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A imagem do político brasileiro piorando o que já era ruim

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A IMAGEM DO POÚTICO BRASILEIRO 
PIORANnO O QUE JÁ ERA RUIM 
Bernardo Jablonski 
Aroldo Rodrigues 
Equipe de Pesquisa do Mestrado em Psicologia Social da UGF* 
I. Introdução; 2. Objetivos e hip6teses; 3. Mitodos; 4. Resulta­
dos: 5. Discussão. 
1. Introdução 
No processo polCtico, candidatos, programas de ação e fIliação partidária for­
mam a base que os eleitores utilizam na hora de decidir em quem conflllf seu voto. 
Nesse sentido, o estudo da imagem pdblica do homem polCtico é fundamental 
quando se trata de disputas eleitorais democráticas. 
Curiosamente, o estudo de estere6tipos em relação aos políticos tem merecido 
reduzida atenção por parte dos psicólogos que se dedicam ao campo da percepção 
social. Mas, o que se pode constatar, pela leitura dos jornais - através de sucessi­
vas denúncias de nepotismo, corrupção e ineficiência - e por pesquisas de agên­
cias especializadas, t é que o estere6tipo em relação ao político não parece ser dos 
mais positivos. 
De fato, em pesquisa por nós realizada no Rio de Janeiro, em 1986, pudemos 
comprovar empiricamente a existência de uma forte percepção negativa para com 
os políticos lUIcionais.2 Estes eram percebidos (por ordem decrescente de im­
portância) como ambiciosos, espertos, insinceros, oportunistas, "embromadores", 
despreocupados com o bem comum e corruptos. 
Consonante com essa visão, Nenhum foi a resposta mais freqüente à pergunta 
"Qual o político que a seu ver se aproxima mais do ideal?". Da mesma forma, as 
características vistas como necessárias ao exercício ideal da atividade política en­
quadraram-se num conjunto que denominamos "categoria moral" e que se refe­
rem, dentre outras, à honestidade, sinceridade, humildade, caráter, o que parece 
indicar que tais qualidades primam pela "escassez" entre nossos homens públicos. 
Ainda com relação aos objetivos maiores daquele estudo, cumpre observar que 
não houve diferenças significativas entre os sexos (amostra de 530 sujeitos, sendo 
315 do sexo feminino e 215 do masculino) e que encontramos uma certa tendência 
por parte das pessoas mais idosas no sentido de serem menos rigorosas e críticas 
• A Equipe de Pesquisa do Mestrado em Psicologia da Universidade Gama Filho é integrada pelos Profs. 
Aroldo Rodrigues, Bernardo Jablonski e Eveline Maria L. Assmar; e pelos Mestres Marina Monnerat, Kátia 
Diamico e Danielle Corga; e pelos alunos Marcos Pereira, Mônica Viana, Vera Mattos, (layse S. Pinto e Ve­
ra Maria Simonetti. 
1 S6 para ::itar duas das mais recentes pesquisas, a agencia Tendência, de São Paulo, revela que a credibili­
dade da classe poIftica alcançou um total de 1,41 ponto numa escala de 1 alO (fonte!JomaldoBrasil, 5 abro 
1988), enquanto a Standard. Ogilvy e Matber aponta governo e poIfticos como os "vitoriosos" DO n6mero 
.ie respostas A indagaçIo "Em quem o povo brasileiro deposita nIDIOi.f confiança?" (fonte O Globo, 6 abro 
1988). 
2 Trabalho efetuado pela Equipe de Pesquisa do Mestrado em Psicologia da Univeraidade Gama Filho, c0-
ordenado pelo Prof. Aroldo Rodrigues, publicado pela revista Psicologin: Teoria e Pesquisa, B-1IIIfiia, 
4(1):2-11,1988. 
R. C. pot, Rio de Janeiro, 32(3)42-51, maiol jul 1989 
na avaliação dos políticos. Um outro dado curioso foi a pouca importância que os 
sujeitos deram à orientação ideológica como fator de escolha de um candidato a 
cargo poICtico. 
