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Ramos Presente Cada nó representa a diversificação por cladogênese e o ancestral comum dos ramos acima Passado Te m po e vo lu tiv o A B C D E Característica derivada do grupo D Característica primitiva do grupo ancestral Ancestral comum exclusivo dos grupos D e E R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 C a p ít u lo 1 • S is te m át ic a e c la ss if ic a çã o b io ló g ic a Figura 1.20 Representação genérica de um cladograma. Cada terminal de um ramo (A, B, C, D, E) representa um grupo ou espécie atual. Cada nó indica um ponto de diversificação e representa a cladogênese que deu origem aos grupos representados acima dele; corresponde, também, ao ancestral comum exclusivo dos ramos acima. Apomorfias são, portanto, as novidades evolutivas que aparecem exclusivamente nos orga- nismos de um grupo, definindo-o como tal. A presença de um par de halteres em insetos, por exemplo, é uma apomorfia dos dípteros e caracteriza a ordem Diptera. A plesiomorfia relativa a essa característica é a presença do segundo par de asas não transformado em halteres. O compartilhamento de uma característica apomórfica é chamado sinapomorfia (do grego sin, juntamente, simultaneamente). Vamos ver o que isso quer dizer. Pelos e glândulas mamárias são sinapomorfias de mamíferos. Qualquer animal que tenha pelos e glândulas mamárias pertence ao clado dos mamíferos (classe Mammalia). A presença de crânio é uma sinapomorfia dos vertebrados e define o clado Craniata (Vertebrata); por sua vez, a presença de notocorda é uma sinapomorfia dos cordados e define o clado Chordata. As algas foram excluídas do reino Plantae com base em critérios cladísticos, segundo os quais a sinapomorfia que reúne todas as plantas em um mesmo clado é a presença de um em- brião multicelular maciço, cujo desenvolvimento é dependente da planta genitora. Essa é uma característica presente exclusivamente nas plantas (briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas) e que está ausente nas algas. Cladogramas Atualmente, a cladística é considerada um dos melhores métodos para estudos filogenéticos porque permite formular hipóteses explícitas e testáveis das relações de parentesco entre seres vivos. A cladística expressa suas hipóteses pela construção de cladogramas (do grego clados, ramo, divisão), que são representações gráficas em forma de árvore nas quais são mostradas as relações filogenéticas entre os grupos de seres vivos considerados. Os cladogramas são semelhantes às árvores filogenéticas, porém construídos segundo os princípios da cladística. Um desses princípios é que as espécies surgem sempre pela divisão em duas de uma espécie ancestral. Quando os cladogramas apresentam três ou mais ramos originando-se de um mesmo ponto, o que é denominado politomias, isso significa que há hipóte- ses ainda não resolvidas sobre a origem desses ramos. Idealmente, uma espécie ancestral origina duas espécies descendentes e a espécie antiga desaparece. Cada “nó” do cladograma representa, assim, o processo de cladogênese que originou os dois novos ramos. A partir desse ponto, os dois novos grupos passam a apresentar as carac- terísticas derivadas ou apomorfias. Grupos de espécies que apresentam um ancestral comum exclusivo são denominados de monofiléticos. (Fig. 1.20) MACACOS ANTROPOIDES MACACOS AFRICANOS 5,1 6 0,8 maa* 6,3 6 0,6 maa 13,8 6 0,8 maa 25,3 6 1,4 maa Homo SÍMIOS *milhões de anos atrás C A M U N D O N G O S O R A N G O TA N G O S G O R IL A S C H IM PA N Z ÉS ES PÉ C IE H U M A N A M A C A C O S D O V EL H O M U N D O CLASSES MammaliaReptilia SUBCLASSE Aves MamíferosCobrasLagartos Dinossauros (extintos)CrocodilosTartarugas Archaeossauria R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 38 U n id a d e A • A d iv e rs id a d e b io ló g ic a A aplicação da análise cladística à classificação biológica vem trazendo mudanças significa- tivas nas árvores filogenéticas construídas pelos métodos tradicionais. Por exemplo, enquanto na classificação tradicional os mamíferos, as aves e os répteis formam três classes distintas, a cladística defende que as aves, por apresentarem as mesmas apomorfias que os répteis, deveriam ser classificadas junto com eles. A presença de penas não é uma apomorfia das aves, pois ocorria em grupos primitivos extintos, com características tipicamente de répteis. Observe na figura 1.21 a comparação das filogenias desses organismos. (Fig. 1.21) Figura 1.21 Alguns sistematas, com base na análise cladística, propõem mudanças na filogenia e na classificação dos seres vivos. A classe Aves, como aparece na classificação tradicional, deixaria de existir e as aves passariam a fazer parte da classe Reptilia (subclasse Archaeossauria), juntamente com crocodilos e dinossauros. Figura 1.22 Filogenia publicada em um artigo da revista científica New Scientist, de maio de 2003, que mostra as estimativas de tempo de divergência evolutiva na linhagem dos primatas (ordem a que pertencem macacos e humanos), com base na comparação de DNA. O artigo sugere que chimpanzés e seres humanos poderiam ser incluídos no mesmo gênero, Homo. Os métodos modernos