Prévia do material em texto
Fundamentos de Hidrologia e Manejo de Bacias Hidrográficas Prof. Marcelo R. Viola 41 FEITOSA, F.A.C.; MANOEL FILHO, J.; FEITOSA, E. C.; DEMETRIO, J. G. A. Hidrogeologia: Conceitos e aplicações. 3.ed. Rio de Janeiro: CPRM/LABHID, 2008. 812p. FREITAS, L.E.; NUNES, F.S.B.; CRUZ, J.C.H.O.; VILELA, C.; MENDES, S.; SILVA, A.C.; BORGES, G. Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Nova Triade do Brasil Ltda. 2015. Disponível em: http://www.macae.rj.gov.br/midia/conteudo/arquivos/1460067952.pdf. Acesso em maio de 2020. LIMA, W. de P. Hidrologia florestal aplicada ao manejo de bacias hidrográficas. 2. ed. Piracicaba, SP: ESALQ, 2008. 245 p. ISBN (ebook). Disponível em: <http://www.ipef.br/hidrologia/hidrologia.pdf>. Acesso em: 18 set. 2018. MANSIKKANIEMI, H. The sinuosity of rivers in northern Finland. Publicationes Instituti Geographici UniversitatisTurkuensis, v. 52, p. 16-32, 1970. MELLO, C.R.; SILVA, A.M. Hidrologia: princípios e aplicações em sistemas agrícolas. 1. ed. Lavras: Editora UFLA, 2013. v. 1. 455p. NAGHETTINI M.; E. J. A. PINTO (2007). Hidrologia estatística, CPRM, Belo Horizonte (MG). STRAHLER, A. N. Hypsometric (area-altitude) analysis of erosional topography. Geological Society of America Bulletin, v. 63, n. 11, p. 1117-1142, 1952. SHIKLOMANOV, I.A.; RODDA, J.C. World Water Resources at the Beginning of the Twenty- First Century. Cambridge University Press, Cambridge, 2003. SILVA, A.C.; LIMA, L.A.; EVANGELISTA, A.W.P.; MARTINS, C.P. Evapotranspiração e coeficiente de cultura do cafeeiro irrigado por pivô central. Revista Brasileira de Eng. Agrícola e Ambiental, v.15, n.12, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbeaa/v15n12/a01v15n12.pdf. Acesso em maio de 2020. http://www.macae.rj.gov.br/midia/conteudo/arquivos/1460067952.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbeaa/v15n12/a01v15n12.pdf Fundamentos de Hidrologia e Manejo de Bacias Hidrográficas Prof. Marcelo R. Viola 42 3. MONITORAMENTO HIDROLÓGICO O monitoramento hidrológico consiste na observação sistemática dos fenômenos hidrológicos ao longo do tempo. Sua principal finalidade é a disponibilização de séries históricas de variáveis hidrológicas. No Brasil, embora o monitoramento tenha se iniciado anteriormente ao século XIX em alguns postos, apenas a partir do século XX houve maior difusão da rede hidrometeorológica nacional. Os principais órgãos atuantes nesse seguimento são a Agência Nacional de Águas (ANA), Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres naturais (CEMADEN), órgãos estaduais de gestão de recursos hídricos, companhias de saneamento e de produção de energia hidrelétrica, dentre outros. A precipitação e o escoamento são as duas principais variáveis hidrológicas monitoradas. Tradicionalmente, o monitoramento destas duas variáveis é realizado em estações de superfície, comumente chamadas de postos pluviométricos e fluviométricos, respectivamente. Cabe ressaltar, que a partir do final do século XX, agências espaciais passaram a disponibilizar dados monitorados por sensoriamento remoto orbital, estabelecendo um novo marco para os dados hidrológicos. São exemplos de monitoramento por satélite: - Global Precipitation Mission – GPM: precipitação - Terra/MODIS: evapotranspiração - Sentinel-1B: umidade superficial do solo - Suomi/VIIRS: cobertura de neve A atual rede de postos de monitoramento hidrológico brasileira é relativamente densa, com exceção da região Amazônica, devido à dificuldade de acesso. Entretanto, a maior parte dos postos foi instalada na última década, e ainda não dispões de série com extensão suficiente para o desenvolvimento de estudos hidrológicos. Especificamente com relação às centrais hidrelétricas, existem normativas da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e ANA que definem as características do monitoramento hidrológico para cada tipo de empreendimento (http://www3.ana.gov.br/portal/ANA/monitoramento/sala-de-situacao/rede-hidrometeorologica- nacional-1/monitoramento-hidrologico-no-setor-eletrico). Instruções sobre a consistência de séries fluviométricas estão disponíveis em http://arquivos.ana.gov.br/infohidrologicas/cadastro/OrientacoesParaConsistenciaDadosFluviometri cos-VersaoJul12.pdf. 3.1 Monitoramento do escoamento em rios O presente material apresenta aspectos introdutórios sobre o monitoramento do escoamento em cursos d’água. Maior detalhamento pode ser obtido no livro de Santos et al. (2001). A definição da localização da seção de monitoramento na qual será implantado o posto fluviométrico é um aspecto inicial e de grande importância. Na sequência estão apresentadas recomendações básicas para a escolha da seção: - Facilidade de acesso, inclusive durante as cheias. - Existência de um observador no local (funcionário que fará as leituras). - Local onde o rio seja bem encaixado (margens altas e de difícil extravasamento). - Margens estáveis (não haja ocorrência de erosão). - Trecho retilíneo e a uma distância mínima de 30 metros de pontes ou outros obstáculos. - Leito estável em local que não ocorra deposição de sedimentos ou detritos. O monitoramento do escoamento consistirá do registro da cota da água na seção periodicamente. A Figura 3.1 mostra um posto fluviométrico com a alocação das réguas linimétricas e referências de nível (RN). Pode-se observar o nível de seca, o nível de cheia (cota superior da calha http://www3.ana.gov.br/portal/ANA/monitoramento/sala-de-situacao/rede-hidrometeorologica-nacional-1/monitoramento-hidrologico-no-setor-eletrico http://www3.ana.gov.br/portal/ANA/monitoramento/sala-de-situacao/rede-hidrometeorologica-nacional-1/monitoramento-hidrologico-no-setor-eletrico http://arquivos.ana.gov.br/infohidrologicas/cadastro/OrientacoesParaConsistenciaDadosFluviometricos-VersaoJul12.pdf http://arquivos.ana.gov.br/infohidrologicas/cadastro/OrientacoesParaConsistenciaDadosFluviometricos-VersaoJul12.pdf Fundamentos de Hidrologia e Manejo de Bacias Hidrográficas Prof. Marcelo R. Viola 43 menor) e o nível de enchente (cota superior da calha maior). Abaixo elencam-se algumas recomendações básicas para a instalação e operação de postos fluviométricos: - O nível máximo e mínimo do conjunto de réguas linimétricas instaladas deve ser suficiente para mensurar os níveis de enchente e seca, respectivamente. - Identificação nítida de cada régua ou lance (para possibilitar a identificação da régua na qual foi realizada cada leitura). - A cota máxima de uma régua (que geralmente é de 100 cm) deve estar alinhada com a cota mínima da régua subsequente (zero). - Estabelecimento de referência de nível (RN) por marco de concreto. - Levantamento planialtimétrico detalhado da seção transversal, com localização das réguas e RN. - No posto fluviométrico convencional, o observador deverá fazer a leitura da cota às 7:00 e às 17:00 horas diariamente e proceder o registro em caderneta específica. Deve-se registrar o valor da leitura, horário, número do lance (ou régua) na qual a leitura foi realizada e observações relevantes. - Realizar a manutenção periódica (limpeza, consertos, inspeção das réguas, etc) mantendo registro sobre todos os procedimentos realizados. Figura 3.1. Posto fluviométrico com a alocação das réguas linimétricas Visando o entendimento da operação de um posto fluviométrico é necessária uma compreensão inicial sobre a gênese do escoamento em bacias hidrográficas. A hidrógrafa é o gráfico que mostra o comportamento do escoamento como função do tempo. A hidrógrafa de um evento de precipitação isolado é o gráfico que mostra um evento de precipitação em específico na bacia, e a respectiva resposta da bacia em termos de escoamento na seção de controle, conforme mostra a Figura3.2. Nesta figura, o evento de precipitação é representado por um retângulo, no qual a base é a duração, e a altura é a lâmina. O escoamento é representado por um