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Psicopedagogia no ambiente escolar

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Pós Graduação - Psicopedagogia e Psicopedagogo – Ambiente Escolar 
2 PSICOPEDAGOGIA E PSICOPEDAGOGO – AMBIENTE ESCOLAR
A origem da Psicopedagogia
A Psicopedagogia tem sua origem na Europa, após serem detectados dificuldades de aprendizagem e a necessidade de justificar as desigualdades sociais.
No final do século XIX ampliou-se a oferta de ensino público e consequentemente descobriram-se as dificuldades no processo de aprendizagem dos alunos. 
No início, a preocupação era somente com o ensino, porém, com o passar do tempo, algumas dificuldades de aprendizagem surgiram, e passaram a ser tratados de maneira reeducativa, ou seja, contratava-se um professor particular para reeducar a criança. 
 Estudiosos da área passaram a discutir na tentativa de contribuir e solucionar as dificuldades. Foi então que a Psicopedagogia surgiu, atuando na área clínica e institucional com caráter preventivo e terapêutico.
Em 1946 surgiram os primeiros Centros Psicopedagógicos. Conforme Mery apud Bossa (2007), J. Boutonier e George Mauco foram os criadores e através destes centros queriam unir a psicologia, psicanálise e pedagogia para a realização dos tratamentos. Ali, eram recebidas crianças que apresentavam comportamentos considerados inadequados, tanto na escola quanto em casa, e ainda aquelas que demonstravam alguma dificuldade na aprendizagem.
No século XX, nos Estados Unidos, surgem as primeiras escolas particulares que atendiam as crianças com “aprendizagem mais lenta”
A formação universitária em Psicopedagogia tem seu início em 1956, na Argentina com Arminda Aberastury. Então, na década de 70, surgiram os Centros de Saúde Mentas onde Psicopedagogos realizavam diagnóstico e tratamento.
A Psicopedagogia chega ao Brasil em 1970, com da influência da Argentina. Esta foi introduzida segundo os modelos médicos de atuação e foi dentro desta concepção de problemas de aprendizagem que se iniciaram cursos de formação de especialistas em Psicopedagogia na Clínica Médico-Pedagógica de Porto Alegre, com a duração de dois anos (Id. Ibid., 2000, p. 52). 
Depois disso, vem a criação dos primeiros cursos com enfoque psicopedagógico na PUC, São Paulo. Criação do primeiro curso regular em Psicopedagogia (1979 – Instituto Sedes Sapientiae). Criação da Escola Guatemala (Trabalho de ação preventiva junto aos educadores = busca de saídas para impropriedades de ensino) no Rio de Janeiro. Surgimento dos cursos de especialização Lato Sensu em Psicopedagogia em São Paulo, posteriormente noutras regiões do Brasil. Criação da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp, em 1980 em São Paulo (Amorim, 2011).
Os primeiros passos da psicopedagogia no Brasil ocorreram em um período no qual os problemas de aprendizagem eram tratados como disfunção cerebral mínima (DCM).
Para entender como surgiu a Psicopedagogia, recorremos a Fagali e Vale (2009), que destacam que essa área da Educação surgiu devido à necessidade de compreender os problemas de aprendizagens e sua relação com o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo, implícitas nas situações de aprendizagem. 
A Psicopedagogia ao longo da sua trajetória histórica busca a compreensão do ser que aprende, do processo de ensino/aprendizagem e das dificuldades e transtornos que podem emergir (BARBOSA, 2001). Complementando Portilho (2003,p.125) define: 
 Psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem do ser humano que na sua essência é social, emocional e cognitivo- o ser cognoscente, um sujeito que para aprender pensa, sente e age em uma atmosfera, que ao mesmo tempo é objetiva e subjetiva, individual e coletiva, de sensações e de conhecimentos, de ser e vir a ser, de não saber e de saber. Essa ciência estuda o sujeito na sua singularidade, a partir do seu contexto social e de todas as redes relacionais a que ele consegue pertencer [...].
Hoje em dia, a preocupação da Psicopedagogia se volta, de maneira mais ampla, para a compreensão do processo de aprendizagem, seja no ambiente escolar ou fora dele, considerando a influência dos fatores físico, emocional, psicológico, pedagógico, social, cultural etc.
