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Trabalho D Romano -Modernidade

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
	Graduação em Direito 
DIREITO NA MODERNIDADE 
Contagem
2018
DIREITO NA MODERNIDADE 
Trabalho apresentado à disciplina Direito Romano, do curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais 
Professor: Antônio Aurélio de Souza Viana
Contagem
2018
SUMÁRIO
1.	INTRODUÇÃO	4
2.	PROCESSO HISTÓRICO DE MODERNIZAÇÃO DO DIREITO	5
3.	CARACTERÍSTICAS DO JUSNATURALISMO	8
4.	JUSNATURALISMO RACIONALISTA OU MODERNO	9
5.	POSITIVISMO JURÍDICO	14
6.	CONCLUSÃO	17
 REFERÊNCIAS	18
3
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo retratar o processo histórico do Direito na Modernidade, seus desdobramentos, sua aplicação e a ruptura com o Direito Medieval.
Iniciamos pelo processo de modernização do Direito, abordando seu desenrolar, desde os tempos mais remotos, quando o Direito Consuetudinário, ou seja, dos usos e costumes, ditava as regras da organização social. A tradição sagrada não podia ser contrariada e era a única e exclusiva fonte do Direito.
As normas não eram escritas, não existia um arcabouço jurídico regulador e as regras eram impostas de acordo com a religião e as crenças do pater famílias.
O processo de modernização do direito pode ser encarado como uma destradicionalização do direito, que é gradualmente trasladado do campo dos costumes para o campo da política, em uma passagem que modifica profundamente a percepção das relações entre o direito e o indivíduo.
Na sequência tratou-se do Jusnaturalismo e suas principais características. O
primeiro esforço do jusnaturalismo é escapar da esfera teológico-filosófica em que nascera (aristotelismo, tomismo e jesuitismo) para firmar-se como província dos juristas. No entanto, essa afirmação do novo modelo não se deu de forma rápida e imediata, pelo contrário, esse desenvolvimento levou dois séculos, até que o direito natural passou a fazer parte do ensino como base da razão jurídica.
A doutrina jusnaturalista, foi defendida por um grande contingente de autores dedicados às ciências políticas, a saber, Hugo Grócio (1583-1645), Hobbes (1588- 1679), Pufendorf (1632-1694), dentre outros, e serviu de fundamento à reivindicação das duas conquistas fundamentais do mundo moderno no campo político: a tolerância religiosa e a limitação dos poderes do Estado, dando origem ao Estado liberal moderno.
E, finalmente, chega-se ao Positivismo, que evidencia o êxito de uma razão libertadora, que se reflete nos diversos setores da vida dos homens e da organização social como um todo. Essa razão rompe com o religioso, secularizando o conhecimento, conforme os padrões da física, geometria e matemática. Permite ao homem construir o seu destino, livre do jugo da tradição, da tirania, da autoridade e da sanção religiosa. Proporciona, da mesma maneira, o surgimento do paradigma liberal-burguês nas esferas política e jurídica.
2. PROCESSO HISTÓRICO DE MODERNIZAÇÃO DO DIREITO
Entre os séculos XVI e XVIII o mundo passou por inúmeras transformações sociais e políticas em que os antigos costumes tradicionais foram colocados à prova e foram sendo substituídos por uma nova maneira de pensar, de fazer e de agir. (BOBBIO, 1994).
Nos tempos mais remotos, eram os costumes e as tradições que ditavam as regras sociais, todas as normas e leis eram regidas por esses princípios e ninguém tinha autoridade para modifica-los, nem mesmo os chefes políticos, que não podiam alterar os valores sobre os quais eram resguardados o seu poder. A tradição, por ser considerada sagrada, não abria possibilidade para a mudança das normas. (BOBBIO, 1994).
