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Anderson Soares 5ºP IESVAP consciência FUNÇÕES PSÍQUICAS Correspondem ao mundo interior, instintos, desejos, emoções, lembranças, juízos, raciocínios percebidos por uma consciência. A vida interior é observável pelos outros, sob a forma de comportamento: a palavra, os gestos, a conduta. O papel das grandes funções mentais é garantir a adaptação do indivíduo em seu mundo. Se divide em consciência, atenção, orientação, vivências do tempo e do espaço, sensopercepção, memória, afetividade, vontade e psicomotricidade, pensamento, juízo de realidade, linguagem. Funções psíquicas elementares Consciência Definições: Neuropsicológica: Estado vígil, grau de clareza do sensório. É o estado de estar desperto, acordado, vígil, lúcido. Trata-se especificamente do nível de consciência. Psicológica: soma total das experiências conscientes de um indivíduo em determinado momento. Nesse sentido, consciência é o que se designa campo da consciência. É a dimensão subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se volta para a realidade. Na relação do Eu com o meio ambiente, a consciência é a capacidade do indivíduo de entrar em contato com a realidade, perceber e conhecer os seus objetos. Ético-filosófica: termo “consciência” refere-se à capacidade de tomar ciência dos deveres éticos e assumir as responsabilidades, os direitos e os deveres concernentes a essa ética. Nível de consciência Segundo o RDoC – sistema Reserach Domain Criteria, o nível de consciência é o continuum de sensibilidade e alerta do organismo perante os estímulos, tanto internos como externos. As principais características e propriedades são: 1. O nível de consciência facilita a interação da pessoa com o ambiente de forma adequada ao contexto no qual o sujeito está inserido (p. ex., em situações de ameaça, alguns estímulos podem ser ignorados, e, ao mesmo tempo, a sensibilidade para outros, mais relevantes, pode estar aumentada, expressando o chamado estado de alerta). 2. O nível de consciência adequado pode ser evocado tanto por estímulos externos ambientais como por estímulos internos, como pensamentos, emoções, recordações. 3. O nível de consciência pode ser modulado tanto pelas características dos estímulos externos como pela motivação que o estímulo implica para o indivíduo em questão. 4. O nível de consciência varia ao longo de um continuum que inclui desde o estado total de alerta, passando por níveis de redução da consciência até os estados de sono (variação normal) ou coma (variação patológica). Bases anatômicas O primeiro elemento do sistema nervoso relacionado ao nível de consciência é o chamado sistema reticular ativador ascendente (SRAA). A capacidade de estar desperto e agir conscientemente depende da atividade do tronco cerebral e do diencéfalo. Essas estruturas exercem poderosa influência sobre os hemisférios cerebrais, ativando-os e mantendo o tônus necessário para seu funcionamento normal. O SRAA se origina no tronco cerebral, e sua ação se estende até o córtex, por meio de projeções talâmicas. Elementos do SRAA particularmente importantes para a ativação cortical são os neurônios da parte superior da ponte e os do mesencéfalo. Tais neurônios recebem impulsos da maioria das vias ascendentes, as quais trazem estímulos intrínsecos (proprioceptivos e viscerais) e extrínsecos (órgãos dos sentidos: visão, audição, tato, paladar e olfato). Lesões ou disfunções no SRAA produzem alterações do nível de consciência e prejuízo a todas as funções psíquicas. consciência Anderson Soares 5ºP IESVAP É de fundamental importância, para a atividade mental consciente, a atividade do lobo parietal direito, o qual está intimamente relacionado ao reconhecimento do próprio corpo, dos objetos e do mundo, assim como da apreensão daquilo que, convencionalmente, se denomina realidade. Também as áreas pré-frontais são fundamentais na organização da atividade mental consciente. Por fim, reconhece-se a importância das interações talamocorticais na ativação e na integração da atividade neuronal cortical relacionada à consciência. O tálamo é uma estrutura posicionada singularmente no centro do cérebro para filtrar, integrar e regular as informações que chegam ao córtex cerebral, dados que partem da periferia do organismo e meio externo e se dirigem ao córtex cerebral. O tálamo é extensiva e reciprocamente interligado a todas as áreas do córtex cerebral, de forma que uma pequena lesão talâmica pode produzir graves alterações do nível de consciência, como, por exemplo, o delirium. Por fim, deve-se ressaltar a importância das estruturas encefálicas do lado direito (parietais, frontais e mesmo talâmicas) na origem dos transtornos da consciência. Campo da consciência Ao voltar-se para a realidade, a consciência demarca um campo, no qual se pode delimitar um foco, ou parte central mais iluminada da consciência, e uma margem (franja ou umbral), que seria sua periferia menos iluminada, mais nebulosa. Segundo a psicopatologia clássica, é na margem da consciência que surgem os chamados automatismos mentais e os estados ditos subliminares. Atenção É a direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto. Refere-se ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar as informações em unidades controláveis e significativas. A atenção é um construto psicológico complexo que se refere a uma variedade de componentes, sendo eles, principalmente: 1) início da atividade consciente e focalização; 2) atenção sustentada e nível de alerta (vigilance); 3) atenção seletiva ou inibição de resposta a estímulos irrelevantes; e 4) capacidade de mudar o foco de atenção (set-shifting), ou atenção alternada. O sistema Research Domain Criteria (RDoC) conceitualiza a atenção afirmando que ela engloba um conjunto de processos mentais