Essa é também a posição de José Afonso da Silva, para quem a estabilidade das Constituições é 
importante para assegurar certa permanência e durabilidade das instituições, mas essa estabilidade não 
pode ser absoluta, significando imutabilidade. Segundo o autor: 
Não há Constituição imutável diante da realidade social cambiante, pois não é ela apenas um 
instrumento de ordem, mas deverá-sê-lo, também, de progresso social. Deve-se assegurar certa 
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estabilidade constitucional, (...) mas sem prejuízo da constante, tanto quanto possível, perfeita 
adaptação das constituições às exigências do progresso, da evolução e do bem-estar social"1. 
A doutrina enumera as leis fundamentais antigas, como o Código de Hamurabi e a Lei das XII 
Tábuas, como exemplos de Constituições imutáveis2. 
(B.2) Rígida 
Nas Constituições rígidas, a alteração do texto é possível, mas exige um processo legislativo mais 
complexo e difícil do que aquele previsto para a elaboração das leis ordinárias e complementares. Tais 
regras diferenciadas e mais rigorosas são estabelecidas pela própria Constituição e tornam a alteração 
do texto constitucional mais complicada do que a feitura das leis comuns. Isso significa dizer que em 
Constituições rígidas é mais difícil fazer uma emenda constitucional do que uma lei ordinária. 
Temos como exemplo de Constituição rígida a nossa Constituição Federal de 1988, que exige para 
a aprovação de suas emendas constitucionais o respeito a um procedimento bem mais severo e rigoroso 
do que aquele estabelecido para a construção da legislação ordinária: de acordo com o art. 60, CF/88, a 
aprovação de uma emenda constitucional exige discussão e votação em cada Casa do Congresso 
Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal) em dois turnos em cada Casa, sendo necessário 
obter, em cada Casa, em cada turno, o voto favorável da maioria de 3/5 dos componentes da Casa 
Legislativa respectiva. É um procedimento bem mais complexo do que aquele utilizado para a feitura de 
uma lei ordinária, que só é votada em um turno único e aprovada por maioria simples. 
Há, todavia, uma leve divergência doutrinária a respeito desta classificação. Alexandre de Moraes 
(hoje um dos 11 Ministros do Supremo Tribunal Federal – STF) defende que a Constituição de 1988 é 
superrígida, pois, além de só poder ser alterada segundo um processo legislativo diferenciado, possui, 
segundo o autor, normas imutáveis (as cláusulas pétreas, constantes do art. 60, § 4º, CF/88). Nos dizeres 
do autor “a Constituição Federal de 1988 pode ser considerada como superrígida, uma vez que em regra 
poderá ser alterada por um processo legislativo diferenciado, mas, excepcionalmente, em alguns pontos 
é imutável (CF, art. 60, § 4º – cláusulas pétreas)" . 
Perceba, caro aluno, que o autor identifica diferentes graus de rigidez, concebendo uma rigidez 
que extrapola o comum. Assim, na sua percepção, já que a Constituição brasileira de 1988 possui, no art. 
60, § 4º, cláusulas que não podem ser suprimidas ou restringidas (chamadas de “cláusulas pétreas”), ela 
teria um cerne fixo que a caracterizaria enquanto superrígida. 
Mas este não é o entendimento da doutrina majoritária, que classifica a Constituição de 1988 
como rígida, sob a justificativa de que o que caracteriza a rigidez é exatamente o procedimento 
diferenciado de alteração – marcado por quórum de votação qualificado, rejeição ao turno único, 
ampliação das discussões – e não a existência de cláusulas pétreas, que não podem ser restringidas ou 
abolidas pelo poder reformador, que podem existir ou não nos documentos rígidos. Em outras palavras: 
 
1. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional positivo. 28ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2006, p. 41-42. 
2. NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 5ª ed. São Paulo: Editora Método, 2011, p. 111. 
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a CF/88 é rígida e tem cláusulas pétreas; mas em outros países (Itália, por exemplo), a Constituição pode 
ser rígida e não ter tais cláusulas. 
(B.3) Flexível 
Essa Constituição é diferente da rígida, pois ela pode ser modificada por intermédio de um 
procedimento legislativo comum, ordinário, não requerendo qualquer processo específico e mais 
complexo para sua alteração. Ou seja, as mesmas regras de processo legislativo que usamos para 
elaborar leis ordinárias são também adotadas para a elaboração das emendas constitucionais. 
O impacto mais relevante da adoção de um texto classificado como flexível é a inexistência de 
supremacia formal da Constituição sobre as demais normas, afinal todas são elaboradas, modificadas e 
revogadas por rito idêntico. Nesse sentido, a própria lei ordinária contrastante com o teor do texto 
constitucional, o altera. Por outro lado, nota-se entre o texto constitucional e o restante do corpo 
normativo uma supremacia material, de conteúdo – sendo constitucionais aquelas normas que 
regulamentam a estrutura política do Estado. 
Tradicionalmente a doutrina aponta a Constituição inglesa como exemplar de texto flexível. 
Outros textos flexíveis são os da Nova Zelândia, da Finlândia e da África do Sul. 
 (B.4) Semirrígida 
Estamos diante de uma Constituição semirrígida – também conhecida como semiflexível – 
quando o documento constitucional pode ser modificado segundo ritos diferentes, a depender do tipo 
de norma que vá ser alterada. Neste tipo de Constituição, alguns artigos do texto (os que abrigam os 
assuntos mais importantes) compõem a parte rígida, de forma que só possam ser reformados por meio 
de um procedimento diferenciado e rigoroso, enquanto os demais artigos (que integram a parte flexível) 
podem ser alterados seguindo o processo ordinário, que é mais simples e menos dificultoso. 
Nossa Constituição Imperial de 1824, em virtude da previsão constante do art. 1783, podia ser 
considerada como semirrígida, conforme assegura Kildare: 
No Brasil, a Constituição do Império de 1824 caracterizava-se pela semi rigidez. É o que seu artigo 
178 dispunha que se consideravam como constitucionais apenas as matérias que se referissem aos limites 
e tribulações do poder político e aos direitos políticos e individuais dos cidadãos. Tudo o mais, embora 
figurasse na Constituição por não ser constitucional, podia ser alterada por lei ordinária4. 
Vou encerrar essa classificação da letra ‘B’, quanto à estabilidade, lembrando que o fato de nossa 
Constituição ser rígida não a torna, necessariamente, mais estável que as constituições flexíveis que são 
adotadas em outros países. Ser rígida significa que o processo de feitura de emenda é mais complexo, 
 
3. Art. 178, Constituição Imperial de 1824: “É só Constitucional o que diz respeito aos limites, e attribuições respectivas dos 
Poderes Politicos, e aos Direitos Politicos, e individuaes dos Cidadãos. Tudo, o que não é Constitucional, póde ser alterado 
sem as formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinárias”(sic). 
4. CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional: teoria do estado e da Constituição. Direito constitucional positivo. 14ª 
ed. rev. atual e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. 276. 
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mas não significa que a Constituição sofrerá menos emendas, pois isso é algo que depende da 
maturidade democrática do país. Aliás, a Constituição brasileira é um ótimo exemplo de documento que 
já foi modificado inúmeras vezes (são mais de 100 emendas). 
Vamos avaliar juntos como essa classificação foi cobrada em uma prova para Procurador, aplicada 
em 2015 no Paraná: 
Questão para fixar 
[OBJETIVA - 2015 - Prefeitura de Vitorino - PR – Procurador] A exigência de um procedimento mais difícil e 
rigoroso para alteração das normas constitucionais é típico de uma Constituição: 
A) Rígida. 
B) Flexível. 
C) Histórica. 
D) Semirrígida. 
E) Garantista. 
Comentário: 
Ora meu caro e atento aluno, o enunciado nos apresentou exatamente aquilo que acabamos de estudar: 
uma Constituição rígida é aquela que exige, para a alteração do seu texto, um procedimento mais complexo 
e dificultoso do que aquele prescrito para a feitura das leis ordinárias. Sendo assim, a alternativa a ser 
marcada será a da letra ‘a’. 
Gabarito: A 
 