gráfico do tipo linha. Neste, observa-se que a partir do ponto A, ocorre o aumento do escoamento devido ao incremento de escoamento superficial direto, caracterizando o trecho de ascensão do hidrograma. Esse trecho segue até que seja atingido o valor de pico (ponto B). Após o ponto B há a redução gradual do escoamento, caracterizando o trecho de recessão da hidrógrafa. O ponto C é tido como o instante no qual cessa o Fundamentos de Hidrologia e Manejo de Bacias Hidrográficas Prof. Marcelo R. Viola 44 escoamento superficial direto produzido pelo evento isolado de precipitação, e a partir do qual volta a prevalecer o escoamento subterrâneo no curso d’água. Na Figura 3.2 também pode-se definir o tempo de concentração (Tc), que é o intervalo de tempo necessário para que o escoamento superficial direto do ponto mais distante da bacia se desloque até a seção de controle. É importante ter conhecimento de que o Tc aumenta com o aumento da área da bacia. Isto significa que pequenas bacias têm reduzido Tc, e para que o monitoramento do escoamento seja suficientemente detalhado para representar as hidrógrafas, muitas vezes é necessário estabelecer intervalo entre leituras da ordem de minutos. Nesta situação, o monitoramento convencional, com leitura às 7:00 e às 17:00 não é suficiente, devendo-se proceder a instalação de um equipamento registrador (linígrafo). O linígrafo é um equipamento que possibilita o registro automático da cota da água, sendo os mais comuns o do tipo bóia (ou flutuador) e o transdutor de pressão. Observe que, mesmo com a instalação do linígrafo há a recomendação de se manter a leitura das réguas pelo observador em pelo menos um dos dois horários (7:00 ou 17:00). Figura 3.2. Hidrógrafa de um evento de precipitação isolado em uma bacia hidrográfica A Figura 3.3 mostra o posto fluviométrico Madre de Deus de Minas, MG, no rio Grande, mantido pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM). Neste posto o linígrafo de pressão com registro automático dos dados encontra-se instalado no pilar da ponte. Fundamentos de Hidrologia e Manejo de Bacias Hidrográficas Prof. Marcelo R. Viola 45 Figura 3.3. Posto fluviométrico Madre de Deus de Minas, MG, mostrando as réguas linimétricas instaladas na calha do rio Grande e o linígrafo no pilar da ponte (A), e detalhe de uma régua linimétrica de 1m fabricada em alumínio (B). Em muitas situações torna-se necessário a disponibilização dos dados monitorados para os segmentos usuários em tempo real. Esse é o caso, por exemplo, da Vigilância Civil frente às enchentes, dos órgãos gestores de recursos hídricos frente à gestão de outorgas no período de estiagem, ou mesmo, do Operador Nacional do Sistema Elétrico frente ao planejamento da produção de energia elétrica. Nesse contexto são instalados equipamentos de transmissão dos dados observados nos linígrafos em tempo real. Essa transmissão é efetuada principalmente por telemetria ou satélite. Uma das principais plataformas de disponibilização de dados hidrológicos em tempo real é a Sala de Situação da ANA (http://www3.ana.gov.br/sala-de-situacao). Note que a variável frequentemente utilizada para a quantificação do escoamento é a vazão. Para calcular a vazão a partir dos dados de cota da água monitorados nos postos fluviométricos utiliza- se uma função denominada curva de descarga ou curva-chave. Para o ajuste da curva-chave do posto fluviométrico torna-se necessário realizar medições de vazão para diferentes cotas do curso d’água, abrangendo desde os valores mínimos de estiagem até os máximos de enchente. A partir dos pares de valores (cota x vazão) ajusta-se uma função matemática que permite o cálculo da vazão tomando como variável independente a cota. A obtenção e atualização da curva-chave requer a realização periódica de práticas hidrométricas. A Figura 3.4 mostra a curva-chave do posto fluviométrico Piraque, código 28240000, no rio Lontra, afluente do rio Araguaia. Maiores