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A IMAGEM DO POÚTICO BRASILEIRO PIORANnO O QUE JÁ ERA RUIM Bernardo Jablonski Aroldo Rodrigues Equipe de Pesquisa do Mestrado em Psicologia Social da UGF* I. Introdução; 2. Objetivos e hip6teses; 3. Mitodos; 4. Resulta dos: 5. Discussão. 1. Introdução No processo polCtico, candidatos, programas de ação e fIliação partidária for mam a base que os eleitores utilizam na hora de decidir em quem conflllf seu voto. Nesse sentido, o estudo da imagem pdblica do homem polCtico é fundamental quando se trata de disputas eleitorais democráticas. Curiosamente, o estudo de estere6tipos em relação aos políticos tem merecido reduzida atenção por parte dos psicólogos que se dedicam ao campo da percepção social. Mas, o que se pode constatar, pela leitura dos jornais - através de sucessi vas denúncias de nepotismo, corrupção e ineficiência - e por pesquisas de agên cias especializadas, t é que o estere6tipo em relação ao político não parece ser dos mais positivos. De fato, em pesquisa por nós realizada no Rio de Janeiro, em 1986, pudemos comprovar empiricamente a existência de uma forte percepção negativa para com os políticos lUIcionais.2 Estes eram percebidos (por ordem decrescente de im portância) como ambiciosos, espertos, insinceros, oportunistas, "embromadores", despreocupados com o bem comum e corruptos. Consonante com essa visão, Nenhum foi a resposta mais freqüente à pergunta "Qual o político que a seu ver se aproxima mais do ideal?". Da mesma forma, as características vistas como necessárias ao exercício ideal da atividade política en quadraram-se num conjunto que denominamos "categoria moral" e que se refe rem, dentre outras, à honestidade, sinceridade, humildade, caráter, o que parece indicar que tais qualidades primam pela "escassez" entre nossos homens públicos. Ainda com relação aos objetivos maiores daquele estudo, cumpre observar que não houve diferenças significativas entre os sexos (amostra de 530 sujeitos, sendo 315 do sexo feminino e 215 do masculino) e que encontramos uma certa tendência por parte das pessoas mais idosas no sentido de serem menos rigorosas e críticas • A Equipe de Pesquisa do Mestrado em Psicologia da Universidade Gama Filho é integrada pelos Profs. Aroldo Rodrigues, Bernardo Jablonski e Eveline Maria L. Assmar; e pelos Mestres Marina Monnerat, Kátia Diamico e Danielle Corga; e pelos alunos Marcos Pereira, Mônica Viana, Vera Mattos, (layse S. Pinto e Ve ra Maria Simonetti. 1 S6 para ::itar duas das mais recentes pesquisas, a agencia Tendência, de São Paulo, revela que a credibili dade da classe poIftica alcançou um total de 1,41 ponto numa escala de 1 alO (fonte!JomaldoBrasil, 5 abro 1988), enquanto a Standard. Ogilvy e Matber aponta governo e poIfticos como os "vitoriosos" DO n6mero .ie respostas A indagaçIo "Em quem o povo brasileiro deposita nIDIOi.f confiança?" (fonte O Globo, 6 abro 1988). 2 Trabalho efetuado pela Equipe de Pesquisa do Mestrado em Psicologia da Univeraidade Gama Filho, c0- ordenado pelo Prof. Aroldo Rodrigues, publicado pela revista Psicologin: Teoria e Pesquisa, B-1IIIfiia, 4(1):2-11,1988. R. C. pot, Rio de Janeiro, 32(3)42-51, maiol jul 1989 na avaliação dos políticos. Um outro dado curioso foi a pouca importância que os sujeitos deram à orientação ideológica como fator de escolha de um candidato a cargo poICtico. A fmalidade do presente trabalho é a de acompanhar a evolução do estereótipo em questão no espaço de um ano, acrescida de urna análise acerca da percepção das pessoas sobre as causas do fracasso do Plano Cruzado. Além disso, como na época estava sendo implantado o Plano Bresser, julgamos oportuno investigar as expectativas em relação ao mesmo, a fim de avaliar o fenômeno que se conven