A fmalidade do presente trabalho é a de acompanhar a evolução do estereótipo 
em questão no espaço de um ano, acrescida de urna análise acerca da percepção 
das pessoas sobre as causas do fracasso do Plano Cruzado. Além disso, como na 
época estava sendo implantado o Plano Bresser, julgamos oportuno investigar as 
expectativas em relação ao mesmo, a fim de avaliar o fenômeno que se conven­
cionou chamar de "otimismo ingênuo". Dados de pesquisas anteriores (Rodrigues, 
1984; Corga e Rodrigues, 1988) referem que o brasileiro, sob certas condições, 
exibe uma atitude que consiste na manifestação de uma postura otimista frente a 
situações futuras, mesmo quando não há razões lógicas ou indicações plausíveis 
para tal. Frustrações seguidas, fatalismo, estabelecimento de metas irrealistas, pla­
nejamento inadequado e falta de persistência, entre outros, constituem comporta­
mentos geralmente associados à atitude de "otimismo ingênuo" 
Tomadas em conjunto, as respostas a essas indagações - mesmo não identifi­
cando as causas e as origens do desprestígio que a classe política vem sofrendo ao 
longo dos anos - podem ser bastante úteis na tornada de consciência dessa "crise 
de credibilidade" e na avaliação de processos correlatos de igual relevância so­
cial, tais como, presença ou não de "otimismo ingênuo" nessa área do comporta­
mento social e conseqüências psicológicas de atribuições causais imobilizantes ou 
fatalistas. 
Na seção seguinte, passaremos a expor com mais detalhes nossos objetivos e 
algumas questões metodológicas que, acreditamos, sejam pertinentes para essa ou 
outras pesquisas no campo da psicologia social. 
2. Objetivos e hipóteses 
Como já afirmamos na seção anterior, os objetivos maiores do presente trabalho 
consistem na avaliação da imagem de nossos políticos - contrapondo os novos da­
dos àqueles já obtidos na primeira pesquisa - e na análise da percepção dos Pla­
nos Cruzado e Bresser. 
Essa última indagação, conforme o assinalado, foi introduzida na pesquisa a 
fun de que pudéssemos obter uma idéia mais clara sobre a relevância e/ou magni­
tude do fenômeno "otimismo ingênuo". Por outro lado, o tipo de resposta dado a 
essa questão - causas do fracasso do Plano Cruzado e expectativas quanto ao PIa­
no Bresser - pode fornecer informações significativas no que se refere à predição 
de atitudes e comportamentos por parte dos eleitores. Evidentemente, faz diferen­
ça se, por exemplo, o insucesso de um plano econômico é atribuído a incompetên­
cia ou à má-fé do Governo, ou ainda à incapacidade do povo, ou mesmo à inter­
ferência de agentes externos. O grau de "controle" que o cidadão acha que possui 
sobre o processo político e suas implicações em termos de atitudes ou de compor­
tamentos futuros pode ser inferido através da análise de certas dimensões inerentes 
ao tipo de resposta dado. 
A par destes objetivos, procuramos, a exemplo da pesquisa anterior, aferir o 
grau de similaridade entre as respostas proferidas por uma amostra universitária e 
uma amostra colhida aleatoriamente. Como muitos dos estudos no campo são rea­
lizados com universitários, é fundamental averiguar o grau de compartilhamento 
atitudinal entre eles e círculos maiores da população brasileira, nos quais os mes­
mos se inserem. 
Polltico brasileiro 43 
Da mesma fonna, é prop6sito do presente trabalho dar prosseguimento ao estu­
do da viabilidade do uso do telefone como instrumento de coleta de dados. Em 
pesquisas de levantamento, as vantagens provenientes de tal utilização - economia 
de tempo, de recursos e a possibilidade de controle e monitoração subseqüentes 
aliadas a resultados obtidos anteriormente justificam, a nosso ver, a busca de no­
vos elementos para reforçar ou não nossa posição a favor de sua utilidade. 
3. Métodos 
3.1 Sujeitos 
Tomaram parte nesta pesquisa 597 sujeitos, 300 sujeitos da amostra coletada 
por telefone (200 do município do Rio de Janeiro e 100 do município de Niter6i) e 
297 sujeitos da amostra de estudantes universitários coletada em quatro diferentes 
instituições de ensino superior do Rio de Janeiro. 