que regulam o acesso a sistemas cognitivos de capacidades limitadas. Tais sistemas incluem a consciência (awareness), processos perceptivos e a ação motora. Orientação É a capacidade de situar-se quanto a si mesmo e quanto ao ambiente. A capacidade de orientar-se é classificada em autopsíquica e alopsíquica. A orientação autopsíquica é aquela do indivíduo em relação a si mesmo. Revela se o sujeito sabe quem é: seu nome, idade, profissão, estado civil, com quem mora, etc. Já a orientação alopsíquica diz respeito à capacidade de orientar-se em relação ao mundo, isto é, quanto ao espaço (orientação espacial ou topográfica) e quanto ao tempo (orientação temporal). Vivências do tempo e espaço As vivências do tempo e do espaço constituem-se como dimensões fundamentais de todas as experiências humanas. O ser, de modo geral, só é possível nas dimensões reais e objetivas do espaço e do tempo. Portanto, o tempo e o espaço são, ambos, condicionantes fundamentais do universo humano e estruturantes básicos da nossa experiência. O espaço e o tempo são dimensões básicas, que possibilitam todo e qualquer conhecimento, intrínsecas ao ser humano como ser cognoscente. Não se pode conhecer realmente nada que exista fora do tempo e do espaço, como Deus, a liberdade ou a alma humana. Pode-se pensar sobre elas, mas nunca conhecê-las objetivamente, pois não se dão no tempo e no espaço. São categorias do conhecimento humano, pois são entidades potenciais ou ocas que embora sejam necessárias ao conhecimento e estejam presentes no interior do homem, só adquirem plena realidade quando preenchidas por objetos do conhecimento. Sensopercepção Define-se sensação (fenômeno passivo)como o fenômeno elementar gerado por estímulos físicos, químicos ou biológicos variados, originados fora ou dentro do organismo, que produzem alterações nos órgãos receptores, estimulando-os. Os estímulos sensoriais fornecem a alimentação sensorial aos sistemas de informação do organismo. As diferentes formas de sensação são geradas por estímulos sensoriais específicos, como visuais, táteis, auditivos, olfativos, gustativos, proprioceptivos e cinestésicos. Por percepção (fenômeno ativo), entende-se a tomada de consciência, pelo indivíduo, do estímulo sensorial. Arbitrariamente, então, se atribui à sensação a dimensão neuronal, ainda não plenamente consciente, no processo de sensopercepção. Já a percepção diz respeito à dimensão propriamente neuropsicológica e psicológica do processo, à transformação de estímulos puramente sensoriais em fenômenos perceptivos conscientes. É a tomada de conhecimento sensorial de objetos ou de fatos exteriores mais ou menos complexos. Anderson Soares 5ºP IESVAP Memória É a capacidade de codificar, armazenar e evocar as experiências, impressões e fatos que ocorrem em nossas vidas. Tudo o que uma pessoa aprende em sua existência depende intimamente da memória. Além disso, todos os processos relacionados com a memória são altamente contextualizados, integrados em uma rede de múltiplas informações e contextos da vida. Tipos de memória: • Psicológica • Genética e epigenética • Imunológica • Coletiva, social ou cultural Afetividade É a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a todas as vivências humanas. Sem afetividade, a vida mental torna-se vazia, sem sabor. “Afetividade” é um termo genérico, que compreende várias modalidades de vivências afetivas, como o humor, as emoções e os sentimentos. Tipos básicos de vivências afetivas: • Humor ou estado de ânimo • Emoções • Sentimentos • Afetos • Paixões Vontade, Psicomotricidade e Agir A vontade, ou volição, é uma dimensão complexa da vida mental, relacionada intimamente com as esferas instintiva, afetiva e intelectiva (que envolve avaliar, julgar, analisar, decidir), bem como com o conjunto de valores, princípios, hábitos e normas éticas socioculturais do indivíduo. Não é ponto pacífico se ela depende mais da esfera instintiva, de forças inconscientes, do âmbito afetivo, de valores culturais ou de componentes intelectuais conscientes. Pensamento • Pensamento lógico O que caracteriza o pensamento normal é ser regido pela lógica formal e orientar-se segundo a realidade e os princípios de racionalidade da cultura na qual o indivíduo se insere. • Pensamento indutivo O pensamento ou método indutivo parte da observação dos fatos elementares, da experimentação e da comparação entre fenômenos para chegar a conclusões e concepções mais gerais, a hipóteses explicativas e classificações mais amplas. O pensamento ou método dedutivo parte de esquemas, axiomas, definições e teoremas constituídos, já bem arquitetados, para, por meio de demonstrações lógicas, assim deduzir a correção do pensamento. O método dedutivo presta-se mais às ciências matemáticas, à lógica formal, a conhecimentos teóricos. Já o método indutivo é mais utilizado nas ciências empíricas, baseadas na investigação de fatos e objetos do mundo real. • Pensamento intuitivo Define-se intuição ou pensamento intuitivo a apreensão de uma realidade mais ou menos complexa de forma direta e imediata. • Pensamento crítico Busca um estado de maturidade no qual se admita que há questões e problemas multifacetados, complexos, que aceite que há questões que comportam mais de duas respostas (mais que “sim” e “não”) e que exigem diferentes níveis e formas de análise e solução. Juízo de realidade O ajuizar, isto é, produzir juízos, é uma atividade humana por excelência. Quando articulamos dois conceitos, duas ideias, como mesa e estudo, e afirmamos a proposição “está é uma mesa de estudo”, estamos formando juízos. Ajuizar quer dizer julgar. Todo juízo implica, certamente, um julgamento, que, por um lado, é subjetivo, individual e, por outro, social, produzido historicamente, em consonância com os determinantes socioculturais. por meio