cionou chamar de "otimismo ingênuo". Dados de pesquisas anteriores (Rodrigues, 1984; Corga e Rodrigues, 1988) referem que o brasileiro, sob certas condições, exibe uma atitude que consiste na manifestação de uma postura otimista frente a situações futuras, mesmo quando não há razões lógicas ou indicações plausíveis para tal. Frustrações seguidas, fatalismo, estabelecimento de metas irrealistas, pla nejamento inadequado e falta de persistência, entre outros, constituem comporta mentos geralmente associados à atitude de "otimismo ingênuo" Tomadas em conjunto, as respostas a essas indagações - mesmo não identifi cando as causas e as origens do desprestígio que a classe política vem sofrendo ao longo dos anos - podem ser bastante úteis na tornada de consciência dessa "crise de credibilidade" e na avaliação de processos correlatos de igual relevância so cial, tais como, presença ou não de "otimismo ingênuo" nessa área do comporta mento social e conseqüências psicológicas de atribuições causais imobilizantes ou fatalistas. Na seção seguinte, passaremos a expor com mais detalhes nossos objetivos e algumas questões metodológicas que, acreditamos, sejam pertinentes para essa ou outras pesquisas no campo da psicologia social. 2. Objetivos e hipóteses Como já afirmamos na seção anterior, os objetivos maiores do presente trabalho consistem na avaliação da imagem de nossos políticos - contrapondo os novos da dos àqueles já obtidos na primeira pesquisa - e na análise da percepção dos Pla nos Cruzado e Bresser. Essa última indagação, conforme o assinalado, foi introduzida na pesquisa a fun de que pudéssemos obter uma idéia mais clara sobre a relevância e/ou magni tude do fenômeno "otimismo ingênuo". Por outro lado, o tipo de resposta dado a essa questão - causas do fracasso do Plano Cruzado e expectativas quanto ao PIa no Bresser - pode fornecer informações significativas no que se refere à predição de atitudes e comportamentos por parte dos eleitores. Evidentemente, faz diferen ça se, por exemplo, o insucesso de um plano econômico é atribuído a incompetên cia ou à má-fé do Governo, ou ainda à incapacidade do povo, ou mesmo à inter ferência de agentes externos. O grau de "controle" que o cidadão acha que possui sobre o processo político e suas implicações em termos de atitudes ou de compor tamentos futuros pode ser inferido através da análise de certas dimensões inerentes ao tipo de resposta dado. A par destes objetivos, procuramos, a exemplo da pesquisa anterior, aferir o grau de similaridade entre as respostas proferidas por uma amostra universitária e uma amostra colhida aleatoriamente. Como muitos dos estudos no campo são rea lizados com universitários, é fundamental averiguar o grau de compartilhamento atitudinal entre eles e círculos maiores da população brasileira, nos quais os mes mos se inserem. Polltico brasileiro 43 Da mesma fonna, é prop6sito do presente trabalho dar prosseguimento ao estu do da viabilidade do uso do telefone como instrumento de coleta de dados. Em pesquisas de levantamento, as vantagens provenientes de tal utilização - economia de tempo, de recursos e a possibilidade de controle e monitoração subseqüentes aliadas a resultados obtidos anteriormente justificam, a nosso ver, a busca de no vos elementos para reforçar ou não nossa posição a favor de sua utilidade. 3. Métodos 3.1 Sujeitos Tomaram parte nesta pesquisa 597 sujeitos, 300 sujeitos da amostra coletada por telefone (200 do município do Rio de Janeiro e 100 do município de Niter6i) e 297 sujeitos da amostra de estudantes universitários coletada em quatro diferentes instituições de ensino superior do Rio de Janeiro. 