Os valores surgem em uma sociedade como resultados de processos culturais que decorrem da convivência humana. No entanto, em toda sociedade tradicional, os valores não são depreendidos como culturais, mas como naturais, isso quer dizer que a sua validade, não depende da cultura e que, em razão disso, sequer pode ser alterada mediante decisões políticas.(OLIVEIRA, 2015).
O direito consuetudinário era a manifestação da tradição de determinada cultura que instituía aos membros daquele grupo, regras que dispensavam qualquer tipo de justificativa. A supremacia da tradição impedia o seu questionamento, não viabilizando o surgimento de uma mentalidade reflexiva e histórica, capaz de perceber que somente existem valores criados pelo próprio homem. (SOARES,2017).
A evolução do direito moderno vai mudando paulatinamente essa situação, através de um processo de unificação do poder, passando as normas escritas a suprimir progressivamente os costumes, de forma efetiva. (OLIVEIRA, 2015).
É nesse sentido que Oliveira (2015) pontua que:
“[...] O processo de modernização do direito pode ser encarado como uma destradicionalização do direito, que é gradualmente trasladado do campo dos costumes para o campo da política, em uma passagem que modifica profundamente a percepção das relações entre o direito e o indivíduo.” (Oliveira, 2015 p. 1).
Insta destacar que a substituição dos costumes pela lei não se deu de forma rápida, tendo demandado tempo, esforço e porque não dizer até, algumas revoluções, a exemplo da Revolução Francesa (século XVIII) e Revolução Industrial (século XIX). As ideias Iluministas que permeavam a construção desse novo tempo, influenciaram de forma direta o Direito e a construção das leis que passariam a reger a vida em sociedade.(OLIVEIRA,2015).
Porém, acontecimentos anteriores às revoluções acima citadas, foram marcantes na história da humanidade, favorecendo o desenvolvimento do Direito Moderno. Podemos citar, dentre eles, a Reforma Protestante, a chegada dos ingleses à América, as grandes navegações, que tiveram uma forte influência nas relações econômicas, substituindo o mercantilismo, pelo capitalismo. (LOPES, 2014).
“[...] Portanto, a nova teoria do direito, que será elaborada nos séculos XVII e XVIII sob o nome de direito natural, deita suas raízes nestes processos e eventos históricos: desenvolvimento capitalista do mercado, fim da cristandade, conquista da América, afirmação do Estado Nacional [...]”. (LOPES, 2014 p.168).
Para Oliveira (2015), tudo o que vinha sendo, por séculos, aceito passivamente como uma verdade absoluta, passa a ser questionado e modificado. Nasce então uma nova teoria sobre o direito, que foi sendo construída entre os séculos XVII e XVIII, chamada de direito natural. O Homem e a sociedade não são mais vistos como história, mas, antes, como razão e natureza, não como entidades individuais, mas universais. O iluminismo e o direito natural estão intrinsicamente ligados. 
O velho mundo experimentou uma renovação radical, e essa renovação teve reflexo no direito, direito este que remonta ao status naturae, a natureza do homem em si, decorrente das modificações resultantes da ação da civilização sobre o mesmo. O direito natural expressa diferentes significados no curso do tempo. Ao longo de toda a história do pensamento jurídico ocidental, e durante a maior parte da sua existência, o fundamento do direito reiteradamente envolveu uma causa primeira situada em alguma natureza. (COSTA, 2013).
“[...] Para os gregos antigos, constituía um corpo de normas ideais não-escritas (ordem cosmológica ou do mundo das ideias); para os romanos, direito natural era tão-somente a própria lei da natureza (ordem natural das coisas). Já no entender do Homem medieval, esse direito absorvia uma conotação de cunho religioso, sendo, desta feita, vista como uma lei divina, sobrenatural (ordem divina). Por seu turno, o Homem Moderno rejeita a concepção do direito natural como sendo um ideal de justiça supremo maior do que a ordem jurídica positiva. Logo, para os modernos, direito natural está ligado à ideia da natureza humana, aquilo que não é sobrenatural; é a essência do homem, a sua capacidade racional (razão humana).[...]” (COSTA, 2013, p.2).
