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AULA 2 NOVAS TECNOLOGIAS EM PESQUISA MERCADOLÓGICA Prof.ª Shirlei Camargo 2 CONVERSA INICIAL Olá, caro aluno! Vamos dar início ao aprendizado das novas tecnologias em pesquisa de mercado. Começamos estudando como a tecnologia tem modernizado as formas tradicionais de se fazer pesquisa, tornando-as muito mais acessíveis e diversas em relação aos participantes, que agora podem estar em qualquer lugar do mundo! TEMA 1 – SURVEY ON-LINE Antes de abordar as surveys on-line, você precisa ter uma noção de como eram feitas anteriormente. Por exemplo, você sabe o que é survey? Survey, também chamado de levantamento, nada mais é que o nosso conhecido questionário. Por muitos anos, as surveys eram realizadas por correio, telefone ou pessoalmente (algumas ainda são feitas assim). Cada um desses métodos tinha suas vantagens e desvantagens. Vamos a eles? • Correio: método de baixo custo, pois mesmo pagando a postagem do questionário preenchido, não é necessário pagar o entrevistador e inexistem gastos com deslocamentos e alimentação. Para o entrevistado, é interessante, pois ele pode responder quando achar mais adequado. Contudo, o respondente não consegue tirar dúvidas, e ainda é preciso acreditar que o questionário foi respondido realmente pelo público-alvo. Além disso, o participante deve ter a boa-vontade de ir até o correio para enviar suas respostas (mesmo a postagem sendo paga, muitas pessoas têm preguiça). Além disso, alguém vai precisar tabular todos os questionários (digitar os dados em uma tabela). • Telefone: apesar da necessidade de contratar entrevistadores, eles podem trabalhar de casa; logo, não há necessidade de pagar alimentação e deslocamento. Também é interessante se o entrevistado apresentar dúvida, pois pode tirá-la na hora. Outra vantagem é que o entrevistador pode digitar as respostas diretamente em uma planilha, não sendo necessário tabular os dados. A desvantagem é que, se for necessário apresentar uma imagem, por exemplo, esse método fica inviável. • Pessoalmente: certamente é o método mais caro, pois é necessário arcar com os custos dos entrevistadores, além de deslocamento e refeição. Contudo, é um dos melhores métodos caso seja necessário mostrar Usuário Destacar 3 alguma imagem ou no caso de um questionário mais complexo, pois o respondente pode tirar eventuais dúvidas na hora, durante o preenchimento. O ideal é que o entrevistador utilize um tablet ou equipamento similar para que possa digitar as repostas, senão os dados precisarão ser tabulados. Claro, corre-se o risco de que um entrevistador de má-fé acabe preenchendo os questionários. No entanto, como você deve ter percebido, essas abordagens tradicionais de coleta de informações nem sempre conseguem resultados rápidos, apresentando também custos viáveis, além de não acompanharem as mudanças tecnológicas e a dinâmica das populações. Portanto, com o crescente uso da internet, as pesquisas em ambiente virtual se tornaram uma tendência na coleta de dados (Faleiros et al., 2016). O questionário eletrônico (survey on-line) é aquele que utiliza meio eletrônico para a sua aplicação (Silva et al., 1997). Inicialmente, o questionário eletrônico era enviado por e-mail ou disponibilizado em páginas da internet (Vasconcellos; Guedes, 2007). Atualmente, é muito comum que essas pesquisas sejam enviadas por WhatsApp e até disponibilizadas em posts nas redes sociais. Embora os mais jovens continuem a apresentar a maior taxa de uso da internet, a adesão de pessoas de faixas etárias mais avançadas vem aumentando ano a ano. Assim, a utilização da internet possibilita a melhoria e a agilidade do processo de pesquisa (Faleiros et al., 2016). No entanto, ela não é indicada caso o público-alvo da pesquisa seja composto somente de idosos ou de pessoas de baixa renda, que nem sempre têm acesso à internet. Para construir formulários eletrônicos, podem ser utilizados uma série de softwares, inclusive de forma não paga, como SurveyMonkey, Qualtrics e Google Forms. Vamos conhecê-los? • SurveyMonkey: em 1999, Ryan Finley, fundador da SurveyMonkey, teve uma ideia que revolucionaria a maneira como as pesquisas eram feitas (Susteren, 2019). Emergiu rapidamente como uma força crescente na comunidade on-line. Parte desse crescimento tem a ver com seu marketing e estratégia inteligentes, mas uma parte ainda maior é por conta da acessibilidade que oferece (Online Market, 2021). O SurveyMonkey é uma ferramenta prática para fazer