3.2 Procedimento Como no estudo anterior, procedeu-se à coleta de dados por telefone e, em sala de aula, com universitários. A coleta de dados por telefone foi feita por quatro en trevistadores que selecionavam o último número do telefone de cada página do catálogo para a chamada. Quando a mesma era completada, o entrevistador dizia: uBom-dia (tarde ou noite), estamos falando do Centro de Pesquisas da UGF e seu telefone foi escolhido ao acaso. Nós estamos realizando uma pesquisa sobre Psicologia'e Política e gostaríamos de lhe fazer algumasperguntas. O Sr. nos p0- deria dar alguns minutos da sua atenção?" Era dado início à entrevista, caso o interlocutor concordasse em participar da pesquisa respondendo às perguntas; caso contrário, outra chamada era feita, e as sim sucessivamente. O tempo médio gasto para cada entrevista foi de seis minutos. As entrevistas foram feitas no mês de agosto de 1987, em todos os dias da se mana, indiscriminadamente, bem como nos períodos da manhã, tarde e noite. A coleta de dados com a amostra umversitária foi levada a cabo em sala de aula através de questionário que os sujeitos respondiam e devolviam ao entrevistador. 3.3 Instrumento O questionário para as duas amostras foi basicamente o mesmo do estudo repli cado, com adição de apenas três itens e modificação na ordem de apresentação das questões. Assim, a primeira questão pedia a opinião do respondente sobre a causa do fra casso do Plano Cruzado, seguida de outra sobre se julgava que o Plano Bresser te ria ou não êxito. Quer sua resposta fosse sim, quer não, perguntava-se o porquê de sua resposta. Estes itens não constavam da pesquisa anterior. Prosseguindo, o sujeito traçava o perfil do pol(tico ideal através de três adjeti vos e respondia qual o pol(tico que mais se aproximava, bem como qual o que mais se afastava do ideal traçado. Depois era perguntado ao sujeito em quem vota ria para o cargo de presidente da República, caso as eleições ocorressem naquele dia, diferindo do primeiro estudo quando se perguntou em quem votaria para o cargo de governador do Estado. 44 R.C.P.3/89 No dltimo item, estavam listados 15 adjetivos que o sujeito deveria responder sim ou não, conforme concordasse ou não com sua aplicabilidade em políticos brasileiros de uma maneira geral, item esse idêntico ao da pesquisa anterior. Por flID, o sujeito informava ao entrevistador sua idade, profissão e sexo. 4. Resultados De início foram calculadas as freqüências, em percentagens, das razões atribuí das ao fracasso do Plano Cruzado tanto para a amostra telefÔnica quanto para a universitária. As razões apresentadas, por ambas as amostras, foram agrupadas em: Governo (59%); Povo (10,5%); Pol(tico (3,5%); Empresários (7%); Desespe rança (2%); Outros (8%); 10% não responderam. Não houve diferença estatisti camente significante entre os entrevistados por telefone e os universitários. Como parcela considerável dos sujeitos, em ambas as amostras, atribuiu ao Go verno Federal a responsabilidade pelo fracasso do Plano Cruzado, apresentando razões muito' diferenciadas, foram estabelecidas quatro categorias diferentes para classificar as respostas, a saber: - incompetencia técnica, em que o fracasso do plano era visto como erro de pla nejamento ou de execução; - moral, incluindo respostas de má-fé do Governo, de defesa propositada de inte resses de certos grupos, acima dos interesses do paes; - manobra eleitoreira, em que o Plano e sua manutenção sem adaptações foram considerados como um interesse do Governo em garantir a vitória nas eleições que se aproxin;Javam; - motivos vdrios, compreendendo respostas de acusação ao presidente da Repd blica e a ministros, além de razões não classificáveis nas categorias anteriores. As freqüências percentuais das razões do fracasso do Plano C(editadas ao Go verno Federal, para cada uma das amostras estudadas foram: Incompetencia técni ca - 36,5%; Moral - 13%; Manobra eleitoreira - 5%; Motivos v4rios - 3,5%. Não houve diferença significativa entre as duas amostras. Em relação à perspectiva de sucesso do Plano Bresser, a magnitude da percen tagem para a resposta Sim foi de 15% e para a resposta Não foi de 85%, conside rando-se o conjunto total de sujeitos. A amostra telefÔnica apresentou uma freqüência em percentagem de 24% para o Sim e 76% para o Não e, a amostra universitária, 5% e 95%, respectivamente. As possíveis razões, atribuídas pelos sujeitos para o fracasso do Plano Bresser, estão assim distribuídas nas percenta gens de freqüência: Governo - 56%; Povo - 6%; Pol(ticos - 4%; Empresários - 3,5%; Desesperança - 8%; Outros - 7%; 15,2% não responderam. Não houve diferença estatística significativa entre as duas amostras. As freqüências, em percentagens, das razões do poss(vel fracasso do Plano Bresser quando atribuído ao Governo Federal foram: Incompetencia técnica - 36%; Moral - 18%; Motivos vários - 2%. A classificação das razões obedeceu os mesmos critérios de categorização estabelecida para o Plano Cruzado, exceção feita à categoria Manobra eleitoreira que não foi apontada. As duas amostras - te lef~nica e universitária - não apresentaram diferença estatisticamente significati va.· No que se refere às características que o político ideal deveria ter, cumpre assi nalar que prevaleceu na presente pesquisa a mesma orientação adotada no estudo anterior e que consiste na classificação das várias características estudadas em seis categorias, a saber: Servidor do Povo - englobando características como preocu- Polltico brasileiro 45 pado com o bem comum, ser bem intencionado, não ser ambicioso, cumprir o que promete, conhecer os problemas do povo e ser democrata; Moral- incluindo as respostas de que o político ideal deveria ser honesto, sincero, humano, humilde, não corrupto, com caráter, coerente e corajoso; Habilidade - onde eram ressalta das características como culto, hábil, lCder, carismático, educado, e com formação política; Desempenho - incluindo respostas que caracterizavam o político ideal como responsável, competente, esforçado, trabalhador, bom administrador, empre endedor, menos demagogo e não omisso; Ideologia - que incluía respostas que qualificavam o político ideal de patriota, idealista, nacionalista e tendo fidelidade partidária; a última categoria, Outros - incluir o restante das respostas não englo badas nos itens acima. Os resultados colhidos nas amostras para as características do político ideal fo ram: Servidor do povo - 16%; Moral - 42%; Habilidade - 15%; Desempenho - 17%; Ideologia - 6%; Outros - 4% . . Se levarmos em conta apenas a magnitude percentual da característica apontada em primeiro lugar para descrever o político ideal, temos os seguintes resultados: Servidor do Povo - ll%;.Moral- 62%; Habilidade - 10%; Desempenho - 9%; Ideologia - 5%; Outros - 3%. As amostras não apresentaram diferença estatística significante entre si. Para a amostra telefônica, o polCtico que mais se aproxima do ideal, percen tua1oJente, é Nenhum com 34%; Não sabe com 14%; Leonel Brizola com 10%; Juscelino Kubitscheck com 3%. E o que mais se afasta do ideal é Todos com 25%; Leonel Brizola com 18%; J~ Sarney com 8%; Moreira Franco com 6%. Para a amostra universitária, os percentuais para o político que mais se aproxima do ideal foram Nenhum com 35%; Não responderam com 15%; Leonel Brizola com 5%; Não sabe com 4%. A freqüência em percentagem para o político que mais se afas ta do ideal foi Leonel Brizola com 26%; Todos com 19%; José Sarney com 11%; Moreira Franco com 8%. Quanto às respostas dos sujeitos sobre em quem votariam, caso a eleição para presidente da República fosse hoje, Ninguém aparece em primeiro