dos juízos, o ser humano afirma sua relação com o mundo, discerne a verdade do erro, assegura-se da existência ou não de um objeto perceptível (juízos de realidade ou de existência), assim como distingue uma qualidade de outra (juízos de valor). Linguagem É o principal instrumento de comunicação dos seres humanos. Além disso, é fundamental na elaboração e na expressão do pensamento e das emoções. Um sistema de signos arbitrários, o signo linguístico, as palavras. Esses signos ganham seus significados específicos por meio de um sistema de convenções historicamente dado. A linguagem é, portanto, uma criação social de cada um e de todos os grupos humanos. Funções psíquicas compostas O eu Personalidade Inteligência e cognição social ALTERAÇÕES DA CONSCIÊNCIA Pode-se descrever dois tipos de alterações: 1. Alterações quantitativas do nível ou grau da consciência, que varia da lucidez ao coma, passando por estágios intermediários. Anderson Soares 5ºP IESVAP 2. Alterações qualitativas no campo da consciência, que vai de um estado organizado logicamente a uma atividade francamente delirante e sem correspondência com a realidade. As primeiras são ditas alterações quantitativas da consciência, indo de níveis mais superficiais (obnubilação da consciência) a níveis mais profundos (coma). As alterações do campo da consciência têm causas menos bem definidas e em geral ocorrem como parte de doenças psiquiátricas. Elas se referem à capacidade de integração harmoniosa dos estímulos internos e externos, passados e presentes. Quanto à qualidade das vivências conscientes, embora sejam suscetíveis de transformação ilimitada, não estariam atreladas ao grau ou nível da consciência, mas à sua conformação. Num sentido fisiológico, a consciência oscila periodicamente entre a vigília e o sono. etiologia As alterações de consciência resultam do entorpecimento do cérebro: • Medicamentos • Drogas • Condições fisiológicas alteradas • Doenças Variam da lucidez plena ao coma profundo, passando pelos estágios conhecidos como obnubilação, torpor e coma superficial. Causas de alterações no nível de consciência e coma Supratentoriais • TCE • Tumor ou abscesso cerebral • AVC • Hematoma Epidural ou Subdural Infratentoriais • AVC isquêmico ou hemorrágico de tronco ou cerebelo, tumor, trauma ou hemorragia Desordens cerebrais difusas e metabólicas • Anóxia ou isquemia (síncope, arritmia cardíaca, tromboembolismo pulmonar, insuficiência respiratória, intoxicação por monóxido de carbono) • Distúrbio hidroeletrolítico (uremia, insuficiência hepática, cetoacidose diabética, hipoglicemia, hiponatremia) • Intoxicação exógena (barbitúricos, etanol, metanol, morfina, heroína, hipotermia) • Epilepsia • Estado pós-ictal Distúrbios psiquiátricos • Catatonia e Histeria ALTERAÇÕES NORMAIS DA CONSCIÊNCIA Ritmos circadianos As alterações normais da consciência ocorrem no contexto dos chamados ritmos circadianos. Segundo definição do RDoC, os ritmos circadianos são oscilações endógenas autossustentadas do ritmo biológico no período de um dia de 24 horas (que inclui centralmente as oscilações do nível de consciência da vigília e do sono), as quais, nesse intervalo, organizam a temporalidade dos sistemas biológicos do organismo e otimizam a fisiologia, o comportamento e a saúde. Quanto às suas propriedades, os ritmos circadianos, segundo o RDoC:1. são sincronizados por pistas ambientais recorrentes (como o nível de luminosidade); 2. permitem respostas eficientes perante os desafios e oportunidades no ambiente físico e social; 3. modulam a homeostase interna do cérebro, assim como de outros sistemas, como demais órgãos e tecidos; 4. se expressam em vários níveis do funcionamento do organismo, desde o molecular, celular, órgãos e circuitos orgânicos até sistemas sociais aos quais o indivíduo pertence. Sono O RDoC define sono e vigília (wakefulness) como estados comportamentais endógenos e recorrentes que expressam mudanças dinâmicas na organização da função cerebral e que otimizam aspectos como fisiologia, comportamento e saúde. Processos circadianos (do período de um dia de 24 horas) homeostáticos regulam a propensão do organismo à vigília e ao sono. O sono se caracteriza por: 1. ser um estado reversível, tipicamente expresso pela postura de repouso, comportamento quieto e redução da responsividade; 2. ter uma arquitetura neurofisiológica complexa, com estados cíclicos de sono não REM e de sono REM, tendo tais estados substratos neuronais distintos (neurotransmissores, moduladores, circuitos específicos) e propriedades oscilatórias do eletrencefalograma (EEG); 3. ter duração e intensidade dos seus vários períodos afetadas por mecanismos de regulação homeostáticos; 4. ser afetado por experiências ocorridas durante a vigília; ter efeitos restauradores e transformadores que otimizam funções neurocomportamentais da vigília. Dividem-se as fases do sono em duas: • sono sincronizado, sem movimentos oculares rápidos (sono não REM), • sono dessincronizado, com movimentos oculares rápidos – rapid eye movements (sono REM). Anderson Soares 5ºP IESVAP O sono sincronizado não REM caracteriza-se por atividade elétrica cerebral síncrona, com elementos eletrencefalográficos próprios, como os fusos do sono, os complexos K e as ondas lentas de grande amplitude. Há, nesse tipo de sono, diminuição da atividade do sistema nervoso autônomo simpático e aumento relativo do tônus do sistema nervoso autônomo parassimpático, permanecendo vários parâmetros fisiológicos estáveis em um nível de funcionamento mínimo, como as frequências cardíaca e respiratória, a pressão arterial, o débito cardíaco e os movimentos intestinais. Durante o sono não REM, ocorrem quatro estágios: • Estágio 1: mais leve e superficial, com atividade regular do EEG de baixa voltagem, de 4 a 6 ciclos por segundo (2- 5% do