Vamos treinar com mais uma questão? Achei essa interessantíssima! 
Questão para fixar 
[CESPE - 2018 - STM - Cargos de Nível Superior - Conhecimentos Básicos (Exceto cargos 1, 2 e 8)] Julgue o 
item seguinte, relativo à classificação das Constituições e à organização político-administrativa: 
O fato de o texto constitucional ter sido alterado quase cem vezes em razão de emendas constitucionais não 
é suficiente para classificar a vigente Constituição Federal brasileira como flexível. 
Comentário: 
O que nos permite classificar uma Constituição como rígida ou flexível é o procedimento por ela prescrito 
para sua modificação (se é mais complexo ou se é idêntico ao procedimento previsto para a feitura de leis 
ordinárias) e não quantas vezes seu texto foi alterado. Destarte, a assertiva apresentada pode ser 
considerada correta. 
Gabarito: Certo 
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(C) Quanto à forma 
Quanto à forma, as Constituições poderão ser classificadas de duas maneiras, como escritas ou 
não escritas (nossa CF/88 é escrita). 
(C.1) Escrita 
É a Constituição na qual todos os dispositivos são escritos e estão inseridos de modo organizado 
em um único documento, de forma codificada – note, meu caro aluno, que nossa CF/88 tem todos os 
seus artigos organizados em um único “livro”, que você pode comprar numa livraria ou adquirir 
gratuitamente na internet. Ou seja: em nosso país, só são normas constitucionais as que você encontra 
nesse documento que chamamos de Constituição. 
Também vale destacar que nas Constituições escritas, o texto é elaborado em um momento 
único, de uma só vez. Segundo o autor português J. J. Gomes Canotilho estas Constituições escritas são 
instrumentais e conferem ao documento constitucional vantajosos atributos, tais como o efeito 
racionalizador, o efeito estabilizante, a segurança jurídica, a calculabilidade e a publicidade das normas . 
(C.2) Não escrita 
Diferentemente das Constituições escritas – nas quais todas as normas constitucionais podem ser 
encontradas em um único documento – nas Constituições não escritas (também chamadas de 
‘costumeiras’) as normas constitucionais estão espalhadas e podem ser encontradas tanto nos costumes 
e nas decisões dos Tribunais (jurisprudência), como nos acordos, convenções e também nas leis escritas. 
Atenção, meu caro aluno, para um erro corriqueiro, que você não pode cometer: a Constituição 
não escrita não possui somente normas não escritas! Ao contrário, é formada pela junção destas com os 
textos escritos! Ou seja: nas Constituições não escritas temos normas não escritas, como os costumes, 
mas temos também normas escritas. Como exemplo, além das Constituições de Israel e a da Nova 
Zelândia, podemos mencionar a Constituição inglesa. 
Vejamos um item de prova sobre esse critério classificatório: 
Questão para fixar 
[CESPE - 2012 - MPE-PI - Promotor de Justiça - Adaptada] Julgue o item a seguir no que diz respeito à 
classificação das constituições: 
No que refere à forma, as constituições recebem a denominação de materiais, quando consolidadas em 
instrumento formal e solene, e não escritas, quando baseadas em usos, costumes e textos esparsos. 
Comentário: 
Nessa questão o examinador mesclou os critérios de classificaçãoe os conceitos. No que se refere à forma, 
as Constituições podem ser escritas ou não escritas. Quanto ao conteúdo, critério que estudaremos adiante, 
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teremos Constituições formais e materiais. Nesse contexto, como uma Constituição consolidada em um 
instrumento formal e solene é escrita (e não material), você deve julgar essa assertiva como falsa. 
Gabarito: Errado. 
 
(D) Quanto ao modo de elaboração 
Aqui são duas as classificações possíveis: dogmática ou história. Nossa CF/88 é considerada 
dogmática. 
(D.1) Dogmática 
Também chamada de ortodoxa, é um documento necessariamente escrito, elaborado em uma 
ocasião certa, historicamente determinada, por um órgão competente para tanto. Retrata os valores e 
os princípios que vigoravam na sociedade naquele específico período de produção e os insere em seu 
texto, fazendo com que ganhem a força jurídica de dispositivos obrigatórios. É uma Constituição feita de 
uma só vez, em um período histórico delimitado. 
Um detalhe! Como os valores e princípios que regulam a vida em sociedade em determinado 
momento histórico entram na Constituição como se fossem dogmas, tais Constituições acabam por 
receber a denominação de dogmáticas. 
Alguns autores dividem a Constituição dogmática, com relação à sua ideologia, em dois tipos: 
(i) ortodoxa: quando o texto constitucional reflete um pensamento único, só havendo espaço para uma 
exclusiva ideologia – não há espaço para conciliação de doutrinas opostas. São exemplos a Constituição 
da China, de 1982, e a da extinta União Soviética, de 1977. 
(ii) eclética (heterodoxa ou heterogênea): nesta Constituição, o convívio harmônico entre várias 
ideologias é a marca central do texto. Por não haver uma única força política prevalente, essa 
Constituição é o resultado de uma composição variada de acordos heterogêneos, que demonstra a 
pluralidade de ideologias (as vezes colidentes) e sinaliza a ocorrência de possíveis duelos (judiciais, 
legislativos e administrativos) entre os diversos grupos políticos, a serem pacificados pelos operadores 
jurídicos. Nossa Constituição de 1988 é considerada eclética, pois dá respaldo a várias formas de 
pensamento (tanto é que um dos seus fundamentos do art. 1° é justamente o pluralismo político). 
(D.2) Histórica 
Sempre não escrita, é uma Constituição que se constrói aos poucos, em um lento processo que 
vai filtrando e absorvendo as ideias da sociedade. Ela não se forma de uma só vez, como as Constituições 
dogmáticas. Ela é o produto de uma gradativa evolução jurídica e histórica da sociedade, de um vagaroso 
processo de cristalização dos valores e princípios compartilhados pelo grupo social. Como exemplo 
contemporâneo de Constituição histórica, temos a inglesa. 
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Sobre essa classificação (quanto ao modo de elaboração), uma consideração final é importante: 
em termos de estabilidade pode-se dizer que a histórica é mais duradoura e sólida, enquanto a dogmática 
apresenta uma certa tendência à instabilidade. Isso porque enquanto a histórica é resultado de uma 
paulatina maturação dos diferentes valores que existem na sociedade – o que resulta em uma 
constituição demoradamente pensada e planejada – a dogmática, no mais das vezes, sedimenta valores 
de uma época específica, interesses passageiros, e estes, conforme o tecido social vai se alterando, vão 
se tornando ultrapassados, o que acarreta a necessidade de seguidas modificações do texto para que a 
Constituição continue correspondendo à realidade daquele país. 
Vejamos um item de prova sobre esse critério classificatório: 
Vou lhe mostrar, meu caro e diligente aluno, como é que esse critério é cobrado em prova. 
Resolveremos juntos uma questão: 
Questão para fixar 
[CESPE - 2015 - FUB - Conhecimentos Básicos - Cargo 2] Com base nas classificações da CF, julgue o próximo 
item: 
Quanto ao modo de elaboração, a CF é dogmática, porque foi constituída ao longo do tempo mediante lento 
e contínuo processo de formação, reunindo a história e as tradições de um povo. 
Comentário: 
A assertiva, ainda que mencione acertadamente que nossa CF/88 é dogmática, peca ao definir tal tipologia, 
pois apresenta justamente o conceito de uma Constituição histórica. 
Gabarito: Errado. 
 
