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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE MEDICINA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA 
MESTRADO PROFISSIONAL EM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 
 
 
 
NELSON FERNANDES LEAL 
 
 
 
 
BENEFÍCIOS DA ASPIRAÇÃO MANUAL INTRAUTERINA ASSOCIADA AO USO 
DO MISOPROSTOL VIA VAGINAL NOS CASOS DE ABORTO RETIDO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2013 
 
 
NELSON FERNANDES LEAL 
 
 
 
 
 
 
BENEFÍCIOS DA ASPIRAÇÃO MANUAL INTRAUTERINA ASSOCIADA AO USO 
DO MISOPROSTOL VIA VAGINAL NOS CASOS DE ABORTO RETIDO 
 
 
 
 
Dissertação submetida à coordenação do Programa 
de Pós-graduação em Farmacologia do 
Departamento de Fisiologia e Farmacologia da 
Universidade Federal do Ceará, como requisito 
parcial para obtenção do grau de Mestre em 
Farmacologia Clínica. 
 
Orientadora: Profa. Dra. Maria Elisabete Amaral de 
Moraes 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2013 
 
 
 
NELSON FERNANDES LEAL 
 
 
BENEFÍCIOS DA ASPIRAÇÃO MANUAL INTRAUTERINA ASSOCIADA AO USO 
DO MISOPROSTOL VIA VAGINAL NOS CASOS DE ABORTO RETIDO 
 
 
Dissertação submetida á coordenação do 
Programa de Pós-Graduação em 
Farmacologia do Departamento de 
Fisiologia e Farmacologia da Universidade 
Federal do Ceará, como requisito parcial 
para a obtenção do grau de Mestre em 
Farmacologia Clínica. 
 
Aprovada em: ___/___/____. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
__________________________________________________ 
Profa. Dra. Maria Elisabete Amaral Moraes (Orientadora) 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
_________________________________________________ 
Prof. Dr. Manoel Oliveira Filho 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
__________________________________________________ 
Dr. Demétrius Fernandes do Nascimento 
Unidade de Farmacologia Clínica (UNIFAC) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho: 
À Beatriz, companheira e amiga, pelos 
anos compartilhados com você que 
renovam a paixão, que solidifica nosso 
amor. Tão forte que nutriu, também, meu 
amor pela profissão e me faz um homem 
realizado como marido e como médico. 
 
Aos meus filhos, Guilherme, Herika e 
Felipe, ao meu genro Antônio e à minha 
neta, Ana Beatriz. Com vocês rejuvenesci, 
agucei minha dedicação ao trabalho e 
valorizei o ambiente familiar. 
 
Aos meus anjos protetores, Araci e 
Professor Francisco das Chagas Oliveira, 
modelos de profissionais competentes e 
dedicados, que marcaram minha vida. 
 
Aos meus pais, Olívia e Manoel, de quem 
recebi incentivo, exemplo de trabalho e 
valores que pautaram minha conduta. 
 
Aos meus queridos irmãos, Juçara, 
Juciara, Iara, José, Amélia, com quem 
compartilho as alegrias dessa vitória. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
À Profa. Dra. Maria Elisabete Amaral de Moraes, a quem, além da firme 
orientação do presente trabalho, agradeço pela sua inestimável amizade e 
competência. 
Ao Dr. Osvaldo Dias e à Enfermeira Vera Rolim, coordenadores do 
Serviço de Aspiração Manual Intrauterina (AMIU) da MEAC, pela concessão dos 
dados, sem os quais essa pesquisa não teria sido possível e pela atenção contínua. 
Aos amigos Isabel Azevedo, Manoel Cláudio Azevedo, Gilberto Cerqueira 
pelos conselhos, amizade, sugestões durante elaboração dessa dissertação. 
Aos funcionários do Serviço de Arquivo Médico e Estatística da 
Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC) pela disponibilidade de acesso 
aos prontuários. 
À Farmacêutica da MEAC, Hannah Lorio Dias, pelos dados 
disponibilizados durante a coleta de dados. 
À Enfermeira Ana Lourdes Almeida e Silva Leite, pela amizade, constante 
incentivo, e valorosas colaborações durante esta minha caminhada pela busca de 
conhecimentos. 
A todos os Professores da Pós-Graduação em Farmacologia que 
contribuíram para minha formação nesse curso. 
Aos colegas da turma de Mestrado, pelo aprendizado contínuo. 
A todos que, diretamente ou indiretamente, contribuíram para realização 
desse trabalho. 
 
 
BENEFÍCIOS DA ASPIRAÇÃO MANUAL INTRAUTERINA ASSOCIADA AO USO 
DO MISOPROSTOL NOS CASOS DE ABORTAMENTO RETIDO. Nelson 
Fernandes Leal. Orientadora: Maria Elisabete Amaral de Moraes. Dissertação 
submetida à Coordenação do Curso de Pós Graduação em Farmacologia do 
Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal do Ceará, 
como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Farmacologia Clínica. 
Fortaleza, 2013 
 
 
O abortamento é um tema que incita debates na sociedade contemporânea, pois 
envolve percepções sobre dignidade, vida, ética, religião, valores morais, direitos 
das mulheres e gênero. O misoprostol é um medicamento de baixo custo, 
amplamente disponível em hospitais, o que o torna acessível. As qualidades 
uterotônicas e a capacidade de amadurecimento cervical têm feito do misoprostol 
um medicamento amplamente utilizado para diversas indicações na Saúde 
Reprodutiva, incluindo a indução de parto e abortamento incompleto. A aspiração 
manual intrauterina (AMIU) tem sido usada, no mundo todo, como alternativa segura 
e eficaz à curetagem uterina. É o procedimento recomendado pela Organização 
Mundial da Saúde e pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia, para 
tratamento do abortamento e nos casos de interrupção da gravidez, previstos na 
legislação vigente no País. O objetivo deste trabalho foi avaliar os benefícios da 
Aspiração Manual Intrauterina associada ao misoprostol nos casos de abortamento 
retido. Para atender a esta proposta foi realizado um estudo retrospectivo em uma 
Maternidade Escola, após ter sido aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da 
Maternidade-Escola Assis Chateaubriand, com Protocolo nº 111/11, no período de 
2010 a 2011. Trata-se de um estudo exploratório, transversal, retrospectivo, com 
abordagem quantitativa.No que concerne à classificação, a maior ocorrência de 
abortamentose deu na faixa etária de 20 a 29 anos, correspondendo a 50,5% do 
total de casos. Verificou-se que a média da idade gestacional foi de 8,87 semanas. 
Quando comparadas às doses do misoprostol utilizadas no estudo, observou-se 
que, no grupo que utilizou a dose de 400µg, a média de idade foi de 27,36 ± 7,18 
anos, enquanto no grupo que utilizou a dose de 800µg, a média foi de 19,8 ± 2,86 
anos, observando, assim, uma diferença, estatisticamente significativa, entre a 
média de idade dos dois grupos com relação à dose utilizada, demonstrando que o 
grupo mais jovem necessitou de maior dose para se completar o abortamento. 
Observou-se uma tendência linear entre o intervalo de hora entre a administração do 
misoprostol associada à aspiração manual intrauterina e a faixa etária, ou seja, à 
medida que a idade vai aumentando, o intervalo de hora vai diminuindo e vice-versa 
o que representa uma diferença significativa , entre o intervalo de horas e a faixa 
etária. Os resultados demonstram que, na população estudada, a Aspiração Manual 
Intrauterina associada ao uso de misoprostol nas doses de 400µg e 800µg foi eficaz 
na indução do abortamento retido no ambiente hospitalar. Ainda são poucas as 
referências na literatura nacional que tratam das vantagens da associação do 
misoprostol à AMIU em relação à curetagem tradicional. 
 
Palavras-chave: Aborto Retido. Misoprostol. Aspiração Manual intrauterina. 
 
 
 
 
 
BENEFITS MANUAL SUCTION INTRAUTERINE ASSOCIATED WITH THE USE 
OF MISOPROSTOL ABORTION IN CASES OF RETAINED. Nelson Fernandes 
Leal. Supervisor: Maria ElisabeteAmaral de Moraes. Dissertation submitted to the 
Coordination of the Postgraduate Pharmacology Course, Department of Physiology 
and Pharmacology, Universidade Federal doCeará, as a partial requirement to 
receive the Master’s degree in Clinical Pharmacology. Fortaleza, 2013. 
 
Abortion is an issue that raises discussions in contemporary society, since it involves 
perceptions of dignity, life, ethics, religion, moral values, women’s rights, and gender. 
Misoprostol is a low cost drug widely available in hospitals, which makes it 
accessible. Theuterotonic qualities and cervical ripening capacity of misoprostol 
have made it a drug widely used for many indications in Reproductive Health, 
including induced labor and incomplete abortion. Manual Intrauterine Aspiration has 
been used worldwide as a safe and effective alternative to uterine curettage. This 
procedure is recommended by the World Health Organization and the International 
Federation of Gynecology and Obstetrics for the treatment of abortion and for cases 
of termination of pregnancy, as established in current Brazilian legislation.This study 
aimed to evaluate the benefits of Manual Uterine Aspiration associated to 
misoprostol in cases of missed abortion. To achieve this proposal, a retrospective 
study was carried out in a Maternity School, after being approved by the Research 
Ethics Committee of Assis Chateaubriand Maternity School, under Protocol No. 
111/11, from 2010 to 2011. This is an exploratory, cross-sectional, retrospective 
study with quantitative approach. Regarding the classification, the higher incidence of 
abortion occurred in the age group of 20-29 years, corresponding to 50.5% of total 
cases. We verified that the average gestational age was of 8.87 weeks. When 
comparing the doses of misoprostol used in the study, we observed that the group 
that received a 400µg dose presented the average age of 27.36 ± 7.18 years, as for 
the group that received an 800μg dose, the average age was 19.8 ± 2.86 years. Thus 
observing a statistically significant difference between the average ages of the two 
groups as regards to the dose, demonstrating that the younger group needed a 
higher dose to complete the abortion. There was a linear trend between the time 
interval between administration of misoprostol associated with manual intrauterine 
aspiration and age, i.e. as the age increases, the time interval decreases and vice 
versa, which represents a significant difference between time interval and age. The 
results show that, in the population studied, the Manual Intrauterine Aspiration 
associated with the use of misoprostol in 400μg and 800μg doses was effective in 
inducing and curettage of missed abortion in hospital. 
 
