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HISTÓRIA-DA-SAÚDE-DO-TRABALHADOR

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HISTÓRIA DA SAÚDE DO TRABALHADOR 
 
 
 
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NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empre-
sários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação 
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade ofere-
cendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici-
pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação 
contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos 
e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber atra-
vés do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Sumário 
HISTÓRIA DA SAÚDE DO TRABALHADOR ............................................................ 1 
NOSSA HISTÓRIA ......................................................................................................... 2 
HISTÓRIA DA SAÚDE DO TRABALHADOR .......................................................... 4 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 4 
A Fonoaudiologia nos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador no Brasil ...... 16 
RESULTADOS .............................................................................................................. 17 
Distribuição dos Cerest no País e a Fonoaudiologia ...................................................... 21 
O fonoaudiólogo na equipe dos Cerest ........................................................................... 23 
Evidências empíricas sobre a relação entre distúrbio de voz e trabalho ........................ 27 
Movimento pelo reconhecimento do DVRT no Brasil ........................................ 28 
A trajetória inicial ....................................................................................................... 28 
Primeiros ganhos políticos e jurídicos ............................................................................ 30 
Dificuldades no estabelecimento do nexo causal ........................................................... 32 
O Ato Médico e a polarização do movimento ................................................................ 33 
Foco na notificação do DVRT ........................................................................................ 35 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 38 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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HISTÓRIA DA SAÚDE DO TRABALHADOR 
 
INTRODUÇÃO 
A Saúde do Trabalhador (ST), de acordo com o Ministério da Saúde 
(2001), pode ser compreendida como área da Saúde Pública que tem como ob-
jeto de estudo e intervenção as relações entre as condições de trabalho e a sa-
úde da população. 
As ações em ST visam à promoção da saúde, o cuidado e a assistência, 
além de medidas de vigilância das exposições ocupacionais e dos agravos rela-
cionados ao trabalho. 
Dentre esses agravos, dois comprometem o trabalhador em suas habili-
dades de comunicação: a Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) e os Distúr-
bios de Voz Relacionados ao Trabalho (DVRT). 
A PAIR decorre da exposição contínua a níveis elevados de pressão so-
nora e se manifesta pela diminuição gradual e irreversível da acuidade auditiva, 
o que pode comprometer a qualidade de vida do trabalhador e gerar custos para 
o próprio indivíduo, família e sociedade. 
A PAIR, porém, é passível de prevenção através da adoção de medidas 
de caráter coletivo ou individual . 
Por sua vez, o DVRT pode ser compreendido como qualquer forma de 
desvio vocal diretamente relacionado ao uso da voz durante a atividade profissi-
onal que diminua, comprometa ou impeça a atuação e/ou comunicação do tra-
balhador, o que pode levar a prejuízos emocionais, na atividade profissional e 
socioeconômico. 
Conforme a Lei nº 6.965, de 9 de dezembro de 1981, o fonoaudiólogo é o 
profissional que tem como centro de sua formação e missão o cuidado com a 
saúde dos indivíduos no que se refere à comunicação humana, em seus diversos 
aspectos, atuando em promoção da saúde, prevenção, diagnóstico e reabilita-
ção de distúrbios, como os de voz e audição. 
Para o Conselho Federal de Fonoaudiologia, a partir da Resolução Nº 428 
(2013), no âmbito das ações de vigilância em ST, compete ao fonoaudiólogo: 
elaborar diagnóstico situacional do ambiente, verificar o perfil epidemiológico dos 
 
 
 
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agravos, atuar para melhoria das condições ambientais contribuindo para a pre-
venção de riscos, indicar equipamentos de proteção individual, além de monito-
rar, elaborar e gerenciar ações voltadas para a saúde geral e bem-estar do tra-
balhador. 
Assim, compreende-se que o fonoaudiólogo envolvido com a ST deve 
atuar norteado pela integralidade do cuidado, não se restringindo às ações es-
pecíficas de assistência ou da sua área de especialidade. 
Em 2002, foi instituída no Brasil, através da Portaria Nº 1.679, a Rede 
Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast), uma rede de 
informação e práticas de saúde cujo objetivo é irradiar as ações de ST no Sis-
tema Único de Saúde (SUS) e articular as ações intra e intersetoriais, de vigilân-
cia e de promoção da saúde para promover atenção integral a todos os traba-
lhadores do País10. 
Segundo a Portaria de Nº 2.437/2005, o provimento de retaguarda técnica 
para as ações em ST no SUS é função dos Centros de Referência em Saúde do 
Trabalhador (Cerest). 
De acordo com a Portaria supracitada e com o Manual de Gestão e Ge-
renciamento da Renast (2006), a equipe técnica mínima dos Cerest estaduais 
deve ser composta por pelo menos cinco profissionais de nível médio e dez pro-
fissionais de nível superior, enquanto que para os Cerest regionais são previstos 
pelo menos quatro profissionais de nível médio e seis profissionais de nível su-
perior. 
O fonoaudiólogo está relacionado entre aqueles que podem ser alocados 
na equipe, mas não obrigatoriamente, assim como odontólogos, engenheiros, 
psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, entre outros. 
Sabe-se, no entanto, que a Portaria Nº 2.437/2005 foi revogada em 2009 
e que a proposta de conformação da equipe mínima dos Cerest é uma das pau-
tas em discussão para implementação de mudanças na Renast. 
Apesar de o fonoaudiólogo ser um dos profissionais que podem compor 
essa equipe, não foram encontrados estudos descritivos sobre a Fonoaudiologia 
nos Cerest. 
Assim, o objetivo desse estudo foi investigar a presença do fonoaudiólogo 
na equipe dos Cerest do Brasil, sua distribuição e características de sua inserção 
e das ações desenvolvidas. 
 
 
 
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A Fonoaudiologia inserida na Saúde do Trabalhador caminha com a par-
ticularidade de ser uma área que institui práticas inovadoras em construção, per-
seguidora da integralidade da atenção à saúde e da modificação de uma situa-
ção dada, conseguindo, muitas vezes, desfazer a dicotomia existente entre 
ações preventivas e curativas e entre assistências individuais e coletivas. 
Procura aprimorar e aperfeiçoar a comunicação do trabalhador, através 
de orientações quanto às possibilidades de melhoria das condições ambientais 
e eliminação dos fatores que interferem na comunicação,tornando mais eficaz 
a interação do indivíduo com o seu meio, essencial para o seu bem-estar . 
Através da prática baseada na Vigilância em Saúde, pode-se ter acesso 
aos fatores que interferem na dinâmica do processo saúde-doença, que aumen-
tam ou diminuem o risco de adoecimento . 
Além da área tradicional de Vigilância Epidemiológica, novas ações que 
envolvem as Vigilâncias Sanitária e Ambiental, que necessitam sistemas perma-
nentes e contínuos de monitoramento, fazem parte da atuação na área de Saúde 
do Trabalhador, com o objetivo de desencadear ações oportunas para reduzir e 
eliminar riscos existentes . 
Apesar da perda auditiva induzida por ruído ser o agravo mais frequente 
à saúde dos trabalhadores, ainda são pouco conhecidos dados. 
A Fonoaudiologia inserida na Saúde do Trabalhador caminha com a par-
ticularidade de ser uma área que institui práticas inovadoras em construção re-
ferentes à prevalência no Brasil. 
Estima-se que 25% da população trabalhadora exposta seja portadora 
dessa patologia em algum grau . 
Muitos fatores de riscos encontrados nos ambientes de trabalho contri-
buem apenas para a incapacidade e não para a mortalidade, e por isso não po-
dem ser quantificados através das estimativas levantadas a respeito do número 
de mortes, o que tem contribuído para a subnotificação dos riscos ocupacionais. 
Inclusive, um dos exemplos mais claros de risco que tem sido subnotificado é o 
ruído ocupacional que implica no déficit auditivo . 
Dentre os profissionais que utilizam a voz como instrumento de trabalho, 
os professores têm sido a população de várias pesquisas. 
 