tempo total de sono). • Estágio 2: um pouco menos superficial, com traçado do EEG revelando aspecto fusiforme de 13 a 15 ciclos por segundo (fusos do sono) e algumas espículas de alta voltagem, denominadas complexos K (45-55% do tempo total de sono). • Estágio 3: sono mais profundo, com traçado do EEG mais lentificado, com ondas delta, atividade de 0,5 a 2,5 ciclos por segundo, ondas de alta voltagem (3-8% do tempo total de sono). • Estágio 4: estágio de sono mais profundo, com predomínio de ondas delta e traçado bem lentificado. É mais difícil de despertar alguém nos estágios 3 e 4, podendo o indivíduo apresentar-se confuso ao ser despertado (10-15% do tempo total de sono). O sono REM, por sua vez, não se encaixa em nenhuma dessas quatro fases. Sua duração total em uma noite perfaz de 20 a 25% do tempo total de sono. É um estágio peculiar, cujo padrão do EEG é semelhante ao do Estágio 1 do não REM. O sono REM não é, entretanto, um sono leve, tampouco profundo, mas um tipo de sono qualitativamente diferente. Caracteriza-se por instabilidade no sistema nervoso autônomo simpático, com variações das frequências cardíaca e respiratória, da pressão arterial, do débito cardíaco e do fluxo sanguíneo cerebral. No sono REM, há um padrão de movimentos oculares rápidos e conjugados (movimentos oculares sacádicos), bem como um relaxamento muscular profundo e generalizado (atonia muscular), interrompido esporadicamente por contrações de pequenos grupos musculares, como os dos olhos. Além de irregularidade das frequências cardíaca e respiratória e da pressão sanguínea, ocorrem ereções penianas totais e parciais. É durante o sono REM que ocorre a maior parte dos sonhos, e, em 60 a 90% das vezes, se o indivíduo for despertado durante a fase REM, relatará que estava sonhando. Durante o sono REM, dá-se a ativação das vias neuronais que ligam o tronco cerebral ao córtex occipital (i.e., a área da visão); são as chamadas ondas pontogenículo- occipitais. Tal ativação cerebral das áreas occipitais se relaciona ao caráter visual dos sonhos, como será visto adiante. O sono normal Várias estruturas neuronais têm sido relacionadas com o controle dos estados de vigília e de sonos não REM e REM. De fundamental importância na regulação fisiológica do sono é o núcleo supraquiasmático, localizado no hipotálamo anterior. Além dele, são também fundamentais estruturas como a glândula pineal (que secreta melatonina e funciona como oscilador que controla o ritmo sono-vigília no período de 24 horas), os sistemas reticulares mesencefálicos e bulbares e os geradores de sono REM localizados na ponte. Quimicamente, neurônios aminérgicos, colinérgicos e histaminérgicos estão envolvidos de forma mais estreita nos mecanismos neuronais do sono sonho O sonho, fenômeno associado ao sono, pode ser considerado uma alteração normal da consciência. Os sonhos são vivências predominantemente visuais, sendo rara a ocorrência de percepções auditivas, olfativas ou táteis. Isso se relaciona às ondas pontogenículo-occipitais que ativam as áreas corticais visuais do lobo occipital durante sua ocorrência. Em sonhos eróticos, podem ocorrer sensações de orgasmo. Pessoas cegas de nascença geralmente relatam sonhos com sensações corporais e de movimento, mas obviamente sem o caráter visual das pessoas que enxergam. Ao descrever o que chamou de “trabalho do sonho”, Freud afirma que tal trabalho transforma os conteúdos latentes (inconscientes) do sonho original em conteúdos manifestos (conscientes) do sonho lembrado. Isso se dá por meio da condensação (fusão de duas ou mais representações), do deslocamento (passagem da energia de uma representação a outra representação) e da figurabilidade (desejos transformam-se em imagens visuais). Esses três mecanismos servem para disfarçar o desejo reprimido (inconsciente), possibilitando seu acesso à consciência, ainda que com deformações e restrições, pois existe a censura entre as duas instâncias: inconsciente e consciente/préconsciente. Dessa forma, para Freud, o sonho é uma solução de compromisso, o resultado de uma intensa negociação entre o inconsciente (que visa expulsar, forçar os desejos para a consciência) e o consciente (que visa impedir que tais desejos inconscientes surjam). ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS DA CONSCIÊNCIA Alterações quantitativas Rebaixamento do nível de consciência Em diversos quadros neurológicos e psicopatológicos, o nível de consciência diminui de forma progressiva, desde o estado normal, vígil, desperto, até o estado de coma profundo, no qual não há qualquer resquício de atividade consciente. Os diversos graus de rebaixamento da consciência são: 1) obnubilação, 2) torpor, 3) sopor e 4) coma. Anderson Soares 5ºP IESVAP 1º grau, obnubilação: turvação da consciência ou sonolência patológica leve. Trata-se do rebaixamento da consciência em grau leve a moderado. À inspeção inicial, o paciente pode já estar claramente sonolento ou parecer desperto. há diminuição do grau de clareza do sensório, com lentidão da compreensão e dificuldade de concentração. O indivíduotem dificuldade para integrar as informações sensoriais oriundas do ambiente. Assim, mesmo não se notando a sonolência do paciente de forma evidente, observa-se, nos quadros de obnubilação, que a pessoa se encontra um tanto perplexa, com a compreensão dificultada, podendo o pensamento que expressa revelar confusão mental. No geral, o indivíduo diminui a atenção para as solicitações externas, dirigindo-se para a sonolência. 2º grau, torpor: é um grau mais acentuado de rebaixamento da consciência. O paciente está evidentemente sonolento; responde ao ser chamado apenas de forma enérgica e, depois, volta ao estado de sonolência evidente. A resposta aos estímulos externos, quando solicitado energicamente, é mais curta do que nos estados de obnubilação, mas menos frustra que no estado de sopor. Na obnubilação e no torpor, o paciente pode ainda apresentar traços de crítica e pudor, tentando cobrir as partes íntimas de seu corpo com o cobertor, quando em uma enfermaria ou emergência de hospital. 