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Prévia do material em texto

Cultura e Literatura africana e indígena
Claudia Am
orim
 / M
ariana Paladino
Código Logístico
58293
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6208-9
9 788538 762089
Cultura e Literatura 
Africana e Indígena
IESDE BRASIL S/A
2019
Claudia Amorim
Mariana Paladino
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
A543c
2. ed.
Amorim, Claudia
Cultura e literatura africana e indígena / Claudia Amorim, Mariana 
Paladino. - 2. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2019. 
128 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6208-9
1. Literatura comparada - africana e indígena. 2. Literatura afri-
cana - Estudo e ensino. 3. Literatura indígena - Estudo e ensino. 
4. Cultura afro-brasileira - Estudo e ensino. 5. Cultura indígena 
- Estudo e ensino. I. Paladino, Mariana. II. Título.
19-55977 
CDD: 809
CDU: 82.091
© 2009-2019 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito das autoras e do detentor 
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: mandj98/Eike Leppert/WitR/desaart/ 
 frentusha/innovatedcaptures/iStockphoto
Claudia Amorim
Doutora em Literatura Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 
Mestre em Letras Vernáculas, especialista em Literatura Portuguesa e graduada em Letras 
Português/Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 
Realizou Pós-Doutorado em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, na Universidade de São 
Paulo (USP).
Mariana Paladino
Doutora em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Museu 
Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/UFRJ). Mestre em Antropologia Social 
pelo PPGAS/UFRJ. Graduada em Antropologia pela Universidad Nacional de La Plata, Argentina. 
Realizou Pós-Doutorado em Educação, na Universidad Pedagógica Nacional (UPN), México.
Sumário
Apresentação 7
1 A África lusófona: um pouco de história 9
1.1 Breve panorama histórico da África lusófona 10
1.2 A colonização das ilhas do Atlântico e da costa africana 12
1.3 O Império Colonial Português nas ilhas e nas terras africanas 12
1.4 A independência dos cinco países africanos lusófonos 13
1.5 A República Portuguesa e o golpe militar de 1926 14
1.6 A criação dos movimentos pela independência das colônias na África 
portuguesa 15
2 Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 19
2.1 Cabo Verde: história, cultura e literatura  21
2.2 São Tomé e Príncipe: história, cultura e literatura  24
2.3 Guiné-Bissau: história, cultura e literatura  27
3 Cultura e literatura em Angola  31
3.1 Angola: a história da sua colonização 32
3.2 Angola: o início das atividades literárias 34
3.3 Angola: literatura e cultura a partir de 1950 35
3.4 Angola: literatura e cultura após a independência 37
4 Cultura e literatura em Moçambique 41
4.1 Moçambique: a história de sua colonização 42
4.2 Moçambique: cultura e literatura durante o século XX e antes da libertação 45
4.3 Moçambique: cultura e literatura após a libertação 47
5 África lusófona e Brasil: laços e letras 51
5.1 Os africanos no Brasil: um pouco de história 51
5.2 Identidades e diferenças entre as culturas do Brasil e dos países africanos 
lusófonos 58
5.3 Estudos afro-brasileiros na contemporaneidade 61
6 História e historiografia indígena 67
6.1 O sistema colonial e missionário 68
6.2 O Diretório dos Índios e o retorno da ação missionária 72
6.3 O regime tutelar 75
6.4 As imagens sobre os índios nos séculos XVIII, XIX e XX 77
6.5 Visões indígenas do contato 79
7 Situação contemporânea dos povos indígenas 85
7.1 Quem são e quantos são os povos indígenas hoje no Brasil 85
7.2 Diversidade linguística e cultural 89
7.3 Formas de organização social e parentesco 90
7.4 Economias indígenas 91
7.5 Religiões indígenas 94
8 Demandas, conquistas e projetos do movimento indígena 101
8.1 Lutas do movimento indígena 101
8.2 Conquistas legais 104
8.3 O avanço no processo de escolarização dos povos indígenas 106
8.4 Escritores e literatura indígena 109
8.5 Artistas e cineastas indígenas 111
Gabarito 117
Referências 123
Apresentação
Sejam bem-vindos aos estudos de cultura e literatura africana e indígena. Esses estudos visam 
proporcionar a vocês sólidos subsídios sobre as culturas e literaturas africanas de língua portuguesa, 
assim como da cultura, história e literatura indígenas, a fim de que esses conhecimentos ampliem a 
compreensão da diversidade da cultura brasileira na qual nos inserimos.
Esta obra, que ora atualizamos, foi produzida em um contexto nacional que despertava para 
a importância de se introduzir na formação básica do aluno dos Ensinos Fundamental e Médio 
os conhecimentos sobre as culturas africanas e culturas indígenas (conforme estabelecem as Leis 
n. 10.639/2003 e n. 11.465/2008, respectivamente). Durante esses anos, entre a implementação da 
obrigatoriedade desses conteúdos no ensino público e particular, houve avanços em relação a esses 
conhecimentos, mas muitas instituições de ensino se depararam com as dificuldades de acesso a 
um material pedagógico adequado, seja por dificuldades de acesso ou por desconhecimento de 
obras que abordassem os conteúdos de maneira atualizada e consistente.
No contexto atual, em que se aprovou uma reforma do Ensino Médio que torna obrigatórias 
apenas disciplinas como Matemática e Português, retirando-se do conteúdo obrigatório disciplinas 
de História e Geografia, tornando-as optativas, os estudos sobre a cultura brasileira, na qual se 
inserem os conhecimentos relativos às culturas africanas e indígenas, que compõem a formação 
inicial do Brasil, podem se tornar ainda mais inacessíveis. Contudo, acreditamos que há um inte-
resse genuíno de pesquisadores acadêmicos e professores de instituições públicas e particulares, 
assim como de instituições educacionais atentas à diversidade que caracteriza a nossa nação, no 
aprofundamento dos conhecimentos sobre as culturas africanas e indígenas.
A atualização e reedição deste volume muito nos gratifica, portanto, nesse contexto, uma 
vez que apostamos juntos na vontade de saber inerente a todos os seres pensantes e no respeito à 
alteridade, que nos faz olhar para a sociedade brasileira como um todo formado pela pluralidade.
A tarefa de condensar em alguns capítulos a cultura e a literatura de cada um dos países 
africanos de língua portuguesa e a cultura, a história e a literatura indígena no Brasil não foi fácil. 
No primeiro caso, devido à necessidade de nos remetermos à história e à cultura secular dos países 
africanos referidos. No segundo caso, pela diversidade de formas de vida, culturas e organização 
social dos povos indígenas existentes hoje no país, o que torna complexa a composição de um 
quadro geral. Contudo, seguimos confiantes por serem esses temas hoje muito mais acessíveis aos 
estudantes e pesquisadores do que há oito anos, quando editamos esse volume.
Nessa atualização, não modificamos a intenção inicial da obra, ou seja, privilegiamos as 
informações históricas para, em seguida, focalizarmos a cultura e a literatura africana e indígena, 
uma vez que sem um conhecimento prévio da história dos povos da África de língua portuguesa, 
dos povos indígenas e de como os portugueses, nos séculos XV e XVI, provocaram essa ligação 
entre regiões tão distantes, por meio das navegações, qualquer estudo que estabeleça associações 
Cultura e Literatura Africana e Indígena8
entre essas culturas não será completo. No caso dos indígenas também se privilegiou a com-
preensão dos processos de mudança ocorridos a partir da formação do movimento indígena e da 
Constituição de 1988, quando o Estado reconheceu sua condição de povos e o direito à posse dos 
territórios tradicionalmente ocupados poreles. Decorrente desses processos situa-se a produção de 
uma literatura indígena que procura expressar, por meio da escrita, uma diversidade de conheci-
mentos e relatos orais, de modo que possam ser mantidos na memória das jovens gerações e serem 
conhecidos pela sociedade não indígena.
Para facilitar as informações, mantivemos a divisão do conteúdo deste livro em oito capítulos, 
dedicando os cinco primeiros aos estudos da história, da cultura e da literatura dos chamados Países 
Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), e os três capítulos restantes para os estudos sobre 
a história, a cultura e os modos de vida contemporâneos dos povos indígenas no Brasil.
Esperamos que vocês façam uma boa leitura e descubram, nesses estudos, a presença africana 
e indígena ao longo da história do Brasil e a relevância atual que suas culturas têm, enriquecendo a 
diversidade de nosso país e oferecendo outras possibilidades de ser e estar no mundo.
1
A África lusófona: um pouco de história
Claudia Amorim
O objetivo deste capítulo é apresentar um breve panorama da ocupação portuguesa, na 
África, iniciada na segunda década do século XV (1415), com a conquista da cidade de Ceuta, no 
Marrocos, e finalizada na segunda metade do século XX, com a independência dos cinco países 
africanos colonizados pelos portugueses.
Durante esses cinco séculos de ocupação portuguesa na África, houve resistência por parte 
dos povos das regiões, mas o poder do colonizador se implantou pela força. Em determinadas 
regiões, houve uma tímida mistura entre colonizador e colonizado.
Antes da chegada do europeu à África, quase nada se sabia sobre o modo de vida ou sobre a 
organização dos grupos étnicos que lá viviam. Entretanto, é inegável que a cultura secular e ágrafa 
desses povos permaneceu e se difundiu por outros territórios ocupados pela nação lusa, como o 
Brasil, por exemplo, que recebeu um grande número de escravos provenientes da África, especial-
mente do Congo, da Guiné e de Angola (grupo étnico banto) e da Nigéria, Daomé (atual República 
do Benim) e Costa do Marfim (grupo étnico sudanês).
No Brasil colonial, a cultura portuguesa do colonizador, a cultura africana e a cultura indí-
gena foram os pilares da constituição do caráter brasileiro, ainda que o colonizador europeu, 
branco, tenha subjugado o negro e o índio e suas culturas. Ambas eram não cristãs e, por isso, 
naquela época, consideradas “inferiores”.
