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Animais Peçonhentos APRESENTAÇÃO: PROF. CLARISSA CERQUEIRA @draclarissacerqueira Olá, Revalidando(a), tudo bem? Quero começar este livro me apresentando! Meu nome é Clarissa, sou formada em Medicina pela EBMSP em Salvador-BA e fiz Residência em Infectologia no Instituto de Infectologia Emílio Ribas em São Paulo. Em seguida, subespecializei-me em infecções em imunocomprometidos pela USP-SP e fiz pós-graduação em controle de infecção hospitalar no Hospital Israelita Albert Einstein em São Paulo-SP. Depois de muito estudo, sinto muita segurança em trazer para você todo o conhecimento de que precisa para passar no Revalida. Esse é nosso objetivo aqui no Estratégia MED: sua aprovação na prova. Hoje, estou aqui para ensinar sobre os acidentes de animais peçonhentos. É um tópico interessante, porém pouco frequente nas provas do Revalida. Após uma análise dos últimos 10 anos de prova, vi que esse assunto corresponde a cerca de 3,4% das questões da infectologia. Foram somente 6 questões de um total de 176 da especialidade. O Revalida INEP é uma banca que aparenta “gostar” desse assunto. Dos anos de 2011 a 2021, das https://www.instagram.com/draclarissacerqueira/ https://www.instagram.com/draclarissacerqueira/?hl=pt-br Animais Peçonhentos @estrategiamed /estrategiamed Estratégia Med t.me/estrategiamed 116 questões de infectologia dessa banca, 4 delas (cerca de 3,4%) eram de animais peçonhentos. Nos últimos dois anos, caíram questões sobre o acidente crotálico e o escorpionismo. Nos anos anteriores, já cobraram sobre o acidente botrópico e o araneísmo. Quando a gente analisa a outra banca, isto é, a UFMT, percebe que, de 2010 até 2021, de um total de 60 questões de infectologia, eles só cobraram 2 questões. Uma sobre acidente botrópico, em 2013, e outra mais recente, de 2021, porém sobre um envenenamento pelo baiacu. Olhe, aqui, a prevalência dos tópicos abordados neste livro: Abordarei o ofidismo (principalmente acidente botrópico e crotálico), o escorpionismo e o araneísmo. Também trarei várias dicas para você memorizar e diferenciar cada acidente por animal peçonhento. Já adianto uma: preste bem atenção às informações em negrito. Preparado(a)? Vamos começar! https://www.instagram.com/estrategiamed/ https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw?sub_confirmation=1 https://t.me/estrategiamed 4Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos SUMÁRIO 1.0 OFIDISMO 6 1.1 MEDIDAS GERAIS APÓS ACIDENTE OFÍDICO 6 1.2 ACIDENTE BOTRÓPICO 7 1.2.1 AÇÕES DO VENENO 7 1.2.2 MANIFESTAÇÕES LOCAIS 8 1.2.3 MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS 8 1.2.4 TRATAMENTO 10 1.3 ACIDENTE CROTÁLICO 11 1.3.1 AÇÕES DO VENENO 12 1.3.2 MANIFESTAÇÕES LOCAIS 12 1.3.3 MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS 12 1.3.4 TRATAMENTO 13 1.3 ACIDENTE LAQUÉTICO 14 1.4 ACIDENTE ELAPÍDICO 15 1.5 RESUMO DE ACIDENTES OFÍDICOS 16 2.0 ESCORPIONISMO 17 2.1 AÇÃO DO VENENO 17 2.2 MANIFESTAÇÕES LOCAIS 17 2.3 MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS 17 2.4 TRATAMENTO 18 3.0 ARANEÍSMO 20 3.1 PHONEUTRIA 20 3.2 LOXOSCELES 20 5Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos 3.2.1 AÇÃO DO VENENO 21 3.2.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 21 3.2.3 TRATAMENTO 22 3.3 LATRODECTUS 23 3.4 RESUMO DO ARANEÍSMO 24 4.0 OUTROS 25 5.0 LISTA DE QUESTÕES 26 6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 27 7.