O início da modernidade vem acompanhado de uma reafirmação do sujeito e da razão individual, criando um ambiente personalista e individualista, berço do jusnaturalismo. O direitonatural é universal, imutável e inviolável, é a lei imposta pela natureza a todos aqueles que se encontram em um estado de natureza. O jusnaturalismo foi o resultado das transformações econômicas e sociais que instituíram mudanças na idealização de poder do Estado, que passou a ser concebido como uma instituição criada através do pacto entre indivíduos, o contrato social. As relações sociais passam a ser regidas pela ética do dever, do cumprimento de regras, de obediência a procedimentos. (HUPFFER,2017).
A paz civil e a prosperidade econômica se tornam o resultado da eficácia da execução dos novos objetivos políticos. O direito nesse sentido se torna um instrumento de estabelecimento da paz civil. A relação entre o direito natural e a economia, é que permite o progresso e a defesa da sociedade. Não só as relações sociais, mas as artes, a literatura, a filosofia, todas caminham no sentido de afirmar o direito natural. (OLIVEIRA, 2015)
Autores conhecidos e renomados como Hobbes e Locke defenderam em suas obras que apenas o contrato torna legítimo o poder do Estado. Locke considerava o trabalho como fundamento originário da propriedade e o contrato como resposta para a sua preservação. A necessidade de superar as possíveis ameaças contra a propriedade (vida, liberdade e bens) levou os homens a se unirem e estabelecerem livremente entre si o contrato social, instrumento que realiza a passagem do estado de natureza para a sociedade política ou civil. (OLIVEIRA, 2015)
3. CARACTERÍSTICAS DO JUSNATURALISMO
O Jusnaturalismo representa a corrente jurisfilosófica de fundamentação do direito justo que nos remete às representações primitivas da ordem legal de origem divina, passando pelos sofistas, estoicos, padres da igreja, escolásticos, racionalistas dos séculos XVII e XVIII, até a filosofia do direito natural do século XX. (AMARO, 2015).
Duas teses básicas do movimento jusnaturalista, podem ser destacadas consoante Norberto Bobbio (1999, pp. 22-23). A primeira tese é a hipótese da existência de duas instâncias jurídicas: o direito positivo e o direito natural. O autor postula em sua obra que o Direito Positivo corresponderia ao fenômeno jurídico concreto, apreendido através dos órgãos sensoriais, se tornando um fenômeno jurídico empiricamente verificável, expresso através das fontes de direito, especialmente, aquelas de origem estatal. Por outro lado, o Direito Natural corresponderia a uma exigência imutável de um direito justo, representada por um valor metafísico de justiça. 
A segunda tese do jusnaturalismo é a superioridade do direito natural em comparação com o direito positivo. O direito positivo deveria, conforme a doutrina jusnaturalista, se moldar aos padrões imutáveis e eternos de justiça. O direito natural enquanto representante da justiça serviria como referencial estimativo (o direito positivo deve ser justo) e ontológico (o direito positivo injusto deixa de apresentar juridicidade), sob pena da ordem jurídica se identificar com a força ou o mero arbítrio. Neste sentido, o direito vale caso seja justo e, pois, legítimo, daí resultando a subordinação da validade à legitimidade da ordem jurídica. (GOUVEIA, 1998).
O jusnaturalismo moderno é uma novidade que rompe com a tradição estabelecida do direito comum do antigo regime caracterizado por ser profundamente corporativista, estamental e tradicional, configurando-se como uma luta contra o antigo regime, o sistema medieval de estudo, ensino, submissão aos costumes e tradições. A nova ideologia do direito natural advinda dos juristas filósofos, foram relevantes nas revoluções francesas, burguesas e americana, uma vez que ela se torna a responsável pela derrubada da tradição medieval incrustrada nas instituições políticas. (HUPFFER, 2017).
