Prévia do material em texto
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE MESTRADO PROFISSIO AL EM CO TROLADORIA PAULO ROGÉRIO PARODI DE SOUZA ORÇAME TO BASE ZERO (OBZ) COMO I STRUME TO DE GESTÃO Fortaleza 2008 2 PAULO ROGÉRIO PARODI DE SOUZA ORÇAMENTO BASE ZERO (OBZ) COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO Dissertação apresentada à Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Controladoria. Orientador: Prof. Livre Docente Francisco de Assis Soares. Fortaleza 2008 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a) S234o Souza, Paulo Rogério Parodi de. Orçamento base zero (obz) como instrumento de gestão / Paulo Rogério Parodi de Souza. – 2008. 167 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade,Programa de Pós-Graduação em Administração e Controladoria, Fortaleza, 2008. Orientação: Prof. Dr. Francisco de Assis Soares. 1. Orçamento. 2. OBZ. 3. Estratégia. 4. Controle. 5. Gestão. I. Título. CDD 658 3 PAULO ROGÉRIO PARODI DE SOUZA ORÇAME TO BASE ZERO (OBZ) COMO I STRUME TO DE GESTÃO Dissertação submetida à Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Controladoria. Aprovada em ____/____/____ BANCA EXAMINADORA Prof. Livre Docente Francisco de Assis Soares (Orientador) Universidade Federal do Ceará - UFC Prof. Dr. João Mário Santos de França Universidade Federal do Ceará - UFC Profª Dra. Maria Naiula Monteiro Pessoa Universidade Federal do Ceará - UFC 4 AGRADECIME TOS À Deus, pela força e por sempre me guiar pelo melhor caminho. Ao meu orientador Prof. Francisco de Assis Soares, pelas valiosas contribuições que ajudaram a enriquecer o meu conhecimento. Á minha esposa Rita de Kássia Cunha Martins, pelo apoio contínuo e companheirismo nos momentos mais difíceis. Aos meus filhos Hibrael e Gabriel por aturarem meus momentos de stress. Ao meu amigo Pedro Elder Silva Lima, que foi o maior incentivador a fazer este mestrado. Aos meus pais que sempre me incentivaram a estudar. A Dra Sandra Maria dos Santos pelas orientações sobre metodologia. À Dnyse, Lucielma e Cláudia Reis parceiras incansáveis nos trabalhos acadêmicos. À Josi Dourado por contribuir de forma importante para a realização desta obra. Aos professores da Universidade Federal do Ceará pela acolhida durante a realização do mestrado 5 “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena” Fernando Pessoa 6 RESUMO O orçamento constitui-se numa ferramenta indispensável de controle e gestão estabelecendo a conectividade entre os diversos setores da empresa funcionando como elemento que liga o planejamento estratégico, o controle dos recursos e o sistema de medidas de desempenho e recompensas. O trabalho visa avaliar os impactos da implantação de uma técnica orçamentária denominada Orçamento Base Zero (OBZ) na eficiência de custos e no processo de controle gerencial. Esta técnica se baseia na identificação e avaliação detalhada de todas as atividades, alternativas e custos para a realização dos planos sem considerar as ineficiências do passado. Para atingir os objetivos propostos, foi realizado um estudo de caso único, utilizando-se de pesquisa documental e coleta de informações junto ao site institucional da empresa, com o objetivo de compor a base de dados para análise em conjunto com o acervo de conhecimento agregado como observador participante vivenciado na empresa objeto do estudo. A análise dos resultados demonstra que o OBZ é a base do planejamento de uma das alavancas estratégicas da empresa denominada eficiência de custos e propicia um profundo conhecimento sobre as atividades e fatores de custo da empresa permitindo com isto que estes sejam reduzidos de forma racional. A sistemática do OBZ está alinhada com os valores, metas e crenças da empresa que o reconhece formalmente como parte de sua cultura e possui a contribuição de todos os colaboradores que individual ou coletivamente também participam do controle orçamentário. Constatou-se também que o processo de avaliação de desempenho dos colaboradores está relacionado com o desenvolvimento de carreira e a remuneração variável, sujeito ao cumprimento de metas orçamentárias como premissa condicionante para postular promoções e bônus. Ao final, concluiu-se que o OBZ provocou uma ruptura capaz de impulsionar uma reversão de resultados indesejáveis, contribuindo de forma efetiva enquanto ferramenta de controle de gestão e tornando-se um modelo de controle orçamentário nas unidades da empresa objeto do estudo no exterior. Palavras-chave: Orçamento. OBZ. Estratégia. Controle. Gestão. Desempenho. Recompensa. Cultura. Eficiência. Metas. Atividades. 7 ABSTRACT The budget is an indispensable tool of control and management for establishing connectivity between the various sectors of company, also acting as the element that connects strategic planning, the control of resources and the system of measures of performance and rewards. The study aims to evaluate the impacts of deploying a budget technique called Zero Base Budget (ZBB) in the cost-efficiency and in the management control process. This technique is based on identification and detailed evaluation of all activities, alternatives and costs for implementing the plans without considering the inefficiencies of past. In order to achieve the proposed objectives, a single case study was conducted using data searching and collecting information from the company web site, with the goal to complete the data bank to analyze together with the knowledgment acquired as an active observer lived at the studied company. The analysis of the results shows that the ZBB is the basis of planning one of strategic levers of the company called cost-effectiveness and provides a thorough understanding of the activities and cost facts of the company so that these are reduced in a rational way. The ZBB systematic is aligned with the values, goals and beliefs of the company that formally recognizes it as part of their culture and has the contribution of all employees who also participate individually or collectively of the budget control. It was also discovered that employees performance assessing process is related to the career development and to variable remuneration, subject to compliance with budgetary targets as a premise constraint to postulate promotions and benefits. At the end, one coud conclude that the OBZ caused a rupture capable of driving a reversal of undesirable results, contributing effectively as a tool of management control and becoming a model of budgetary control in the analyzed company's units abroad. Keywords: budget, ZBB, strategy, control, management, performance, reward, culture, efficiency, goals, activities. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1............................................................................................................................... Etapas do processo de gestão estratégica 23 Figura 2...............................................................................................................................Conceituação geral da função controle e avaliação 24 Figura 3............................................................................................................................... Sistemas de Controle Gerencial. 26 Figura 4............................................................................................................................... Fluxograma do Planejamento Estratégico 38 Figura 5............................................................................................................................... Fluxograma de processo orçamentário 45 Figura 6............................................................................................................................... Fluxograma do modelo orçamentário 46 Figura 7............................................................................................................................... Integração vertical 47 Figura 8............................................................................................................................... Integração Horizontal 48 Figura 9............................................................................................................................... Orçamento mestre 50 Figura 10............................................................................................................................. Evolução dos modelos orçamentários 60 Figura 11............................................................................................................................. Relação entre planejamento e orçamento 74 Figura 12............................................................................................................................. Restrição orçamentária 83 Figura 13............................................................................................................................. Restrição Orçamentária – Escolha do pacote 01 83 Figura 14............................................................................................................................. Restrição Orçamentária - a soma das verbas dos pacotes escolhidos. 84 Figura 15............................................................................................................................. Exemplo da subdivisão dos pacotes de decisão 92 Figura 16........................................................................................................................... Unidades de negócio (UDN) de uma empresa 93 Figura 17............................................................................................................................. Matriz de responsabilidade do OBZ 94 Figura 18 ............................................................................................................................ 