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 27 6Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos 1.0 OFIDISMO CAPÍTULO O ofidismo é o acidente causado por serpentes peçonhentas. Elas são aquelas que apresentam em comum a fosseta loreal, que é um órgão sensorial termorreceptor e que fica entre o olho e a narina da serpente (figura 1). Esses acidentes acometem principalmente os membros inferiores de pessoas que frequentam a zona rural. Figura 1. A seta branca aponta para a fosseta loreal. Todas as serpentes que possuem esse órgão são peçonhentas. Fonte: Trello. São quatro gêneros de serpentes peçonhentas que você precisa saber: Bothrops, Crotalus, Lachesis e Micrurus. Dessas quatro, a única serpente que não tem fosseta loreal é a do gênero Micrurus, mais conhecida como cobra coral e que causa o acidente elapídico. As demais serpentes, que possuem a fosseta loreal, você consegue diferenciar pela cauda: • Cauda lisa: Bothrops • Cauda com chocalho: Crotalus • Cauda com escamas eriçadas: Lachesis No Brasil, a maioria dos acidentes ofídicos é causada por serpentes do gênero Bothrops, correspondendo a cerca de 90% do total de casos. Em segundo lugar, está o crotálico, seguido do laquético e elapídico. Olhe esta dica: Para saber a ordem de prevalência dos acidentes por serpentes, lembre-se que no alfabeto, a letra “B”, de “botrópico”, vem antes das iniciais dos outros acidentes ofídicos (“C”, “L” e “E”). Neste livro, vou explicar a você as principais diferenças entre esses quatro acidentes com foco no acidente botrópico e crotálico, que são os mais cobrados nas provas do Revalida. 1.1 MEDIDAS GERAIS APÓS ACIDENTE OFÍDICO Após um acidente ofídico, algumas medidas de primeiros socorros devem ser tomadas, como lavar a ferida com água e sabão, manter o paciente deitado e hidratado, procurar atendimento médico e, se possível, levar o animal para identificação. 7Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos É importante também saber o que não fazer, como, por exemplo, não fazer torniquete ou garrote, pois o veneno é concentrado no local e pode piorar as manifestações clínicas. Além disso, não é recomendado cortar o local da picada, perfurar ao redor do local da picada, colocar folhas, pó de café ou outras substâncias nem oferecer bebidas alcoólicas ou outros tóxicos. 1.2 ACIDENTE BOTRÓPICO O acidente botrópico é o mais comum do Brasil. Ele é causado pela Bothrops jararaca e Bothrops jararacussu, serpentes mais conhecidas como jararaca. Elas têm fosseta loreal, e suas caudas são lisas (figura 2). Figura 2. Serpente da espécie Bothrops jararaca. Fonte: Shutterstock. 1.2.1 AÇÕES DO VENENO Seu veneno tem três ações principais: coagulante, hemorrágica e proteolítica. 8Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos 1.2.2 MANIFESTAÇÕES LOCAIS Em decorrência das ações do veneno, o paciente geralmente evolui com manifestações importantes no local da picada, como dor, edema, bolhas e sangramentos. Complicações como síndrome compartimental, formação de abscessos e necrose com risco de amputação do membro podem acontecer. Figura 3. Manifestações locais do acidente botrópico. Observe a equimose e as bolhas. Fonte: Trello. 1.2.3 MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS O paciente pode apresentar manifestações hemorrágicas, como epistaxe, gengivorragia e hematúria. Casos mais graves podem evoluir com insuficiência renal aguda e choque. Em decorrência da ação coagulante do veneno, o tempo de coagulação (TC) pode estar alterado. Para ajudá-lo a lembrar as principais manifestações clínicas do acidente botrópico, memorize o seguinte macete: 9Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos Com base nessas manifestações clínicas, o acidente botrópico pode ser classificado da seguinte forma: • Leve: dor e edema ausentes ou pouco intensos com ou sem sangramentos locais. • Moderado: dor e edema evidente que ultrapassa o segmento anatômico picado, com ou sem sangramentos locais ou sistêmicos. • Grave: manifestações locais podendo atingir todo o membro picado, geralmente há bolhas e podem aparecer sinais de isquemia. CAI NA PROVA (Revalida UFMT – 2013) Menino de 8 anos de idade foi picado por cobra. Quando examinado, duas horas após o acidente ofídico, o menino apresentava-se com dor intensa, edema importante e bolhas no membro afetado, hematúria macroscópica e pPressão Aarterial (PA) – de 80 x 30 mmHg. Exame de sangue – incoagulável. (Pressão Aarterial para essa idade:sistólica varia de 88–110 mmHg e diastólica de 58–78 mmHg). Para o tratamento, o médico precisa classificar o quadro quanto à gravidade e prescrever o tipo de soro adequado