3.2 Procedimento 
Como no estudo anterior, procedeu-se à coleta de dados por telefone e, em sala 
de aula, com universitários. A coleta de dados por telefone foi feita por quatro en­
trevistadores que selecionavam o último número do telefone de cada página do 
catálogo para a chamada. Quando a mesma era completada, o entrevistador dizia: 
uBom-dia (tarde ou noite), estamos falando do Centro de Pesquisas da UGF e 
seu telefone foi escolhido ao acaso. Nós estamos realizando uma pesquisa sobre 
Psicologia'e Política e gostaríamos de lhe fazer algumasperguntas. O Sr. nos p0-
deria dar alguns minutos da sua atenção?" 
Era dado início à entrevista, caso o interlocutor concordasse em participar da 
pesquisa respondendo às perguntas; caso contrário, outra chamada era feita, e as­
sim sucessivamente. O tempo médio gasto para cada entrevista foi de seis minutos. 
As entrevistas foram feitas no mês de agosto de 1987, em todos os dias da se­
mana, indiscriminadamente, bem como nos períodos da manhã, tarde e noite. 
A coleta de dados com a amostra umversitária foi levada a cabo em sala de aula 
através de questionário que os sujeitos respondiam e devolviam ao entrevistador. 
3.3 Instrumento 
O questionário para as duas amostras foi basicamente o mesmo do estudo repli­
cado, com adição de apenas três itens e modificação na ordem de apresentação das 
questões. 
Assim, a primeira questão pedia a opinião do respondente sobre a causa do fra­
casso do Plano Cruzado, seguida de outra sobre se julgava que o Plano Bresser te­
ria ou não êxito. Quer sua resposta fosse sim, quer não, perguntava-se o porquê 
de sua resposta. Estes itens não constavam da pesquisa anterior. 
Prosseguindo, o sujeito traçava o perfil do pol(tico ideal através de três adjeti­
vos e respondia qual o pol(tico que mais se aproximava, bem como qual o que 
mais se afastava do ideal traçado. Depois era perguntado ao sujeito em quem vota­
ria para o cargo de presidente da República, caso as eleições ocorressem naquele 
dia, diferindo do primeiro estudo quando se perguntou em quem votaria para o 
cargo de governador do Estado. 
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No dltimo item, estavam listados 15 adjetivos que o sujeito deveria responder 
sim ou não, conforme concordasse ou não com sua aplicabilidade em políticos 
brasileiros de uma maneira geral, item esse idêntico ao da pesquisa anterior. 
Por flID, o sujeito informava ao entrevistador sua idade, profissão e sexo. 
4. Resultados 
De início foram calculadas as freqüências, em percentagens, das razões atribuí­
das ao fracasso do Plano Cruzado tanto para a amostra telefÔnica quanto para a 
universitária. As razões apresentadas, por ambas as amostras, foram agrupadas 
em: Governo (59%); Povo (10,5%); Pol(tico (3,5%); Empresários (7%); Desespe­
rança (2%); Outros (8%); 10% não responderam. Não houve diferença estatisti­
camente significante entre os entrevistados por telefone e os universitários. 
Como parcela considerável dos sujeitos, em ambas as amostras, atribuiu ao Go­
verno Federal a responsabilidade pelo fracasso do Plano Cruzado, apresentando 
razões muito' diferenciadas, foram estabelecidas quatro categorias diferentes para 
classificar as respostas, a saber: 
- incompetencia técnica, em que o fracasso do plano era visto como erro de pla­
nejamento ou de execução; 
- moral, incluindo respostas de má-fé do Governo, de defesa propositada de inte­
resses de certos grupos, acima dos interesses do paes; 
- manobra eleitoreira, em que o Plano e sua manutenção sem adaptações foram 
considerados como um interesse do Governo em garantir a vitória nas eleições que 
se aproxin;Javam; 
- motivos vdrios, compreendendo respostas de acusação ao presidente da Repd­
blica e a ministros, além de razões não classificáveis nas categorias anteriores. 
As freqüências percentuais das razões do fracasso do Plano C(editadas ao Go­
verno Federal, para cada uma das amostras estudadas foram: Incompetencia técni­
ca - 36,5%; Moral - 13%; Manobra eleitoreira - 5%; Motivos v4rios - 3,5%. 