pesquisas quantitativas e qualitativas com base na coleta de dados. Ideal para fazer formulários de TCCs, Usuário Destacar Usuário Destacar 4 dissertações ou teses, a plataforma oferece recursos simples e práticos para criar questionários na versão gratuita. No entanto, a interface do site pode ser complicada justamente por apresentar recursos demais, com anúncios constantes dos planos pagos (Ribeiro, 2018). • Qualtrics: fundada em 2002 por Schott M. Smith, Ryan Smith, Jared Smith e Stuart Orgill. A ideia de Scott, professor de pesquisa de marketing, era criar uma ferramenta para pesquisa on-line, que fosse ao mesmo tempo sofisticada e fácil de usar (Feinauer, 2013). O Qualtrics têm abordagem mais profissional, com recursos mais robustos e possibilidade de criar painéis longitudinais (pesquisar as mesmas pessoas ao longo do tempo), porém não é tão prática como o Survey Monkey (Online Market, 2021). • Google Forms: trata-se de uma ferramenta gratuita; por conta disso, algumas funções são limitadas. Ao mesmo tempo, cumpre muito bem a função de elaborar questionários eletrônicos (Online Market, 2021). As respostas da pesquisa são armazenadas em planilhas que podem ser visualizadas em forma de gráficos. Há diferentes tipos de perguntas e formas de entrada para as respostas, além de quebras de seções, possibilidade de envio de arquivos e exibição de imagens ou vídeos. Ainda, pode-se utilizar a pergunta baseada na resposta, em que o usuário é direcionado a uma próxima questão do formulário conforme a resposta que deu na pergunta anterior (Oliveira; Wilver; Jacinski, 2017). Figura 1 – Google Forms na versão mobile Créditos: Dennizn/Shuterstock. Por fim, esses questionários, além de serem on-line, agora podem ser acessados de forma ainda mais prática pelos respondentes: por meio do QR code! 5 TEMA 2 – PESQUISAS POR QR CODE Certamente, você já deve ter ouvido falar de QR Code, pois seu uso é cada vez mais comum. A sigla significa Quick Response Code, ou Código de Resposta Rápida. Apesar de ter se popularizado somente há alguns anos, foi criado em 1994 pela empresa japonesa Denso-Wave (do Grupo Toyota) para facilitar a classificação das peças de carros (Andrion, 2019). Trata-se de uma evolução do código de barras, que existe desde 1970, tendo revolucionado a identificação de produtos. O QR Code, diferente do código de barras, que usa apenas a dimensão vertical, usa as duas: a vertical e a horizontal. Pode ser lido pelas câmeras da maioria dos celulares ou por meio de aplicativos específicos (Andrion, 2019). Aquele código tradicional, composto por várias barrinhas e comum nas embalagens de alimentos, por exemplo, é lido por uma luz que é emitida por leitores específicos que analisam esse tipo de imagem. O aparelho lança um feixe iluminado (uma espécie de laser vermelho) e os intervalos pretos e brancos do código de barras refletem um padrão de volta para a máquina. Essa resposta é processada pelo leitor, que traz as informações alfanuméricas sobre o produto quando ele passa no caixa de supermercado, por exemplo (Karasinski, 2013). Já o QR Code trabalha de maneira diferente. Como é formado por duas dimensões, e até mesmo devido à sua complexidade, pode ser lido digitalmente. Portanto, enquanto a câmera do smartphone captura a imagem, um programa específico utiliza o processadorpara compreender todas as informações do código (Karasinski, 2013). A vantagem é que ele leva a pessoa diretamente onde se deseja, sem que ela precise digitar endereços em navegadores de smartphones (tarefa que pode ser árdua em alguns aparelhos). Em 2015, o WhatsApp adotou o QR Code ao criar uma versão para computador, o WhatsApp Web. A validação do usuário é feita quando ele espelha o aplicativo na web (Andrion, 2019). Atualmente, os QR Codes são utilizados para que as pessoas tenham mais informações sobre um produto, local ou anúncio publicitário. Ou seja, ao invés de digitar a URL (link), basta tirar uma foto do QR Code e o celular automaticamente o direciona para uma página web que contém informações sobre aquilo em que ele está interessado (Teixeira, 2012). https://olhardigital.com.br/noticia/whatsapp-lanca-versao-para-pc/46366 Usuário Destacar Usuário Destacar 6 Obviamente, logo os pesquisadores tiveram a ideia de utilizar o QR Code em pesquisas. Isso porque ele é uma forma mais rápida de alcançar ainda mais respondentes, pois os questionários eletrônicos podem assim ser compartilhados no mundo físico, por cartazes, panfletos, embalagens de produtos