Contemporaneamente, os laços culturais que aproximam a cultura brasileira da África 
 lusófona são inúmeros e passam, entre outras coisas, pela música, pelas crenças religiosas, pela 
culinária e pela literatura que se expressa em português.
Assim, para falarmos da cultura e das literaturas africanas, e de seus inegáveis laços com o 
Brasil, precisamos voltar no tempo e observar que, sem os empreendimentos marítimos dos por-
tugueses que os levaram a algumas regiões da África, e também ao nosso território, essa história 
seria bem diferente.
Comecemos, então, por estudar a África lusófona, ou seja, a África dos cinco países que 
falam hoje a língua portuguesa (Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola e 
Moçambique), focalizando primeiramente a chegada do português a essas regiões. Esses cinco 
países são membros dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop), ainda que muitos 
deles tenham outras línguas oficiais paralelamente ao português.
Cultura e Literatura Africana e Indígena10
1.1 Breve panorama histórico da África lusófona
No ano de 1415, os portugueses tomaram dos mouros, em apenas um dia de 
combate, a cidade de Ceuta, no Marrocos. Essa importante vitória da cristandade 
sobre os “infiéis”, já nos primór dios do Renascimento, guarda um significado sim-
bólico também por ter sido exatamente de Ceuta que Tarik e o seu exército de 7 mil 
berberes partiram no ano de 711 para invadir a Península Ibérica, permanecendo 
ali durante sete séculos (ENDERS, 1997).
Para além do espírito cruzadístico dessa empreitada, a conquista de Ceuta foi o primeiro 
passo do caminho que levou os navegadores portugueses da Península Ibérica ao Extremo Oriente 
e ao Brasil no final do século XV e início do século XVI.
A cidade de Ceuta era o ponto de chegada das rotas comerciais oriundas do sul da Berbéria 
(nome com que os europeus designaram, até o século XIX, a região que hoje compreende o Marrocos, 
a Argélia, a Tunísia e a Líbia – o atual Magreb, com exceção do Egito) e das caravanas com o ouro 
proveniente da Guiné. Essas riquezas encontradas em Ceuta fizeram com que os portugueses adivi-
nhassem que havia outras maiores espalhadas em alguns pontos do continente africano. Na intenção 
de dominar esse comércio, ao mesmo tempo em que buscava contato com um suposto soberano 
cristão na África – Preste João das Índias1 –, a política de expansão portuguesa adotou a exploração 
da África em detrimento da ocupação de territórios ao longo do Mediterrâneo.
Dessa forma, a expansão portuguesa teve início no norte da África, seguiu para o sul ao longo 
da costa ocidental africana, alcançando as ilhas do Atlântico e depois avançou pela costa oriental 
do continente africano ao longo do Oceano Índico, em direção ao Oriente e ao Extremo Oriente, 
chegando ainda à região do Atlântico Sul com a colonização do Brasil (BIRMINGHAM, 2003).
O desejo de lutar contra os mouros e de alargar o império de Cristo entre os povos não cris-
tãos vai se misturando, pouco a pouco, a perspectivas economicamente mais enriquecedoras. A 
exploração da costa africana, onde os navegantes encontraram pimenta-malagueta, canela e outras 
especiarias, além do marfim e do ouro, se mostrava bastante lucrativa. Assim, novas expedições 
se organizaram pelos mares já navegáveis da costa ocidental e oriental da África, marcando um 
período da história conhecido como Descobrimentos Portugueses.
O mapa a seguir indica os territórios ocupados pelos portugueses e a rota das navegações 
portuguesas a partir de 1415 até meados do século XVI.
1 Nos séculos XV e XVI, corria uma lenda na Europa de que havia um rei cristão no Oriente, cujo nome era Preste João 
das Índias, e acreditava-se que seu reino, que não se sabia precisar exatamente onde ficava, mas que se pensava ser na 
África, poderia ser aliado europeu para a exploração do caminho marítimo para as Índias. A Coroa Portuguesa, a partir 
dos relatos de viajantes e peregrinos, tentou encontrar o reino de Preste João com o desejo de fazer possíveis alianças 
(ENDERS, 1997).
Vídeo
berberes: con-
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A África lusófona: um pouco de história 11
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Peteri/Shutterstock
Cultura e Literatura Africana e Indígena12
1.2 A colonização das ilhas do Atlântico e da costa africana
Nos anos seguintes à tomada de Ceuta, os navegadores portugueses empreen-
deram seu movimento para o sul, chegando em 1418 à ilha de Porto Santo, em 1419 à 
Ilha da Madeira, em 1427 aos Açores, em 1460 às ilhasde Cabo Verde e em 1470 às ilhas 
de São Tomé e Príncipe, todas desabitadas. Nos primeiros arquipélagos – Porto Santo, 
Madeira e Açores –, o clima favorecia a ocupação e o trabalho na terra, e ali se estabe-
leceram, então, as primeiras colônias de povoamento. Nos demais – Cabo Verde e São Tomé e Príncipe 
–, os portugueses fundaram colônias de plantação, não se preocupando com o povoamento da região 
(ENDERS, 1997).
Nas terras continentais, no ano de 1446, os portugueses alcançaram a Guiné-Bissau (a que coloni-
zaram com o nome de Guiné Portuguesa), em 1483 chegaram à região que hoje se conhece como Angola 
e, após a viagem de Bartolomeu Dias, que venceu o Cabo das Tormentas (renomeado para Cabo da 
Boa Esperança, devido ao sucesso da empreitada), Vasco da Gama pôde preparar sua armada para uma 
viagem até a Índia. Em 1488, Gama partiu da Praia do Restelo, em Lisboa, onde está atualmente a Torre 
de Belém, avançando para o sul até alcançar o Oceano Índico. Antes que o propósito de sua viagem se 
concluísse, as caravelas portuguesas aportaram em Moçambique no ano de 1489.
A cada lugar em que as caravelas portuguesas aportavam, um padrão de pedra com as armas e o 
brasão português era fincado. O padrão simbolizava a posse oficial do território. Essa medida da Coroa 
portuguesa visava a desencorajar intrusos e reforçar o senhorio sobre as terras ocupadas.
1.3 O Império Colonial Português nas ilhas e nas terras africanas
A extensão do Império Português no Oriente e no Extremo Oriente obrigou a 
Coroa portuguesa à fragmentação das possessões portuguesas na África. O alto custo 
da manutenção em algumas cidades do Marrocos fez com que a Coroa abandonasse 
essa região. Os gastos numerosos com a defesa da costa da África, especialmente com os 
ataques de corsários e comerciantes de outros países europeus, enfraqueceram a Coroa 
portuguesa. Porém, mesmo com esses revezes, nos séculos seguintes, o Império Colonial Português 
se sustentou e as colônias portuguesas na África continuaram a ser sistematicamente exploradas. Para 
garantir as terras na África, a Coroa portuguesa concedia as terras, por um período de tempo limitado 
(cerca de três gerações), aos colonos que desejassem explorá-las. Ao fim desse período, a concessão deve-
ria ser renovada. Os colonos tinham como tarefa defender os interesses portugueses nas terras do além-
-mar e pagar por essa concessão com o produto dos territórios que lhes eram confiados. No entanto, 
gradativamente, em algumas regiões – especialmente nas ilhas de Cabo Verde –, o mundo dos senhores 
ia se misturando com o dos africanos, tornando mais complexas as relações de poder.
Nesse período, outro “negócio” começou a ganhar força – o tráfico negreiro. Por volta de 1648, 
os portugueses ocuparam os locais estratégicos no comércio de escravos, que se tornou indispensável a 
todas as colônias da América. A economia de plantação – especialmente na América – demandava uma 
maior exportação de escravos africanos, que se tornou sistemática. Entre os anos de 1502 e 1860, 9,5 
milhões de africanos foram deportados para o continente americano. No século XVIII, com a descoberta 
Vídeo
Vídeo
A África lusófona: um pouco de história 13
do ouro em Minas Gerais e a necessidade de extraí-lo, muitos negros da região de Angola foram enviados 
ao Brasil.
A Guiné Portuguesa foi inicialmente a principal fornecedora de mão de obra escrava para o conti-
nente americano, sendo depois substituída por Angola, país que manteve essa posição até o século XVIII. 
Nos fins desse mesmo século e durante o século XIX, a região do Golfo da Guiné3 ocupou a supremacia 
do tráfico negreiro, que havia sido de Angola no século anterior. A feitoria de São Jorge da Mina4, em 
Gana, foi o principal porto de escoamento de escravos para a América (ENDERS, 1997).
O início do século XIX trouxe mudanças significativas para a situação da África portuguesa. Com 
a independência do Brasil, em 1822, Portugal se viu pressionado a enfrentar as demais potências euro-
peias para assegurar seus “direitos” sobre os territórios africanos ocupados.
Pressionado pela política europeia, Portugal extingue o tráfico negreiro no Império em 1842 e em 
1869 declara o fim da escravidão, embora esse tráfico continuasse a ser feito durante os anos seguintes. 
Nas colônias, a política de exploração das riquezas tinha seguimento e, para tanto, Portugal precisou 
instituir uma legislação trabalhista que obrigava o nativo ao trabalho forçado nas plantações de algodão 
ou nas obras públicas.
Paralelamente às pressões externas, ao longo do século XIX, a vida nos territórios africanos mudava 
lentamente. A essa altura, uma população mestiça e burguesa, ainda que em número reduzido, vai se 
formando nas colônias do ultramar, reivindicando melhores condições para essas terras. Aparecem os 
primeiros assimilados, nome pelo qual eram identificados os descendentes de portugueses, geralmente 
mestiços, nascidos na África, que recebiam uma educação mais formal. Nessa época, alguns poucos jor-
nais circulavam pelas mais importantes cidades da África portuguesa, instaurando a necessidade de uma 
educação nas regiões mais importantes do ultramar.