Não houve diferença significativa entre as duas amostras. 
Em relação à perspectiva de sucesso do Plano Bresser, a magnitude da percen­
tagem para a resposta Sim foi de 15% e para a resposta Não foi de 85%, conside­
rando-se o conjunto total de sujeitos. A amostra telefÔnica apresentou uma 
freqüência em percentagem de 24% para o Sim e 76% para o Não e, a amostra 
universitária, 5% e 95%, respectivamente. As possíveis razões, atribuídas pelos 
sujeitos para o fracasso do Plano Bresser, estão assim distribuídas nas percenta­
gens de freqüência: Governo - 56%; Povo - 6%; Pol(ticos - 4%; Empresários 
- 3,5%; Desesperança - 8%; Outros - 7%; 15,2% não responderam. Não houve 
diferença estatística significativa entre as duas amostras. 
As freqüências, em percentagens, das razões do poss(vel fracasso do Plano 
Bresser quando atribuído ao Governo Federal foram: Incompetencia técnica 
- 36%; Moral - 18%; Motivos vários - 2%. A classificação das razões obedeceu 
os mesmos critérios de categorização estabelecida para o Plano Cruzado, exceção 
feita à categoria Manobra eleitoreira que não foi apontada. As duas amostras - te­
lef~nica e universitária - não apresentaram diferença estatisticamente significati­
va.· 
No que se refere às características que o político ideal deveria ter, cumpre assi­
nalar que prevaleceu na presente pesquisa a mesma orientação adotada no estudo 
anterior e que consiste na classificação das várias características estudadas em seis 
categorias, a saber: Servidor do Povo - englobando características como preocu-
Polltico brasileiro 45 
pado com o bem comum, ser bem intencionado, não ser ambicioso, cumprir o que 
promete, conhecer os problemas do povo e ser democrata; Moral- incluindo as 
respostas de que o político ideal deveria ser honesto, sincero, humano, humilde, 
não corrupto, com caráter, coerente e corajoso; Habilidade - onde eram ressalta­
das características como culto, hábil, lCder, carismático, educado, e com formação 
política; Desempenho - incluindo respostas que caracterizavam o político ideal 
como responsável, competente, esforçado, trabalhador, bom administrador, empre­
endedor, menos demagogo e não omisso; Ideologia - que incluía respostas que 
qualificavam o político ideal de patriota, idealista, nacionalista e tendo fidelidade 
partidária; a última categoria, Outros - incluir o restante das respostas não englo­
badas nos itens acima. 
Os resultados colhidos nas amostras para as características do político ideal fo­
ram: Servidor do povo - 16%; Moral - 42%; Habilidade - 15%; Desempenho 
- 17%; Ideologia - 6%; Outros - 4% . 
. Se levarmos em conta apenas a magnitude percentual da característica apontada 
em primeiro lugar para descrever o político ideal, temos os seguintes resultados: 
Servidor do Povo - ll%;.Moral- 62%; Habilidade - 10%; Desempenho - 9%; 
Ideologia - 5%; Outros - 3%. As amostras não apresentaram diferença estatística 
significante entre si. 
Para a amostra telefônica, o polCtico que mais se aproxima do ideal, percen­
tua1oJente, é Nenhum com 34%; Não sabe com 14%; Leonel Brizola com 10%; 
Juscelino Kubitscheck com 3%. E o que mais se afasta do ideal é Todos com 25%; 
Leonel Brizola com 18%; J~ Sarney com 8%; Moreira Franco com 6%. Para a 
amostra universitária, os percentuais para o político que mais se aproxima do ideal 
foram Nenhum com 35%; Não responderam com 15%; Leonel Brizola com 5%; 
Não sabe com 4%. A freqüência em percentagem para o político que mais se afas­
ta do ideal foi Leonel Brizola com 26%; Todos com 19%; José Sarney com 11%; 
Moreira Franco com 8%. 
Quanto às respostas dos sujeitos sobre em quem votariam, caso a eleição para 
presidente da República fosse hoje, Ninguém aparece em primeiro lugar com um 
valor percentual igual a 28%, seguido de Não sabe com 21 %; Leonel Brizola com 
14%; Não responderam, 9% e Mdrio Covas com 3%. 