 
 
7 
Esses profissionais constituem um grupo de risco elevado para o desen-
volvimento do distúrbio vocal relacionado ao trabalho e a consideração dos fato-
res de risco no ambiente de trabalho também é importante . 
Considerando os diversos caminhos possíveis para elaboração de planos 
de ação, o objetivo do artigo é apresentar uma revisão de conceitos, concepções 
e histórico ligados à Vigilância em Saúde do Trabalhador em seu sentido amplo, 
abrangendo as vigilâncias epidemiológica, ambiental e sanitária, referindo a im-
portância da utilização de tais aspectos na prática da Fonoaudiologia. 
O termo vigilante traz na história da saúde pública brasileira o sentido es-
trito de vigiar para controlar, para prevenir o aparecimento de novos casos, a 
transmissão do agravo para comunicantes, enfim, vigiar para impedir a transmis-
são, para impedir novos casos. 
Etimologicamente, o termo vigilância, originado de vigilare, do latim, indica 
algo ou alguém a quem se pretende observar atentamente. 
Originalmente, a vigilância destinava-se a reconhecer e a intervir nos fa-
tores do meio, predisponentes à doença e a observar nas pessoas suspeitas os 
primeiros sinais de uma infecção . 
Cumpre ressaltar que esta prática adotada foi importante para o controle 
de diversas doenças infecciosas, como meningite, poliomielite e febre amarela, 
e continua sendo uma forma de controle de doenças com ações sistematizadas 
e normatizadas. 
A partir da década de 50, observou-se a introdução de um novo conceito 
de vigilância aplicado à saúde pública, desta vez no sentido de acompanha-
mento sistemático de eventos adversos à saúde na comunidade, com o propó-
sito de aprimorar as medidas de controle. 
A metodologia aplicada pela vigilância, nesse novo conceito, inclui a co-
leta sistemática de dados relevantes relativos a específicos eventos adversos à 
saúde e sua contínua avaliação e disseminação a todos que necessitam co-
nhecê-los. 
O papel da vigilância fica claramente definido como elemento-chave no 
controle de agravos no final da década de 70. 
Com a definição da meta “Saúde para todos no ano de 2000”, marco da 
Conferência de Alma Ata e da discussão da Atenção Primária à Saúde, eviden-
 
 
 
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cia-se o papel da vigilância epidemiológica como fonte de informações de mor-
bidade e como elemento indispensável na fundamentação de políticas de saúde 
. 
A Portaria MS/GM Nº 3120, de 1º de julho de 1998, que aprovou a Instru-
ção Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador no Sistema Único de Sa-
úde (SUS), compreende a Vigilância em Saúde do Trabalhador como uma atua-
ção continua e sistemática, ao longo do tempo, no sentido de detectar, conhecer, 
pesquisar e analisar os fatores determinantes e condicionantes dos agravos à 
saúde relacionados aos processos e ambientes de trabalho, em seus aspectos 
tecnológico, social, organizacional e epidemiológico, com a finalidade de plane-
jar, executar e avaliar intervenções sobre esses aspectos, de forma a eliminá-
los ou controlá-los . 
A Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) é, de forma mais especí-
fica, o conjunto de ações que visa conhecer a magnitude dos acidentes e doen-
ças relacionadas ao trabalho, identificar os fatores de riscos operacionais, esta-
belecer medidas de controle e prevenção e avaliar os serviços de saúde de forma 
permanente, visando a transformação das condições de trabalho e a garantia da 
qualidade da assistência à saúde do trabalhador . 
Verifica-se que o conceito de VISAT toma como referência o conceito de 
Vigilância em Saúde (VISAU), cuja construção se deu num contexto específico, 
inicialmente articulado a discussões internacionais promovidas pela Organiza-
ção Panamericana da Saúde (OPAS) sobre a reorganização dos sistemas naci-
onais de saúde através dos sistemas locais de saúde (SILOS) . 
As propostas de reorganização necessariamente deveriam implicar em 
processos de descentralização. 
A descentralização é vista como condição necessária para democratizar 
a gestão e o acesso à saúde, além de contribuir para maior efetividade e efici-
ência das intervenções em saúde, dada a proximidade do nível local com os 
problemas e necessidades da população. 
Alguns autores apontam que o conceito de VISAU pode conter distintas 
formulações. 
Pode ser entendida como vigilância da situação de saúde, no sentido de 
monitorar e avaliar tal situação segundo condições de vida, ganhando ênfase a 
racionalidade epidemiológica. 
 
 
 
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Também pode ser referida como o monitoramento de doenças no sentido 
da vigilância médica ou da saúde, articulação institucional das ações de Vigilân-
cia Epidemiológica e Vigilância Sanitária, organização tecnológica do trabalho 
em saúde que busca articular promoção/ prevenção/recuperação/reabilitação, 
abrangendo dimensões coletiva e individual. 
Neste sentido, enfatiza-se o processo de trabalho em saúde. A prática 
sanitária que organiza os processos de trabalho em saúde, sob a forma de ope-
rações, para enfrentamento contínuo de problemas num dado território-popula-
ção também está relacionada ao conceito de VISAU. 
Este enfrentamento exige ações que atuem sobre os condicionantes e 
determinantes dos problemas de modo convergente (o que inclui ações interse-
toriais), sistemático e com impacto favorável sobre a qualidade de vida de uma 
população. 
A VISAT recebe, ainda, forte influência teórico metodológica do “modelo 
operário italiano”, que se distinguiu pela compreensão da vigilância como instru-
mento de transformação social, pela defesa da descentralização, articulada for-
temente com o contexto social e privilegiando a subjetividade e o saber dos tra-
balhadores. 
No entanto, o conceito de VISAU subjacente a muitos discursos parece 
permear as formulações problematizadas acima. 
Trechos da portaria MS/GM Nº 3.120/98, por exemplo, parecem sugerir a 
VISAT enquanto articulação VE/ VS, ainda considerando a singularidade da ST, 
que toma como objeto processos e ambientes de trabalho . 
A vigilância de ambientes de trabalho tem sido compreendida no Sistema 
Único de Saúde como uma das operações componentes da VISAT. 
Esta ação tem se estruturado nos centros, núcleos ou programas de sa-
úde do trabalhador e tem se caracterizado pela presença de equipesmultidisci-
plinares, que viabilizam a integração de olhares de várias disciplinas e institui-
ções . 
A VISAT no SUS se estrutura sob princípios que a diferenciam das práti-
cas de vigilância historicamente desenvolvidas pelo Ministério do Trabalho e Em-
prego (MTE). 
 
 
 
10 
Estas últimas se distinguem por seu caráter punitivo, que é bastante re-
conhecido pelas empresas e, ao mesmo tempo, pela eficácia pontual e momen-
tânea que caracteriza as suas inspeções, pela alta demanda dos sindicatos em 
função desta eficácia imediata e pela divisão do trabalho entre engenharia de 
segurança e medicina do trabalho . 
O artigo 200 da Constituição Federal de 1988 diz que “compete ao SUS 
executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de sa-
úde do trabalhador”. 
Portanto, não há qualquer questionamento possível quanto ao papel do 
setor saúde na vigilância à Saúde do Trabalhador (ST) e, particularmente, na 
vigilância de ambiente de trabalho. 
As ações de ST incluindo a promoção, a proteção, a recuperação e a re-
abilitação estão previstas no artigo 6º, parágrafo 3º da Lei Orgânica da Saúde 
(LOS). 
A singularidade da área da ST no SUS é que ela atua num campo de ação 
multi-institucional e multidisciplinar, tendo não apenas o desafio de construir sua 
legitimação, mas também de operar com impacto positivo sobre a saúde dos 
trabalhadores, seja transitando pela intersetorialidade, seja transitando pela 
transdisciplinaridade . 
Estes desafios são apontados como semelhantes aos do processo de im-
plantação da VISAU num plano mais geral, enquanto um modelo alternativo de 
atenção à saúde a ser construído, segundo os princípios do SUS . 
A VISAT pauta-se nos princípios do SUS e, de acordo com as peculiari-
dades da área, pode ter acrescidas outras diretrizes plenamente compatíveis : 
(a) O princípio da Universalidade refere que todos os trabalhadores, inde-
pendente de sua localização, urbana ou rural; de sua forma de inserção no mer-
cado de trabalho, formal ou informal; de seu vínculo empregatício, público ou 
privado; autônomo, doméstico, aposentado ou demitido, são objeto e sujeito da 
VISAT; 
(b) O princípio da Integralidade busca articular as ações de assistência e 
recuperação da saúde àquelas de prevenção de agravos e de controle de seus 
determinantes através da intervenção sobre os ambientes e processos de traba-
lho, com ênfase para a promoção de ambientes de trabalho saudáveis; 
 