Keywords: Abortion, Missed. Misoprostol. Manual Intrauterine Aspiration. 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1: Laminária ............................................................................................................. 24 
 
Figura 2: Sonda de Foley ................................................................................................... 25 
 
Figura 3: Estrutura Químicado Misoprostol ................................................................. 32 
 
Figura 4: Seringa a vácuo e cânulas de Karman ........................................................ 35 
 
Figura 5: Dilatadores .......................................................................................................... 36 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1-Distribuição do número de curetagens segundo a faixa etária das 
mulheres que utilizaram misoprostol via vaginal, MEAC- Fortaleza-Ce, 2009 a 
2011. ........................................................................................................................................ 50 
 
Tabela 2-Distribuição do número de gestantes segundo a idade gestacional, 
MEAC- Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011. ............................................................................ 50 
 
Tabela 3Distribuição do número de curetagens segundo a dosagem de 
misoprostol utilizada pelas mulheres submetidas à AMIU, MEAC- Fortaleza-Ce, 
de 2009 a 2011 ...................................................................................................................... 51 
 
Tabela 4- Comparação das médias de idadedas pacientes segundo a dose de 
misoprostol,MEAC- Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011 ..................................................... 51 
 
Tabela 5-Distribuição do número de curetagens segundo o tempo entre o uso 
de misoprostol e a realização da AMIU, MEAC- Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011. .. 52 
 
Tabela 6- Associação entre intervalo de hora e faixa etária das pacientes, 
MEAC- Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011 ............................................................................. 52 
 
Tabela 7: Comparação das médias de idade gestacional das pacientessegundo 
o intervalo de hora, MEAC- Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011 ........................................ 53 
 
Tabela 8- Distribuição das gestantes de acordo com os números de dias de 
internação, MEAC- Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011. ...................................................... 53 
 
Tabela 9- Comparação das médias de idade, segundo os dias de internação, 
MEAC- Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011. ............................................................................ 54 
 
Tabela 10- Comparação das médias de idade gestacionaldas pacientes 
segundo os dias e internação,MEAC- Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011 .................... 54 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
 
 
ACOG American Congress of Obstetricians and 
Gynecologists 
AMIU Aspiração Manual Intrauterina 
ANOVA 
D&C 
Análise de variância 
Dilatação e curetagem 
EPM Erro Padrão da Média 
MEAC Maternidade-Escola Assis Chateaubriand 
OMS Organização Mundial da Saúde 
ONU Organização das Nações Unidas 
PG Prostaglandina 
SNC Sistema Nervoso Central 
SUS Sistema Único de Saúde 
UFC Universidade Federal do Ceará 
WHO World Health Organization 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.acog.org/
http://www.acog.org/
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15 
2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................... 19 
2.1 Abortamento ........................................................................................................ 19 
2.1.1 Tipos de Abortamento .................................................................................... 19 
2.2 Aborto Retido ....................................................................................................... 20 
2.3 Tratamento do Abortamento ............................................................................... 20 
2.4 Métodos de preparo cervical para indução do abortamento ............................ 22 
2.4.1 Métodos Mecânicos ........................................................................................ 23 
2.4.1.1 Método de laminaria .............................................................................. 23 
2.4.1.2 Método de Krause ................................................................................. 24 
2.4.1.3 Acupuntura ............................................................................................ 25 
2.4.1.4 Relações sexuais ................................................................................... 26 
2.4.2 Métodos Farmacológicos ............................................................................... 26 
2.4.2.1 Relaxina .................................................................................................. 26 
2.4.2.2 Mifepristona ........................................................................................... 27 
2.4.2.3 Hialuronidase ......................................................................................... 28 
2.4.2.4 Misoprostol ............................................................................................ 28 
 Mecanismo de ação ........................................................................................ 30 
 Efeitos adversos ............................................................................................. 31 
 Características farmacológicas ..................................................................... 32 
2.5 Aspiração Manual Intrauterina (AMIU) ............................................................... 342.6 Anestesia para curetagem uterina ..................................................................... 37 
3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA ............................................................................ 41 
4 OBJETIVOS ............................................................................................................. 43 
4.1 Geral ..................................................................................................................... 43 
4.2 Específicos........................................................................................................... 43 
5 METODOLOGIA ....................................................................................................... 45 
 
 
5.1 Desenho do Estudo ............................................................................................. 45 
5.2 Local do estudo ................................................................................................... 46 
5.3 População / Amostra ........................................................................................... 46 
5.4 Critérios de inclusão ........................................................................................... 46 
5.5 Critérios de exclusão .......................................................................................... 46 
5.6 Instrumento de coleta de dados ......................................................................... 47 
5.7 Análise dos dados ............................................................................................... 47 
5.8 Aspectos éticos da pesquisa .............................................................................. 47 
6 RESULTADOS ......................................................................................................... 50 
7 DISCUSSÃO ............................................................................................................. 56 
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 63 
9 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 65 
10 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 67 
ANEXO I - PARECER COMITÊ DE ÉTICA ........................................................................ 84 
ANEXO 2 – TERMO DE FIEL DEPOSITÁRIO .................................................................... 85 
APÊNDICE A - FORMULÁRIO PARA COLETA DE DADOS ............................................ 87 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
15 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Nas últimas décadas, a atenção à Saúde da Mulher esteve voltada, 
sobretudo, para o acompanhamento do período gestacional. No entanto, atualmente, 
é grande o interesse mundial pela saúde reprodutiva feminina de maneira mais ampla, 
justamente devido à força produtiva que a mulher representa para a sociedade 
(SÓLIS, 1997; NOGUEZet al., 2008). 
Para uma compreensão mais completa do processo saúde-doença da 
mulher, necessita-se conceber um novo paradigma que veja seu organismo como um 
sistema vivo, inserido em um processo dinâmico. Neste sentido, dentro de uma 
concepção sistêmica da vida, tem sido defendida a formulação gradual de conceitos e 
modelos interligados para o desenvolvimento de organizações sociais, bem como 
abordagens pertinentes à saúde individual, social e suas relações com o meio 
ambiente (CAPRA, 1986). 
O entendimento de saúde como resultado de uma ação médica é 
relativamente recente. Pode-se mesmo afirmar que, há dois ou três séculos, não 
havia a ideia de saúde como um bem a ser buscado. A saúde estava dada, e sua 
manutenção não era objeto de reflexões ou práticas específicas, sendo uma 
consequência natural da observância das regras morais, ética e de convívio vigentes. 
As práticas de cura, leigas ou não, eram voltadas para indivíduos doentes. Não havia 
entre elas a ideia de saúde, a íntima superposição que temos hoje, em particular nas 
propostas voltadas para a prevenção das doenças (SAYD, 1998). 
Mais recente ainda é o entendimento da saúde como resultado de uma 
ação técnica específica sobre corpos diferenciados, no caso, o das mulheres. O 
processo histórico-social, que configura a possibilidade de pensarmos em “saúde da 
mulher” e estabelecermos uma imediata relação disso com cuidados profissionais, 
oferta de serviços e acesso a insumos específicos, é relacionado ao processo de 
urbanização, de industrialização e à mudança do modo de produção feudal para o 
capitalista. Tendo sido este processo descrito exaustivamente por diferentes autores, 
vale relembrarmos que a ideia de uma saúde das mulheres surge como estratégia 
para lidar com a parturição e os nascimentos e tem sucesso na medida em que 
atende a interesses do Estado e também das mulheres (WEITZ, 1998). 
16 
 
A World Health Organization (WHO) define a mortalidade materna como a 
morte de uma mulher durante a gravidez ou nos 42 dias após a gravidez, seja qual for 
a duração e o local da gravidez, por qualquer causa relacionada ou agravada pela 
gravidez ou manejo da mesma (WHO, 1993). 
Nos países em desenvolvimento, mais de meio milhão de mulheres 
morrem anualmente por causas relacionadas à maternidade. As cinco causas 
principais são hemorragia, parto obstaculizado, infecção, hipertensão induzida pela 
gravidez e complicações do aborto em condições de risco. Essas causas são 
responsáveis por mais de 80% das mortes maternas (ABOUZAHR; ROYSTON, 1991; 
BARNETT, 1994; DARNEY, 1998; MCCARTHY; MAINE, 1992). 
O Brasil apresentou um desequilíbrio na proporção entre homens e 
mulheres em 2011. De uma população de 195,2 milhões de habitantes, 100,5 milhões 
– ou 51,5% - são mulheres e 94,7 milhões são homens – 48,5% do total. O sexo 
feminino não apenas é mais expressivo – são 5,8 milhões de mulheres a mais é o que 
revela a PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio), realizada pelo IBGE 
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em comparação com dados de 2000, 
a população feminina cresceu 14% - havia 86,2 milhões de mulheres no país há doze 
anos. Em relação a 2009, o aumento foi de 2% (IBGE, 2011). 
As mulheres são, portanto, a maioria da população brasileira e as principais 
usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, a saúde da mulher é prioridade 
no contexto da gestão federal do SUS, em acordo com as diretrizes do Pacto pela 
Saúde, das Metas do Milênio e diversos acordos nacionais e internacionais, em 
especial a Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (CAIRO, 
1994), a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência 
Contra a Mulher (BRASIL, 1994), a Conferência Internacional da Mulher (BEIJING, 
1995), a Convenção de Eliminação de Todas as Formas de Discriminações Contra a 
Mulher (CEDAW). 
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher deve atender à 
população feminina brasileira acima de 10 anos de idade, hoje estimada em 
73.837876 cidadãs. Cerca de 70% destas, conformando um segmento social 
importante, são usuárias do SUS. As hospitalizações ligadas ao período reprodutivo 
e, principalmente, ao parto e ao aborto são, sem dúvida, os grandes demandantes de 
toda a rede hospitalar do país, considerando-se que as mulheres em idade 
17 
 
reprodutiva, ou seja, de 10 a 49 anos, são 58.404.409 e representam 65% do total da 
população feminina (BRASIL, 2004). 
O abortamento, além de se apresentar como um problema social e político, 
com envolvimento de aspectos econômicos, educacionais e religiosos, 
frequentemente constitui-se em difícil questão do setor da saúde (HOFMEISTER, 
1982; HARDY, REBELLO, FAÚNDES, 1993). 
 
