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Epistemologia e Metodologia Teológica Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Elton de Oliveira Nunes Revisão Textual: Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento Teologia Histórica • Introdução; • A História do Desenvolvimento da Religião; • Os Métodos de Registro e Análise da Religião; • Teologia e Religião; • A Importância do Registro do Desenvolvimento da Religião. • Entender as metodologias do registro histórico do desenvolvimento da religião; • Levar o aluno a dominar o processo de registro e análise do processo histórico dentro da religião. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Teologia Histórica Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Teologia Histórica Introdução Nesta unidade, vamos apresentar a questão do método em Teologia Histórica que é uma das áreas da Teologia Acadêmica. Como vimos na primeira unidade, a Teologia Histórica cuida da produção, análise e crítica da História da Religião a par- tir da declaração de fé oriunda do Texto Sagrado. Dessa forma, a Teologia Histórica é uma interface entre História da Igreja e Teologia. A Teologia Histórica faz parte da Teologia Acadêmica que alcançou sua maiori- dade científica no Brasil, a partir do fim do século XX, entrando para a Academia como uma das Ciências de formação profissional e de pesquisa com os cursos de bacharelado, mestrado e doutorado. Desse modo, ao tratarmos das áreas da Teologia Acadêmica é necessária uma explicação sobre o que significa cada termo que outrora era utilizado pelos diversos ramos cristãos. Quer se aprofundar nesse ponto? Veja: SOARES, A. L.; PASSOS, J. D. Teologia Pública: reflexões sobre uma área de conhecimento e sua cidadania acadêmica. São Paulo: Paulinas, 2011.Ex pl or A Teologia Acadêmica aborda o estudo científico da Teologia como área do saber, produção de conhecimento e formação profissional como preconizado pela LDB e a Constituição Brasileira. Por isso, a Teologia Acadêmica trata de áreas básicas que estão presentes em diversas estruturas de pensamentos religiosos que não apenas abarcam o grande ramo cristão (Católicos, Ortodoxos, Protestantes, Pentecostais, Neopentecostais, Evangélicos, Espíritas Kardecistas, Igrejas Livres, entre outros). A Teologia Acadêmica busca a partir de um determinado ramo religioso proceder os estudos, pesquisas, produção, formação e orientação na pluralidade e diálogo com as diversas Teologias. A partir de um determinado Texto ou Fala Sagrada nasce a Teologia de uma Religião e Ramo Religioso, conforme vimos na unidade anterior. Ora, toda a Teologia, uma vez compilada e tendo fechado o seu Cânon, a lista de Textos Sagrados gera estudos que fazem nascer tanto a Teologia Textual quanto a Teologia Sistemática. Por sua vez, a prática do Texto leva a uma outra área de estudos, a Teologia Prática ou a análise e reflexão sobre a prática do Texto. De igual modo, a ação da Teologia produz uma História, tanto do ramo em que está ligado quanto do grupo (Religião) ao qual faz parte. A essa História, denominamos de Teologia Histórica. Essa prática se dá tanto internamente quanto na sociedade. Por sua vez, a ação que uma religião produz na sociedade é denominada Teologia Pública. Essa disciplina teológica abarca tanto a crítica quanto a prática realizada na so- ciedade à luz do Texto Sagrado da Religião. Esse mesmo Texto apresenta-se com orien- tações ou omissões sobre que tipo de conduta os fiéis devem exercer em sociedade. 8 9 Essas são as áreas básicas, presentes na maioria das Religiões e Teologias. Nesta unidade, estudaremos a Teologia Histórica, a área que cuida da análise da relação entre a História e a Teologia. A palavra história vem do termo grego (ιστορια) que significa “pesquisa”, conheci- mento advindo da investigação. É a Ciência que estuda o ser (individual e coletivo) e sua ação no tempo e no espaço. A ideia de uma Teologia Histórica é a aplicação de uma visão teológica ou interpretação a partir da Teologia sobre o processo histórico. À primeira vista, a Teologia Histórica pode dar a entender que se trata de uma área que irá descrever a evolução ou desenvolvimento da Teologia. Primeiro, é importante ter em mente que a Teologia Acadêmica não é o mesmo que Teologia Cristã. Como já apontamos, estamos tratando não da Teologia Confessional de uma religião para a formação de líderes ou adeptos de uma Religião, estamos tra- tando do estudo acadêmico de Teologia, no caso, a de vertente cristã. Dito isso, vamos esclarecer a questão do que é a Teologia Histórica. Ao longo do tempo, esse termo Teologia Histórica abarcou uma série de ênfases e abordagens diferentes com a mesma nomenclatura. Como já apontamos na primeira unidade: Epistemologia e Metodologia Teológica, a Teologia Histórica é uma subárea da Teologia Acadêmica. Porém, as diversas correntes cristãs, na formação eclesial, acabaram por cunhar diversas disciplinas e nomenclaturas que respondiam pelo mesmo termo de Teologia Histórica, a saber: a História dos Dogmas, a História da Teologia e a História da Igreja. A História dos Dogmas diz respeito a uma parte dos estudos teológicos da Igreja