(E) Quanto à extensão 
Segundo este critério, as Constituições podem ser analíticas ou concisas. Nosso documento 
constitucional de 1988, com seus mais de 350 artigos, divididos em inúmeros incisos e parágrafos, é, 
claramente, uma Constituição analítica. 
(E.1) Analítica 
Igualmente chamada de “prolixa” (ou “extensa"), sua confecção se dá de maneira ampla, 
detalhada, já que regulamenta vários assuntos: os considerados muito relevantes para a organização e 
funcionamento do Estado e outros que não são tão importantes, mas mesmo assim são inseridos no 
texto da Constituição. 
Constituições prolixas não se preocupam em cuidar apenas das matérias constitucionais, 
essenciais à formação e organização do aparelho estatal e da vida em sociedade; ao contrário, descrevem 
os pormenores da vida no Estado, através de uma infinidade de normas de conteúdo dispensável à 
estruturação estatal. Segundo a doutrina, é uma Constituição que se desdobra “numa infinidade de 
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normas no afã de constitucionalizar todo o conjunto da vida social"5. Por resultado, temos uma 
Constituição inchada, com número sempre volumoso de artigos. 
Como exemplo podemos citar a Constituição do Brasil de 1988, a de Portugal (1976) e a da 
Espanha (1978). 
Por termos, cada vez mais, Constituições analíticas em vigor, os autores começaram a investigar 
as razões que levaram os Estados a construírem documentos constitucionais tão longos e detalhados. 
Conforme André Ramos Tavares ensina, 
a indiferença, que se tem formado em desconfiança, quanto ao legislador ordinário; a estatura de 
certos direitos subjetivos, que estão a merecer proteção juridicamente diferenciada; a imposição de 
certos deveres, especialmente aos governantes, evitando-se o desvio de poder e a arbitrariedade; a 
necessidade de certos institutos sejam perenes, garantindo, assim, um sentimento de segurança jurídica 
decorrente da rigidez constitucional. 
 (E.2) Concisa 
Sintética é a Constituição elaborada de forma reduzida, com preocupação única de enunciar os 
princípios básicos para a estruturação estatal, mantendo-se restrita aos assuntos que realmente são 
constitucionais. 
Por ser um documento sucinto, elaborado de modo bastante resumido, seu texto se encerra após 
estabelecer os princípios fundamentais de organização do Estado e da sociedade. Tem-se como exemplo 
desse tipo de Constituição a dos Estados Unidos da América, de 1787, possuidora de apenas sete artigos 
originais (redigidos em 4.400 palavras, tão somente!). 
Parcela da doutrina vê virtudes nestas Constituições em razão da sua maior duração ao longo do 
tempo, “por serem mais facilmente adaptáveis às mudanças da realidade, dado o seu caráter 
principiológico, sem que haja necessidade de constante alteração formal do seu texto"6. 
Outros juristas7, no entanto, destacam as Constituições são um reflexo das crenças e das tradições 
de cada povo, valores que não podem ser trocados por modelos estrangeiros8. Por isso, segundo Gisela 
Maria Bester, a evidente prolixidade e extensão do nosso texto constitucional refletem as 
virtudes e os defeitos do povo brasileiro. E se ela é extensa, é porque não somos sutis a ponto de 
termos regras claras e objetivas com paralela economia de palavras. Não, não somos dadosa 
sutilezas; nós somos explícitos, minudentes e repetitivos, e bem por isso precisamos inserir e repetir 
no texto constitucional regras que pareceriam óbvias em outras culturas. Se a Constituição é 
 
5. MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocêncio Mártires. Curso de Direito Constitucional. 5ª 
ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 63. 
6. CARVALHO, Kildare Gonçalves de. Direito Constitucional. 11ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 203. 
7. MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocêncio Mártires. Curso de Direito Constitucional. 5ª 
ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 63. 
8. MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocêncio Mártires. Curso de Direito Constitucional. 5ª 
ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 63. 
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“exagerada”, é porque nós brasileiros, somos exatamente assim: exagerados, expansivos, largos nos 
sorrisos e nas maneiras. Somos abundantes nas cores, nos decotes, das mesas postas, na 
voluptuosidade da exibição dos corpos masculinos e femininos. Somos fartos na exposição de nossas 
vaidades, mas também na administração do que vem de fora. Falamos alto, furamos filas, mas 
também somos exuberantemente solidários, acolhedores, hospitaleiros, sensíveis, emotivos. Um 
sem-número de outros defeitos e qualidades poderiam ser descritos, mas os listados já nos bastam 
para provarmos uma tese irrefutável: a tese de que a Constituição é o nosso retrato. A Constituição 
modelo, dos Estados Unidos, enxuta na forma, breve, objetiva, talvez não nos sirva porque somos de 
uma exuberante extroversão, daí que para nós só poderia ser mesmo uma Constituição do tipo 
generosa.9 
Superada essa classificação, vejamos como o examinador poderá cobra-la em sua prova: 
Questão para fixar 
[FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2017 - UFVJM-MG - Assistente em Administração] A Constituição 
Brasileira de 1988, por tratar de muitos e variados assuntos que foram considerados relevantes, e não apenas 
dos princípios e direitos fundamentais e das normas de organização do Estado, recebe a classificação de: 
A) flexível. 
B) analítica. 
C) material 
D) outorgada 
Comentário: 
É claro que marcaremos a letra ‘b’, certo? Sabemos que o que caracteriza uma Constituição como analítica 
é justamente o fato de ela ser extensa e trazer em seu texto múltiplos assuntos, não só os temas 
considerados materialmente constitucionais (os direitos fundamentais e as normas centrais de organização 
do Estado). 
Gabarito: B. 
 
(F) Quanto ao conteúdo 
Quanto ao conteúdo, as Constituições podem ser materiais ou formais. Nosso documento 
constitucional de 1988, representa uma Constituição formal. 
(F.1) Material 
Uma Constituição é material quando consideramos como constitucional toda norma que tratar 
de matéria constitucional, independentemente de estar tal diploma inserido ou não no texto da 
 