Definindo Psicopedagogia
Para melhor entender o termo psicopedagogia, é necessário um exame de seu prefixo “psico” e da raiz “pedagogia”. Os prefixos “psic”, “psico” e “psiqu”, vêm do grego “psykhe”, e formam palavras com o significado de alma, ideia também absorvida pela cultura romana.
Já o termo pedagogia se origina na Grécia antiga. Ao ser realizada uma ação educativa nasce a pedagogia para recolher dados sobre estas circunstâncias educativas, reunindo-as, estudando-as, sistematizando-as. Etimologicamente, pedagogia deriva do grego “paidos”, que significa criança, e “agein”, que significa guiar, conduzir. Desse modo, o pedagogo é o responsável por instruir as crianças.
A psicopedagogia vem da união dos conhecimentos de duas áreas, a psicologia e a pedagogia, tendo como propósito compreender o processo que leva o ser humano a se apropriar e construir o conhecimento.
Neves (1991) indica que a psicopedagogia ao estudar o ato de aprender, considera as realidades externas e internas da aprendizagem, buscando compreender a construção de conhecimentos em toda a sua complexidade.
Reportamos aos estudos de Ujiie (2016, p.13), conceituando psicopedagogia:
A Psicopedagogia é uma área de estudo que tem como objetivo a aprendizagem humana, que em sua natureza sistemática é ação social, cognitiva e emocional. Por esta via, a Psicopedagogia é uma ciência abrangente com duplo enfoque: clínico e institucional, ou seja, o atendimento individual e/ou coletivo de sujeitos aprendentes.
Segundo Visca (1987) a Psicopedagogia é uma área que estuda o processo de aprendizagem humana. Recorremos ainda aos estudos de Serafini et. al (2011,p. 51) para conceituar a aprendizagem: 
 Aprendizagem é um processo que envolve vínculos individuais e coletivos que resultam das interações do sujeito com o meio, da ação do cuidador e das articulações entre o saber e o não saber. É um processo permeado, no caso do ser humano, por um clima e um tom socioafetivo, que produz instrumentos para mudar a si e ao mundo e vice- versa. É um movimento que envolve o mundo íntimo, a subjetividade, o desejo e , também, o contexto no qual se dá. É o processo de conhecer, o processo de vida que se dá por articulações possíveis e que amplia os domínios cognitivos para conexões cada vez mais complexas.
A psicopedagogia muito tem contribuído para explicar a causa das dificuldades de aprendizagem, pois tem como foco o estudo do processo humano do conhecimento: seus padrões evolutivos normais e patologias bem como a influência (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento (SCOZ, 1992).
A Psicopedagogia é orientada por alguns princípios:
• Prevenção: Algumas atitudes que levam o indivíduo a não ter mais dificuldades de aprendizagem, aprendendo a lidar com elas.
• Desenvolvimento: Leva o indivíduo a não apenas superar as dificuldades de aprendizagem, como também aprimorar suas capacidades, indo além.
• Ação social: Leva o sujeito a interagir com os outros e a construir relações positivas.
De acordo com Gonçalves (2002, p.42) “as relações com o conhecimento, a vinculação com a aprendizagem, as significações contidas no ato de aprender, são estudados pela Psicopedagogia a fim de que possa contribuir para a análise e reformulação de práticas educativas e para a ressignificação de atitudes subjetivas”
No ambiente escolar, a psicopedagogia entra como uma estratégia que permite uma ação preventiva, orientando professores e familiares a identificar sinais de que há alguma diferença significativa entre o aprendizado de um aluno.
A psicopedagogia não pode ser definida simplesmente como uma aplicação da psicologia à pedagogia, porque ela tem como objetivo estudar sobre como os sujeitos aprendem e como podem aprender melhor.
Ela age na vida do aluno, mediando seu processo de ensino e aprendizagem, ou na vida do educador anexando conhecimentos e técnicas para a superação das dificuldades e melhoria da aprendizagem do sujeito.O Psicopedagogo
O psicopedagogo é o profissional que estuda os métodos de aprendizagem identificando dificuldades e os transtornos que atrapalhem na apropriação do conteúdo, permitindo-se usar conhecimentos da psicologia e da antropologia para esquadrinhar o comportamento do indivíduo.
Barbosa e Souza (2010) ressaltam que ser psicopedagogo consiste em "ser incentivador e cuidador dos processos de construção de euscognoscentes; portanto, não se trata de ensinar e muito menos de psicoterapeutizar." 