Católica e de algumas denominações protestantes que buscaram sistematizar o desenvolvimento das definições específicas que receberam a chancela da Igreja como verdades irrefutáveis e definitivas (dogmas). São enunciados normativos que a Religião apresenta em sua versão definitiva e torna-se parâmetro para a fé. A palavra dogma é de origem grega (dokeo) e denota a ideia de “pensar”, “imaginar”, “supor”. Na Teologia Cristã, dogma assumiu o conceito de verdade definitiva ou sentença declaratória que não cabe discussão ou dúvida por refletir a verdade em sua plenitude. Buscou-se, no fim do século XIX, o estudo dos dogmas como parte da evolução do pensamento doutrinário da Igreja Católica. No campo Protestante, a dogmática do século XVIII vai dar ensejo a criação de um campo específico de estudos sobre esse tema. Adolf von Harnack (1851-1930), protestante de origem alemã, foi o grande pen- sador, pesquisador e historiador do Cristianismo que publicou uma obra de referên- cia na história do dogma, denominada Lehrbuch der Dogmengeschichte “Manual de história do dogma”. Essaobra foi publicada em três volumes e saiu em 1890. Nela, o grande historiador procura contextualizar a história do dogma dentro do campo histórico, demonstrando a evolução sob perspectiva histórica. 9 UNIDADE Teologia Histórica Por outro lado, a História da Teologia é um campo de estudos que busca his- toriar o desenvolvimento das grandes correntes de pensamento teológico, como os autores, as obras e as grandes controvérsias dentro e fora do campo religioso. A História da Teologia é importante na medida em que demonstra, ao longo de séculos, como a Teologia (Cristã) foi se desenvolvendo em consonância com três grandes referências: a Religião, a Sociedade e a interpretação do Texto Sagrado (Bíblia). Dessa forma, a História da Teologia demonstra os impactos das múltiplas influências ao longo do tempo nos estudos teológicos. O último termo conhecido e que se confunde com o da Teologia Histórica é o termo da História da Igreja. Novamente, temos uma disciplina que, ao longo do tempo, foi denominada História da Igreja, dentro do campo específico de ensino e formação nos seminários religiosos que tratavam da História do Catolicismo como História da Igreja Cristã, denotando um todo unificado. Porém, não existe um único representante do Cristianismo. Não há como falar em vertente cristã única. A Igreja Católica sofreu, ao longo da História, divisões que ensejaram outros ramos de Cristianismo que também passaram por divisões teológicas. Portanto, não se pode falar em uma única visão cristã e muito menos em uma única Igreja. Aliás, as religiões em suas trajetórias têm divisões e ramificações. Isso ocorreu no Budismo, no Islã, no Judaísmo, no Xintoísmo, no Hinduísmo, na Umbanda, no Candomblé, no Espiritismo Kardecis- ta, entre outras. Então, o exame histórico não permite falar de História da Igreja Cristã como uma única vertente. Para uma visão de síntese, apresentamos: Tabela 1 – Termos Correlatos da Teologia Histórica Termos Correlatos da Teologia Histórica Termo Definição História dos Dogmas Diz respeito ao estudo das definições específicas que receberam a chancela da Igreja como verdades irrefutáveis e definitivas. História da Teologia Busca historiar o desenvolvimento das grandes correntes de pensamento teológico, assim como os autores, as obras e as grandes controvérsias dentro e fora do campo religioso. História da Igreja Pressupõe que a Igreja (Católica) é um todo unificado e responde pela História do Cristianismo. Fonte: Adaptado de FICHER, 2008 Por tudo isso, ao falarmos de Teologia Histórica, podemos situá-la como uma disciplina que tem, na vertente cristã, uma determinada visão teológica sobre a História. É o que veremos a seguir. A História do Desenvolvimento da Religião Ao longo da história da humanidade, buscou-se entender e controlar as forças da natureza, uma delas é o tempo. O conhecimento do tempo sempre foi um grande desafio para que os grupamentos humanos pudessem desenvolver formas de se 10 11 alimentar a partir do plantio e colheita. Para tanto, era necessário o entendimento sobre os tempos, estações e as marcações sobre suas regularidades. Isso deu ensejo a uma das grandes descobertas e invenções da humanidade, o calendário. A palavra que utilizamos em português deriva do latim calendarium ou livro de registro que, por sua vez, derivou de calendae, que indicava o primeiro dia de um mês romano. Ela perpassa os povos e se estabelece como uma necessidade da vida. O registro de um grupamento (tribo, povo, clã) no tempo decorre dessa necessidade. • Para conhecer mais sobre esse ponto, visite o site: https://bit.ly/2RC2zZm; • Para uma visão ampla sobre o tema, visite o site: https://bit.ly/2Od0X9f.E xp lo r As unidades principais de agrupamento são o mês e o ano. As pesquisas indi- cam que o primeiro calendário surgiu na Mesopotâmia, por volta de 2700 a.C. entre os sumérios, e foi aprimorado pelos caldeus. O calendário possuía 12 meses lunares, de 29 ou 30 dias, e serviu de base para o sistema adotado pelos judeus. Os egípcios e gregos já conheciam as mudanças lunares e apresentavam um calendário baseado