3º grau, sopor: é um estado de marcante e profunda turvação da consciência, de sonolência intensa, da qual o indivíduo pode ser despertado apenas por um tempo muito curto, por estímulos muito enérgicos, do nível de uma dor intensa. Nesse momento, o paciente pode revelar fácies de dor e ter alguma gesticulação de defesa. Retorna, então, muito rapidamente, em segundos, à quase ausência de atividade consciente. Portanto, aqui, ele sempre se mostra intensamente sonolento, quase em coma. Embora ainda possa apresentar reações de defesa muito esporádicas, é incapaz de qualquer ação espontânea. A psicomotricidade encontra-se mais inibida do que nos estados de obnubilação e de torpor. 4º grau, coma: é a perda completa da consciência, o grau mais profundo de rebaixamento de seu nível. No estado de coma, não é possível qualquer atividade voluntária consciente. Além da ausência de qualquer indício de consciência, os seguintes sinais neurológicos podem ser verificados: movimentos oculares errantes com desvios lentos e aleatórios, nistagmo, transtornos do olhar conjugado, anormalidades dos reflexos oculocefálicos (cabeça de boneca) e oculovestibular (calórico) e ausência do reflexo de acomodação. Além disso, dependendo da topografia e da natureza da lesão cerebral, podem ser observadas rigidez de decorticação ou de decerebração, anormalidades difusas ou focais do EEG com lentificações importantes e presença de ondas patológicas. Os graus de intensidade de coma são classificados de I a IV: I, semicoma; II, coma superficial; III, coma profundo; e IV, coma dépassé. Perdas abruptas da consciência Vários fatores e condições médicas e/ou psicopatológicas podem produzir a perda abrupta da consciência. Tal perda pode ser causada por fatores emocionais, neurofuncionais ou orgânicos de diversas naturezas. Podem também ser rapidamente reversíveis ou irreversíveis, indicando quadros orgânicos mais graves. As perdas abruptas e transitórias (duram geralmente segundos a minutos) da consciência recebem várias denominações médicas e populares: • Lipotimia, síncope, desmaios e perdas da consciência de outra natureza Lipotimia Caracteriza-se por perda parcial e rápida da consciência (dura apenas segundos), geralmente com visão borrada, palidez da face, suor frio, vertigens e perda parcial e momentânea do tônus muscular dos membros, com ou sem queda do corpo ao chão. A pessoa tem a sensação desagradável de que vai desmaiar. A lipotimia é rápida e completamente reversível. Às vezes, utiliza-se o termo “lipotimia” para descrever a fase inicial da síncope. Síncope designa um colapso bem súbito, com perda abrupta e completa da consciência, perda total do tônus muscular, com queda completa ao chão. O mecanismo básico é a instalação rápida de irrigação cerebral insuficiente por causas diversas. A síncope pode ou não ser reversível, dependendo dos fatores causais envolvidos. Síncope É uma designação não médica, da linguagem comum, que geralmente significa uma perda abrupta da consciência. Corresponde de forma genérica aos termos médicos “síncope” ou “lipotimia”. Condições que produzem perdas abruptas da consciência • Hipotensão ortostática • Hipoglicemia • Síncope vasovagal (após súbita, inesperada e desagradável visão, som, cheiro ou odor) • Hipocapnia por hiperventilação • Síncopes por condições cardíacas • Crise dissociativa abrupta e curta • Crises convulsivas (epilepsia) • Síncope por tosse intensa • Síncope por micção, defecação, deglutição ou dor visceral. Síndromes psicopatológicas associadas ao rebaixamento prolongado do nível de consciência Delirium É o termo atual mais adequado para designar a maior parte das síndromes confusionais agudas (o termo “paciente confuso”, muito usado em serviços de emergência e Anderson Soares 5ºP IESVAP enfermarias médicas, refere-se a tais síndromes confusionais, ou seja, ao delirium). Cabe ressaltar que esses termos (síndrome confusional e paciente confuso) dão ênfase ao aspecto confuso do pensamento e do discurso do paciente (fala incongruente, com conteúdos absurdos e sem articulação lógica), um dos traços do delirium, mas não necessariamente o mais importante ou mais frequente. Daí a opção preferencial de se utilizar o termo delirium em vez de síndrome confusional. O delirium é uma das síndromes mais frequentes na prática clínica diária, principalmente em pacientes com doenças somáticas (emergências e enfermarias médicas e geriátricas) e idade avançada. O delirium diz respeito, portanto, aos vários quadros com rebaixamento leve a moderado do nível de consciência, acompanhados de desorientação temporoespacial, dificuldade de concentração, perplexidade, ansiedade em graus variáveis, agitação ou lentificação psicomotora, discurso ilógico e confuso e ilusões e/ou alucinações, quase sempre visuais. Trata-se de um quadro que oscila muito ao longo do dia. Geralmente, o paciente está com o sensório claro pela manhã, e, no início da tarde, o nível de consciência “afunda”, piorando no fim da tarde e à noite. Podem surgir, então, ilusões e alucinações visuais, bem como intensificar-se a desorientação e a confusão do pensamento e do discurso, com a possibilidade de haver também agitação psicomotora e sudorese. Não se deve confundir delirium (quadro sindrômico causado por alteração do nível de consciência, em pacientes com distúrbios cerebrais agudos) com o termo “delírio” (ideia delirante; alteração do juízo de realidade encontrada principalmente em psicóticos esquizofrênicos ou em outras psicoses). Estado onírico ou oniroide É o termo