9. BESTER, Gisela Maria. Direito Constitucional – fundamentos teóricos, p. 115-116, apud CARVALHO, Kildare Gonçalves de. 
Direito Constitucional. 11ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 295. 
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Constituição. A doutrina ainda não pacificou a definição do que seja ou não matéria constitucional, 
entretanto me parece que existe um acordo no que tange ao reconhecimento de que alguns assuntos 
seriam indispensáveis a um texto constitucional, por serem essenciais à organização e estruturação do 
Estado. Este rol mínimo seria formado, ao menos, pelos seguintes temas: estruturação da forma de 
Estado, regime, sistema e forma de Governo; repartição de atribuições entre os entes estatais; direitos e 
garantias fundamentais do homem. 
Desta forma, toda norma que tratar de qualquer um dos assuntos acima listado é uma norma 
constitucional, seja ela um artigo da Constituição, seja ela uma lei ordinária, seja ela uma decisão do 
Tribunal Constitucional... 
(F.2) Formal 
Nesta acepção, constitucional são todas as normas inseridas no texto da Constituição, 
independentemente de versarem ou não sobre temas tidos por constitucionais, isto é, assuntos 
imprescindíveis à organização política do Estado. Em outros termos, são constitucionais as normas que 
estão o documento constitucional, ainda que o conteúdo de algumas delas não possa ser considerado 
materialmente constitucional. 
Assim, em Constituições formais, como a nossa de 1988, teremos alguns artigos que serão 
considerados só formalmente constitucionais (estão inseridos na Constituição, mas no que se refere ao 
seu conteúdo não podem ser considerados constitucionais), enquanto outros serão formal e 
materialmente constitucionais, em razão de estarem no texto da Constituição e tratarem de matéria 
considerada constitucional. Vamos exemplificar esses dois cenários com artigos? 
Pense no art. 242, § 2º, CF/88, que diz: “O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, 
será mantido na órbita federal”. Como você classificaria este artigo? Certamente ele é formalmente 
constitucional, pois está na CF/88. No entanto, qual é a sua percepção quando à matéria: é assunto 
constitucional (que deveria estar mesmo na Constituição) ou é uma matéria acessória, lateral, que 
poderia ter sido tratada em uma lei ordinária? Claro que ficamos com a segunda opção, razão pela qual 
podemos classificar este artigo como sendo só formalmente constitucional (está na Constituição, mas 
não trata de matéria constitucional). 
Verifique agora o art. 5°, II, que consagra o princípio da legalidade ao dizer que “II - ninguém será 
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Sem dúvida é uma norma 
formalmente constitucional, pois está na Constituição. E quanto ao conteúdo? Como consagra um 
direito fundamental, é também uma norma materialmente constitucional. Ou seja, é um dispositivo que 
pode ser classificado como norma material e formalmente constitucional. 
No mais, as explicações acima permitem algumas conclusões: 
(i) o sentido formal de uma Constituição só é possível se ela for escrita, ou seja, se possuir todas as suas 
normas agregadas em um único documento – afinal é justamente este texto codificado e sistematizado 
que reunirá a totalidade das normas e princípios constitucionais; 
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(ii) na acepção formal, como só podem ser consideradas constitucionais as normas integradas ao texto 
da Constituição, todas as demais normas, independentemente do conteúdo delas, serão consideradas 
infraconstitucionais, isto é, inferiores à Constituição; 
(iii) todas as normas infraconstitucionais, independentemente da matéria que regulem, são inferiores à 
Constituição, por isso lhe devem respeito e obediência; 
(iv) qualquer norma infraconstitucional que contrarie a Constituição será considerada inconstitucional. 
Nesse sentido, mesmo que uma norma infraconstitucional de conteúdo materialmente constitucional 
afronte o previsto numa norma constitucional que não tenha conteúdo materialmente constitucional 
(isto é, seja só formalmente constitucional), esta última prevalecerá, por ser a Constituição – com todas 
as suas normas – um documento superior aos demais. 
(v) Por último, não há hierarquia normativa entre as normas constitucionais; todas possuem o mesmo 
status, a mesma dignidade normativa, independentemente de qual seja seu conteúdo. 
Veja como isso será cobrado: 
Questõespara fixar 
[TRF 3ªR/Juiz Federal/TRF 3ªR/2016] Com relação a classificação das Constituições é correto dizer que: 
A Constituição formal é aquela promulgada em sessão solene do Poder Constituinte que a elaborou, com a 
presença do chefe do Poder Executivo. 
Comentário: 
Assertiva falsa. O que classifica uma Constituição como formal é o seu conteúdo e não os aspectos 
referentes à sua origem (promulgada ou outorgada), tampouco o modo como é desenrolada a sessão da sua 
apresentação ao povo. 
Gabarito: Errada. 
[FGV - 2012 - PC-MA - Delegado de Polícia] A respeito da Constituição da República Federativa do Brasil, de 
1988, tendo em vista a classificação das constituições, assinale a afirmativa correta: 
A) A Constituição de 1988 é exemplo de Constituição semirrígida, que possui um núcleo imutável (cláusulas 
pétreas) e outras normas passíveis de alteração. 
B) A Constituição de 1988 é exemplo de Constituição outorgada, pois resulta do exercício da democracia 
indireta, por meio de representantes eleitos. 
C) O legislador constituinte optou pela adoção de uma Constituição histórica, formada tanto por um texto 
escrito quanto por usos e costumes internacionais. 
D) Na Constituição de 1988, coexistem normas materialmente constitucionais e normas apenas 
formalmente constitucionais. 
E) A Constituição de 1988 pode ser considerada como uma Constituição fixa (ou imutável), pois o seu núcleo 
rígido não pode ser alterado nem mesmo por Emenda. 
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Comentário: 
Nessa questão, a alternativa a ser marcada é a da letra ‘d’, diante da possibilidade de encontrarmos em nossa 
Constituição Federal normas materialmente constitucionais (que tratam da estruturação da forma de 
Estado, do regime, sistema e forma de Governo, da repartição de atribuições entre os entes estatais e dos 
direitos e garantias fundamentais) e normas consideradas apenas formalmente constitucionais (estão 
inseridas no texto da Constituição, contudo, não tratam de tema reconhecido como constitucional). 
A alternativa ‘a’ apresentada um erro ao dizer que nossa Constituição é semirrígida (sabemos que é rígida), 
enquanto a alternativa ‘c’ afirma que o legislador constituinte optou pela adoção de uma Constituição 
histórica (nosso documento constitucional é dogmático). 
Por fim, a alternativa ‘e’ peca ao dizer que nossa Constituição é imutável: como já comentamos em várias 
oportunidades nessa aula, nossa Constituição é rígida, ainda que possua em seu texto normas que não 
podem ser alteradas por emenda constitucional. 
Gabarito: D 
 
(G) Quanto à finalidade 
Quanto à finalidade, as Constituições podem ser classificadas de três formas: garantia, balanço e 
dirigente. Nosso documento constitucional de 1988, representa uma Constituição dirigente. 
(G.1) Garantia 
Também denominada “Constituição-quadro”, restringe o poder estatal, criando esferas de não 
interferência do poder público na vida dos indivíduos. Por possuir um corpo normativo repleto de direitos 
individuais oponíveis ao Estado, podemos dizer que ela traz para os sujeitos liberdades-negativas, que 
estabelecem espaços de não atuação e não interferência estatal na vida privada das pessoas. 
A doutrina10 aponta que a Constituição garantia é um documento com “olhar” direcionado ao 
passado, pois se preocupa em garantir os direitos já conquistados outrora, protegendo-os diante de uma 
possível (e indesejável) interferência do Estado. 
(G.2) Balanço 
Igualmente intitulada “Constituição-registro”, é própria dos regimes socialistas – as Constituições 
de 1924, 1936 e 1977 da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) são exemplos. Esta 
tipologia constitucional, cujo “olhar” se volta para o presente, procura explicitar o desenvolvimento atual 
da sociedade e ser um espelho fiel capaz de traduzir os patamares em que se encontram a economia e as 
instituições políticas. 
Nos dizeres de Manoel Gonçalves Ferreira Filho: 
 
10. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 22ª ed. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 12-13. 
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é a Constituição que descreve e registra a organização política estabelecida. Na verdade, segundo 
essa doutrina, a Constituição registraria um estágio das relações de poder. Por isso é que a URSS, 
quando alcançado novo estágio na marcha para o socialismo, adotaria nova Constituição, como o fez 
em 1924, a 1936 e 1977. Cada uma de tais Constituições faria o balanço do novo estágio.11 
(G.3) Dirigente 
Contrapondo-se à Constituição-garantia, a dirigente é uma Constituição feita a partir de 
expectativas lançadas para o futuro, pois ela cria um plano de fins e objetivos que serão perseguidos pelos 
poderes públicos e pela sociedade. É marcada, pois, pela presença de programas e projetos voltados à 
concretização de certos ideais políticos. 
Comum em seu texto é a presença de normas de eficácia programática, destinadas aos órgãos 
estatais com a finalidade de fixar os programas que irão guiar os poderes públicos na consecução dos 
planejamentos traçados. Tal qual a Constituição de Weimar, de 1919, e a Constituição da República 
Portuguesa, de 1976, a nossa atual Constituição da República é um dos clássicos exemplos utilizados para 
apresentar a Constituição dirigente. 
Segundo Eros Grau, “Que a nossa Constituição de 1988 é uma Constituição dirigente, isso é 
inquestionável. O conjunto de diretrizes, programas e fins que enuncia, a serem pelo Estado e pela 
sociedade realizados, a ela confere o caráter de plano global normativo, do Estado e da sociedade”12. 
 