nas fases lunares da semana de sete dias. Esse conhecimento data 1000 anos antes de Cristo. É interessante que, desde o início, os calendários também estavam intimamente ligados às religiões. Tanto na Grécia Clássica como no Império Romano o calendá- rio teria uma forte influência religiosa. Vários meses do ano são dedicados aos deuses e deusas do Olimpo e acabaram por compor o nosso calendário. Assim, janeiro (Januarius) é dedicado a Janus, deus protetor dos começos; fevereiro (Februarius) é um termo latino, februmm, que significa “purificar”. Refere-se ao ritual romano que ocorria no décimo quinto dia do mês de fevereiro, uma dedicação ao deus Marte; abril (Aprilis), à Afrodite, por ser o mês da abertura das flores; maio (Maius), à deusa Maia, mãe do deus Mercúrio; junho (Junius), à deusa Juno, esposa de Júpiter; julho, dedicado a Júlio César, que foi alçado à categoria de divindade pelos romanos; agosto (Augustus), ao imperador Augusto, que também foi alçado à categoria de divindade. Em 44 a.C., Júlio César implementa um calendário solar com meses de tama- nho fixo. Esse foi o calendário padrão da civilização europeia até o ano de 1582, ano em que o Papa Gregório XIII introduz o calendário gregoriano que substituiu o calendário Juliano. Essa substituição tinha como motivação buscar um método seguro de calcular a data da Páscoa. Os maias, na América Central, também elaboraram seu próprio calendário, ain- da mais preciso que o calendário gregoriano utilizado até hoje. Ele foi elaborado pela religião Maia para a marcação de eventos religiosos e agrícolas e, segundo os pesquisadores, foi adotado a partir do século I a.C.; esse calendário também foi adotado pelas outras culturas da América Central, possui duzentos e sessenta dias, 11 UNIDADE Teologia Histórica com meses de vinte dias, e correspondem às divindades maias. Entre os meses há uma divisão de períodos, treze ao todo. Os nomes dos dias da semana também foram dedicados aos deuses e deusas. Depois influenciados pelo Catolicismo, foram substituídos ou sincretizados com o paganismo romano, adotando uma narrativa cristã no processo de datação. Assim, o domingo foi dedicado ao Deus supremo, o dia do Senhor. Antes era dedicado ao titã grego Himpérium, que espantava as trevas, aquecia os corpos e amadurecia as colheitas. Da mesma forma, a segunda-feira foi dedicada à deusa lua, Selene, que tinha sua influência sobre as marés, os plantios e no período de corte das madeiras. A terça-feira foi dedicada à Marte, deus da guerra e senhor do mundo inferior, aquele que comandava os destinos das nações e dos povos. A quarta-feira foi de- dicada ao deus Mercúrio, senhor do comércio, dos viajantes e dos assaltantes. A quinta feira foi dedicada à Júpiter, o pai dos deuses e senhor dos ventos e das tempestades. A sexta feira era o dia de Vênus, deusa da beleza (Afrodite), era ado- rada pelos que buscavam os ideais da formosura, a harmonia e amor. Sábado foi separado para o deus Saturno. As festas em sua homenagem eram chamadas de Saturnais e eram realizadas em dezembro, prolongando-se por vários dias. O sábado romano acabou por ser suplantado nas línguas latinas, pela influência do judaísmo, que transformou o en- tendimento no dia de descanso (Shabbath). Somente na Inglaterra é que permane- ceu o nome de Saturday, dia de Saturno. Isso é importante, pois demonstra que a História e suas demarcações e divisões são oriundas das Religiões e, por conseguinte, ligadas a visões teológicas, visto que os primeiros registros que temos da história dos povos são de cunho religioso. O registro da história dos povos também se confunde com a Religião e a Teologia em um processo de idas e vindas do registro histórico. A História como narração do processo histórico no Ocidente tem raízes na Grécia e começa com Heródoto (485-425 a.C.), conhecido como o“pai” da História. A partir da busca pela narração comparativa e seleção criteriosa das fontes, Heródoto vai cruzar dados antropológicos com dados geográficos e culturais pelo sentido da narração histórica e elaboração de uma história dos povos e nações. Outro grande nome é de Tucídides (460-395 a.C.), ele busca a criação de um méto- do narrativo e faz a crítica das fontes. Não segue a ideia de uma história linear, mas opta por um método analógico e comparativo. Em Roma, a história ganha mais um desenvolvimento com a criação dos primei- ros anais e quadros cronológicos. É atribuído a Quintus Fabius Pictor (254-201 a.C.) e Lucio Cincio Alimento (240-190 a.C.). Porém, a história, enquanto arte da escri- ta, será impactada de forma permanente pelo Catolicismo na figura de Aurelius Augustinus Hipponensis, conhecido como Santo Agostinho (354-430 d.C.). 12 13 Agostinho rompe com a história cíclica e decadente que movia a ideia greco- -romana. Para Agostinho, a História é dividida entre a dos Homens e a de Deus, a partir de uma linearidade, com início na criação do universo e se dirige para conclu- são na utopia cristã. Ele introduz também a ideia de intencionalidade histórica, que projeta a História em uma visão otimista pela fé no futuro utópico, da conclusão da sociedade humana na sociedade de deus. No nascimento da História, como disciplina acadêmica, no século XIX há uma mudança radical no conceito de História e busca-se separar a História da Teologia e da literatura, constituindo-se uma Ciência Histórica. Isso ocorre com a formação da Escola Metódica Alemã e se consolida na França. Para um aprofundamento sobre esse ponto, recomendamos: GUY, B.; MARTIN, H. As escolas históricas. 