No sentido de reiterar o que foi dito, Lopes (2014) afirma em sua obra que “o primeiro esforço do jusnaturalismo é escapar da esfera teológico-filosófica em que nascera (aristotelismo, tomismo e jesuitismo) para firmar-se como província dos juristas”. No entanto, essa afirmação do novo modelo não se deu de forma rápida e imediata, pelo contrário, esse desenvolvimento levou dois séculos, até que o direito natural passou a fazer parte do ensino como base da razão jurídica.
Segundo Oliveira (2015), ainda que se guie pela busca de uma justiça eterna e imutável, a doutrina do direito natural ofereceu, diversos fundamentos para o entendimento de um direito justo ao longo da história ocidental. Nesse caso, o Jusnaturalismo pode ser, a grosso modo, agrupado nas seguintes categorias:
a) Jusnaturalismo Cosmológico - vigente na antiguidade clássica;
b) Jusnaturalismo Teológico - surgido na Idade Média, tendo como fundamento jurídico a ideia da divindade como um ser onipotente, onisciente e onipresente;
c) Jusnaturalismo Racionalista - surgido no seio das revoluções liberais burguesas do século XVII e XVIII, tendo como fundamento a razão humana universal;
d) Jusnaturalismo Contemporâneo - gestado no século XX, que enraíza a justiça no plano histórico e social, atentando para as diversas acepções culturais acerca do direito justo.
4. JUSNATURALISMO RACIONALISTA OU MODERNO
A doutrina jusnaturalista, foi defendida por um grande contingente de autores dedicados às ciências políticas, a saber, Hugo Grócio (1583-1645), Hobbes (1588-1679), Pufendorf (1632-1694), dentre outros, e serviu de fundamento à reivindicação das duas conquistas fundamentais do mundo moderno no campo político: a tolerância religiosa e a limitação dos poderes do Estado, dando origem ao Estado liberal moderno. (HUPFFER, 2017).
Grócio é considerado o precursor do Jusnaturalismo Moderno, sendo o primeiro intelectual a realizar a ruptura entre o direito natural e a religião, isto é, os princípios norteadores (as leis naturais) que são a base das leis positivas e, consequentemente, definem o comportamento humano na sociedade, não advém da vontade divina, mas agora deriva exclusivamente da razão. (LOPES,2014).
A teoria do direito natural foi conduzida por Grócio ao mesmo plano racional da matemática, para o qual o próprio Descartes (1596-1650) quis levar a filosofia e todas as outras pesquisas científicas. (LOPES, 2014).
O fundamento da obra de Grócio, é o recurso à razão matemática, a qual os filósofos do século XVII julgavam estar confiadas as verdades da ciência. Segundo Grócio, a matriz do direito natural é a própria natureza humana, que conduziria os homens às relações sociais mesmo que eles não tivessem necessidade uns dos outros. (LOPES, 2014).
A base do direito natural de acordo com Grócio se firma em dois elementos: a plena razão e o anseio para a convivência em sociedade. Ele se baseia no argumento de que o homem possui um imenso desejo de se estabelecer em um grupo social e por intermédio de sua razão extrai as leis naturais. Logo, a razão deixa de ser uma espécie de “ponte de ligação” entre os homens e Deus como acontecia no Jusnaturalismo Medieval e passa a ser compreendida tal como uma “faculdade cognoscitiva das verdades fundamentais da vida social” leciona o professor Alexandre Travessoni (2004).
Grócio, postula que há duas formas para reconhecer o direito natural: a forma a priori e o meio a posteriori. O primeiro é mais eficaz, pois almeja o direito natural na sua própria fonte de origem: na reta razão e na sociabilidade humana. A segunda via, por sua vez, busca o direito natural na ideologia jurídica das nações civilizadas, ou seja, os seus Estados são frutos do contrato estabelecido entre os homens, que entregam o seu poder para um governante, este se reveste de autoridade e legitimidade para estabelecer a ordem na sociedade, seja mediante à lei ou o uso da força. Ademais, o governante está precisamente vinculado ao direito natural. (TRAVESSONI, 2004).