Questão para fixar 
[CESPE - 2010 - DPU - Analista Administrativo] Acerca da Constituição Federal de 1988 (CF), assinale a opção 
correta: 
A) A CF é classificada como dogmática, mesmo que haja a possibilidade de modificação no seu texto. 
B) Quanto à sua estabilidade, a CF é um exemplo de constituição classificada como flexível, pois possibilita 
a sua evolução por intermédio de emendas constitucionais. 
C) Trata-se de uma constituição balanço, pois visa garantir a permanência dos direitos, liberdades e 
garantias fundamentais, voltando-se precipuamente para o passado. 
D) Caso existissem normas programáticas na CF, ela seria um exemplo de constituição garantia. 
E) Para que tivesse plena eficácia no mundo jurídico, a CF foi outorgada. 
Comentário: 
Muito interessante essa questão elaborada pelo CESPE. Vamos avaliar item a item, começando com a letra 
‘e’: é incorreta, pois menciona que nossa CF/88 foi outorgada, o que sabemos não ser verdade, já que o nosso 
 
11. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 22ª ed. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 13. 
12. CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords.). Comentários à Constituição 
do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. 
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texto constitucional foi promulgado (é popular). A letra ‘d’ é falsa pois são as Constituições dirigentes que 
trazem em seu corpo normas programáticas. Já a alternativa “C” peca em duas coisas: nos dizer que nossa 
Constituição é uma Constituição-balanço (a CF/88 é dirigente) e afirmar que uma Constituição-balanço (ou 
registro) volta o seu olhar para o passado (é para o presente). Também não poderemos marcar a letra ‘b’, 
pois sabemos que a nossa Constituição Federal de 1988 é um exemplo de documento rígida, que pode ser 
alterado por uma emenda constitucional, mas segundoum processo mais solene e dificultoso do que aquele 
previsto para a elaboração de leis infraconstitucionais (leis ordinárias ou complementares). Só nos resta 
como alternativa a assinalar a constante da letra ‘a’. está correta, pois nossa Constituição é dogmática, e 
isso não representa nenhum obstáculo para ela ser alterada. 
Gabarito: A 
 
(H) Quanto ao local da decretação 
No que se refere ao local de decretação, as Constituições podem ser classificadas de duas formas: 
heteroconstituição ou autoconstituição (sendo que nosso documento constitucional de 1988 se 
enquadra nesse segundo tipo). 
(H.1) Heteroconstituição (ou Constituição heterônoma) 
Muito raras são as Constituições que não são feitas naquele Estado em que irão viger, surgindo 
em Estado diverso daquele em que o documento vai valer, ou então elaboradas por algum organismo 
internacional. A heteroconstituição é, por isso, bastante incomum e causa grande perplexidade, pois o 
documento constitucional vai ser feito fora do Estado onde suas normas produzirão efeitos. São 
exemplos de Constituição heterônoma as de países como Nova Zelândia, Canadá e Austrália, pois, como 
integrantes da Commonwealth, suas Constituições foram aprovadas por leis do Parlamento Britânico. 
Igualmente pode ser citada a Constituição cipriota, produto de acordos feitos em Zurique, na década de 
1960, entre Grécia, Turquia e a Grã-Bretanha. 
(H.2) Autoconstituição 
Também chamada de autônoma, é a Constituição elaborada dentro do próprio Estado que ela vai 
estruturar normativamente e reger. Em regra, as Constituições são deste tipo – inclusive a nossa atual, 
de 1988. 
(I) Quanto à interpretação 
Segundo este critério, as Constituições podem ser divididas de duas formas: nominalista ou 
semântica. Nosso documento constitucional de 1988 é classificado como uma Constituição semântica. 
(I.1) Nominalista 
É uma Constituição possuidora de normas tão precisas e inteligíveis que dispensa, para ser 
compreendida, de qualquer outro método interpretativo que não o gramatical ou literal. Todas as 
possíveis ocorrências constitucionais da vida fática já possuem, previamente, resposta no texto 
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constitucional: basta aplicar na literalidade a norma jurídica cabível na hipótese que solucionada está a 
controvérsia. 
Atualmente é impensável um documento constitucional com dispositivos de conteúdo tão exato 
e certo que dê conta de abraçar toda a colossal realidade fática (excessivamente complexa) a ser 
normatizada. A importância dessa tipologia constitucional hoje é, portanto, meramente histórica. 
(I.2) Semântica 
Em sentido inverso à nominalista, Constituição semântica é aquela cujo texto exige a aplicação 
de uma diversidade de métodos interpretativos para ser realmente entendido. Nesta tipologia, onde se 
enquadram os documentos constitucionais atuais, a interpretação literal (ou gramatical) não é suficiente 
para a compreensão e deve ser aliada a diversos outros processos hermenêuticos no intuito de viabilizar 
uma ampla assimilação do documento constitucional. 
Finalmente, cumpre informar que algumas precauções devem ser tomadas no estudo do tema 
“classificações”, pois diferentes autores se valem das mesmas palavras para obter conclusões próprias. É 
o que se passa com os termos “nominalista” e “semântica”: utilizados neste item para dar conta das 
espécies de Constituições segundo a aplicação (ou não) de diferentes processos hermenêuticos para o 
entendimento de seu texto, serão apresentados no próximo item com outra, e absolutamente, diversa 
significância – como termos que, juntamente com o vocábulo “normativa”, compõem a classificação das 
Constituições segundo a correspondência com a realidade, de Karl Loewenstein. Além disso, a doutrina 
noticia13 que o professor português J. J. Gomes Canotilho também utiliza os termos “semântica” e 
“normativa” de maneira inusitada e inovadora: “semânticas”, na percepção do autor, são aquelas 
Constituições “de fachada”, não possuidoras de justiça e bondade em seus conteúdos, meramente 
formais, e “normativas” são as Constituições que preveem direitos e garantias fundamentais e limitam o 
poder do Estado, fazendo-o com efetiva bondade – um altruísmo e benevolência que materialmente 
orientam a produção de todo o texto. 
(J) Quanto à correspondência com a realidade = critério ontológico 
Este critério foi desenvolvido em meados do século XX pelo alemão Karl Loewenstein, e ele 
pretende avaliar o grau de comunicabilidade entre o texto constitucional e a realidade a ser normatizada, 
partindo de uma teoria ontológica das Constituições. Efetivamente diferente das classificações 
apresentadas até aqui – que se propunham a analisar os dispositivos constitucionais em si mesmos, sem 
estabelecer qualquer conexão ou correspondência com o mundo externo – esta classificação se define a 
partir de um parâmetro extrínseco à Constituição, já que o intuito do autor é examinar o documento 
constitucional considerando sua maior ou menor proximidade com a realidade. Vejamos quais são as 
(três) modalidades que surgem a partir dessa tipologia classificatória. 
 
13. NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 5ª ed. São Paulo: Método, 2011, p. 117. 
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(J.1) Normativa 
Nesta Constituição há perfeita sintonia entre o texto constitucional e a conjuntura política e social 
do Estado, de forma que a limitação ao poder dos governantes e a previsão de direitos à população sejam 
estritamente observadas e cumpridas. O texto constitucional é de tal forma eficaz e seguido à risca que, 
na prática, vê-se claramente a harmonia entre o que se estabeleceu no plano normativo e o que se efetiva 
no mundo fático14. O resultado é o reconhecimento de que há verdadeira correspondência entre o que 
está escrito na Constituição e a realidade, afinal, os processos políticos de poder se submetem às normas 
constitucionais, sendo por elas guiados. Um bom exemplo é a Constituição Americana de 1787. 
(J.2) Nominativa 
Esta já não é capaz de reproduzir com exata congruência a realidade política e social do Estado, 
mas anseia chegar a este estágio. Seus dispositivos não são, ainda, dotados de força normativa capaz de 
reger os processos de poder na plenitude, mas almeja-se um dia alcançar a perfeita sintonia entre o texto 
(Constituição) e o contexto (realidade). Daí advém a virtude principal deste tipo de Constituição: na sua 
função prospectiva, de almejar num futuro próximo a adequação ideal entre normas e realidade fática, é 
bastante educativa. Outro ponto de destaque é que, assim como a Constituição normativa, é dotada, 
inequivocamente, de valor jurídico. 
Nossa Constituição de 1988 (aliás, como toda Constituição nominal) nasceu com o ideal de ser 
normativa – isso porque saíamos de uma época ditatorial (Constituição semântica), que somente 
legitimava o poder autoritário, com o intuito de construir um texto absolutamente compatível com a 
nova realidade democrática que se instaurava – mas, obviamente, não conquistou essa finalidade, pois 
ainda hoje existem casos de absoluta ausência de concordância entre o texto constitucional e a realidade. 
É, pois, um exemplo de Constituição nominal (ou nominalista). Outros exemplos: as Constituições 
brasileiras de 1934 e 1946. 
(J.3) Semântica 
É a Constituição que nunca pretendeu conquistar uma coerência apurada entre o texto e a 
realidade, mas apenas garantir a situação de dominação estável por parte do poder autoritário. Típica de 
estados ditatoriais, sua função única é legitimar o poder usurpado do povo, estabilizando a intervenção 
dos ilegítimosdominadores de fato do poder político. Por essa razão é tida como um simulacro de 
Constituição, afinal trai o significado do vocábulo “Constituição” que é, necessariamente, um documento 
limitador do poder, com finalidade garantista, e não um corpo de normas legitimadoras do arbítrio. 
Não faltam exemplos na nossa história constitucional de documentos semânticos: além da Carta 
de 1937, temos as de 1967 e a EC nº 1/1969. 
 
14. Uma boa metáfora, apresentada pelo próprio Loewenstein (e citada por Dirley – Curso de Direito Constitucional. 6ª ed. 
Salvador: Juspodivm, 2012, p. 128) refere-se à vestimenta, pois, nos dizeres do autor, a Constituição normativa é aquela que 
tal qual uma roupa que “cai muito bem” e se assenta perfeitamente ao corpo, adorna precisamente a realidade. 
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Bom, meu caro aluno, agora que já estudamos variados critérios, vale apresentar, em finalização 
ao tópico, um esquema que organiza as classificações apresentadas: 
 