detalhamentos sobre hidrometria fluvial podem ser obtidos em Santos et al. (2001). A. B. http://www3.ana.gov.br/sala-de-situacao Fundamentos de Hidrologia e Manejo de Bacias Hidrográficas Prof. Marcelo R. Viola 46 Figura 3.4. Curva-chave do posto fluviométrico Piraque (A), cotagrama monitorado no posto fluviométrico e hidrograma calculado a partir da curva-chave (B). É importante observar que o monitoramento do escoamento visando ao atendimento da resolução conjunta ANA/ANEEL 03/2010 deve atender ao exposto no manual de consistência de dados fluviométricos da ANA, disponível em http://arquivos.ana.gov.br/infohidrologicas/cadastro/OrientacoesParaConsistenciaDadosFluviometri cos-VersaoJul12.pdf. 3.1.1 Medição de vazão em rios Define-se vazão como o volume de água que escoa por uma seção por unidade de tempo. A unidade de medida da vazão no Sistema Internacional de Unidades (SI) é o m³.s-1. O presente material descreverá a prática hidrométrica com molinete hidrométrico, com cálculo da vazão pelo método da meia seção. A medição de vazão ou prática hidrométrica pode ser realizada a vau, ou com o emprego de embarcações. A Figura 3.5 mostra um molinete hidrométrico e uma prática hidrométrica a vau no ribeirão Vermelho, campus UFLA. Vazão = 0,0012.cota2 + 0,0983.cota - 44,284 R² = 0,9933 0 100 200 300 400 500 0 200 400 600 V az ão ( m ³/ s) Cota (cm) 0 100 200 300 400 0 100 200 300 400 500 jan-03 mai-03 set-03 jan-04 V az ão ( m ³/ s) C o ta ( cm ) Cota (cm) Cotagrama Hidrograma A. B. Fonte: https://jctm- hidromet.com/equipamentos/hidrologia/mln-15c/ A. B. http://arquivos.ana.gov.br/infohidrologicas/cadastro/OrientacoesParaConsistenciaDadosFluviometricos-VersaoJul12.pdf http://arquivos.ana.gov.br/infohidrologicas/cadastro/OrientacoesParaConsistenciaDadosFluviometricos-VersaoJul12.pdf https://jctm-hidromet.com/equipamentos/hidrologia/mln-15c/ https://jctm-hidromet.com/equipamentos/hidrologia/mln-15c/ Fundamentos de Hidrologia e Manejo de Bacias Hidrográficas Prof. Marcelo R. Viola 47 Figura 3.5. Molinete hidrométrico (A) e prática de medição de vazão a vau no ribeirão Vermelho, campus UFLA (B). Na prática hidrométrica com o molinete é preciso: a) medição da velocidade do escoamento ao longo da seção e b) levantamento batimétrico visando medir a profundidade ao longo da seção (batimetria). Para a batimetria estende-se um cabo de aço graduado de margem a margem. Tomando-se uma das margens como referência procede-se o levantamento batimétrico. Os principais instrumentos utilizados são réguas graduadas, ecobatímetro e lastro suspenso por guincho. A Figura 3.6 mostra o traçado de uma seção obtido por batimetria. Figura 3.6. Seção transversal de curso d’água obtida por batimetria, em que, PI é o ponto inicial do cabo de aço graduado e PF é o ponto final. A velocidade do escoamento varia ao longo da seção (Figura 3.7) devido ao efeito da rugosidade da superfície junto às margens, leito e atmosfera. Observa-se que a velocidade é mínima junto ao leito e aumenta em direção à superfície, estando a velocidade máxima situada a cerca de 15% da profundidade. Figura 3.7. Isolinhas de velocidade do escoamento em uma seção não uniforme (Fonte: Singh, 1994). Tendo-se em vista a variação da velocidade do escoamento ao longo da seção e sabendo que o molinete realiza a medição pontual, é necessário definir uma amostragem que propicie a adequada representação da velocidade na seção. Com este intuito deverão ser definidas verticais ao longo da seção nas quais serão tomadas medidas pontuais de velocidade com o molinete, e que possibilitarão, posteriormente, o cálculoda velocidade média na vertical. DNAEE (1967) recomenda que a distância entre as verticais nas quais medir-se-á a velocidade seja definida como função da largura da seção (L), conforme mostra a Figura 3.8. Fundamentos de Hidrologia e Manejo de Bacias Hidrográficas Prof. Marcelo R. Viola 48 Figura 3.8. Seção transversal com destaque