e muito mais (Rosenblum, 2021). Por exemplo, em um evento ou congresso, o QR code pode ser espalhado por paredes e murais, para que os participantes respondam ao questionário na hora, enquanto a experiência ainda está fresca na mente. Ou ainda, pode estar aficionado em recibos, no cardápio ou na embalagem dos produtos, para que os consumidores avaliem o produto/serviço (Rosenblum, 2021). O SurveyMonkey já oferece a opção de criar QR codes. No Google Forms, é possível copiar o link da pesquisa e colá-lo em uma das várias opções on-line gratuitas, como o QR Code generator ou QR Code fácil. É só fazer um cadastro e usar gratuitamente. Segue o link de acesso, em QR Code. TEMA 3 – GRUPO FOCAL ON-LINE Caro aluno, você já escutou a frase duas cabeças pensam melhor do que uma? Então, na pesquisa essa máxima também pode ser útil conforme o contexto. Um exemplo seriam os grupos focais, conhecidos também como grupos de foco ou focus group. Segundo Malhotra (2006), grupo focal é uma entrevista realizada de maneira informal e natural, por um moderador treinado, com um pequeno grupo de pessoas. Nesta estratégia de coleta, há um ganho significativo quando o pesquisador coloca pessoas para conversarem sobre um problema, produto, anúncio etc. Ou seja, o grupo produz mais informações, e com maior riqueza de detalhes do que se conseguiria ao fazer essas entrevistas de forma individual. Usuário Destacar 7 Essa técnica surgiu nos anos 1950, na sociologia, com Robert Merton, convidado por Paul Lazarsfeld para estudar a audiência de um programa de rádio. Merton notou que era difícil para as pessoas expressarem a sua opinião sobre filmes e programas quando eram entrevistadas sozinhas. Posteriormente, ele usou o que chamou de entrevista focalizada em grupo, no Exército, trabalho que resultou na publicação do Focus Group. Ao longo do tempo, os procedimentos foram modificados até chegar no modelo que conhecemos hoje (Roso, 1997). Devido aos custos relativamente menores na obtenção de dados válidos e confiáveis obtidos em pouco tempo, seu uso tem aumentado nas pesquisas de mercado (Trad, 2009). Segundo Oliveira, Wilber e Jacinski (2007), os grupos focais devem reunir de 8 a 13 pessoas, em um ambiente informal e descontraído, para trocarem ideias durante 1-3 horas, sobre produtos, serviços, anúncios etc. Essas reuniões devem ser filmadas/gravadas obviamente com o consentimento dos participantes. Grande parte do sucesso de um grupo focal depende do moderador, que pode ser o próprio pesquisador. Essa pessoa deve ser delicada, mas firme se necessário; permissiva, mas atenta a sinais de problemas de falta de cordialidade ou foco; deve também estimular a participação de todas as pessoas; solicitar mais informações quando houver alguma dúvida; ser capaz de improvisar e alterar o planejado se necessário (Malhotra, 2006) No entanto, há algum tempo pesquisadores perceberam a vantagem de fazer os grupos focais eletronicamente. Os grupos focais on-line – também chamados de grupos focais virtuais, mediados por computador ou eletrônicos – são grupos focais que têm lugar na internet, em que os participantes e o moderador se comunicam pelo computador (Bordini; Sperb, 2013, p. 196). Edmunds, no final da década de 1990 (1999), já afirmava que montar um grupo focal virtualmente reduziria os custos, permitindo a participação de respondentes espalhados geograficamente e/ou difíceis de serem recrutados offline. Também alegava que realizar o grupo focal on-line era conveniente e confortável para os participantes. Além disso, poderia garantir o seu anonimato (Duarte, 2007). Na época, por conta da tecnologia, eram apontadas entre as desvantagens a qualidade da imagem e a velocidade da internet, que realmente eram fatores limitantes. No entanto, atualmente esses dois aspectos problemáticos já foram minimizados, e não se configuram mais como empecilhos. Contudo, permanece a desvantagem de que participarão apenas as pessoas com acesso à internet, o 8 que pode ser uma limitação, dependendo do público-alvo estudado (Duarte, 2007). Por exemplo, pessoas com mais idade, com dificuldade de utilizar tais tecnologias, ou classes C e D, muitas vezes não têm acesso a internet e computadores. Porém, se esse não for o foco da empresa, é possível desenvolver grupos focais online de forma produtiva, utilizando site de videoconferências como Zoom, Microsoft Teams e Google Meet, plataformas impulsionadas pela pandemia do covid-19. Vamos conhecer um pouco mais sobre elas (Tillman, 