As demais nações europeias, interessadas em repartir a África, pressionaram Portugal a abrir mão 
de alguns de seus territórios. Na Conferência de Berlim, de 1885, Portugal perdeu o Congo e teve que se 
contentar com o enclave de Cabinda, região próxima a Angola. No entanto, apesar desse recuo, Portugal 
é, no fim do século XIX, senhor de dois milhões de quilômetros quadradros no território africano.
1.4 A independência dos cinco países africanos lusófonos
A Guerra Colonial durou 13 anos – de 1961 a 1974 – e pôs fim à ocupa-
ção portuguesa no território africano. Essa guerra ficou conhecida, ainda, entre os 
portugueses, como Guerra do Ultramar ou Guerra da África. Entre os povos dos 
territórios ocupados, duas denominações foram adotadas: Guerra de Libertação 
Nacional e Guerra pela Independência.
Ao longo desses cinco séculos de domínio português nas colônias da África, houve mui-
tas tentativas de resistência dos povos locais, mas a supremacia bélica dos portugueses, aliada às 
 disputas políticas entre as diversas etnias das regiões ocupadas, favoreceram o domínio lusitano, 
3 Golfo da Guiné é uma reentrância próxima às Ilhas de São Tomé e Príncipe e compreende o litoral da Costa do 
 Marfim, Gana, Togo, Benim, Nigéria, Camarões, Guiné Equatorial e a parte norte do Gabão.
4 A feitoria de São Jorge da Mina, em Gana, é a construção europeia mais antiga ao sul do deserto do Saara.
Vídeo
Cultura e Literatura Africana e Indígena14
dando lugar ao Império Colonial Português que abrangia não só territórios na África, mas também 
na América do Sul, com o Brasil, e, ainda, na Índia e na Ásia (MUNANGA, 1986).
Como afirma Kabengele Munanga (1986), quando os primeiros europeus desembarcaram 
nas terras africanas, encontraram estados organizados politicamente. Entretanto, essa organização 
não foi capaz de reverter a ocupação europeia, pois o desenvolvimento técnico dos estados africa-
nos, incluída a tecnologia de guerra, era inferior ao dos portugueses.
1.5 A República Portuguesa e o golpe militar de 1926
No início do século XX, a situação das colônias africanas lusófonas não se alterou 
muito em relação ao século anterior. Segundo Enders (1997, p. 69), para “Portugal, como 
para as outras potências europeias, a colonização supõe a conquista, o desenvolvimento 
de uma economia de exportação e a submissão da mão de obra indígena para o trabalho 
e para o imposto”. Com isso, o trabalho de exploração das terras africanas, sem nenhum 
investimento econômico, continuou e se agravou com o início das duas grandes guerras mundiais.
A curta vida da República Portuguesa, que surgiu em 1910 e foi derrubada pelo golpe militar de 
1926, põe fim às pretensões dos republicanos, inaugurando um longo período ditatorial marcado por 
perseguições de toda ordem, retrocesso político e econômico, com reflexos gravesnas colônias do ultra-
mar. Em 1928, Antônio de Oliveira Salazar – um professor de Coimbra – foi convidado a assumir a Pasta 
das Finanças do país e a partir dessa data inaugurou-se um período difícil da história de Portugal. É o 
início da ditadura salazarista, nome pelo qual ficou conhecido o regime ditatorial no país, que teve início 
em 1926 e só terminou em 1974, com a Revolução dos Cravos.
Como observa José Paulo Netto (1986, p. 18), durante a ditadura salazarista “um projeto eco-
nômico-social se integra organicamente à repressão antipopular e antidemocrática. Trata-se, explícita e 
nitidamente, do projeto fascista do grande capital, de que Salazar se fez um funcionário coerente, lúcido 
e pertinaz”.
Entre 1929 e 1933, Salazar acumulou os Ministérios das Finanças e das Colônias e com mão de 
ferro tomou medidas duras contra a enfraquecida oposição. Em 1932, instaurou o Ato Colonial, que ins-
tituiu o trabalho forçado para os nativos das colônias, obrigando a população negra a servir por um deter-
minado período de sua vida ao Estado ou a um patrão europeu. Esse Ato Colonial era, na verdade, uma 
reedição do trabalho forçado instituído no século XIX pela Coroa portuguesa aos nativos dos territórios 
africanos ocupados. Além disso, a ditadura salazarista criou a polícia política portuguesa – PVDE (Polícia 
de Vigilância e Defesa do Estado), mais tarde conhecida como PIDE (Polícia Internacional de Defesa do 
Estado) –, que também teve sua área de atuação nas colônias do ultramar, especialmente nos anos 1960, 
quando se inicia um movimento de grande revolta nas colônias contra a política da Metrópole.
Além do trabalho forçado nas colônias africanas, instituído pelo Ato Colonial, o regime português 
continuou a explorar vorazmente suas riquezas, especialmente algodão, cana-de-açúcar, café, petróleo, 
entre outros produtos. Os lucros obtidos com essa exploração eram revertidos para a Metrópole, ao passo 
que as colônias amargavam uma situação de penúria e ausência de perspectiva.
O descontentamento com essa política de exploração aumentou visivelmente na década de 1950 
e, durante essa mesma época, disseminaram-se na África as ideias do Movimento da Negritude, criado 
Vídeo
A África lusófona: um pouco de história 15
em 1934, em Paris, por um grupo de poetas e intelectuais negros. O Movimento da Negritude defendia 
uma revolução na linguagem e na literatura, a fim de reverter o sentido pejorativo da palavra negro e dela 
extrair um sentido positivo. Em 1939, o poeta negro martinicano Aimé Césaire o utilizou pela primeira 
vez em um trecho do “Cahier d’un retour au pays natal” (Caderno de um regresso ao país natal), poema 
que se tornou a obra fundadora da Negritude. Inspirados pela luta dos negros norte-americanos, que 
combatia a discriminação racial e a intolerância, os adeptos do Movimento da Negritude defendiam o 
respeito à diferença e a valorização das características próprias da cultura negra.
Nesse ínterim, a situação de alguns dos territórios africanos colonizados por franceses ou ingleses, 
por exemplo, ganhava outro estatuto. Alguns novos países independentes surgiam na África, acelerando 
o processo de descolonização. Todas essas lutas eram estimuladas pela ação do Movimento da Negritude, 
que defendia a valorização dos negros e da sua cultura, e pelas lutas dos negros norte-americanos contra 
o racismo.
Desse modo, a grande insatisfação com a política salazarista para as colônias, a disseminação das 
ideias do Movimento da Negritude, a luta dos negros norte-americanos contra o racismo e a independên-
cia de países africanos colonizados pela França e pela Inglaterra foram os propulsores dos movimentos 
independentistas nas “províncias ultramarinas” portuguesas.
1.6 A criação dos movimentos pela independência das colônias na 
África portuguesa
Na esteira desses acontecimentos, em meados da década de 1950, surgia, na 
Guiné Portuguesa, o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo 
Verde), cujo líder era Amílcar Cabral. Em Angola surgia o MPLA (Movimento Popular 
de Libertação de Angola), sob a liderança do poeta Agostinho Neto. Na década seguinte, 
em 1962, um ano após o início da guerra pela independência em Angola, surgia em 
Moçambique a Frelimo (Frente Nacional de Libertação de Moçambique), sob o comando 
de Eduardo Mondlane.
Todos esses movimentos africanos pela independência têm entre seus líderes escritores, poetas, 
jornalistas e outros intelectuais, muitos dos quais antigos estudantes da Casa do Estudante do Império 
(CEI), em Lisboa (havia uma em Coimbra também). Essas casas funcionavam como um ponto de reu-
nião de jovens estudantes oriundos de vários territórios do ultramar, especialmente dos países africanos. 
Especificamente, a CEI de Lisboa acabou se tornando um local estratégico e decisivo para a tomada de 
consciência e organização dos jovens estudantes africanos, em sua maioria angolanos, que se aliaram 
aos estudantes e intelectuais portugueses contrários ao regime fascista. Centro de articulação política e 
resistência, a CEI de Lisboa também funcionou como um espaço para o surgimento de uma literatura de 
valorização das raízes africanas.
Como observa Manuel Ferreira (1977, p. 34):
A partir do início da década de 1960 a vida literária (e cultural, de certo modo) 
de Angola só poderá ser apreendida na totalidade se estivermos atentos ao que 
se desenrola na Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa. Aliás também 
em Coimbra onde tiveram lugar várias iniciativas, a partir da década de 1950. 
A Casa dos Estudantes do Império transforma-se no centro aglutinador dos 
Vídeo
Cultura e Literatura Africana e Indígena16
estudantes e intelectuais africanos. Mas a predominância da sua composição é 
angolana, como predominantemente angolana é a sua atividade editorial.
Na entrada dos anos 1960, a situação nas colônias portuguesas do ultramar se torna mais 
difícil, forçando-as à luta armada pela conquista da independência. Nesse momento, à exceção de 
São Tomé e Príncipe e de Cabo Verde, cuja contribuição para os movimentos de independência 
consistiu em enviar guerrilheiros para engrossarem a luta armada das outras colônias, Angola, 
Guiné Portuguesa e Moçambique iniciam sua guerra pela independência.
O movimento armado é deflagrado em Angola quando no norte do país um grupo de agri-
cultores protesta violentamente contra a política de plantação compulsiva de algodão, queimando 
armazéns de algodão e escorraçando os compradores. O regime salazarista responde à revolta com 
violência e como reação a isso, em fevereiro de 1961, em Luanda, capital de Angola, um grupo 
organizado do MPLA toma de assalto a prisão da cidade para libertar os líderes do movimento. 
Munidos de catanas e algumas poucas armas automáticas, o movimento não logra bons resultados 
e a repressão que a ele se segue é extremamente dura.