de análise filogenética, associados a análises genéticas e bioquímicas cada vez mais detalhadas, devem trazer mudanças expressivas à classificação biológica nos próxi- mos anos. É até mesmo possível que o gênero ao qual pertencem os seres humanos, atualmente o único da família Hominidae e representado apenas pela espécie Homo sapiens, ganhe duas novas espécies. É essa a proposta de alguns cientistas a partir da análise detalhada de certas sequências de DNA do chimpanzé (Pan troglodytes) e do bonobo, ou chimpanzé-pigmeu (Pan paniscus). Atualmente, chimpanzés e bonobos são classificados na família Pongidae, juntamente com gorilas e orangotangos. Análises recentes mostraram 96% de semelhança entre o DNA de chimpanzés e o DNA de seres humanos. A partir da análise desses dados, alguns cientistas concluíram que a diversificação que resultou na separação evolutiva entre os chimpanzés e a nossa espécie teria ocorrido há “apenas” 5,1 milhões de anos. Essas são algumas das justificativas usadas pelos cientistas que defendem o remanejamento dos chimpanzés para nossa família. (Fig. 1.22) Enquanto muitos cientistas discordam da inclusão de nossos “primos” chimpanzés no gênero humano (seriam eles chamados de Homo troglodytes?), outros chegam mesmo a sugerir que mudemos de família, classificando nossa espécie na família Pongidae, junto com os grandes macacos (seríamos nós chamados Pan sapiens?). Como se pode ver, a Sistemática promete-nos ainda grandes surpresas. R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 C a p ít u lo 1 • S is te m át ic a e c la ss if ic a çã o b io ló g ic a Seção 1.3 Objetivos❱❱❱❱ Caracterizar cada CCCCCCC um dos reinos de seres vivos — Monera, Protoctista, Fungi, Plantae e Animalia — quanto a: tipo de célula; quantidade de células; nutrição. Compreender e explicar CCCCCCC por que os vírus não são incluídos em nenhum dos reinos de seres vivos. Termos e conceitos❱❱❱❱ Monera• Protoctista• Fungi• Plantae• Animalia• Os reinos de seres vivos As diferentes classificações O conhecimento científico está em constante construção e a todo momento novas descobertas levam os cientistas a reavaliar hipóteses e teorias consagradas. Na classificação dos seres vivos, como acabamos de ver, não é diferente, e há opiniões divergentes entre os cientistas sobre questões aparentemente tão básicas como: “Quantos reinos de seres vivos devemos considerar: três, cinco ou oito?Ou mais?”. A polêmica é saudável e absolutamente necessária ao desenvolvimento científico. Por isso, não se espante ao descobrir que, em certos assuntos, não há consenso entre os cientistas, evidenciando que ainda há muito a des- cobrir e avançar até que as divergências sejam superadas ou diminuídas. Para a Sistemática filogenética, o problema central é estabelecer uma classificação que reflita as relações de parentesco evolutivo entre os gru- pos de seres vivos. Entretanto, a absoluta maioria das espécies extintas não deixou registros fósseis, de modo que nossos conhecimentos sobre a história evolutiva são muito incompletos. Além disso, só recentemente foram desenvolvidas técnicas que permi- tem compreender melhor a diversidade dos seres vivos, principalmente em seus aspectos microscópicos, genéticos e bioquímicos. São justamente esses avanços que têm permitido estabelecer novas relações entre as espécies atuais, acarretando a necessidade de mudanças nos sistemas de classificação, para levá-los a expressar melhor a história da vida na Terra. Lineu, como outros naturalistas que o precederam, reconhecia a exis- tência de três reinos: Vegetal, Animal e Mineral. À medida que o conheci- mento sobre a natureza progredia, porém, ficava cada vez mais evidente que animais e plantas eram bem mais semelhantes entre si do que com os minerais. Essencialmente, animais e plantas eram seres vivos, enquanto os minerais (rochas, água, ar etc.) eram inanimados, isto é, sem vida. Essa constatação levou o anatomista alemão Karl Friedrich Burdach (1776-1847) a usar o termo Biologia para designar o ramo das ciências naturais que tinha a vida como objeto de estudo. Em 1802, o médico e naturalista alemão Gottfried Reinhold Treviranus (1776-1837) e o naturalista francês Jean Baptiste Lamarck (1744-1829) usaram, independentemente, o mesmo termo com idêntico propósito. O desenvolvimento da recém-batizada Biologia revelou a enorme diver- sidade da vida, mas os seres vivos continuaram a ser classificados apenas em dois grupos: animais ou plantas. Os biólogos consideravam animais todos os organismos que se moviam, que se alimentavam da matéria de outros seres vivos (heterotróficos) e cres- ciam até atingir determinado tamanho. No reino das plantas eram incluídos todos os seres vivos que não se moviam e que, em sua maioria, produziam seu próprio alimento (autotróficos), podendo crescer indefinidamente. De acordo com esses critérios, os organismos unicelulares que se mo- vem ativamente (os chamados protozoários) eram considerados animais, enquanto as algas, os fungos e as bactérias eram considerados plantas. O critério para incluir as bactérias e os fungos no reino das plantas era a presença de uma parede rígida envolvendo suas células.