para o caso. Assinale a alternativa que apresenta a classificação do caso e o tipo de soro que essa criança deve receber. A) Caso moderado e soro anticrotálico. B) Caso moderado e soro antibotrópico. C) Caso grave e soro antibotrópico. D) Caso grave e soro antilaquético. COMENTÁRIOS Estamos, aqui, diante de um acidente ofídico que leva a manifestações importantes no local da picada e manifestações sistêmicas como sangramentos (hematúria) e alargamento do tempo de coagulação. Quem faz isso? O acidente botróPICO. Nesse caso, o acidente é grave, pois há acometimento do membro e não somente de um seguimento. Após essa análise, já podemos responder que o gabarito é a letra C. 10Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos 1.2.4 TRATAMENTO A) Soro antilonômico. B) Soro anticrotálico. C) Soro antibotrópico. D) Soro antilaquético. E) Soro antielapídico. O tratamento deve ser feito com hidratação venosa, antibióticos se houver infecção secundária, analgesia e soroterapia, com o soro antibotrópico, ou soro antibotrópico-crotálico ou antibotrópico-laquético. O tempo de coagulação é muito importante para avaliar a resposta ao tratamento. Após 24 horas da soroterapia, ele deve ser repetido e, caso permaneça alterado, estão indicadas mais duas ampolas de soro antibotrópico. Gabarito: alternativa C. Incorreta a Alternativa A incorreta. O acidente crotálico não se apresenta com manifestações importantes no local da picada e nem com sangramentos. Incorreta a Alternativa B incorreta. O acidente é botrópico, porém é grave, e não moderado. Correta a Alternativa C correta. Como lhete expliquei, esse acidente é o botrópico, e o caso é grave. Incorreta a Alternativa D incorreta. O acidente laquético é idêntico ao botrópico, porém com a associação de sinais e/ou sintomas de estimulação vagal. Não observamos esses achados no quadro desse paciente CAI NA PROVA (Revalida INEP – 2011) No atendimento do Pronto-Socorro, é admitido um jovem de 19 anos, de origem indígena, que narra ter sido vítima de uma picada de cobra na mão direita, há aproximadamente 30 minutos, relatando dor local. Você constata edema e equimose local. Outros habitantes da aldeia onde reside o rapaz trouxeram a cobra sem vida ao hospital na esperança de que isso pudesse ajudar na identificação da espécie da cobra que o havia picado. À observação, nota-se que a cobra tem fosseta loreal e cauda lisa. Considerando o quadro clínico, as características da cobra e a epidemiologia brasileira dos envenenamentos por animais peçonhentos, que tipo de soro antiofídico deverá ser administrado? 11Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos COMENTÁRIOS Temos, aqui, um paciente com dor, edema e equimose no local da picada de uma cobra. Essa cobra tem fosseta loreal presente e cauda lisa. Tudo isso é característico do acidente botrópico causado pela jararaca. O tratamento específico consiste na administração do soro antibotrópico por via intravenosa. Incorreta a Alternativa A incorreta. O acidente por lonômia é aquele causado por lagartas. Incorreta a Alternativa B incorreta. O acidente crotálico é o causado pela cascavel, que tem cauda com chocalho. Além disso, seu veneno não leva ao aparecimento de manifestações clínicas importantes no local da picada. Correta a Alternativa C correta. A Bothrops jararaca, serpente responsável pelo acidente botrópico, pode levar a todas essas manifestações descritas e ela possui fosseta loreal e cauda lisa. Incorreta a Alternativa D incorreta. O acidente láctico é aquele causado pela serpente comumente conhecida como Ssurucucu. Ela tem a calda com escamas eriçadas. Incorreta a Alternativa E incorreta. Quem causa o acidente elapídico é a cobra coral e ela não tem fosseta loreal. Gabarito: alternativa C. 1.3 ACIDENTE CROTÁLICO Esse acidente é o causado pelas serpentes da espécie Crotalus durissus. Popularmente, são conhecidas como cascavel. Possuem fosseta loreal e um chocalho em sua cauda (figura 4). Figura 4. Serpente da espécie Crotalus durissus, mais conhecida como cascavel. Perceba seu chocalho na cauda. Fonte: Shutterstock. Dica: Para lembrar qual é a serpente que causa o acidente crotálico e como identificá-la, lembre-se: Crotálico – Cascavel - Chocalho 12Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos Não confunda: esse acidente não causa hematúria, mas, sim, mioglobinúria. 