Foram apuradas também as freqüências em percentagens de concordância com 
os adjetivos que traçariam o perfll do político brasileiro nas amostras estudadas. 
Esses resultados são apresentados na tabela 1. 
O grau de concordância com os adjetivos que compõem o perfil do polCtico bra­
sileiro foi também avaliado nas três faixas etárias consideradas, com o intuito de 
se verificar se a percepção do político é afetada pelo fator idade. A tabela 2 mos­
tra esses resultados. 
5. Discussão 
A primeira constatação que se pode fazer, a partir dos dados acima expostos, é 
que ocorreu algo que parecia bastante improvável: a imagem dos políticos, que já 
era ruim em outubro de 1986, piorouem outubro de 1987, com um aumento geral 
de quase 5% nas avaliações negativas. 
Os políticos foram percebidos (por ordem decrescente de importância) como 
ambiciosos, insinceros, embromadores, oportunistas, espertos, despreocupados 
com o bem comum, corruptos e egoístas - um retrato muito adequado para qual­
quer categoria que exerça seu ofício à margem da lei, mas bem pouco recomendá-
46 R.C.P.3/89 
vel para o grupo de cidadãos que estão, no presente momento, redigindo a nova 
Constituição Brasileira. 
Comparando-se com a primeira pesquisa, temos as seguintes ordenações de ad­
jetivos: o primeiro lugar é o mesmo (Ambicioso), o atual segundo lugar era o ter­
ceiro (Insincero) e o atual terceiro era o quinto (Embromador). Os, quarto, sexto, 
e sétimo lugares são os mesmos. As maiores flutuações de um grupo para o outro 
em termos ordinais ocorreram em tomo dos adjetivos Embromador e Insincero. 
que passaram a ocupar "melhores" posições e de Esperto, que desceu de posição 
nesse desabonador ranking de qualificações. 
Coerentemente com esses resultados, as características ditas "morais" foram 
ainda mais acentuadas como qualidades fundamentais para os que se dedicam à 
Tabela 1 
Freqüência, em percentagens, de concordância 
com os adjetivos nas amostras telefônicas e universitárias 
Amostra Amostra Total Adjetivos Telefônica Ordenação Universitá- Ordenação Ordenação 
(%) ria (%) (%) 
Insincero 95 2 98 1,5 97 2 
Ambicioso 97 1 98 1,5 98 
Mal-intencionado 79 10 87 9 83 9 
Incompetente 69 12 67 13 68 13 
Emhromador 94 3 95 3 95 3 
Não-esforçado 67 13 79 12 73 12 
Corrupto 85 8 92 6,5 89 7,5 
Egoísta 90 6 88 8 89 7,5 
Inculto 37 \4 46 14 42 14 
Omisso 81 9 80 11 81 10 
Irresponsável 73 11 83 10 78 11 
Oportunista 92 4 94 4 93 4 
Esperto 91 5 92 6,5 92 5 
Não-preocupado 88 7 93 5 91 6 
com o bem COlJllJID 
Não-hábil 30 15 26 15 28 15 
P olttico brasileiro 47 
Tabela 2 
Freqüência, em percentagens, de concordância com os 
adjetivos nas faixas etárias consideradas 
Adjetivos Idade Total 
Até 30 31-50 51 ou mais X 2 p 
(%) (%) (%) (%) 
Insincero 97 96 95 97 2,25 n.s. 
Ambicioso 98 97 98 98 0,05 n.s. 
Mal-intencionado 85 "84- 75 83 4,68 < 0,01 
Incompetente 65 70 72 68 1,99 n.s. 
Embromador 94 94 95 95 0,20 n.s. 
Não-esforçado 77 71 58 73 13,20 < 0,001 
Corrupto 92 85 8u 89 12,49 < 0,001 
Egoísta 87 91 93 89 2,65 n.s. 
Inculto 41 47 34 42 3,55 n.s. 
Omisso 79 85 82 81 2,46 n.s. 
Irresponsável 78 80 73 78 1,38 n.s. 
Oportunista 93 95 89 93 6,05 n.s. 
Esperto 90 95 90 92 4,31 n.s. 