 
18 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REVISÃO DA LITERATURA19 
 
2 REVISÃO DA LITERATURA 
 
2.1 Abortamento 
 
 A origem etimológica da palavra aborto é de origem latina (abortus ou 
abortio), conjugação das palavras “ab” (privação) e “ortus” (nascimento), significando 
não nascer, impedir o nascimento ou privação do nascimento (SOUZA 
FILHO;AMARAL, 2013; CUELLAR, 2010) 
 A perda gravídica precoce é uma das complicações mais comuns 
durante a gravidez e ocorre em torno de 15 a 20% de todas as gestações. 
Aproximadamente 88% dos abortos acontecem nas primeiras 12 semanas de 
gravidez (WIEBE et al., 2002; ARCANJO et al., 2011). 
 A etiologia do abortamento espontâneo é heterogênea e inclui fatores 
genéticos e ambientais. As principais causas são anomalias cromossômicas no 
concepto. Aproximadamente 50% das mortes fetais, durante o primeiro trimestre, 
resultam de alterações cromossômicas; embora vários outros fatores possam resultar 
ou influenciar no abortamento espontâneo, sendo, a maioria deles, de origem materna 
como doenças crônicas e infecciosas, alterações anatômicas do sistema reprodutor e 
fatores trombogênicos (CARVALHO, 2001; DHONT, 2003; HOGGE et al., 2003). 
 
2.1.1 Tipos de Abortamento 
 
O abortamento segundo sua intenção e cronologia (BAZZOTI et al.,2009) 
pode ser classificado como: 
 
 Segundo a sua causa / etiologia (forma ou condição jurídica), pode ser 
dividido em duas categorias: 
 abortamento espontâneo 
 abortamento induzido. 
 
 
20 
 
 Segundo a cronologia: 
 precoce, com idade gestacional de até 12 semanas 
 tardio, com idade gestacional superior a 12 semanas e inferior a 
22 semanas 
 
Segundo BRASIL (2005) os abortamentos espontâneos podem ser 
classificados, segundo a sua evolução clínica, em: 
 Ameaça de abortamento ou abortamento evitável 
 Abortamento inevitável 
 Abortamento incompleto; 
 Abortamento completo; 
 Abortamento recorrente 
 Abortamento retido; 
 
 
2.2 Aborto Retido 
 
 O aborto é considerado retido quando todos os sintomas e sinais de 
gravidez na mulher desaparecem, o colo uterino permanece impérvio e não ocorre 
perda sanguínea. A ultrassonografia revela “ausência de sinais de vitalidade ou a 
presença de saco gestacional sem embrião (ovo anembrionado) (BRASIL, 2005). 
 Este tipo de aborto é comum no início da gravidez. Ocorre 
frequentemente devido a anormalidades cromossômicas fetais ou defeitos genéticos, 
que impedem seu desenvolvimento (GRIMES et al., 2006). 
 
2.3 Tratamento do Abortamento 
 
Na perspectiva das políticas públicas de saúde, a discussão do 
abortamento está incluída nos programas de saúde da mulher preconizados para o 
atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). O tema enfoca as perspectivas de 
gênero, sexualidade e acesso a direitos reprodutivos. É reconhecido como problema 
de saúde pública, pois, além de ser importante causa de morte materna, trata-se de 
21 
 
tema difícil de ser abordado com diversas implicações à saúde da mulher, retratado 
como a terceira causa de morte materna no nosso meio (DINIZ, 2007; NOMURA et 
al., 2011). 
A questão do abortamento tem sido amplamente discutida e com diferentes 
enfoques, passando pela ética, política, movimento organizado de mulheres, igrejas, 
setores da saúde, aspectos jurídicos, dentre outros. O problema é ainda mais 
abrangente nos países onde o abortamento é considerado ilegal, como no Brasil, uma 
vez que, nesses países, sua verdadeira dimensão não está adequadamente 
documentada, devido à falta de registros confiáveis (OLINTO; MOREIRA, 2004). 
Assim, sua prevalência se baseia em estimativas, principalmente em registros de 
base hospitalar do sistema público de saúde, não havendo registros provenientes de 
serviços privados (NADER et al., 2007; BRASIL, 2008). 
Estima-se que dos quase 20 milhões de abortamentos inseguros que 
ocorrem no mundo por ano com consequente morte, complicações ou sequelas 
irreversíveis, 97% acontecem nos países em desenvolvimento (GRIMES et al., 2006). 
No Brasil, o abortamento contribui com 10 a 15% dos óbitos maternos, representa a 
quarta causa de mortalidade materna e está intimamente relacionado às 
desigualdades sociais brasileiras (ALVES, 2007). Em Recife, no ano de 2002, o 
abortamento foi responsável por 9% dos óbitos por causas obstétricas evitáveis 
diretas, situando-se como a quarta causa de óbito materno (COSTA et al., 2002). 
Chama-se abortamento a separação do produto da concepção antes de 
atingir o nível de maturação, que permite a viabilidade. Esse tempo corresponde a 22 
semanas completas (154 dias completos), ou quando o feto não supera 500 gramas 
de peso (WHO, 2003). 
A WHO considera como óbito fetal aquele ocorrido em qualquer momento 
da gravidez, independentemente de sua localização, e, portanto, isso inclui abortos e 
gestações extrauterinas, ovo morto e retido, aborto retido de primeiro ou segundo 
trimestre, e também o feto morto no terceiro trimestre até o término da gestação. A 
morte fetal ocorre em aproximadamente seis casos de cada 1.000 nascidos vivos, e é 
responsável por metade das mortes perinatais (ACOG, 1993). Morte fetal com feto 
retido é menos frequente e muito variável, entretanto, pode chegar até 1% das 
gestações (SANTOS; FEITOSA; AMORIM; AIMARAES, 1998; BELL, PARKER, 
MACPHAIL, WRIGHT, 2004). 
22 
 
Dentro das causas identificadas que ocasionam morte fetal intrauterina e 
feto retido, podemos citar quadros hipertensivos na gravidez, gestação prolongada, 
diabetes Mellitus, sífilis, outras infecções agudas e crônicas, corioamnionite, 
enfermidade hemolítica, anemia falciforme, desnutrição materna, uso de 
medicamentos (como anticoagulantes orais e antineoplásicos), síndrome de 
anticorpos antifosfolipídicos, fatores uterinos (hipoplasia uterina, útero bicorno ou 
septado, miomatose extensa, torção de útero grávido), tabagismo, malformações 
congênitas fetais, anomalias cromossomiais, insuficiência placentária (SANTOS, 
FEITOSA, AMORIM, AIMARAES, 1998; BELL, PARKER, MACPHAIL, WRIGHT, 
2004). 
Em qualquer das causas de morte fetal intraútero, quando a expulsão do 
feto não ocorre espontaneamente, está indicada a indução do parto ou aborto, de 
acordo com a idade gestacional no momento do óbito fetal (NEILSON, 2000). 
O abortamento é uma das intercorrências mais frequentes da gestação e, 
por isso, é considerado importante problema de saúde pública, com consequências 
políticas, econômicas e sociais (LUKMAN; POGHARIAN, 1996; BAIRD, GRINGLE, 
GREENSLADE 1996; SALTER, JOHNSON, HENGEN, 1997). 
Estima-se que 686 mulheres são internadas pelo SUS a cada dia, em 
decorrência de complicações relacionadas ao aborto, e que 250.447 mulheres foram 
internadas em 2006, representando mais de quatro abortos para cada mil mulheres 
em idade fértil. Pesquisas mostram que os abortos contribuem com 15% da 
mortalidade materna e, segundo dados do Instituto de Medicina Social da 
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), estima-se que ocorreu cerca de 
um milhão de abortos no Brasil, em 2005 (BRASIL, 2004). 
 
2.4 Métodos de preparo cervical para indução do abortamento 
 
Os métodos para amadurecimento cervical podem ter ações mecânicas, 
como as laminarias, método de Krause e dilatadores higroscópicos, químicas, que 
podem ser representadas pelas prostaglandinas e análogos e, mais recentemente, a 
hialuronidase, que, embora desde a década de 1950, esteja disponível para uso 
obstétrico em suas primeiras apresentações, tem encontrado novo fôlego de 
23 
 
produção científica em meio à literatura internacional, a partir dos anos 1990 (LOPES 
et al., 2008). 
Os métodos mecânicos para amadurecimento cervical nunca foram 
abandonados, mas vêm sendo substituídos pelos métodos farmacológicos nas 
últimas duas décadas. Baixo custo e redução de alguns efeitos colaterais são 
algumas vantagens que os métodos mecânicos apresentam sobre os métodos 
farmacológicos (MORAES FILHO; CECATTI; FEITOSA, 2005). 
 
2.4.1 MétodosMecânicos 
 
2.4.1.1 Método de laminaria 
 
O método de laminaria de alga marinha é descrito desde o século XVIII. A 
alga marinha após ser submetida a um processo de desidratação passava a ter 
propriedades hidrofílicas. Preparada sob a forma de bastão, ao ser colocado, absorvia 
água do estroma cervical aumentando em três ou quatro vezes o seu diâmetro, 
portanto, agindo como dilatador cervical (Figura 1). Seu uso foi abandonado pelo risco 
de infecção, no entanto, um estudo randomizado comparando laminaria e dilatação 
rígida, em abortos no primeiro trimestre, não encontrou nenhuma diferença 
significativa nas taxas de infecção pós-aborto. (ACHARYA, 1999). 
Na década de 70, com novas técnicas de esterilização, voltou a ser 
utilizada com alguns resultados satisfatórios. Seu mecanismo de ação depende do 
efeito mecânico, obtido pela sua expansão radial que, por ocorrer lentamente, não 
provoca lesão das fibras musculares do canal cervical. Porém, nos dias atuais, sua 
utilização na prática clínica tem sido substituída por outros métodos (MORAES 
FILHO; CECATTI; FEITOSA, 2005). 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
Figure 1: Laminária 
 
 
Fonte:http://www.ohio.edu/plantbio/vislab/algaeimage/pages/laminaria.html 
 
O uso laminaria tem sido associado com reações de hipersensibilidade 
(urticária, angioedema, dificuldade respiratória) e anafilaxia em mulheres com uma 
exposição anterior à laminaria (CHANDA; MACKENZIE; DAY, 2000). 
Após a colocação da laminaria, a paciente pode retomar todas as 
atividades normais evitando, no entanto, a atividade sexual pela possibilidade de 
deslocamento do bastão. Algumas pacientes podem apresentar cólicas leves, que 
normalmente é aliviada com o uso de analgésicos. Em 24 horas a laminaria é 
removida e dado início ao procedimento cirúrgico. 
Existem três tipos de dilatadores osmóticos disponíveis nos Estados 
Unidos: Laminaria (Laminariadigitata, Laminariajaponicum), Dilapan-S ™ (GelMed 
Internacional, República Checa) e Lamicel ® (Medtronic, Mystic, CT). 
 