1.3.1 AÇÕES DO VENENO Seu veneno tem ação neurotóxica, miotóxica e coagulante. 1.3.2 MANIFESTAÇÕES LOCAIS Ao contrário do acidente botrópico, esse veneno não tem ação importante no local da picada. Quando presentes, as manifestações são leves, como a presença de parestesias e eritema. 1.3.3 MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS Como consequência da ação neurotóxica, o paciente pode apresentar uma paralisia de evolução craniocaudal que se inicia com ptose palpebral, turvação visual e oftalmoplegia (fácies miastênica). Com o passar das horas, pode acometer a caixa torácica e o paciente evoluir com insuficiência respiratória. Por conta da ação miotóxica, o paciente pode apresentar mialgia, rabdomiólise, mioglobinúria e insuficiência renal. Uma dica para você não se esquecer disso: esse acidente causa uma urina cor de “CRoca-Cola”. Figura 5. Aqui, temos um paciente com fácies miastênica (perceba a ptose palpebral e a flacidez da musculatura facial). Ao lado, você consegue perceber a evolução da cor da urina entre a admissão do paciente e 48h após. Isso é decorrência da mioglobinúria. Frequentemente, o paciente queixa-se de urina com cor de Coca-Cola. Fonte: Trello. 13Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos Para ajudá-lo a lembrar as principais características clínicas do acidente crotálico, memorize o seguinte macete: 1.3.4 TRATAMENTO O tratamento deve ser feito com medidas gerais, como hidratação venosa, antibióticos se houver infecção secundária e analgesia e soroterapia. O tratamento específico deve ser feito com o soro anticrotálico ou antibotrópico- crotálico. A diurese osmótica pode ser induzida com o uso do manitol ou da furosemida caso o paciente permaneça oligúrico. O pH urinário deve ser mantido acima de 6,5 para evitar precipitação da mioglobina, logo, se for necessário, deve ser feito bicarbonato de sódio. CAI NA PROVA (Revalida INEP – 2021) Uma criança com 7 anos de idade, moradora de zona rural, relata acidente por animal desconhecido há 4 horas. No momento, refere formigamento no local da picada, boca seca, diplopia, dificuldade de deglutição, dores musculares generalizadas, oligúria e urina com coloração vermelha escura. Ao exame físico, apresenta ptose palpebral bilateral e midríase. O resultado do exame de urina rotina evidenciou mioglobinúria. Exames de sangue ainda em processamento. Com base nesses dados, qual é a soroterapia específica indicada ao quadro? A) Soro anti-botrópico. B) Soro anti-escorpiônico. C) Soro anti-crotálico. D) Soro anti-elapídico. 14Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos Seu veneno tem quatro ações: coagulante, hemorrágica, proteolítica e neurotóxica, por estimulação vagal. Clinicamente, seu acidente é idêntico ao botrópico, porém, pela ação neurotóxica, o paciente pode apresentar uma síndrome vagal com náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarreia, hipotensão, tontura e bradicardia. Além das medidas gerais, como hidratação venosa, o tratamento específico deve ser feito com o soro antilaquético ou antibotrópico-laquético. COMENTÁRIOS Essa questão traz o caso de uma criança picada por uma serpente que, em seguida, evolui com manifestações neurológicas (Cérebro), insuficiência renal e mioglobinúria (urina cor de Croca-cola). Quem justifica todos esses achadosé o acidente Crotálico (pela Cascavel),. Llembre-se. Incorreta a Alternativa A incorreta. Nos acidentes botrópicos (jararaca), as manifestações locais são mais importantes, com dor, edema endurado, bolhas, podendo ter necrose, o que não corresponde ao apresentado pela criança da questão. Incorreta a Alternativa B incorreta. Os acidentes por escorpiões causam principalmente dor local, podendo ser acompanhada