2. ed. Portugal, Publicações Europa-América, 2003.Ex pl or Vários nomes contribuíram para a formação dessa Escola, como Charles Victor Langlois (1863-1929), Charles Seignobos (1854-1942), Gabriel Monod (1844-1912), Gustave Charles Fagniez (1842-1927), dentre outros. A Escola Metódica em sua ver- tente francesa se formou em torno da publicação da Revue Historique (revista de história), que entrou em circulação a partir de 1876. O grupo de historiadores citados tinha a preocupação de consolidar uma identi- dade social para a França e de tornar a História uma Ciência Acadêmica. Politica- mente havia um sentimento de revanchismo com a Alemanha pela derrota na guer- ra franco-prussiana e a França buscava recuperar sua posição de superioridade frente à Alemanha, inclusive, intelectualmente. As pretensões de seus criadores esbarravam na dificuldade de estruturação da narrativa histórica, com base nas regras e recursos literários da época, fazendo com a que a História ficasse refém da narrativa e do conto. Não havia a formação de historiador e muitos escritores eram autodidatas. Charles Victor Langlois e Charles Seignobos acabaram por lançar um manual que fosse uma referência na escrita histórica e que pudesse preencher essa lacuna. Em 1898 lançaram um manual denominado: Introdução aos Estudos Históricos que continha ideias e métodos de análise para orientação dos futuros historiadores. Nessa obra, buscavam apresentar as regras, os métodos e a postura de imparciali- dade e objetividade na produção historiográfica. A Escola Metódica Francesa, mais especificamente, Monod, Ernest Lavisse, Charles Seignobos, entre outros, estudaram na Alemanha e ao retornar à França implementaram, com próprias adaptações, o modelo alemão de método historiográ- fico. Foram decisivos para os franceses a contribuição alemã de historiadores como August Boeckh (1785-1867), Friedrich Carl von Savigny (1779-1861) e Leopold von Ranke (1795-1886), dentre outros. 13 UNIDADE Teologia Histórica O que se trata a História Acadêmica? A partir da concepção, não mais de uma História direcionada pela divindade, buscava-se a autonomia da religião. Agora, a ideia é que o espirito humano conduz a História em uma perspectiva de progresso científico. Nesse período, escreve Monod, 1989: O desenvolvimento dos estudos históricos é um dos traços distintivos do movimento intelectual do século XIX. Tal desenvolvimento é a manifes- tação, na área das ciências morais, do espírito científico ao qual pertence doravante a direção da sociedade moderna. (MONOD, 1889, p. 587) Para Leopold von Ranke, o historiador tem como tarefa metodológica a busca pelos eventos a partir do distanciamento filosófico e metafísico do objeto e na aná- lise imparcial das fontes documentais. Assim, a sua produção historiográfica alcan- çaria a verdade histórica. Essa visão, permeada pelo espírito iluminista da época, apregoava o progresso técnico, industrial e científico conduzido por valores morais superiores do europeu. Acreditava-se que a História existia objetivamente e que ela era alcançada pela análise documental. Alcançava-se o passado desvinculando-o do presente. Segundo Reis, 2004: Acreditavam que, se adotassem uma atitude de distanciamento de seu objeto, sem manter relações de interdependência, obteriam um conhe- cimento histórico objetivo, um reflexo fiel dos fatos do passado, puro de toda distorção subjetiva. O historiador para eles narra fatos realmente acontecidos e tal como eles se passaram. (REIS, 2004, p. 18) Nesse período, inicia-se um processo de revisão da forma como se registrava a História da Religião (Cristianismo), buscando não mais entendê-la como fruto de um direcionamento extramundo, mas como uma instituição humana movida por interesses políticos e de poder. Inaugura-se um processo de crítica histórica à Religião dentro do grande viés de superação iluminista do papel da Religião (Cristianismos) na sociedade e no mundo, substituindo a Religião pela Ciência na condução da sociedade. Acabou-se, nesse processo, criando-se duas vertentes ou correntes de estudos dentro do campo da Teologia Histórica. Uma delas aceitava os ditames da Ciência para a dessacralização e expulsão de qualquer leitura teológica da Religião, em busca por se fazer história científica e destituída de qualquer viés de leitura sacra. Seguindo a inspiração de diversos autores do início do século XX, com base em David Emile Durkheim (1858-1917), Karl Emil Maximilian Weber (1864-1920), entre outros, vão trabalhar as Histórias dos Cristianismos como uma elaboração de ações e instituições que se articulam a partir das influências do Mercado, da Cultura, da Economia e da Política. Diversos pesquisadores posteriores podem ser citados como Jean Delumeau e Conrad Wilhelm Mönnich (1915-1994). Essa