Em razão desses acontecimentos, alguns antigos colonos e brancos que haviam chegado 
recentemente a Angola conseguem permissão do regime para invadir os bairros nos quais mora-
vam os negros (os musseques) e ali atacar qualquer um que considerassem suspeito. Desse episódio 
resultaram muitas mortes, em sua maioria de jovens assimilados – que são justamente aqueles que 
se aculturaram, deixando suas raízes negras para frequentar as escolas de brancos. Reagindo a essa 
matança, os movimentos organizados em Angola respondem com a luta armada que se dissemi-
nará também por outras regiões da chamada África lusófona como a Guiné Portuguesa (1963) e 
Moçambique (1964). É o início da Guerra Colonial.
A Guerra Colonial durou 13 anos em Angola (1961-1974), 11 anos na Guiné (1963-1974) e 10 
anos em Moçambique (1964-1974). Durante essa época, cerca de 800 mil jovens portugueses foram 
mobilizados para a guerra na África, onde permaneceriam em média 29 meses, ou seja, quase 10% 
da população portuguesa e 90% da juventude masculina da época estiveram diretamente envolvidas 
com os conflitos na África. Do lado africano, a mobilização do contingentemasculino foi massiva. 
Muitos se envolveram na guerra por motivações político-ideológicas, outros se aliaram às guerrilhas 
aliciados pelas necessidades que se criaram em razão especialmente da falta de mantimentos. Essa 
guerra também propiciou que, em Portugal, as forças contrárias ao regime Salazar/Caetano5 se unis-
sem aos oficiais – especialmente tenentes e capitães – do Movimento das Forças Armadas (MFA), 
que iniciaram na madrugada do dia 25 de abril de 1974 uma revolução para derrubar o regime dita-
torial e pôr fim à guerra na África. Esse movimento ficou conhecido como Revolução dos Cravos.
A guerra na África marcou o início do fim do Império Colonial Português e foi um dos 
fatores que propiciou a queda da ditadura salazarista. No entanto, um legado cultural, para além da 
língua portuguesa – oficialmente adotada pelos países africanos já independentes, consolidou-se 
nos cinco países-membros do Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop) que tiveram 
5 Marcello Caetano (1906-1980) substituiu, em 1968, Antônio de Oliveira Salazar (1889-1970) que ocupava o cargo de 
Presidente do Conselho de Ministros em Portugal. Caetano, embora menos rigoroso que Salazar, levou adiante a política 
salazarista até o fim da ditadura em 25 de abril de 1974, quando o Movimento das Forças Armadas Portuguesas, apoiado 
pelas forças progressistas da sociedade portuguesa, pôs fim à longa ditadura que vigorava desde 1926 em Portugal.
catana: um tipo 
de facão usado 
para cortar mato.
A África lusófona: um pouco de história 17
ocupação portuguesa6. Certos traços da cultura portuguesa e a adoção e o uso da língua portuguesa 
nesses países, ainda que modificada e enriquecida pelas diversas línguas locais, são exemplos de 
como a cultura portuguesa enraizou-se nos territórios africanos anteriormente ocupados.
Considerações finais
Neste breve resumo da história da ocupação portuguesa de territórios na África, é correto 
afirmar, como aponta Eric Hobsbawm (1995), que Portugal, por sua posição geográfica estratégica, 
foi o primeiro país europeu a ocupar a África na Idade Moderna, século XV, e o último a dela sair, 
na década de 1970, do século passado.
Durante esses séculos de ocupação, exploração de riquezas e interferência radical no modo de 
vida de vários grupos étnicos africanos, gerou-se uma história de violência e de guerras, mas é certo 
também que esses acontecimentos históricos uniram indissoluvelmente as histórias dessa África que 
fala português, com as histórias do Brasil e também com as histórias de Portugal. Nesses três continentes 
distintos, há países entrelaçados historicamente e nesses países se fala e se sonha em português. Para 
além disso, é preciso cada vez mais pensarmos também em nossas diferenças, nossas singularidades, 
nossas características.
Ampliando seus conhecimentos
• TENREIRO, Francisco José. Epopeia (1942). In: TENREIRO, Francisco José. Obra poética. 
Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1991. p. 37-39.
Recomendamos a leitura da obra do santomense Francisco José Tenreiro (1921-1963), espe-
cialmente do poema “Epopeia”. O texto trata da saga africana, que se inicia com a chegada dos 
europeus à África. É interessante notar que, ao contrário da epopeia camoniana, Os Lusíadas 
(1572), de Luís Vaz de Camões, a façanha heroica aqui abordada não é a façanha lusa, mas 
a façanha heroica dos negros que buscaram resistir à dominação branca, porém acabaram 
sendo levados como escravos para outras terras. O poema mostra, ainda, a saga do negro nes-
sas terras, lutando para fazer existir a sua cultura e termina evocando-o à luta pela dignidade 
com novas armas, novas azagaias. Leia a seguir duas das estrofes desse impactante poema:
Epopeia
Não mais a África
da vida livre
e dos gritos agudos de azagaia!
Não mais a África
de rios tumultuosos
– veias entumecidas dum corpo em sangue!
Os brancos abriram clareiras
6 A Guiné Equatorial, país africano que tem o espanhol, o francês e recentemente adotou o português como línguas 
oficiais, não foi ocupada por portugueses. A história da colonização da Guiné Equatorial é, portanto, diversa.
azagaia: uma 
espécie de lança 
curta usada 
pelos povos 
africanos, es-
pecialmente na 
África do Sul.
Cultura e Literatura Africana e Indígena18
a tiros de carabina.
Nas clareiras fogos
arroxeando a noite tropical.
Fogos!
Milhões de fogos
num terreno em brasa!
[...]
• ENDERS, Armelle. História da África lusófona. Trad. de Mário Matos e Lemos. Lisboa: 
Editorial Inquérito, 1997.
Recomendamos a leitura desta obra, da historiadora francesa Armelle Enders, da 
Université Paris IV Sorbonne. Ela aborda a história da África de língua portuguesa, focali-
zando desde a chegada dos portugueses a Ceuta até o fim do Império Colonial Português 
com a saída dos portugueses da África, após o fim da Guerra Colonial.
• MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. São Paulo: Ática, 1986.
Esta obra, do antropólogo Kabengele Munanga, professor titular da Faculdade de Filosofia, 
Letras e Ciências Humanas da USP, nascido no Zaire, é bastante interessante para quem 
quer iniciar seus estudos sobre cultura negra e negritude.
• CAPITÃES de abril. Direção: Maria de Medeiros. Elenco: Stefano Accorsi, Maria de Medeiros, 
Joaquim de Almeida, Frédéric Pierrot. Lusomundo Audiovisuais S. A., 2000. (125 min.).
Este filme, dirigido pela portuguesa Maria de Medeiros, ilustra bem o momento em que, 
ao som de “Grândola, Vila Morena”, é deflagrado em Portugal o movimento de revolta dos 
capitães das forças armadas contra os rumos da política de Marcello Caetano na África. 
O movimento, que depois ficou conhecido como Revolução dos Cravos, devolveu a liber-
dade política ao país, que viveu sob a ditadura desde 1926 até 25 de abril de 1974.
Atividades
1. Em 1415, a conquista da cidade de Ceuta, no Marrocos, foi estratégica para a empreitada 
portuguesa pelos mares do Ocidente. Por que motivos partiram os portugueses para Ceuta? 
E por que quando lá chegaram abandonaram a ideia da ocupação dos territórios ao longo 
do Mar Mediterrâneo?
2. Como se desenvolveu durante os séculos seguintes a política de exploração das colônias na África?
3. Qual a importância dos encontros de jovens estudantes na Casa do Estudante do Império?
4. Quais foram os fatores que desencadearam a luta dos povos africanos das colônias contra o 
regime fascista de Salazar?
2
Cultura e literatura nos arquipélagos 
lusófonos e na Guiné-Bissau
Claudia Amorim
O objetivo deste capítulo é apresentar as características históricas, culturais e literárias de dois 
arquipélagos, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, e da Guiné-Bissau, territórios africanos colonizados 
por Portugal no século XV e que se tornaram independentes a partir de 1975. Após a independência, 
essas três ex-colônias portuguesas adotaram oficialmente a língua portuguesa, mas quase todos os 
cidadãos desses países falam, paralelamente ao português, um crioulo1 como língua materna.
Os arquipélagos de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe, assim como a Guiné-Bissau (que 
foi colonizada com o nome de Guiné Portuguesa), localizam-se na costa ocidental da África e 
foram descobertos pelos portugueses no século XV. A partir dessa época, fizeram parte do chamado 
Império Colonial Português até 1975, quando a Revolução dos Cravos, ocorrida em Portugal, pôs 
fim ao domínio imperial dos portugueses na África.
Essa revolução foi consequência, entre outras coisas, da Luta pela Independência ou Guerra 
Colonial que desde 1961 mobilizou três das colônias africanas portuguesas – Angola, Guiné 
Portuguesa e Moçambique – contra a ditadura de Antônio de Oliveira Salazar e Marcello Caetano2. 
Os arquipélagos de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe não participaram diretamente dos confli-
tos armados, tentando por via diplomática sua independência. No entanto, muitos cabo-verdianos 
e santomenses se deslocaram até os territórios em guerra no continente africano para reforçar a 
luta dos povos locais pela independência.A seguir, no mapa da África, podemos visualizar esses territórios e perceber como foram 
estratégicos às naus portuguesas avançando pelo Oceano Atlântico em direção ao sul.
1 O crioulo é a língua materna das regiões colonizadas e é uma língua que evoluiu do pidgin, uma espécie de sistema 
verbal com que dois povos não usuários de um idioma comum se comunicam. O pidgin nasce geralmente da necessi-
dade de uma comunicação comercial e, quando alcança a condição de língua materna de um grupo de indivíduos, ele 
se torna um crioulo.
2 Como já foi mencionado, Antônio de Oliveira Salazar assumiu em Portugal a Pasta das Finanças e das Colônias em 
1928, dois anos após o golpe militar que derrubou a República. Ele deixou o cargo de Presidente do Conselho de Minis-
tros somente em 1968, sendo substituído nessa função por Marcello Caetano, que ficou no posto até a Revolução dos 
Cravos, ocorrida em 25 de abril de 1974.