2.4.1.2 Método de Krause 
 
A primeira utilização de cateteres introduzidos no espaço extra-amniótico 
para indução do trabalho de parto ocorreu em 1853, por Krause. Nesta época o 
cateter era rígido, sendo posteriormente utilizado um cateter mais flexível (sonda de 
Foley) (Figura 1), tornando o método conhecido como de Krause modificado. A sonda 
de Foley ainda é bastante utilizada para indução do trabalho de parto, principalmente 
nos casos em que há contraindicação para uso dos métodos farmacológicos, como na 
http://www.google.com.br/url?sa=i&source=images&cd=&cad=rja&docid=Z-dPx7y5j1kawM&tbnid=KakE_bNt_cNi-M:&ved=0CAUQjRw&url=http://www.ohio.edu/plantbio/vislab/algaeimage/pages/laminaria.html&ei=m5cCUu4Nj7z1BPiDgSA&psig=AFQjCNE0TFE6ygmtx8bpqU30phugREdGnw&ust=1375987834507656
http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=Zdl6hHkMsHvXKM&tbnid=4VNB5oCXO70anM:&ved=0CAUQjRw&url=http://ivfbabyfund.tumblr.com/&ei=nJQCUovNDIaK9QTfjIDIBA&bvm=bv.50310824,d.eWU&psig=AFQjCNGshOMxQW_tksADKvEgKsLr3gY6Mg&ust=1375987144139114
25 
 
presença de cicatriz uterina anterior. Este método consiste na inserção de sonda de 
Foley nº 12 ultrapassando o orifício interno do colo, enchimento do balão e tração por 
fixação da sonda à perna da gestante. O mecanismo de ação ocorre pela ação 
mecânica e também por liberação de prostaglandinas devido à separação do córion 
da decídua. A sonda promove amadurecimento cervical, mas geralmente é 
necessária a associação com a ocitocina para potencializar a contração uterina 
(SURITA et al., 2004). 
 
Figura 2: Sonda Foley 
 
Fonte: http://www.souzalins.com.br/produtos4.html 
 
Os métodos mecânicos nunca foram completamente abandonados, mas 
vêm sendo substituídos pelos métodos farmacológicos nas últimas décadas. Os 
métodos mecânicos apresentam como vantagens a facilidade de preservação, o baixo 
custo e menores efeitos colaterais. Entretanto, são contraindicados nos casos de 
inserção baixa de placenta, risco de infecção e desconforto materno (SURITA et al., 
2004). 
 
2.4.1.3 Acupuntura 
 
A acupuntura é uma prática milenar chinesa que vem sendo utilizada no 
ocidente e consiste na aplicação de agulhas finas e flexíveis em pontos específicos 
26 
 
distribuídos pelo corpo para a estimulação de nervos periféricos localizados nos locais 
de inserção das agulhas. Com isto, ocorrerá alteração nos neurotransmissores do 
sistema nervoso central (SNC) com consequente modulação de respostas positivas 
frente aos desequilíbrios energéticos apresentados (YAMAMURA, 2001; HADDAD et 
al., 2012). 
Apenas dois ensaios não randomizados foram realizados sobre o uso da 
acupuntura na indução do parto. O ensaio de eletro acupuntura foi aplicado a 35 
gestantes e outras 35 gestantes não receberam tratamento. Aumento de intensidade 
de contrações uterinas foi observado em 31 gestantes do grupo tratado, ao passo que 
no grupo controle não foi observado aumento da atividade uterina (KUBISTA et al., 
1975; MORAES-FILHO, 2005). 
Embora uma parcela importante da população prefira métodos alternativos, 
o uso da acupuntura na indução do parto deve ficar restrito àqueles casos em que 
não há indicação médica para interrupção da gravidez. Ainda há a necessidade de 
ensaios clínicos bem controlados para avaliar o verdadeiro papel da acupuntura na 
indução do parto (KUBISTA et al., 1975). 
 
2.4.1.4 Relações sexuais 
 
A relação sexual poderia teoricamente induzir o parto por meio da 
estimulação física do segmento inferior uterino, ação direta das prostaglandinas do 
sêmen e/ou liberação endógena de ocitocina como resultado do orgasmo e 
estimulação dos mamilos. No entanto, não há ensaios clínicos bem controlados sobre 
o assunto (KAVANAGH et al., 2005). 
 
2.4.2 Métodos Farmacológicos 
 
2.4.2.1 Relaxina 
 
A Relaxina é um hormônio da superfamília da insulina. Essa droga é uma 
proteína 6-quilodalton processado a partir de uma forma pré-hormonal, contendo 
cadeias peptídicas, que são ligados por pontes de dissulfeto entre cadeias. O papel 
27 
 
histórico da relaxina tem sido na reprodução, na qual funciona para inibir a contração 
uterina e induzir o crescimento e amolecimento do colo do útero durante o primeiro 
trimestre da gravidez em seres humanos (SUDHIR; BENNETT, 2010; SOUZA et al., 
2010). 
Na mulher, a relaxina circulante é produzida pelas células do corpo lúteo 
ovariano. No homem, a relaxina, produzida pela próstata, é encontrada no fluido 
seminal, mas não é geralmente detectada na circulação. No entanto, evidências 
recentes sugerem que a relaxina pode ser produzida localmente a atuar de uma 
maneira autócrina ou parácrina em alguns tecidos (SUDHIR; BENNETT, 2010). 
 
2.4.2.2 Mifepristona 
 
Nova classe de agentes farmacológicos tem sido desenvolvida para 
antagonizar a progesterona. O mais conhecido desses agentes é mifepristona, 
também chamado de RU486, que foi desenvolvido inicialmente para facilitar as 
técnicas utilizadas para realização do aborto. Alguns estudos mostram que a 
mifepristona pode induzir o parto ou amadurecer o colo uterino em gestações a termo 
(CHWALISZ, 1994; STENLUND et al., 1999) 
Sete ensaios clínicos randomizados, envolvendo 594 gestantes, usando o 
mifepristona em diferentes doses, mostraram que após 48 e 96 horas, o colo 
desfavorável foi menos freqüente no grupo das gestantes tratadas. Também no grupo 
das gestantes que receberam mifepristona, o parto ocorreu com mais frequência 
dentro do período de 48 e 96 horas do que no grupo que recebeu placebo. As 
gestantes tratadas com mifepristona tiveram menor número de cesárea. Não houve 
diferença entre os dois grupos em relação aos efeitos colaterais neonatais e 
maternos(NEILSON, 2005) 
No entanto, em recente ensaio clínico com 346 gestantes a termo com 
índice de Bishop igual ou menor que 4, a indução do parto falhou com diferentes 
doses (50,100, 200, 400 até 600 mg) de mifepristona, mesmo esperando até 54 
horas (BERKANE, 2005) 
 
28 
 
2.4.2.3 Hialuronidase 
 
A hialuronidase é uma endoglicosidase que despolimeriza o ácido 
hialurônico, presente na cérvix uterina, reduz a viscosidade da substância de ligação 
intercelular, em fragmentos de menor peso molecular. Injetando a hialuronidase em 
colos de gestantes, observou-se redução no tempo de trabalho de parto em 
primigrávidas e em multíparas (GREEN, 1967; SPALLICCI et al., 2000; ACEVEDO-
BOCADO et al., 2002). 
A injeção intracervical de hialuronidase é método simples, efetivo e sem 
risco, mesmo para as gestantes com cesárea anterior, que favorece a maturação 
cervical com o objetivo de reduzir a duração do trabalho de parto, bem como de 
viabilizar o parto por via vaginal, sem efeitos adversos para a gestante e para o feto 
(SPALLICCI, 2003). 
Muito se discute, em nossos dias, sobre o verdadeiro papel do ácido 
hialurônico e das fibras colágenas no preparo da cérvice uterina para a parturição. 
Clinicamente, o uso intracervical de hialuronidase tem sido proposto como forma de 
acelerar o processo de amolecimento e dilatação cervical, sendo indicada, também, 
nos casos de excesso de componente conjuntival cervical (colo esclerótico ou 
anelástico). Excluída a causa neoplásica, a ação da hialuronidase parece vantajosa, 
já que a cérvice uterina, em condições normais, tem cerca de 85% de tecido 
conjuntivo (KAVANAGH; THOMAS, 2001; SOUZA et al., 2003). 
 