Segundo o Código de Ética do Psicopedagogo (ABPp, 2011, p. 2.): A formação do psicopedagogo se dá em curso de graduação e/ou em curso de pós-graduação – especialização “lato sensu” em Psicopedagogia, ministrados em estabelecimentos de ensino devidamente reconhecidos e autorizados por órgãos competentes, de acordo com a legislação em vigor. 
Além disso, o Código de ética do Psicopedagogo no seu artigo 6º aponta que: Estarão em condições de exercícios da Psicopedagogia os profissionais graduados e/ou pós-graduados em Psicopedagogia - especialização "lato sensu" - e os profissionais com direitos adquiridos anteriormente à exigência de titulação acadêmica e reconhecidos pela ABPp.
 É indispensável submeter - se à supervisão psicopedagógico e recomendável processo terapêutico pessoal. Ou seja, para exercer a Psicopedagogia, é necessária uma formação profissional que atenda esses critérios.
Além de atuar em prol da solução ou prevenção das dificuldades de aprendizagem, esse profissional pode, e deve pensar em formas variadas para melhorar a qualidade do ensino nas escolas (SCOZ, 1994).
Seu alvo, então, deve compreender como absorvemos o conhecimento, desde que nascemos até a fase adulta. Assim, ele terá a oportunidade de identificar problemas, ou até mesmo transtornos, e encontrar opções para melhorar o processo de ensino aprendizagem e assegurar que os conteúdos possam ser assimilados e compreendidos. 
Cabe também, ao psicopedagogo, identificar a origem do problema, que pode ser mental, social, física e mesmo emocional. O psicopedagogo também pode atuar no desenvolvimento de atitudes preventivas, a partir do acompanhamento, sobretudo de crianças.
A atuação do Psicopedagogo na escola
É inegável que as escolas enfrentam um grande desafio na contemporaneidade: lidar com as dificuldades de aprendizagem e ao mesmo tempo projetar uma ideia de intervenção que venha contribuir para a superação dessas mesmas dificuldades.
Assim que detectadas as dificuldades travadas pelo sujeito na escola, uma intervenção deve ter como foco: prevenir e minimizar o fracasso nas séries seguintes, levando em conta que o aluno não tem culpa pela não aprendizagem; chamando, assim, a escola para que repense sua atuação. Pois: 
 
 Há o perigo de a Escola, diante de qualquer comportamento divergente de seus alunos, encaminhar essas crianças para as classes especiais, sem antes realizar uma reflexão profunda sobre as mesmas. Qualquer rotulação é uma tendência reducionista, pois muitas vezes rotula-se a criança sem que sejam pesquisadas as condições em que o problema ocorreu [...] não se pode, portanto, colocar crianças em classes especiais, sem a indicação da equipe multiprofissional, cuja orientação é imprescindível (BOLETIM DE EDUCAÇÃO, 1998, p. 12). 
Esse é o motivo pela qual, aparecem com frequência as “crianças problemáticas”, rotuladas como fracassadas e carregando sempre esse fardo no seu histórico de vida.
 Assim, é possível perceber a importância do Psicopedagogo Institucional, que se baseia, a priori, na observação e análise profunda de uma situação concreta promovendo orientações práticas na escola de acordo com a individualidade de cada educando.
Uma vez que cada criança aprende de modo diferente, vemos a importância do psicopedagogo no âmbito escolar, portanto, faz-se necessário um olhar e uma ação diferenciada em cada instituição com os alunos que apresentam algum tipo de dificuldade de aprendizagem ao decorrer da Educação Básica. 
O psicopedagogo pode atuar no contexto escolar, tanto ajudando a identificar as dificuldades apresentadas pelos alunos quanto auxiliar na escolha de estratégias mais eficazes de ensino e até mesmo no aprimoramento do currículo escolar.
Ele pode também propor e ajudar no desenvolvimento de projetos favoráveis às mudanças educacionais, intencionando à descoberta e o desenvolvimento das habilidades do educando, e ainda contribuir para que os alunos possam observar o mundo e interpretá-lo. 
Segundo Bossa (2000), a presença de um psicopedagogo no contexto escolar é essencial, ou seja, ele tem muito que fazer na escola. A sua intervenção inclui: 
•Orientar os pais;
 •Auxiliar os educadores e consequentemente à toda comunidade aprendente;
 •Buscar instituições parceiras (envolvimento com toda a sociedade); 
•Colaborar no desenvolvimento de projetos (Oficinas psicopedagógicas);
 •Acompanhar a implementação e implantação de nova proposta metodológica de ensino; 
•Promover encontros socializadores entre corpo docente, discente, coordenadores, corpo administrativo e de apoio e dirigentes.
É fundamental reconhecer que mudanças têm ocorrido nas diversas etapas de desenvolvimento da criança, pois a infância e a adolescência já requerem novos olhares por parte dos educadores, psicopedagogos, psicólogos e pediatras. 
Portanto, é essencial que haja uma discussão a respeito do processo da qualidade da educação e a cooperação de outros profissionais neste processo. 
Diante de tantos desafios ao se lidar com as dificuldades de aprendizagem, percebe-se a importância a função e a contribuição de um psicopedagogo no contexto escolar.
Segundo Firmino (2001) as evidências sugerem que um grande número de alunos possui características que requerem atenção educacional diferenciada. Assim, a psicopedagogia auxilia educadores a aprofundarem seus conhecimentos não somente sobre as teorias da aprendizagem, mas as recentes contribuições de diversas áreas do conhecimento, redefinindo-as numa ação educativa.
A Psicopedagogia é uma área multidisciplinar, portanto, deve auxiliar o sujeito no processo de ensino-aprendizagem, e ainda propor estratégias que o ajude a vencer suas dificuldades. Seu trabalho vai além de conteúdos didáticos, afetando as áreas afetiva, moral e cognitiva.
Nas palavras de Bossa (1994, p. 45):
A aprendizagem, afinal, é responsável pela inserção da pessoa no mundo da cultura. Mediante a aprendizagem, o indivíduo se incorpora ao mundo cultural, com uma participação ativa, ao se apropriar de conhecimentos e técnicas, construindo em sua interioridade um universo de representações simbólicas.
Segundo a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), cabe à atividade psicopedagógica:
a) promover a aprendizagem, contribuindo para os processos de inclusão escolar e social;
b) compreender e propor ações frente as dificuldades de aprendizagem;
 c) realizar pesquisas científicas no campo da psicopedagogia; e 
d) mediar conflitos relacionados aos processos de aprendizagem.
Não se pode pensar que a atuação psicopedagógica contempla apenas sujeitos com necessidades educacionais especiais. Essa tarefa vai muito além, ela oferece auxílio a todas as pessoas, em qualquer etapa de desenvolvimento, desde as menores até as abordagens na terceira idade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa contempla reflexões relevantes englobando a área da Psicopedagogia e a atuação do psicopedagogo no contexto escolar. Percebe-se que a psicopedagogia contribui de forma significativa no sucesso de todos os sujeitos aprendentes que se encontram nos ambientes escolares.
O psicopedagogo atua com caráter preventivo, procurando criar capacidades e habilidades para solucionar os mais variados problemas, existentes no âmbito escolar. Estimula o desenvolvimento de relações interpessoais, o estabelecimento de vínculos, a utilização de estratégias de ensino compatíveis com as mais recentes concepções a respeito desse processo. Envolve a equipe gestora, ampliando o olhar ao aluno e as circunstâncias de aquisição do conhecimento, auxiliando-o nasuperação dos obstáculos que ele encontra na busca da aprendizagem.
 Por isso faz-se necessário que este profissional adquira amplas informações acerca dos transtornos e das dificuldades de aprendizagem no contexto educacional, a fim de discutirem sua prática, para que mediante as suas ações possa formar cidadãos 
Discutir esta temática é fundamental ao trabalho do professor e do pedagogo, pois, seu olhar deve ser criterioso e sistêmico, ciente de sua responsabilidade na mediação de dificuldades, pesquisando quais metodologias devem ser adotadas, a fim de contribuir positivamente para a superação das dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos educandos.
Pensando assim, é importante salientar que a atuação do educador e do psicopedagogo deve estar voltado para as potencialidades de cada criança, e não apenas para as dificuldades, para que a criança não seja rotulada, numa fase em que estas dificuldades podem apenas ser transitórias, e uma vez identificadas, com intervenção eficiente, logo serão superadas
Nesta direção, conclui-se que, a psicopedagogia é uma área ampla que necessita de constante pesquisas e o psicopedagogo é um profissional que age de forma preventiva e intervém para a melhoria da aprendizagem das crianças, considerando sua individualidade, potencialidades e dificuldades distintas.

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