O Jusnaturalismo de Grócio, portanto, separou o direito natural da religião. A lei natural, que anteriormente, tinha a sua origem na vontade divina, torna-se proveniente da razão. Assim, o homem que possui como instinto o anseio de conviver em sociedade, reconhece as leis naturais, por meio darazão e, a partir disso, elabora as leis positivas, tendo como objetivo as normas naturais. (TRAVESSONI, 2004)
A obra do inglês Thomas Hobbes também foi de grande relevância para a construção do Jusnaturalismo Moderno. O segredo para compreender a teoria hobbesiana é compreender o que ele diz sobre o estado de natureza. O teórico político é contratualista, afirma que a origem do Estado e/ou da sociedade está em um contrato. (LOPES, 2014).
O estado de natureza, para Hobbes, não significa que a humanidade vivia em plena harmonia com a natureza propriamente dita, ou ainda, que o homem natural era primitivo e selvagem. Quando ele aborda este tema ele se refere ao homem de qualquer época e contexto, questionando-se como é o homem, naturalmente. 
A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vido do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isso em conjunto, a diferença de um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele. (Hobbes, 2006 p.74)
Para ele, os homens não são absolutamente iguais (aspectos físicos, mentais), no entanto, a natureza fez os homens tão semelhantes a fim de que nenhum possa se sobrepor totalmente ao outro. Além do mais, Hobbes apresenta uma nova concepção sobre à natureza humana: admite a tensão existente na convivência entre os homens, que a nossa essência é falha, egoísta, que somos movidos por paixões e alimentamos a discórdia por três motivos: por competição, pela desconfiança e na busca constante pela glória. (LOPES, 2014).
Existe uma lei máxima neste estado de natureza, semelhante à cristã que nos diz que não devemos fazer ao outro, aquilo que não desejamos que seja feito a nós mesmos. Esta lei natural provém da racionalidade humana visando a manutenção da própria espécie. Todavia, essa lei suprema torna-se inútil e ineficaz, pois não há um Estado estabelecendo a ordem pelo uso da força para que esta norma seja cumprida, ademais, nesta circunstância, como bem expôs Francisco Weffort: “Todo homem é opaco aos olhos de seu semelhante – eu não sei o que o outro deseja, e por isso tenho que fazer uma suposição de qual será a sua atitude mais prudente, mais razoável. Como o outro também não sabe o que eu quero, também é forçado a supor o que farei.”. Desse modo, tendo em vista à errante natureza humana, a incessante busca pela sobrevivência e pelo poder, seguir a lei natural se tornaria algo irracional, sendo a atitude mais racional a antecipação e o uso da violência para a conservação da própria vida. O estado de natureza, portanto, gera insegurança, pois não há quem nos defenda de nós mesmos. Não havendo soberania, não há igualdade e todos estão livres para agirem de acordo com suas próprias convicções, usando o seu próprio poder, para se manter em segurança. (VANIN, 2015).
Para pôr fim ao conflito entre os homens, Hobbes propõe o contrato. Existe duas razões para o homem abandonar o estado de natureza: pelo medo da morte e por necessidade racional de elaborar normas. Os homens, seres dotados de razão, se reúnem e concordam que deve existir um poder soberano e pactuam, cedendo os seus direitos naturais, excluindo o bem fundamental, a vida, para o governante. O poder do Estado deve ser pleno, absoluto, ilimitado e capaz de resolver os infortúnios dentro do corpo social, cabendo ao governante o dever de elaborar boas leis civis e edificar um Estado forte, sólido, dotado de espada, armado a fim de salvaguardar as leis civis ou positivas e estabelecer a ordem e a integridade da nação. Caso o súdito desobedeça às normas, arcará com as sanções estatais. (HOBBES2006).