por parestesia, e a criança da questão não refere dor. Além disso, o acidente por escorpião não leva àa mioglobinúria. Correta a Alternativa C correta. Como já vimos, como a paciente foi vítima de um acidente crotálico, a soroterapia indicada é o soro anticrotálico. Incorreta a Alternativa D incorreta. Os acidentes elapídicos (cobra-coral) caracterizam-se por fraqueza muscular progressiva. Não levam àa insuficiência renal com mioglobinúria. Gabarito: alternativa C. 1.3 ACIDENTE LAQUÉTICO O acidente laquético é causado por serpentes do gênero Lachesis, que popularmente são conhecidas como surucucu. Elas possuem fosseta loreal e cauda com escamas eriçadas (figura 6). Figura 6. Serpente da espécie Lachesis muta. Fonte: Shutterstock. 15Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos 1.4 ACIDENTE ELAPÍDICO O acidente elapídico é causado por serpente do gênero Micrurus, popularmente conhecida como cobra- coral. Ela não tem fosseta loreal e seu corpo é coberto de anéis (figura 7). Figura 7. Serpente da espécie Micrurus lemniscatus. Fonte: Shutterstock. Seu veneno tem somente ação neurotóxica, e o paciente pode evoluir clinicamente com fraqueza muscular progressiva. Isso pode levar ao aparecimento de fácies miastênica, ptose palpebral e dificuldade em manter a postura ereta (semelhante ao acidente crotálico). Com a progressão do quadro e comprometimento da musculatura respiratória, o paciente pode apresentar apneia com insuficiência respiratória aguda. Para facilitar a memorização desse acidente, tente associar o nome “ELApídico” à ELA (esclerose lateral amiotrófica). São doenças bem diferentes, porém, como a ELA é caracterizada por fraqueza muscular, dá para você fazer essa associação e lembrar do acidente elapídico. O tratamento é feito com soro antielapídico e, caso o paciente evolua para insuficiência respiratória, a neostigmina e atropina podem ser utilizadas. 16Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos 1.5 RESUMO DE ACIDENTES OFÍDICOS Para ajudá-lo a lembrar os pontos mais importantes discutidos, trago, aqui, este resumo para você comparar todos os acidentes ofídicos: Tabela 1: Acidentes ofídicos. 17Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos 2.0 ESCORPIONISMO Os acidentes por escorpião acometem principalmente crianças e adolescentes, em seus membros superiores. As principais espécies responsáveis por esse acidente são Tityus serrulatus, que é o causador da maioria e da maior gravidade dos casos, o T. bahiensis e T. stigmurus. Figura 8. Tityus serrulatus. Fonte: Shutterstock. 2.1 AÇÃO DO VENENO O veneno do escorpião tem somente ação neurotóxica. 2.2 MANIFESTAÇÕES LOCAIS O acidente caracteriza-se por dor intensa no local da picada e, às vezes, parestesias. 2.3 MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS Em decorrência da ação neurotóxica do veneno, o paciente apresenta um quadro de disautonomia, que, a depender do neurotransmissor (noradrenalina/adrenalina ou acetilcolina), pode evoluir com efeitos simpáticos ou parassimpáticos. Por conta disso, o quadro clínico do escorpionismo é muito variado. Sinais e sintomas sistêmicos podem acometer diversos órgãos, e o paciente pode apresentar sudorese, náuseas, vômitos, taquicardia e taquipneia, salivação excessiva, bradicardia, insuficiência cardíaca, convulsões, edema pulmonar, choque e coma. Alguns exames bioquímicos, como a creatinofosfoquinase (CPK), sua fração MB, a amilase e a glicemia podem estar elevadas. O sódio e potássio geralmente estão baixos. Os casos que apresentem somente dor no local são classificados como leves, e aqueles com manifestações sistêmicas são classificados como moderados ou graves. Logo mais, quando abordarmos o tratamento, vou explicar melhor a você sobre essa classificação. Como o veneno pode acometer o coração e/ ou pulmão, faz parte da investigação da gravidade desses casos a realização de radiografia de tórax, ECG e ecocardiograma. CAPÍTULO 18Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos 2.4 TRATAMENTO O tratamento com a soroterapia específica