 
 
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(c) A Descentralização aponta para a necessária consolidação do papel 
do gestor municipal, identificando o nível local como instância fundamental para 
a formulação e o efetivo desenvolvimento das ações de vigilância em saúde do 
trabalhador. Este nível deve estar, portanto, integrado aos níveis estadual e na-
cional do SUS, cada um com suas atribuições e competências especificas; 
(d) O controle social busca a incorporação dos trabalhadores e das orga-
nizações em todas as etapas da vigilância em saúde do trabalhador, compreen-
dendo sua participação na identificação das demandas, no planejamento, no es-
tabelecimento de prioridades e adoção de estratégias, na execução das ações, 
no seu acompanhamento e avaliação e no controle da aplicação de recursos; 
(e) O princípio da Intersetorialidade refere que a ST tem interfaces com 
diversas áreas e setores, sendo responsabilidade dos gestores do SUS promo-
ver a adequada integração e articulação entre eles. Essa articulação envolve 
desde a normatização de aspectos específicos, o acesso a bancos e bases de 
dados, até práticas conjuntas de intervenção e promoção em saúde, bem como 
a formulação de políticas públicas; 
(f) A Interdisciplinaridade defende que a abordagem multiprofissional so-
bre o objeto da vigilância em ST deve compreender os saberes técnicos, com a 
concorrência de diferentes áreas do conhecimento e, fundamentalmente, o sa-
ber operário, necessário para o desenvolvimento da ação; 
(g) A Pesquisa-Intervenção permeia o entendimento de que a interven-
ção, no âmbito da vigilância em ST, é o deflagrador de um processo contínuo, 
ao longo do tempo, em que a pesquisa é sua parte indissolúvel, subsidiando e 
aprimorando a própria intervenção. 
De forma esquemática, pode-se dizer que a vigilância em saúde do tra-
balhador tem como objetivos: 
– Conhecer a realidade de saúde da população trabalhadora, através da 
caracterização do adoecimento relacionado ao trabalho, em relação a sua mag-
nitude, distribuição e tendências e avaliação dos ambientes, dos processos e 
das condições de trabalho, identificando os fatores de risco e as cargas de tra-
balho a que estão expostos os trabalhadores e as possibilidades de intervenção; 
– Intervir nos fatores determinantes de agravos à saúde da população 
trabalhadora, visando eliminá-los, atenuá-los ou controlá-los, através de investi-
gação dos ambientes, dos processos e das condições de trabalho, orientando e 
 
 
 
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acompanhando as mudanças necessárias à prevenção de agravos e à promo-
ção da saúde, fazendo cumprir as normas e legislações existentes, nacionais ou, 
na ausência destas, internacionais. 
Assim como através da negociação coletiva em saúde do trabalhador, 
com a participação dos trabalhadores, seus representantes e órgãos afins; 
– Avaliar o impacto das medidas adotadas para a eliminação, atenuação 
e controle dos fatores determinantes de agravos à saúde; 
– Subsidiar a tomada de decisões dos órgãos competentes, principal-
mente no que se refere ao estabelecimento de políticas públicas para a promo-
ção da saúde; ao aprimoramento das normas legais existentes e a criação de 
normas necessárias à defesa da saúde dos trabalhadores; ao planejamento das 
ações e o estabelecimento de suas estratégias; a estruturação da atenção à sa-
úde dos trabalhadores; à formação, capacitação e treinamento de recursos hu-
manos; ao desenvolvimento de estudos e pesquisas de interesse à área e ao 
estabelecimento de redes de informações em saúde do trabalhador; 
– Divulgar as informações sobre os riscos e agravos, para fins de promo-
ção do controle social. 
A saúde do trabalhador definida pela Lei 8080 como “um conjunto de ati-
vidades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigi-
lância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, visa à re-
cuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e 
agravos advindos das condições de trabalho...” já configura a obrigatoriedade 
das estruturas de vigilâncias incorporarem este conceito como atividade cotidi-
ana. 
Mas também destaca que sua abordagem deve se dar na perspectiva da 
promoção, proteção, recuperação e reabilitação. 
Na saúde do trabalhador desponta, então, a necessidade de assumir uma 
visão totalizadora e integrada do sujeito em sua relação com o trabalho, bem 
como a de considerar as questões de ordem política, econômica, administrativa, 
logística, tecnológica, ambiental, social, cultural e psicológica que definem as 
características do processo de produção e da organização do trabalho e que 
delineiam as relações sociais nos contextos de trabalho onde se desenvolve o 
processo saúde-doença do trabalhador. 
 
 
 
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Pode-se entender que as dimensões de atuação em ST se estabelecem 
em três níveis de intervenção: sobre os danos, sobre os riscos e o terceiro nível 
que é a intervenção sobre os determinantes sócio-ambientais . 
Medidas subjetivas ou auto-informadas se tornaram um caminho promis-
sor para reunir informações a respeito da percepção dos trabalhadores quanto a 
como a própria saúde influencia sua capacidade de desempenhar tarefas. 
Considerando-se a PAIR, as ações estão relacionadas ao controle de ru-
ído, que são as medidas de controle da exposição na fonte, na trajetória e no 
indivíduo, porém, além dessas, podemos dispor de medidas organizacionais, 
como estabelecimento de pausas, redução de jornadade trabalho e, até mesmo, 
mudança de função. 
Quanto aos distúrbios de voz, tanto a literatura nacional quanto a interna-
cional relataram que a prevalência é bem maior em professores, sendo sempre 
verificada a associação entre os fatores de risco no ambiente de trabalho e a 
necessidade da intervenção considerando os mesmos. 
A Vigilância em Saúde do Trabalhador se distingue das vigilâncias e de 
outras disciplinas do campo da relação trabalho-saúde pela delimitação de seu 
objeto específico na “investigação e intervenção na relação entre o processo de 
trabalho e a saúde” . 
A noção de agravo permite utilizar o critério de magnitude e transcedência 
na hierarquização dos problemas, mas depende da capacidade diagnóstica dos 
serviços para identificar os casos relacionados com o trabalho, sofrendo interfe-
rência de um grande sub-registro de casos . 
Na Fonoaudiologia, muitas (e de longa data) são as experiências ligadas 
ao gerenciamento de dados e sua transformação em informações em diversas 
áreas ligadas ao setor saúde . 
Atualmente, cabe-nos como profissionais contemporâneos e que vêm am-
pliando (e conquistando novos) espaços de atuação, incluir na pauta de serviços 
de saúde discussões que suscitem a inclusão de indicadores que contribuam 
com a avaliação e monitoramento das ações desenvolvidas, bem como indiquem 
(a partir dos dados da população a ser beneficiada) caminhos para a construção 
de propostas sólidas, com embasamento técnico acessível aos diversos seg-
mentos e setores da sociedade, conforme previsto na Constituição Federal, pro-
mulgada em 1988 . 
 
 
 
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Disseminar informação supõe tornar público a produção de conhecimen-
tos gerados ou organizados por uma instituição . 
A padronização de indicadores de saúde contribui para a monitorização e 
avaliação de ações, visto que possibilitam comparações entre regiões, estados, 
países e instituições, entre outros. 
A noção de risco, que tem orientado muitas intervenções nos ambientes 
de trabalho, apresenta como limitações a dependência do conhecimento prévio 
sobre os determinantes de agravos e a menor viabilidade de uso desta noção 
quando se desconhece uma relação direta entre o agente de risco e o efeito à 
saúde . 
Superar o modelo centrado na atenção à “demanda espontânea”, de aten-
dimento a doentes, para incluir e priorizar ações de prevenção de riscos e agra-
vos e de promoção da saúde, implica tomar como objeto os problemas de saúde 
e seus determinantes, organizando-se a atenção de modo a incluir não apenas 
as ações e serviços que incidem sobre os “efeitos” (doença, incapacidade e 
morte), mas, sobretudo, as ações e serviços que incidem sobre as “causas” (con-
dições de vida, trabalho e lazer), ou seja, no modo de vida das pessoas e dos 
diversos grupos sociais em cenários capazes de desencadear problemas à sa-
úde decorrente do processo de trabalho. 
Constitui, assim, uma vigilância de cenários e não de agravos . 
Sabe-se da importância de um ambiente sadio para que o trabalho não 
resulte em prejuízo à saúde e proporcione uma adequada qualidade de vida . 
No caso dos professores, os fatores considerados predisponentes ao dis-
túrbio vocal relacionado ao trabalho envolvem questões muito além do uso ex-
cessivo da voz, como problemas de adaptação profissional, condições insatisfa-
tórias de trabalho, espaço físico inadequado, violência, estresse, má remunera-
ção, indisciplina e outros que resultam em comprometimentos psicoemocionais 
e não somente físicos. 
As ações de vigilância e a elaboração de normas técnicas que adeqüem 
o conhecimento científico acumulado às novas condições e demandas de traba-
lho são praticamente inexistentes e fazem-se necessárias urgentemente, uma 
vez que existe o aumento progressivo dos profissionais que dependem da voz 
enquanto instrumento de trabalho. 
 