Logo, no Jusnaturalismo hobbesiano, a concepção de justo e injusto são estabelecidas pelo governante. Como já foi dito, ele irá elaborar as leis civis (positivas) com uma finalidade: o soberano irá instaurar a paz, para proteger a vida do seu súdito. A lei natural, portanto, é insuficiente para estabelecer a ordem na sociedade, dessa forma, constituído o Estado, apenas a lei positiva possui força vinculante. (TRAVESSONI, 2004).
Para Pufendorf, assim como para Hobbes, o princípio supremo do direito natural expressa a exigência da coexistência pacífica entre os homens. Graças a Grócio, Hobbes e Pufendorf, a doutrina tradicional do direito natural transformou-se em técnica racional das relações humanas, que, embora estritamente dependente do conceito de racionalidade geométrica predominante na época, constitui uma noção que ainda hoje poderia ser recuperada com vistas a uma teoria geral do direito. (LOPES, 2014).
O Estado é considerado pelo Jusnaturalismo moderno mais como obra voluntária dos indivíduos do que como instituição necessária por natureza. Para os jusnaturalistas modernos, os indivíduos saem do Estado de natureza e fazem surgir o Estado politicamente organizado e munido de autoridade, com a finalidade de garantir os seus direitos naturais; o Estado é legítimo na medida em que e enquanto cumpre esta função essencial, que lhe foi outorgada por intermédio do pacto firmado entre os cidadãos e o soberano (contrato social). Direitos inatos, estado de natureza e contrato social, ainda que entendido de forma diversa pelos vários escritores, são os conceitos característicos do Jusnaturalismo moderno. (OLIVEIRA, 2015).
O ideal jusnaturalístico do século XVIII teve assim grandes resultados políticos dentre os quais se pode destacar: a doutrina do direito natural foi a inspiração para a Declaração da Independência dos Estados Unidos da América (1776), primeira a afirmar que todos os homens são possuidores de direitos inalienáveis, como o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade; a Declaração dos direitos do homem e do cidadão (1789) também é carregada de conteúdo jusnaturalista, um dos primeiros atos da Revolução Francesa, onde se proclamam igualmente como “direitos naturais” a liberdade, a igualdade, a propriedade, etc. (OLIVEIRA, 2015).
Já no século XVIII a doutrina jusnaturalista teve outros efeitos de suma importância. Sentiu-se uma forte necessidade de reformas legislativas que dessem certeza ao direito; o direito absoluto e universalmente válido, norteado pela razão, era capaz de oferecer as bases doutrinais para uma reforma legislativa baseada na razão. Foi este o propósito do direito positivo que teve origem entre o fim do século XVIII e inícios do XIX. Uma vez que o direito havia sido positivado por meio das leis, não se via nem admitia outro direito senão este. Prevaleceu o princípio de que para qualquer caso se pode encontrar solução dentro do ordenamento jurídico do Estado. (OLIVEIRA, 2015).
No princípio do século XIX, o Jusnaturalismo passou por um processo de modificação pelo historicismo jurídico alemão (“escola histórica do direito”). Os juristas da escola histórica qualificaram o Jusnaturalismo como carregado de um abstratismo intelectualista ao pretender determinar normas e valores inatingíveis pelo futuro, eternos e imutáveis. O Jusnaturalismo no decorrer do século XIX, caiu em total descrédito. Sobreviveu apenas em sua forma católica, baseada na doutrina das leis de Santo Tomás, servindo, sobretudo de instrumento de contestação da legitimidade do Estado liberal e constitucional. O adjetivo jusnaturalista passou a ser usado pelos juristas em sentido depreciativo, não se entendendo mais por jurídico senão o que concerne ao direito positivo. (OLIVEIRA, 2015).
5. POSITIVISMO JURÍDICO
Como já mencionado anteriormente, coube ao movimento iluminista estruturar o inovador projeto da modernidade, inaugurando, de modo triunfal, a idade da razão. A essência da modernidade é, sem dúvida, a confiança na capacidade racional do ser humano. Os modernos atribuem à razão papel central no processo intelectual. A razão moderna compreende mais do que simplesmente uma faculdade humana. (COSTA, 2013).