2.4.2.4 Misoprostol 
 
A primeira prostaglandina utilizada clinicamente para fins ginecológicos e 
obstétricos foi a F2α, em 1968 (KARIN et al., 1968). Seu uso foi abandonado devido 
aos efeitos colaterais, sobretudo náuseas, vômitos e diarreia. Na década de 70 foram 
feitos vários estudos com a mesma finalidade utilizando a PGE2, por diferentes vias 
de administração e doses, mostrando sua efetividade na indução da atividade uterina. 
Desde então, e durante as duas últimas décadas, a PGE2 foi a droga de escolha, 
sobretudo para a preparação do colo e indução do trabalho de parto em situações 
com colo imaturo, nos países desenvolvidos. Fatores limitantes a seu uso, como o 
risco de hiperestimulação uterina e consequentemente a possível hipoxia intrauterina, 
29 
 
a necessidade de refrigeração adequada para seu armazenamento e transporte por 
sua instabilidade térmica, a alta ocorrência de efeitos colaterais indesejados e, 
principalmente, seu custo elevado, levaram à busca de uma alternativa mais segura e 
acessível (EGARTER et al., 1989; ALFIREVIC et al., 2004; MORAES-FILHO et al., 
2005). 
Em 1973 houve o desenvolvimento de um análogo sintético da 
prostaglandina E1, o misoprostol. Assim, a terapêutica e a prevenção de afecções 
gastrintestinais, como as úlceras pépticas, tornaram-se possíveis, resultando em 
compostos com efeitos colaterais mínimos, quando comparados aos tratamentos até 
então utilizados (SOUZA et al., 2009). 
Em meados da década de 80, um metil-análogo sintético de PGE1, o 
misoprostol, passou a ser utilizado também em ginecologia e obstetrícia, depois de 
ser introduzido comercialmente para situações de dispepsia. Por sua estabilidade 
térmica, pode ser armazenado de forma segura em temperatura ambiente, e 
apresenta menor risco de efeitos colaterais. Ao ser comparado com as 
prostaglandinas naturais, seu custo é aproximadamente 100 vezes menor que 
qualquer outra prostaglandina, tem um tempo de vida médio prolongado e é de fácil 
administração (CHUCK; HUFFAKER, 1995; ACOG, 2000; BLANCHARD et al., 2002). 
Com todas estas vantagens, o misoprostol passou a ser o fármaco de eleição para a 
preparação do colo uterino, indução do aborto e indução do trabalho de parto 
(HOFMEYR; GULMEZOGLU, 2003). 
A América Latina tem tido papel fundamental a respeito da utilização do 
misoprostol em obstetrícia. O primeiro estudo publicado internacionalmente sobre o 
uso do misoprostol para indução do trabalho de parto, em casos de óbito fetal, foi 
realizado por Mariani Neto et al. (1987), em São Paulo, Brasil, utilizando 400μg de 
misoprostol a cada quatro horas, por via oral. Por outro lado, o primeiro estudo 
publicado sobre misoprostol como agente de maturação e indutor do trabalho de 
parto, em gestantes com feto vivo na Argentina (MARGULIES et al. em 1991). 
O misoprostol, análogo sintético da prostaglandina E1, foi introduzido no 
Brasil em 1984 pelo laboratório Searle, com o nome comercial de Cytotec®. Embora 
licenciado para o tratamento de úlcera gástrica e duodenal, logo ganhou popularidade 
como abortivo (MENGUE; PIZZOL, 2008). 
30 
 
Até 1991 sua venda era permitida nas farmácias. Esse foi um tempo 
suficiente para a divulgação do medicamento como um método abortivo eficaz, mais 
barato que as clínicas privadas e com menores riscos à saúde da mulher. Um estudo 
de início dos anos 1990 mostrou que o preço médio do misoprostol era de US$ 6, ao 
passo que um aborto em clínica privada custava US$144, e o uso de uma sonda por 
leiga, US$ 42. Não há estudos que descrevam os custos atuais de cada método 
(BRASIL, 2009). 
Com o objetivo de promover modificações anatômicas e funcionais no colo 
uterino imaturo e o esvaziamento do útero grávido, a Obstetrícia e a Ginecologia 
vivenciam a crescente utilização do misoprostol para indução do parto vaginal a 
termo, nos casos de abortamento retido e feto morto, na hemorragia pós-parto e para 
outras indicações previstas em Lei. 
 
 Mecanismo de ação 
 
O Misoprostol é uma prostaglandina E1metil análogo sintético, 
presentemente alvo de atenção como um agente de modificação do colo do útero e 
indutor de trabalho de parto, uma vez que tem as vantagens de baixo custo, a 
estabilidade em relação à temperatura, de fácil manuseamento e armazenamento, e 
também facilidade de administração (vaginal ou endocervical) (BUSER et al., 1997; 
MARGUILIES; CAMPOS; VOTO, 1992; AQUINO et al., 2003). 
O misoprostol é uma prostaglandina sintética que apresenta diversos 
efeitos biológicos sobre o organismo. Na cérvice uterina atua basicamente sobre a 
matriz extracelular, com dissolução das fibras colágenas, aumento do ácido 
hialurônico e aumento do conteúdo de água da cérvice. Além disso, relaxa o músculo 
liso da cérvice e facilita a dilatação, ao mesmo tempo em que permite o aumento do 
cálcio intracelular, promovendo contração uterina eficaz e suave. Todos estes 
mecanismos permitem o progressivo esvaecimento e a dilatação cervical, 
concomitante ao discreto aumento inicial da atividade uterina, provocando, assim, a 
saída do concepto (ARIAS, 2000; SONG, 2000; SOUZA e al., 2009). 
 
 
31 
 
 Efeitos adversos 
Os principais efeitos adversos observados com a administração do 
misoprostol são calafrios, diarreia, náuseas, vômitos, taquissistolia, hiperestimulação 
uterina, hipertermia e eliminação de mecônio (ALFIREVIC et al., 2010). 
A ruptura uterina tem sido associada à utilização do misoprostol para 
indução do parto, o que o torna contraindicado para indução do parto em gestações 
com cicatriz uterina (WING; LOVETT; PAUL, 1998). 
A administração do misoprostol encontra-se contra indicada durante o 
primeiro trimestre de gravidez, devido ao risco de malformações congênitas. A 
síndrome de Möebius, por exemplo, caracterizada por paralisia facial, microretrognatia 
e hipotonia axial, encontra-se associada ao uso do misoprostol (DA SILVA et al., 
2006). 
Outros efeitos colaterais associados ao uso de misoprostol sobre o feto são 
taquissistolia, hipersistolia, síndrome de hiperestimulação, mecônio e alterações da 
frequência cardíaca fetal, além de outros efeitos colaterais como(náuseas, febre, 
calafrios), além disso complicações maternas (eclampsia, descolamento prematuro da 
placenta, rotura uterina e hipotonia uterina) (MORAES FILHO; CECATTI; FEITOSA, 
2005). 
Vários esforços foram realizados na tentativa de reduzir os efeitos 
colaterais, assim, a primeiramodificação realizada foi o deslocamento do grupamento 
hidroxila da posição 15 da cadeia lateral da prostaglandina E1natural para a posição 
16. Esta substituição diminui os efeitos colaterais como tremores, vômitos e diarreia, 
sem alterar a capacidade de inibição da secreção ácida gástrica (TANG; GEMZELL-
DANIELSSON, 2007; SOUZA et al., 2008). 
Quase 20 anos após os primeiros relatos de anomalia congênita associada 
ao misoprostol, o uso desse fármaco continua em alta escala, de forma ilegal, para a 
indução do aborto. Concomitante aos estudos sobre as anomalias congênitas 
induzidas pelo misoprostol, um grande número de ensaios clínicos randomizados tem 
sido realizados para avaliação da eficácia abortiva do misoprostol. Isolado ou 
associado à mifepristona e methotrexato (GUEST et al., 2007; SHANNON et al., 
2006). 
 
32 
 
 Características farmacológicas 
 
As prostaglandinas (PG) podem ser encontradas em quase todas as 
células do organismo, tendo como precursor o ácido araquidônico. Durante anos, 
foram esquecidas, até que, em 1960, Bergstrom conseguiu cristalizar as 
prostaglandinas, que proveem de ácidos graxos monocarboxílicos insaturados de 20 
carbonos, os quais estão formados por duas cadeias e um anel de cinco carbonos. As 
diferentes prostaglandinas se diferenciam somente por pequenas mudanças na 
metilação e oxidação de suas cadeias carbonadas. A designação de PGE1, PGE2 e 
PGE3 se refere unicamente à presença de maior ou menor número de ligações 
duplas na cadeia lateral alifática (RANG; DALE, 2007). 
O misoprostolum análogo sintético da PGE1, está constituído por partes 
equivalentes de dois isômeros em equilíbrio (Figura 3)(RANG; DALE, 2007). Foi 
introduzido no mercado para a prevenção de gastrite e úlcera péptica associado ao 
uso de antiinflamatórios não hormonais. Entretanto, demonstrou-se que o uso na 
gravidez provocava contrações uterinas no primeiro trimestre e sua eficácia para a 
interrupção precoce da gravidez foi demonstrada ainda na década de 80 (HERTING; 
NISSEN, 1986). Seguiram-se vários relatos de uso para interrupção da gravidez com 
feto morto no segundo e terceiro trimestre, documentando sua eficácia para preparo 
cervical e indução do parto (MARIANI NETO et al., 1987; FEITOSA et al., 2006). 
 
Figura 3: Estrutura química do misoprostol 
 
 
 
 
 
 
Fonte: G.D. Searle & Company 
 
 
 
 
Fonte: G.D. Searle & Company 
 
 
33 
 
O misoprostol pode ser utilizado por via oral, onde é rápido e 
extensivamente absorvido (88%). Os alimentos e os antiácidos diminuem a taxa e a 
quantidade da absorção. Por via oral, a concentração plasmática do misoprostol se 
eleva rapidamente, chegando ao máximo entre os 12,5 e 60 minutos depois da 
administração e a seu nível mais baixo depois de 120 minutos (ZIEMAN; FONG; 
BENOWITZ, 1997; TANG et al. 2002). Consequentemente, o tono uterino inicia sua 
elevação ao redor dos oito minutos e alcança seu máximo em cerca dos 26 minutos 
(DANIELSSON et al., 1999). 
Por via vaginal, a biodisponibilidade do misoprostol é três vezes maior do 
que por via oral. Depois da administração vaginal, a concentração plasmática de 
misoprostol se eleva gradualmente, alcançando o pico máximo entre os 60 e 120 
minutos e declina lentamente, chegando até 61% do nível máximo aos 240 minutos 
depois da administração (ZIEMAN; FONG; BENOWITZ, 1997; TANG et al., 2002). Os 
níveis plasmáticos permanecem relativamente estáveis pelo menos até seis horas 
depois de sua administração. Além disso, quando se adiciona água ao comprimido de 
misoprostol administrado por via vaginal, os níveis séricos permanecem mais 
elevados, até seis horas depois da administração (TANG et al., 2002), o que sugere 
que a absorção aumenta nessa situação, mas ainda não está claro se isso tem 
alguma implicação clínica significativa. Essa última observação concorda com relatos 
de que as pílulas não se dissolvem em todas as mulheres que recebem misoprostol 
por via vaginal (SINGH et al., 1999). É provável que dessa observação empírica 
resulte o costume de alguns clínicos umedecerem as pílulas antes e depois de sua 
introdução na vagina. 
Quando administrado por via sublingual, a curva de concentração 
plasmática versus o tempo, do misoprostol, é semelhante à da via oral, mas, em 
níveis mais elevados, o que dá como resultado uma área sob a curva bastante maior 
(TANG et al., 2002). Assim mesmo, observa-se um significativo aumento do tono 
uterino aos 10 minutos da administração sublingual do misoprostol (GEMZELL, 
BYGDEMAN, ARONSSON, 2004). Parece claro que essa propriedade tem a 
vantagem de fazer com que a via sublingual seja apropriada para situações nas quais 
se desejam obter níveis plasmáticos mais elevados e em curto período de tempo. 
O estudo do uso de misoprostol para a hemorragia pós-parto, de O’Brien et 
al. em 1998, demonstra que esse medicamento também é efetivamente absorvido 
quando administrado por via retal. Embora até pouco tempo não se conhecesse sua 
34 
 