Cultura e Literatura Africana e Indígena20
Figura 1 – Mapa político da África
Fonte : Adaptado de Temática Cartografia. 
Nos séculos seguintes, a Coroa portuguesa explorou os territórios ocupados de modo 
mais ou menos similar. Entretanto, cada um desses territórios apresentou também as suas 
particularidades.
Para conhecermos melhor essas três ex-colônias portuguesas, passemos a focalizar cada 
uma delas, começando, em primeiro lugar, a mostrar as características históricas, culturais e literá-
rias do arquipélago de Cabo Verde, em segundo lugar, as do arquipélago de São Tomé e Príncipe e, 
finalmente, a história, cultura e literatura da Guiné-Bissau, antiga Guiné Portuguesa.
Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 21
2.1 Cabo Verde: história, cultura e literatura 
Para começarmos a conhecer Cabo Verde, a figura a seguir mostra o mapa 
das dez ilhas que compõem esse arquipélago. 
Figura 2 – Mapa de Cabo Verde 
Fonte : Adaptado de Temática Cartografia. 
O arquipélago de Cabo Verde, formado por um conjunto de dez ilhas – Ilha de Santo Antão, 
Ilha de São Vicente, Ilha de Santa Luzia, Ilha de São Nicolau, Ilha do Sal, Ilha da Boa Vista, Ilha do 
Maio, Ilha de São Tiago, Ilha do Fogo, Ilha Brava –, em uma extensão de 4.033 quilômetros qua-
drados, foi descoberto pelos portugueses por volta do ano de 14603. Na época, todas as suas ilhas 
estavam desabitadas.
Dispersos pelas ilhas, a estimativa segundo o site português de demografia4 e a página oficial 
do governo de Cabo Verde é de que o arquipélago continha, em 2018, aproximadamente 543.242 
habitantes5.
Quando os europeus lá aportaram, perceberam que o clima da região favorecia a agricultura. 
Por conta da exploração agrícola, iniciaram o processo de colonização das ilhas por meio do sistema 
de capitanias hereditárias. Porém, se nos Açores e na Madeira a colonização foi feita por imigrantes 
3 A data de 1460 é controversa, embora seja adotada por muitos historiadores portugueses, como António Sérgio. Para 
outros estudiosos, como Armelle Enders (1997), os portugueses aportaram nas ilhas de Cabo Verde entre 1456 e 1462.
4 O site português com informações sobre Cabo Verde está disponível em: https://countrymeters.info/pt/Cape_Verde. 
Acesso em: 14 mar. 2019. 
5 O site oficial do governo de Cabo Verde está disponível em: http://www.governo.cv/index.php/dados-gerais. Acesso 
em: 14 mar. 2019. 
Vídeo
Cultura e Literatura Africana e Indígena22
vindos de Portugal, nas ilhas de Cabo Verde o povoamento se realizou com os negros trazidos do 
continente africano, especialmente da Guiné. Os africanos trazidos do continente destinavam-se 
especialmente às plantações de algodão. Artesãos africanos também foram trazidos da África para 
ensinar aos demais as técnicas de tecelagem. Logo, uma “indústria têxtil”, alimentada pela mão de 
obra africana, tornou-se capaz de se perpetuar de modo autônomo (BIRMINGHAM, 2003).
A produção têxtil que teve lugar nas ilhas de Cabo Verde era de grande importância para 
a Metrópole. Segundo Birmingham (2003), Portugal tinha quase tanta falta de têxteis como tinha 
de trigo. Nas ilhas foram estabelecidas plantações de algodão para tecer e tingir. Porém, logo um 
outro negócio concorria com a produção de algodão nas ilhas: a plantação de cana-de-açúcar, que 
também teve lugar no arquipélago de São Tomé e Príncipe e depois se estendeu ao Brasil.
Paralelamente a essa produção, nos séculos seguintes, as ilhas de Cabo Verde ocuparam 
posição estratégica nas rotas de caravelas de Portugal ao Brasil e ao restante da África. As ilhas 
serviam de entreposto comercial e de aprovisionamento para as naus de passagem.
Com a entrada dos africanos nas ilhas de Cabo Verde, a mestiçagem tornou-se comum e 
 formou-se nas ilhas uma população de cabo-verdianos descendente de portugueses e africanos. Essa 
miscigenação também resultou na criação de uma língua crioula que se enraizou em Cabo Verde.
Hoje, a língua oficial desse país é o português, no entanto, paralelamente, o crioulo cabo-ver-
diano é usualmente falado pela população e segue reconhecido como língua promovida à oficiali-
zação do Estado, segundo informa o site do governo de Cabo Verde.
Durante os séculos de exploração colonial, a situação nas ilhas não se modificou. No entanto, 
nos fins do século XIX, já é possível assistir nas ilhas a uma tímida manifestação cultural. A publica-
ção do romance O escravo (1856), do português José Evaristo de Almeida, habitante durante muitos 
anos do arquipélago, é vista por alguns como o marco inicial da literatura de ficção de Cabo Verde. 
A instalação do prelo (imprensa) em Cabo Verde, no ano de 1842, e a criação de um liceu na 
Ilha de São Nicolau em 1886, certamente contribuíram para um impulso nas letras do país, possi-
bilitando a formação de uma classe de letrados. No início do século XX, alguns escritores ganham 
visibilidade com sua produção escrita. São eles: José Lopes, Eugénio Tavares e Pedro Cardoso. Esse 
último lança ainda o jornal Manduco, primeiro veículo aberto à colaboração em crioulo.
Porém, é com a revista Claridade, lançada em 1936, que se pode falar de uma literatura 
de feição cabo-verdiana. Com o lançamento dessa importante revista, inicia-se o primeiro movi-
mento cultural-literário nativista da África lusófona, protagonizado por um grupo de intelectuais 
cabo-verdianos, em sua maioria composto de mestiços. Entre os nomes importantes desse movi-
mento destacam-se Baltasar Lopes da Silva, Jorge Barbosa, Manuel Lopes, entre outros. 
O movimento da revista Claridade reivindicava o respeito aos valores cabo-verdianos, a 
valorização da língua crioula e uma sociedade cabo-verdiana biológica e naturalmente híbrida 
em sua formação. No campo literário, os poetas reivindicavam uma literatura nascida do próprio 
húmus, com uma poesia telúrica e social de raiz e de renovação estética. 
O nativismo do movimento que lançou a revista Claridade também se manifestou nos 
modelos que os poetas vão seguir. Abandonando a referência literária e cultural do colonizador 
Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 23
português, os “claridosos” vão buscar na literatura brasileira com Manuel Bandeira, Jorge Amado, 
José Lins do Rego, entre outros, as identidades possíveis, especialmente no que diz respeito à cul-
tura mestiça que Cabo Verde e Brasil apresentam e que é resultante de um percurso histórico 
marcado pelo processo de colonização.
Manuel Lopes, um dos fundadores da revista Claridade, já afirmara que era necessário fincar 
os pés na terra para escrever e pensar naquilo que os pés pisavam. Essa consciência para com a 
terra não dispensará um cuidado com a renovação estética. A geração da Claridade tinha o propó-
sito de “fincar os pés na terra” para representar a imagem mais próxima da realidade antropológica, 
social e cultural crioula. Essa imagem se configuraria por meio de uma ruptura literária com rela-
ção a tudo que anteriormente havia sido feito.
Alguns críticos consideram a existência de três fases na literatura cabo-verdiana. Observe o 
Quadro1 a seguir.
Quadro 1 – Fases da literatura cabo-verdiana
Fases Composição
Geração Pré-claridosa – Primeira geração Constituída pelos nativistas.
Geração Claridosa – Segunda geração Constituída em torno da revista Claridade.
Geração Pós-Claridosa – Terceira Geração Constituída pelos escritores e poetas que iniciaram sua produção em 
1960. Até a presente data continuam a produzir.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Gomes, 2008.
Em fins da década de 1950 até meados de 1960, a poesia cabo-verdiana intensificou a asso-
ciação entre a cabo-verdianidade e a negritude. Nesse tempo, as ideias do Movimento da Negritude, 
criado na década de 1930 por Aimé Césaire (Martinica/Antilhas), Léopold Sédar Senghor (Senegal) 
e Léon Damas (Guiana Francesa), que preconizava a valorização do negro e da negritude, já haviam 
se disseminado também pela África de língua portuguesa.
Nos anos seguintes, a literatura cabo-verdiana sublinhou a sua insularidade, caracterizada 
pelas imagens do mar e de um modo de ser próprio dos povos das ilhas. Além disso, enveredou, 
no campo da ficção, por caminhos próprios, inspirada no realismo mágico. Na prosa ficcional, há 
de se destacar a contribuição do claridoso Baltasar Lopes, com sua obra Chiquinho (1947), em cuja 
Introdução o autor já manifesta o espaço que dará ao crioulo como língua de expressão literária. 
Em 1947, Claridade reaparece no cenário cabo-verdiano em forma de livro, mas a sua perio-
dicidade será irregular. Nessa segunda fase da revista, a colaboração é diversificada. Além de poesia 
e prosa ficcional (contos e noveletas), há artigos de etnografia, folclore, estudos sobre crioulo etc.
Entre os anos de 1958-1966, outro importante veículo literário e cultural é o Suplemento 
cultural. A geração que se forma em torno dessa importante publicação busca erradicar de vez a 
influência do colonialismo. Entre os principais colaboradores do Suplemento cultural destacam-se 
Gabriel Mariano, Ovídio Martins, Aguinaldo Fonseca, entre outros.
Para alguns estudiosos, como Pires Laranjeira (1995), os anos que vão de 1966 a 1982 são 
marcados por um universalismo na produção literária, com o aparecimento do intimismo, do 
Cultura e Literatura Africana e Indígena24
abstracionismo e do cosmopolitismo. Segundo o autor, essa universalização da temática literária 
cabo-verdiana é anterior ao universalismo que se manifestaria mais tarde nas literaturas de Angola 
e Moçambique pós-independência. 