 
 
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Uma das grandes conquistas foi a determinação do papel dos fatores am-
bientais e organizacionais do trabalho e a forma como atuam como fatores de 
risco para o desenvolvimento do distúrbio vocal relacionado ao trabalho, bem 
como os impactos gerados na vida do trabalhador. 
A tarefa da Fonoaudiologia é a de determinar e justificar projetos em favor 
da saúde, analisando as condições ambientais de trabalho, elencar os fatores 
de risco ocupacionais e averiguar os agentes que desencadeiam danos à saúde 
geral. 
A intervenção da Fonoaudiologia na prevenção dos distúrbios relativos ao 
seu campo de atuação é a de identificar e modificar os riscos provenientes das 
tarefas ocupacionais, visando a integridade da comunicação humana. 
A maior parte das pesquisas verificadas trata-se de estudos descritivos e 
retrospectivos, com amostras reduzidas ou relatos de experiências. 
Faltam mais estudos estatísticos e controlados, Fonoaudiologia e saúde 
do trabalhador comprovando a associação entre a patologia e os fatores de risco 
no ambiente de trabalho. 
Além disso, para alguns autores, a prática da vigilância em saúde do tra-
balhador está mais baseada em ideologia do que em evidências. 
A revisão das concepções e histórico ligados à Vigilância em Saúde do 
Trabalhador, em seu sentido amplo, pode contribuir para a reflexão da atuação 
da Fonoaudiologia na Saúde do Trabalhador, ressaltando a importância da utili-
zação de tais concepções nessa prática. 
Espera-se que novos estudos sejam realizados para determinar a eficácia 
da atuação fonoaudiológica no âmbito da vigilância em saúde do trabalhador, o 
que certamente poderá trazer contribuições e benefícios no que diz respeito à 
determinação mais precisa do diagnóstico, planejamento terapêutico e prognós-
tico fonoaudiológicos. 
Um desafio importante é a incorporação da temática vigilância em saúde 
no campo da fonoaudiologia em saúde do trabalhador, que deverá ter um caráter 
antecipatório, sendo o seu objetivo identificar os fatores, elementos e pontos crí-
ticos que fazem parte da cadeia de eventos que contribuíram para a ocorrência 
do distúrbio da comunicação, de forma a selecionar as medidas prioritárias, fac-
tíveis e efetivas, para a interrupção da cadeia de eventos e prevenir novos casos. 
 
 
 
 
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A Fonoaudiologia nos Centros de Referência em Saúde do Trabalha-
dor no Brasil 
. 
Para definição do conjunto de Cerest a ser investigado, foram considera-
das elegíveis todas as unidades registradas na Renast em 2014 e em pleno fun-
cionamento desde janeiro de 2013. 
Assim, foram critérios de exclusão: estar ainda em processo de implanta-
ção em 2013 ou ter a habilitação suspensa. A coleta de dados foi realizada entre 
junho e dezembro de 2014. 
Foi enviado um questionário estruturado, em formato de formulário eletrô-
nico, para o e-mail institucional dos Cerest regionais e estaduais. 
O e-mail com o link do formulário eletrônico foi dirigido aos coordenadores 
que, se desejassem, poderiam designar outro componente da equipe para o pre-
enchimento. 
Por meio do questionário foram obtidas informações sobre a presença, o 
número, o vínculo, o tempo de atuação e o tipo de ações desenvolvidas por fo-
noaudiólogos no Cerest (Anexo). 
Para os Cerest não-respondentes, foram realizadas duas novas tentati-
vas, sendo a primeira por e-mail, utilizando-se um endereço eletrônico alternativo 
quando pertinente, e a segunda via telefone, aplicando-se as mesmas perguntas 
do formulário para obtenção dos dados. 
Para garantir a condição de privacidade durante a aplicação do formulário 
via telefone, foi realizado agendamento prévio de acordo com a disponibilidade 
do informante. 
As variáveis do estudo foram: número de fonoaudiólogos desde o início 
das atividades do Cerest; ter fonoaudiólogo em atividade na equipe; ter tido fo-
noaudiólogo no passado na equipe; vínculo empregatício do fonoaudiólogo (ca-
tegorizado em servidor público/ concursado, contrato temporário/terceirizado, 
voluntário e outros); tipo de ações desenvolvidaspelos fonoaudiólogos, operaci-
onalizada em três categorias: 
a) atendimento clínico especializado (em áreas específicas, como voz ou 
audição); 
b) vigilância em área específica (ações de vigilância em saúde relaciona-
das à PAIR e/ou aos DVRT); 
 
 
 
17 
c) vigilância em saúde (ações de vigilância em saúde em geral). 
Os descritores foram o ano calendário, a unidade federada e a região ge-
ográfica. 
A base de dados gerada pelas respostas ao formulário eletrônico foi trans-
ferida para uma planilha Excel® e complementada com o registro das respostas 
obtidas via telefone. 
Na análise, foram estimadas as frequências relativas de acordo com as 
categorias das variáveis. 
As análises foram conduzidas utilizando-se o programa estatístico SAS 
9.4 e recursos do Microsoft Office Excel®. 
O programa QGIS 2.6, de georreferenciamento, foi utilizado para a cons-
trução do mapa. 
RESULTADOS 
Dos 210 Cerest estaduais e regionais registrados na Renast em 2014, 
199 estavam em pleno funcionamento em 2013. 
Dos 11 Cerest excluídos, nove estavam em processo de implantação e 
dois tiveram suspensão da habilitação. 
Dentre os 199 Cerest, 158 participaram (79,4%), constituindo a população 
do estudo. 
Das 27 unidades federadas, apenas Acre e Amapá não tiveram Cerest 
participantes. 
Entre os 158 Cerest, a maioria (87,3%) respondeu via formulário eletrô-
nico. 
O coordenador do Cerest predominou entre os informantes (51,3%), se-
guido pelo fonoaudiólogo (24,0%) e menos comumente por outros representan-
tes da equipe, como enfermeiro, fisioterapeuta, médico, entre outros. 
Em três Cerest, os coordenadores eram fonoaudiólogos. Em 2014, 48,1% 
dos Cerest participantes tinham fonoaudiólogo(s) em atividade, 13,9% contaram 
com fonoaudiólogo em período anterior, mas não em 2014, e 38,0% nunca tive-
ram o profissional na equipe. 
O número de unidades com fonoaudiólogo na equipe em 2014 era apro-
ximadamente quatro vezes o número estimado em 2002 com base nos dados 
referidos pelos informantes (Figura 1). 
 
 
 
18 
A Figura 2 apresenta a distribuição espacial dos Cerest no País de acordo 
com a presença ou não do fonoaudiólogo na equipe. 
A região Sudeste apresentou a maior proporção de Cerest com fonoau-
diólogo, em contraste com poucos representantes na região Norte (Tabela 1). 
Considerando-se as Unidades da Federação (UF) do País, destacaram-
se Rio Grande do Sul e São Paulo, com 72,7% e 60,0% dos Cerest com pelo 
menos um fonoaudiólogo, respectivamente. 
Embora os estados do Maranhão, Alagoas e Roraima, tenham um número 
reduzido de Cerest, todos contavam com o fonoaudiólogo em 2014. 
No entanto, não havia o profissional na equipe nas unidades dos Cerest 
de Rondônia, Tocantins, Paraíba, Mato Grosso do Sul e Paraná. Especifica-
mente no Paraná, nenhum dos oito Cerest tinha fonoaudiólogo. 
Na Bahia, um dos 13 Cerest tinha o profissional. 
 