2020): • Zoom: serviço de videoconferência que permite a gravação das sessões, o que é essencial para que o pesquisador faça as suas análises. No momento, o Zoom tem mais de 300 milhões de usuários diários. Além do baixo custo, é muito fácil de usar, podendo ser acessado facilmente, tanto do computador como do celular. Também permite o compartilhamento de tela e áudio (útil para mostrar mídias aos participantes). No entanto, apesar de permitir reuniões individuais ilimitadas, a versão gratuita restringe as sessões de grupo a 40 minutos e 100 participantes. Figura 2 – Plataforma de videoconferências Zoom Créditos: Daniel Constante/Shuterstock. • Microsoft Teams: baseado no chat do Microsoft 365 (antigo Office 365), foca em bate-papos virtuais. Recentemente, atingiu 44 milhões de usuários diários, sendo utilizado inclusive por empresas, organizações, escolas e faculdades. As reuniões podem ser facilmente configuradas por seu calendário, além da possibilidade de ligar para os membros ausentes da equipe durante a reunião. Ainda, conteúdos podem ser criados em conjunto e tela e áudios podem ser compartilhados. Em termos de videoconferência, 9 traz a capacidade de hospedar chamadas com até 250 membros, contudo na tela aparecem no máximo nove pessoas ao mesmo tempo. Também possibilita gravar os encontros. • Google Meet: antigo Hangouts Meet, é uma solução de videoconferência integrada a Gmail, YouTube e Google Voice, além de ter aplicativos para iOS e Android e rodar na maioria dos navegadores. É uma plataforma útil e econômica, tanto para pequenas como grandes empresas. Tem uma interface muito leve e rápida, que permite reuniões com até 250 pessoas. Atualmente, atende cerca de 100 milhões por dia. O Google Meet aceita até 250 participantes por chamada, transmitindo ao vivo para até 100 mil espectadores em um domínio. Também permite gravar as reuniões. Ainda é possível ver 16 participantes da chamada ao mesmo tempo. Esses aplicativos podem ser usados também no nosso próximo tema. Vamos a ele! TEMA 4 – ENTREVISTAS EM PROFUNDIDADE COM WEBCAM As entrevistas em profundidade sãomuito valiosas para obter informações relevantes. De acordo com Malhotra (2006), a entrevista em profundidade é um método de obtenção de dados qualitativos. Ela é definida como não estruturada (não apresenta perguntas fechadas, trazendo respostas prontas; não é preciso seguir uma ordem); pode durar de 30 minutos a 1 hora; apresenta abordagem direta, pessoal, em que um único respondente é entrevistado por um pesquisador treinado com o objetivo de descobrir motivações, crenças, atitudes e sensações sobre um determinado assunto. Nessa técnica, o entrevistador deve: (1) evitar parecer superior; (2) ser imparcial e objetivo; (3) formular perguntas de maneira informativa; (4) não aceitar repostas do tipo sim ou não; e (5) sondar o entrevistado para encontrar informações insuspeitas (Malhotra, 2006). Ainda, indica-se que o pesquisador tenha um roteiro para seguir (não um questionário), e que não esquecer de nada, partindo sempre de questões amplas (por exemplo: por que as pessoas gostam de chocolate?). A ideia é que as respostas necessárias surjam conforme a conversa flui. Esse tipo de técnica tem por objetivo descrever as coisas, sem uso de estatística ou matemática, buscando entender o ponto de vista das pessoas sem a preocupação de generalizar os seus resultados, ou seja, busca-se afirmar Usuário Destacar Usuário Destacar 10 que os achados são expansíveis a toda população estudada. O que se busca são indícios, insights, difíceis de conseguir por métodos quantitativos. Porém, no marketing, as decisões devem ser tomadas de forma cada vez mais rápida, fazendo com que os projetos de pesquisa tenham prazos mais curtos, com menos gastos. Ainda, muitas vezes os participantes têm dificuldade em relação à disponibilidade de tempo e deslocamento para participar dessas entrevistas (Weber; Mota; Antonacachi, 2019). Por essas razões, novas metodologias qualitativas digitais vêm surgindo, com a finalidade de oferecer soluções para esses e outros desafios. Segundo o relatório anual de 2018 da Esomar para a indústria (Esomar Global Market Research 2018), 43% da pesquisa qualitativa global é realizada usando metodologias on-line (Weber; Mota; Antonacachi, 2019). Graças à evolução das tecnologias, hoje é possível realizar pesquisa de mercado on-line a custos acessíveis, mantendo a mesma riqueza nas respostas geradas pelas entrevistas face to face (De Oliveira et al. 2009). Assim, as