lugar com um valor percentual igual a 28%, seguido de Não sabe com 21 %; Leonel Brizola com 14%; Não responderam, 9% e Mdrio Covas com 3%. Foram apuradas também as freqüências em percentagens de concordância com os adjetivos que traçariam o perfll do político brasileiro nas amostras estudadas. Esses resultados são apresentados na tabela 1. O grau de concordância com os adjetivos que compõem o perfil do polCtico bra sileiro foi também avaliado nas três faixas etárias consideradas, com o intuito de se verificar se a percepção do político é afetada pelo fator idade. A tabela 2 mos tra esses resultados. 5. Discussão A primeira constatação que se pode fazer, a partir dos dados acima expostos, é que ocorreu algo que parecia bastante improvável: a imagem dos políticos, que já era ruim em outubro de 1986, piorouem outubro de 1987, com um aumento geral de quase 5% nas avaliações negativas. Os políticos foram percebidos (por ordem decrescente de importância) como ambiciosos, insinceros, embromadores, oportunistas, espertos, despreocupados com o bem comum, corruptos e egoístas - um retrato muito adequado para qual quer categoria que exerça seu ofício à margem da lei, mas bem pouco recomendá- 46 R.C.P.3/89 vel para o grupo de cidadãos que estão, no presente momento, redigindo a nova Constituição Brasileira. Comparando-se com a primeira pesquisa, temos as seguintes ordenações de ad jetivos: o primeiro lugar é o mesmo (Ambicioso), o atual segundo lugar era o ter ceiro (Insincero) e o atual terceiro era o quinto (Embromador). Os, quarto, sexto, e sétimo lugares são os mesmos. As maiores flutuações de um grupo para o outro em termos ordinais ocorreram em tomo dos adjetivos Embromador e Insincero. que passaram a ocupar "melhores" posições e de Esperto, que desceu de posição nesse desabonador ranking de qualificações. Coerentemente com esses resultados, as características ditas "morais" foram ainda mais acentuadas como qualidades fundamentais para os que se dedicam à Tabela 1 Freqüência, em percentagens, de concordância com os adjetivos nas amostras telefônicas e universitárias Amostra Amostra Total Adjetivos Telefônica Ordenação Universitá- Ordenação Ordenação (%) ria (%) (%) Insincero 95 2 98 1,5 97 2 Ambicioso 97 1 98 1,5 98 Mal-intencionado 79 10 87 9 83 9 Incompetente 69 12 67 13 68 13 Emhromador 94 3 95 3 95 3 Não-esforçado 67 13 79 12 73 12 Corrupto 85 8 92 6,5 89 7,5 Egoísta 90 6 88 8 89 7,5 Inculto 37 \4 46 14 42 14 Omisso 81 9 80 11 81 10 Irresponsável 73 11 83 10 78 11 Oportunista 92 4 94 4 93 4 Esperto 91 5 92 6,5 92 5 Não-preocupado 88 7 93 5 91 6 com o bem COlJllJID Não-hábil 30 15 26 15 28 15 P olttico brasileiro 47 Tabela 2 Freqüência, em percentagens, de concordância com os adjetivos nas faixas etárias consideradas Adjetivos Idade Total Até 30 31-50 51 ou mais X 2 p (%) (%) (%) (%) Insincero 97 96 95 97 2,25 n.s. Ambicioso 98 97 98 98 0,05 n.s. Mal-intencionado 85 "84- 75 83 4,68 < 0,01 Incompetente 65 70 72 68 1,99 n.s. Embromador 94 94 95 95 0,20 n.s. Não-esforçado 77 71 58 73 13,20 < 0,001 Corrupto 92 85 8u 89 12,49 < 0,001 Egoísta 87 91 93 89 2,65 n.s. Inculto 41 47 34 42 3,55 n.s. Omisso 79 85 82 81 2,46 n.s. Irresponsável 78 80 73 78 1,38 n.s. Oportunista 93 95 89 93 6,05 n.s. Esperto 90 95 90 92 4,31 n.s. Não-preocupado 91 90 88 91 0,60 n.s. com o bem comum Inábil 28 30 31 28 0,55 n.s. Obs.: os adjetivos nas tabelas 1 e 2 aparecem em forma negativa. atividade política: um total de 62% de respostas como a primeira característica ne cessária, contra 40% da primeira pesquisa. Para os que consideram mais importan te a visão geral proporcionada pelQ conjunto das três respostas dadas, os aspectos "morais" também apresentaram um percentual de 42% contra os anteriores 32%. Da mesma forma, Nenhum