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(3) Aplicabilidade das normas constitucionais 
Nossa atenção agora será posta nas normas que compõem o documento constitucional e sua 
capacidade de produção de efeitos jurídicos no ordenamento. Em resumo, o que vamos estudar neste 
encontro é chamado no seu edital de “Aplicabilidade das Normas Constitucionais” e refere-se à 
potencialidade que cada dispositivo da nossa Constituição Federal tem de se realizar, isto é, de produzir 
seus efeitos. 
Se você está iniciando seus estudos em Direito Constitucional agora, certamente ficará intrigado 
com este assunto, pensando: “Ora, quer dizer então que as normas constitucionais são diferentes? Elas 
não produzem efeitos da mesma maneira?”. Pois é. A resposta é positiva. As normas se diferenciam de 
acordo com sua capacidade de produção de efeitos tão logo haja a publicação do texto constitucional. 
Algumas, sozinhas, tão logo há a publicação da Constituição já começam a valer com plenitude, 
sem precisarem de qualquer outra norma (uma lei, por exemplo) que as complemente. Pense, por 
exemplo, no art. 2° do texto constitucional que diz: “São Poderes da União, independente e harmônicos 
entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Desde que a Constituição de 1988 foi promulgada e 
publicada, este artigo já produz plenamente todos os seus efeitos, sem precisar de um complemento 
normativo que explique o que é “independência” ou “harmonia” entre os Poderes, ou defina quem são 
esses Poderes. 
Por outro lado, existem dispositivos em nossa Constituição que somente produzem plenamente 
os seus efeitos se receberem um complemento normativo posterior. Sozinhos, sem essa norma 
adicional, não conseguem produzir na plenitude os seus efeitos. Um exemplo te ajudará a visualizar 
melhor o caso! Sugiro que façamos a leitura do art. 37, inciso VII, CF/88, que enuncia o direito de greve 
dos servidores públicos, nos seguintes termos: “o direito de greve será exercido nos termos e nos limites 
definidos em lei específica”. Note, caro aluno, que nossa Constituição concedeu aos servidores públicos 
o direito de fazer greve; todavia, tal direito somente poderá ser exercido nos termos de lei específica. O 
que isso significa? Que é necessária a edição de uma lei ordinária que regulamente o art. 37, VII para que 
ele possa produzir plenamente os seus efeitos, isto é, para que os servidores possam exercer seu direito 
à greve. E digo mais: enquanto tal lei não for editada, o direito não poderá ser fruído pelos beneficiários. 
Percebeu a importância do tema que vamos enfrentar na aula de hoje? Em muitos momentos, 
nossa Constituição prevê direitos para nós. No entanto, muitos desses direitos somente poderão ser 
desfrutados depois que o legislador editar um complemento que regulamente tal direito. Entretanto, em 
muitas oportunidades, o legislador (ou outro Poder que possa criar referida complementação normativa) 
se mantém inerte e não produz a norma, sendo relapso e descuidado ao não confeccionar tal 
regulamentação essencial. Se essa omissão legislativa impedir um indivíduo de exercer um direito seu, 
estaremos diante de um cenário no qual um remédio constitucional (o mandado de injunção, previsto no 
art. 5°, LXXI, CF/88) poderá ser usado para “curar” (resolver) essa “doença” (esse problema de falta de 
norma). Nas aulas referentes às garantias constitucionais, trataremos de modo bastante detalhado do 
mandado de injunção, mas já saiba, desde agora, que sua utilização está atrelada ao tema que 
estudaremos neste encontro. 
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Para fecharmos a introdução sobre este assunto, quero lhe informar que nosso norte nesse estudo 
será a doutrina do Professor José Afonso da Silva, que inovou as discussões doutrinárias referentes ao 
tema da “aplicabilidade das normas constitucionais” ao partir da seguinte premissa: a de que todas as 
normas constitucionais possuem a capacidade de produzir sozinhas algum efeito. Segundo o mestre, 
não há uma norma constitucional que seja completamente destituída de eficácia, que não produza 
nenhum efeito. Mesmo que estejamos diante de uma norma constitucional que dependa de um 
complemento normativo (de uma lei) para produzir todos os seus efeitos, uma coisa é certa: algum 
efeito, mesmo que reduzido, ela já é capaz de produzir sozinha. Afinal, diz José Afonso, podemos dizer 
que todas as normas constitucionais são possuidoras de, pelo menos, dois efeitos: um positivo e um 
negativo. O que eles representam? 
O efeito positivo significa a capacidade que toda norma constitucional possui de impedir a 
recepção das leis anteriores à sua vigência que com ela não sejam compatíveis. “Como assim, 
professora?” Veja bem. Eu acabei de usar o art. 37, VII como exemplo de norma que somente produzirá 
todos os seus efeitos essenciais (permitindo o exercício de greve pelos servidores públicos) depois de 
regulamentada por uma lei ordinária, certo? Pois bem. Imagine que antes de nossa Constituição Federal 
de 1988 entrar em vigor existisse uma hipotética Lei nº XXX, de 1970, que dissesse algo assim: “Os 
servidores públicos não podem, em nenhuma hipótese ou circunstância, fazer greve”. Eu te pergunto: 
essa Lei de 1970 é anterior à Constituição de 1988, concorda? Bom, ela só será recepcionada (recebida) 
pelo novo ordenamento constitucional se for compatível (se materialmente for harmônica) com a nova 
Constituição. Ela possui essa identidade e coerência com a Constituição? Resposta: claro que não. Por 
isso não será recebida/recepcionada pelo texto constitucional de 1988. Percebeu, meu caro aluno, que 
mesmo que o art. 37, VII, CF/88 ainda não esteja regulamentado ele já possui esse efeito positivo, de 
impedir a recepção de normas anteriores que com ele sejam dissonantes? Se sim, ótimo! Caso não tenha 
conseguido perceber, pode me escrever lá no fórum, para sanar essa dúvida. 
E ainda há um segundo efeito, o negativo! Este representa a capacidade que toda norma 
constitucional possui de vedar, ainda que implicitamente, ao legislador ordinário, a edição de normas 
que a contrariem. Usando o mesmo art. 37, VII, o efeito negativo seria aquele capaz de impedir que o 
Congresso Nacional fizesse uma lei neste ano dizendo algo como: “Aos servidores públicos é vedado o 
exercício do direito de greve”. Ora, se a Constituição Federal autorizou, quem é o legislador para proibir?! 
Perceba então que, ainda que o art. 37, VII não esteja regulamentado, ele é capaz de impedir que uma lei 
que o contrarie seja editada.E se essa lei desarmônica com ele for feita, saiba que ela será declarada 
inconstitucional. 
Pois bem, caríssimo aluno. Fechamos nossa introdução. Até aqui, você já sabe que: 
(i) as normas constitucionais se diferenciam de acordo com sua capacidade de produção de efeitos; 
(ii) no entanto, uma característica as assemelha: todas as normas constitucionais possuem a capacidade 
de produzir sozinhas algum efeito; 
(iii) afinal, não existe norma constitucional destituída de eficácia; 
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(iv) conclusão: toda norma constitucional, quando entra em nosso ordenamento jurídico, 
independentemente de precisar ou não de um complemento normativo posterior, já possui um efeito 
positivo e um negativo. 
 Com essas premissas organizadas, vamos estudar a classificação mais tradicional e a mais 
cobrada em provas, que é a do Prof. José Afonso da Silva. 
 (A) A classificação de José Afonso da Silva 
Antes de iniciarmos a análise do que brilhantemente nos ensina nosso mestre José Afonso, creio 
que seja válido lhe dizer que a primeira doutrina a se debruçar sobre este tema foi a americana, que 
passou a identificar dois grupos (duas espécies) de normas constitucionais quanto à aplicabilidade: as 
normas autoexecutáveis (“self executing”) e as normas não autoexecutáveis (“not self-executing”). 
As primeiras (normas autoexecutáveis) seriam aquelas que poderiam ser aplicadas com plenitude 
independentemente de qualquer complementação. Seriam normas já completas, que nasceram prontas 
e acabadas, aptas a produzirem sozinhas todos os seus efeitos. Seriam normas suficientes em si mesmas. 
Noutro giro, as normas não autoexecutáveis seriam aquelas dependentes de complementação 
legislativa para adquirirem aplicabilidade. Incompletas que são, tais normas ficariam reféns da atividade 
posterior do legislador para ganharem vida, isto é, para produzirem seus efeitos. 
Na sequência, o Prof. José Afonso da Silva15 sofistica a doutrina norte-americana e, entendendo 
que todas as normas constitucionais já são possuidoras de, ao menos, algum efeito, resolve dividi-las em 
três grupos, a saber: 
(1) normas constitucionais de eficácia plena; 
(2) normas constitucionais de eficácia contida e; 
(3) normas constitucionais de eficácia limitada. 
Note, meu caro aluno, que esses são termos que lhe serão apresentados em diversas questões de 
provas. Grave isso: plena, contida e limitada. Em breve, tão logo finalize a leitura desse material, você já 
estará apto a lidar com esses vocábulos tranquilamente e acertar todas as suas questões de prova sobre 
o tema. Para tanto, vamos estuda-los! Mas antes, uma questão ilustrativa do assunto: 
Questão para fixar 
[2013/CESPE/DPE/ES/Defensor Público - Adaptada] Considerando a teoria geral da constituição, julgue a 
assertiva: 
Consoante a doutrina majoritária, as normas constitucionais classificam-se, quanto à sua eficácia e 
aplicabilidade, em normas de eficácia plena, de organização, materiais e principiológicas. 
Comentário: 
 
15. SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 6ª ed. São Paulo, Malheiros, 2003, p. 88-102. 
 
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Perceba que essa assertiva só lhe exigiu o reconhecimento dos termos usados pela doutrina pátria. Como 
majoritariamente adotamos a classificação de José Afonso da Silva (segundo o qual as normas 
constitucionais classificam-se, quanto à sua eficácia jurídica e aplicabilidade, em normas de eficácia plena, 
contida e limitada), só podemos marcar essa questão como falsa. 
Gabarito: Errado 
 