A ideia de uma modernidade evidencia o êxito de umarazão libertadora, que se reflete nos diversos setores da vida dos homens e da organização social como um todo. Essa razão rompe com o religioso, secularizando o conhecimento, conforme os padrões da física, geometria e matemática. Permite ao homem construir o seu destino, livre do jugo da tradição, da tirania, da autoridade e da sanção religiosa. Proporciona, da mesma maneira, o surgimento do paradigma liberal-burguês nas esferas política e jurídica. (SOARES, 2017).
Com o crescimento da soberania nacional muito do direito romano (que era objeto essencial na cultura jurídica universitária) tende a perder sua importância, pois, os juristas precisaram estudar cada vez mais do direito nacional, pátrio, régio ou costumeiro, fruto da vontade ou tolerância do soberano. (LOPES, 2014). O conceito de estado de direito é o principal para se entender a modernidade jurídica, que Norberto Bobbio chama de “estatização do direito e juridificação do estado”. 
Na segunda metade do XVIII, os juristas, superam o direito medieval, prestadas as devidas homenagens a seus antecessores, e mantendo a língua comum do direito, o latim. Segundo Lopes (2014, p.2012) “[...] tal tarefa é devoradora do esforço intelectual dos jusnaturalistas, à medida que eles, com sua antropologia individualista e sua razão jurídica geometrizante, permitem a novidade dos códigos [...]”.
Surge no século XVIII a ciência positiva, ou positivista, que permitiu aos juristas a sensação de estarem atualizados com o desenvolvimento geral do pensamento. Eles elegeram um objeto e o privilegiaram; a lei, o ordenamento positivo. (LOPES, 2014).
“[...] Essa eleição só foi possível justamente porque o Estado moderno, em processo de transformação para o Estado Liberal, havia conseguido estabelecer-se com a centralização das suas fontes normativas, com a centralização da jurisdição e com o ideário do constitucionalismo, pelo qual toda a normatividade dependia de regras constitucionais. [...]”. (Lopes, 2014, p. 213).
O positivismo se tornou o responsável pelo rompimento com o senso comum, conservador e fixista, ao postular que só poderia existir o direito e consequentemente a justiça através de normas positivadas, ou seja, normas emanadas pelo Estado com poder coercivo, podemos dizer que são todas as normas escritas, criadas pelos homens por intermédio do Estado. Segundo Lopes (2014, p. 217), “[...] ao método positivista associa-se a concepção voluntarista do direito. [...]”. Deixa de ser a regra de deliberação ou razão prática dos clássicos, e passa ser a legalidade, como expressão da vontade do legislador. O direito positivo é aquele que o Estado impõe à coletividade, e que deve estar adaptado aos princípios fundamentais do direito natural. 
No entanto, essa concepção, não se configura como um absolutismo ou autoritarismo. Existe um controle do “legislador”, que limita o exercício arbitrário do poder, essas limitações ocorrem, por exemplo, através das votações, eleições, impugnações às decisões, definição de procedimentos e conteúdos mínimos indispensáveis, hierarquização de fontes, etc. (SOARES, 2017).
O Estado Liberal clássico, que nasce com o positivismo jurídico, inaugura o relacionamento entre o sistema político e a sociedade civil, relação essa que é intermediada pelo ordenamento jurídico que delimita os espaços políticos e societários. Advém do juspositivismo, o princípio de separação dos poderes, destinado a conter o absolutismo. Na evolução da sociedade moderna, o direito, a política e a economia estiveram intrinsicamente ligados. (OLIVEIRA, 2015).