para designar uma alteração da consciência na qual, paralelamente à turvação da consciência, o indivíduo entra em um estado semelhante a um sonho muito vívido. Em geral, predomina a atividade alucinatória visual intensa com caráter cênico e fantástico. A pessoa vê cenas complexas, ricas em detalhes, às vezes terríficas, com lutas, matanças, fogo, assaltos, sangue, etc. Há carga emocional marcante na experiência onírica, com angústia, terror ou pavor. O doente manifesta esse estado onírico angustioso gritando, movimentando-se, debatendo-se na cama e apresentando, às vezes, sudorese profusa. Há geralmente amnésia consecutiva ao período em que o doente permaneceu nesse estado onírico. Tal estado ocorre com mais frequência devido a psicoses tóxicas, síndromes de abstinência de substâncias (com maior frequência no delirium tremens) e quadros febris tóxico-infecciosos. Alguns autores descrevem estados oníricos em pacientes com psicose (esquizofrenia, mania e depressão psicóticas), mas, nessa acepção, o termo não tem sido mais utilizado. Na prática, o estado onírico ou estado tipo-sonho tem sido cada vez mais absorvido pela categoria ampla do delirium.O termo amência era utilizado na psiquiatria clássica para designar quadros mais ou menos intensos de confusão mental por rebaixamento do nível de consciência, com excitação psicomotora, marcada incoerência do pensamento, perplexidade e sintomas alucinatórios com aspecto de sonho (oniroide). Assim como para o estado onírico, atualmente se tende a designar a amência com o termo delirium. Alterações qualitativas Além dos diversos estados de redução global do nível de consciência, a observação psicopatológica registra uma série de estados alterados da consciência, nos quais se tem mudança parcial ou focal do campo da consciência. Uma parte do campo da consciência está preservada, normal, e outra, alterada. De modo geral, há quase sempre, nessas alterações qualitativas, algum grau de rebaixamento (mesmo que mínimo) do nível de consciência. Estados crepusculares Consistem em um estado patológico transitório no qual uma obnubilação leve da consciência (mais ou menos perceptível) é acompanhada de relativa conservação da atividade motora coordenada. Nos estados crepusculares, há, portanto, estreitamento transitório do campo da consciência e afunilamento da consciência (que se restringe a um círculo de ideias, sentimentos ou representações de importância particular para o sujeito acometido), com a conservação de uma atividade psicomotora global mais ou menos coordenada, permitindo a ocorrência dos chamados atos automáticos. O estado “crepuscular” caracteriza-se por surgir e desaparecer de forma abrupta e ter duração variável, de poucos minutos ou horas a algumas semanas. Durante esse estado, ocorrem, com certa frequência, atos explosivos violentos e episódios de descontrole emocional (podendo haver implicações legais de interesse à psicologia e à psiquiatria forense). Geralmente ocorre amnésia lacunar para o episódio inteiro, podendo o indivíduo se lembrar de alguns fragmentos isolados. Os estados crepusculares foram descritos classicamente como associados à epilepsia (relacionados à turvação da consciência após uma crise ou a alterações préictais ou ictais), mas também podem ocorrer em intoxicações por álcool ou outras substâncias, após traumatismo craniano, em quadros dissociativos histéricos agudos e, eventualmente, após choques emocionais intensos Estado segundo Estado patológico transitório semelhante ao estado crepuscular, caracterizado por uma atividade psicomotora coordenada, a qual, entretanto, permanece estranha à personalidade do sujeito acometido e não se integra a ela. Com certa frequência, alguns autores utilizam os termos Anderson Soares 5ºP IESVAP “estado segundo” e “estado crepuscular” de forma indistinta ou intercambiável. Em geral, atribui-se ao estado segundo uma natureza mais psicogenética, sendo produzido por fatores emocionais (choques emocionais intensos). Já ao estado crepuscular, são conferidas causas mais frequentemente orgânicas (confusão pós-ictal, intoxicações, traumatismo craniano, etc.). Os atos cometidos durante o estado segundo são geralmente incongruentes, extravagantes, em contradição com a educação, as opiniões ou a conduta habitual do sujeito acometido, mas quase nunca são realmente graves ou perigosos, como no caso dos estados crepusculares. Do ponto de vista do mecanismo produtor da alteração, o estado segundo se aproxima mais da dissociação da consciência do que do estado crepuscular. Dissociação da consciência Tal expressão designa a fragmentação ou a divisão do campo da consciência, ocorrendo perda da unidade psíquica comum do ser humano. O termo “dissociação” pode cobrir não apenas a consciência como também a memória, a percepção, a identidade e o controle motor. A dissociação da consciência ocorre com mais frequência nos quadros anteriormente chamados histéricos (crises histéricas de tipo dissociativo). Nessas situações, observa-se dissociação da consciência, um estado semelhante ao sonho (ganhando o caráter de estado onírico), em geral desencadeada por acontecimentos psicologicamente significativos (conscientes ou inconscientes) que produzem grande ansiedade para o paciente. Essas crises duram de minutos a horas, raramente permanecendo por dias. Alguns pacientes têm crises ou estados dissociativos agudos que se iniciam com queda ao chão, abalos musculares e movimentação do corpo semelhante à crise convulsiva (da epilepsia). Nesses casos, designa-se tal crise como crise pseudoepiléptica (em relação à crise epiléptica verdadeira). A dissociação da consciência pode ocorrer também em quadros de ansiedade intensa, independentemente de se tratar de paciente com personalidade histriônica ou traços histéricos, sendo a