releitura da História da Religião Cristã ou dos Cristianismos buscava o en- tendimento do processo religioso na Psicologia, na Antropologia, na Sociologia, na 14 15 Política, destituindo a História de qualquer viés teológico ou sagrado. Temos, então, a visão que a Religião é um processo histórico social em que o religioso é destituído de seu lugar de fala. A outra vertente tentava trabalhar a análise de uma História tecnicamente atada aos mesmos levantamentos e técnicas da historiografia, mas buscando o sobrena- tural ou o excepcional, fazendo com que a Religião não perdesse de alguma forma suas afirmações metafísicas e a inspiração vocacional à fé. Não se trata de História apologética e nem confessional, mas uma busca pelo sagrado na História. Na academia, a Escola dos Annales, que buscou substituir a Escola Metódica, preocupou-se com os estudos de Religião e mais especificamente com o Cristianismo em suas vertentes Católica e Protestante, mas de forma ainda mais radical. Para mui- tos representantes dos Annales, a Religião não é um objeto de estudos. Tanto Marc Bloch, Lucien Febvre e Jacques Le Goff trabalharam o tema Religião no contexto de que não existe o objeto, apenas a cultura em seus múltiplos aspectos sociais. Dessa forma, o objeto Religião se torna uma “janela” para outras áreas culturais, como a economia, o direito, a política, entre outros. Outra Escola muito influente na academia será a corrente marxista, devidoos es- tudos sobre a História da Religião (Protestante), com Friedrich Engels (1820-1895). Para Engels, a Religião é um movimento revolucionário na medida de sua contesta- ção, do poder político e do status quo. Essa revisão do papel da Religião influenciou muito os historiadores de vertente marxista e a própria área de Teologia Histórica. Para aprofundar esse ponto, veja o texto disponível em: https://bit.ly/2JcMcPp Ex pl or A chamada História das Mentalidades, que surge de uma derivação da Escola dos Annales, buscou trabalhar o entendimento do papel do sistema de crenças, va- lores e representações que formam o background de um grupo ou de uma época. Essa perspectiva abriu um leque de possibilidades para o estudo dentro da Teologia Histórica, pois devolvia a questão da fé como ideologia de um grupo na concepção histórico-religiosa. Com o avanço de Teologias marcadamente voltadas para uma leitura marxista ou de crítica radical à política, a Economia Ocidental e com o surgimento das cha- madas Teologias Políticas, a própria área de Teologia acaba por sofrer uma forte releitura em que a Religião se torna um instrumento de libertação política e social do Capitalismo. Adentramos nesse processo ao final do século XX e início do sé- culo XXI, em que a Teologia se torna uma metáfora para o alcance da revolução social e econômica em uma leitura socialista. Uma nova historiografia irá buscar nas Religiões e na Teologia o apoio histórico para uma resistência ao Capitalismo e a história passa a ser materialista em que a Teologia se torna filosofia e utopia da resistência e da luta pelo ser humano utópico revolucionário. Para uma visão de síntese: 15 UNIDADE Teologia Histórica Tabela 2 – As Filosofias da História e a Teologia Histórica Filosofias da História e a Teologia Histórica Filosofia Definição. Religiosa A História é a ação da divindade no tempo com um sentido teleológico. Positivista A Religião é parte ultrapassada da história e um dado meramente cultural. Annales Não há o objeto Religião. Ele é apenas um meio para se alcançar o entendimento de outros objetos culturais. Marxista A história da Religião é uma força aglutinadora para fazer frente ao status quo. Mentalidades A história da Religião é a construção a partir do conceito de fé de um grupo ou era. Pluralista A história da Religião apresenta-se em seu discurso como uma metáfora para a resistência ao capitalismo. Para o amplo conhecimento sobre esse ponto, indicamos: GIBELLINI, Rosino. A Teologia do século XX. São Paulo: Loyola, 1998.Ex pl or Todas essas correntes acabaram por munir a Teologia Histórica de aportes teórico-metodológicos complexos e ricos para a Escrita da História, mas tam- bém trouxeram problemas, pois vários desses aportes negavam cabalmente a Teologia Tradicional e sua leitura voltada para um sobrenaturalismo ou metafí- sica. Apesar da Ciência Histórica nunca ter se livrado completamente de uma metafísica a partir de uma ideia de intencionalidade ou teleologia, o grande pro- blema era a questão de uma teleologia identificada com a noção de divindade nos moldes cristãos. Por tudo isso, acentuou-se a divisão das vertentes na Teolo- gia Histórica entre os que consideram a teleologia como possibilidade e os que a negam na escrita da história. Os Métodos de Registro e Análise da Religião A moderna Escrita da História inaugurada pela Escola Metódica privilegiou o documento como a grande fonte para o registro e produção histórica. Também nesse ponto vemos a questão das fontes documentais como oriundas da influência das Religiões, notadamente, a Religião Judaica e depois os vários Cristianismos. Ao longo do processo de consolidação da Ciência Histórica, buscou-se refinar e aperfeiçoar