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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE MEDICINA 
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS 
 
 
 
 
 
 
MARCOS ANTONIO MARTINS DA SILVA 
 
 
 
 
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA TALIDOMIDA SOBRE OS DANOS 
INTESTINAIS E HEPÁTICOS INDUZIDOS PELA INDOMETACINA EM 
RATOS WISTAR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
 2011
MARCOS ANTONIO MARTINS DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA TALIDOMIDA SOBRE OS DANOS INTESTINAIS E 
HEPÁTICOS INDUZIDOS PELA INDOMETACINA EM RATOS WISTAR. 
 
 
 
 
Dissertação submetida ao Programa de 
Pós-Graduação em Ciências Médicas da 
Faculdade de Medicina da Universidade 
Federal do Ceará, como requisito parcial 
para obtenção do título de Mestre. 
 
Orientadora: Profª. Drª. Geanne Matos de 
Andrade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA-CE 
2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação 
Universidade Federal do Ceará 
Biblioteca de Ciências da Saúde 
 
 
S582a Silva, Marcos Antonio Martins da. 
 
Avaliação do efeito da talidomida sobre os danos intestinais e hepáticos induzidos 
pela indometacina em ratos Wistar / Marcos Antonio Martins da Silva. – 2011. 
85f. : il. color., enc. ; 30 cm. 
 
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências da 
Saúde, Departamento de Medicina Clínica, Programa de Pós-Graduação em Ciências 
Médicas, Fortaleza, 2011. 
Orientação: Profa. Dra. Geanne Matos de Andrade 
 
 
1. Talidomida. 2. Indometacina. 3. Hemorragia Gastrointestinal I. Título. 
 
 CDD 616.3 
 
MARCOS ANTONIO MARTINS DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA TALIDOMIDA SOBRE OS DANOS INTESTINAIS E 
HEPÁTICOS INDUZIDOS PELA INDOMETACINA EM RATOS WISTAR 
 
 
 
 
Dissertação submetida ao Programa de 
Pós-Graduação em Ciências Médicas da 
Faculdade de Medicina da Universidade 
Federal do Ceará, como requisito parcial 
para obtenção do título de Mestre. 
 
 
Aprovado em: 08/07/2011 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Ao meu Deus, por estar comigo nos momentos difíceis e tornar a minha vida 
mais doce e tranquila. 
 
À minha família, porque é nela que vou buscar incentivo para continuar e o 
amparo nos momentos mais difíceis, especialmente a minha mãe Maria Lucimar 
Martins da Silva, pelo amor e apoio incondicional e pela força para suportar todas as 
adversidades do dia a dia. 
 
À Profª. Drª. Geanne Matos de Andrade, minha orientadora, pela atenção, 
dedicação, competência e por tudo o que fizera por mim durante todo esse período 
do mestrado e, principalmente, por não me permitir desistir dessa jornada. 
 
Ao Prof. Dr. Vietla Satyanarayana Rao, por sua amizade, colaboração e 
disposição em sempre me ajudar, mesmo sabendo que por vezes me perco nas 
bifurcações do caminho. 
 
À Profª. Drª. Flávia Almeida Santos, pelo seu apoio e amizade. 
 
Ao Prof. Dr. Dalgimar Beserra Menezes, do Departamento de Patologia e 
Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFC, pelo auxilio na realização das 
análises histopatológicas e prestimoso suporte a mim dispensado, por seu altruísmo 
sui generis. 
 
Ao Dr. Francisco Vagnaldo Fechine Jamacaru, da Unidade de Farmacologia 
Clínica da UFC, por seu auxílio valioso nas análises estatísticas. 
 
Ao Dr. Hemerson Yuri Ferreira Magalhães, pelo apoio inconteste, amizade e 
pelos momentos compartilhados. 
 
À Drª. Rosangela Albuquerque Ribeiro e ao Dr. Gentil Claudino Galiza Neto, 
pelo apoio e incentivos constantes ao longo deste período e por terem me ensinado 
a gostar de coagulação. 
À Eunice Bobo de Carvalho, doutoranda do Programa de Pós-Graduação 
em Ciências Médicas da UFC, pela sua amizade, dinamismo e constante incentivo 
na execução deste trabalho. 
 
À Julianna Catharina Neves, Carolina Melo Souza, mestranda e doutoranda 
do Laboratório de Neurociência e Comportamento da UFC, pelo companheirismo e 
pela valiosa cooperação na fase final deste trabalho. 
 
Ao Professor Doutor Hélio Vitoriano Nobre, do Departamento de Farmácia 
da UFC, por seus incentivos na conclusão deste mestrado. 
 
Agradeço às secretárias Ivone Fontenele e Rita Almeida, da coordenação do 
Curso de Pós-Graduação em Ciências Médicas da UFC, pela atenção que sempre 
disponibilizaram, não só a mim, mas também a todos os pós-graduandos. 
 
À Vilanny Rodrigues Bastos, técnica do Laboratório de Neurofarmacologia, 
por sua enorme ajuda durante a execução deste trabalho. 
 
A Carlos Jorge, Eloneide Vasconcelos, Fátima Marques, Kátia Maria 
Carneiro, Rita Marinei, funcionários da Unidade Laboratorial em Hematologia do 
Hemoce, pela ajuda na realização das análises laboratoriais. 
 
À coordenação do Curso de Pós-Graduação em Farmacologia e aos 
professores da área pelos ensinamentos durante as disciplinas cursadas. 
 
A todos os professores, funcionários e equipe da coordenação do Programa 
de Pós-Graduação em Ciências Médicas da UFC, que foram infinitamente 
responsáveis pela concretização deste sonho. O meu eterno e inesquecível! Muito 
Obrigado! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“É melhor tentar e falhar, que se 
preocupar e ver a vida passar; é melhor 
tentar, ainda que em vão, que se sentar 
fazendo nada até o final. Eu prefiro na 
chuva caminhar, que em dias tristes em 
casa me esconder. Prefiro ser feliz, 
embora louco, que em conformidade 
viver...”. (Martin Luther King) 
RESUMO 
O uso clínico de indometacina, embora eficaz na supressão da dor, febre e 
inflamação, é frequentemente associado a efeitos deletérios sobre o sistema 
gastrointestinal, hematológico e renal, que limitam o seu uso terapêutico. Este 
estudo analisou se a talidomida poderia reduzir a letalidade induzida pela 
indometacina e as alterações hematológicas e bioquímicas no sangue, os danos 
intestinais, além do efeito da talidomida sobre o epitélio intestinal e o aumento nos 
níveis de fibrinogênio plasmático induzido pela indometacina em ratos. Os ratos 
foram tratados com indometacina (5,0 mg/kg), talidomida 100,0 mg/kg e 200,0 
mg/kg, e ampicilina (200,0 mg/kg), via oral, num período de cinco dias. Os animais 
foram submetidos à coleta de sangue no quinto dia de tratamento, mediante a 
punção do plexo-orbital do olho. Os parâmetros estudados foram: eritrograma, 
contagem de leucócitos, tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina 
parcial ativada (TTPA), fibrinogênio, contagem de plaquetas, cultura do lavado 
peritoneal e dosagem de mieloperoxidase (MPO) nesse lavado, avaliação hepática 
(ALT, AST, FA, GGT) e glicose. Os resultados do TP, TTPA, antitrombina, contagem 
de plaquetas, mantiveram-se normais em relação ao grupo controle. Nos animais 
tratados com indometacina, observamos um aumento (p <0,001) nos níveis de 
fibrinogênio (637,50±13,19 mg/dL) sendo o mesmo revertido pelo tratamento com 
talidomida 100,0 mg/kg e 200,0 mg/kg, (381,80 ± 50,79 mg/dL; 389,30± 65,13 
mg/dL) respectivamente. Os animais que receberam indometacina apresentaram 
positividade em 100% das culturas realizadas para enterobactérias, demonstrando 
assim a presença de bactérias do trato gastrintestinal na cavidade peritoneal. A 
atividade da MPO no líquido peritoneal dos ratos que receberam indometacina (5,0 
mg/kg, v.o, 5d) foi significativamente maior (1217 ± 341,4 U/mL) quando comparada 
com o grupo-controle (3,33 ± 3,33 U/mL). O tratamento com talidomida (100 e 200 
mg / kg, v.o, 5d) reduziu significativamente (p <0,05) este aumento (375,8 ± 149,1 U/ 
mL), sendo a inibição de 69,2%. Os resultados demonstram que a lesão intestinal 
inflamatória induzida pela indometacina foi revertida parcialmente pelo tratamento 
com a talidomida. Além disso, os dados obtidos evidenciam o efeito hepatoprotetor 
da talidomida contra a indometacina, provavelmente por sua atividade 
antiinflamatória diminuindo ou minimizando o aumento dofibrinogênio e 
recrutamento leucocitário no ambiente hepático. 
 
 
PPaallaavvrraass--cchhaavvee:: TTaalliiddoommiiddaa.. IInnddoommeettaacciinnaa.. SSaannggrraammeennttoo iinntteessttiinnaall.. 
 
AABBSSTTRRAACCTT 
 
 
The clinical use of indomethacin, although effective in suppressing pain, fever and 
inflammation is often associated with deleterious effects for the gastrointestinal 
system, and hematological and renal functions, which limit its therapeutic use. This 
study examined in rats whether thalidomide could reduced the lethality induced by 
indomethacin and hematological, biochemical, blood, and intestinal damage. This 
study analyzed the effect of thalidomide on the intestinal epithelium and increased 
levels of plasma fibrinogen induced by indomethacin in rats. The rats were treated 
with indomethacin (5.0 mg / kg), thalidomide 100.0 mg / kg or 200.0 mg / kg, and 
ampicillin (200.0 mg / kg) orally over a period of 5 days. The animals were submitted 
to blood collection on the fifth day of treatment by puncturing the orbital plexus of the 
eye, after being anesthetized with ether. The blood was placed in tubes containing 
anticoagulant, EDTA, sodium citrate and 3.8% in tubes without anticoagulant. The 
parameters studied were: erythrogram, leukocyte count, prothrombin time (PT), 
activated partial thromboplastin time (APTT), fibrinogen, platelet count, and culture of 
peritoneal lavage, measurement of MPO and evaluation of liver function (ALT, AST, 
FA, GGT and glucose). The results of the PT, APTT, antithrombin, platelet counts 
remained normal in the control group. In animals treated with indomethacin, we 
observed a significant increase (p <0.001) in fibrinogen levels (637.50 ± 13.19 mg / 
dL) and this increase reversed by treatment with thalidomide 100.0 mg / kg or 200.0 
mg / kg, (381.80 ± 50.79 mg / dL, 389.30 ± 65.13 mg / dL, respectively). Animals that 
received indomethacin were positive in 100% of the cultures performed for 
enterobacteria, thus demonstrating the presence of bacteria in the gastrointestinal 
tract into the peritoneal cavity, probably due to a drug-induced intestinal perforation. 
The MPO activity in peritoneal fluid of rats given indomethacin (5.0 mg / kg, po, 5d) 
was significantly higher (1217 ± 341.4 U / mL) compared with the control group (3.33 
± 3, 33 U / mL). Treatment with thalidomide (100 or 200 mg / kg, vo, 5d) significantly 
reversed this effect (p <0.05), (375.8 ± 149.1 U / mL). As inhibition of 69.2%. The 
results showed that inflammatory intestinal injury in rats induced by indomethacin 
was partially reversed by treatment with thalidomide. In addition, the data showed a 
hepatoprotective effect of thalidomide against indomethacin, by its anti-inflammatory 
activity that might prevent the increase of fibrinogen and leukocyte recruitment in the 
liver environment. 
 