é recomendado somente nos casos moderados a graves e é feito com a administração do soro antiescorpiônico ou antiaracnídico da forma mais rápida possível. Casos leves devem ser manejados com analgesia sistêmica ou com infiltração de anestésico sem vasodilatador e observação clínica por 4 a 6 horas após o acidente. Gravidade Características Tratamento Leve Dor e parestesia no local. Sintomático. Observar. Moderado Dor local intensa associada a uma ou mais das seguintes alterações: náuseas, vômitos, agitação, sudorese profusa, sialorreia, taquipneia e taquicardia. Soro antiescorpiônico ou antiaracnídico 2 a 3 ampolas. Grave Além das manifestações da forma moderada, uma ou mais das seguintes manifestações: vômitos profusos e incoercíveis, sudorese profusa, sialorreia intensa, prostração, convulsão, coma, bradicardia, insuficiência cardíaca, edema pulmonar agudo e choque. Soro antiescorpiônico ou antiaracnídico 4 a 6 ampolas. Revise, aqui, os pontos mais importantes sobre o escorpionismo e memorize-os: 19Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos CAI NA PROVA (Revalida INEP – 2020) Um adolescente com 13 anos de idade é atendido no pronto-socorro devido à picada de escorpião no dedo indicador esquerdo. Em exame físico, apresenta sinais vitais estáveis, dor intensa, hiperemia e formigamento no local da picada, associados a náuseas, vômitos, sudorese e sialorreia discretos. Além do alívio da dor, a conduta recomendada é A) Observação domiciliar por 6 a 12 horas. B) Observação hospitalar por 6 a 12 horas. C) Soro anti-escorpiônico 2 a 3 ampolas. D) Soro anti-escorpiônico 4 a 6 ampolas. COMENTÁRIOS Temos, aqui, um adolescente picado por um escorpião e que tem sintomas no local da picada, como dor, e algumas manifestações sistêmicas discretas (náuseas, vômitos, sudorese e sialorreéia). Isso caracteriza o acidente como moderado, e estãoá indicadaso 2 a 3 ampolas de soro antiescorpiônico ou antiaracnídico. Incorretas As alternativas A e B estão incorretas, pois trata-se de um acidente moderado com indicação de soroterapia. Incorreta A alternativa B está incorreta, pois trata-se de um acidente moderado, e está indicado o soro antiescorpiônico (SAEEs) ou antiaracnídico (SAAr), 2 a 3 ampolas IV. Correta A alternativa C está correta, pois trata-se de um acidente moderado. Incorreta A alternativa D está incorreta. A soroterapia com 4 a 6 ampolas está indicada para casos graves, que não é o caso desse paciente. Gabarito: alternativa C. 20Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos 3.0 ARANEÍSMO Vamos começar a estudar os acidentes por aranhas. São três que você precisa saber: o acidente pela Phoneutria, Loxosceles e Latrodectus. De todos eles, o mais importante para a prova é o acidente por Loxosceles. É por isso que vou abordar esse tópico com mais profundidade. 3.1 PHONEUTRIA Essa aranha é popularmente conhecida como aranha armadeira. Seu veneno tem ação neurotóxica e pode levar a um quadro de disautonomia. Ele pode ser confundido clinicamente com o acidente por escorpião. As manifestações no local da picada são importantes e imediatas. O paciente geralmente refere dor, eritema, edema, parestesia e sudorese. Alguns casos podem apresentar manifestações sistêmicas mais graves, como taquicardia,sialorreia, diarreia, priapismo, hipertonia muscular, choque e edema agudo de pulmão. Figura 9. Aranha do gênero Phoneutria. FONTE: Shutterstock. O tratamento é feito com sintomáticos, como uso de analgésicos, e/ou infiltração de anestésicos. Casos graves, aqueles com manifestações sistêmicas, têm indicação de soroterapia (soro antiaracnídico). 3.2 LOXOSCELES Esse gênero corresponde às aranhas conhecidas como aranhas-marrons. Elas não são agressivas e refugiam-se no interior de sapatos e roupas e picam somente quando são comprimidas contra o corpo. É o acidente por aranhas mais cobrado em provas. Figura 10. Aranha marrom (gênero Loxosceles). Fonte: Shutterstock. CAPÍTULO 21Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos 3.2.1 AÇÃO DO VENENO O veneno da Loxosceles tem ação proteolítica, coagulante e hemolítica. 