o método historiográfico a partir da sua fonte documental. No transcor- rer dos séculos, o próprio conceito de fonte irá se ampliar em especial com a Escola dos Annales, onde a ideia de fonte sofrerá uma verdadeira revolução e ampliação. Porém, o método de registro histórico a partir do documento será buscado em sua plenitude. Para Jacques Le Goff, 1990: 16 17 O documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento enquanto monumento per- mite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com plena causa e conhecimento. (LE GOFF, 1990, p. 470) A utilização do registro documental permitiu a base material da Ciência Histórica que ampliou seus horizontes ao longo do tempo, entendendo e revelando as nuan- ces sobre a produção documental. O registro segue as regras de uma identificação do fato. Esta, por sua vez, se di- vide em: o que, como, quando, onde, por que aconteceu e quem participou? Esses pontos básicos formam a estrutura do projeto de registro que a Teologia Histórica segue. Vejamos cada item: • O que aconteceu? Na Religião, os eventos são de múltiplas e variadas formas. Há eventos oficiais e não oficiais. Eventos abertos e restritos, eventos estrita- mente religiosos e não-religiosos. Enfim, a classificação é parte integrante do processo de registro; • Como aconteceu? O fato histórico é um acontecimento social de natureza variada (política, militar, física, sociológica e psicológica). Sua influência social repercute no Campo da História. O fato histórico é único, irreversível, indivi- dualizado, não repeticional, localizável no tempo e no espaço. Para a definição do fato histórico é necessário definir o contexto, no qual ocorre o acontecimen- to e suas relações com a totalidade; • Quando aconteceu? A delimitação temporal é um dos aspectos imprescin- díveis do registro. É necessário registrar a hora, dia, mês e ano para que seja considerado válido; • Onde aconteceu? A localização espacial faz parte do registro, sem ela muito se perde de informação. É necessária acuidade, dada a peculiaridade e volatili- dade da espacialidade referencial; • Por que aconteceu? A intencionalidade dos acontecimentos é importante para se entender o processo histórico e os personagens envolvidos. Sem saber a causa da intencionalidade, os eventos se tornam aleatórios e desproposita- dos. Perde-se não apenas a motivação, mas as reais intenções do fato histórico; • Quem participou? Os participantes do fato histórico são peças chaves no registro. São necessários identificação, função e participação na configuração do fato histórico. Todas essas etapas ocorrem com a crítica e seleção das fontes, o estabelecimen- to do limite ou corte histórico que o teólogo estabelece no processo de Escrita da História. Depois de percorrido esse caminho teórico-metodológico, é importante uma segunda etapa que é a verificação do registro histórico. Essas etapas visam a 17 UNIDADE Teologia Histórica verificação ou crítica das fontes para, dependendo da situação, proceder a refuta- ção ou a correção delas. Vejamos então cada um dos processos: • Credibilidade: A credibilidade está associada às fontes utilizadas para o regis- tro. Elas podem ser testemunhais, documentais, fotográficas. O importante é o cruzamento das informações e o uso técnico para que haja credibilidade. São quatro tipos de verificação: análise de credibilidade, comprovação, que resulta em dois tipos de possibilidade: a refutação ou a correção; • Comprovação: A comprovação é o resultado e o parecer depois de um pro- cesso de verificação das fontes. É importante e faz parte de uma etapa impres- cindível, antes do arquivamento da informação; • Refutação: A refutação é a comprovação da falsidade ou vício irreparável na informação, que resulta no registro histórico. É o descarte da informação; • Correção: A correção compreende a análise de uma informação para que seja utilizada. É denominada como: informação com vício reparável. Esse processo busca evitar uma série de problemas em relação à Escrita da História. O não cuidado com o registro histórico ocasiona diversasperdas para o grupo religioso, especialmente, em relação ao rico patrimônio cultural, fruto da caminhada criativa e produtiva do grupo ao longo das eras. Assim, busca-se evi- tar problemas. Os mais comuns são a lacuna, a deturpação e o desconhecimento. Vejamos: • Lacuna: Palavra derivada do latim “Lacuna”, diminutivo de “Lacus”, vazio. Em história, a lacuna é a falta de informação (completa ou parcial) em relação a um tópico ou período dentro de um período maior; • Deturpação: A deturpação é mais grave. A palavra deriva do latim “deturbare + ação”, ato ou efeito de distorcer, corromper. Em história, a deturpação é a desfiguração da realidade por meio de informações falsas ou incorretas que desfiguram os fatos; • Desconhecimento: Palavra de origem Indo-europeia “gn-” que, em grego ge- rou “gnosis”, “conhecimento” e seus derivados. O vocábulo “des” (não). Assim, desconhecimento significa “não conhecer”, “não saber”. Em História, o desco- nhecimento é a incapacidade de emitir ou apresentar a informação. Essas etapas estão associadas à escolha preliminar das fontes utilizadas para o registro e exame após a Escrita da História. As fontes podem ser testemunhais, documentais, fotográficas, arqueológicas, dentre outras. O importante é o cruza- mento das informações e o uso técnico para que haja credibilidade no registro e sua possível verificação final. O objetivo da Teologia Histórica está no registro e análise que possibilitem a crí- tica histórica e teológica, como o juízo de valor sobre a História do grupo religioso, herança das próximas gerações. 