O positivismo jurídico normativista é a segunda grande matriz do pensamento jurídico moderno e, em suas diversas variações, tornou-se a concepção dominante no direito no decorrer do século XIX e ainda hoje domina o senso teórico dos juristas. Para manter essa posição hegemônica por tanto tempo, esse positivismo teve de modificar-se várias vezes, incorporando parcela das críticas que outras teorias concorrentes levantaram, mas sempre mantendo um certo núcleo: a pretensão de constituir em uma avaliação objetiva do direito positivo. Postula Oliveira (2015):
“[...] O positivismo maduro é um discurso que se pressupõe científico, na medida em que elege um objeto empírico determinado (o direito positivo), um arsenal teórico comum (a teoria geral do direito) e um método específico (os métodos de interpretação apresentados por cada escola para proporcionar uma compreensão objetiva do direito positivo) [...]”. (Oliveira, 2015, p.2)
Temos então uma separação entre a filosofia e a ciência, separação essa que permitiu que um mesmo jurista harmonizasse dentro de si o jusracionalismo contratualista dominante na filosofia jurídica (que lhe reforça o compromisso com o sistema e assegura um sentido ético para sua própria atividade) e o positivismo dominante no discurso prático (que se limita à construção de uma dogmática que exclui de si mesma todo debate filosófico). (OLIVEIRA, 2015).
Os novos juristas têm pela frente a difícil tarefa de superar o direito medieval, tarefa essa que só foi concluída a partir da segunda metade do século XVIII como nos relata Lopes (2014). O programa da modernidade vai dirimir num processo de racionalização global da sociedade, que acaba por vincular a razão às exigências do poder político e à lógica específica do desenvolvimento capitalista. (SOARES, 2017). 
6. CONCLUSÃO
Com o advento da modernidade amplia-se a dimensão racional. A racionalidade é inserida no processo comunicativo das relações sociais, políticas e econômicas. A modernidade jurídica é reformulada, baseada nas novas filosofias que surgiram a partir dos ideais iluministas. O movimento iluminista estruturou o inovador projeto da modernidade, inaugurando, de modo triunfal, a idade da razão. A teoria e a prática jurídicas passam a enfatizar o estabelecimento das condições de decisão dos litígios, potencializando o uso do convencimento e de técnicas persuasivas pelos operadores do direito. O Estado Liberal clássico, que nasce com o positivismo jurídico, inaugura o relacionamento entre o sistema político e a sociedade civil, relação essa que é intermediada pelo ordenamento jurídico que delimita os espaços políticos e societários. O estado não é mais o centro do poder legítimo, nem tampouco a única fonte de autoridade, reconhecendo o pluralismo social, e a participação dos grupos na organização política do Estado. A ideia de uma modernidade evidencia o êxito de uma razão libertadora, que se reflete nos diversos setores da vida dos homens e da organização social como um todo.
REFERÊNCIAS
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GOUVEIA, Alexandre Grassano F. Direito Natural e Direito Positivo. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/6/direito-natural- e-direito- positivo/3&gt> Acesso em: 13 outubro 2017.
HOBBES, Thomas. Leviatã. Ed. Martin Claret, São Paulo, 2006.
HUPFFER, Haide Maria. O legado do jusnaturalismo moderno-iluminista para à
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Disponível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index. php?n_link=r evista_ artigos_ leitura&amp;artig_id=9694&gt. Acesso em 13 outubro 2017.
LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história: lições introdutórias. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 166-220 p.
OLIVEIRA, Adeilson de. O Direito na modernidade: Um passeio pela história do Direito moderno. Disponível em: <https://adeilsonfilosofo.jusbrasil.com.br/artigos/ 236729171/o-direito-na-modernidade> Acesso em 12 outubro 2017.
SOARES, Ricardo MaurícioFreire. O projeto da modernidade e o direito. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/623/r147-21.pdf?seq uenc e= 10&gt>. Acesso em 13 out. 2017.
TRAVESSONI GOMES, Alexandre. O Fundamento de Validade do Direito- Kant e Kelsen. 2ºed.rev.e ampl. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004.
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VILLEY, Michel. Filosofia do Direito. Editora Martins Fontes, 2003.
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