 
 
 
19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
Tabela 1. Distribuição dos Centros de Referência em Saúde do Tra-
balhador (Cerest) com pelo menos um fonoaudiólogo na equipe, por região 
geográfica e unidade da federação no Brasil, 2014 
 
 
Em 2014, entre os Cerest com fonoaudiólogo, a maioria registrava um 
único profissional na equipe, embora alguns Cerest registrassem três ou mais 
profissionais (Tabela 2). 
Quanto ao vínculo de trabalho, a maioria dos Cerest com fonoaudiólogo 
contava com pelo menos um servidor estatutário (82,9%). 
Eram 15,8% os Cerest em que a totalidade dos fonoaudiólogos tinha con-
trato temporário e um Cerest (1,3%) em que o único profissional em atividade 
era voluntário. 
 
 
 
21 
 
Entre os Cerest com fonoaudiólogo, as ações de vigilância em saúde em 
geral foram comuns à atuação desses profissionais (76,3%), assim como as 
ações de vigilância em saúde direcionadas à PAIR e/ou ao DVRT (73,7%) e o 
atendimento clínico e/ou diagnóstico em voz e/ou audição (65,8%). 
A atuação mais comum do fonoaudiólogo nos Cerest abrangia todas as 
três modalidades de ações (Tabela 3). 
No entanto, em 7,9% dos Cerest o fonoaudiólogo dedicava-se exclusiva-
mente à assistência especializada. 
 
Distribuição dos Cerest no País e a Fonoaudiologia 
O número de Cerest vem crescendo desde o ano de 2002, quando foram 
habilitados os primeiros 17 Cerest no País11,12. 
Em 2011, eram 210 unidades distribuídas por todas as UF13. De acordo 
com o Plano Plurianual e o Plano Nacional de Saúde (2016-2019) do Ministério 
 
 
 
22 
da Saúde (2015), uma das metas é alcançar 100% das regiões de saúde com 
no mínimo um Cerest habilitado até 2019. 
São Paulo foi o primeiro Estado do País a apresentar uma rede de Cerest 
regionais habilitados. 
Dos 17 primeiros Cerest, 35,3% localizavam-se neste estado e os demais 
em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia. 
Apesar desta evolução, existem fatores que impactam na forma de ope-
racionalização, ou seja, ter uma unidade de saúde habilitada não garante uma 
atuação com a capacidade potencial, nem uma oferta de serviços com equidade 
para os trabalhadores, ou com qualidade e eficiência para a população. 
Um dos fatores pode se relacionar com dificuldades comuns observadas 
na formação profissional em saúde, como o condicionamento a um saber téc-
nico, um olhar fragmentado e geralmente direcionado à doença, características 
que tendem a subestimar a subjetividade e singularidade intrínseca do sujeito e 
não proporcionar o cuidado humanizado à saúde da população. 
Em regiões com maior densidade de trabalhadores - Sudeste, Sul e Nor-
deste, há uma maior concentração de Cerest, assim como há uma rarefação de 
unidades nas regiões Norte e Centro-Oeste. 
A região Norte apresenta ainda a menor proporção de Cerest com fono-
audiólogo, situação que aumenta as dificuldades para a efetividade de suas 
ações, e para toda a equipe do Cerest que tem como desafio a elaboração de 
estratégias que alcancem toda a extensão territorial de sua cobertura. 
Neste sentido, uma maior capilaridade na rede é desejável para dissemi-
nar ações em ST. 
Em contraste, a região Sudeste tem a maior proporção de Cerest com o 
profissional fonoaudiólogo. Nesta região, de importante atividade industrial, ob-
serva-se o desenvolvimento de programas e ações sistemáticas em ST, expres-
siva produção científica na área, e um histórico mais precoce de habilitação dos 
Cerest. 
 
 
 
23 
 
O fonoaudiólogo na equipe dos Cerest 
Apesar da Portaria 2.437/2005, instituir a equipe mínima dos Cerest esta-
duais e regionais, 60,5% dos Cerest não contavam com a equipe mínima em 
2010/11. 
Essa condição contribui, em parte, para que seja compreendida a inser-
ção ainda incipiente do fonoaudiólogo, visto que é profissional não previsto em 
caráter obrigatório na equipe mínima. 
Assim, outras profissões podem também estar pouco representadas nos 
Cerest. 
Dificuldades para compor a equipe podem ocorrer pela falta de recursos 
humanos atuando nos serviços de saúde pública, dificuldade para contratação 
no nível municipal, vínculos precários de emprego e alta rotatividade de técnicos, 
entre outros fatores. 
De acordo com o Relatório da Renast sobre a implantação da Política 
Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (2016), em 2014/2015 
houve um aumento em todas as categorias de profissionais nos Cerest, com 
maior expressividade entre enfermeiros e médicos. 
Estes, porém, são profissionais de caráter obrigatório para compor a 
equipe mínima. 
Naturalmente, as decisões sobre a composição da equipe devem ser in-
fluenciadas pelo perfil produtivo e de morbidade da área de abrangência do Ce-
rest. 
Neste sentido, a inclusão do fonoaudiólogo seria desejável, conside-
rando-se que o ruído está presente em grande parte dos processos produtivos5 
e que o DVRT atinge predominantemente professores, ocupação com expres-
siva representatividade em todo o País. 
Masao contrário, neste estudo foram reveladas grandes extensões terri-
toriais no Brasil sem a presença do fonoaudiólogo nos Cerest, nas regiões Norte, 
Centro-Oeste, Nordeste, no norte de Minas Gerais e no Paraná. 
Outros fatores também podem ter contribuído para o quadro de pouca 
presença da Fonoaudiologia nos Cerest, entre eles, a inserção relativamente re-
cente da profissão nos serviços públicos de saúde. 
 
 
 
24 
Apenas recentemente houve a inclusão e valorização de conteúdos da 
Saúde Coletiva no currículo de graduação em Fonoaudiologia, ausência que 
acentuava a formação clínica, voltada para a assistência, em detrimento das 
ações coletivas e consistentes com as políticas de saúde. 
Além disso, há um distanciamento entre a teoria e a prática no decorrer 
do curso de formação, inclusive entre os componentes curriculares das discipli-
nas e os estágios em Saúde Coletiva. 
As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Fonoaudiologia visam a 
formação de profissionais generalistas e humanistas. Porém, isso não garante a 
superação de conceitos e práticas hegemônicas, consolidadas nas instituições 
formadoras de ensino superior. 
É necessário promover uma formação pautada nas necessidades de sa-
úde da população, em um modelo de atenção que priorize o cuidado integral e a 
humanização da assistência à saúde. 
De acordo com a Portaria Nº 154, de 24 de janeiro de 2008, apesar de 
nos últimos anos, as políticas nacionais de saúde favorecerem a atuação do fo-
noaudiólogo no SUS, a presença deste profissional ainda é incipiente e o número 
de vagas em cargos públicos incompatível com a demanda da população. 
Em Minas Gerais, em 2009, para cada 17.000 mil mineiros havia apenas 
um fonoaudiólogo no SUS. 
Nas capitais do Nordeste, em 2014, a média da oferta de fonoaudiólogos 
era de apenas 1,5 profissionais para cada 100.000 habitantes quando conside-
radas as vagas da administração direta municipal. 
Também foram identificadas desigualdades na realização de procedimen-
tos fonoaudiológicos nos serviços de saúde no SUS, com estimativa menor do 
que a média nacional para as regiões Norte e Nordeste. 
E ainda evidenciado um déficit de fonoaudiólogos na atenção primária em 
saúde, em 2015, equivalente à ausência de cobertura para mais da metade da 
população brasileira. 
O presente estudo também verificou a predominância do vínculo estatu-
tário do fonoaudiólogo nos Cerest que contavam com o profissional. 
 Este resultado é coerente com a constatação de Dias et al. (2010)28 de 
que 70% dos trabalhadores que compõem as equipes dos Cerest possuem vín-
culo empregatício efetivo. 
 