18 19 A última etapa para a realização da Teologia Histórica é análise dos fatos para a compreensão das ações passadas, se correspondem ao ideal de seguimento e orientação. As etapas se completam, além do mero registro, buscam o sentido das decisões a partir da adesão de fé e declaração da crença no corpus doutrinário oriundo da própria Religião, a partir do Texto Sagrado da Religião. Em síntese: Projeto de escrita da história Crítica das fontes Análise a partir da declaração de fé do grupo Figura 1 – Projeto de escrita da história e análise teológica Fonte: Adaptado de LIBANIO e MURAD, 1996; VILANOVA, 1998; CARR, 1987; HOBSBAWN, 1998; REIS, 2004; LE GOFF, 1976 O Texto Sagrado é a bussola orientadora para o entendimento do passado, do presente e do futuro da Religião. Dessa forma, a Teologia Histórica faz a análise da História com a Teologia que é a reflexão a partir de um determinado Texto Sagrado e suas repercussões na comunidade de fé. Assim, podemos entender que a Teologia Histórica não se atém ao mero regis- tro da História de uma determinada Religião, mas trabalha no intuito de escrever, analisar e criticar teologicamente esse registro, à luz do Texto Sagrado da própria Religião, em sua declaração de fé. Não é o trabalho do historiador, mas do teólogo que trabalha com a história pelo viés teológico. Teologia e Religião A importância da Teologia para a Religião é o mesmo que a Religião para a Teologia. Uma inexiste sem a outra se considerarmos os múltiplos aspectos de dependência. Sem a Teologia, a Religião não possui os meios de formação da liderança e de orientação edu- cacional dos seus adeptos, não há como garantir a correta tradução e interpretação dos seus Textos Sagrados, não há como estabelecer a organização e ampliação de suas ações institucionais. Todos esses aspectos são relevantes, porém o aspecto mais importante é a questão do registro histórico e sua análise. A contribuição da Teologia Histórica está em proporcionar a preservação e ma- nutenção da História do grupo religioso, ao mesmo tempo que se torna um centro de crítica da própria História da Religião. Para se dar um exemplo eloquente, vamos analisar a instituição por excelên- cia do Catolicismo, o mosteiro. No século IV do Cristianismo surge a busca pela 19 UNIDADE Teologia Histórica contemplação, a fuga das cidades e local de retiro contemplativo. Os mosteiros rapidamente se tornam o local de orações, leitura das escrituras sagradas e pre- servação documental. Os mosteiros medievais como edifícios de saber: http://bit.ly/31UXUGN Ex pl or Foram com os mosteiros, como grandes centros aglutinadores e de preservação da memória, que a Europa conseguiu preservar e recuperar seu passado greco-romano. As bibliotecas foram fundamentais para o surgimento das escolas monacais que, por sua vez, serviram de base para as universidades no século XI. A Europa se serviu desse modelo para ultrapassar e reconstituir sua própria história, após a queda do Im- pério Romano e a grande reconfiguração, depois das invasões vikings e normandas. A grande constante de formação e desenvolvimento do pensamento ocidental foi a Igreja Católica, principalmente por meio dos mosteiros como preservadores da memória e centros de formação e discussão teológicos e filosóficos da Idade Média, como deixam claras as análises históricas de diversos autores medievalistas, como: Georges Duby, Henri Focillon, Etienne Gilson, Umberto Eco, Raymond Bayer, Marta Llorente Díaz, Erwin Panofsky, Jacques Le Goff, entre tantos outros. A preservação dos textos, tanto religiosos quanto filosóficos, especulativos, tra- tados, cartas, epístolas, somou-se à grande produção literária e de relatos de ex- perimentações científicas medievais que foram se acumulando nesses centros de produção e difusão da cultura. Porém, é importante ter em mente de que esse processo não se restringe ao Cristianismo, pois perpassa diversas religiões, como o budismo, o islã, e tantos outros. O Budismo, como corrente de pensamento estruturado, nasce na Índia no sécu- lo V a.C., tendo como seu iniciador Siddharta Gautama. Com o passar do tempo, espraia-se para além das fronteiras da Índia em duas principais correntes denominadas de Mahayana (grande veículo) e Theravada (ensino dos sábios). A corrente Mahayana adentra o Tibete, a China, o Vietnã, a Coréia e o Japão. No entanto, a corrente Thera- vada será levada para o Sri-Lanka, Mianmar, Tailândia e outros países da Ásia do Sul. Em todos eles são formados escolas de pensamento, meditação e ensino que preser- varam a memória escrita, a discussão teológica através dos comentários aos textos e a história das comunidades e líderes. Dessa forma, a Teologia