Não-preocupado 
91 90 88 91 0,60 n.s. com o bem comum 
Inábil 28 30 31 28 0,55 n.s. 
Obs.: os adjetivos nas tabelas 1 e 2 aparecem em forma negativa. 
atividade política: um total de 62% de respostas como a primeira característica ne­
cessária, contra 40% da primeira pesquisa. Para os que consideram mais importan­
te a visão geral proporcionada pelQ conjunto das três respostas dadas, os aspectos 
"morais" também apresentaram um percentual de 42% contra os anteriores 32%. 
Da mesma forma, Nenhum foi novamente o polCtico considerado mais próximo do 
ideal. 
Com relação à percepção por parte de nossas amostras das causas do fracasso 
do Plano Cruzado, a maioria dos entrevistados atribuiu-o ao Governo (59%), seja 
por erros de planejamento e/ou execução (36%), ou seja por má-fé, para benefício 
48 R.C.P.3/89 
exclusivo de certos grupos, defesa de interesses específicos, etc. (13%) ou, ainda, 
por motivos diversos (3,5Ck). 
O item Manobra eleitoreira - apontado por diversos setores especializados dd 
grande imprensa como uma das principais causas do insucesso do referido Plano -
e pelo qual o partido do Governo (PMDB), para ganhar as eleições de novembro 
de 1986, teria estendido o congelamento dos preços muito além do tempo adequa­
do, com conseqüências desastrosas - foi citado apenas por 6Ck dos entrevistados. 
Difícil dizer se esses reduzidos 6% significam que os entrevistados em sua 
maioria não concordam com tal argumentação ou se essa razão não foi citada por 
já e~tar incluída em outras categorias, tais como: má-fé, mau planejamento, má 
execução, etc., todas sob responsabilidade do Governo. 
Quanto ao Plano Bresser, que estava sendo implantado na época dessa sonda­
gem, nossa amostra exibiu expressiva e premonit6ria certeza de que o Plano não 
daria certo (85%). De um modo geral, as culpas foram repartidas majoritariamente 
dentro do pr6prio Governo, por erros de planejamento (36%) e por má-fé (18%). 
Entre as diferenças de atribuição de responsabilidade nos fracassos dos dois pIa­
nos econômicos (um real, acontecido, e o outro como possibilidade futura) pode­
se constatar, em primeiro lugar, a ausência de respostas em torno da questão Ma­
nobra eleitoreira, uma vez que não havia eleições à vista naquela época. Em se­
gundo lugar, observa-se uma diminuição na culpa atribuída ao Povo (De 10,5% 
para 6%), aos Empresários (de 7,2% para 3,5%), e um aumento bastante signifi­
cativo nas chamadas "respostas de desesperança", e que se referem a uma atitude 
generalizada de descrença e apatia traduzidas por expressões do tipo "nada nesse 
país dá certo"; "nunca sairemos dessa situação"; "o país é ingovernável", etc. (de 
2,2% para 8%). 
Essa atitude de desesperança vai contra as nossas expectativas de encontrar 
também na política o que Rodrigues (1984) chamou de "otimismo ingênuo", e que 
citamos na introdução do presente trabalho. O fenômeno em questão, que parece 
influente em várias situações vividas por brasileiros, pode ter esbarrado, no que 
tange à política, numa dura realidade como nossas pr6prias pesquisas vêm com­
provando. 
Com os quadros políticos que temos no atual Governo, segundo a percepção 
quase consensual, s6 mesmo um otimismo irracional é que se poderia esperar. Ci­
te-se, à guisa de ilustração, que o atual Governo Federal, até a presente data, já 
trocou de ministros 60 vezes (fonte: Jornal do Brasil, 1988). 
Infelizmente, como a maioria dos estudos em atribuição de causalidade apon­
tam, alocações desse tipo podem provocar um estado psicol6gico de franca apatia 
e passividade, que servem inclusive para realimentar essa visão de descrença, 
criando um pernicioso círculo vicioso. Quando um indivíduo se percebe impotente 
ou com muito pouco controle sobre os eventos circundantes e supõe uma certa esta­
bilidade nas razões de ser dessa falta de controle, o que se pode esperar mesmo é 
um comportamento desinteressado, omisso e negativista. Exatamente o contrário 
do que se desejaria para a formação de um consenso social com a finalidade de 
provocar um soerguimento social, moral e econômico do país. 