dissociação, então, vista como uma estratégia defensiva inconsciente (i.e., sem a deliberação voluntária plena) para lidar com a ansiedade muito intensa; o indivíduo desliga da realidade para parar de sofrer. Quadros dissociativos são também frequentes em pessoas com o diagnóstico de transtorno da personalidade borderline. Transe Estado de alteração qualitativa da consciência que se assemelha a sonhar acordado, diferindo disso, porém, pela presença em geral de atividade motora automática e estereotipada acompanhada de suspensão parcial dos movimentos voluntários. O estado de transe ocorre sobretudo em contextos religiosos e culturais (espiritismo kardecista, religiões afro-brasileiras e religiões evangélicas pentecostais e neopentecostais). O transe dito extático pode ser induzido por treinamento místico-religioso, ocorrendo geralmente a sensação de fusão do eu com o universo. Não se deve confundir o transe religioso, culturalmente contextualizado e sancionado, com o chamado transe histérico, que é um 5. estado dissociativo da consciência relacionado frequentemente a conflitos interpessoais e alterações psicopatológicas. Os estados de transe e possessão culturalmente contextualizados e sancionados são fenômenos muito difundidos nas várias culturas em todo o mundo, vistos, na atualidade, como um recurso religioso e sociocultural que permite às pessoas, sobretudo às mulheres, lidar com as dificuldades da vida por meio de estratégias religiosas socialmente legitimadas. Estado hipnótico É um estado de consciência reduzida e estreitada e de atenção concentrada, que pode ser induzido por outra pessoa (hipnotizador). Trata-se de um estado de consciência semelhante ao transe, no qual a sugestionabilidade do indivíduo está aumentada, e sua atenção, concentrada no hipnotizador. Nesse estado, podem ser lembradas cenas e fatos esquecidos e podem ser induzidos fenômenos como anestesia, paralisias, rigidez muscular, alterações vasomotoras. Não há nada de místico ou paranormal na hipnose. É apenas uma técnica refinada de concentração da atenção e de alteração induzida do estado da consciência. Delírio Convicção plena daquilo que afirma. Geralmente é algo fora do bom senso, absurdo e inaceitável. Há uma auto referência, ou seja, o indivíduo é sempre o centro do seu delírio. Conteúdo do delírio: • Persecutório: É a forma mais comum. O paciente crê que é perseguido por uma ou várias pessoas que querem fazer-lhe mal. • Referência: O indivíduo diz-se alvo de infâmias e calúnias. • Influências (ou posse): O indivíduo sente-se comandado pela vontade de outro. Ex: “Eu não preciso dizer... você sabe...!” • Enormidade: Megalomania. É comum na Esquizofrenia. • Reivindicação: O indivíduo sente-se ótima de graves injustiças, por isso, batalha tenazmente pelos direitos alegados. • Invenção: Pretende inventar algo inédito e absurdo. • Místico: indivíduo acha-se em comunhão constante com entidade religiosa ou com o poder de Deus que lhe fala, dá ordens etc. • Ciúme: Trata-se de um ciúme patológico (ciúme dos alcoólatras).• Auto acusação: indivíduo acusa-se de faltas e crimes que não cometeu. Constante sentimento de culpa. • Ruína: indivíduo julga-se um desgraçado, perdido, na iminência de catástrofes. Anderson Soares 5ºP IESVAP • Hipocondria: indivíduo crê-se vítima de doenças terríveis e incuráveis. Os exames com resultados normais não o convencem. Alucinação Pseudopercepção sem objeto, devido a mente doentia. Cria uma percepção, sem precisar de estímulos externos e projeta-a na realidade, como se fossem reais. Tipos de Alucinações: 1. Alucinações Auditivas: as mais comuns: pacientes escutam “vozes”, que podem ser claras, ininteligíveis, bons conselhos, maus conselhos, fazem insultos, ameaças e dão ordens sarcásticas. As vozes podem repetir o pensamento do paciente (comum na esquizofrenia). Causa: ansiedade, agitação e agressividade auto ou heterodirigida, mudança no comportamento: uns colocam algodão nos ouvidos, falam sozinhos. 2. Alucinações Visuais: É como se o paciente estivesse vivenciando um sonho. As imagens alucinatórias podem ser de tamanho natural, minúsculas ou gigantescas, e com animais. São comuns nos delírios alcóolicos e nos cocaínicos. Raros na esquizofrenia. Causa: pânicos e medo nos pacientes. 3. Alucinações Táteis: Originam-se no tegumento (pele). Referem-se a sensibilidade de formigamento, de mordeduras, de queimaduras, de frios. Ocorrem na intoxicação por cocaína e “delirium tremens”. 4. Alucinações Gustativas e Olfativas: associadas as ideias delirantes de perseguição e de influência. Exemplo: O paciente pode queixar-se que sua comida está envenenada ou que contem excremento, ou ainda podem negar-se a comer ou beber. São comuns na esquizofrenia paranóia, epilepsia. 5. Alucinações Cinestésicas: compromete a sensibilidade geral interna. Afeta o corpo todo do paciente, por exemplo: o paciente tem a sensação que o seu corpo está podre, carregado de eletricidade, que tem um de seus membros amputados. Às vezes, são parciais, por exemplo: o paciente sente que seu coração transformou-se em pedra, ou em algodão. 