Histórica está presente em outras religiões, respeitando-se suas próprias características e formas de constituição e interação cultural. Quer conhecer um pouco mais sobre esse ponto? Acesse os links: https://bit.ly/2IPm2D9 e https://bit.ly/2IN2f7oEx pl or 20 21 De igual forma, no Islã, a mesquita se torna o centro de estudos teológicos e históricos da grande comunidade mulçumana e amplia o número de sábios e es- tudiosos através de escolas de pensamento teológico e discussão histórica sobre o Texto Sagrado (Corão) e escritos dos sábios. Preserva-se a memória e estuda-se a História. Com a divisão entre sunitas e xiitas, dividem-se as escolas de pensamento, mas com a força dos estudos histórico-teológicos para a preservação da memória. FAMBRAS – Federação das associações mulçumanas do Brasil: http://bit.ly/31UXaBv Ex pl or Poderíamos citar diversas outras religiões em sua vocação e entrelaçamento entre História e Teologia no processo de preservação da memória, como o Hinduísmo, o Xintoísmo, o Judaísmo, o Jainismo, o Confucionismo e tantas outras religiões que trabalham com Teologia Histórica nos seus próprios moldes e configurações. O mais importante é entender que esses processos são benéficos para a Religião e para a sociedade. A Importância do Registro do Desenvolvimento da Religião O registro histórico deve ser realizado diuturnamente. A História ocorre o tempo todo. A Religião deve criar meios e mecanismos de registro para evitar lacunas que envolvam perdas. Além disso, existem benefícios importantes para a Religião, os quais ditam os rumos, o crescimento e os desdobramentos, como o balizamento das ações a partir das orientações do Texto Sagrado. De igualforma, as gerações futuras devem receber o registro histórico para ve- rificar os erros cometidos pelas gerações passadas, à luz do Texto Sagrado, para não cometerem os erros ou poderem corrigi-los. É de suma importância o registro histórico, pois ele reflete o respeito aos antepassados, pioneiros, familiares e líderes que construíram com suas vidas o ideal da fé. A perda do registro é uma falta grave em relação às gerações passadas. Sem o conhecimento histórico as gerações futu- ras estarão ameaçadas de repetir os mesmos erros passados. Em diversas religiões, a memória é também parte do ritual e da crença, pois nela se guarda o tesouro dos antepassados e honra os que contribuíram para a transmis- são da mensagem divina. Há também um forte apelo para a preservação da me- mória e sua análise em religiões orais como as religiões afro. Essas se mantêm em um processo de ensino e transmissão de geração a geração a partir da formação da liderança, o que nos remete à Teologia Histórica. Quando uma Religião perde o vigor da produção histórica, seja pela manuten- ção dos registros escritos ou pela transmissão oral da sua trajetória, a própria Re- ligião perde seu rumo e fica à mercê das convicções e conveniências de terceiros. 21 UNIDADE Teologia Histórica Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros História e documento e metodologia de pesquisa SAMARA, E. M.; TUPY, I. S. S. História e documento e metodologia de pesquisa. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. História e Verdade SCHAFF, A. História e Verdade. São Paulo: Martins Fontes, 1995. Teologia Sistemática TILLICH, P. Teologia Sistemática. São Leopoldo: Sinodal, 2005. Para compreender a Teologia VILANOVA, E. Para compreender a Teologia. São Paulo: Paulinas, 1998. 22 23 Referências BURKE, P. A Revolução Francesa da Historiografia: A Escola dos Annales (1929-1989). São Paulo: Edunesp, 1991. CARR, E. H. Que é história. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987. FERGUSON, S. B. Novo Dicionário de Teologia. São Paulo: Hagnos, 2011. FERRETTTI, J. ; LOPES GONÇALVES, S. (Orgs). Teologia na Pós-modernidade: abordagens epistemológica, sistemática e teórico-prática. São Paulo: Paulinas, 2003. FISCHER, J. História dos dogmas, história da Teologia, história do pensamen- to cristão – Consi-derações sobre alguns conceitos da historiografia eclesiástica. Revista estudos teológicos, ano 48, nº 01, p. 83-100, 2008. Disponível em: <http://www3.est.edu.br/publicacoes/estudos_teologicos/vol4801_2008/ et2008-1e_jfischer.pdf>. Acesso em: 07 jan. 2019. HAGGLUND, B. História da Teologia. 3. ed. São Leopoldo: Sinodal, 1986. HOBSBAWN, E. Sobre história. São Paulo: Cia das Letras, 1998. ISRAEL, J. Iluminismo Radical: a filosofia e a construção da modernidade 1650- 1750. São Paulo: Madras, 2009. LATOURELLE, R. ; O’COLLINS, G. (Orgs.). Problemas e perspectivas de Teo- logia Fundamental. São Paulo: Loyola, 1993. LAURET, B.; REFOULÉ F. (Orgs). Iniciação prática da Teologia. Tomo I. São Paulo: Loyola, 1992. LE GOFF, J. (Org). História: novas abordagens. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976. LE GOFF, J. História e memória. Campinas: EDUNICAMP, 1990.LIBANIO, J. B.; MURAD, A. Introdução à Teologia: perfil, enfoques, tarefas. São Paulo: Loyola, 1996. LIBÂNIO, J. B. Introdução à Teologia Fundamental. São Paulo: Paulus, 2014. LIBANIO, J. B.; MURAD, A. Introdução à Teologia: perfil, enfoques, tarefas. 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