Da mesma forma, denúncias de corrupção, sem que o Governo proceda ao 
exame e punição dos culpados, tendem a provocar a crença de que roubos e preva­
ricação são estáveis e incontroláveis, portanto impossíveis de serem erradicados. 
Numa situação como essa, cresce a tentação para o cidadão comum de imitar e 
tentar repetir, numa escala que lhe é acessível, aquilo que vê dirigentes e detento­
res do çoder público fazerem impunemente. Quando não é possível derrotar o inimi-
Polftico brasileiro 49 
go, alie-se a ele. Infelizmente, trata-se de uma aliança onde todos perdem. 
Dentre outros objetivos, mais uma vez não encontramos diferenças significati­
vas entre os sexos e, de igual modo, o grupo dos mais idosos mostrou-se meno . 
rigoroso na avaliação dos políticos, embora essa tendência tenha-se mostrado me­
nos acentuada. 
A receptividade para responder entrevistas por telefone caiu significativamente 
da primeira para a segunda pesquisa (de 7% para 30% de recusas). Em face da 
ausência de propaganda polftica e da mobilização sempre existente em época de 
eleições, as pessoas contactadas por telefone não se mostraram tão disponíveis 
nem entusiasmadas em participar de uma pesquisa, quanto da vez anterior. 
Finalizando, e em consonância com tudo que foi exposto acima, nossos entre­
vistados não saberiam em quem votar caso as eleições para a Presidência da 
Repúblicafossem realizadas na época da sondagem. As respostas negativistas 
e/ou evasivas atingiram índices de 61 %, distribuídos da seguinte forma: Ninguém 
com 28%; Não sabem com 21 %; Não responderam com 9% e Votos em branco e 
nulos com 3%. O único candidato citado significativamente foi o ex-governador 
do Rio de Janeiro, Sr. Leonel Brizola com 14% de indicações. As demais pre­
ferências pulverizaram-se em torno de mais de 30 nomes, incluindo pessoas já fa­
lecidas, como o ex-presidente Tancredo Neves. 
Quanto ao número de indicações obtido por Leonel Brizola, lembramos que a 
presente pesquisa foi realizada apenas nas cidades do Rio de Janeiro e Niter6i, 
onde o ex-governador é uma figura polêmica. Curiosamente, o mesmo Leonel Bri­
zola foi apontado como "o político que mais se afasta do ideal" (22% das respos­
tas), seguido por Todos (15%) e pelo presidente José Sarney (10%). 
As indicações "pr6" e "contra" Leonel Brizola podem, à primeira vista, pare­
cer contradit6rias mas, numa segunda inspeção, acabam por traduzir fielmente a 
polaridade de posições em torno de sua imagem controvertida. 
Os estudos sobre a percepção da imagem do político terão prosseguimento em 
uma terceira pesquisa, tendo em vista a realização pr6xima de eleições. A julgar 
por nosso trabalho anterior e por uma série de pesquisas que vêm sendo levadas a 
cabo pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) e por outras 
empresas de comunicação, os indícios são bastante desalentadores para partidos e 
postulantes a cargos polfticos. Lembre-se que, já na eleição para a Constituinte, 
houve uma renovação de dois terços com relação aos candidatos a deputado fede­
ral. A descrença, a apatia e a falta de confiança em nossos homens públicos, que 
hoje predominam, poderão se transformar, quando das pr6ximas eleições, na maior 
consagração de votos brancos e nulos da combalida hist6ria da democracia brasi­
leira. 
Referências bibliográficas 
Corga, D. & Rodrigues, A. Internalidade, motivação à realização e mediação cognitiva atri­
bucional ao sucesso e ao fracasso. Arquivos Brasileiros de Psicologia, Rio de Janeiro, FGV, 
38 (3): 78-90, 1988. 
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 5 abro 1988. 
o Globo, Rio de Janeiro, 6 abro 1988. 
50 R.C.P.3/89 
Rodrigues, A. Atribuição de causalidade ao sucesso e ao fracasso como fator mediador de 
reação emocional e de expectativa de comportamento. Arquivos Brasileiros de Psicologia. 
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