 
 
25 
Apesar de a maioria dos fonoaudiólogos serem servidores efetivos con-
cursados, a rotatividade de profissionais na equipe pode dificultar a continuidade 
no desenvolvimento das ações de vigilância. 
De acordo com o estudo de Santos e Lacaz (2012)29, a rotatividade dos 
profissionais de saúde é um dos problemas a serem enfrentados também nos 
Cerest, pois interfere na integração da equipe e na atenção aos trabalhadores. 
Atuação do fonoaudiólogo nos Cerest No presente estudo, na maioria dos 
Cerest com fonoaudiólogo na equipe, a atuação do profissional envolvia ações 
de vigilância em saúde e também práticas clínicas e/ou de diagnóstico em voz 
e/ou audição. 
No entanto, ainda havia unidades onde o fonoaudiólogo atuava apenas 
na atenção clínica especializada, sem envolvimento com as ações de vigilância 
em saúde, mesmo aquelas direcionadas ao campo temático da profissão. 
O estudo de caso do Cerest de Campinas constatou que a assistência 
assumia um peso maior nas ações em 2001 comparando-se ao ano de 2012, 
mas que apesar de sucessivas tentativas direcionadas à consolidação da vigi-
lância nesse período, em busca da atenção integral em ST, foi ainda a assistên-
cia que recebeu os maiores investimentos. 
Limitações estruturais, da própria formação e problemas políticos institu-
cionais foram identificados como barreiras para a realização plena da política de 
ST30. 
Em 2011, apenas 12% dos Cerest desenvolviam ações de vigilância em 
ST, evoluindo para 66,7% em 2013, avanço importante considerando que a meta 
do Ministério da Saúde era de alcançar 100% em 201513,31. 
Destaca-se que dentre os Cerest deste estudo que contavam com fono-
audiólogo em 2014, em 76,3% o profissional realizava ações de vigilância em 
saúde, muito próximo à meta de 80% esperada para o ano de 2014 pelos Indi-
cadores da Agenda Estratégica da Secretaria de Vigilância em Saúde do Minis-
tério da Saúde (2012-2015). 
Coerentemente, a Resolução Nº 428 do Conselho Federal de Fonoaudi-
ologia (2013) que dispõe sobre as atribuições de competência do fonoaudiólogo 
que atua em ST, reconhece a perspectiva da vigilância em saúde, ações de pre-
venção dos agravos como PAIR e DVRT, de promoção da saúde, além da aten-
ção clínica especializada. 
 
 
 
26 
Vale lembrar que os Cerest têm como uma de suas atribuições fornecer 
suporte à rede SUS na notificação de agravos em ST no Sistema de Informação 
de Agravos de Notificação (SINAN), e que a PAIR integra esta lista de agravos 
de notificação compulsória. 
Em 2017, o Ministério da Saúde reconheceu o DVRT e encaminhou para 
publicação o seu protocolo, representando um avanço importante para a ST e 
ampliando formalmente a esfera de atuação do fonoaudiólogo na equipe dos 
Cerest. 
Esse passo deverá ser consolidado com a sua efetiva publicação e com 
a inclusão desse agravo na lista da Previdência. 
Existem poucos estudos sobre a Fonoaudiologia na ST, o que pode ser 
reflexo, em parte, da inserção recente, gradual e ainda insuficiente do profissio-
nal no âmbito da Saúde Pública no SUS, especificamente no que concerne às 
ações de vigilância em saúde. 
Neste cenário, é primordial promover a discussão sobre as bases da vigi-
lância em saúde, que devem sustentar as ações prioritárias dos fonoaudiólogos 
nos Cerest. 
Naturalmente, as relações entre as condições de trabalho e o processo 
saúde-doença demandam ações da Fonoaudiologia em todos os níveis de aten-
ção em favor da saúde dos trabalhadores. 
Limites e vantagens Neste estudo houve 20,6% de Cerest não respon-
dentes, parcela coerente com a expectativa considerando-se a coleta de dados 
a distância. 
Mesmo assim, os resultados devem ser considerados com parcimônia, 
pois podem não refletir o que ocorre no conjunto completo dos Cerest. 
Durante a coleta de dados, por exemplo, alguns deles justificaram a não 
participação por não terem fonoaudiólogo na equipe, mesmo tendo ciência de 
que este não era um requisito. 
Assim, é provável que a ausência de fonoaudiólogo no Cerest seja mais 
comum entre os não respondentes comparando-se aos que participaram. Dados 
relativos a anos pregressos podem apresentar imprecisão devido ao viés de me-
mória, o que pode ter ocorrido, nesse estudo, em relação à presença do fonoau-
diólogo na década de 2000, ou ainda, o fonoaudiólogo ser registrado em ano 
anterior à habilitação da unidade como Cerest. 
 
 
 
27 
Em contrapartida, este estudo revela informações de um cenário ainda 
pouco conhecido, trazendo evidências sobre a Fonoaudiologia nos Cerest do 
País. 
 
Evidências empíricas sobre a relação entre distúrbio de voz e traba-
lho 
Apesar dos distúrbios de voz ainda não constarem das listas oficiais de 
DRT, há muitos estudos que sustentam, empiricamente, esta relação. 
O grupo de profissionais da voz mais estudado são os professores, seja 
pelo contingente de trabalhadores, pelas condições de trabalho ou pela facili-
dade de investigação. 
Pesquisas epidemiológicas revelam alta prevalência de problemas de voz 
em professores, associados a fatores do ambiente e organização do trabalho. 
A crítica que se faz aos estudos é que são de qualidade variável, apre-
sentam definições operacionais distintas, usam métodos irregulares, nem sem-
pre bem delineados, semgrupos-controle e autorreferência como desfecho para 
o distúrbio de voz, comprometendo a qualidade das evidências. 
Registra-se, contudo, nas pesquisas mais recentes, desenhos melhor de-
lineados, métodos mais sofisticados, tendo como resultado evidências mais ro-
bustas. 
No Protocolo DVRT7 há uma compilação de estudos epidemiológicos nos 
quais se evidenciou a elevada prevalência de alteração vocal, principalmente em 
professores, sintomas, fatores pessoais predisponentes, riscos ambientais e or-
ganizacionais do trabalho. 
Recente revisão sistemática demonstrou aumento na ocorrência de alte-
rações vocais em professores quando comparados a outras ocupações, mais 
comumente associadas a ruído nas classes, uso habitual de voz em forte inten-
sidade e ser professor de educação física . 
 
 
 
28 
Em outro estudo de revisão foi observada prevalência de alteração vocal 
de 6 a 15% na população geral, enquanto entre professores a ocorrência variou 
de 20 e 50%. Como fatores associados identificaram salas de aula inadequadas, 
ruído excessivo, problemas de saúde e hábitos de vida. 
Ressalta-se que, mesmo havendo fatores pessoais que possam desen-
cadear um distúrbio de voz, fatores de ambiente e organização do trabalho são 
determinantes do adoecimento. 
Schilling classifica as DRT em três categorias: 
I - trabalho como causa única e necessária; 
II - como um fator contributivo; 
III - como fator provocador de distúrbio latente ou agravante de doença 
estabelecida. 
O DVRT, por sua natureza multicausal, encontra-se nas categorias II e 
III , havendo uma probabilidade aumentada de ocorrência da doença quando 
fatores de risco relacionados ao trabalho se apresentam. 
Desta forma, o nexo entre doença e trabalho é epidemiológico, conside-
rando-se o excesso de frequência em determinados grupos ocupacionais, assim 
como fatores de risco relacionados ao trabalho . 
 
Movimento pelo reconhecimento do DVRT no Brasil 
A trajetória inicial 
Na busca pelo reconhecimento do distúrbio de voz como DRT, destaca-
se o papel pioneiro do curso de Fonoaudiologia da PUC-SP, no fomento das 
discussões e na tarefa de agregar diferentes atores sociais no debate, permitindo 
o avanço em temas presentes nas agendas atuais. 
Em 1997, a partir de um ofício protocolado no Conselho Federal de Fono-
audiologia (CFFa) com informação de inúmeros casos de professores com alte-
ração vocal no Hospital dos Servidores de Pernambuco, a PUC-SP promoveu 
 
 
 