3.2.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico de seu acidente pode ser dividido em forma cutânea e forma cutânea-visceral: • Forma cutânea: após algumas horas da picada, o paciente pode referir dor, edema e eritema no local. Após 24 a 72 horas da picada, essa área de eritema dá lugar a uma mancha violácea (área hemorrágica) que se mescla com áreas esbranquiçadas. Esse tipo de lesão é chamada de placa marmórea (figura 11). Após cerca de uma semana, a lesão escurece, e o centro deprime, dando lugar a uma úlcera com necrose seca (figura 12). Ao longo dessa evolução, podem aparecer bolhas de conteúdo seroso ou hemorrágico. Figura 11. Placa marmórea. Lesão característica do acidente por Loxosceles. Perceba as áreas de hiperemia mescladas com áreas pálidas de isquemia, lembrando um mármore. Fonte: Trello. Figura 12. Ferimento causado pela picada da aranha-marrom. Perceba a necrose no centro (parte escurecida). Fonte: Shutterstock. 22Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos Lembre-se: as manifestações locais do acidente por Loxosceles apresentam-se de forma mais tardia do que em comparação com o acidente por outros animais peçonhentos. • Forma cutânea-visceral: caracteriza-se por manifestações clínicas decorrentes da hemólise intravascular, como anemia, icterícia, hemoglobinúria, aumento de DHL, bem como bilirrubina indireta e CIVD (coagulação intravascular disseminada). Acidente por Loxosceles: lembre-se da placa marmórea na forma cutânea e da hemólise intravascular na forma cutânea-visceral. 3.2.3 TRATAMENTO O tratamento de casos leves é feito com sintomáticos. Casos moderados e graves devem receber o soro antiaracnídico e prednisona. CAI NA PROVA (Revalida INEP – 2015) Um menino de 6 anos de idade é levado ao Pronto- Socorro em razão de uma picada de aranha na face dorsal da mão esquerda, ocorrida há cerca de 24 horas. Os pais relatam que, inicialmente, a criança queixou- se de dor local, que melhorou com analgesia oral. Por essa razão, a família não havia buscado atendimento. Hoje pela manhã, no entanto, os pais observaram o surgimento de bolha com piora da dor. A criança descreve que "é como se queimasse". A aranha não foi coletada, mas a mãe descreve que ela era pequena e "amarronzada". Ao exame físico, além da lesão descrita, observa-se palidez e temperatura axilar de 39 °C. Qual aracnídeo está associado ao quadro descrito e qual seria uma conduta adequada? A) Loxosceles; debridamento imediato, pois a lesão pode evoluir para necrose. B) Phoneutria; tratamento tópico da lesão, sendo dispensável a soroterapia. C) Phoneutria; soroterapia devido a manifestações sistêmicas, tais como a febre. D) Loxosceles; realização de exames laboratoriais para avaliação de hemólise intravascular. 23Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos COMENTÁRIOS Perceba que o menino foi picado por uma aranha amarronzada e que as manifestações locais demoraram algumas horas para aparecer. Além disso, apresenta uma área de palidez (isquemia) no local. Quem faz esse quadro? A aranha marrom, do gênero Loxosceles. Incorreta a alternativa A está incorreta, pois a remoção da escara deverá ser realizada após estar delimitada a área de necrose, o que ocorre, em geral, após uma semana do acidente. Incorretas as alternativas B e C incorretas. Os pacientes vítimas de acidentes por Phoneutria têm o predomínio de manifestações locais e dor imediata, não de forma lenta e progressiva como o que ocorreu nesse caso. Correta a alternativa D correta. Como vimos, esse acidente é característico do gênero Loxosceles e, como os pacientes podem evoluir com hemólise intravascular, é importante solicitar exames para investigar essa complicação. Gabarito: alternativa D. 3.3 LATRODECTUS As aranhas desse gênero são popularmente conhecidas como viúvas-negras Seu veneno tem ação neurotóxica e pode lembrar o acidente por escorpião e por Phoneutria. O que diferencia é que, nesse caso, o paciente pode apresentar quadros de tremores e contraturas, já que o veneno atua também na junção neuromuscular. Figura 13. Aranha do gênero Latrodectus. Fonte: Shutterstock. O tratamento é feito com medicações sintomáticas, em casos leves, e sedativos com soro antilatrodético, em casos moderados a graves. 24Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos 3.4 RESUMO DO ARANEÍSMO Tabela 2: diferenças entre os acidentes por aranhas. 25Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos 4.0 OUTROS Vou somente deixar, aqui, registrados uns pontos importantes de mais dois tipos de acidentes por animais peçonhentos que já caíram em provas: • Erucismo. Esse é o nome do acidente causado por lagartas como as do gênero Lonomia, que podem causar acidentes graves decorrentes de uma síndrome hemorrágica. • Ictismo. Esse é o nome dos acidentes causados por peixes. Desses, já caiu uma questão sobre o veneno do baiacu. Eles produzem a tetrodotoxina, que atua bloqueando os receptores de sódio voltagem- dependentes, impedindo a despolarização e a propagação do potencial de ação nas células nervosas. Essa ação ocorre nos nervos periféricos motores, sensoriais e autonômicos, tendo ainda ação depressora no centro respiratório e vasomotor do tronco encefálico. É um potente bloqueador neuromuscular que pode conduzir a vítima à paralisia consciente e óbito por falência respiratória. CAPÍTULO 26Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos Baixe na Google Play Baixe na App Store Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ou busque na sua loja de apps. Baixe o app Estratégia MED Preparei uma lista exclusiva de questões com os temas dessa aula! Acesse nosso banco de questões e resolva uma lista elaborada por mim, pensada para a sua aprovação. Lembrando que você pode estudar online ou imprimir as listas sempre que quiser. Resolva questões pelo computador Copie o link abaixo e cole no seu navegador para acessar o site Resolva questões pelo app Aponte a câmera do seu celular para o QR Code abaixo e acesse o app 5.0 LISTA DE QUESTÕES https://bit.ly/2LLQTVy IMAGEM SERÁ TROCADA falta o link https://bit.ly/2LLQTVy 27Prof. Clarissa Cerqueira | Infectologia | Janeiro 2022 Animais Peçonhentos 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos. Brasília: FUNASA, 2001. 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 5ª Edição, 2021. 3. CUPO, P.; AZEVEDO-MARQUES, M. M.; HERING S. E. ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS: ESCORPIÕES E ARANHAS. Medicina, Ribeirão Preto, 36: 490-497, apr./dec 2003. 7.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final deste livro. Lembre-se de revisar o assunto e fazer as questões que separei. Tenho certeza de que você será bem-sucedido(a) nessa jornada. Faça, agora, uma pausa para descansar, mas não se esqueça de ampliar seu aprendizado e aumentar suas chances de aprovação com a leitura das outras matérias. Recomendoseguir o Estratégia MED (@estrategiamed) no Instagram, meu perfil (@draclarissacerqueira) e os dos outros professores. Dessa forma, você irá manter-se atualizado(a) sobre todas as novidades referentes ao Revalida. Lembre-se de que estou à disposição para tirar dúvidas no Fórum de Dúvidas. Abraços, Clarissa Cerqueira. CAPÍTULO CAPÍTULO 6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.0 OFIDISMO 1.1 MEDIDAS GERAIS APÓS ACIDENTE OFÍDICO 1.2 ACIDENTE BOTRÓPICO 1.2.1 Ações do veneno 1.2.2 Manifestações locais 1.2.3 Manifestações sistêmicas 1.2.4 Tratamento 1.3 ACIDENTE CROTÁLICO 1.3.1 Ações do veneno 1.3.2 Manifestações locais 1.3.3 Manifestações sistêmicas 1.3.4 Tratamento 1.3 ACIDENTE LAQUÉTICO 1.4 ACIDENTE ELAPÍDICO 1.5 RESUMO DE ACIDENTES OFÍDICOS 2.0 ESCORPIONISMO 2.1 Ação do veneno 2.2 Manifestações locais 2.3 Manifestações sistêmicas 2.4 Tratamento 3.0 ARANEÍSMO 3.1 PHONEUTRIA 3.2 LOXOSCELES 3.2.1 Ação do veneno 3.2.2 Manifestações clínicas 3.2.3 Tratamento 3.3 LATRODECTUS 3.4 RESUMO DO ARANEÍSMO 4.0 OUTROS 5.0 Lista de questões 6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 7.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS