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1 Dryele Cruz – Odontologia UFPE SINAIS VITAIS INTRODUÇÃO A anamnese, importante requisito na consulta inicial, permite ao cirurgião-dentista e a outros profissionais de saúde estabelecerem o perfil de saúde dos pacientes, onde é possível identificar não somente doenças sistêmicas, mas também medicamentos usados de forma contínua pelo paciente, que podem provocar reações indesejáveis quando associados a outros fármacos empregados durante alguns procedimentos. Ademais, é possível saber sobre intercorrências anteriores ocorridas durante outros atendimentos [5]. A fim de auxiliar a anamnese, a Association Society of Anesthesiologists (Associação Americana de Anestesiologia) propôs um sistema de classificação dos pacientes adultos de acordo com seu estado físico (Physical Status), chamada ASA-PS, no qual os pacientes são distribuídos em seis categorias. Classifica-se como ASA-I os pacientes considerados saudáveis, excluídos os pacientes muito jovens ou idosos. Pacientes portadores de doença sistêmica moderada ou severa, são classificados no ASA-II e ASA-III, respectivamente. Os pacientes que apresentam constante risco de morte pertencem ao grupo ASA-IV. No ASA-V e ASA-VI classificam-se os pacientes que encontram-se em fase terminal, cuja expectativa de vida não ultrapassa 24h e o tratamento é contraindicado, e os pacientes com morte cerebral declarada, nesta ordem [1]. Consta ainda, na anamnese, a avaliação dos sinais vitais que indicam o estado de saúde do paciente, bem como a eficiência das funções circulatórias, respiratórias, neural e endócrina do corpo humano. Esta avaliação faz parte do exame físico e deve ser feita em toda consulta inicial e antes de cada sessão de atendimento no caso dos idosos, gestantes e portadores de doenças cardiovasculares [2]. Vê-se também a necessidade de uma boa avaliação dos sinais vitais do paciente em casos de urgência e emergência, pois estas implicam em atendimentos imediatos, ou seja, atuam ao detectar e tratar sintomas que podem se agravar em pouco tempo, como insuficiência respiratória e alterações circulatórias, por exemplo. Dessa forma, percebe- se que a aferição dos sinais vitais possui a importância na detecção do estado físico de pacientes, visto que fornecem informações importantes para que se possa determinar o tratamento a ser iniciado [5]. 2 Dryele Cruz – Odontologia UFPE DESENVOLVIMENTO A aferição dos sinais vitais baseia-se na obtenção de pulso, pressão arterial, frequência respiratória, temperatura, altura, peso e Índice de Massa Corporal (IMC), devendo constar no prontuário clínico odontológico, uma vez que poderão servir como padrão em casos de emergência e urgência [1]. 1. Pressão arterial sanguínea A pressão arterial consiste em pressão sistólica e diastólica, sendo a primeira exercida no momento em que o coração ejeta sangue para a aorta, e a segunda imediatamente antes do próximo batimento cardíaco, podendo ser definida, em sua totalidade, como a pressão exercida pelo sangue contra as paredes internas das artérias [4,5]. Para que os valores obtidos sejam fidedignos, é necessário que o paciente esteja sentado e descansado por no mínimo 5 minutos, não estar com a bexiga cheia e não tenha praticado exercícios físicos [1]. Para aferir a pressão arterial, pode-se utilizar de duas técnicas: pelo método auscultatório esfigmomanométrico ou pelo método oscilométrico, por meio de aparelhos semiautomáticos [4]. 1.1 Método auscultatório esfigmamonométrico São utilizados os aparelhos aneroides, que devem ser calibrados ao menos uma vez ao ano, a fim de se obter valores precisos referentes à pressão sistólica e diastólica. Os equipamentos básicos consistem em um estetoscópio e um esfigmomanômetro com braçadeira, além do manômetro aneroide, sendo os resultados em milímetros de mercúrio [1]. Para determinar a pressão sanguínea arterial pelo método auscultatório, é necessário realizar a palpação da artéria braquial, a qual está localizada na região medial da fossa antecubital, posicionando o diagragma do estetoscópio neste mesmo local, sobre a artéria braquial. Em seguida, infla-se a braçadeira até 30mmHg acima da pressão sistólica palpatória. Libera-se gradualmente a pressão na braçadeira até que o primeiro som seja ouvido no estetoscópio, configurando a pressão sanguínea sistólica. A partir do momento em que o som silenciar ou se tornar abafado, define-se a pressão diastólica [1]. 3 Dryele Cruz – Odontologia UFPE 1.2 Método oscilométrico Este método faz uso de aparelhos digitais, que são adaptados ao braço ou ao pulso, sem a necessidade de auxílio de um estetoscópio, uma vez que detectam o fluxo sanguíneo através da artéria e o convertem em leitura digital. Além disso, eles ainda avaliam a frequência cardíaca [1]. Não há uma combinação precisa de valores para estabelecer uma pressão arterial normal, mas, de modo geral, entende-se que o valor de 120/80 mmHg é o parâmetro considerado ideal [4]. No entanto, valores de até 140 mmHg para a pressão sistólica e 90 mmHg para a pressão diastólica podem ser considerados normais [1]. Entretanto, deve-se levar em consideração o estresse decorrente do tratamento odontológico, que pode vir a ser um dos fatores que interfere na pressão arterial, especialmente nos pacientes que possuem medo e ansiedade [3]. Quanto à frequência em que a aferição da pressão arterial deve ser realizada nas consultas, é indicado que pacientes adultos classificados na faixa ASA-I devem ter suas pressões registradas a cada 6 meses. Já os pacientes que que estão nas categorias ASA-II, ASA-III e ASA-IV devem ser monitorados com maior frequência. Pacientes hipertensos devem ter sua pressão arterial monitorada a cada consulta odontológica. Tais recomendações são de extrema necessidade, uma vez que podem minimizar a ocorrência de complicações no consultório odontológico [1]. 2. Pulso O pulso é a onda de distensão da artéria transmitida pela pressão que o coração exerce sobre o sangue, podendo ser avaliado por qualquer artéria acessível, sendo mais comum em crianças e adultos nas artérias carótida e radial, e na artéria braquial em bebês. Em casos de emergência, é preferencial que o pulso seja obtido através da artéria carótida, uma vez que ela libera sangue oxigenado para o cérebro [1]. A palpação do pulso, feita pelos dedos indicador e médio, deve ser leve o suficiente para sentir a pulsação, mas não tão firme a ponto de ocluir a artéria. O pulso deve, então, ser avaliado como forte (cheio) ou fraco (filiforme), sendo o pulso forte um possível indicador de pressão arterial elevada, e o pulso fraco um possível indicador de pressão arterial baixa [1]. A frequência cardíaca deve ser avaliada, de forma ideal, por 60 segundos. A frequência normal de um adulto é em torno de 60 a 110 batimentos por minuto (bpm), já em um atleta bem condicionado é em torno de 40 a 60 bpm. Pacientes ansiosos ou apreensivos a FC pode ser mais elevada [1,2,5]. 4 Dryele Cruz – Odontologia UFPE O coração geralmente mantém um ritmo sinusal normal, que é relativamente regular, podendo haver contrações ventriculares prematuras ocasionais, chamadas extrassístoles. Entretanto, são detectadas mais de 5 extrassístoles em um minuto, uma consulta médica deve ser considerada. Ademais, fatores como estresse, fumo, consumo de álcool, fadiga e uso de alguns medicamentos podem produzir extrassístoles [1]. 3. Frequência respiratória A determinação da frequência respiratória pode ser errônea caso o avaliador avise ao paciente que irá avaliar sua respiração. Por isso, é indicado que a monitoração da frequência respiratória seja realizada logo após a avaliação do pulso, mantendo-se os dedos no pulso radial ou braquial do paciente, contando-se o número de incursões respiratórias através dos movimentos da caixa torácicapor no mínimo 30 segundos ou 1 minuto [1]. A frequência normal em adultos é entre 16 e 18 respirações por minuto. Se a frequência for inferior ao indicado, configura-se bradpneia, se for superior, classifica-se como taquipneia, e, na ausência de ritmo, dispneia. Na odontologia, a hiperventilação quase sempre é uma manifestação de ansiedade. Entretanto, qualquer modificação na frequência ou profundidade da respiração deve ser avaliada antes do início do tratamento odontológico [2]. 4. Temperatura A temperatura do paciente, sempre que possível, deve ser monitorada oralmente, através de um termômetro esterilizado e com temperatura previamente reduzida ou através da medição axilar, mais comumente utilizada no Brasil. A faixa normal da temperatura oral verdadeira varia de 36,1 a 37,5°C. Já a temperatura corporal varia entre 0,25 a 1,1°C durante o dia, além disso, ela costuma ser mais baixa pelo começo da manhã e mais alta no final da tarde [2,5]. O aumento da temperatura além dos 37,5°C representa a febre, já um aumento da temperatura acima dos 38,3°C geralmente configura a presença de um processo patológico ativo. Se a temperatura do paciente for igual ou maior do que os 40°C, a consulta médica deve ser indicada. Nesse caso, o tratamento odontológico eletivo desse paciente está contraindicado e limitado apenas à administração de medicamentos, visto que esse paciente se torna menos tolerável a um estresse adicional do que ele normalmente seria em uma situação normal [1]. 5 Dryele Cruz – Odontologia UFPE 5. Altura e peso É recomendado que os pacientes sejam questionados quanto a suas alturas e pesos, pois, tendo em vista que são mensurações variáveis, uma obesidade acentuada ou um paciente com baixo peso extremo pode indicar a presença de um processo patológico ativo. Como por exemplo os pacientes com desordens endócrinas ou até mesmo um com estágios terminais de AIDS, em ambos é indicado uma consulta médica antes de realizar o tratamento odontológico. Pessoas altas demais são conhecidas como gigantes, já as mais baixas que o normal, são consideradas anões, nesses dois casos pode haver uma disfunção de glândula endócrina e não é necessária uma prévia avaliação médica para prosseguir com o tratamento odontológico planejado [1]. 6. Indice de Massa Corpórea (IMC) O IMC (Índice de Massa Corpórea), que se refere a um número calculado a partir do peso e da altura do paciente, deve ser também utilizando como uma ferramenta de triagem, a fim de identificar possíveis problemas de peso. Com essa informação, será possível que o profissional da saúde consiga determinar se o excesso ou a falta de peso irá presentar algum risco na vida desse paciente. Para o cirurgião-dentista, o IMC será útil para avaliação de um potencial risco do paciente diante da possibilidade de desenvolver-se alguma emergência médica [1]. 6 Dryele Cruz – Odontologia UFPE CONCLUSÃO A prevenção, através de uma anamnese detalhada e avaliação dos sinais vitais, é fundamental para evitar um quadro de emergência durante o atendimento odontológico, tendo-se em vista que, algumas alterações, como por exemplo, da pressão arterial e das frequências cardíaca e respiratória, são contra indicadores da realização de determinados procedimentos, uma vez que podem levar a complicações durante o atendimento, seja pelo próprio estresse dos procedimentos, ou até mesmo em função dos diferentes fármacos associados à execução de alguns procedimentos odontológicos. Para tanto, a pressão sanguínea arterial, a frequência e o ritmo cardíaco, e a frequência respiratória devem sempre ser avaliadas e registradas como parte integral da avaliação física de rotina para todos os pacientes, pois fornecem informações sobre a condição do sistema cardiorrespiratório do paciente. Já o registro dos sinais vitais remanescentes – temperatura, altura e peso – é recomendável, porém opcional. Entretanto, nos casos em que medicamentos parenterais serão administrados, especialmente em pacientes mais jovens e de baixo peso, o registro do peso do paciente se torna de considerável importância. Portanto, a fim de que imprevistos sejam evitados, é indicado que o profissional realize uma boa anamnese, conheça possíveis doenças atuais, histórico familiar e hábitos nocivos de seu paciente, realizando a aferição dos sinais vitais de forma rotineira em todos os atendimentos odontológicos, desde os pacientes com história de hipertensão arterial, até os pacientes normotensos. 7 Dryele Cruz – Odontologia UFPE BIBLIOGRAFIA [1]. MALAMED SF. Emergências Médicas em Odontologia. 7.ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016. [2]. TEIXEIRA CC et al. Aferição de sinais vitais: um indicador do cuidado seguro em idosos. Texto & Contexto-Enfermagem 2015; 24: 1071-1078. [3]. BOFF E, PALMA LZ. Avaliação da pressão arterial no atendimento odontológico como forma de busca ativa de novos casos de hipertensão arterial sistêmica. In: 6º Congresso Internacional em Saúde; 2019 mai 14-17; Rio Grande do Sul, Brasil. [4]. DE SOUZA ES, DE OLIVEIRA MVP, BARBOSA CP. Importância do conhecimento do cirurgião dentista sobre pressão arterial, fatores modificadores e complicações sistêmicas durante atendimento cirúrgico. Arquivos do Museu Dinâmico Interdisciplinar 2016; 20:44-58. [5]. NISHIDA JK, VIEIRA M, NASSAR V. Processo interativo para aferição de sinais vitais de pacientes: proposta de uma pulseira multiparamétrica. Blucher Design Proceedings 2016; 2: 3991-4001.