118 Conceitos e Pacotes de VBZ’s Figura 19 ............................................................................................................................ 119 Pacotes de Capital Empregado Figura 20 ............................................................................................................................ Conceito de Nível Base Zero (NBZ) Figura 21 ............................................................................................................................ 119 122 Conceito de Atividades Figura 22 ............................................................................................................................ VBZ x Item de Controle x Célula Industrial Figura 23 ............................................................................................................................ 125 126 Gestão do OBZ 9 Figura 24 ............................................................................................................................ 131 Controle orçamentário: frentes de atuação Figura 25 ........................................................................................................................... 132 Controle de despesas: Árvore de decisão 10 LISTA DE QUADROS Quadro 1 .......................................................................................................................... Tipos de planejamento e características 22 Quadro 2............................................................................................................................ Tipos de culturas organizacionais 29 Quadro 3............................................................................................................................. Premissas básicas que caracterizam o orçamento 41 Quadro 4............................................................................................................................. Sistema orçamentário e fatores críticos para o sucesso 57 Quadro 5 .......................................................................................................................... Tipos de orçamento 61 Quadro 6............................................................................................................................ Comparação entre os principais elementos da gestão de empresas 64 Quadro 7............................................................................................................................. Tempo aproximado exigidos para implantação do Orçamento Base Zero 78 Quadro 8............................................................................................................................. Decisão da Patrulha Rodoviária do Estado da Geórgia 90 Quadro 9 ............................................................................................................................ 102 Situações relevantes para diferentes estratégias de pesquisa Quadro 10 ......................................................................................................................... 120 Matriz OBZ – Visão Corporativa Quadro 11 ......................................................................................................................... 121 Matriz OBZ – Entidade Comercial Quadro 12 ......................................................................................................................... 123 Formulário utilizado para propor o orçamento de cada VBZ Quadro 13 ......................................................................................................................... 128 Matriz de Responsabilidade Quadro 14 ......................................................................................................................... 129 Acompanhamento Orçamentário Quadro 15 ......................................................................................................................... 138 Demonstrativo da redução de gastos com a implantação do OBZ Quadro 16 ......................................................................................................................... 139 Destaques Financeiros Consolidados AmBev (Valores Ajustados pelo IPCA, Base100=dez/2004) 11 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... 8 LISTA DE QUADROS ........................................................................................................... 10 SUMÁRIO ............................................................................................................................... 11 1 I TRODUÇÃO ................................................................................................................... 14 1.1 Justificativa e Problematização ....................................................................................... 14 1.2 Objetivos .........................................................................................................................18 1.2.1 Objetivo Geral ........................................................................................................... 18 1.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................................... 18 1.3 Limitações ....................................................................................................................... 19 1.4 Estrutura do Trabalho ...................................................................................................... 19 2 O PLA EJAME TO ESTRATÉGICO ........................................................................... 21 2.1 Abordagem geral sobre Estratégia .................................................................................. 21 2.2 Elaboração do Planejamento Estratégico ........................................................................ 22 2.3 Implementação do Planejamento Estratégico ................................................................. 25 2.4 Fatores Comportamentais no Controle de Gestão ........................................................... 26 2.4.1 Ética .......................................................................................................................... 27 2.4.2 Cultura ...................................................................................................................... 28 2.4.3 Estilo de Gerenciamento e Aprendizagem Organizacional ...................................... 29 2.5 Sistemas de Recompensa e Mensuração de Desempenho .............................................. 30 2.5.1 Tipos de Planos de Recompensa como Incentivo ..................................................... 31 2.5.2 Avaliação de Desempenho ........................................................................................ 32 2.6 Controle Financeiro ......................................................................................................... 34 2.6.1 Descentralização ....................................................................................................... 34 2.6.2 Contabilidade por Responsabilidades ....................................................................... 35 3 O CO TROLE ORÇAME TÁRIO ................................................................................. 37 3.1 Relação entre o Orçamento e o Planejamento Estratégico .............................................. 37 3.2 Histórico de Orçamento .................................................................................................. 39 3.3 As Razões do Orçamento ................................................................................................ 40 3.4 Natureza e características do Orçamento ........................................................................ 41 3.5 Período de tempo do orçamento ...................................................................................... 42 3.6 A Criação da nova mentalidade ...................................................................................... 42 3.7 Pré-Requisitos para Implantação do Orçamento ............................................................. 43 3.8 Definição de Responsabilidades...................................................................................... 43 3.9 Fases do orçamento ......................................................................................................... 44 3.10 Estruturando os relatórios orçamentários ...................................................................... 46 3.11 Orçamento Integrado ..................................................................................................... 47 3.12 Métodos de Previsão Orçamentária............................................................................... 48 3.13 Etapas Operacional e Financeira da montagem do orçamento ..................................... 49 3.14 Aprovação e Comprometimento com o Orçamento ...................................................... 51 3.15 Manual de Orçamento ................................................................................................... 51 3.16 Controle Orçamentário .................................................................................................. 51 3.17 Aspectos Comportamentais Relacionados ao Orçamento ............................................. 53 3.17.1 Motivação e Conflito de Agentes ........................................................................... 53 3.17.2 Grau de Dificuldade das Metas Orçamentárias ...................................................... 54 12 3.17.3 Resistência e Orientação Para Cumprimento de Objetivos .................................... 55 3.18 Flexibilidade Orçamentária ........................................................................................... 55 3.19 Limitações e Fatores Críticos Relacionados ao Processo de Controle Orçamentário... 56 3.20 Utilização de Benchmarking na Elaboração do Orçamento .......................................... 58 3.21 Problemas Éticos na Elaboração do Orçamento ........................................................... 58 3.22 Tipos de Orçamentos ..................................................................................................... 59 3.23 Outros tipos de Controle Orçamentário ........................................................................ 61 3.24 A escolha da Metodologia Orçamentária ...................................................................... 65 4 O ORÇAME TO BASE ZERO (OBZ) ............................................................................ 67 4.1 Considerações gerais a respeito do OBZ......................................................................... 67 4.2 Fundamentos do Orçamento Base Zero (OBZ)............................................................... 70 4.3 A Sistemática do Processo Orçamentário de Acordo com o OBZ .................................. 74 4.3.1 Onde implantar o Orçamento Base Zero .................................................................. 75 4.3.2 Como o processo deve ser administrado e comunicado ........................................... 76 4.3.3 Tempo necessário para se implantar o Orçamento Base Zero .................................. 77 4.3.4 Diretrizes da Alta Administração ............................................................................. 79 4.3.5 Problemas que podem acontecer na implantação do Orçamento Base Zero ............ 79 4.3.6 Os Dois Passos Básicos do Orçamento Base Zero ................................................... 80 4.3.7 Preparando os Pacotes de Decisão ............................................................................ 85 4.4 Uma proposta para definição dos pacotes de decisão ..................................................... 88 4.4.1 Pacote de Decisão da Patrulha Rodoviária do Estado da Geórgia ............................ 89 4.4.2 Pacote de Decisão proposto por Lunkes ................................................................... 91 4.5 O Orçamento Base Zero e suas interações com o processo administrativo .................... 94 4.6 O Orçamento Base Zero num ambiente em rápida transformação ................................. 95 4.7 Auditoria operacional e a melhoria contínua de operações e lucro ................................. 96 4.8 A continuidade do Orçamento Base Zero ....................................................................... 97 5 ASPECTOS METODOLÓGICOS .................................................................................. 100 5.1 Estratégia de pesquisa: estudo de caso .......................................................................... 102 5.2 Limitações e dificuldade do método de pesquisa .......................................................... 104 6 CO CEPÇÃO DO ORÇAME TO BASE ZERO A AMBEV .................................. 106 6.1 Influência Cultural e Orçamento ...................................................................................106 6.2 Controle Orçamentário .................................................................................................. 109 6.2.1 A Origem do Orçamento Base Zero (OBZ) ............................................................ 110 6.2.2 Os Primeiros Passos na Implantação do OBZ ........................................................ 113 6.2.3 Metodologia do OBZ: Conceitos Importantes ........................................................ 115 6.3 Custo Base Zero (CBZ) ................................................................................................. 124 6.4 Medidas Provisórias, Padrões e Matriz Orçamentária .................................................. 126 6.5 Acompanhamento Orçamentário................................................................................... 128 6.5.1 Controle Orçamentário – Frentes de Atuação ......................................................... 130 6.6 Metas, Remuneração Variável e Avaliação de Desempenho ........................................ 132 6.6.1 Metas coletivas e Metas individuais ....................................................................... 133 6.6.2 Sistemática de remuneração variável ...................................................................... 133 6.6.3 Avaliação de desempenho....................................................................................... 134 7 RESULTADOS E IMPACTOS DO OBZ ....................................................................... 136 7.1 A Eficiência de Custos e o OBZ/CBZ .......................................................................... 136 7.2 Capturas do OBZ e Resultados ..................................................................................... 137 7.3 Análise dos Resultados da Pesquisa .............................................................................. 143 13 7.3.1 Integração do OBZ com aspectos relevantes da cultura empresarial ..................... 143 7.3.2 As contribuições do OBZ para alcançar a eficiência em custos ............................. 146 7.3.3 Os impactos do OBZ no processo de avaliação de desempenho ............................ 149 8 CO CLUSÕES E RECOME DAÇÕES ....................................................................... 151 9 REFERÊ CIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 154 APÊ DICE A ....................................................................................................................... 158 14 1 I TRODUÇÃO O objetivo deste capítulo é abordar os aspectos introdutórios desta dissertação, contemplando a justificativa e a problematização do tema, o objetivo geral e objetivos específicos do trabalho, a relevância do estudo, as limitações da pesquisa, a metodologia do trabalho e a estrutura do estudo. 1.1 Justificativa e Problematização As condições da atividade empresarial no século XXI tornaram-se mais complexas e variadas. O processo de globalização acirrou a concorrência fez com que as empresas se preocupassem não só com seus competidores nacionais, mas também com os competidores internacionais. Este movimento de mundialização dos mercados tem provocado ondas de fusões e aquisições de empresas entre países diferentes, cujo resultado é o domínio destes mercados globais. As mudanças do ambiente das organizações produtivas começaram em ritmo acelerado, com o crescimento exponencial de novos produtos, serviços e tecnologia, a partir da década de 1960, cujas conseqüências foram: 1. Uma dificuldade crescente de antecipação suficiente da mudança para planejar com antecedência uma resposta oportuna. 2. A necessidade de velocidade maior na implantação da resposta 3. A necessidade de flexibilidade e resposta oportuna a surpresas, que não podiam ser antecipadas (ANSOFF; MCDONNEL, 1993, p. 31-32) Para que uma empresa possa sobreviver nestas condições de mercado, ela precisa desenvolver uma estratégia competitiva que, conforme assevera Porter (1986), em essência, é o desenvolvimento de uma fórmula para o modo como uma empresa irá competir e quais deverão ser as suas metas e políticas necessárias para atingí-las. Ademais, a empresa precisa se antecipar aos seus concorrentes e também às necessidades de seus clientes e consumidores, direcionando seus recursos para o atendimento destas necessidades. 15 Para competir neste cenário, a empresa precisa estar estruturada com colaboradores e gestores qualificados, sistema de informação ágil e preciso e, principalmente, controle da eficiência e eficácia de suas operações. Nesse sentido, Através da análise dos ambientes interno e externo da organização a mesma cria consciência de suas oportunidades, ameaças, pontos fortes e fracos para o cumprimento de sua missão e, através desta consciência, estabelece o propósito de direção que a organização deverá seguir para aproveitar as oportunidades e evitar riscos, este é em síntese o conceito de Planejamento Estratégico (ALMEIDA; FISCHMANN, 1991, p. 25). No entanto, a implementação do Planejamento Estratégico pode não ser tão simples, pois existem algumas barreiras a serem superadas, como, por exemplo, a disponibilidade de informação de forma relevante e adequada, peça fundamental para o processo de Planejamento Estratégico. Neste contexto, sobressai o orçamento como um dos mecanismos utilizados, que pode assegurar o sucesso da implementação da estratégia, porque os objetivos e metas propostos no Planejamento Estratégico devem ser traduzidos no orçamento da organização. O orçamento, como importante ferramenta de controle e gestão, deve ser preciso, de fácil entendimento e de rápido acesso. O orçamento deve permitir ao gestor identificar suas metas, os resultados alcançados, as variações entre o que foi previsto e o que foi realizado. Deve também propiciar análises que levam ao entendimento das causas das eventuais variações e assim, permitir que se aja preventiva ou corretivamente (FREZATTI, 2006). O orçamento, mesmo sendo um componente-chave para o sucesso do Planejamento Estratégico, tem sido alvo de muitas críticas, pois, desde que começou a ser aplicado, evoluiu muito pouco e não acompanhou o ritmo de mudanças ocorridas no mundo e nos mercados (NASCIMENTO, 2002). Constata-se que [...] atualmente o orçamento é usado para atingir metas financeiras pré-definidas, o que contraria o pensamento dominante de criar sinergia e criatividade nas pessoas para melhorar continuamente as estratégias e processos orientados para o cliente (LUNKES, 2003b, p. 18). Apesar das críticas, o orçamento estabelece a conectividade entre os diversos setores da empresa. É o elemento que liga o Planejamento Estratégico, o planejamento de recursos, o sistema de medidas de desempenho e recompensas. É a “bússola” que norteia os caminhos a 16 serem seguidos pela organização. É fundamental para qualquer empresa, independente do tamanho, segmento ou natureza. Sendo assim, esta ferramenta indispensável de gestão e controle, pode tornar-se um diferencial competitivo a fim de atender as demandas do mundo globalizado, que muda em ritmo frenético diariamente. O orçamento não é um fim, mas um meio importante para direcionar e mensurar se o que foi planejado está sendo executado. O mundo e os desafios empresariais estão em constantes transformações e, com eles, os desafios orçamentários. Por isso, a técnica orçamentária também precisa evoluir e agregar componentes que possam tornar-se diferenciais competitivos. Hope (1999, apud LUNKES, 2003) sugere algumas iniciativas simultâneas que são indispensáveis numa concepção de orçamento moderno: relacionar estratégia e orçamento; ampliar sua gama de informações; construir um sistema dinâmico de controle; integrar o orçamento à cultura e aprendizado organizacional e torná-lo mais flexível. As diversas metodologias de construçãoorçamentária contemplam ou pelo menos procuram contemplar as iniciativas citadas pelo autor. O Orçamento Base Zero (OBZ) é uma técnica de elaboração orçamentária e é o objeto de estudo desta dissertação. Criado por Peter A. Pyhrr, esta metodologia foi implantada inicialmente no setor privado, na empresa Texas Instruments, Estados Unidos, no ano de 1970, num primeiro momento apenas na divisão de Assessoria e Pesquisa. Posteriormente foi implantado no setor público, no Estado da Geórgia, Estados Unidos, no ano fiscal de 1973. A escolha do Orçamento Base Zero (OBZ), como tema deste estudo, está relacionada ao fato de experiência advinda de se ter participado do projeto de implantação deste tipo de orçamento em uma empresa de bebidas brasileiras, aliada à escassez de referências bibliográficas no Brasil sobre o assunto. Alguns elementos são fundamentais para que uma metodologia orçamentária seja implantada e possa surtir resultados desejados pela alta administração, como, por exemplo, uma cultura organizacional bem definida, conhecida e praticada pelos colaboradores da empresa. A integração do orçamento à cultura e ao aprendizado organizacional merece um destaque especial neste estudo face à singularidade da cultura da empresa, objeto do estudo que é focada em alguns pilares como: meritocracia, perpetuação do negócio, motivação, 17 postura de dono do negócio e a disciplina de execução, que é o que vai garantir o cumprimento do que foi planejado e dar a credibilidade suficiente para que todos acreditem no orçamento como um sério instrumento de gestão e avaliação de resultados. De acordo com Atkinson et al. (2000, p. 776), “... as empresas, freqüentemente, não percebem que seu maior ativo são as pessoas que elas contratam”. São estas pessoas que vão garantir o êxito daquilo que foi planejado. Sem a sua contribuição, o melhor dos planejamentos está fadado ao fracasso. Ainda conforme Atkinson et al. (2000, p. 776): [...] pesquisas indicam que o benefício, igualmente importante, da participação do funcionário na tomada de decisão pode conduzir a uma motivação maior, a uma maior satisfação pela tarefa, à melhoria no moral e a um comprometimento maior nas decisões. Sendo assim, é possível afirmar que sistemas, processos e recursos financeiros e tecnológicos são importantes, mas, sem as pessoas não se consegue atingir os resultados necessários para vencer os desafios que o mundo competitivo e globalizado impõem as organizações de um modo geral. Pode-se ressaltar a relevância do estudo pelo conjunto de fatores descritos abaixo: a) Importância do Orçamento Base Zero (OBZ) como ferramenta de controle de gestão que busca: Servir como diferencial competitivo; Alinhar da melhor forma possível orçamento a estratégia; Entender e gerenciar os custos com profundidade buscando a redução contínua dos mesmos; b) Contribuição teórica e prática com base nos seguintes fatores: Acréscimo a literatura orçamentária abordando de forma específica o Orçamento Base Zero (OBZ); 18 Apresentação detalhada do processo de implantação e acompanhamento de resultados do Orçamento Base Zero (OBZ) e suas interações com o pessoal e a cultura da empresa; Abordagem do Orçamento Base Zero (OBZ) a partir do estudo na organização que tornou-se referência no Brasil sobre esta ferramenta; c) Abordagem de uma técnica de controle orçamentário que é utilizada por grandes empresas no país de setores diferentes da economia. Alguns exemplos: Pão de Açúcar, Gafisa, Lojas Colombo, Eletrolux, Telemar , Sadia, etc. Além disto, com o processo de internacionalização da empresa objeto do estudo, o Orçamento Base Zero (OBZ) passou a ser implementado nas demais unidades do grupo, no exterior. Diante do exposto, o estudo desenvolvido apresenta como problema central a seguinte questão: quais os impactos na eficiência de custos quando da aplicação do Orçamento Base Zero (OBZ), como ferramenta no processo de controle gerencial? 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral Verificar os impactos da implantação do Orçamento Base Zero (OBZ), enquanto ferramenta de controle gerencial na eficiência de custos. 1.2.2 Objetivos Específicos a) Demonstrar o processo de implantação e acompanhamento do Orçamento Base Zero (OBZ) na indústria de bebidas objeto do estudo; b) Verificar os impactos e a integração do Orçamento Base Zero (OBZ) com os aspectos relevantes da cultura empresarial da organização; c) Identificar a contribuição do Orçamento Base Zero (OBZ) como instrumento para alcançar a eficiência em custos; 19 d) Analisar os impactos do Orçamento Base Zero (OBZ) no processo de avaliação de desempenho dos colaboradores da indústria de bebidas objeto do estudo. 1.3 Limitações A metodologia do Orçamento Base Zero (OBZ) foi implantada nos Estados Unidos tanto no setor privado como no setor público. Este estudo aborda apenas a implantação do Orçamento Base Zero (OBZ) em uma empresa do setor privado no Brasil e, portanto, não é adequada para efetuar generalizações de cunho estatístico, pois, este não é o objetivo do estudo. Cada empresa possui sua cultura, seus valores, seu estilo de gestão e atua em segmentos específicos de negócio. Estes fatores têm uma relação direta com a metodologia orçamentária a ser utilizada e com o seu sucesso ou fracasso. Estes fatores também acabam caracterizando limites deste estudo, muito embora seja possível efetuar generalizações analíticas para outras organizações, a partir das observações feitas sobre os resultados alcançados de acordo com as teorias vigentes. 1.4 Estrutura do Trabalho O trabalho está estruturado em oito capítulos que são brevemente comentados a seguir: O capítulo I tem caráter introdutório e faz uma apresentação geral da temática estudada. O capítulo II apresenta uma abordagem geral sobre estratégia e sobre o Planejamento Estratégico, contempla os componentes principais que vão desde a elaboração do planejamento até o controle financeiro, passando pelos aspectos humanos e comportamentais. O capítulo III aborda o controle orçamentário e a sua relação com o Planejamento Estratégico. É feita uma ampla abordagem sobre os tipos de orçamento e os seus respectivos conteúdos. 20 O capítulo IV versa sobre a metodologia do Orçamento Base Zero (OBZ). O capítulo descreve o conceito e os fundamentos da técnica que foi implementada nos Estados Unidos, no setor privado, na empresa Texas Instruments, e no setor público, Governo do Estado da Geórgia. Trás também algumas adaptações propostas para adequar a metodologia aos dias de hoje e a realidade brasileira. O capítulo V aborda os aspectos metodológicos utilizados na pesquisa O capítulo VI apresenta o estudo de implantação da metodologia do Orçamento Base Zero (OBZ) numa empresa brasileira e mostra a sua relação com o Planejamento Estratégico, cultura da empresa e participação dos colaboradores. O capítulo VII contempla os principais resultados financeiros da AmBev no período de 2000 até 2007 e os impactos do OBZ sobre a eficiência de custos, a cultura empresarial e a participação dos colaboradores no processo. O capítulo VIII apresenta as conclusões e recomendações para futuros trabalhos. 21 2 O PLA EJAME TO ESTRATÉGICO Este capítulo aborda as etapas de planejamento, execução e controle. Primeiramente, buscar-se-á um entendimento sobre o que é estratégia e como esta pode ajudar no dia a dia das empresas. Posteriormente discutir-se-á sobre a evolução do planejamento e sua implementação, bem como a interação dos colaboradores no processo através dos fatores comportamentais e sistemas de mensuração de desempenho e recompensa. Com o objetivo de dar um embasamento técnico ao estudo, serão trazidos elementos que compõem o Planejamento Estratégico.Estes elementos são importantes para a compreensão e o encadeamento lógico do Ciclo de Planejamento. 2.1 Abordagem geral sobre Estratégia A palavra estratégia conforme Steiner (1969, apud Oliveira, 1996, p. 172) “... significa, literalmente, ‘a arte do general’, e deriva da palavra grega strategos, que significa estritamente general”. Em uma empresa, a estratégia está relacionada à arte de otimizar os recursos disponíveis buscando sempre minimizar os problemas e maximizar as oportunidades, levando em consideração os fatores internos e externos da organização, ou seja, sua interação com o meio ambiente. Segundo Oliveira (1996, p. 172), “a finalidade das estratégias é estabelecer quais serão os caminhos, os cursos, os programas de ação que devem ser seguidos para que possam ser alcançados os objetivos e desafios estabelecidos”. Determinados elementos são fundamentais para o delineamento das estratégias. A perspectiva em que esta é construída leva em consideração uma análise de fatos do passado, do presente e qual a expectativa de futuro. O planejamento, para construção deste futuro, leva em conta aspectos internos como pontos fracos, pontos neutros, pontos fortes e os aspectos do ambiente no qual a empresa está inserida, tais como oportunidades e ameaças. É através da análise e correlação destes elementos que será traçado o caminho voltado para os futuros objetivos e desafios (OLIVEIRA, 1996). 22 Identificado os aspectos internos e externos, a empresa deflagra o processo de planejamento. A atividade de planejar é complexa, funciona através de um processo contínuo de pensamento sobre o futuro, de estados futuros desejados e a avaliação de cursos de ação alternativos a serem seguidos para que tais estados sejam alcançados (OLIVEIRA, 1996) Existem três tipos de planejamento: o Planejamento Estratégico, cujo desenvolvimento, via de regra, situa-se na alta administração da empresa; o Planejamento Tático, que normalmente está a cargo dos gestores intermediários e o Planejamento Operacional, vinculado à execução de tarefas. De forma sintética o Quadro 1 demonstra, comparativamente, os três tipos de planejamento. Quadro 1: Tipos de planejamento e características Fonte: OLIVEIRA, [2006]. 2.2 Elaboração do Planejamento Estratégico O processo de elaboração do Planejamento Estratégico deve levar em conta as características próprias de cada organização. Deve ser elaborado com base em fatos e dados concretos, perspectivas, que podem ser ousadas, porém, desafiadoras e factíveis. Sobretudo, o Planejamento Estratégico precisa ter credibilidade, ser mensurado, medido, acompanhado e também corrigido, à medida que isto se faça necessário. Segundo Tavares (2000, p. 156) “... sua natureza, o porte, o estilo de gestão, a cultura e o clima organizacional terão forte 23 influência sobre o desenvolvimento desta atividade.” Geralmente, os passos para implementação do processo de gestão estratégica seguem o fluxo conforme mostrado na Figura 1. O processo inicia com a definição de algumas diretrizes, que servirão como base do planejamento. São estas as definições do negócio, visão e a missão da empresa, juntamente com as competências distintivas, que são pré-requisitos para fazer face ao cenário ambiental. Na seqüência, a análise macroambiental, ambiente competitivo e ambiente interno contemplam os pontos fracos, pontos neutros, pontos fortes, as oportunidades e as ameaças. Valores e políticas definem as crenças e as diretrizes que norteiam o processo decisório na empresa. Formulação de estratégias e definição dos objetivos sintetizam onde a empresa quer chegar, quais seus Objetivos e Metas. Estes devem estar alinhados com a Visão e a Missão da Empresa. Em relação à elaboração do Orçamento, este se constitui em fator chave do Planejamento Estratégico, pois, mensura e acompanha os planos estabelecidos em termos de datas e unidades monetárias. Serve como instrumento de comunicação de metas para toda Figura 1: Etapas do processo de gestão estratégica Fonte: TAVARES (2000, p. 156) 24 organização. Representa um instrumento vital de avaliação de desempenho sob o aspecto financeiro. O alinhamento do Planejamento Estratégico com o Orçamento é vital, pois a elaboração deste último visa estabelecer os recursos financeiros e tornar visível a execução dos objetivos da empresa (CAGGIANO; FIGUEIREDO, 2006). O Processo de Controle e Avaliação começa com a definição de padrões de medida de avaliação, pois medir é fundamental para gerenciar bem. Esta definição pode ser visualizada na Figura 2. Conforme Tavares (2000), estes padrões são originados dos objetivos e metas organizacionais servindo como base para definição de indicadores de desempenho que permitirão avaliar a eficácia da estratégia e a eficiência das ações diante dos objetivos e metas definidos previamente. Figura 2: Conceituação geral da função controle e avaliação Fonte: Adaptado de OLIVEIRA (1996, p. 237) Não Ação Acerta e reformula desempenho Alcance dos objetivos e desafios Alimenta o tomador de decisões Início do processo Avaliação e controle Padrões estabelecidos Compara e avalia Gera informações Há desvios? Reformula sistema administrativo É de desempenho? Não Sim Sim 25 Para Certo e Peter (1993), o fluxo se encerra com a criação de um Sistema de Gerenciamento e responsabilidades. Informações precisas e no menor espaço de tempo possível são fundamentais para que a empresa possa tomar ações preventivas e corretivas e se constituem, portanto, em um item crítico do controle estratégico. Outro aspecto importante diz respeito à atribuição de responsabilidades a todos os níveis envolvidos para a implantação do processo. Um objetivo só está plenamente definido quando possui um prazo (meta), uma medida e um responsável. 2.3 Implementação do Planejamento Estratégico A implementação é o processo de pôr em prática o plano, ou seja, fazer com que aconteça aquilo que foi planejado. O horizonte de um plano estratégico é realmente, para a maioria das atividades, de longo prazo, mas isto não implica que este plano não possa ser refeito todos os anos. Embora o Planejamento Estratégico seja conduzido pela alta administração, esta deve preocupar-se com a sua divulgação no âmbito de toda a organização. Comumente, os colaboradores desconhecem os objetivos e metas da empresa e tampouco, sabem como foi montando o Planejamento Estratégico da organização. Sem este conhecimento, fica difícil aos colaboradores darem a sua parcela de contribuição para a consecução destes objetivos e metas. Outro aspecto importante diz respeito à preparação da organização para implementar o Planejamento Estratégico. Além de um bom sistema de informação, a empresa precisa treinar seus colaboradores e motivá-los a trabalhar em prol do Planejamento Estratégico. Esta tarefa é facilitada com a integração dos Planos Estratégico, Tático e Operacional (ALMEIDA; FISCHMANN, 1991). Por fim, o processo se completa com a avaliação e o controle da implementação com intuito de assegurar o cumprimento da estratégia estabelecida. Para garantir que uma estratégia será executada, faz-se necessário o desenvolvimento de uma estrutura para implementação de estratégias conforme demonstrado na Figura 3. 26 Figura 3: Sistemas de Controle Gerencial Fonte: ANTHONY; GOVINDARAJAM (2006, p. 35). Conforme Anthony e Govindarajan (2006, p. 36): A estrutura organizacional especifica as funções, as relações de supervisão e as responsabilidades que moldam a tomada de decisões na organização. A administração de recursos humanos responde por seleção, treinamento, desenvolvimento, avaliação, promoção e dispensa deempregados. A cultura diz respeito ao conjunto de atitudes, conceitos em que as pessoas acreditam e normas que orientam as ações da administração. Já o controle gerencial abrange várias atividades, como: (1) planejar o que a organização deve fazer; (2) coordenar as atividades de várias partes da organização; (3) comunicar a informação; (4) avaliar a informação; (5) decidir se deve tomar uma decisão; (6) influenciar as pessoas para que alterem seu comportamento (ANTHONY; GOVINDARAJAM, 2006, p. 35) 2.4 Fatores Comportamentais no Controle de Gestão O sistema de controle gerencial é um meio de agrupar e usar informações para auxiliar e coordenar as decisões de planejamento e controle no gerenciamento de uma organização e para direcionar o comportamento de gerentes e funcionários (DATAR; FOSTER; HORNGREN, 2004). O principal desafio de um sistema de controle gerencial, sob o aspecto comportamental, é assegurar a congruência dos objetivos da alta administração e os objetivos pessoais dos membros da organização, isto é, o sistema deve ser projetado de maneira que os atos que as pessoas a realizam em seu próprio interesse também sejam no interesse da organização (ANTONY; GOVINDARAJAN, 2006). 27 Esta congruência de objetivos é afetada por processos informais que incluem vários aspectos, como valores compartilhados, lealdade, compromisso mútuo entre os membros da empresa, cultura da empresa, ética de trabalho e estilo gerencial. Também os sistemas formais que incluem regras, procedimentos, medidas de desempenho e planos de incentivo tem impacto nesta congruência. Os sistemas eficazes de controle gerencial devem, também, motivar gerentes e funcionários. Motivação é o desejo de alcançar um objetivo selecionado em combinação com o empenho resultante da busca do objetivo (DATAR; FOSTER; HORNGREN, 2004). Esta motivação advém das recompensas por resultados alcançados que podem ser financeiras e não-financeiras como, por exemplo, a participação e autonomia dos funcionários no projeto e melhoria do sistema de controle gerencial, e também na educação contínua para compreender como o sistema funciona (ATKINSON et al, 2000). 2.4.1 Ética Um sistema de controle gerencial deve conter os princípios do Código de Conduta Ética da empresa, pois, estabelecem os limites definindo o que pode e o que não pode ser feito para alcançar os objetivos propostos. Esta definição de limites é muito importante, pois, os objetivos e metas oriundos do planejamento normalmente estão atrelados à avaliação de desempenho dos colaboradores e os meios que estes utilizam para atingir estes objetivos e metas não podem exceder os limites impostos pelos Códigos de Conduta e Ética da empresa. Um sistema de controle ético deve conter os valores da empresa, os limites do que é aceito e do que não é aceito em termos de atitudes dos colaboradores, se possível com exemplos claros para que estes possam relacioná-los com as tarefas individuais. Para que este Código seja seguido por todos, é fundamental que a alta administração tenha um comportamento em suas funções e conduta nos negócios de forma exemplar, pois as palavras convencem, o exemplo, arrasta. Os Códigos de Conduta e Ética devem ser amplamente divulgados e os colaboradores incentivados a denunciar práticas não éticas, sem sofrer qualquer tipo de represália. Por fim, devem ser estabelecidas providências para a criação de uma auditoria 28 interna contínua da eficácia do sistema de Controle Ético da empresa (ATKINSON et al., 2000). 2.4.2 Cultura Segundo Antony e Govindarajan (2006, p. 142), “... a cultura de uma organização abrange convicções, atitudes, normas, relacionamentos e presunções comuns aceitas implícita ou explicitamente e evidenciados em toda a organização.” A cultura da empresa é refletida em suas tomadas de decisões, no seu jeito de fazer as coisas, na velocidade de execução do planejamento e na sua postura frente aos desafios impostos pelo mercado, ou seja, o próprio grau de competitividade do mercado em que está inserida afeta de forma significativa a sua cultura. a essência da cultura organizacional é representada por percepções compartilhadas de práticas diárias. Embora os valores dos fundadores e líderes-chaves moldem as culturas organizacionais, a forma como cada cultura afeta os membros de cada organização é mediante práticas compartilhadas. Os valores dos líderes fundadores tornam-se práticas dos membros (FONSECA, 1999, p. 63). Quanto maior for a aderência dos colaboradores à cultura da empresa, maior será a probabilidade de êxito dos resultados do planejamento. Esta assertiva carrega a idéia de que cada colaborador deve se sentir dono da empresa, com autonomia para decidir e assumir responsabilidade pelos resultados. Embora as culturas possam variar muito, Atkinson et al. (2000, p. 783) sugerem três tipos gerais de cultura organizacional conforme demonstrado no Quadro 2. 29 Quadro 2: Tipos de culturas organizacionais Fonte: ATKINSON et al. (2000, p. 783), adaptação do autor. 2.4.3 Estilo de Gerenciamento e Aprendizagem Organizacional Os guardiões da cultura de uma empresa são seus próprios gestores. É deles a responsabilidade de disseminar crenças e valores através do seu estilo de gerenciamento, pois conforme assevera Antony e Govindarajan (2006), o fator interno com impacto mais forte no controle gerencial é o estilo de gerenciamento. A atitude dos subordinados tende a ser moldada no estilo de gerenciamento dos seus superiores. Este é um dos fatores pelos quais as empresas devem buscar um alinhamento de comando do seu nível gerencial, através de lideranças que agreguem pessoas em torno dos objetivos comuns. A aprendizagem organizacional se refere à como o processo de aprender ocorre na organização, isto é, as formas e processos de construção e utilização do conhecimento. O Planejamento Estratégico é um processo dinâmico que vai sendo lapidado e amadurecido conforme as informações vão sendo disseminadas na empresa. A melhor forma de se fazer isto é através de grupos multifuncionais que compartilham discussões e trocam informações, 30 pois, informação é o ponto de partida para o processo de aprendizagem (GARVIN, 1993 apud PERIN, 2001). A simples coleta de informações não significa o cumprimento de uma etapa de aprendizagem. Esta informação precisa ser de uso potencial pela organização ou suas unidades (HUBER, 1991 apud PERIN 2001). Especificamente, na etapa do Planejamento Estratégico, correspondente à elaboração do orçamento, o processo de aprendizagem organizacional se intensifica, pois, através das informações utilizadas para construção do orçamento, os gestores têm a oportunidade de aprofundar a análise de processos e buscar oportunidades de melhorias operacionais. Isto reflete na habilidade das organizações em tomar decisões rápidas e executá-las com eficiência. 2.5 Sistemas de Recompensa e Mensuração de Desempenho Um elemento que compõe o processo de controle gerencial é o Sistema de Recompensa, que tem como objetivo principal manter a motivação do indivíduo. Segundo Atkinson et al.(2000), o papel importante da motivação é alinhar os interesses do indivíduo aos da empresa. Este também é o objetivo da política de recompensa. Segundo os autores, a prática da recompensa convencional enfoca a ligação das recompensas dos funcionários aos resultados que a empresa valoriza (lucros, número de boas unidades de produto, dentre outros). Quanto mais alto for mensurado o resultado, maior será a recompensa do funcionário, este é um dos fundamentos ligados ao conceito de meritocracia, que se dá pela criação de metas para tudo. [...] O primeiro passo, para a empresa, é identificar quais resultados ela deseja. O passo seguinte é determinar o vínculo entre a empresa e o funcionário, projetandoum sistema que recompense os funcionários pelos resultados que a empresa deseja, porque eles produzem os resultados desejados (ATKINSON et al., 2000, p. 718). Existem dois tipos de recompensa. As recompensas intrínsecas estão relacionadas ao sentimento interno de satisfação do indivíduo ao executar uma tarefa e a possibilidade de crescimento que esta propicia. As recompensas extrínsecas são impessoais e reforçam a noção 31 de que o funcionário é especial para a empresa. Alguns exemplos de recompensas extrínsecas são: refeições, viagens, gratificações em dinheiro, gratificações em ações e reconhecimento no boletim informativo da empresa e em placas (ATKINSON et al., 2000). A recompensa pelo desempenho tem que estar baseada em regras claras e ser o mais objetiva possível. Quando uma empresa desenvolve um sistema para recompensar desempenho, obviamente que deseja criar um fator que aumente a motivação dos colaboradores. Porém se esta sistemática não for bem divulgada e transparente, o efeito pode ser contrário. Para assegurar o êxito de um sistema de mensuração de desempenho e recompensa, Atkinson et al. (2000) sugere seis atributos-meta necessários para motivar os colaboradores: � Primeiro – Os funcionários devem entender o propósito do seu trabalho e o sistema de recompensas, além de terem a crença naquilo que é medido para controlar e contribuir com a empresa. Tem que ser clara para o funcionário, a relação entre esforço, desempenho e resultado; � Segundo – Quando os produtos refletem as circunstâncias e condições que estão além do controle do funcionário, a expectativa entre os esforços dos indivíduos e os resultados mensurados são reduzidos e diminuem a motivação causada pelo sistema de recompensa. � Terceiro – Os elementos de desempenho, que são monitorados pelo sistema, e as recompensas deveriam refletir os fatores críticos de sucesso da empresa. Assegura que o sistema de desempenho é pertinente e motivador. � Quarto – Os sistemas de recompensa devem fixar padrões claros de desempenho para serem aceitos pelos funcionários. Para ter credibilidade, o sistema precisa ser justo e os funcionários têm de estar convictos disto. � Quinto – O sistema de mensuração de desempenho deve ser sistemático e preciso para valorizar os objetos. Este atributo assegura que o sistema de mensuração de desempenho estabelece uma relação clara entre desempenho e resultado. � Sexto – Os sistemas de recompensa deveriam recompensar o desempenho em grupo, ao invés de individualmente. Isto reforça o “espírito de equipe” e agrega as pessoas em torno de objetivos comuns (ATKINSON et al., 2000, p. 723-725). 2.5.1 Tipos de Planos de Recompensa como Incentivo Os planos de recompensa podem ser individuais ou coletivos. As recompensas individuais decorrem dos resultados da avaliação de desempenho de cada colaborador e do grau de atingimento das metas que lhe foram propostas. As recompensas coletivas são normalmente fruto do resultado de um grupo de trabalho. Uma forma de premiação coletiva são os Programas de Excelência, que visam avaliar e premiar células de trabalho, áreas ou departamentos, unidades de negócio, etc. 32 As formas de incentivo mais comum conforme Atkinson et al. (2000) são: o Gratificação em dinheiro ou pagamento por mérito é uma espécie de prêmio baseado em alguma medida de desempenho. Este prêmio não é incorporado ao salário do funcionário. o Participação nos lucros. Trata-se de um plano de compensação como incentivo ao desempenho de curto prazo, cuja base de remuneração é o lucro atingido pela empresa. o Planos de opções sobre ações que permite aos colaboradores adquirirem ações da empresa geralmente a preços inferiores aos de mercado Existe uma grande quantidade de modelos e instrumentos que têm como finalidade vincular o desempenho a um sistema de reconhecimento, mas talvez um dos mais importantes deles seja a remuneração variável, pois esta é tida como a alternativa que melhor vincula a busca de resultados com a recompensa e que, desta maneira, tem em si um forte potencial de fortalecer o compromisso entre indivíduos e organizações (KALLÁS; COUTINHO, 2005). 2.5.2 Avaliação de Desempenho A Avaliação de Desempenho é uma atividade essencial à gestão de pessoas, porque dela decorrem conseqüências importantes para a motivação e progressão na carreira dos funcionários. Além disto, a avaliação de desempenho constitui-se em um mecanismo que apresenta maior eficiência e eficácia na busca por uma força de trabalho íntegra e comprometida com a organização, desde que adequadamente adaptado às particularidades e cultura das pessoas e organizações. Um dos pontos polêmicos relativos à avaliação de desempenho diz respeito à sua vinculação com a remuneração variável. Conceitualmente, conforme assevera Caggiano e Figueiredo (2006), os objetivos da Avaliação de Desempenho estão relacionados com a eficiência de desempenho dos gestores, com a identificação de áreas onde devem ocorrer ações corretivas, com a motivação dos gestores relativa aos objetivos da organização e com a identificação de oportunidades de melhorias nas áreas. Tudo isso pode ficar relegado a um segundo plano principalmente, se a avaliação do colaborador excluir o mesmo da remuneração variável. 33 A avaliação de desempenho é, antes de tudo, um instrumento para reflexão do avaliador e do avaliado, no sentido de orientar os aspectos que devem ser melhorados ou aperfeiçoados pelo colaborador. A avaliação também pode delinear as perspectivas de crescimento profissional do colaborador dentro da empresa, de acordo com suas competências e sua performance. Conforme assevera Moura (2007), quando isto não acontece, esse mesmo sistema passa a ser o principal ponto de insegurança, insatisfação e sentimento de injustiça das pessoas, gerando profundas frustrações naqueles que são vítimas do processo. O processo de avaliação parte do princípio de que o desempenho de um departamento ou de uma estrutura da organização depende do desempenho individual e da atuação desta pessoa na equipe. Da Avaliação de Desempenho resultam três conseqüências principais: a identificação de necessidades de qualificação, a determinação de potencial e a gestão de remuneração do funcionário. De acordo com Moura (2007) [...] a sistemática de avaliação de mérito empregada atualmente, na maioria das organizações, sejam públicas ou privadas, foca a atuação numa série de observações, registradas com periodicidade anual em fichas de conceito preenchidas pelos superiores imediatos e posteriormente, revisadas e avalizadas por uma espécie de revisor. Essas fichas, de modo geral, contêm uma lista de parâmetros de desempenho e atributos pessoais e profissionais, seguidos de uma gradação em escalas das mais variadas, onde se procura retratar o desempenho de um indivíduo de forma quantitativa e qualitativa. [...] Os dados são tabulados, avaliados e separados em categorias: ótimos, que correspondem a uma minoria, assim como os péssimos, e os normais, que se subdividem em bons, normais e regulares (MOURA, 2007, p. 1-2) Alguns problemas podem ocorrer com esta forma de avaliação. O primeiro é a vinculação da avaliação de desempenho com a remuneração variável. O segundo é a limitação do número de pessoas que receberão a remuneração variável, que é a diferença do montante que cada beneficiado receberá com a remuneração variável. Por exemplo: os colaboradores avaliados com o conceito bom recebem uma remuneração “x” e os colaboradores avaliados com o conceito ótimo recebem uma remuneração “x+1”. Outro aspecto importante diz respeito à periodicidade com que as avaliações de desempenho são feitas. Caso sejam feitas num espaçamento de tempo muito grande entre uma e outra, deixam muitos pontos que poderiam ser melhorados, em curto prazo, serem revistos de forma tardia.34 Um bom sistema de avaliação deve atender a dois universos importantes dentro de uma organização: pessoas e processos. Com relação a pessoas, o sistema deve atender a três objetivos principais conforme Moura (2007): � Prover e prever um mecanismo de realimentação (feedback) que forneça aos avaliados uma clara e precisa idéia do que se espera deles, informando-os de como está o seu desempenho, ou como pode melhorar os aspectos em que ainda não atingiu a performance esperada; � Permitir o registro permanente, confiável e acumulativo dos dados de desempenho; e � Prover os altos escalões da organização de meios de avaliação que permitam selecionar, com base em fatos, os que apresentam melhor potencial para o desempenho de outras funções de maior responsabilidade futuramente (MOURA (2007, p. 4-5). 2.6 Controle Financeiro Segundo Atkinson et al. (2000, p. 613), “o assunto controle financeiro envolve o uso da informação financeira para controle da empresa com a finalidade de monitorar, avaliar e melhorar as operações.” Este tipo de controle utiliza os dados financeiros para efetuar o Controle Gerencial. Este pode ser feito de forma centralizada ou descentralizada. Sua estrutura baseia-se em centros de responsabilidade. 2.6.1 Descentralização Conforme Hansen e Mowen (2001), descentralização é a prática de se delegar ou descentralizar a autoridade de tomadas de decisões para níveis inferiores. Algumas organizações são muito centralizadas: as decisões são tomadas pelo chefe, cabendo aos subordinados apenas cumprirem as determinações emanadas daquelas decisões. As organizações militares são exemplos deste tipo de organização (MAHER, 2001). Nas organizações descentralizadas o poder de decisão se distribui pela organização. A tendência atual, segundo Garrison e Noreen (2001), é o predomínio da descentralização. As empresas descentralizadas geralmente classificam seus segmentos em centros de custo, receita, lucro e investimento, dependendo das responsabilidades dos respectivos gerentes, para que se possa avaliar o desempenho de equipes e gestores destes centros de responsabilidade (GARRISON; NOREEN, 2001). 35 2.6.2 Contabilidade por Responsabilidades De acordo com Hansen e Mowen (2001), há uma forte ligação entre a estrutura de uma organização e seu sistema de contabilidade por responsabilidade. Teoricamente, os sistemas de contabilidade por responsabilidade espelham e apóiam a estrutura de uma organização, que é organizada seguindo linhas de responsabilidade. Estas linhas de responsabilidade consolidam os centros de responsabilidade. Segundo Anthony e Govindarajan (2006), o objetivo dos centros de responsabilidade é apoiar a administração na implantação das estratégias definidas. Existem quatro tipos de centros de responsabilidade: Centro de custo, Centro de receita, Centro de lucro e Centro de Investimento. � Centro de Custo: São unidades organizacionais responsáveis apenas por custos. Conforme Maher (2001), em centros de custos, os gerentes são responsáveis pelo custo de uma atividade para qual existe um relacionamento bem definido entre recursos disponíveis e resultados obtidos. Para Garrison e Noreen (2001), dos gerentes de centros de custo, esperam-se a minimização dos custos e, ao mesmo tempo, que forneçam o nível de serviços ou produtos exigidos pelas demais partes da organização. � Centro de Receita: Normalmente este tipo de centro de responsabilidade congrega a área responsável pelas vendas, podendo também contemplar custos diretamente relacionados a esta, como impostos diretos e comissão do pessoal de vendas. Segundo Atkinson et al. (2000, p. 624), “... nesses centros, a receita mede a maioria de suas atividades que adicionam valor e indica, de modo geral, como eles podem conduzir melhor suas atividades.” � Centro de Lucro: Conforme Garrrison e Noreen (2001, p. 387), “... o centro de lucro é qualquer segmento do negócio cujo gerente tem controle sobre custo e receita. Geralmente não tem controle sobre os recursos para investimento”. � Centro de Investimento: Centros de investimento são responsáveis por lucros e por investimentos em ativos. Normalmente este centro possui recursos elevados e sua avaliação vincula-se ao retorno sobre investimento realizado. Conforme Maher (2001, 36 p. 699), “... a avaliação de centros de investimento baseia-se em alguma medida que leve em consideração tanto lucro gerado pelo centro como o investimento nele realizado.” 37 3 O CO TROLE ORÇAME TÁRIO Este capítulo traz uma abordagem geral sobre o processo de controle orçamentário discorrendo a respeito das principais etapas e conceitos pertinentes ao assunto, abordando desde o planejamento até o acompanhamento das dispersões orçamentárias. O capítulo contempla também aspectos relacionados à interação do orçamento com a cultura empresarial e as pessoas. Por fim são relacionadas às principais metodologias utilizadas para efetuar o controle orçamentário das organizações. 3.1 Relação entre o Orçamento e o Planejamento Estratégico O Planejamento Estratégico é o instrumento que agrupa os vários projetos definidos pela alta administração para pôr em prática suas estratégias. Como as empresas trabalham com recursos limitados, faz-se necessário o uso de uma ferramenta de cunho financeiro para viabilizar a implantação destas estratégias. Desta forma, o Planejamento Estratégico antecede ao orçamento e orienta a elaboração deste último, quanto à prioridade na alocação de recursos. Segundo Garrison e Noreen (2001), o orçamento está associado ao controle, que envolve todos os passos da administração para assegurar que todas as partes da organização funcionem de acordo com as políticas da empresa, ao contrário de somente objetivos de departamentos ou divisões (CAGGIANO; FIGUEIREDO, 2006). Tanto o Planejamento Estratégico, como o orçamento, incluem atividades de planejamento, mas os tipos de atividades são diferentes para os dois processos, conforme asseveram Anthony e Govindarajan (2006). O horizonte de tempo do Planejamento Estratégico é de longo prazo e o do orçamento é, em geral, de um ano. A Figura 4 demonstra a dimensão exata das etapas do Planejamento Estratégico e de como este acaba tornando-se o ponto de partida para o processo orçamentário. 38 Figura 4: Fluxograma do Planejamento Estratégico (Adaptação do autor) Fonte: MORAES ; SÁ (2005, p. 21). Definição das Diretrizes Básicas Definição da Missão Análise Externa Estudo das variáveis ambientais relativas a: - Economia - Ambiente Sócio-Político - Cultura - Tecnologia - Mercado - Outros Análise Interna Estudo dos fatores internos relativos a: - Produto - Produção - Recursos - Tecnologia - Administração - Meio Ambiente Diagnóstico Estratégico Identificação de: - Fatores-chave de desempenho - Oportunidades -Ameaças - Pontos fortes - Pontos fracos Controle orçamentário Orçamento Empresarial Planejamento Funcional Definição das Estratégias Definição das Políticas e Metas 39 3.2 Histórico de Orçamento O termo orçamento tem origem na França, onde era conhecido como bouge ou bougette, e deriva do latim bulga. Durante o século XV, o termo bougette começou a fazer parte do vocabulário na Inglaterra (LUNKES, 2003b). No início do século XVIII, o primeiro ministro apresentava ao parlamento os planos de despesas envoltos em uma grande bolsa de couro. Este evento era denominado opening of the budget, ou abertura do orçamento. A palavra budget veio a substituir o termo bolsa e, em 1800, incorporou-se ao dicionário Inglês. A maioria das políticas, procedimentos e práticas hoje conhecidas teve seu desenvolvimento no século XIX durante o governo de Napoleão,cujo objetivo era obter um maior controle sobre todas as despesas, inclusive as do exército (LUNKES, 2003b). Mais recentemente, nos Estados Unidos (início do século XX), foram desenvolvidos conceitos e uma série de práticas para planejamento e administração financeira voltadas para o orçamento público. Em 1907, Nova York foi a primeira cidade a implementar o orçamento público, que veio a tornar-se obrigatório a partir do ano de 1921. O Congresso estabelecia para o presidente a exigência de submeter proposta de orçamento anual ao congresso, cobrindo todas as receitas e despesas federais durante o próximo ano fiscal (LUNKES, 2003b). Segundo Zdanowicz (1983 apud Lunkes, 2003b), a primeira empresa a utilizar o orçamento, no setor privado, foi a americana Du Pont, em 1919. No Brasil, o orçamento foi introduzido por intermédio do setor público. Um dos marcos foi a implantação do orçamento- programa instituído através da Lei 4320/64, que estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. No setor privado, um evento importante que estabeleceu normas sobre demonstrações financeiras e balanço patrimonial foi a criação da Lei das Sociedades Anônimas, nº 6404/76. Muito embora a lei não obrigue as empresas a montar o seu orçamento, ela disciplina a apuração das demonstrações financeiras e isto facilita a elaboração, nas empresas, de acordo com o espírito do orçamento-programa (SCHUBERT, 1985). 40 O orçamento alcançou seu apogeu, no Brasil, a partir de 1970. As grandes empresas privadas e as empresas públicas começaram a implantar sistemas de contabilidade e custos integrados que, aliados ao processamento eletrônico e ao sistema de orçamentos, com os princípios do orçamento-programa, apresentavam uma massa de informações gerenciais de primeira linha (SCHUBERT, 1985). Com o advento da escalada inflacionária nos anos de 1980, o orçamento perdeu força, principalmente por conta das inúmeras atualizações que se faziam necessárias em decorrência da perda de poder aquisitivo da moeda. Obviamente que, como um esforço para expurgar os efeitos inflacionários do orçamento, fazia-se o mesmo em versões indexadas atreladas ao dólar ou a algum índice que refletisse os efeitos da inflação. Com a recente estabilização da inflação, o processo operacional para a construção orçamentária tornou-se menos trabalhoso e o orçamento mais factível como instrumento de gestão. 3.3 As Razões do Orçamento O orçamento é uma ferramenta indispensável ao desenvolvimento dos modelos de gestão estratégica. Além de ser a quantificação dos objetivos e metas definidos no Planejamento Estratégico, é o instrumento que identifica onde e como os recursos disponíveis devem ser gastos. O grande desafio das empresas é a conexão do controle orçamentário com a implementação da estratégia. Neste aspecto, reside a importância de a empresa escolher uma metodologia orçamentária que melhor atenda a esta necessidade de conexão entre ambos. As atividades empresariais sempre contam um determinado processo de planejamento, mesmo de natureza elementar, para atingirem seus objetivos. As mudanças significativas, nos aspectos teórico e prático da administração empresarial, fizeram crescer de forma acelerada a aplicação de novas técnicas orçamentárias. Algumas dessas mudanças são citadas por Tung (1994): (1) maior gama de técnicas de orcamentação, cada uma com suas respectivas vantagens particulares em relação a problemas específicos; (2) maiores graus de complexidade alcançados pelas estruturas empresariais; (3) necessidade crescente de previsões sujeitas a alterações, de acordo com as circunstâncias que vierem a surgir durante a implementação do orçamento; (4) há um aumento crescente da consciência das empresas quanto à necessidade de controle efetivo das bases 41 onde estão assentadas as previsões feitas e; (5) necessidade de previsões compatíveis coma promoção da sobrevivência e expansão da empresa, em médio e longo prazo, face às constantes mudanças do mercado em que opera. 3.4 atureza e características do Orçamento O planejamento de longo prazo envolve a determinação dos objetivos da empresa e a determinação de um plano para atingir esses objetivos. Desta forma, o plano de longo prazo é a referência para a elaboração do orçamento anual e define as ações que precisam ser implementadas, hoje, para atingir os objetivos em longo prazo (CAGGIANO; FIGUEIREDO, 2006). Conforme Sá e Moraes (2005), o orçamento é um modelo e, como tal, representa uma simplificação da realidade. Desta maneira, ele é uma tentativa de reprodução, no papel, aquilo que se acredita poder ocorrer na realidade. O orçamento pode ser caracterizado através das seguintes premissas básicas, conforme demonstrado no Quadro 3. Quadro 3: Premissas básicas que caracterizam o orçamento. Fonte: Zdanowicz (1995, p. 22-23). 42 Segundo Tung (1994, p. 39), o orçamento também deve possuir “... um grau de acerto aceitável, adaptabilidade ao ciclo operacional da empresa e capacidade de demonstrar com rapidez pontos problemáticos indicando decisões corretivas.” 3.5 Período de tempo do orçamento De acordo com Tavares (2000), para que os números do orçamento possam ser comparados com os resultados reais, o período de abrangência do orçamento é de um ano e normalmente corresponde ao ano fiscal da empresa. Os acompanhamentos normalmente são feitos em bases mensais, com a presença dos gestores responsáveis por cada parte do orçamento. Nestas reuniões de acompanhamento, normalmente verifica-se o período realizado e a tendência para os meses seguintes. A tendência para os meses seguintes pode ser diferente da meta orçada. Se o gestor responsável pela verba já tiver ciência de algum fator que implicará em gasto ou receita menor ou maior que o orçado, já deve sinalizar isto antecipadamente para que as devidas ações corretivas sejam efetuadas. Algumas empresas dividem seu ano orçamentário em quatro trimestres. O primeiro trimestre é dividido em meses, e os números do orçamento mensal são estabelecidos (esses valores de curto prazo podem ser estabelecidos com considerável precisão). Os demais três trimestres figuram no orçamento apenas pelo total. À medida que o ano avança, as cifras do segundo trimestre são decompostas em valores mensais, depois as do terceiro trimestre e assim, sucessivamente. Conforme Tung (1994, p. 81), “... em outras situações, as empresas não se limitam ao ano fiscal, adotando a projeção trimestral sistemática sempre para um ano à frente, sendo o primeiro trimestre do ciclo em meses.” 3.6 A Criação da nova mentalidade A construção de um orçamento consistente exige colaboradores com capacitação e dedicação. Capacitação, pois a construção do orçamento exige senso crítico na sua elaboração e dedicação, pois o orçamento corresponde a um compromisso com aquilo que foi definido como meta. 43 Em qualquer organização, a aplicação de um sistema de trabalho mais racional encontra tanto entusiasmo como resistência de seus funcionários, por isto é importante proceder com uma educação orçamentária junto aos colaboradores envolvidos no processo orçamentário, que consiste num programa de comunicação aos colaboradores já envolvidos ou que virão a se envolver com o uso do sistema orçamentário para lhes mostrar os benefícios gerados pelo orçamento. Este tipo de atitude tende a eliminar barreiras e conquistar a adesão e motivação dos colaboradores (TUNG, 1994). Conforme Santos e Sanvicente (1989, p. 28) asseveram, “... é importante programar contatos diretos entre os administradores de linha e a equipe de orçamento, para que esta projete um sistema orçamentário condizente com as realidades operacionais.” 3.7 Pré-Requisitos para Implantação