Keywords: Thalidomide, Indomethacin, Intestinal bleeding. 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
1 Classificação de AINEs, de acordo com atividade inibitória sobre as 
isoformas COX-1 e 2 ............................................................................ 
 
20 
2 Classificação intestinal, segundo Chiu e colaboradores (1970) ........... 42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
1 Efeito do tratamento com talidomida nas alterações hematológicas 
induzidas pela indometacina.................................................................. 
 
46 
2 Efeito do tratamento com talidomida, nas alterações coagulométricas 
induzidas pela indometacina.................................................................. 
 
47 
3 Efeito do tratamento com a talidomida nas alterações bioquímicas 
induzidas por indometacina em ratos.................................................... 
 
48 
4 Estudo microbiológico do lavado peritoneal nos animais tratados com 
indometacina, talidomida e ampicilina................................................... 
 
49 
5 Efeito do tratamento com a talidomida no dano intestinal induzido por 
indometacina em ratos .......................................................................... 
 
 
52 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
1 Estrutura molecular da talidomida............................................................. 16 
2 Proposta de mecanismo de ação da talidomida em células de 
mieloma...................................................................................................... 
 
17 
3 Cascata do ácido araquidônico e os sítios de ação de antiinflamatórios 
não esteroidais .......................................................................................... 
 
21 
4 Fatores agressivos e mecanismos de defesa da mucosa gástrica........... 23 
5 Ulcerações hemorrágicas na porção gastroduodenal em estômago de 
cães, induzidas pela indometacina............................................................ 
 
24 
6 Esquema resumido da cascata de coagulação e os fatores 
envolvidos.................................................................................................. 
 
29 
7 Efeito da indometacina sobre os níveis de fibrinogênio plasmático.......... 47 
8 Efeito da talidomida sobre os níveis de mieloperoxidase no líquido 
peritoneal de ratos tratados com indometacina......................................... 
 
50 
9 Efeito da talidomida sobre a lesão intestinal induzida pela 
indometacina.............................................................................................. 
 
51 
10 Efeito da talidomida sobre a lesão intestinal induzida pela indometacina 
– Avaliação histológica.............................................................................. 
 
53 
11 Curvas de sobrevida referentes aos grupos controle e tratados com 
indometacina.............................................................................................. 
 
54 
12 Relação entre a dose de indometacina e a sobrevida mediana................ 55 
13 Curvas de sobrevida referentes aos grupos tratados com indometacina 
isoladamente e indometacina associada à talidomida.............................. 
 
55 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
-GT 
5-HT 
12-HETE 
12-HPETE 
AINEs 
ALT 
AT 
Ca++ 
CIVD 
COX-1 
COX-2 
DMSO 
EGF 
EPM 
FI 
FII 
FIII 
FIV 
FTC- 1 
FV 
FVII 
FVIII 
FVIIIa 
FIX 
FXa 
FXI 
FXII 
Gama glutamiltransferase 
5 - hidroxitriptamina 
12 - ácido graxo hidroxi 
12 - ácido hidroperoxieicosatetraenóico 
Antiinflamatórios não esteroides 
Alanina aminotransferase 
Antitrombina 
Cálcio 
Coagulação intravascular disseminada 
Cicloxigenase - 1 
Cicloxigenase - 2 
Dimetilsufóxido 
Fator de crescimento epidermal 
Erro-padrão da média 
Fibrinogênio 
Protrombina 
Fator tissular ou tromboplastina tissular 
Cálcio 
Fator transformador do crescimento 1 
Fator ou Proacelerina 
Fator VII ou Proconvertina 
Fator VIII ou Fator antihemofilico 
Fator VIII ativado 
Fator IX 
Fator X ativado 
Fator XI 
Fator Hageman 
 
 
 
 
FXIII 
HMWK 
IL-1 
IL-2 
IL-6 
IL-8 
IL-10 
iNOS 
LPS 
LTB4 
NO 
PAF 
PDF 
PDGF 
PGE2 
PGG2 
PGH2 
PGI2 
PGs 
TNF- 
TP 
t-PA 
TT 
 Fator XIII ou Fator estabilizador da fibrina 
Cininogênio de alto peso molecular 
Interleucina - 1 
Interleucina - 2 
Interleucina - 6 
Interleucina - 8 
Interleucina - 10 
Óxido nítrico sintetase induzido 
Lipossacarídeos 
Leucotrieno B4 
Óxido nítrico 
Fator de ativação plaquetária (platelet-activing factor) 
Produtos de degradação da fibrina/fibrinogênio 
Fator de crescimento derivado de plaquetas 
Prostaglandinas E2 
Prostaglandinas G2 
Prostaglandinas H2 
Prostaciclina 
Prostaglandinas 
Fator de necrose tumoral - 
Tempo de protrombina 
Ativador tissular do plasminogênio 
Tempo de trombina 
TTPA 
TXA2 
Vit. k 
VWF 
Tempo de tromboplastina parcial ativada 
Tromboxane A2 
Vitamina K 
Fator de Von Willebrand 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO...................................................................................... 16 
1.1 A talidomida .......................................................................................... 16 
1.2 A talidomida em eventos inflamatórios ................................................. 18 
1.3 Os antiinflamatórios não esteroides (AINEs) em eventos inflamatórios 19 
1.4 A indometacina, o AINE deste estudo .................................................. 25 
1.5 A inflamação, os AINES e o choque séptico ........................................ 26 
1.6 A relação inflamação, trombose e coagulação ..................................... 27 
1.7 A talidomida em eventos trombóticos ................................................... 30 
1.8 Relevância e justificativa do estudo ...................................................... 32 
2 OBJETIVOS .......................................................................................... 34 
2.1 Geral ..................................................................................................... 34 
2.2 Específicos ............................................................................................ 34 
3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................... 36 
3.1 Animais ................................................................................................. 36 
3.2 Drogas .................................................................................................. 36 
3.3 Protocolo experimental ......................................................................... 36 
3.4 Análise do perfil bioquímico, hematológico e coagulométrico.............. 37 
3.4.1 Estudo da coagulação .......................................................................... 38 
3.4.1.1 Tempo de protrombina (TP/TAP) .......................................................... 38 
3.4.1.2 Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) ................................. 38 
3.4.1.3 Dosagem de fibrinogênio ...................................................................... 39 
3.4.1.4 Antitrombina .......................................................................................... 39 
3.4.2 Avaliação da função hepática ............................................................... 39 
3.5 Cultura do lavado peritoneal ................................................................. 41 
3.5.1 Avaliação do número de células na cavidade peritoneal ...................... 41 
3.5.2 Medida da atividade enzimática da mieloperoxidase (MPO) ................ 41 
3.6 Análise histológica ................................................................................ 42 
3.7 Exame histopatológico .......................................................................... 42 
3.8 Avaliação da sobrevida (curva de sobrevivência) ................................. 43 
3.9 Análise estatística ................................................................................. 43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
4 RESULTADOS ...................................................................................... 45 
4.1 Efeito do tratamento com talidomida em alterações hematológicas 
sanguíneas e no líquido peritoneal induzidas pela Indometacina ........ 
 
45 
4.2 Efeito da talidomida nas alterações dos parâmetros de coagulação 
induzidas pela Indometacina ................................................................ 
 
46 
4.3 Efeito do tratamento com talidomina nas alterações bioquímicas 
induzidas por Indometacina .................................................................. 
 
48 
4.4 Estudo microbiológico do lavado peritoneal nos animais tratados com 
indometacina, talidomida e ampicilina .................................................. 
 
49 
4.5 Efeitos da talidomida sobre a atividade da mieloperoxidase (MPO) no 
líquido peritoneal em animais tratados com indometacina ................... 
 
50 
4.6 Efeito da talidomida sobre a lesão intestinal induzida pela 
indometacina – avaliação macroscópica .............................................. 
 
51 
4.7 Efeito da talidomida sobre o dano intestinal induzido pela 
indometacina – avaliação histológica ................................................... 
 
52 
4.8 Efeitos da talidomida sobre a letalidade induzida pela indometacina 
em ratos ................................................................................................ 
 
53 
5 DISCUSSÃO ......................................................................................... 57 
CONCLUSÃO ...................................................................................................... 70 
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 72 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO 
 
16 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
1.1 A talidomida 
 
A talidomida é um derivado sintético do ácido glutâmico desenvolvido no início 
dos anos de 1950, pela companhia alemã Chemie Grunenthal. Chegou à clínica em 
outubro de 1957 como um anticonvulsivante sedativo e tranquilizante (MELCHERT; 
LIST, 2007). 
Também conhecida como 3-ftalimidoglutamimida, é constituída por uma 
estrutura com dois anéis (Figura 1) com um carbono assimétrico na glutarimida 
(DAL LAGO; RICHTER et al, 2003). Em razão deste centro quiral, a molécula existe 
em duas formas opticamente ativas D(+) ou L(-) (WNENDT; ZWINGENBERGER, 
1997). 
 
Figura 1 – Estrutura molecular da talidomida 
 
 
 
 
 
 
Fonte: (DAL LAGO; RICHTER, 2003). 
 
Por conta dos inúmeros eventos adversos, em 1961 a talidomida foi retirada 
do mercado europeu e nunca chegou a ser comercializada nos Estados Unidos, o 
risco teratogênico estimado foi de 20% para os fetos expostos entre o 34º e 50º dias 
de gravidez (WNENDT; ZWINGENBERGER, 1997). Em um ano, a droga foi retirada 
de circulação em todos os países, à exceção do Brasil, país onde nunca deixou de 
consumir o medicamento por vários motivos como desinformação e automedicação. 
No ano de 1965, observações feitas por um dermatologista israelense, após 
administração de talidomida a um paciente com eritema nodoso da lepra (ENL), 
inicialmente, tentando tratar a insônia apresentada pelo paciente, obteve como 
resposta a melhora do quadro inflamatório com cicatrização total das feridas em três 
17 
 
dias de terapia. Estudos realizados posteriormente comprovaram a ação 
antiinflamatória da droga (PANNIKAR, 2003). 
Apesar de ter sido afastada do mercado mundial na década de 60 em função 
do efeito teratogênico em milhares de crianças, a talidomida começou a despertar 
nos órgãos de regulamentação a necessidade de aumentar as exigências no que 
tange à comprovação da segurança para comercialização do fármaco. Assim, nos 
últimos anos, realizaram-se vários estudos, explorando outros alvos terapêuticos, 
como a ação sobre mediadores inflamatórios e imunológicos (Figura 2) 
(MATTHEWS; McCOY, 2003; MELCHERT; LIST, 2007). 
Figura 2 – Proposta de mecanismo de ação da talidomida em células de mieloma. A 
talidomida inibe a angiogênese, realça os efeitos do sistema imunológico, inibe a ligação das 
células do tumor do estroma e também várias citocinas. A talidomida pode ter efeitos diretos 
sobre o tumor; NK: natural killer; TNF: fator de necrose tumoral, IL-6: interleucina-6; VEGF: 
fator de crescimento endotelial vascular; NF-kB: fator nuclear kappa B. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: (MELCHERT; LIST, 2007). 
 