29 
uma discussão sobre disfonia enquanto doença ocupacional no VII Seminário de 
Voz , ampliando o debate para um maior número de atores sociais. 
O início foi penoso, as bases eram frágeis e ainda incertas para uma área 
que, historicamente, focava-se apenas na reabilitação do indivíduo. 
Mas a busca persistente e incansável, durante os oito anos subsequentes 
de debate nos seminários da PUC-SP, proporcionou diálogos interdisciplinares 
e intersetoriais efetivos, com a Medicina do Trabalho, o Direito, a perícia e sindi-
catos de trabalhadores, marcando uma aproximação auspiciosa ao campo da 
Saúde Coletiva. 
A compreensão do adoecimento de voz, não com base na culpabilização 
do indivíduo que não saberia utilizar a sua voz, traduzido pelo binômio “mau 
uso/abuso vocal”, e sim como uma imposição necessária para superar as precá-
rias condições de trabalho às quais estava submetido, foi um marco que possi-
bilitou ao fonoaudiólogo redimensionar sua prática a fim de responder à reali-
dade de adoecimento de um elevado número de trabalhadores. 
Araújo et al.28 alertaram para o fato de que as alterações vocais em pro-
fessores, assim como os transtornos mentais e a LER/DORT são agravos que, 
pela sua dimensão em determinadas categorias profissionais, merecem inter-
venções por meio de políticas públicas. 
Em 1998, no VIII Seminário de Voz , discutiu-se a elaboração de um ins-
trumento, com a intenção de aplicação multicêntrica, para estudar o processo 
saúde-doença no trabalho docente. 
Este instrumento, elaborado para investigação da prevalência de altera-
ção vocal, sinais, sintomas e fatores associados ao ambiente e organização do 
trabalho, foi uma iniciativa fundamental para a produção de evidências sobre o 
distúrbio de voz e sua relação com o trabalho. 
O questionário foi aplicado preliminarmente em professores da rede mu-
nicipal de ensino de São Paulo. 
Os resultados revelaram alta prevalência de alterações vocais, reforçando 
a relevância dessa iniciativa . Sua versão atualizada conhecida como Protocolo 
 
 
 
30 
Condições de Produção Vocal - Professor (CPV-P) foi aplicada em mais de 
10.000 professores de diferentes realidades e contextos. Uma parte do questio-
nário foi validada e constitui hoje o Índice de Triagem para Distúrbio de Voz 
(ITDV) . 
O caminho para a elaboração do questionário também foi difícil para uma 
área que, historicamente, não estava habituada a estudos epidemiológicos. Por 
outro lado, rendeu aproximações valiosas, a exemplo da Faculdade de Saúde 
Pública da Universidade de São Paulo, que passou a ser parceira e a contribuir 
com as pesquisas. 
No IX Seminário de Voz, realizado em 1999, foram compartilhadas as pri-
meiras evidências de pesquisas nacionais e internacionais desenvolvidas com 
professores, envolvendo licenças e readaptações, assim como legislação nacio-
nal/internacional e práticas de outros profissionais que utilizavam a voz como 
ferramenta de trabalho: locutores, operadores de telemarketing, atores e canto-
res. 
 
Primeiros ganhos políticos e jurídicos 
 
Cada lei é o resultado de uma vitória política. Os movimentos sociais são 
bem-sucedidos quando obtêm alteração legislativa que formalize decisões aco-
lhendo suas demandas. 
A apresentação de um projeto de lei que estabelece um Programa Esta-
dual de Saúde do Professor, por exemplo, seria de grande valia. 
O problema é que, até poucos anos atrás, um projeto como este seria de 
competência exclusiva do governador. 
O Legislativo não podia, por iniciativa própria ou por emenda em projeto 
do Executivo, aumentar as despesas da Administração, conforme a interpreta-
ção então corrente dos artigos 61, § 2º e 63, inciso I, da Constituição da Repú-
blica . 
 
 
 
31 
Para escapar da inconstitucionalidade, o legislador tinha como alternativa 
apresentar projeto de lei permitindo ao Executivo realizar o aumento de despesa. 
Tal alternativa, contudo, não gera direito, uma vez que o programa não foi 
efetivamente criado, apenas foi dada a permissão legal para que o fosse. Entre 
1998 e 2006 foram registradas 22 iniciativas, a maioria proposta pelo Poder Le-
gislativo . 
De 1998 a 2010 somaram-se 66 iniciativas, evidenciando expressivo cres-
cimento nos últimos quatro anos. Das 61 proposições mais diretamente relacio-
nadas à voz do professor, 88,5% eram de programas de saúde vocal . 
Hoje, entretanto, o Supremo Tribunal Federal realiza interpretação mais 
literal dos dispositivos citados acima, permitindo que Programas de Saúde do 
Professor (estaduais ou municipais) possam ser implementados a partir de leis 
de iniciativa parlamentar . 
Ainda em 1999, foi lançada a I Semana Nacional da Voz8 , uma iniciativa 
da Sociedade Brasileira de Laringologia e Voz (SBLV), com apoio da Sociedade 
Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa) e Sociedade Brasileira de Otorrinolaringo-
logia (SBORL), atual Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia 
Cérvico-Facial (ABORL-CCF). 
A campanha jogava luz nos problemas de voz, mediante a divulgação da 
elevada prevalência de câncer de laringe na população brasileira. 
A SBLV era uma sociedade interdisciplinar, composta por médicos e fo-
noaudiólogos fundada para melhor responder às demandas dos profissionais da 
voz. 
As campanhas de voz, embora não relacionadas diretamente à luta pelo 
reconhecimento da DVRT, exerceram papel relevante, dando maior visibilidade 
aos problemas de voz. A iniciativafoi bem-sucedida, sendo abraçada internaci-
onalmente, criando-se o Dia Mundial da Voz . 
 
 
 
32 
 
Dificuldades no estabelecimento do nexo causal 
 
Em 2000, no X Seminário de Voz , houve um revés na luta pelo reconhe-
cimento da relação trabalho-adoecimento vocal, considerando a concepção do 
distúrbio de voz como doença multifatorial. 
A consequência desse entendimento foi aumentar a dificuldade de se es-
tabelecer o nexo causal entre a doença e o trabalho. A discussão privilegiou o 
campo da Epidemiologia e, com base na falta de evidências fortes para susten-
tação do nexo causal (Decreto nº 2.172/97 , que regulamentava os benefícios da 
PS), prevaleceu a impossibilidade de se delimitar o papel do trabalho nessa eti-
ologia. 
Provavelmente a referência ao texto foi equivocada, pois na época já es-
tava em vigor o Decreto nº 3.048/99 , que substituiu o anteriormente mencio-
nado. 
Neste Decreto (1997) há um interessante raciocínio na comparação entre 
entidades nosológicas (baseadas no CID-10), agentes patogênicos causadores 
de doenças profissionais ou do trabalho, agentes/fatores de natureza ocupacio-
nal e a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Contudo, não 
inclui a disfonia, nem a laringopatia como entidades nosológicas, as quais pode-
riam estar associadas a potenciais agentes etiológicos ocupacionais, particular-
mente em atividades profissionais nas quais a voz é o principal instrumento de 
trabalho, como a Educação, o Ensino e o Teleatendimento. 
Por outro lado, apresenta a possibilidade de fornecer auxílio-acidente 
para a situação de “perturbação da palavra”, desde que comprovada por méto-
dos clínicos objetivos. 
O desafio aos profissionais era como operacionalizar o nexo, visto que 
não havia orientação técnica sobre como proceder nos casos de distúrbio da 
voz, ainda não contemplado no manual técnico das DRT do MS . 
 
 
 
33 
A partir de então, houve um direcionamento para a construção de docu-
mentos que trouxessem evidências sobre o DVRT, definissem os fatores de risco 
ocupacionais, quadro clínico e diagnóstico, bem como tratamento, prevenção e 
outras condutas, conforme estabelecido para doenças reconhecidamente relaci-
onadas ao trabalho. 
 
O Ato Médico e a polarização do movimento 
 
Paralelamente ao movimento fomentado pela Faculdade de Fonoaudiolo-
gia da PUC-SP, a classe médica também construiu iniciativas na forma de con-
sensos. Em 2001, a 1ª Reunião Pró-Consenso Nacional sobre Voz Profissio-
nal foi promovida pela atual ABORL-CCF, com a participação do Conselho Re-
gional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ) e da SBLV, sendo 
definidas as bases preliminares para o estabelecimento de um protocolo, inclu-
indo a multifatoriedade e concausalidade do distúrbio de voz, avaliação multipro-
fissional, periodicidade de exames ocupacionais e capacitação profissional. 
Pactuou-se pela consulta aos órgãos de classe envolvidos no documento 
sobre as atribuições, competências, limitações e restrições das profissões nesse 
campo, tendo como pontos discutidos avaliação, tratamento, cuidado, treina-
mento, capacitação e aperfeiçoamento dos indivíduos que utilizam a voz profis-
sionalmente. 
Em 2002, no 2ª Consenso , as discussões ficaram centralizadas nos as-
pectos relativos aos “Atos Médicos”, em especial à anamnese médica; limitações 
e restrições do médico otorrinolaringologista, particularmente quanto à questão 
da aptidão/inaptidão sobre o exercício do trabalho (atribuição do médico do tra-
balho) e situações as quais poderiam fragilizar a classe médica, embora permi-
tindo sua realização aos experientes ou com treino, tais como: execução de te-
rapia vocal, técnicas de canto e opinião sobre o futuro da carreira em decorrência 
da alteração vocal. 
Foram estabelecidas, por fim, competências, limitações e restrições aos 
fonoaudiólogos. 
 