2.2 São Tomé e Príncipe: história, cultura e literatura 
Para melhor conhecer o arquipélago de São Tomé e Príncipe, vejamos o 
mapa de suas duas ilhas principais e ilhotas que lhes são próximas.
Figura 3 – Mapa de São Tomé e Príncipe 
Fonte : Adaptado de Temática Cartografia. 
O arquipélago de São Tomé e Príncipe, localizado no Golfo da Guiné, é formado por duas 
ilhas principais: Ilha de São Tomé e Ilha de Príncipe (ilhas vulcânicas) e por alguns ilhéus, alguns 
dos quais desabitados. O arquipélago contava, em 2018, segundo a página oficial do governo de São 
Tomé e Príncipe6 e o site português de informações demográficas7, com uma população de apro-
ximadamente 205.734 habitantes distribuídos em uma área de mais ou menos 1.001 quilômetros 
6 A página oficial do governo de São Tomé e Príncipe está disponível em: http://www.stp. gov.st. Acesso em: 14 mar. 2019. 
7 O site português para consultar informações sobre São Tomé e Príncipe está disponível em: https://countrymeters.
info/pt/Sao_Tome_and_Principe. Acesso em: 14 mar. 2019. 
Vídeo
Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 25
quadrados. Essas ilhas eram desabitadas quando os portugueses lá aportaram em fins de 1470 ou 
início de 1471 (ENDERS, 1997).
A condição favorável do solo e a chuva abundante propiciaram a Introdução da plantação de 
cana-de-açúcar no arquipélago. Para empreender essa plantação, em 1493 teve início o povoamento 
do arquipélago com portugueses oriundos da Ilha da Madeira e degradados vindos da Metrópole. 
Na “indústria” açucareira, a mão de obra foi trazida dos reinos vizinhos da Guiné, do Benin, do 
Gabão e do Congo. Nesse arquipélago, a plantação da cana-de-açúcar prosperou e o negócio com 
o açúcar foi estendido para outras colônias portuguesas, especialmente para o Nordeste do Brasil 
(BIRMINGHAM, 2003).
Em razão da necessidade de mão de obra escrava, muitos negros do continente foram levados 
às ilhas desse arquipélago. Segundo Enders (1997), por volta de 1560, São Tomé tinha cerca de 4.000 
habitantes, sendo que a metade deles era composta de escravos. Em virtude da escassez de mulheres 
brancas nas ilhas, africanas escravizadas foram levadas para São Tomé e Príncipe para gerarem filhos 
dos portugueses que lá viviam, a fim de povoarem o território. Os filhos gerados dessa união rece-
beram carta de alforria e mais tarde se tornaram os forros (corruptela de alforros), um dos grupos 
étnicos mais representativos na região.
No entanto, a produção de cana-de-açúcar no Brasil, mais produtiva que a do arquipélago 
africano, e as constantes revoltas dos negros nas ilhas propiciaram um decréscimo na produção 
açucareira. Essa decadência da economia das ilhas acabou por transformá-las em entrepostos do 
“comércio” de escravos.
Somente no século XIX, com as pressões externas pela extinção do tráfico negreiro, Portugal 
investiu em outro tipo de produção nas ilhas, incentivando nelas o cultivo do café e do cacau.
No início do século XX, a situação político-econômica do arquipélago de São Tomé e 
Príncipe não diferiu muito da que se encontrava em Cabo Verde ou na Guiné Portuguesa. À exce-
ção de Cabo Verde, cuja Ilha de São Nicolau possui um liceu desde o ano de 1866, as demais 
colônias não têm como propiciar aos jovens uma escolarização. No entanto, o discurso colonial 
valorizava a política de assimilação, cobrando da população das colônias comportamentos euro-
peus e o uso da língua portuguesa em detrimento do crioulo. O índice de analfabetismo era grande 
nas três regiões e a pobreza grassava nas colônias, pois a exploração das matérias-primas não as 
beneficiava. (ENDERS, 1997).
O arquipélago de São Tomé e Príncipe não ficou imune aos movimentos de valorização da 
cultura negra, especialmente em meados do século XX, quando os jovens da Casa dos Estudantes 
do Império8 divulgaram as ideias do Movimento da Negritude.
Assim como nas outras colônias de Portugal, a difusão das ideias do Movimento da Negritude, 
a insatisfação dos santomenses com as péssimas condições de vida no arquipélago e a repressão 
8 A Casa do Estudante do Império (CEI) de Lisboa reunia, por volta dos anos 1950, um grupo de jovens estudantes 
oriundos de todos os territórios colonizados pelos portugueses, em sua maioria da África. Nela, os estudantes se 
organizaram politicamente contra a política portuguesa na África e também escreveram poemas e outros textos 
literários que estabeleceram as bases de uma nova literatura que buscava explicitar a situação do negro nas colônias, 
utilizando formas poéticas que valorizassem a africanidade também na língua.
Cultura e Literatura Africana e Indígena26
política da ditadura salazarista, extensiva às colônias, desencadearam a formação do Movimento 
pela Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP) que, por vias diplomáticas, conseguiu negociar a 
independência do arquipélago em fins de 1974.
Mesmo em terreno adverso, uma prática jornalística e uma literatura nativista começam a 
ganhar força na primeira metade do século XX. No final do século XIX, alguns poemas dispersos 
são registrados nas páginas de alguns dos periódicos santomenses criados, graças ao prelo. Entre os 
nomes que contribuem para esses periódicos, destacam-se os poetas Francisco Stockler e Almada 
Negreiros. Alguns desses periódicos são O africano, A voz d’África e O negro. Na literatura do início 
do século XX, o mais importante nome é o de Francisco José Tenreiro.
Natural de São Tomé, o poeta Francisco José Tenreiro, filho de um administrador português 
com uma africana, ganhavisibilidade em Lisboa como professor universitário e organiza em 1953, 
com Mário Pinto de Andrade, poeta e militante angolano, a primeira antologia de poesia africana. 
O caderno da poesia negra de expressão portuguesa9, publicado na Metrópole e nas colônias, reuniu 
uma série de poemas de escritores da África de língua portuguesa em que se observava a valoriza-
ção da terra africana e do negro.
Após a morte de Tenreiro, Alda do Espírito Santo, Maria Manuela Margarido e Tomaz 
Medeiros, todos ex-estudantes da CEI de Lisboa, são alguns dos escritores que revitalizam a litera-
tura santomense. 
A poesia de Alda do Espírito Santo tem um lugar especial entre as demais. Em sua poesia 
se inscreve a afirmação identitária santomense, pois em sua obra é notável sua forte ligação com 
a história de seu país, deixando um legado inegável aos poetas santomenses mais jovens. Entre 
esses mais novos, destaca-se Conceição Lima, que também desenha em suas obras as questões 
abordadas por Alda do Espírito Santo, mas vivendo uma outra época. A poesia de Conceição Lima 
adquire um viés de crítica ao contexto em que a poesia emerge.
9 Note-se que o título da coletânea organizada por Tenreiro e Andrade remete à conhecida obra de Aimé Césaire, 
Cahier d’un retour au pays natal (Caderno de um regresso ao país natal, em tradução livre), na qual Césaire usou pela 
primeira vez o termo negritude.
Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 27
2.3 Guiné-Bissau: história, cultura e literatura 
Para localizarmos a Guiné-Bissau na África de língua portuguesa, vejamos o 
seu mapa a seguir.
Figura 4 – Mapa da Guiné-Bissau 
Fonte : Adaptado de Temática Cartografia. 
O território da Guiné-Bissau, no ocidente da África, com suas fronteiras atuais tem hoje, 
aproximadamente, 36.125 quilômetros quadrados e em 2018, segundo o site português de indi-
cação demográfica10 e a página oficial do governo da Guiné-Bissau11, possuía cerca de 2.011.935 
habitantes. Porém, antes da chegada dos portugueses, a Guiné-Bissau era parte de uma extensa 
região conhecida como Terra da Guiné, pertencente ao Reino de Mali. Em 1446, os portugueses 
aportaram na região e a nomearam Guiné Portuguesa. Embora o litoral da região tenha sido explo-
rado desde essa época, somente em 1630 estabeleceu-se no território a Capitania Geral da Guiné 
Portuguesa, que visava à administração da região, embora a Guiné Portuguesa continuasse admi-
nistrativamente ligada às ilhas de Cabo Verde. 
Em 1697, devido à ameaça de ocupação da região, especialmente por parte dos franceses 
e ingleses, a Coroa portuguesa fundou nessa região uma vila, Bissau, que cresceu e se constituiu 
em um importante posto fornecedor de escravos, especialmente para o continente americano nos 
séculos seguintes (ENDERS, 1997).
10 A página para consulta está disponível em: https://countrymeters.info/pt/Guinea-Bissau. Acesso em: 14 mar. 2019. 
11 A página oficial do governo da Guiné-Bissau está disponível em: http://www.parlamento.gw. Acesso em: 14 mar. 2019.
Vídeo
Cultura e Literatura Africana e Indígena28
Porém, no século XIX, com a abolição da escravatura, a Guiné Portuguesa, sem qualquer 
recurso para sobrevivência material, passou por uma crise econômica e, para sair dela, investiu na 
produção de novas culturas como a da borracha e a da mancarra (amendoim).
As condições extremamente pobres da região propiciaram também que as populações 
locais se rebelassem contra o governo português, que reage enviando militares à Guiné para sufo-
car as revoltas populares. Para inibir os conflitos, o governo português incentivou a exploração 
agrícola da região por parte de colonos portugueses ou de seus descendentes que iniciaram a 
produção da mancarra.
Já no início do século XX, as forças coloniais reprimiram fortemente as rebeliões locais e 
objetivavam eliminar os africanos mais combativos, impor o pagamento de impostos à adminis-
tração colonial e controlar os recursos econômicos no território.