foi novamente o polCtico considerado mais próximo do ideal. Com relação à percepção por parte de nossas amostras das causas do fracasso do Plano Cruzado, a maioria dos entrevistados atribuiu-o ao Governo (59%), seja por erros de planejamento e/ou execução (36%), ou seja por má-fé, para benefício 48 R.C.P.3/89 exclusivo de certos grupos, defesa de interesses específicos, etc. (13%) ou, ainda, por motivos diversos (3,5Ck). O item Manobra eleitoreira - apontado por diversos setores especializados dd grande imprensa como uma das principais causas do insucesso do referido Plano - e pelo qual o partido do Governo (PMDB), para ganhar as eleições de novembro de 1986, teria estendido o congelamento dos preços muito além do tempo adequa do, com conseqüências desastrosas - foi citado apenas por 6Ck dos entrevistados. Difícil dizer se esses reduzidos 6% significam que os entrevistados em sua maioria não concordam com tal argumentação ou se essa razão não foi citada por já e~tar incluída em outras categorias, tais como: má-fé, mau planejamento, má execução, etc., todas sob responsabilidade do Governo. Quanto ao Plano Bresser, que estava sendo implantado na época dessa sonda gem, nossa amostra exibiu expressiva e premonit6ria certeza de que o Plano não daria certo (85%). De um modo geral, as culpas foram repartidas majoritariamente dentro do pr6prio Governo, por erros de planejamento (36%) e por má-fé (18%). Entre as diferenças de atribuição de responsabilidade nos fracassos dos dois pIa nos econômicos (um real, acontecido, e o outro como possibilidade futura) pode se constatar, em primeiro lugar, a ausência de respostas em torno da questão Ma nobra eleitoreira, uma vez que não havia eleições à vista naquela época. Em se gundo lugar, observa-se uma diminuição na culpa atribuída ao Povo (De 10,5% para 6%), aos Empresários (de 7,2% para 3,5%), e um aumento bastante signifi cativo nas chamadas "respostas de desesperança", e que se referem a uma atitude generalizada de descrença e apatia traduzidas por expressões do tipo "nada nesse país dá certo"; "nunca sairemos dessa situação"; "o país é ingovernável", etc. (de 2,2% para 8%). Essa atitude de desesperança vai contra as nossas expectativas de encontrar também na política o que Rodrigues (1984) chamou de "otimismo ingênuo", e que citamos na introdução do presente trabalho. O fenômeno em questão, que parece influente em várias situações vividas por brasileiros, pode ter esbarrado, no que tange à política, numa dura realidade como nossas pr6prias pesquisas vêm com provando. Com os quadros políticos que temos no atual Governo, segundo a percepção quase consensual, s6 mesmo um otimismo irracional é que se poderia esperar. Ci te-se, à guisa de ilustração, que o atual Governo Federal, até a presente data, já trocou de ministros 60 vezes (fonte: Jornal do Brasil, 1988). Infelizmente, como a maioria dos estudos em atribuição de causalidade apon tam, alocações desse tipo podem provocar um estado psicol6gico de franca apatia e passividade, que servem inclusive para realimentar essa visão de descrença, criando um pernicioso círculo vicioso. Quando um indivíduo se percebe impotente ou com muito pouco controle sobre os eventos circundantes e supõe uma certa esta bilidade nas razões de ser dessa falta de controle, o que se pode esperar mesmo é um comportamento desinteressado, omisso e negativista. Exatamente o contrário do que se desejaria para a formação de um consenso social com a finalidade de provocar um soerguimento social, moral e econômico do país. Da mesma forma, denúncias de corrupção, sem que o Governo proceda ao exame e punição dos culpados, tendem a provocar a crença de que roubos e preva ricação são estáveis e incontroláveis, portanto impossíveis de serem