Sequenciando nossa aula, começarei meus comentários com as normas de eficácia plena. São 
aquelas capazes de produzir todos os seus efeitos essenciais simplesmente com a entrada em vigor da 
Constituição, independentemente de qualquer regulamentação por lei. São, por isso, dotadas de 
aplicabilidade: 
(i) imediata, pois estão aptas a produzir efeitos imediatamente, com a simples promulgação da 
Constituição; 
(ii) direta, pois não dependem de nenhuma norma regulamentadora para a produção de efeitos; e 
(iii) integral, porque já produzem seus integrais efeitos, sem sofrer quaisquer limitações ou restrições 
impostas por legislação posterior. 
 Quer um exemplo de norma constitucional de eficácia plena (além do art. 2°, que já foi utilizado 
na parte introdutória)? Vou lhe oferecer o art. 18, § 1°, que diz: “Brasília é a Capital Federal”. Você 
consegue notar que essa norma não depende de regulamentação normativa posterior alguma para 
produzir seus efeitos? Percebe que ela, sozinha, já tem aplicação plena? Desde que a Constituição de 
1988 foi promulgada e publicada, Brasília é a nossa Capital Federal e não precisamos de lei posterior 
para complementar ou explicar isso. 
Saiba, meu diligente aluno, que são muitos os exemplos de normas possuidoras dessa eficácia. 
Vou citar mais alguns, de modo meramente ilustrativo (sem nenhuma pretensão de exaustão): 
(i) Art. 1°, parágrafo único, CF/88: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de 
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. 
(ii) Art. 5°, IX, CF/88: “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, 
independentemente de censura ou licença”. 
(iii) Art. 5°, XX, CF/88: “Ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado”. 
(iv) Art. 14, § 2º, CF/88: “Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do 
serviço militar obrigatório, os conscritos.” 
(v) Art. 17, § 4º, CF/88: “É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.” 
(vi) Art. 19, CF/88: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...)” 
(vii) Art. 20, CF/88: “São bens da União: (...)” 
(viii) Art. 21, CF/88: “Compete à União: (...)” 
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(ix) Art. 24, CF/88: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: 
(...)” 
(x) Art. 28, caput, CF/88: “A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para mandato de 
quatro anos, realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de 
outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, 
e a posse ocorrerá em primeiro de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o disposto 
no art. 77. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 16, de1997)” 
(xi) Art. 30, CF/88: “Compete aos Municípios: (...)” 
(xii) Art. 37, III, CF/88: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, 
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: III - o prazo de validade do concurso público 
será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período.” 
(xiii) Art. 44, parágrafo único, CF/88: “Cada legislatura terá a duração de quatro anos.” 
(xiv) Art. 45, caput, CF/88: “A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo 
sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal.” 
(xv) Art. 46, § 1º, CF/88: “Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores, com mandato de oito 
anos. 
(xvi) Art. 51, CF/88: “Compete privativamente à Câmara dos Deputados: (...)” 
(xvii) Art. 52, CF/88: “Compete privativamente ao Senado Federal: (...)” 
(xviii) Art. 60, § 3º, CF/88: “A emenda à Constituição será promulgada pelasMesas da Câmara dos 
Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.” 
(xix) Art. 69, CF/88: “As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta.” 
(xx) Art. 70, CF/88: “A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União 
e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, 
aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante 
controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.” 
(xxi) Art. 76, CF/88: “O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros 
de Estado.” 
(xxii) Art. 134, § 2º, CF/88: “Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e 
administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de 
diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º. (Incluído pela Emenda 
Constitucional nº 45, de 2004)” 
(xxiii) Art. 145, § 2º, CF/88: “As taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos.” 
(xxiv) Art. 155, CF/88: “Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...)” 
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(xxv) Art. 156, CF/88: “Compete aos Municípios instituir impostos sobre: (...)” 
(xxvi) Art. 226, § 1º, CF/88: “O casamento é civil e gratuita a celebração.” 
(xxii) Art. 230, § 2º, CF/88: “Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes 
coletivos urbanos.” 
Vamos resolver uma interessante questão sobre esse tipo de norma: 
Questão para fixar 
[UECE-CEV - 2016 - DER-CE - Procurador Autárquico] A norma constante do art. 5º, XX da CF/88, in verbis, 
“ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado", é norma: 
A) de eficácia contida. 
B) de eficácia limitada. 
C) de eficácia plena. 
D) programática. 
Comentário: 
Não há dúvidas de que o inciso XX do art. 5º, CF/88 pode ser classificado como norma constitucional 
de eficácia plena, pois não necessita de legislação posterior para produzir todos os seus efeitos 
jurídicos, tampouco pode vir a sofrer restrição por meio de legislação infraconstitucional. Desta 
forma, é um dispositivo constitucional possuidor de aplicabilidade direta, imediata e integral. 
Nossa resposta encontra-se, portanto, na letra ‘c’. 
Gabarito: C 
Passemos agora para a definição das normas de eficácia contida16. Segundo a doutrina, são 
aquelas que também estão aptas para a produção de seus plenos efeitos desde a promulgação da 
Constituição (aplicabilidade imediata), mas que podem vir a ser restringidas. O direito nelas previsto é 
imediatamente exercitável, com a simples promulgação da Constituição e independentemente da 
edição de qualquer complemento normativo. Todavia, tal exercício poderá ser restringido no futuro. São, 
por isso, normas dotadas de aplicabilidade: 
– imediata, por estarem aptas a produzir efeitos imediatamente, com a simples 
promulgação da Constituição; 
– direta, pois não dependem de nenhuma norma regulamentadora para a produção de 
efeitos; 
 
16. Michel Temer as define como normas constitucionais de aplicabilidade plena e eficácia redutível ou restringível. 
(TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 7ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990, p. 27). 
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– mas, possivelmente, não-integral, pois estão sujeitas à imposição de restrições. 
Segundo a conceituação feita pelo próprio José Afonso da Silva, “Normas de eficácia contida, 
portanto, são aquelas em que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a 
determinada matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência discricionária 
do Poder Público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados”17. 
É muito importante, ainda, frisar que a atuação do legislador, restringindo o direito previsto na 
norma de eficácia contida, não é obrigatória. A Constituição não exige a edição de um complemento 
normativo, pois ele não é necessário para o dispositivo constitucional produzir todos os seus efeitos. A 
atuação posterior e restritiva do legislador é, portanto, facultativa: ele não está obrigado a editar a lei 
que vai restringir o direito, mas poderá fazê-lo se assim o desejar. 
Destaquei a informação acima, por um motivo: já lhe fornecer a base teórica para diferenciar as 
normas de eficácia contida das de eficácia limitada (que estudaremos a seguir). Afinal, diante de uma 
norma de eficácia contida, o legislador atua com discricionariedade, isto é, age somente se desejar 
restringir o alcance da norma constitucional. Se ele não atuar, tudo bem. O direito seguirá sendo 
exercitável de forma completa e geral, sem que nenhuma restrição o acompanhe. Já nas normas de 
eficácia limitada, a edição de um complemento é essencial para que ela produza todos os seus efeitos – 
podemos dizer, portanto, que a atuação do legislador é obrigatória, por exigência constitucional, e não 
facultativa. 
Para exemplificar, pensemos no art. 5º, XIII, CF/88, que diz ser “livre o exercício de qualquer 
trabalho, ofício ou profissão, atendida às qualificações profissionais que a lei estabelecer”. Esse 
dispositivo informa que os indivíduos poderão escolher livremente qualquer profissão, ofício ou trabalho. 
Todavia, é possível que leis regulamentadoras sejam editadas e restrinjam o acesso à determinada 
profissão (exigindo, por exemplo, um curso profissionalizante, a graduação em certa área do 
conhecimento). Por isso, não resta dúvida de que é uma norma de eficácia contida! O direito nela 
presente (de exercer livremente qualquer trabalho ou profissão) poderá ser fruído pelos indivíduos de 
forma plena, até que seja editada uma norma posterior regulamentadora trazendo certas exigências para 
o exercício da profissão. Uma informação final: este inciso XIII é o mais cobrado em provas quando 
estamos falando de normas de eficácia contida! Você vai encontra-lo muito ainda, nas questões de 
treinamento e também na prova em que será aprovado! 
Agora, outro bom exemplo: o art. 5º, LVIII, CF/88, segundo o qual “o civilmente identificado não 
será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”. De acordo com este inciso 
do artigo 5º, o sujeito que portar um documento de identificação civil válido em território nacional (por 
ex.: o RG, a CNH, o passaporte, a carteira de trabalho), não será levado à delegacia para ser submetido 
ao complexo processo da identificação criminal (que envolve o colhimento das impressões 
datiloscópicas, a foto de frente e de perfil, a narração de próprio punho da vida pregressa). Todavia, a lei 
 
17. SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 6ª ed. São Paulo, Malheiros, 2003, p. 116. 
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Direito Constitucional (curso avançado) para Concursos – Turma Regular 
regulamentadora pode prever hipóteses em que mesmo o indivíduo estando identificado civilmente ele 
será submetido à identificação criminal (atualmente temos a Lei n° 12.037/2009 tratando do tema). 
Vejamos agora alguns outros artigos da Constituição (sem pretensão de exaustão do tema) 
consagrados na doutrina e na jurisprudência do STF de normas de eficácia contida: 
(i) Art. 5º, VIII, CF/88: “Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção 
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos

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