entrevistas em profundidade podem ser realizadas em plataformas de videoconferências, como as apresentadas no tema anterior ou ainda por chamadas de vídeo via WhatsApp, Skype ou similares do mercado. TEMA 5 – NETNOGRAFIA Antes de falar de netnografia, precisamos entender o que é a etnografia. Trata-se de uma estratégia de pesquisa originada na sociologia. De acordo com Angrosino (2009), ela se preocupa em descrever grupos humanos, suas estruturas, seus comportamentos, o que produzem e o que acreditam. Ou seja, se ocupa em estudar o cotidiano das pessoas. Por exemplo, Castilhos (2007), ao fazer uma etnografia, ficou morando durante 15 dias em uma comunidade na cidade de Porto Alegre, para entender o consumo das famílias de baixa renda. No entanto, Silva (2015), ao comentar a obra de Kozinets (2014), afirma que o advento da internet mudou completamente a nossa sociedade, levando ao surgimento da netnografia, uma forma especializada de etnografia que utiliza comunicações mediadas por computador como fonte de dados para chegar à compreensão e à representação etnográfica de um fenômeno cultural na internet. Assim, a abordagem etnográfica foi adaptada para estudar fóruns, grupos de notícias, blogs, redes sociais etc. Segundo Costa et al. (2017), em análise da obra de Kozinets (2014), os netnógrafos devem seguir alguns procedimentos: Usuário Destacar Usuário Destacar 11 • Entrada: é a escolha da comunidade on-line a ser pesquisada, com temas e questões a serem levantados, formulação da pergunta de pesquisa e a maneira como o pesquisador se insere e apresenta no grupo pesquisado. • Coleta de dados: segundo Kozinets (2014), existem três tipos: o Dados retirados de comunicações mediadas por computador/celular nas páginas do grupo observado (comunidades virtuais, blogs, redes sociais) ou em textos, imagens, áudios ou vídeos com cuja criação e mediação o pesquisador não esteja diretamente envolvido. o Dados criados pelo próprio pesquisador durante a interação com os membros das comunidades (como entrevistas por e-mail, bate-papo, mensagens instantâneas e outros meios digitais). o Notas de campo do pesquisador (observações) sobre as práticas dos membros, suas interações e interpretações, bem como a própria participação e o senso de pertencimento do pesquisador no grupo. • Análise e interpretação: processo de interpretação dos dados coletados anteriormente, a partir da literatura existente e dos dados emergentes. O pesquisador pode, nas fases de coleta e análise de dados, utilizar ferramentas para facilitar o processo, específicas para dados qualitativos como webQDA, Nvivo e Atlas.ti. Para trazer qualidade à pesquisa, o autor comenta que é importante pedir a validação do relatório de pesquisa para o grupo pesquisado. Um ponto superimportante é a questão ética (Kozinets, 2014, p. 132). Quatro passos são importantes nesse aspecto: identificar-se e informar os constituintes relevantes sobre a pesquisa; pedir permissões apropriadas; obter consentimento quando necessário; citar e dar o devido crédito aos membros (Costa et al., 2017). Vejamos um exemplo de uso da netnografia para pesquisa de mercado: uma indústria de calçados queria chamar a atenção do público jovem da classe C, mas não sabia por onde começar para introduzir seus produtos para esse público. Por meio de uma pesquisa netnográfica, analisaram os perfis dos adolescentes e descobriram que seus hobbies favoritos eram praia e churrasco. Também concluíram que as meninas gostavam de acessórios e roupas sensuais, e que os meninos preferiam exibir bens de alto valor agregado (Alesse, 2012). Dessa forma, conseguiram elaborar estratégias mais efetivas. 12 REFERÊNCIAS ALASSE, L. Netnografia se consolida como ferramenta estratégica. Mundo Marketing, 2012. Disponível em: <https://www.mundodomarketing.com.br/report agens/digital/22990/netnografia-se-consolida-como-ferramenta- estrategica.html>. Acesso em: 31 out. 2021. ANDRION, R. Você sabe o que é o QR Code? A gente explica. Olhar Digital, 2019. Disponível em: <https://olhardigital.com.br/2019/09/14/seguranca/voce- sabe-o-que-e-o-qr-code-a-gente-explica/>. Acesso em: 31 out. 2021. ANGROSINO, M. Etnografia e observação participante: coleção pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2009. BORDINI, G. S.; SPERB, T. M. Grupos focais online e pesquisa em psicologia: revisão de estudos empíricos entre 2001 e 2011. Interação em Psicologia, v. 17, n. 2, 2013. CASTILHOS, R. B. 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