farmacocinética quando era administrado por via retal, o único estudo atualmente 
disponível, comparando a via retal com a oral, mostra um comportamento dos níveis 
séricos muito parecidos ao que se conhece para a via vaginal. O pico máximo de 
concentração se alcança ao redor dos 40 minutos e declina lentamente, chegando, 
como mínimo, ao dobro da concentração plasmática, por via oral, aos 240 minutos (4 
horas) (KHAN; EL-RAFAEY, 2003). 
Diversos trabalhos demonstram que a maturação mecânica ou 
farmacológica do colo do útero antes do aborto cirúrgico pode reduzir as 
complicações associadas ao procedimento (ASHOK; FLETT, 2000). Administração 
pré-operatória de análogos de prostaglandinas dilata o canal cervical e provoca uma 
diminuição significativa na perda de sangue intra-operatória, na frequência de 
recuretagem e infecções pós-operatórias (ARONSSON; HELSTRÖM; GEMZELL 
2004). 
Uma revisão sistemática, publicada na biblioteca Cochrane, avaliou 45 
ensaios clínicos randomizados, nos quais a administração de misoprostol, por via oral 
e vaginal, foi comparada com placebo ou indução por outros métodos. A conclusão 
dos revisores foi que o misoprostol é mais efetivo que os métodos convencionais para 
amadurecimento do colo e indução do parto, associando-se a maior frequência de 
partos vaginais dentro de 24 horas e menor necessidade de utilização de ocitocina. 
Entretanto, não conseguiram definir qual a melhor dosagem e melhor via de 
administração do misoprostol (HORFMEYR; GULMEZOGLU, 2003; FEITOSA et al., 
2006). 
 
2.5 Aspiração Manual Intrauterina (AMIU) 
 
O tratamento do abortamento tradicionalmente se faz por esvaziamento da 
cavidade uterina mediante curetagem, com ou sem dilatação cervical mecânica, sob 
narcose, requerendo o internamento das pacientes por várias horas (NEILSON, 2000; 
BAIRD, 1996). Os riscos inerentes à anestesia e ao esvaziamento uterino, bem como 
a maior exposição das pacientes, sob permanência prolongada à infecção, podem 
contribuir para aumento da morbidade materna, elevando os custos hospitalares 
(BAIRD, 1996). 
 
35 
 
Em alguns países, e na última década também no Brasil, tem-se 
preconizado a aspiração à vácuo, elétrica ou manual, como alternativa, segura e 
eficaz, à curetagem para o esvaziamento uterino nos casos de abortamento no 
primeiro trimestre da gestação, e para obtenção de amostras endometriais com 
finalidade diagnóstica. (LUKMAN; POGHARIAN, 1996; BAIRD, 1996; WESTFALL et 
al. 1998; HEMLIN; MOLLER, 2001). 
A aspiração manual intrauterina tem sido usada, no mundo todo, como 
alternativa segura e eficaz à curetagem uterina (PEREIRA et al., 2006). É o 
procedimento recomendado pela Organização Mundial da Saúde e pela Federação 
Internacional de Ginecologia e Obstetrícia, para tratamento do abortamento nos casos 
de abortamento infectado, e nos casos de interrupção da gravidez, previstos na 
legislação vigente no País (BRASIL,2010). 
A AMIU utiliza instrumental de fácil manuseio associado a uma técnica de 
simples execução. O material se resume a cânulas de Karman com diâmetros 
variáveis, de 4 a 12 mm, acopladas à uma seringa com vácuo (Figura 4) e os 
dilatadores que foram projetados para efetuar de maneira gradual e rápida a dilatação 
cervical. Esses dilatadores são bastões muito leves moldados em polipropileno com 
sulfato de bário para radiopacidade e sem látex, na cor branca, com duplo terminal 
curvilíneo arredondado e de forma cônica, sendo que cada bastão se apresenta com 
duas dimensões, uma em cada extremidade (figura 5). 
 
Figura 4: Seringa a vácuo e cânulas de Karman 
 
 
Fonte: http://www.nejbiotech.com/karman-cannula.htm 
 
 
 
 
 
http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=5twW28-iEcIvZM&tbnid=soXNvc944WNQIM:&ved=0CAUQjRw&url=http://www.aads.org.br/wp/?page_id=587&ei=W3kCUtSNBYis9ATH5IHoBQ&psig=AFQjCNGUj6v0FzihPlliKy0A5zq8Q4f8WQ&ust=1375980233144120
http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=8pXG3nEFP417wM&tbnid=PHMtBQEjod-wiM:&ved=0CAUQjRw&url=http://mediplusindia.tradeindia.com/karman-cannula.html&ei=nnkCUquKBpS68wTzoIHYCA&psig=AFQjCNGRAPTi_92bU0fmdg1N8-p9KIatrg&ust=1375980089077628
36 
 
Figura 5: Dilatadores 
 
Fonte:http://www.kitamiu.com.br/ 
 
Além desses detalhes, outras vantagens do método são a aceitabilidade 
por parte dos médicos, a satisfação das pacientes, o uso de anestésicos locais em 
substituição à anestesia geral, a diminuição da permanência hospitalar e consequente 
redução de morbidade materna e dos custos hospitalares (LUKMAN; POGHARIAN, 
1996; BAIRD, GRINGLE, GREENSLADE, 1996). 
Deve ser utilizada em gestações com menos de 12 semanas, em função do 
tamanho uterino, pois há necessidade do colo uterino ser justo à cânula, para que o 
vácuo seja transferido da seringa para a cavidade uterina (SOUZA; AMORIM; NETO, 
2010). 
O tempo necessário para o esvaziamento uterino tem sido apontado como 
significativamente menor na AMIU quando comparado à curetagem uterina (KULLIER 
et al., 2001). Estudo envolvendo médicos experientes e residentes mostra que o 
tempo de realização do procedimento e a sensação dolorosa relatada pelas pacientes 
são inversamente proporcionais à experiência do cirurgião, sendo o tempo médio de 
6,9 minutos (EDELMAN; NICHOLS; JENSEN, 2001). 
Em estudos comparando dois grupos de pacientes submetidas a 
esvaziamento uterino; os autores referem que a AMIU foi tão eficaz e segura quanto à 
curetagem uterina, sendo, porém, mais facilmente executável e não associada a 
complicações graves (PEREIRA et al., 2006). 
Fonseca et al., ainda em 1997, avaliaram 30 pacientes com diagnóstico de 
abortamento incompleto. Elas foram divididas em dois grupos e cada um foi 
37 
 
submetido a uma modalidade de tratamento. Eles concluíram que pacientes tratadas 
com AMIU necessitaram 77% de tempo de internação hospitalar a menos e 
consumiram 41% a menos de recursos hospitalares que pacientes tratadas com 
curetagem uterina. 
 
2.6 Anestesia para curetagem uterina 
 
Na anestesia utilizada para curetagem uterina são utilizados dois fármacos, 
sendo um analgésico (Fentanil), comumente um opióide, e um hipnótico-sedativo 
(Propofol). 
A terminologia opiáceo tem sido usada para se referir a drogas derivadas 
do ópio. Podem-se incluir os produtos naturais (morfina, codeína e tebaína), bem 
como os congêneres sintéticos. Os derivados sintéticos fenilpiperidínicos constituem 
meperidina, fentanil, alfentanil, remifentanil e sufentanil (RANG; DALE, 2007). 
Os opioides são fármacos milenares. Sua primeira referência foi achada 
nos escritos de Theophrastus no século III a.C. O termo opióide refere-se largamente 
a todos os compostos relacionados ao ópio. O termo ópio é derivado de “opos”, 
palavra grega para suco, sendo derivado do suco da papoula Papaversomniferum 
(YAKSH; WALLACE, 2011). 
O ópio tem sido utilizado com finalidades sociais e medicinais há milhares 
de anos como agente para produzir euforia, analgesia, sono e para impedir diarreia. 
Foi introduzido na Grã-Bretanha no final do século XVII (RANG; DALE, 2007). 
Os alvos moleculares para ação opioide são os receptores opioides 
clássicos, receptores opióides atípicos e receptores oligoméricos. Os receptores 
clássicos são os delta (δ), kappa (κ), e mu (μ) (relacionado com a nociceptina) 
(DERSHWITZ; ROSOW, 2008). 
Os opióides produzem diversos efeitos sobre o Sistema Nervoso Central 
(SNC), tais como analgesia, euforia, bem-estar, depressão da emotividade e 
agressividade. Podem causar prurido, rigidez torácica, depressão da tosse, bem 
como, em altas doses, produzir a temível depressão respiratória. No sistema digestivo 
pode causar náuseas, vômitos, redução da motilidade gástrica e constipação. 
Produzem miose, com pupila puntiforme, sendo diagnóstico no quadro de overdose 
por opióides (FUKUDA, 2009). 
38 
 
O fentanil é um dos opióides sintéticos mais utilizados nos procedimentos 
cirúrgicos. Sua potência analgésica é cerca de 80 a 100 vezes a da morfina. É muito 
solúvel em gordura, causando um início de ação rápida e duração relativamente curta. 
Após administração endovenosa o fentanil é rapidamente distribuído para o cérebro, 
coração e outros tecidos ricamente vascularizados. Seu pico de ação é de três a cinco 
minutos. O término de seu efeito ocorre quando o fentanil se redistribui para fora do 
sistema nervoso central (FUKUDA, 2009). 
Os efeitos de baixas doses (50 a 100μg) são curtos, pois decorrem de uma 
rápida redistribuição. Somente em altas doses a redistribuição é insuficiente, sendo o 
término do efeito um processo lento de eliminação (FUKUDA, 2009). 
Apresenta como principal vantagem a não liberação de histamina e 
conserva as características de pouca ação sobre os parâmetros hemodinâmicos. 
Assim, justifica-se seu uso como analgésico em procedimentos cirúrgicos, como para 
curetagem uterina (FUKUDA, 2009). 
A morfina, o protótipo dos agonistas opióides, é conhecida pela sua 
capacidade de aliviar a dor intensa com notável eficácia. Foi isolada por Serturner, em 
1803, recebendo esse nome em homenagem a Morfeu, o Deus grego dos sonhos 
(SHUMACHER; BASBAUM; WAY, 2008). 
Os hipnóticos são fármacos utilizados para promover o sono fisiológico. Na 
prática anestesiológica atual, há uma diversidade de hipnóticos disponíveis, sendo os 
mais usados: barbitúricos, benzodiazepínicos, propofol, etomidato e cetamina 
(SHUMACHER; BASBAUM; WAY, 2008). 
O propofol é hoje o hipnótico mais largamente usado em procedimentos 
cirúrgicos, pois promove uma indução e um despertar rápidos. Sua utilização foi a 
partir de 1977 na Inglaterra, mas somente em 1989 seu uso foi aprovado nos Estados 
Unidos (REVES et al., 2009). 
Sendo um alquifenólico (2,6-diisopropilfenol), o propofol é insolúvel em 
solução aquosa. Apresenta-se na forma de uma solução ligeiramente viscosa e 
leitosa (REVES et al. 2009). 
A teoria amplamente aceita da ação anestésica do propofol é a de que este 
fármaco exerce seu efeito por interação com o sistema neurotransmissor inibitório do 
ácido γ-aminobutírico (GABA). Quando o receptor do GABAA é ativado, a condutância 
39 
 
transmembrana do cloro aumenta, resultando em hiperpolarização da membrana 
celular e inibição funcional do neurônio (REVES et al., 2009). 
O rápido término do efeito hipnótico do propofol decorre de sua meia-vida 
de eliminação de dois a oito minutos. Quando o fármaco é utilizado em infusão 
contínua, a meia-vida de eliminação excede a duas horas, indicando a presença de 
um compartimento profundo, que libera lentamente o propofol para o compartimento 
central. Contudo, devido à rápida depuração desse fármaco do compartimento 
central, seu lento retorno não interfere de maneira significativa na diminuição inicial 
rápida da concentração sérica (DERSHWITZ; ROSOW, 2008). 
Entreas ações do propofol sobre o SNC estão as diminuições do 
metabolismo e fluxo sanguíneo cerebral, reduzindo a pressão intracraniana. 
Apresenta efeito hipotensor e reduz a pressão intraocular. Possui propriedades 
antiemética, antipruriginosa, ansiolítica e antiepiléptica (DERSHWITZ; ROSOW, 
2008). 
Em síntese, o propofol proporciona indução e recuperação rápidas, 
podendo ser empregada em bolus ou infusão venosa contínua para manutenção da 
anestesia. O despertar é mais rápido e completo após indução anestésica do propofol 
do que quando se administra qualquer outro fármaco barbitúrico ou não barbitúrico. 
Seus efeitos antieméticos e despertar com excelente bem-estar o tornam um fármaco 
largamente utilizado na prática clínica anestesiológica (REVES et al., 2009 
 
40 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA 
41 
 
3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA 
 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Federação Internacional de 
Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) têm reconhecido a Aspiração Manual Intrauterina 
(AMIU) e recomendado o seu uso na atenção pós-abortamento como procedimento 
importante para a redução da mortalidade materna (OMS, 1970). 
Embora, em grande número de países, o uso do misoprostol ainda não esteja 
aprovado para uso em Ginecologia e Obstetrícia, podemos constatar através de 
inúmeros estudos, em especial, na América Latina, que o uso do Misoprostol é um 
importante coadjuvante no tratamento do abortamento. 
Ainda são poucas as referências na literatura nacional que tratam das 
vantagens da associação do misoprostol à AMIU em relação à curetagem tradicional. 
Face às considerações expostas, procura-se documentar e divulgar 
informações que possam contribuir para e credibilidade e aceitabilidade dessa valiosa 
associação. 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OBJETIVOS 
43 
 
4 OBJETIVOS 
 
4.1 Geral 
 
 Avaliar os benefícios da aspiração manual intrauterina associada ao uso do 
misoprostol via vaginal, nos casos de aborto retido. 
4.2 Específicos 
 Descrever as características gestacionais das mulheres submetidas à 
curetagem manual intrauterina associada ao uso do misoprostol via vaginal. 
 Determinar o intervalo de tempo entre o uso do misoprostol e o procedimento 
cirúrgico; 
 Determinar o tempo de permanência hospitalar pós-curetagem; 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
METODOLOGIA 
45 
 
5 METODOLOGIA 
 
5.1 Desenho do Estudo 
 
Trata-se de um estudo exploratório, transversal, retrospectivo, com abordagem 
quantitativa. 
A pesquisa exploratória possui como objetivo a familiarização com um assunto 
ainda pouco conhecido, pouco explorado, proporcionando uma maior familiaridade 
com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito. Pode envolver levantamento 
bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes no problema pesquisado. 
Geralmente assume a forma de pesquisa bibliográfica e estudo de caso (GIL, 2008). 
De acordo com Piovesan; Temporini (1995), a pesquisa exploratória tem por 
objetivo conhecer a variável de estudo tal como se apresenta, seu significado e o 
contexto onde ela se insere. Pressupõe-se que o comportamento humano é mais bem 
compreendido no contexto social onde ocorre. A pesquisa descritiva compreende 
descrição, registro, análise e interpretação da natureza atual ou processo dos 
fenômenos. Dentre seus tipos e modalidades, iremos caracterizar o estudo de caso, 
que está voltado para a história e desenvolvimento de caso, pessoa, grupo, instituição 
social, comunidade, busca diagnosticar problemas e identificar medidas de 
reabilitação (POLIT; BECK 2011). 
Segundo Gil (2008) a pesquisa descritiva tem como objetivo a descrição das 
características de determinada população com a utilização de técnicas padronizadas 
de coleta de dados, como por exemplo, o questionário. O mesmo autor descreve 
pesquisa exploratória como sendo aquela que tem, como objeto principal, o 
aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições, envolvendo levantamento 
bibliográfico e entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o 
problema pesquisado. 
A pesquisa transversal é o estudo epidemiológico, no qual fator e efeito são 
observados num mesmo momento histórico e, atualmente, tem sido o mais 
empregado, podendo ser tanto de incidência como prevalência (ALMEIDA-FILHO; 
ROUQUAYROL, 2002; BORDALO, 2006). 
 
46 
 
5.2 Local do estudo 
 
O cenário da investigação foi a Maternidade-Escola Assis Chateaubriand 
(MEAC) da Universidade Federal do Ceará (UFC). 
A MEAC, referência em Saúde da Mulher, foi lançada oficialmente na capital 
cearense na noite de 28 de maio de 1955 pelo Sr. João de Medeiros Calmon, com o 
objetivo de promover a formação de recursos humanos em ações de aprendizado, 
ensino, pesquisa e extensão, buscando a excelência no atendimento global e 
humanizado à saúde da mulher e do recém-nascido. 
 
5.3 População / Amostra 
 
A amostra do estudo foi constituída de 103 prontuários de gestantes com 
diagnóstico de aborto retido e que foram submetidas á curetagem uterina pelo método 
de AMIU associada ao uso de misoprostol vaginal. 
 
5.4 Critérios de inclusão 
 
Os seguintes critérios foram adotados no processo de seleção dos prontuários: 
 Prontuários de pacientes submetidas à curetagem uterina por aborto retido; 
 Prontuários de pacientes atendidas no período de 2009 a 2011; 
 Prontuários de pacientes submetidas à curetagens realizadas com o misoprostol 
na dosagem de 400 e 800μg. 
 
5.5 Critérios de exclusão 
 
A resposta positiva a qualquer um dos seguintes critérios excluiria o prontuário 
da pesquisa: 
 Presença de rasuras que comprometessem a fidedignidade da coleta de dados; 
 Presença de dados incompletos. 
 
47 
 
5.6 Instrumento de coleta de dados 
 
Para a coleta de dados foi utilizado um Formulário próprio elaborado pelo 
pesquisador (APÊNDICE A). 
A coleta dos dados foi realizada no Arquivo de Prontuários da Maternidade-
Escola Assis Chateaubriand, da Universidade Federal do Ceará (UFC), sob termo de 
fiel depositário (Anexo 2). 
O procedimento inicial consistiu em identificar, no livro de registro do Serviço 
de Emergência, o número dos prontuários que tinham “ABORTAMENTO RETIDO” 
como procedimento realizado. Em seguida, esses prontuários foram solicitados ao 
Arquivo para a pesquisa, mediante documento de solicitação e devolução. Os 
prontuários foram utilizados dentro da própria instituição. 
 
5.7 Análise dos dados 
 
As variáveis quantitativas foram, inicialmente, analisadas pelo Teste de 
Kolmogorov-Smirnov para verificar a normalidade da distribuição. Para a estatística 
descritiva foram calculados a média e o desvio padrão (dados paramétricos). 
Foram comparadas as médias de idade segundo a dosagem de misoprostol 
pelo teste t de Student. Fixou-se o nível de significância de 5%. Os dados foram 
processados no EPI-INFO. 
 