para a largura da seção (L) e distância entre verticais (ΔL) (A), e recomendações de DNAEE (1967) (B). Para uma dada vertical, torna-se necessário então, definir as posições nas quais serão realizadas medidas pontuais da velocidade. A Figura 3.9 mostra a recomendação de DNAEE (1977). Observa-se, por exemplo, que para uma vertical com profundidade entre 0,6 e 1,2 metros, deve-se medir a velocidade em duas posições (0,2p e 0,8p) visando ao cálculo da velocidade média. De acordo com Santos et al. (2001) a medida da velocidade superficial é tomada a 10 cm de profundidade (profundidade necessária para que a hélice do molinete fique totalmente submersa), e a velocidade do fundo é medida de 15 a 25 cm acima do leito (distância do lastro ao eixo do molinete). Figura 3.9. Posições para medida da velocidade como função da profundidade da vertical (p) (A) e recomendações de DNAEE (1977) (B). O cálculo da velocidade média na vertical, conforme DNAEE (1977) está apresentado na Tabela 3.1. A) B) A) B) Fundamentos de Hidrologia e Manejo de Bacias Hidrográficas Prof. Marcelo R. Viola 49 Tabela 3.1. Cálculo da velocidade média na vertical (Vv) como função da profundidade (P). Profundidade da vertical (P), em m Velocidade média da vertical (Vv) 0,15 a 0,6 Vv = v0,6 p 0,6 a 1,2 Vv = (v0,2 p+ v0,8 p)/2 1,2 a 2 Vv = (v0,2 p +2.v0,6 p + v0,8 p)/4 2 a 4 Vv = (v0,2 p +2.v0,4 p +2.v0,6 p + v0,8 p)/6 > 4 Vv = [vsuperfície+2.(v0,2 p +v0,4 p +v0,6 p + v0,8 p)+vfundo]/10 O método mais comumente aplicado para o cálculo da vazão no Brasil é o da meia seção (Santos et al., 2001). Nesta metodologia são definidas subseções para cada vertical (Figura 3.10). Procede-se então o cálculo da vazão parcial em cada subseção, e obtém-se a vazão total pelo somatório das vazões parciais. Figura 3.10. Definição de subseções para a medição de vazão pelo método da meia seção. Cabe ressaltar, conforme Santos et al. (2011), que dependendo da alocação das verticais pode ocorrer uma pequena área junto às margens esquerda e direita, as quais serão desprezadas no cálculo da vazão (Figura 3.11). Figura 3.11. Seção subdividida em 6 subseções para cálculo da vazão pelo método da meia seção, mostrando as verticais (V), os pontos inicial (PI) e final (PF) do cabo de aço graduado e as medidas de largura (ΔL) e profundidade (P) das subseções 1 e 5. Fundamentos de Hidrologia e Manejo de Bacias Hidrográficas Prof. Marcelo R. Viola 50 A área de cada subseção (ai), em m², será dada por: 𝑎𝑖 = 𝛥𝐿 × 𝑃𝑖 Em que ΔL é a largura da subseção i, em m, e Pi é a profundidade média da subseção i, em m. A vazão parcial de cada subseção (qi), em m³.s-1, é obtida por: 𝑞𝑖 = 𝑉𝑣𝑖 × 𝑎𝑖 Em que, Vvi é a velocidade média da vertical i, em m.s-1. A vazão total na seção (QT), em m³.s-1, é dada pelo somatório das vazões parciais: 𝑄𝑡 = ∑ 𝑞𝑖 3.2 Monitoramento do escoamento em nascentes e córregos O monitoramento do escoamento em pequenos cursos d’água pode se dar por medição direta da vazão, medidores de geometria regular, dentre outros. A medição direta da vazão, pelo método volumétrico, é realizada medindo-se o tempo necessário para o enchimento de um recipiente de volume conhecido. Os medidores de geometria regular, tais como medidores Parshall ou vertedores, propiciam a alteração da seção, induzindo o escoamento ao regime crítico. Nesse regime de escoamento a relação cota x vazão pode ser definida com base em leis da hidráulica. Os principais tipos de vertedores são: triangular, trapezoidal e retangular. A Figura 3.5 mostra alguns exemplos de vertedores de parede delgada (pequena espessura). Figura 3.5. Vertedor retangular (A), vertedor retangular instalado (B), vertedor trapezoidal instalado (2) e vertedor triangular (3) (Fonte: Costa et al., 2007). Os principais cuidados na instalação e operação de vertedores são: - Construir o vertedor com dimensões recomendadas nos livros de hidráulica. - Instalar em um trecho retilíneo do curso d’água. 3.1 3.2 3.3