Em meados do século XX, a Guiné Portuguesa amargou uma situação de extrema pobreza, 
com um grande índice de analfabetos. Nessa mesma época, as ideias independentistas se difundi-
ram especialmente nos meios urbanos. A difusão dessas ideias e a independência de outros países 
da África, colonizados por outras nações europeias, estimularam a fundação, em 1956, do Partido 
Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), criado por Amílcar Cabral. Em suas 
constantes viagens a Cabo Verde, Guiné e Portugal, onde se graduou em Agronomia, Amílcar 
Cabral tomou contato com os poetas, escritores e estudantes dos outros países africanos coloni-
zados por Portugal. Desse contato, nascerá mais adiante um processo de luta dos países africanos 
lusófonos pela independência.
Devido às condições socioculturais da Guiné-Bissau, a literatura guineense só floresceu 
muito tardiamente em relação às literaturas das outras colônias portuguesas na África. O fato de 
a Guiné ser basicamente uma colônia de exploração e também o fato de ter ficado, por um longo 
período, administrativamente atrelada ao governo geral da colônia de Cabo Verde foram decisivos 
para que não houvesse, mesmo na capital Bissau, as condições necessárias para uma produção 
literária e artística.
A imprensa também chegou muito tarde à Guiné. Os jornais oficiais só apareceram na 
região por volta de 1880, sendo que nas outras colônias africanas já havia uma circulação de 
 jornais desde 1843. 
Os primeiros textos produzidos em território guineense tiveram lugar na primeira metade 
do século XX. Em 1930, é editado o primeiro jornal dirigido por um guineense. Trata-se de 
O comércio da Guiné, editado por Juvenal Cabral, pai de Amílcar Cabral.
Entre os escritores e poetas, Fausto Duarte se destacou como romancista e Maria Archer 
como poetisa. João Augusto Silva, ganhador de um prêmio literário no período colonial, 
e Fernanda Castro são, com Fausto Duarte e Maria Archer, os nomes mais importantes da litera-
tura guineense que, nesse período, não se afasta muito da referência portuguesa.
Vale destacar ainda a produção de Marcelino Marques de Barros, que em sua obra Cantos, 
canções e parábolas reúne um grupo de contos e canções guineenses tradicionais e populares, valo-
rizando a cultura da região.
Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 29
Depois de 1945, surge na Guiné uma literatura de combate que denunciava a dominação e 
a miséria a que os negros estavam submetidos em suas terras e os incitava à libertação e à valori-
zação da cultura negra. Entre os escritores dessa época, destacam-se Vasco Cabral, António Baticã 
Ferreira e Amílcar Cabral.
Após a independência da Guiné, a literatura guineense ganha novo vigor. Nessa época, surge 
um grupo de jovens poetas, cujas obras manifestam um caráter social, focalizando a defesa da 
liberdade, a questão da identidade nacional, entre outras coisas. Agnelo Regalla, António Soares 
Lopes (Tony Tcheca), José Carlos Schwarz, Francisco Conduto de Pina e Félix Sigá são alguns dos 
nomes mais significativos desse período. 
Na década de 1990, novos autores se somam ao grupo atuante da Guiné-Bissau, já indepen-
dente, e uma escrita de cunho mais intimista se desenha nesse momento. Entre os autores desse 
período, destacam-se Hélder Proença, Tony Tcheca, Carlos Vieira e Odete Semedo. A utilização da 
língua crioula na literatura ganha força e valoriza a cultura mestiça do arquipélago. 
Considerações finais
Ainda que atualmente haja menos visibilidade que as literaturas de Angola e de Moçambique, 
as literaturas dos arquipélagos de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe e a literatura da Guiné-Bissau 
surgiram antes da independência desses países, ocorrida apenas na segunda metade do século XX, 
e apresentam as características próprias do processo de colonialismo (literaturas coloniais), a busca 
por caminhos próprios (processo de descolonização cultural) e, finalmente, após a independência, 
já demonstram possibilidade de expressão autônomae desvinculada do processo colonial.
Essas nações – cada qual a seu modo – desde cedo trouxeram na expressão escrita um esboço 
do seu nativismo, que seria construído coletiva e progressivamente pelos intelectuais desses países 
ao longo do século XX. Atualmente, providas de autonomia e já consolidadas, essas literaturas com 
seu repertório específico somam-se às demais literaturas africanas de língua portuguesa, revelan-
do-nos uma África lusófona plural e rica em sua diversidade.
Ampliando seus conhecimentos
• ANDRADE, Mário Pinto de; TENREIRO, Francisco José. Na noite grávida de punhais. 
Lisboa: Livraria Sá de Costa, 1975. (Antologia temática da poesia africana, v. 1). 
Recomendamos a leitura do poema “Ora dja tchiga”, de Kaoberdiano Dambará, 
pseudônimo do poeta e advogado cabo-verdiano Felisberto Vieira Lopes. Foi escrito em 
crioulo e conclama os negros a lutarem pela justiça na África. Ao lado do poema em 
crioulo, recomendamos a versão em português encontrada na obra Na noite grávida de 
punhais, antologia organizada pelo poeta e escritor angolano Mário Pinto de Andrade 
e pelo santomense Francisco José Tenreiro. Além disso, essa antologia reúne a lírica 
de alguns dos mais representativos poetas dos países africanos lusófonos e apresenta 
uma pequena biografia sobre cada um deles. Pode-se encontrar o poema em crioulo 
Cultura e Literatura Africana e Indígena30
editado pelo Departamento da Informação e Propaganda do Comité Central do Partido 
Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), disponível em: http://www.
iu.edu/~celtie/Lessons/Cape_Verdean/CapeVerdeLD101.pdf. Acesso em: 14 mar. 2019. 
• LARANJEIRA, Pires et al. Literaturas africanas de expressão portuguesa. Lisboa: Editora 
Universidade Aberta, 1995. 
Trata-se de uma obra primordial para o estudo das literaturas africanas dos países lusófonos, 
pois o autor analisa as literaturas de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola e 
Moçambique, desde a expressão de uma literatura nativista até a contemporaneidade. Na obra, 
há ainda os estudos de duas especialistas em literaturas africanas lusófonas: Elsa Rodrigues dos 
Santos e Inocência Mata.
Atividades
1. De que maneira podemos afirmar que o lançamento da revista Claridade, em 1936, em Cabo 
Verde, inaugura uma nova fase na literatura africana de língua portuguesa e na literatura 
cabo-verdiana?
2. Na primeira metade do século XX, a literatura santomense ganha visibilidade pela ação do 
seu maior representante nesse período – Francisco José Tenreiro. Qual foi o importante 
gesto de Tenreiro em prol da literatura em sua época? 
3. Caracterize a produção literária guineense posterior à independência do país.
3
Cultura e literatura em Angola 
Claudia Amorim
O objetivo deste capítulo é apresentar as características históricas, culturais e literárias de 
Angola, país cujos limites foram estabelecidos após a chegada à região do navegador português 
Diogo Cão, por volta de 1483. Com a vinda do colonizador branco, o território foi demarcado e 
as diversas etnias que viviam na região estiveram sob o jugo português até a independência do 
país, em 1975. Mesmo após a independência, o país adotou oficialmente a língua portuguesa1. No 
entanto, em Angola, existem muitos dialetos e línguas locais, entre as quais se destacam o umbundo, 
falado pelo grupo Ovimbundu (parte central do país); o quicongo, falado pelos Bacongo, ao norte; 
e o chokwe-lunda e o kioko-lunda, ambos correntes no nordeste do país. Há ainda o quimbundo, 
falado pelos Mbundos, Mbakas, Ndongos e Mbondos, grupos aparentados que habitam o litoral de 
Luanda e arredores até o Rio Cuanza.
No século XX, a luta armada pela independência das colônias portuguesas na África começou 
em 1961, em Angola, e depois se disseminou pela Guiné Portuguesa (atual Guiné-Bissau) em 1963 e 
chegou a Moçambique em 1964. Os arquipélagos de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, que juntamente 
com os três primeiros territórios aqui citados constituem a chamada África portuguesa, engrossaram 
a luta armada iniciada no continente, enviando guerrilheiros para as regiões em conflito. Em Angola, 
a guerra foi mais longa e durou exatamente 13 anos.
De todas as colônias portuguesas na África, Angola foi a que mais recebeu atenção de Portugal. 
Essa atenção foi bastante perniciosa, pois do seu território muitas riquezas foram extraídas, os povos 
locais foram submetidos à escravidão e à diáspora até o século XIX, quando Portugal, por pressões 
externas, foi obrigado a extinguir o tráfico negreiro e a escravidão. Em contrapartida, a colônia por-
tuguesa mais extensa na África foi a que recebeu um número maior de colonos e sua capital, Luanda, 
acabou por apresentar, no século XIX, um estatuto que as outras cidades das colônias portuguesas 
não possuíam.
No século XX, após a conquista da independência, Angola convocou eleições gerais e, com a 
vitória do candidato do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), enfrentou, por cerca 
de duas décadas, uma guerra interna entre os diversos grupos que rivalizavam pelo comando do país.
Para melhor conhecer essa ex-colônia portuguesa, será necessário primeiramente visualizar 
seu território na costa ocidental da África.
1 Kwame Appiah (1997, p. 20) observa que, mesmo “depois de uma brutal história colonial e de quase duas décadas de 
contínua resistência armada, a descolonização da África portuguesa, em meados dos anos 1970, deixou atrás de si uma 
elite que redigiu as leis e a literatura africanas em português”. Segundo o estudioso, esse fato se deu pela necessidade 
de os escritores usarem a língua europeia em seus ofícios sob pena de, em isso não acontecendo, serem vistos como 
particularistas. Além disso, o uso da língua portuguesa unia as diferentes etnias na difícil tarefa da construção nacional, 
o que se configuraria quase impossível, caso os inúmeros grupos étnicos usassem, ao invés de uma língua comum, as 
suas línguas de origem.
Cultura e Literatura Africana e Indígena32
Figura 1 – Mapa de Angola
A seguir, abordamos a história da colonização de Angola e alguns de seus aspectos 
político-culturais.