5.8 Aspectos éticos da pesquisa 
 
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade 
Escola Assis Chateaubriand da Universidade Federal do Ceará, protocolo nº 111/11 
(Anexo 1). 
Esse protocolo de pesquisa foi preparado de acordo com os padrões 
estabelecidos pelas Boas Práticas Clínicas (Documento das Américas), não possui 
nenhum conflito de interesses e segue os preceitos da Resolução no 466/12 do 
Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta a pesquisa envolvendo seres 
humanos. 
48 
 
Em conformidade com a resolução supracitada, ressalta-se que, em hipótese 
alguma foi divulgado, nessa pesquisa, o nome das pessoas envolvidas. 
 
49 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESULTADOS 
50 
 
6 RESULTADOS 
 
No que concerne à classificação, a maior ocorrência de abortamento se 
deu na faixa etária de 20 a 29 anos, correspondendoa 50,5% do total de casos. As 
mulheres (abaixo de 20 anos) contribuíram com 15,5% da amostra. Observou-se que 
34% das mulheres que realizaram o abortamento pertenciam à faixa etária de 30 a 43 
anos (Tabela 1). 
 
Tabela 1-Distribuição do número de curetagens segundo a faixa etária das 
mulheres que utilizaram misoprostol via vaginal, MEAC - Fortaleza-Ce, 2009 a 
2011. 
Faixa etária 
(anos) 
Nº % 
14 – 19 16 15,5 
20 – 29 52 50,5 
30 – 39 30 29,12 
40 – 43 05 4,86 
Total 103 100 
 
 
Em relação à idade gestacional, em 92,3% dos abortamentos a gestações se 
encontravam entre 6 e 12 semanas(Tabela 2). 
 
Tabela 2-Distribuição do número de gestantes segundo a idade gestacional, 
MEAC - Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011. 
Idade gestacional 
(semanas) 
Nº % 
6 - 8 54 52,4 
9 - 12 41 39,9 
13 - 16 08 7.8 
Total 103 100 
 
51 
 
Observou-se que 95,1% das gestantes utilizaram a dose de 400µg de 
misoprostol, enquanto que 4,9% utilizaram a dose de 800µg (Tabela 3). 
 
Tabela 3Distribuição do número de curetagens segundo a dosagem de 
misoprostol utilizada pelas mulheres submetidas à AMIU, MEAC - Fortaleza-Ce, 
de 2009 a 2011. 
Dosagem Misoprostol Nº % 
400µg (2 comp.) 98 95,1 
800µg (4 comp.) 05 4,9 
Total 103 100 
 
Quando se realizou a comparação entre as doses do misoprostol, utilizada 
no estudo, observou-se que no grupo utilizando 400µg de misoprostol, a média de 
idade foi de 27,36 ± 7,18, enquanto no grupo que utilizou a dose de 800µg, a média 
de idade foi de 19,8 ± 2,86 anos, observando, assim, uma diferença estaticamente 
significativa entre a média de idade dos dois grupos (p = 0,022), sendo que o grupo 
mais jovem necessitou de uma dose maior para realizar o abortamento (19,8 anos) 
(Tabela 4). 
 
Tabela 4- Comparação das médias de idade das pacientes segundo a dose de 
misoprostol, MEAC - Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011. 
Dosagem Misoprostol Nº 
Média ± Desvio Padrão 
(anos) 
400µg (2 comp.) 98 27,36 ± 7,187 
800µg (4 comp.) 05 19,80 ± 2,864 
Total 103 26,99± 7,219 
Os resultados foram considerados significativos quando p < 0,05. Seguindo o teste do qui- quadrado. 
Teste de 
2
 de tendência: p = 0, 006. 
 
O intervalo entre a administração do misoprostol e o abortamento foi de 8-
23 horas (24,3%), seguido de 5-5,9 horas (21,4%), menor que 5 horas (19,4%), 6-6,9 
horas (18,4%) e 7-7,9 horas com (16,5%) (Tabela 5). 
 
52 
 
Tabela 5-Distribuição do número de curetagens segundo o tempo entre o uso de 
misoprostol e a realização da AMIU, MEAC - Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011. 
Intervalo 
 (horas) 
Nº % 
< 5,0 20 19,4 
5,0 – 5,9 22 21,4 
6,0 – 6,9 19 18,4 
7,0 – 7,9 17 16,5 
8,0 – 23,0 25 24,3 
Total 103 100 
 
Observou-se que houve uma tendência linear entre intervalo de hora e 
faixa etária, significando dizer que, à medida que a idade vai aumentando, o intervalo 
de hora vai diminuindo, e vice-versa (p = 0, 006). Observando-se, assim, uma 
diferença estatisticamente significativa p < 0,05 entre o intervalo de horas e faixa 
etária (Tabela 6). 
 
Tabela 6- Associação entre intervalo de hora e faixa etária das pacientes, MEAC 
- Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011. 
Intervalo 
 (horas) 
Faixa Etária 
14 – 19 
anos 
20 – 29 
anos 
30 – 43 
anos 
< 5,0 1 (6,3%) 10 (19,2%) 9 (25,7%) 
5,0 – 5,9 2 (12,5%) 10 (19,2%) 10 (28,6%) 
6,0 – 6,9 3 (18,8%) 9 (17,3%) 7 (20,0%) 
7,0 – 7,9 2 (12,5%) 12 (23,1%) 3 (8,6%) 
8,0 – 23,0 8 (50,0%) 11 (21,2%) 6 (17,1%) 
Total 16 (100%) 52 (100%) 35 (100%) 
Os resultados foram considerados significativos quando p < 0,05. Seguindo o teste do qui- quadrado. 
Teste de 
2
 de tendência: p = 0, 006. 
 
53 
 
Não existe diferença estaticamente significativa entre as médias de idade 
gestacional e o intervalo de horas para indução do parto com uso de misoprostol p= 0, 
177 (Tabela 7). 
 
Tabela 7: Comparação das médias de idade gestacional das pacientes segundo 
o intervalo de hora, MEAC - Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011. 
Intervalo 
 (horas) 
Nº 
Média ± Desvio Padrão 
(semanas) 
< 5,0 20 8,35 ± 2,231 
5,0 – 5,9 22 8,73 ± 2,434 
6,0 – 6,9 19 9,53 ± 2,412 
7,0 – 7,9 17 8,06 ± 1,886 
8,0 – 23,0 25 9,48 ± 2,452 
Total 103 8,87 ± 2,342 
Os resultados foram considerados significativos quando p < 0,05. Seguindo o teste do qui- quadrado. 
Teste de 
2
 de tendência: p= 0, 177. 
 
 
Verificou-se que 69,9% das mulheres permaneceram internadas por dois 
dias, enquanto que 19,42% das mulheres permaneceram por um dia, e apenas 10,7% 
permaneceram internada por três dias (Tabela8). 
 
Tabela 8- Distribuição das gestantes de acordo com os números de dias de 
internação, MEAC - Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011. 
Dias internação Nº % 
1 20 19,42 
2 72 69,9 
3 11 10,7 
Total 103 100 
 
Quando se compara as médias de idade segundo os dias de internação, 
observa-se que não existe diferença significativa entre as médias dos dias de 
internação e a idade das mulheres (p = 0, 935) (Tabela 9). 
 
54 
 
Tabela 9- Comparação das médias de idade, segundo os dias de internação, 
MEAC - Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011. 
Dias de internação Nº 
Média ± Desvio padrão 
(anos) 
1 20 26,90 ± 5,946 
2 72 27,13 ± 7,539 
3 11 26,27 ± 7,747 
Total 103 26,99 ± 7,219 
Os resultados foram considerados significativos quando p < 0,05. Seguindo o teste do qui- quadrado. 
Teste de 
2
 de tendência: p = 0, 935. 
 
No que se refere à comparação da idade gestacional e o número de dias 
de internação, não foi observada diferença estatisticamente significativas p = 0, 868, 
ou seja, as médias de idade são iguais (Tabela10). 
 
Tabela 10- Comparação das médias de idade gestacional das pacientes 
segundo os dias e internação, MEAC- Fortaleza-Ce, de 2009 a 2011. 
Dias de internação Nº 
Média ± Desvio Padrão 
(semanas) 
1 20 8,65 ± 2,110 
2 72 8,90 ± 2,284 
3 11 9,09 ± 3,208 
Total 103 8,87 ± 2,342 
Os resultados foram considerados significativos quando p < 0,05. Seguindo o teste do qui- quadrado. 
Teste de 
2
 de tendência: p = 0, 868. 
 
 
 
55 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DISCUSSÃO 
 
 
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7 DISCUSSÃO 
 
Embora na literatura atual seja difícil encontrar evidência científica 
específica para a perda gestacional retida, há grandes ensaios clínicos e revisões 
sistemáticas que comparam as diferentes opções de tratamento na perda gestacional 
do primeiro trimestre e suas repercussões clínicas (RCOG, 2006; SUR; RAINE-
FENNING, 2009; TRINDER et al., 2006; WIERINGA et al., 2002). 
Até cerca de uma década atrás, o tratamento standart para a resolução de 
gravidez inviável do primeiro trimestre era o tratamento cirúrgico, recorrendo á 
dilatação cervical e esvaziamento uterino instrumental, por aspiração ou por 
curetagem (CHEN; CREININ, 2007) . 
Estão bem documentadas as complicações do tratamento cirúrgico, como 
as perfurações uterinas, as aderências intrauterinas e a lesão cervical (CHEN; 
CREININ, 2007; DEMETROULIS et al., 2001). A conduta expectante, usualmente, 
resulta na completa expulsão do produto da concepção, contudo o intervalo entre o 
diagnóstico e a expulsão é variado, e o risco de infecção e de complicações 
hemorrágicas são preocupantes (ELATI; WEEKS, 2009). Nos últimos anos, assistimos 
a uma mudança na prática médica, especialmente em obstetrícia. Os pacientes 
requerem técnicas menos intervencionais e, portanto, está crescendo a prática 
médica farmacológica do aborto, que é aquela em que existe a expulsão completa do 
concepto sem instrumentação cirúrgica (GIPPINI et al., 2012). 
Alguns autores, buscando um método menos invasivo, com menor risco de 
infecção e menor custo aos serviços, avaliaram a eficácia de medicamentos para 
provocar o aborto. A maioria dos estudos tem usado um análogo de prostaglandina 
sintética E1, o misoprostol, representando uma alternativa segura para dilatação e 
curetagem. O uso do misoprostol na gravidez, inviável no primeiro trimestre, com o 
intuito de esvaziamento uterino

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