 
 
34 
Neste contexto, evidenciou-se claramente a agenda, com submissão das 
ações fonoaudiológicas aos médicos, restringindo as atividades como diagnós-
tico, solicitação de exames complementares e coordenação de equipes. 
Neste mesmo ano foi proposto no Senado o Projeto de Lei nº 268/02, 
sobre o Ato Médico, aprovado posteriormente como Lei nº 12.842/13 . 
A partir de então, a polarização entre médicos e fonoaudiólogos ficou es-
tabelecida. A SBLV teve o nome modificado para Associação Brasileira de La-
ringologia e Voz (ABLV), restringindo a participação dos profissionais não-médi-
cos somente a cargos secundários. 
A diretoria ficou restrita a médicos, dissolvendo uma entidade que, numa 
perspectiva interdisciplinar, poderia ter um futuro promissor. 
As campanhas de voz passaram a ocorrer de modo paralelo, com inciati-
vas isoladas desses dois grupos profissionais . 
Se, por um lado, houve a perda pela fragmentação das atividades, por 
outro, na tentativa de ampliar espaço na mídia, as campanhas ganharam ênfase 
e passaram a contar com apadrinhamento de artistas, dando maior visibilidade 
aos problemas de voz. 
Iniciativas macropolíticas também se evidenciaram. Em 2003, na 12ª Con-
ferência Nacional de Saúde , foi feita, pela primeira vez, uma indicação para im-
plementação de ações de prevenção e reabilitação da voz para trabalhadores 
submetidos a riscos químicos ou físicos. 
Embora ainda incipiente, essa menção ganhou impacto macroespacial a 
partir do momento em que extrapolou as fronteiras até então circunscritas aos 
universos específicos da Fonoaudiologia e Otorrinolaringologia, vencendo os 
muros da atuação profissional específica no campo da voz, reposicionando-as 
como um problema de Saúde Pública. 
Em 2004, num momento de grande efervescência, foram lançados quase 
que simultaneamente dois importantes documentos, resultado das discussões 
até então realizadas. 
 
 
 
35 
O primeiro deles foi a “Carta Aberta do Rio”, apresentada pela classe mé-
dica no 3º Consenso de Voz Profissional4 , na qual se definiam procedimentos 
técnicos e competências para estabelecimento do nexo causal da doença-traba-
lho, bem como a assistência e vigilância à saúde da LRT. 
Três meses depois, no XIV Seminário da PUC-SP , o CEREST-SP apre-
sentou o documento DRVT com definições análogas. 
A polarização entre as categorias médica e fonoaudiológica ficou ainda 
mais evidente, simbolizada pela terminologia empregada para definir a doença. 
Para os fonoaudiólogos, considerar o distúrbio de voz como entidade nosológica 
implicava ter uma nomenclatura mais ampla, a qual pudesse também contemplar 
as alterações vocais sem lesões estruturais na laringe. 
Para os médicos, o termo laringopatia era o mais adequado, sendo a con-
dição sem lesão estrutural denominada “laringopatia funcional”. 
Naquele momento, o único consenso foi quanto ao termo “disfonia”, abo-
lido por ambas as categorias, devido à sua classificação do CID-10 enquanto 
sintoma. Neste mesmo ano, meses antes, foi publicada uma nova lista de agra-
vos de notificação compulsória do MS, a qual não incluiu nem o distúrbio de voz 
nem a laringopatia nos seus anexos (Portaria MS/GM nº 777/04) . 
 
Foco na notificação do DVRT 
 
Nos anos seguintes, houve amortecimento do movimento, sendo frus-
trada a expectativa de ver os agravos de voz contemplados na lista de DRT. 
Em 2007, outro revés. Foi publicado o Decreto nº 6.042/07 , que alterou 
o Regulamento da PS sem contemplar os agravos de voz. 
Paralelamente, o Senado, promulgou “Voto de Aplauso” aos fonoaudiólo-
gos pelo transcurso do Dia Mundial da Voz. Embora bem-recebida, tal iniciativa 
não resolvia o problema maior, sobre o reconhecimento do DVRT. 
 
 
 
36 
Ainda em 2007, na 13ª Conferência Nacional de Saúde , houve nova men-
ção no eixo “Inéditas” para que as alterações de voz fossem reconhecidas como 
uma doença ocupacional e sua avaliação integrasse os protocolos de saúde, 
estabelecendo uma “Política de Saúde Vocal” para o trabalhador. 
Em 2008foi instituído o “Dia Nacional da Voz” cuja ementa da lei visava 
“conscientizar a população brasileira sobre a importância dos cuidados com a 
voz”. Em termos políticos, os agravos de voz acabam ganhando maior visibili-
dade com essas iniciativas, mas ainda sem o reconhecimento formal como do-
ença ocupacional. 
Paralelamente, numa iniciativa pioneira, o CEREST-RJ solicitou à Secre-
taria Estadual da Saúde a inclusão do agravo “Disfonia Ocupacional” na lista de 
doenças de notificação compulsória como interesse estadual . 
Anos mais tarde, em 2013, foi publicada a resolução que redefiniu a rela-
ção de doenças e agravos de notificação compulsória no estado do Rio de Ja-
neiro, incluindo a disfonia. 
Essa iniciativa foi seguida pelo estado de Alagoas , com publicação da lei 
um ano antes (2012) e pelo município de Niterói-RJ em 2014, que incluíram o 
código do agravo “Disfonia R49. 
0” nas suas listas locais. Alagoas denominou o agravo como “distúrbio de 
voz relacionado ao trabalho”, embora tenha mantido o mesmo código (R49.0) 
para a notificação. 
Essa foi uma iniciativa perspicaz, que se aproveitou do artigo 10º da Por-
taria MS/GM nº 104/11 , no qual é facultada a elaboração de listas estaduais ou 
municipais, de acordo com o perfil epidemiológico local. 
Neste caso, a escolha pelo sintoma disfonia não faria diferença, pois a 
notificação compulsória é prevista em caso de suspeita ou confirmação diagnós-
tica. Embora o distúrbio de voz não seja um agravo local, sua inclusão em lista 
de âmbito restrito foi um caminho para, ao demonstrar a elevada ocorrência do 
agravo, pressionar o MS para sua inclusão na lista nacional de DRTs. 
 
 
 
37 
Contudo, uma grande dificuldade para o êxito dessa estratégia envolve a 
subnotificação, que ocorre também para outros agravos. 
Com a revogação da Portaria MS/GM nº 104/11 , pela substituta Portaria 
MS/GM nº 1.271/14 , deixou de ser prevista a elaboração de listas locais. No 
entanto, isto não significa que as listas existentes passem a ser inválidas, nem 
mesmo significa que não possam ser criadas novas listas municipais ou estadu-
ais. 
A finalidade das portarias citadas é estabelecer quais os agravos serão 
notificados, para que constem na base de dados administrada pelo MS e, assim, 
nas suas estatísticas. 
A criação de listas locais não se funda em mera portaria, mas na autono-
mia dos estados e municípios, prevista constitucionalmente. Eles podem criar 
seus próprios sistemas de informação, para a prestação dos serviços de suas 
competências. 
O Direito Constitucional chama este poder de “competência implícita”: se 
a Carta atribui a uma unidade federativa o dever de prestar um serviço, ficam 
implícitas todas as atribuições que permitirão a ela se realizar essa tarefa. 
“Cuidar da saúde” é “competência comum da União, dos Estados, do Dis-
trito Federal e dos Municípios”, segundo o artigo 23, inciso II da Constituição . 
Portanto, devem ser organizados serviços e ações para o alcance dessa 
finalidade. 
Assim, as listas locais serão sempre válidas, pois representam esforços 
municipais ou estaduais de conhecer a demanda específica de suas áreas de 
abrangência. 
 
 
 
 
 
 
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