3.1 Angola: a história da sua colonização
O território de Angola, no sudoeste da África, possui aproximadamente 
1.246.700 quilômetros quadrados e contava, em 2004, segundo a página oficial do 
governo do país, com cerca de 14.767.655 habitantes2. Foi a mais extensa das colô-
nias portuguesas na África e fazia parte de uma antiga região conhecida no século 
XV como Reino do Congo, quando os portugueses lá chegaram. O nome Angola é 
oriundo da palavra banto ngola, com a qual se designava o governante de uma região que se loca-
liza hoje a leste da capital Luanda.
2 A página oficial do governo de Angola está disponível em: www.info-angola.com. Acesso em: 14 mar. 2019.
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Cultura e literatura em Angola 33
A história da colonização de Angola começa em 1483, quando Diogo Cão, um navegador a 
serviço da Coroa portuguesa, chegou à foz do Rio Zaire (o segundo maior rio da África), situado no 
Reino do Congo, e fixou no local um padrão de pedra com o brasão português. O Reino do Congo 
era uma extensa região que compreendia os atuais territórios da República do Congo, Cabinda, 
República Democrática do Congo, o centro-sul do Gabão e o noroeste de Angola.
No Reino do Congo havia um chefe local, denominado Mani Congo, que governava os 
diversos grupos étnicos bantos da região, especialmente os Bacongo. Após o contato com os portu-
gueses, o monarca, Mani Congo, converteu-se ao catolicismo e a capital do reino, Mbanza Congo, 
recebeu o nome de São Salvador do Congo.
O Reino do Congo era uma região com grandes mercados regionais, nos quais se comercia-
lizavam produtos como sal, metais, tecidos e derivados de animais por meio de escambo ou de uma 
moeda local – uma concha (nzimbu), coletada na região de Luanda.
Com a chegada dos portugueses, o comércio regional se intensificou. A Coroa portuguesa 
visavanesse comércio ao controle das minas e ao negócio com escravos que, aliás, foi um dos 
mais rentáveis para Portugal. A colônia de Angola forneceu um grande número de escravos para a 
América durante o século XVIII.
A região apresentou também inúmeras revoltas contra a invasão portuguesa, todas repri-
midas pelo poderio bélico europeu. A primeira rebelião de que se tem notícia ocorreu em 1491 
e foi liderada por Panzo-a-Nginga, que se recusou a receber o batismo e não aceitou as novas 
leis impostas pelos missionários e conquistadores portugueses. A mais conhecida resistência ao 
 domínio português, porém, foi a da rainha Jinga, que no século XVII resistiu ao domínio europeu, 
comandando os povos da região contra os invasores, com o auxílio também de holandeses.
Após a perda do Brasil no início do século XIX, Angola se tornou a colônia portuguesa 
mais importante para o reino português do ponto de vista econômico. A atenção dispensada pela 
Metrópole à maior colônia portuguesa na África resultou, apesar da intensa exploração das rique-
zas, em importantes mudanças sociais no território, verificáveis, sobretudo, na capital Luanda. 
Nessa época, a sociedade angolana já apresentava uma elite local, constituída por funcionários 
públicos, juristas, jornalistas e alguns pequenos comerciantes, quase todos mestiços.
A população europeia que no último quartel do século XIX habitou a cidade 
era essencialmente constituída, diz-nos o historiador Júlio de Castro Lopo, por 
africanistas de permanência incerta no território, aventureiros, colonos força-
damente amarrados por necessidades econômicas e contrariedades diversas à 
vida colonial, missionários e clérigos, militares e degredados. Numericamente 
inferior – um censo de 1889 dá-nos conta de 5 000 europeus para 23 000 afri-
canos –, [...], o português, dado o reduzido número de mulheres de sua raça 
[...] aproximou-se intimamente do agregado africano, com o qual se cruzou e 
constituiu família, determinando uma sociedade em que o mestiço, no declinar 
do século, gozou duma certa relevância. (ERVEDOSA, 1979, p. 23-24)
Com a crescente expansão da indústria europeia durante o século XIX, Portugal, por pressões 
externas, especialmente de países como a Inglaterra, se viu obrigado a extinguir o tráfico negreiro em 
todas as colônias ultramarinas. Ainda sob pressão estrangeira, o país estabeleceu uma data-limite, 
Cultura e Literatura Africana e Indígena34
1878, para extinguir a escravatura. No entanto, mesmo com essas medidas, uma forma de escrava-
tura persistia nas colônias africanas de língua portuguesa sob a forma de trabalho forçado.
Durante o século XIX, as colônias de Angola e São Tomé e Príncipe sustentaram a economia 
da Metrópole, fornecendo importantes produtos tropicais como o café e o cacau, que se transfor-
maram em dividendos para a Coroa portuguesa, uma vez que ela exportava esses produtos para 
outros países europeus.
3.2 Angola: o início das atividades literárias
A importância de Angola para Portugal resultou necessariamente em algu-
mas modificações na vida da colônia, especialmente na capital Luanda. Assim, na 
segunda metade do século XIX, Angola já possuía um pequeno grupo de africanos 
que frequentava as poucas escolas criadas na região. Com essa medida, Portugal 
pretendia investir em uma “ação civilizadora”, tornando o africano um assimilado3.
A existência desse grupo de africanos escolarizados e descendentes, em geral, de portugue-
ses, possibilitou o incremento de atividades jornalísticas na capital de Angola. Na segunda metade 
do século XIX, alguns jornais circulavam pela região, como O echo de Angola e o Jornal de Loanda, 
fundado por Alfredo Troni, que já marca a transição de um jornalismo colonial para um jorna-
lismo que evidenciava as questões africanas.
No campo literário, destacam-se na poesia Maia Ferreira, que publica o primeiro livro de 
poemas em solo angolano (Espontaneidades de minh’alma), e Joaquim Dias Cordeiro da Matta, 
colaborador dos jornais da época, aponta a necessidade de se perceber a diferença cultural em 
relação ao colonizador e valorizar a cultura africana. Assim, Cordeiro da Matta escreve seus poe-
mas incluindo palavras em quimbundo. Além disso, o escritor preparou uma gramática da língua 
quimbundo e um dicionário quimbundo-português. Assis Júnior foi outro nome importante no 
cenário intelectual angolano. Autor de estudos sobre o quimbundo e o português, o advogado, 
escritor e jornalista Assis Júnior escreveu ainda O segredo da morta, obra ficcional publicada pri-
meiramente em periódicos angolanos e posteriormente pelo autor.
No que diz respeito à prosa, de modo similar ao que acontece com a poesia, no século XIX, 
alguns escritores angolanos, sensíveis ao “sentimento nacional”, buscam uma escrita que procura 
se descolar da ficção portuguesa. Um dos grandes romancistas desse período foi Alfredo Troni, 
que procurou introduzir em suas obras palavras de origem angolana.
Essas primeiras manifestações jornalísticas e literárias em Angola, reivindicando as questões 
da terra, foram significativas. Porém, no quadro geral, a colônia vivia uma precária situação de analfa-
betismo, por exemplo, que se prolongou até a primeira metade do século XX. Essa situação se repetia 
drasticamente nas outras colônias que Portugal possuía na África. Como destaca Enders (1997, p. 89): 
“Em 1950, a população africana da Guiné tem 99% de analfabetos, a de Angola 97%, a de Moçambique 
98%. É verdade que, na mesma época, a taxa de analfabetismo na Metrópole eleva-se a 44%”.
3 Assimilado era o termo usado para designar primeiramente os descendentes das grandes famílias crioulas do século 
XIX que estudavam em escolas católicas – responsáveis pela educação formal – e eram apadrinhados por brancos da 
elite colonial.
Vídeo
Cultura e literatura em Angola 35
Malgrado as dificuldades, na primeira metade do século XX, Assis Júnior e Castro 
Soromenho, este último moçambicano de nascimento e angolano de vivência, assinalaram o 
arranque da ficção angolana. E com Castro Soromenho, observa-se uma profunda mudança no 
romance angolano.
Sofrendo significativas mudanças durante a primeira metade do século XX, a sociedade 
angolana, por volta dos anos 1950, apresentava uma geração de estudantes angolanos, geral-
mente mestiços, que deixava o país para formalizar seus estudos nas universidades portuguesas. 
Nessa época, o contato dos estudantes angolanos com estudantes portugueses, brasileiros e de 
outros países africanos de língua portuguesa foi decisivo para o despertar da consciência política 
e cultural dos jovens angolanos.
3.3 Angola: literatura e cultura a partir de 1950
A partir de 1950, novos caminhos político-literários se desenham em Angola. 
Como afirma Laura Cavalcante Padilha (2007, p. 17-18):
A segunda metade do século XX vê acirrar-se em Angola um movimento de 
problematização e resistência cultural pelo qual se procura reafirmar a diferença 
da angolanidade por tanto tempo marginalizada pelos aparatos ideológicos do 
colonizador e, naquele momento histórico, pensada como um absoluto. Nesse 
movimento mais amplo, cabe às produções literárias o papel fundamental de 
difundir e sedimentar essa busca de alteridade na cena simbólica angolana. 
Articula-se, então, uma fala literária que tenta superar a fragmentação do dila-
cerado corpo nacional, restabelecendo-se, assim, não uma unidade perdida, 
já que esta nunca existiu, mas uma espécie de unificação em torno de ideais 
comuns que movessem a engrenagem da história em outro sentido.
Animados também pelas ideias do Movimento da Negritude – que na década de 1960 se 
engajava “na missão pela libertação das colônias africanas” (BERND, 1988, p. 30) – e pelos poemas 
dos grandes nomes do Movimento, como Aimé Césaire (Martinica), Léopold Sédar Senghor 
(Senegal) e Léon Damas (Guiana Francesa), alguns jovens angolanos se organizaram e criaram o 
Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, e em 1951 foi publicada a revista Mensagem – a voz 
dos naturais de

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