erradicados. Numa situação como essa, cresce a tentação para o cidadão comum de imitar e tentar repetir, numa escala que lhe é acessível, aquilo que vê dirigentes e detento res do çoder público fazerem impunemente. Quando não é possível derrotar o inimi- Polftico brasileiro 49 go, alie-se a ele. Infelizmente, trata-se de uma aliança onde todos perdem. Dentre outros objetivos, mais uma vez não encontramos diferenças significati vas entre os sexos e, de igual modo, o grupo dos mais idosos mostrou-se meno . rigoroso na avaliação dos políticos, embora essa tendência tenha-se mostrado me nos acentuada. A receptividade para responder entrevistas por telefone caiu significativamente da primeira para a segunda pesquisa (de 7% para 30% de recusas). Em face da ausência de propaganda polftica e da mobilização sempre existente em época de eleições, as pessoas contactadas por telefone não se mostraram tão disponíveis nem entusiasmadas em participar de uma pesquisa, quanto da vez anterior. Finalizando, e em consonância com tudo que foi exposto acima, nossos entre vistados não saberiam em quem votar caso as eleições para a Presidência da Repúblicafossem realizadas na época da sondagem. As respostas negativistas e/ou evasivas atingiram índices de 61 %, distribuídos da seguinte forma: Ninguém com 28%; Não sabem com 21 %; Não responderam com 9% e Votos em branco e nulos com 3%. O único candidato citado significativamente foi o ex-governador do Rio de Janeiro, Sr. Leonel Brizola com 14% de indicações. As demais pre ferências pulverizaram-se em torno de mais de 30 nomes, incluindo pessoas já fa lecidas, como o ex-presidente Tancredo Neves. Quanto ao número de indicações obtido por Leonel Brizola, lembramos que a presente pesquisa foi realizada apenas nas cidades do Rio de Janeiro e Niter6i, onde o ex-governador é uma figura polêmica. Curiosamente, o mesmo Leonel Bri zola foi apontado como "o político que mais se afasta do ideal" (22% das respos tas), seguido por Todos (15%) e pelo presidente José Sarney (10%). As indicações "pr6" e "contra" Leonel Brizola podem, à primeira vista, pare cer contradit6rias mas, numa segunda inspeção, acabam por traduzir fielmente a polaridade de posições em torno de sua imagem controvertida. Os estudos sobre a percepção da imagem do político terão prosseguimento em uma terceira pesquisa, tendo em vista a realização pr6xima de eleições. A julgar por nosso trabalho anterior e por uma série de pesquisas que vêm sendo levadas a cabo pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) e por outras empresas de comunicação, os indícios são bastante desalentadores para partidos e postulantes a cargos polfticos. Lembre-se que, já na eleição para a Constituinte, houve uma renovação de dois terços com relação aos candidatos a deputado fede ral. A descrença, a apatia e a falta de confiança em nossos homens públicos, que hoje predominam, poderão se transformar, quando das pr6ximas eleições, na maior consagração de votos brancos e nulos da combalida hist6ria da democracia brasi leira. Referências bibliográficas Corga, D. & Rodrigues, A. Internalidade, motivação à realização e mediação cognitiva atri bucional ao sucesso e ao fracasso. Arquivos Brasileiros de Psicologia, Rio de Janeiro, FGV, 38 (3): 78-90, 1988. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 5 abro 1988. o Globo, Rio de Janeiro, 6 abro 1988. 50 R.C.P.3/89 Rodrigues, A. Atribuição de causalidade ao sucesso e ao fracasso como fator mediador de reação emocional e de expectativa de comportamento. Arquivos Brasileiros de Psicologia. Rio deJaneiro, FGV, 36 (4): 12-25,1984. Rodrigues, A. et alii. Imagem do político brasileiro. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasflia 4(1): 2-11,1988. P ol/tico brasileiro 51