6. Alucinações Extracampinais: Ocorrem fora do campo visual do paciente. Exemplo: o paciente vê alguém atrás dele. Outras alterações da consciência • Perplexidade patológica • Experiência de quase-morte diagnóstico O manuseio inicial do paciente em coma deve enfatizar os cuidados básicos para manter uma via aérea e ventilação adequada, estabilidade hemodinâmica e outras medidas para minimizar os danos ao encéfalo e a outros órgãos vitais. Devemos excluir causas que precisem de abordagem cirúrgica de urgência e as causas médicas que precisem de tratamento imediato. A identificação da causa do coma deve se iniciar pela coleta de informações com familiares e pessoas que possam ter presenciado a evolução clínica do paciente. É muito importante obter informações com relação à forma de instalação e evolução do quadro, possível uso de drogas ou substâncias tóxicas, presença de febre, história de trauma, doenças prévias e antecedentes psiquiátricos. O exame clínico geral deve buscar indícios de condições sistêmicas que possam levar a alterações do nível de consciência. Devem-se obter os sinais vitais, pressão arterial, pulso, frequência respiratória, temperatura, e nunca esquecer de obter uma glicemia capilar, já que a hipoglicemia uma vez identificada deve ser prontamente revertida com a infusão de glicose a 50% para evitar danos irreversíveis ao encéfalo. O exame do sistema cardiovascular, pulmonar, gastrointestinal, pele e outros sistemas podem fornecer dados importantes quanto à etiologia do coma. Anderson Soares 5ºP IESVAP O objetivo do exame neurológico no coma é ajudar na determinação da causa do coma, ter um parâmetro para seguimento evolutivo e para ajudar na determinação do prognóstico do paciente. Entre os dados do exame neurológico que são mais importantes para a localização e prognóstico estão: 1) nível de consciência; 2) padrão respiratório; 3) tamanho e resposta pupilar a luz; 4) motricidade ocular espontânea ou reflexa 5) resposta motora esquelética. A Escala de Coma de Glasgow (ECG) demonstra uma hierarquia de respostas em cada uma dessas áreas, que refletem a gravidade do coma O GCS é pontuado entre 3 e 15, sendo 3 o pior e 15 o melhor.Possui três parâmetros: melhor resposta ocular (E), melhor resposta verbal (V) e melhor resposta motora (M). Os componentes do GCS devem ser registrados individualmente; por exemplo, E2V3M4 resulta em uma pontuação GCS de 9. Uma pontuação de 13 ou mais - lesão cerebral leve, uma pontuação de 9 a 12 - lesão moderada e uma pontuação de 8 ou menos - lesão cerebral grave. Tratamento No pronto-socorro, os cuidados básicos devem ser realizados em conjunto com as investigações clínicas e laboratoriais A terapia empírica inicial inclui todos os seguintes: ● A primazia dos ABCs (vias aéreas, respiração e circulação) se aplica aos casos de coma. Os sinais vitais devem ser tomados, uma pontuação inicial na Escala de Coma de Glasgow (ECG) estabelecida e um conjunto de gasometria arterial, juntamente com os outros exames de sangue e urina, enviados ao laboratório . ● Pacientes com escore GCS de 8 ou menos geralmente requerem intubação endotraqueal para proteger as vias aéreas. Isso às vezes pode ser evitado, por exemplo, em pacientes com grandes derrames hemisféricos ou crises de abstinência de álcool. A intubação também é aconselhada na presença de hipoxemia (saturação de oxigênio <90%), vômitos recentes ou tosse ou reflexo de vômito fracos. A suplementação de oxigênio é frequentemente necessária, seja ou não ventilação assistida. ● É melhor tratar a hipotensão (pressão arterial média [PA] <70 mmHg) com expansores de volume ou vasopressores ou ambos. Com hipertensão grave (PA arterial média > 130 mmHg), doses repetidas de labetalol intravenoso (IV) (bolus de 5 a 20 mg, conforme necessário) são frequentemente adequadas para a estabilização inicial. Um eletrocardiograma de 12 derivações deve ser feito. ● Recomenda-se administrar 25 g de dextrose (como 50 mL de uma solução de dextrose a 50%) enquanto aguarda os exames de sangue se a causa do coma for desconhecida. Tiamina , 100 mg, deve ser administrada com ou antes da glicose em qualquer paciente que possa estar desnutrido (para tratar ou prevenir a precipitação de encefalopatia de Wernicke aguda). ● O tratamento com naloxona (0,4 a 2 mg IV) e flumazenil deve ser reservado para pacientes com sobredosagem conhecida ou fortemente suspeita. Embora o uso de um coquetel de coma composto por glicose, tiamina , naloxona e flumazenil tenha sido promovido, uma revisão sistêmica de ensaios considerando desfecho e efeitos adversos sugeriu que era razoável usar glicose e tiamina em pacientes não selecionados, mas que naloxona e flumazenil deve ser administrado apenas seletivamente. A lavagem gástrica e o carvão ativado também são frequentemente recomendados para suspeitas de ingestão tóxica ou de drogas. Este tópico é discutido com mais detalhes separadamente. ● Se uma síndrome de hérnia é evidente clinicamente ou parece iminente com base nos achados da tomografia computadorizada (TC), o tratamento urgente é recomendado. Isso inclui a administração de manitol (1 g/kg IV) e hiperventilação. ● A hipertermia (T >38,5°C) pode contribuir para danos cerebrais em casos de isquemia; esforços para baixar a febre com antipiréticos e/ou cobertores de resfriamento devem ser administrados imediatamente. Antibiótico empírico e terapia antiviral são recomendados se meningite bacteriana ou encefaliteviral (aciclovir 10 mg/kg IV a cada oito horas) estiverem entre as entidades suspeitas. Estes devem ser continuados até que essas condições tenham sido excluídas. ● Como a hipotermia tem efeitos neuroprotetores em pacientes com parada cardíaca, apenas hipotermia extrema (<33°C) deve ser tratada. Esforços para procurar e corrigir sua Anderson Soares 5ºP IESVAP causa são mais úteis do que aumentar vigorosamente a temperatura do corpo para a faixa normal. ● Se o paciente teve uma convulsão, o tratamento com fenitoína ou fosfenitoína (15 a 20 mg/kg de fenitoína equivalente IV) é recomendado. Se houver suspeita de convulsões não convulsivas e um eletroencefalograma (EEG) não estiver disponível, uma tentativa terapêutica de fenitoína ou lorazepam (1 a 2 mg IV) é razoável. referÊncias YOUNG, G. Bryan; HOCKBERGER, Robert S. Stupor and coma in adults. UpToDate. 2020. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais – 3. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2019. DE ANDRADE, Almir Ferreira et al. Coma e outros estados de consciência. Revista de Medicina, 2007.