18 
 
A talidomida revolucionou a maneira de pensar sobre os efeitos adversos de 
fármacos no feto e a forma de tentar preveni-los, com um alto preço pago por essa 
percepção (MELCHERT; LIST, 2007). Talvez também venha a revolucionar a 
maneira de trataro câncer e outras condições graves que possam ser controladas 
em vez de curadas, justificando dar uma nova chance a este fármaco tão temido 
(CHEN; DOHERTY; HSU, 2010). Embora existam, porém, especulações dos 
benefícios da talidomida em diversos tratamentos, além da hanseníase, mieloma 
múltiplo, doenças crônico-degenerativas e algumas patologias oportunistas que 
afetam portadores de HIV, não há sustentabilidade científica para tais afirmações em 
outros casos. O aproveitamento das possibilidades terapêuticas da talidomida, no 
entanto, deve ser algo a se pensar, a ser viabilizado, porque a humanidade não 
pode desperdiçar as propriedades terapêuticas da talidomida. Ante às evidências 
contemporâneas, o melhor que se tem a fazer é contrabalançar riscos e benefícios 
no uso dos medicamentos, pois os primeiros são reais e continuam acontecendo, 
enquanto os outros são focados mais em desfechos substitutos do que nos 
clinicamente relevantes. 
 
1.2 A talidomida em eventos inflamatórios 
 
A investigação farmacêutica tem como intuito o desenvolvimento de outros 
agentes terapêuticos direcionados à resolução de situações clínicas, integrando 
conhecimentos, ou mesmo uma aplicabilidade alternativa para fármacos já 
consagrados (RAMA et al., 2005). 
Há algum tempo o mecanismo de ação da talidomida aponta para suas 
propriedades imunomodulatórias e antiinflamatórias (MURIEL et al., 2003). A 
aplicação da talidomida no tratamento das desordens inflamatórias demonstra a 
eficácia desse fármaco, por exemplo, na redução de sintomas em pacientes com 
doença de Crohn (DC), uma moléstia inflamatória que se caracteriza por 
envolvimento transmural e descontínuo dos intestinos, podendo atingir todo o tubo 
digestivo. Acomete, com maior frequência, o intestino delgado, principalmente o íleo 
terminal e o cólon, iniciando-se tipicamente com crises de diarreia, febre, dor 
abdominal e emagrecimento, mas seu mecanismo de ação é desconhecido 
(BAUDITZ; WEDEL; LOCHS, 2002). 
19 
 
Um possível mecanismo da talidomida seria o da supressão do fator de 
necrose tumoral alfa (TNF-α), considerado o agente central no processo inflamatório 
da DC e encontrado em grande concentração sérica nos portadores dessa doença 
(BAUDITZ; WEDEL; LOCHS, 2002). 
Apesar de, a talidomida ser menos eficaz do que outras terapias recentes, 
como o infliximab, análogos dessa droga, com atividade anti-TNFα aumentada, são 
desenvolvidos, supondo-se que sejam menos tóxicos e não teratogênicos, e 
podendo vir a servir de opção terapêutica no futuro (BAUDITZ; WEDEL; LOCHS, 
2002). 
 
1.3 Os antiinflamatórios não esteroides (AINEs) em eventos inflamatórios 
 
Desde a inserção dos salicilatos na terapêutica, por volta de 1875, as 
pesquisas de antiinflamatórios desenvolveram-se de forma acelerada, após as 
primeiras constatações clínicas dos notáveis efeitos da cortisona e fenilbutazona, em 
1948 (JONES, 2001). Na década de 1960, a procura por substâncias alternativas 
capazes de debelar o processo inflamatório levou ao surgimento de outras propostas 
terapêuticas (JONES, 2001; RICHY et al., 2004). Assim, em 1963, a indometacina 
foi introduzida e demonstrou proeminentes efeitos no tratamento da espondilite 
anquilosante e da artrite gotosa aguda (BECH et al., 2000; CHAN; GRAHAM, 2004; 
FOUAD et al., 2010). 
Apesar dos objetivos terapêuticos a que se destinam os antiinflamatórios não-
esteróides (AINEs) como as doenças reumáticas, calor, eritema, edema e dor, 
polêmicas sobre a eficácia e, principalmente, a toxicidade ainda ensejam muitas 
discussões (VONKEMA; VAN DE LAAR, 2010). 
Os AINEs podem ser classificados de acordo com sua atividade inibitória 
sobre a COX-1 e/ou COX-2 (RAO; KNAUS, 2008), como demonstrado no Quadro 1. 
 
 
 
20 
 
Quadro 1 - Classificação de AINEs, de acordo com atividade inibitória sobre as 
isoformas COX-1 e 2. 
Classe Propriedades Exemplos 
Grupo 1 
AINEs que inibem completamente COX-1 e 2 
com pequena seletividade 
Aspirina, ibuprofeno, 
diclofenaco, indometacina, 
naproxeno, piroxicam. 
Grupo 2 
AINEs que inibem COX-2 com 5-50% de 
seletividade. 
Celecoxib, etodolac, 
meloxicam, nimesulida. 
Grupo 3 
AINEs que inibem COX-2 com seletividade > 
50%. 
Rofecoxibe, NS-398 
Grupo 4 
AINEs que inibem fracamente ambas as 
isoformas (COX-1 e 2). 
Ácido 5-Aminosalicilico, 
salicilato de sódio, 
nabumetona, sulfasalazina. 
Fonte: (RAO; KNAUS, 2008). 
Há algum tempo os metabólitos do ácido araquidônico (AA), prostaglandinas 
(PGs) e outras substâncias biologicamente ativas recebem atenção especial por 
muitos pesquisadores em todo o mundo, por exercerem funções cruciais na 
fisiopatologia do processo inflamatório (TULASSAY; HERSZÉNYI, 2010). 
A cicloxigenase existe em pelo menos duas isoformas: a cicloxigenase-1 
(COX-1) é enzima constitutiva, destinada às funções fisiológicas decorrentes da 
síntese de PGs, e a cicloxigenase-2 (COX-2) é induzível por processos inflamatórios, 
ativação mitogênica para proliferação celular, interleucinas (IL-1 e IL-2), fatores de 
crescimento (EGF e PDGF), lipopolissacarídeos bacterianos (LPS), promotores 
tumorigênicos (como ésteres do forbol) e outros fatores presentes no soro normal 
(RADI; KHAN, 2006; SOSTERS et al., 2010). 
Vários compostos inibidores, preferencialmente da COX-2, como 
nabumetona, meloxicam e nimesulide, podem induzir toxicidade gastrointestinal, 
particularmente quando são empregadas em altas doses (RADI; KHAN, 2006; 
TAKEUCHI et al., 2010b). Além disso, o benefício da inibição preferencial de COX-2, 
em relação a COX-1, nos estados inflamatórios, ainda não foi completamente 
comprovado (TANAKA et al., 2002; ABURAYA et al., 2006). 
A ação enzimática da cicloxigenase sobre o ácido araquidônico baseia-se na 
inserção de duas moléculas de oxigênio no ácido araquidônico, dando origem a 
21 
 
PGG2, e de peroxidase, que transforma esse intermediário em PGH2. A PGG2 tem 
extrema reatividade química (RADI; KHAN, 2006). 
O sítio catalítico dessa reação pode ser inibido irreversivelmente por aspirina 
(ácido acetilsalicílico) que acetila a molécula da COX ou reversivelmente por 
indometacina e outros antiinflamatórios não esteroides (AINEs), que competem com 
ácido araquidônico, explicando o efeito antiinflamatório dos AINEs – Figura 3 - 
(BERTOLINI; OTTANI; SANDRINI, 2001; HATMI; SAMAMA; ELALAMY, 2006). 
Figura 3 - Cascata do ácido araquidônico e os sítios de ação de antiinflamatórios não 
esteroidais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: (BERTOLINI; OTTANI; SANDRINI, 2001). 
 
As células endoteliais ativadas desempenham papel fundamental na 
orientação das células circulantes para os locais inflamatórios (KRELIN, 2007). A 
adesão celular parece ocorrer pelo reconhecimento das glicoproteínas e 
carboidratos da superfície celular das células circulantes pelas moléculas de adesão, 
22 
 
cuja expressão mostra-se intensificada nas células residentes (DINARELLO, 2005; 
2009a, 2009b). 
Assim, a ativação endotelial resulta na adesão dos leucócitos por meio de sua 
interação com as selectinas L e P recém-expressas, enquanto a selectina E 
expressa pelo endotélio interage com a glicoproteína x sializada de Lewis e outras 
glicoproteínas existentes na superfície dos leucócitos; a ICAM-1 endotelial interage 
com as integrinas leucocitárias (MEYER-HOFFERT; HORNEF; HENRIQUES-
NORMARK, 2008). Os AINEs podem inibir a expressão ou a atividade de algumas 
dessas moléculas da adesão celular, embora esse mecanismo não esteja 
completamente elucidado (PROUDFOOT; POWER; SCHWARZ, 2010). 
O recrutamento das células inflamatórias para os locais de lesão envolve 
interações simultâneas de vários tipos de mediadores solúveis, além das moléculas 
de adesão celular, incluindo o fator C5a do complemento, o fator ativador plaquetário 
e o leucotrieno B4 (MARTIN; WALLACE, 2006). Várias citocinas também parecem 
desempenhar um papel essencial na ativação do processoinflamatório, 
especialmente a interleucina-1 (IL-1) e o fator de necrose tumoral (TNF). Esses dois 
fatores são considerados os mediadores principais das respostas biológicas 
desencadeadas por LPS (lipopolissacarídeos) e muitos outros estímulos infecciosos 
(PLAYFORD; GHOSH, 2005). As citocinas IL-1 e TNF produzem as mesmas 
respostas pró-inflamatórias, que incluem a indução da febre, mobilização e ativação 
dos leucócitos polimorfonucleados, indução das enzimas COX e lipoxigenase, 
aumento da expressão das moléculas de adesão, ativação dos linfócitos B, T e 
células natural killer e estimulação e produção de outras citocinas (RAO; KNAUS, 
2008). 
Para compensar os efeitos tóxicos dos mediadores pró-inflamatórios há pouco 
citados, outras citocinas e fatores de crescimento estão envolvidos na resposta 
antiinflamatória, entre elas o fator transformador do crescimento 1 (TGF- ), o qual 
aumenta a formação da matriz intracelular, no entanto, também atuam como 
imunossupressores, a interleucina-10 (IL-10) e o interferon gama (INF- ) (D’AVILA et 
al., 2006; DINARELLO, 2010). 
23 
 
O fator ativador plaquetário (PAF) é outro mediador derivado dos fosfolipídios 
que apresenta múltiplos efeitos inflamatórios (FOLCO; MURPHY, 2006) Além de 
estimular as plaquetas, o PAF causa vasoconstricção, broncoconstricção e, em 
concentrações extremamente baixas, induz vasodilatação e aumento da 
permeabilidade venular; gera também aumento da adesão leucocitária ao endotélio, 
da quimiotaxia, da desgranulação e um “surto” oxidativo (VAKNIN; KURZWEIL; 
SHERMAN, 2010). O leucotrieno (LTB4), um potente agente quimiotático, causa 
agregação de neutrófilos, enquanto o óxido nítrico (NO) está envolvido na 
vasodilatação e na toxicidade (HAEGGSTROM, 2004). 
Além das diversas atividades terapêuticas em comum, os AINEs 
compartilham vários efeitos adversos, presumivelmente em decorrência da inibição 
da COX (WHITTLE, 2003; HAEGGSTROM, 2004). Os mais frequentes (6 - 33%) são 
distúrbios gastrintestinais, atribuídos à redução do efeito citoprotetor gástrico das 
prostaglandinas (Figura 4). 
Figura 4 - Fatores agressivos e mecanismos de defesa da mucosa gástrica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: (HAEGGSTROM, 2004). 
 
24 
 
O aumento do fluxo sanguíneo da mucosa gástrica, a estimulação da 
secreção de muco e bicarbonato e a diminuição de ácido livre desaparecem com o 
bloqueio da síntese de COX-1 (HAEGGSTROM, 2004; RADI; KHAN, 2006). 
As manifestações digestivas incluem eritema e erosões gástricas, ulceração 
gástrica e duodenal, dispepsia, dor epigástrica, náuseas e vômitos, anorexia, 
flatulência, diarreia e perda de sangue pelo tubo digestivo (Figura 5) (RAINSFORD; 
STETSKO; SIRKO, 2003). 
Figura 5 – Ulcerações hemorrágicas na porção gastroduodenal em estômago de cães, 
induzidas pela indometacina. 
Fonte: (RADI; KHAN, 2006). 
A frequência, natureza e gravidade dos efeitos tóxicos variam conforme o 
fármaco, assim como a dose, mas basicamente todas são capazes de produzir 
distúrbios gástricos (úlceras inclusive) como também fenômenos hemorrágicos 
decorrentes de tratamentos prolongados. Para contornar esses graves eventos 
adversos, são utilizadas substâncias gastroprotetoras ou antiácidos (LANE; KIM, 
2006). 
A função plaquetária é alterada porque os AINEs impedem a formação, pelas 
plaquetas, do tromboxano A2 (TXA2), um potente agente agregante, o que explica a 
tendência que estes medicamentos têm de aumentar o tempo de sangramento 
(ABURAYA et al., 2006). 
 
 
25 
 
1.4 A indometacina, o AINE deste estudo 
A indometacina, introduzida no mercado em 1963, foi um marco do começo 
de uma nova direção das pesquisas dos antiinflamatórios (SCHMIDT et al., 2001; 
KOMOIKE et al., 2002; TAKEUCHI et al., 2010b; FOUAD et al., 2010). Apresenta 
propriedades analgésicas e antipiréticas, sendo seus efeitos antiinflamatórios 
considerados marcantes, evidenciados em pacientes com artrite reumatóide, gota 
aguda, espondilite anquilosante, osteoartrite do quadril e doença óssea de Paget, 
mostrando-se também eficaz em afecções inflamatórias extra-articulares, como 
pericardite e pleurite, e na síndrome de Batter (RAINSFORD; STETSKO; SIRKO, 
2003; TAKEUCHI et al., 2010c). Também inibe a biossíntese de PGs e, além disso, 
desacopla a fosforilação oxidativa na mitocôndria hepática e cartilaginosa e inibe a 
motilidade de leucócitos polimorfonucleares. A sua ação antiinflamatória não 
depende da estimulação adrenocortical (TAKEUCHI et al., 2010c). 
Pesquisas mostram que a indometacina não modifica o efeito de 
anticoagulantes orais, contudo, a administração simultânea poderia ser perigosa em 
razão do risco aumentado de sangramento gastrintestinal, apesar de sua utilização 
crônica raramente levar ao óbito (RAINSFORD; STETSKO; SIRKO, 2003). A 
ulceração gastroduodenal é o efeito adverso mais severo em usuários do fármaco, 
podendo evoluir para perfuração e podendo também causar hemorragia, atingindo, 
porém, apenas 1% dos pacientes (CHAN; GRAHAM, 2004). 
Está bem documentada na literatura a capacidade da indometacina de induzir 
úlceras em animais de laboratório e no homem. Esta é considerada um poderoso 
inibidor da ciclo-oxigenase, impedindo a biossíntese de prostaglandinas. A redução 
da biossíntese dos prostanóides, diminui a resistência da mucosa à ação do HCl e 
da pepsina. Os mecanismos subjacentes à proteção gástrica conferida pelos 
prostanóides parecem estar relacionados à ativação de fatores gastroprotetores, 
assim como a redução da secreção ácida de pepsinogênio e do aumento do fluxo 
sanguíneo gástrico local (BORRELLI; IZZO, 2000). 
Quanto aos aspectos bioquímicos, o uso, principalmente crônico ou sem 
acompanhamento médico, pode levar à instalação de acidose tubular, diminuição da 
filtração glomerular, com a consequente retenção de fluidos relacionada com a 
26 
 
inibição da síntese de PGs no rim (FILARETOVA et al., 2002; HAWKEY; SKELLY, 
2002; REED, 2002). A ingestão crônica de indometacina induz a instalação de ileítes 
crônicas e outras complicações graves, como síndrome de má absorção, perfuração, 
hemorragia e oclusão intestinal, podendo levar a um choque séptico (NOLD et al., 
2007). 
Atualmente, os antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) são utilizados com 
sucesso para o alívio de dor, febre e inflamação, sendo uma das classes de 
medicamentos mais consumidas diariamente em todo o mundo por milhões de 
pacientes (VONKEMA; VAN DE LAAR, 2010). Pesquisas mostram que a 
administração de AINES em doses terapêuticas apresenta alta eficácia, porém, o 
uso desses fármacos é associado com vários efeitos colaterais, como morbidez e 
mortalidade (LANE; KIM, 2006; FOUAD et al., 2010). 
Persiste ainda a necessidade que se desenvolvam novos agentes que sejam 
eficazes no combate ao fator etiológico da doença. Os AINEs apenas diminuem a 
intensidade dos sinais e sintomas da inflamação, não eliminando a moléstia 
(DINARELLO, 2010; TAKEUCHI et al., 2010a). 
 
1.5 A inflamação, os AINEs e o choque séptico 
O choque séptico decorre da disseminação de microorganismos com origem 
em infecções localizadas graves (ex., abscessos, peritonite e pneumonia) para o 
sangue (REN et al., 2004). A maioria dos casos é causada por bacilos Gram-
negativos produtores de endotoxinas (lipopolissacarídeos - LPS da parede 
bacteriana, que consistem em um componente central tóxico de lipídeo e em um 
revestimento polissacarídico complexo), e também por bactérias Gram-positivas e, 
ocasionalmente, por fungos (POVOA, 2002). Os mediadores inflamatórios liberados 
pelo LPS são citados como causadores do choque, e incluem os seguintes: citocinas 
(IL-1, TNF, IL-6, IL-8), PAF, NO, complemento (C5a e C3a), prostaglandinas, 
leucotrienos, sistema cinina, metabólitos do oxigênio, catecolaminas, endorfinas e 
fator depressor miocárdico (SERHAN; CHIANG, 2008; LI et al., 2009; DINARELLO, 
2010). 
27 
 
A ativação mediadapelas endotoxinas do sistema fagócito mononuclear, com 
a consequente liberação de IL-1 e TNF-α, no entanto, é um evento crucial na 
patogenia do choque séptico (REN et al., 2004; SERHAN; CHIANG, 2008). Estas 
citocinas geram ativação endotelial e adesão e agregação leucocitárias, além de 
promoverem a coagulação intravascular e a trombose capilar (DINARELLO, 2009a, 
2010). 
 
1.6 A relação inflamação, trombose e coagulação 
A relação entre inflamação e coagulação é inquestionável. A reação 
inflamatória ativa a coagulação sanguínea, promovendo a expressão de fator tissular 
no espaço intravascular e ativa moléculas de adesão de leucócitos na parede 
vascular, diminuindo a atividade fibrinolítica e a função da via anticoagulante da 
proteína C (PC) (ESMON et al., 1999). Diferentes investigações demonstraram que o 
fator de necrose tumoral- (TNF- ) é o primeiro a se elevar, seguido da elevação 
dos níveis plasmáticos de interleucinas 6 (IL-6) e 1 (IL-1). Estudos envolvendo a 
administração dessas interleucinas em voluntários saudáveis ou em modelos 
animais, bem como o uso de anticorpos bloqueando sua ação, sugeriram que a IL-6 
é a principal responsável pela geração de trombina, possivelmente porque regula a 
expressão de fator tissular. O papel do TNF- na ativação da coagulação é 
relacionado à sua capacidade de induzir o aumento da IL-6. Adicionalmente, o TNF-
 parece ser o principal mediador da depressão da atividade do sistema da PC, por 
induzir diminuição da expressão de trombomodulina nas células endoteliais (LEVI; 
TEN, 1999). 
 
A coagulação sanguínea é um processo dinâmico de reações bioquímicas 
envolvendo proteínas plasmáticas com atividade de proteases, lipídeos e íons, que 
transformam o sangue circulante fluido em um gel insolúvel pela conversão do 
fibrinogênio em fibrina (BROOMHEAD; MALLETT, 2010), muito embora a fibrina, 
propriamente dita, só corresponda a 0,15% do total do coágulo sanguíneo 
(LONGSTAFF, 2010). 
É costume dividir o esquema de coagulação sanguínea em vias extrínseca e 
intrínseca, que convergem para o ponto onde o fator X é ativado (NORRIS, 2003; 
28 
 
BOMBELI; SPAHN, 2004). A via intrínseca é iniciada in vitro pela ativação por 
contato do fator de Hageman (fator XII). Essa via contém ainda os fatores XI, IX, e 
VIII, necessários à formação do coágulo e que se acham presentes no sangue 
circulante (BROOMHEAD; MALLETT, 2010). A via extrínseca é ativada pela ação da 
lipoproteína denominada tromboplastina tecidual (FIII), que o endotélio lesado libera 
para o sangue circulante (BOUMA; MEIJERS, 2004; BROOMHEAD; MALLETT, 
2010). 
O fígado sintetiza todos os fatores da coagulação, incluindo o FVIII e os 
inibidores fisiológicos da coagulação, como proteína C, proteína S e antitrombina 
(KAM; EGAN, 2002; BROOMHEAD; MALLETT, 2010). O fator XIII parece ser 
encontrado também nos megacariócitos e plaquetas (BOMBELI; SPAHN, 2004, 
BROHI et al., 2007; APPADU, 2010). 
Antitrombina 
A antitrombina (AT), importante inibidor fisiológico da coagulação, pertence à 
família das serpinas e desempenha seu papel fisiológico na coagulação sanguínea, 
ao lado da proteína C e S. Estudo realizado por Finazzi e Barbui (1994) mostrou que 
pacientes com deficiência de antitrombina têm maior incidência de trombose do que 
aqueles com deficiência de proteína C ou proteína S. A AT inibe várias 
serinoproteases ativadas na cascata da coagulação, incluindo os fatores XIIa, XIa, 
Xa, IXa e a trombina. Portanto sua deficiência implica maior atividade pró-
coagulante, com a consequente exacerbação na produção de fibrina, culminando 
com a gênese de eventos trombóticos (Figura 6). 
Fibrinogênio (Fator I) 
O fibrinogênio, fator de coagulação mais abundante e que forma o coágulo de 
fibrina (FRANCO, 2001; VAN HINSBERGH, 2001; LONGSTAFF; WHITTON, 2004), 
é uma proteína plasmática, de alto peso molecular (320.000 - 400.000 dáltons), 
sintetizada pelo fígado, cuja molécula forma três glóbulos, unidos entre si por 
estruturas filamentosas enoveladas (FRANCO, 2001; VAN HINSBERGH, 2001; 
KAM; EGAN, 2002; LONGSTAFF et al., 2007). 
O fibrinogênio é um dos três principais componentes das vias da coagulação, 
como também um componente-chave na agregação plaquetária. Parte do 
29 
 
fibrinogênio é efetivamente derivada das plaquetas (VAN HINSBERGH, 2001; KAM; 
EGAN, 2002; GAILANI; RENNÉ, 2007). Níveis altos de fibrinogênio aparecem como 
um fator de risco significante para a trombose arterial e também venosa (JACKSON, 
2007). 
O fibrinogênio é uma proteína de fase aguda cuja concentração plasmática 
eleva-se sob a ação estimuladora das interleucinas (IL-1 e 6) e do fator de necrose 
tecidual liberado pelo processo inflamatório (ANDREWS et al., 1994). Segundo 
Schalm e colaboradores (1975), durante o processo de inflamação aguda, sua 
concentração plasmática de fibrinogênio aumenta por vários dias, atingindo um pico 
entre o quinto e o sétimo dia. Não sofre alteração perceptível em virtude de fatores 
como a idade, sexo, exercício ou hemorragia, mas pode ser afetada por processos 
inflamatórios (JAIN, 1993; THOMAS, 2000). O grau de hiperfibrinogenemia pode 
refletir a severidade da inflamação (SCHALM et al., 1970). 
Figura 6 - Esquema resumido da cascata de coagulação e os fatores envolvidos 
 
 
Fonte: (EYRE; GAMLIN, 2010). FI: Fibrinogênio; FII: Protrombina; FIII: Fator tissular (FT); FIV: 
Íons cálcio (Ca
2+
); FV: Pro-acelerina; FVII: Pro-convertina; FVIII: Fator antihemofílico; FIX: Fator 
de Christmans; FX: Fator Stuart; FXI: Fator XI; FXII: Fator de Hageman; FXIII: Fator 
estabilizador de fibrina. 
 
30 
 
1.7 A talidomida em eventos trombóticos 
O tromboembolismo venoso é uma causa importante de morbidade e 
mortalidade em muitas situações, como; por exemplo, em pacientes oncológicos. 
Sabe-se que aproximadamente 20% dos pacientes com algum tipo de câncer, 
certamente, desenvolverão tromboembolismo venoso, sendo essa a segunda causa 
de morte nesse grupo (ALTER; STUKEL; NEWMAN, 2006; DELORENZO; 
SIEWERS; WENNBERG, 2006; GIBBONS; ARAOZ; WILLIAMSON, 2009). 
A etnia também se mostra como fator de risco importante para o 
tromboembolismo venoso. Assim, asiáticos e habitantes das ilhas do Pacífico têm 
menor risco de trombose associada à neoplasia quando comparados a caucasianos, 
já em negros dos Estados Unidos, o risco de tromboembolismo venoso varia com o 
tipo de câncer (ALCALAY et al., 2006; CHEW et al., 2006; KHORANA et al., 2006; 
BROWNING; MARTIN, 2007). 
A utilização de agentes antiangiogênicos, em esquemas de tratamento para 
pacientes oncológicos, está particularmente associada à trombose. A talidomida está 
fortemente implicada com o desenvolvimento de tromboembolismo venoso em 
pacientes com mieloma múltiplo, onde o risco aumenta quando usada em pacientes 
com diagnóstico recente e em combinação com esteróides, melfalam e outros 
quimioterápicos e corticóides, particularmente doxorrubicina (TOSI et al., 2010). O 
risco trombótico aparentemente se estende aos análogos como a lenalidomida 
(FERRAROTTO et al., 2009). 
O mecanismo pelo qual a talidomida isoladamente ou associada a outros 
agentes tumorais pode favorecer a trombose é desconhecido. Os eventos 
trombóticos não teriam relação com a dose utilizada de talidomida e, geralmente 
ocorrem nos primeiros três meses de tratamento e apresentam maior frequência 
quando a talidomida é usada em associação com quimioterápicos e corticóides, 
particularmente doxorrubicina, e dexametasona, nos casos recém-diagnosticados, e, 
portanto, com maior massa tumoral, e nos pacientes que exibem anormalidade no 
cromossomo 11 (BARBUI; FALANGA, 2003; RODEGHIERO; ELICE, 2003; RUS et 
al., 2004; ELICE et al., 2006; HUSSEIM, 2006; BEYER-WESTENDORF et al., 2010). 
31 
 
É importante lembrar que, em pacientes com mieloma, frequentemente estão 
presentes outros fatores de risco para TEV (tromboembolismo venoso), como idade 
avançada,imobilização, aumento da viscosidade plasmática, uso de cateter venoso 
central, infecções associadas, diabetes e dislipidemia (D'AMICO; VILLAÇA, 2007). 
O exato mecanismo de ação da talidomida ainda não foi esclarecido, 
entretanto, se acredita estar relacionada a sua propriedade antiinflamatória, 
imunomodulatória e antiangiogênica. Suas propriedades antiinflamatórias incluem a 
inibição da quimiotaxia de linfócitos e neutrófilos. Adicionalmente, inibe a fagocitose 
por neutrófilos e macrófagos. No eritema nodoso hanseniano, o TNF- e INF- estão 
geralmente elevados e a melhora clínica dos pacientes tratados com talidomida 
corresponde à redução destas duas citocinas, podendo ser observadas também 
alterações nos níveis de proteínas (WU et al., 1994). 
Nos processos inflamatórios locais, podem ser verificadas alterações das 
concentrações de proteínas de fase aguda, tanto no plasma como no líquido 
peritoneal (FAGLIARI et al., 1998). As proteínas de fase aguda são consideradas 
como potenciais indicadores da presença de doenças e sua quantificação pode nos 
fornecer informações importantes sobre a resposta inflamatória de fase aguda e sua 
evolução, podendo ser utilizada para estabelecer parâmetros e explorar o impacto 
dos vários agentes etiológicos e outros fatores envolvidos nas enfermidades 
(MURATA et al., 2004). 
Existe uma série de situações, como, por exemplo, trauma, necrose tissular, 
infecção microbiana, doenças inflamatórias, que desencadeiam múltiplas respostas 
inespecíficas, incluindo febre, leucocitose, catabolismo proteico, e ainda estimulam a 
síntese, essencialmente a nível hepático, de numerosas proteínas. Na resposta de 
fase aguda, as proteínas de fase aguda positivas aumentam de concentração, e 
proteínas de fase aguda negativa diminuem em pelo menos 25% após o início da 
resposta. O exemplo mais importante das proteínas cujos níveis diminuem é a 
albumina (WU et al., 1994; FAGLIARI et al., 1998). 
Assim, a talidomida pode interferir em alguns parâmetros relacionados aos 
fenômenos coagulativos. Estudos randomizados demonstram maior risco 
tromboembólico nos pacientes que recebem eritropoetina. Fatores de maior risco 
são: história prévia de trombose, cirurgias, períodos prolongados de imobilidade. 
32 
 
Pacientes com mieloma múltiplo que recebem talidomida ou lenalidomida, 
doxorrubicina e corticosteróides também têm maior risco trombótico (LEE, 2010). 
 
1.8 Relevância e justificativa do estudo 
 
Pelos inúmeros e variados dados da literatura citados anteriormente, percebe-
se a real imbricação que ocorre entre os mecanismos de resposta inflamatória, o uso 
de AINE's e processos ou alterações de coagulação. Há entretanto, muito o que se 
compreender nesta relação de sistemas tão diferentes, mas que muitas vezes por 
motivações de natureza fisiopatológicas convergem e entrecruzam, culminando com 
resultados extremamente danosos e até mesmo fatais. 
Nesse sentido, a talidomida, detentora de potente ação inibidora da 
angiogênese, demonstra resultados promissores na profilaxia de sangramentos 
enterocólicos relacionados a angiodisplasias múltiplas, podendo ser usada em casos 
refratários, com as contraindicações ou sem resposta a outras terapias (MOLINA et 
al., 2007). 
Desta forma, ressalta-se a relevância deste estudo, como um esforço 
científico de melhor entender a inter-relação do uso de drogas antiinflamatórias com 
inflamação e hemostasia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OOBBJJEETTIIVVOOSS 
 
34 
 
2 OBJETIVOS 
 
2.1 Geral 
Avaliar os efeitos da talidomida sobre a toxicidade intestinal e hepática 
induzida pela indometacina em ratos Wistar. 
 
2.2 Específicos 
Avaliar a toxicidade intestinal e hepática induzida pela indometacina e 
possível efeito protetor da talidomida, avaliando os seguintes aspectos: 
 
 avaliar os parâmetros hematológicos, coagulométricos e bioquímicos no 
sangue; 
 detectar e quantificar a presença de enterobactérias no lavado peritoneal; 
 avaliar a atividade da mieloperoxidase no lavado peritoneal; 
 observar possíveis alterações histopatológicas (infiltrado inflamatório, úlceras 
e hemorragia); e 
 determinar a sobrevida dos animais ao longo do tratamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MMEETTOODDOOLLOOGGIIAA 
36 
 
3 MATERIAL E MÉTODOS 
 
3.1 Animais 
Ratos, machos adultos, linhagem Wistar (180 - 220g), provenientes do 
Biotério Central da UFC e mantidos no Biotério do Departamento de Fisiologia e 
Farmacologia da UFC, foram acondicionados em gaiolas-padrão de polipropileno (41 
x 34 x 16 cm 6/caixa), a temperatura ambiente sobre condições controladas de 
temperatura (22- 24°C) e luminosidade (ciclo claro/escuro de 12 h) com livre acesso 
a água e ração (Purina, São Paulo). Os procedimentos experimentais foram 
conduzidos de acordo com as recomendações do Colégio Brasileiro de 
Experimentação Animal (COBEA-2008). 
 
3.2 Drogas 
Talidomida (Funed®-100mg, Fundação Ezequiel Dias – Brasil), indometacina 
(Indocid®- 50mg-Merck Sharp & Dohme) e ampicilina (500mg, EMS /SA). Todos os 
reagentes usados foram de grau analítico. 
 
3.3 Protocolo experimental 
Os animais foram distribuídos aleatoriamente nos grupos a seguir delineados. 
 
Grupo 1 - controle/veículo: os ratos foram submetidos à administração por via oral 
de DMSO a 2% em salina durante cinco dias consecutivos (n = 08). 
Grupo 2 - indometacina: os ratos foram submetidos à administração por via oral de 
indometacina 5,0 mg/kg em DMSO a 2%, durante cinco dias consecutivos (n = 08). 
Grupo 3 - talidomida: os ratos foram submetidos à administração por via oral de 
talidomida 200 mg/kg em DMSO a 2%, durante cinco dias consecutivos (n = 08). 
37 
 
Grupo 4 - indometacina + talidomida 100 mg/kg: talidomida na dose de 100 mg/kg 
suspensa em DMSO a 2% por via oral duas horas após a indometacina, durante 
cinco dias consecutivos (n = 08). 
Grupo 5 - indometacina + talidomida 200 mg/kg: talidomida 200 mg/kg suspensa em 
DMSO a 2%, por via oral duas horas após a indometacina, durante cinco dias 
consecutivos (n = 08). 
 A dose de indometacina (5,0 mg/kg) e de talidomida (100 mg/kg e 200 mg/kg) 
utilizadas teve como referência as citadas em trabalhos da literatura e em um 
estudo- piloto de curva de sobrevivência com indometacina. 
 
3.4 Análise do perfil bioquímico, hematológico e coagulométrico 
 No quinto dia de tratamento, foram retiradas amostras de sangue do plexo 
orbital para a dosagem de ureia e creatinina, e assim analisar a possível toxicidade 
renal, dosagem de alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase 
(AST), fosfatase alcalina, -glutamil transpeptidase (GGT), albumina e glicose para 
analisar possíveis danos hepáticos e glicose. As dosagens foram realizadas por 
meio de kits segundo instruções de seus fabricantes. 
 Os animais foram sedados levemente com éter etílico, para a retirada de 
sangue do plexo retrorbital. O sangue foi coletado em tubos contendo EDTA 
(parâmetros hematológicos); citrato de sódio a 3,8% (parâmetros da coagulação) e 
em tubos sem anticoagulante (parâmetros bioquímicos). Após a coleta, o material foi 
devidamente identificado e levado imediatamente ao Laboratório de Coagulação do 
HEMOCE para a realização dos exames: hemograma (leucócitos, hemácias, 
hemoglobina e hematócrito, contagem de plaquetas), tempo de protrombina (TP), 
tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa), dosagem de fibrinogênio e 
antitrombina. 
 Antes do processamento das amostras, teve-se sempre o cuidado de verificar 
a presença de qualquer indício de hemólise, e/ou de fibrina, se encontrados. 
Eliminou-se o material para a obtenção de resultados confiáveisnos exames 
realizados. Para a obtenção de soro ou plasma, o sangue foi centrifugado a 3000 
rpm por 15 minutos. 
38 
 
 As dosagens bioquímicas foram realizadas por meio de métodos cinéticos ou 
enzimáticos em aparelho automatizado (BT 3000 PLUS – Wiener Lab), de acordo 
com protocolos sugeridos pelo fabricante dos reagentes. Enquanto isso, as análises 
hematológicas foram realizadas em um contador automático de células sanguíneas 
(Cell Dyn® 1800 – Abbott Diagnostics). As análises coagulométricas foram 
procedidas por método coagulométricos e cromogênicos, utilizando kit de 
Diagnostico da Siemens (Thromborel S; ACTIN FSL; Dade® Fibrinogen 
Determination Reagents, Antithrombin-Berichrom) realizadas no equipamento CA 
1500 – Sysmex - Siemens Healthcare Diagnostics, segundo as orientações 
sugeridas pelo fabricante dos reagentes. 
 
3.4.1 Estudo da coagulação 
 
3.4.1.1 Tempo de protrombina (TP/TAP) 
Para a determinação do TP, foi utilizado o método de QUICK, o qual avalia a 
recalcificação do plasma na presença de um excesso de fosfolípides 
(tromboplastina). Considerando que a protrombina é convertida em trombina num 
tempo uniforme, a recalcificação com quantidade conhecida de cloreto de cálcio 
produz a coagulação do plasma. O TP é dependente do sistema extrínseco de 
formação do complexo protrombínico (VII, V e X), da protrombina e fibrinogênio. O 
TP/TAP é particularmente adequado para o diagnóstico de deficiências congênitas 
de fatores do sistema extrínseco e deficiências adquiridas dos fatores da 
coagulação; controle da atividade de síntese hepática em doenças do fígado. 
 
3.4.1.2 Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) 
O teste de determinação do TTPA envolve a recalcificação do plasma, porém 
em presença de cefalina proveniente de extrato etéreo de cérebro. A cefalina é uma 
lipoproteína. Funciona como um substituto das plaquetas, fornecendo uma 
concentração ótima de fosfolípidio. Dessa forma, as reações do sistema intrínseco 
de coagulação são aceleradas. É considerado um teste de screening para detectar 
anormalidades no sistema intrínseco da coagulação. Pode-se utilizar para 
39 
 
deficiências dos fatores II, V, VIII, IX, X, XI E XII, porém é insensível ao fator 
plaquetário 3. 
 
3.4.1.3 Dosagem de fibrinogênio 
Para a dosagem de fibrinogênio, foi utilizado o método de Clauss (LOWE, 
2004), que consiste em medir o tempo de coagulação do plasma em presença de 
trombina concentrada. Quando há adição de trombina à amostra de plasma, o 
fibrinogênio é convertido enzimaticamente em fibrina. A fibrina, por sua vez, por 
polimerização, forma uma rede de fibrina. O fator XIII, ativado pela trombina, catalisa 
a formação de ligações cruzadas estabilizadoras para produzir um coágulo visível. 
 
3.4.1.4 Antitrombina 
A antitrombina é o inibidor plasmático da trombina e do fator X ativado e 
forma um complexo inativo irreversível com essas enzimas. A inativação dos fatores 
de coagulação ativados é acelerada, em grande quantidade, pela heparina. 
Berichrom* antitrombina serve para a determinação rápida da antitrombina 
fisiologicamente ativa e permite o diagnóstico da deficiência de antitrombina 
hereditária e adquirida, que representa um risco elevado de trombose. 
 
3.4.2 Avaliação da função hepática 
Demonstrou-se como de grande valor clínico a dosagem de várias enzimas 
no soro para fins de avaliação do grau de disfunção hepatocelular no decurso de 
doenças hepáticas. Baseia-se esse tipo de exame no conceito de que o achado no 
soro de teores anormalmente elevados de enzimas intracelulares significa existir 
alteração funcional ou orgânica das células que as contém, o que permite o 
extravasamento das enzimas e sua passagem para o meio circulante. Como 
marcadores da função hepática, foram utilizadas as enzimas alanina 
aminotransferase, asparto aminotransferase, fosfatase alcalina e gama 
glutamiltransferase, seguidas das dosagens de glicose e albumina. 
40 
 
A alanina aminotransferase (ALT) ou transaminase glutâmico-pirúvica 
(GPT/TGP) é uma enzima encontrada predominantemente no fígado, em 
concentração moderada nos rins e em menores quantidades no coração e nos 
músculos esqueléticos. Na célula hepática, a ALT localiza-se no citoplasma (90%) e 
na mitocôndria (10%). Qualquer injúria tissular ou doença afetando o parênquima 
hepático liberará maior quantidade da enzima para a corrente sanguínea, elevando 
os níveis séricos da ALT. Em geral, as causas mais comuns de elevação dos valores 
de ALT, no sangue ocorrem por disfunção hepática. Desta maneira, a ALT além de 
ser sensível, é também bastante específica para o diagnóstico de doença 
hepatocelular. 
A aspartato aminotransferase (AST) ou transaminase glutâmico-oxalacética 
(GOT/TGO) é uma enzima encontrada em concentração muito alta no músculo 
cardíaco, no fígado, músculos esqueléticos e em menor concentração nos rins e 
pâncreas. Nas células hepáticas, a AST localiza-se no citoplasma (40%) e na 
mitocôndria (60%). Qualquer lesão tissular ou doença afetando o parênquima 
hepático liberará uma maior quantidade da enzima para o sangue circulante, 
elevando os níveis séricos da AST. Sempre que ocorrer uma lesão hepatocelular de 
qualquer etiologia, haverá uma grande liberação da enzima AST para a circulação 
sanguínea, elevando seus níveis séricos. 
A fosfatase alcalina (FA) compreende um grupo de enzimas fosfo-hidrolases 
que apresentam atividade máxima em pH alcalino, próximo de 10. A enzima é 
encontrada em vários tecidos, com maiores concentrações no fígado, no epitélio do 
trato biliar e no osso. Também a mucosa intestinal e a placenta contêm também a 
fosfatase alcalina. 
A gama glutamiltransferase (GGT) é uma enzima encontrada 
predominantemente nos hepatócitos, em menor concentração nos rins e, em 
concentração bem menor, no epitélio do trato biliar, no intestino, coração, pâncreas, 
baço e cérebro. A principal função dessa enzima é catalisar a transferência de 
aminoácidos e peptídeos por meio das membranas celulares. 
 
41 
 
3.5 Cultura do lavado peritoneal 
 Logo após a coleta do sangue, os animais foram sacrificados por 
deslocamento cervical, tendo sido coletado líquido da cavidade peritoneal para 
realização de cultura microbiológica. Nos ratos que não apresentaram líquidos foram 
injetados 5,0 mL de salina estéril na cavidade peritoneal, e, em seguida, retirados 
4,0 mL do lavado e colocado em tubos estéreis e encaminhado ao Laboratório 
Emilio Ribas, em Fortaleza-Ce, para análise microbiológica, onde foram semeados 
para investigação e identificação de enterobactérias em meios Mac-Conkey e ágar-
sangue, seguido das provas bioquímicas para identificação da espécie bacteriana. 
 
3.5.1 Avaliação do número de células na cavidade peritoneal 
 Uma parte do líquido peritoneal (1,0 mL) coletado de cada animal foi 
encaminhada para a contagem global de leucócitos. Para contagem diferencial, o 
fluido foi centrifugado (1000g, 10 min, 4°C) e removido o sobrenadante; foram feitos 
esfregaços corados com MayGruwald-Giemsa e analisados sob microscopia óptica. 
 
3.5.2 Medida da atividade enzimática da mieloperoxidase (MPO) 
A atividade da enzima MPO, um marcador de infiltração de neutrófilos, 
utilizada como indicativo da presença de leucócitos polimorfonucleares, foi avaliada 
utilizando a metodologia de Bradley et al. (1982), com algumas modificações. As 
amostras do líquido peritoneal foram centrifugadas e 0,1 mL dos sobrenadantes de 
cada animal foram levados ao sonicador, em seguida, misturadas com 0,9 mL de 
0,5% HTAB em tampão de fosfato de potássio. Em seguida, alíquotas de 30 µL 
foram colocadas em placas de 96 poços, onde posteriormente foram adicionados 
200 µL de solução contendo 0,9% de peróxido de hidrogênio e 0,52 mM de o–
dianisidina. A reação entre H2O2 e o–dianisidine é catalisada por MPO e gera uma 
cor composta que é quantificada pelas medidas de absorbânciaem comprimento de 
onda de 460 nm e representam o índice de atividade de MPO. Uma unidade de 
actividade MPO foi definida como a que degrada 1,0 mmol de peróxido por minuto 
em 25 oC. A atividade MPO foi expressa em unidades/mL. 
42 
 
3.6 Análise histológica 
As amostras intestinais (n= 4 por grupo) foram constituídas de fragmentos de 
intestino delgado com aproximadamente 15 cm, colhidos na margem anti-
mesentérica. As amostras colhidas foram imediatamente fixadas em solução de 
formalina a 10% tamponada e, posteriormente, processada segundo técnicas 
rotineiras de inclusão em parafina, cortadas em micrótomo em fragmento cinco 
micrômetros cada fragmento, e coradas pela hematoxilina e eosina (HE). As lâminas 
foram analisadas à microscopia óptica pelo patologista (Prof. Dr. Dalgimar 
Menezes), que desconhecia a que grupo pertencia cada lâmina avaliada. Também 
foram analisadas amostras do fígado e rim. 
 
3.7 Exame histopatológico 
Utilizou-se a classificação intestinal de Chiu e colaboradores (1970) com 
modificações, para avaliar o grau de lesão tecidual. As alterações histopatológicas 
do material avaliado foram pontuadas em uma escala de zero a três pontos, 
conforme descrito no Quadro 2: 
 
Quadro 2 – Classificação intestinal segundo Chiu e colaboradores (1970). 
GRAU ACHADOS 
0 
 Ausência de reação inflamatória, ulceração ou destruição tecidual. 
 
1 
 Ligeira reação inflamatória, mas sem ulceração ou destruição tecidual. 
 
2 
Moderada infiltração inflamatória com destruição leve do tecido, vilosidades 
e criptas, mas sem ulceração. 
 
3 
Intensa reação inflamatória, presença de ulceração e destruição tecidual 
extensa. 
 
 Os resultados de todas as lâminas de cada grupo foram calculados para dar 
uma nota final para os grupos, individualmente. Todos os estudos histológicos foram 
realizados de forma que o patologista não tinha conhecimento prévio dos grupos 
experimentais. 
 
43 
 
3.8 Avaliação da sobrevida (curva de sobrevivência) 
 Ratos machos adultos sadios foram divididos aleatoriamente em seis grupos 
(n=06 para cada grupo) com pesos variando entre 150 e 220 g (p> 0,05). As doses 
estabelecidas para a análise de sobrevivência foram as mesmas administradas no 
tratamento das lesões induzidas pela indometacina: 5,0 mg/kg/dia v.o e 100 e 200 
mg/kg/dia oral por gavagem de talidomida. O controle negativo foi representado 
pelo tratamento por via oral com DMSO a 2%. Os animais foram observados 
diariamente para o registro de sobrevida. 
 
3.9 Análise estatística 
 A análise estatística foi realizada com auxílio do programa GraphPad Prism 
5.0 (Intituitive Software for Science, San Diego, CA). Os resultados foram expressos 
como a média ± erro-padrão da média (E.P.M.) ou mediana (mínimo-máximo). Foi 
realizada análise de variância (ANOVA) seguida pelo teste de Student Newman-
Keuls, para dados paramétricos, e teste de Kruskall-Wallis, seguido do teste de 
Dunnett ou Mann-Whitney, para dados não paramétricos. Para a curva de 
sobrevivência, foi usado o teste de Kaplan-Meyer e os resultados foram expressos 
como média de dias de sobrevivência. Para a comparação entre curvas de 
sobrevida, utilizou-se o teste de Long-Rank (qui-quadrado). As diferenças foram 
consideradas estatisticamente significativas quando p<0,05. 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RREESSUULLTTAADDOOSS 
45 
 
4 RESULTADOS 
 
4.1 Efeito do tratamento com talidomida em alterações hematológicas 
sanguíneas e no líquido peritoneal induzidas pela Indometacina 
O tratamento com indometacina (5,0 mg/kg) causou leucopenia (3,56 ± 0,44) 
x 103 /mm3, diminuição da contagem de eritrócitos (4,94 ± 0,49) x106 /mm3, dosagem 
de hemoglobina (9,15 ± 0,69 g/dL), hematócrito (28,34 ± 2,70%) e contagem de 
leucócitos no liquído peritoneal (50,07 ± 13,54) x103 /mm3 quando comparados ao 
gupo-controle, que apresentaram leucócitos de (5,93 ± 0,33) x103 /mm3, eritrócitos 
(6,73 ± 0,09) x106/mm3, hemoglobina (13,83 ± 0,23 g/dL), hematócrito (37,47 ± 
0,58%) e contagem de leucócitos no liquído peritoneal (0,85 ± 0,05) x103 /mm3. Não 
houve, no entanto, alteração na contagem de plaquetas. As reduções produzidas por 
indometacina foram atenuadas significativamente pela talidomida (100 e 200 mg/kg) 
sem mostrarem dose-dependência. No líquido peritoneal, Pôde-se observar 
aumento significativo no número de leucócitos em ratos tratados com indometacina 
e diminuição após tratamento com talidomida (Tabela 1). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
Tabela 1 - Efeito do tratamento com talidomida nas alterações hematológicas 
induzidas pela indometacina. 
 
PARÂMETROS CONTROLE 
 
INDOMETACINA 
 
TALIDOMIDA 
INDOMETACINA 
+ 
TALIDOMIDA 
(100 mg/kg) 
INDOMETACINA 
+ 
TALIDOMIDA 
(200mg/kg) 
Leucócitos 
(x 10
3
/mm
3
) 
5,93 ± 0,33 
 
3,56 ± 0,44
a
 
 
5.12 ± 0,36 8,17 ± 0,46
 b
 8,48 ± 1,02
 b
 
Neutrófilos 
(%) 
30,41 ± 1,48 34,16 ± 3,03 
 
34.75 ± 5,08 20,83 ± 2,32
 b
 21,08 ± 2,32
 b
 
 
Linfócitos (%) 66,85 ±1,69 
 
53,28 ± 5,07
a
 60.01 ± 4,59 
 
75,10 ± 3,36 
b
 
 
76,78 ± 2,37 
b
 
 
Hemácias (x 
10
6
/mm
3
) 
6, 73 ± 0,09 
 
4,94 ± 0,49
a
 6,72 ± 0,07 
 
6,83 ± 0,38
b
 6,38 ± 0,84
b
 
Hemoglobina 
(g/dl) 
13,83 ± 0,23 
 
9,25 ± 0,69
a
 
 
14,11 ± 0,25 
 
13,73 ± 0,68
b
 13,00 ± 1,87
b
 
 
Hematócrito 
(%) 
37,47 ± 0,58 
 
28,34 ± 2,70
a
 37,62 ± 0,57 
 
38,55 ± 1,76
b
 39,68 ±1,54
b
 
 
Plaquetas (x 
10
3
/mm
3
)
 
726,7 ± 28,4 
 
802,3 ± 19,7 838,8 ± 60,3 
 
756,8 ± 64,4 
 
840,3 ± 94,6 
 
Leucócitos 
no líquido 
peritoneal 
(x 10
3
/mm
3
) 
0,85 ± 0,05 50,07 ± 13,54
a
 2,15 ± 1,07 9,15 ± 0,75
b
 2,80 ± 1,10
b
 
Os valores representam média ± EPM. Os animais foram tratados durante cinco dias com 
indometacina (5,0 mg/kg) e talidomida (100 e 200mg/kg) via oral. 
a
 vs controle, 
b
 vs indometacina; p 
<0,05, ANOVA e teste de Student-Newman-Keuls. n= 4-8 / grupo. 
 
 
4.2 Efeito da talidomida nas alterações dos parâmetros de coagulação 
induzidas pela Indometacina 
Nos parâmetros relacionados ao tempo de protrombina e tempo parcial de 
tromboplastina ativada não revelaram diferença significativa. Por outro lado, 
observam-se um pequeno aumento nos níveis de antitrombina no grupo da 
indometacina (135,1 ± 2,3%) em relação ao grupo-controle (125,7 ± 12,7%), porém 
esse aumento não foi significativo. Nos animais tratados com indometacina e 
talidomida ou talidomida sozinha também não houve alteração significativa (Tabela 
2). 
47 
 
 Os animais tratados com indometacina (5,0 mg/kg, v.o, 5d) apresentaram um 
aumento significativo (p<0,05) nos níveis de fibrinogênio (637,50 ± 13,2 mg/dL) em 
relação ao grupo-controle (238,20 ± 11,6 mg/dL). O tratamento com talidomida 100,0 
e 200 mg/kg impediu parcialmente esse aumento (381,80 ± 50,8 mg/dL e 389,30 ± 
65,1 mg/dl), respectivamente (Tabela 2, Figura 7). 
 
Tabela 2 - Efeito do tratamento com talidomida, nas alterações 
coagulométricos induzidas pela indometacina 
 
 
PARÂMETROS 
 
CONTROLE 
 
INDOMETACINA 
 
TALIDOMIDA 
INDOMETACINA 
+ 
TALIDOMIDA 
(100 mg/kg) 
INDOMETACINA 
+ 
TALIDOMIDA 
(200 mg/kg) 
Tempo de 
protrombina 
(TAP) seg. 
 
16,89 ± 0,48 
 
 
15,50 ± 0,44 
 
 
16,51 ± 0,40 
 
 
15,68 ± 0.39 
 
 
15,40 ± 0,62 
 
Tempo de 
tromboplastina 
parcial ativada 
(TTPa) seg. 
 
22,16 ± 0,26 
 
 
21,48 ± 0,31 
 
 
22,63 ± 0,34 
 
24,48 ± 0,41 
 
 
23,18 ± 0,86 
 
Antitrombina 
(%) 
125,0 ± 12,7 135,1 ± 12,3 
 
120,6 ± 13,0 132,8 ± 9.8 
 
126,8 ±10,5 
 
Fibrinogênio 
(mg/dl) 
238,2 ± 11,6 
 
637,5 ± 13,2
a
 
 
246,0 ± 9,6 381,8 ± 50,8
b
 
 
389,3 ± 65,1
b
 
 
Os valores representam média ± EPM. Os animais foram tratados durante cinco dias com 
indometacina (5,0 mg/kg) e talidomida (100 e 200 mg/kg) via oral. 
a
 vs controle, 
bvs indometacina; p 
<0,05, ANOVA e teste de Student-Newman-Keuls. n= 4-8 / grupo. 
 
Figura 7 - Efeito da indometacina sobre os níveis de fibrinogênio plasmático. Os valores 
representam média ± EPM. Os animais foram tratados durante cinco dias com indometacina 
(5,0 mg/kg) e talidomida (100 e 200 mg/kg) via oral. 
a 
vs controle, b vs indometacina; p < 
0,05, ANOVA e teste de Student-Newman-Keuls. n= 4-8 / grupo. 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Elaborado pelo autor 
0
100
200
300
400
500
600
700 a
b b
TAL 200mg/kg
Controle v.o
INDO 5,0 mg/kg
INDO+TAL100mg/kg
INDO+TAL200 mg/kg
Fi
br
in
og
ên
io
 (
m
g/
dl
)
48 
 
4.3 Efeito do tratamento com talidomida nas alterações bioquímicas induzidas 
por Indometacina 
A tabela 3 mostra que os animais tratados com indometacina (5,0 mg/kg, v.o., 
5 d) tiveram um aumento significante (p< 0,05) na AST (116,30 ± 7,4 U/L), fosfatase 
alcalina (688,60 ± 81,9 U/L) e GGT (7,13 ± 0,7 g/dL), e diminuição nos níveis de 
albumina (2,38 ± 0,21g/dL) e glicose (68,44 ± 5,3 mg/dL) em relação ao grupo 
controle (AST- 93,33 ± 2,0 U/L, FAL- 257,70 ± 7,5 U/L, GGT- 4,24 ± 0,4 g/dL). O 
tratamento com talidomida reverteu essas alterações a níveis muito próximos do 
controle. Não foram observadas alterações nos níveis de ureia e creatinina nos 
grupos estudados (Tabela 3) 
 
Tabela 3. Efeito do tratamento com a talidomida nas alterações bioquímicas 
induzidas por indometacina em ratos. 
 
 
Parâmetro 
 
controle 
 
indometacina 
 
talidomida 
indometacina 
+ 
talidomida 
(100 mg/kg) 
indometacina 
+ 
talidomida 
(200 mg/kg) 
 
ALT 
(U/L) 
 
59,8 ± 3,2 
 
 
32,9 ± 3,3 
 
 
52,3 ± 2,9 
 
 
36,0 ± 4,6 
 
39,0 ± 2,7 
 
 
AST 
(U/L) 
 
93,3 ± 2,0 
 
 
116,3 ± 7,4
 a
 
 
 
90,7 ± 1,9 
 
 
93,5 ± 3,7
 b
 
 
 
94,7 ± 2,5
 b
 
 
FAL 
(U/L) 
 
257,7 ± 7,5 
 
688,6 ± 81,9
 a
 
 
 
283,5 ± 15,6
b
 
 
 
366,3 ± 40,4
b
 
 
395,4 ± 69,1
b
 
 GGT 
g/dL 
4,2 ± 0,4 
 
7,1 ± 0,7
a 
 
4,5 ± 0,4 
 
5,0 ± 0,3
 b
 
 
4,8 ± 0,6
 b 
 
 
glicose 
mg/dl 
97,7 ± 3,2 68,4 ± 5,3
a
 84,4 ±1,5 83,8 ± 3,1
 b
 98,4 ± 6,6
b 
 
creatinina 0,46 ± 0,03 0,60 ± 0,06 0,51 ± 0,07 0,58 ± 0,01 
 
0,41 ± 0,01 
mg/dl 
 
ureia 34,7 ± 1,9 
 
32,7 ± 0,8 
 
30,7 ± 0,6 
 
31,5 ± 1,3 
 
31,7 ± 2,0 
mg/dl 
 
albumina 
g/dl 
 
3,04 ± 0,21 
 
2,38 ± 0,03
a
 
 
3,25 ± 0,10 
 
3,33 ± 0,08
 b
 
 
 
3,35 ± 0,25
b 
 
 Os valores representam média ± EPM. Os animais foram tratados durante cinco dias por 
gavagem. ALT: alanina aminotransferase, AST: aspartato aminotransferase, FAL: fosfatase 
alcalina. GGT-gama glutamil transpeptidase. a vs controle; b vs indometacina (p< 0,05, 
ANOVA, teste de Student-Newman-Keuls). n= 4-8/grupo. 
 
 
49 
 
4.4 Estudo microbiológico do lavado peritoneal nos animais tratados com 
indometacina, talidomida e ampicilina 
Todas as amostras no grupo que recebeu indometacina (5,0 mg/kg, v.o.; 5 d) 
foram positivas para pesquisa de enterobactérias (100%), enquanto no grupo que 
recebeu indometacina mais talidomida 100,0 ou 200,0mg/kg apresentaram 33,3% e 
16,7% respectivamente das culturas positivas, mostrando com isso a presença de 
bactérias do trato gastrintestinal na cavidade peritoneal. A associação da talidomida 
nas doses de 100 e 200mg/kg à indometacina mostrou diminuição e/ou ausência de 
bactérias na cavidade peritoneal. 
Nos animais do grupo que receberam indometacina e foram tratados com 
ampicilina não houve crescimento bacteriano (Tabela 4). 
Tabela 4 - Estudo microbiológico do lavado peritoneal nos animais tratados com 
indometacina, talidomida e ampicilina 
Grupos 
(n=6) 
Bactérias UFC/ml 
E.coli K. pneumoniae Enterococcus sp P. aeruginosa 
 
Controle (0/8) 
 
__ __ __ __ 
Indo 5,0 mg/kg (4/8) 
 
100.000 
 
100.000 
 
40.000 
 
30.000 
Indo+Tal 
(5,0mg/kg+100 
mg/kg) 
(3/8) 
 
80.000 
_ 
 
5.000 
__ 
Indo +Tal 
(5,0mg/kg+200 
mg/kg) 
(2/8) 
__ 
 
100.000 
a
 
__ __ 
 
Indo +Amp 
(5,0mg/kg+200 
mg/kg) 
(0/8) 
__ __ __ __ 
Tal 200 mg/kg 
(0/8) 
__ __ __ __ 
 
Amp. 200mg/kg 
(0/8) 
__ __ __ __ 
No 5º dia de tratamento, os animais do grupo-controle e tratados foram submetidos à 
lavagem peritoneal e retirada do líquido para a realização da cultura. Os resultados estão 
expressos em cultura positiva/animais por grupo. Os números entre parenteses representam 
o número de culturas positivas em relação ao nº total de animais. Ampicilina (Amp); 
indometacina (Indo); talidomida (Tal). UFC= unidade formadora de colonia. 
50 
 
4.5 Efeito da talidomida sobre a atividade da mieloperoxidase (MPO) no líquido 
peritoneal em animais tratados com indometacina 
Investigou-se o efeito da talidomida sobre a infiltração de neutrófilos por meio 
da avaliação da atividade da MPO. A atividade da MPO no líquido peritoneal dos 
ratos que receberam indometacina (5,0 mg/kg, v.o, 5d) foi significativamente maior 
(1217 ± 341,4 U/mL) quando comparada com o grupo-controle (3,33 ± 3,33 U/mL). O 
tratamento com talidomida (100 e 200 mg / kg, v.o, 5d) reduziu significativamente (p 
<0,05) este aumento (375,8 ± 149,1 U/mL) (Figura 9), sendo a inibição de 69,2% 
(Figura 8). 
Figura 8 - Efeito da talidomida sobre os níveis de mieloperoxidase no líquido peritoneal de 
ratos tratados com indometacina. Os valores representam média ± EPM. Os animais foram 
tratados durante cinco dias com indometacina (5,0 mg/kg) e talidomida (200 mg/kg) via oral.
 
a vs controle, b vs indometacina; p <0,05, ANOVA e teste de Student-Newman-Keuls. n= 4-8 
/ grupo. 
 
 
C
on
tr
ol
e
In
do
Ta
l 2
00
In
do
 +
 T
al
 2
00
0
2.5 10 2
5.0 10 2
7.5 10 2
1.0 10 3
1.3 10 3
1.5 10 3
1.8 10 3
a
b
M
P
O
 (
U
/m
L
)
 
Fonte: Elaborado pelo autor 
 
 
 
 
javascript:void(0);
51 
 
4.6 Efeito da talidomida sobre a lesão intestinal induzida pela indometacina – 
avaliação macroscópica 
 Os animais tratados com indometacina apresentaram líquido na cavidade 
peritoneal, aderências teciduais a múltiplos órgãos, hemorragia e presença de uma 
malha de fibrina sobre as vísceras abdominais (Figuras 9C, 9D, 9E), o que não foi 
observado nos animais do grupo-controle (Figuras 9A, 9B). Observou-se que a 
talidomida foi capaz de inibir as principais alterações vistas na cavidade peritoneal 
dos ratos tratados com indometacina (Figura 9F). 
 
 Figura 9 - Efeito da talidomida sobre a lesão intestinal induzida pela indometacina – 
avaliação macroscópica (A) controle); (B) talidomida 200 mg/kg, v.o., 5 dias) (C, D, E) 
Indometacina (5,0 mg/kg, v.o., 5 dias), (F) – indometacina + talidomida (200 mg/kg). Setas 
vermelhas fibrina e perfuração intestinal, seta branca (líquido peritoneal). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Elaborado pelo autor. 
A B 
C D 
E F 
52 
 
4.7 Efeito da talidomida sobre o dano intestinal induzido pela Indometacina- 
avaliação histológica 
 As figuras 10C e 10D mostram o efeito do tratamento com indometacina 
sobre o epitélio intestinal. Observam-se um grande infiltrado inflamatório (neutrófilos, 
e eosinófilos), ulceração, edema e destruição das criptas e vilos. Foram vistas 
também células em processo de apoptose e necrose. A talidomida (200 mg/kg) foi 
capaz de proteger os animais de forma significante (p<0,05) do dano tecidual 
induzido pela indometacina (Figuras 10E, 10F, Tabela 5). 
 Não foram observadas lesões no fígado ou rim nos grupos estudados (dados 
não mostrados). 
 
Tabela 5 - Efeito do tratamento com a talidomida no dano intestinal induzido por 
indometacina em ratos. 
 
Grupo Scores 
controle 0 (0-1) 
indometacina 3 (2-3) a 
indometacina 5mg/kg +talidomida 100mg/kg 1 (1-1) b 
indometacina 5mg/kg +talidomida 200mg/kg 1 (0-1) b 
As medianas dos escores com intervalos (mín-máx) dos resultados em cinco animais em 
cada grupo. Os escores de lesão foram avaliados como descrito por Chiu e colaboradores 
(1970). Ver materiais e métodos. a vs controle, b

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