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ENDOCERVICITES · Ela separou de qual epitélio ela está falando, por isso ela colocou separado. Hoje, as pessoas chamam a endocervicite de cervicite e nós temos que prestar atenção. · As endocervicites são as cervicites que acometem o epitélio colunar. · É a inflamação da mucosa endocervical (epitélio colunar) geralmente por Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis, além de bactérias aeróbicas e anaeróbicas da flora cervicovaginal. · Se a pessoa tiver uma relação sexual desprotegida, houver inoculação de Neisseria e Chlamydia, e a pessoa estiver com o pH alto, sem lactobacilos e estiver susceptível a proliferação de bactérias, a pessoa vai fazer doença endocervical. · Essa doença endocervical pode subir para útero e trompas, e também pode facilitar a ascensão de outros germes, gerando patologias. · ESSA É UMA AULA MUITO IMPORTANTE!!!!! Temos que pensar em endocervicite quando tratamos uma paciente. Quando tratamos a endocervicite, fazemos a profilaxia da doença inflamatória pélvica. · Também chamadas de cervicites mucopurulentas, quando da impossibilidade de diagnóstico etiológico, preconiza-se tratamento sindrômico. · Não necessariamente fazemos cultura e essa cultura é fácil. Às vezes não conseguimos identificar o gonococo e clamídia, mas, se tratarmos os dois, diminuímos a incidência tanto de recidiva da doença quanto da ocorrência de doença inflamatória pélvica. · Pode acarretar DIP, dor pélvica crônica, infertilidade e gravidez ectópica. Na gravidez, pode produzir amniorrexe prematura e corioamnionite, trabalho de parto prematuro, infecções puerperais e pós-operatórias e podemos até causar problemas para o recém-nascido. · A sequela da DIP é a dilatação tubária e sua deformidade. Quando ela fica deformada e dilatada, ela perde a capacidade de mobilidade do oócito e do ovo. Com isso, temos maior chance de fazer gravidez ectópica e perder a tuba. FATORES DE RISCO · Vida sexual ativa com idade menor do que 25 anos – são pessoas com maior frequência de relação sexual. · Novo parceiro sexual – teoricamente, quando tem um novo parceiro sexual você tem mais relações sexuais. · Parceiro com DSTs. · Múltiplos parceiros sexuais ou cujo parceiro sexual tem múltiplas parceiras sexuais. · História prévia de outras DSTs. · Uso irregular de preservativos – se usa preservativo em toda relação sexual, não pega Neisseria e Chlamydia. QUADRO CLÍNICO · 70-80% dos casos são assintomáticos. · Mucopus saindo pela endocérvice. Quando vemos essa secreção saindo pelo orifício externo, temos que suspeitar de endocervicite. · Escore de severidade · Sangramento mucoso induzido pela citobrush – quando passa a escovinha para colher o preventivo, o colo sangra fácil. É um colo que vemos que está edemaciado. · Eritema · Edema · A endocervicite também pode dar sinusiorragia, que é o sangramento durante a relação sexual. · Também temos que suspeitar de endocervicite quanto temos sangramento intermenstrual. As vezes o epitélio fica tão inchado, tão inflamado, que ele pode produzir sangramentos intermitentes durante o mês, independente dela estar menstruada ou não. · Imagem: muco normal X muco amarelo. Na imagem 1, temos o colo normal. Quando o colo é normal, temos uma beiradinha vermelhinha, que é o epitélio endocervical. Quando passamos o espéculo, é como se puxássemos o orifício para fora, e aí ele mostra o epitélio endocervical. · Esse muco é transparente ou branco. Vamos suspeitar de doença quando tivermos um muco amarelo. · Teste do cotonete: pega a secreção e coloca em uma gaze, ou pega o cotonete e vê a secreção. Se for amarela, vamos perceber o contraste com o branco do algodão. · Então, o muco normal é transparente ou branco. O muco não é amarelo, não é verde. DIAGNÓSTICO · Cultura de secreção de endocérvice pelo meio de Thayer-Martin. É o meio de cultura específico para gonococos. · Gram da secreção endocervical – pegar a secreção, espalhar na lâmina e pedir um gram dessa secreção. Se vier diplococos gram-negativos, estamos diante de uma infecção gonocócica. · NAAT em swab de endocérvice, vagina ou urina. · PCR em citologia fixada. · PCR em citologia líquida. · Imagem 1: colo irregular e muco completamente aparelho. · Lembrar que, dependendo da prática sexual, a pessoa pode fazer amigdalite gonocócica ou conjuntivite gonocócica. A conjuntivite também acontece em mulheres com endocervicite por gonococo que têm o filho por parto normal. É exatamente por isso que fazemos nitrato de prata nos bebês, ou seja, para evitar a conjuntivite gonocócica. TRATAMENTO · Gonococos: · Ceftriaxona 500mg IM Dose única · Chlamydia: · Azitromicina 1g DU ou · Doxiciclina 200mg/dia/7dias (NÃO fazer em gestantes). · OBS: o que está em negrito é o que podemos fazer em grávidas. DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA · Quando a endocervicite não é diagnostica ou quando subjugamos aquele colo (não sei se é, vou esperar mais um pouco), essa endocervicite pode ascender, caso a paciente tenha algum fator de facilitação. · Ela faz uma ascensão planimétrica. Ela sobe da endocérvice endométrio endosalpinge. · Ela pode produzir um abcesso tubo ovariano. · Essa secreção pode cair na cavidade peritoneal, fazendo até peritonite, sepse e a paciente pode morrer. · Então, além das sequelas que essa doença causa, ela é uma doença potencialmente letal. · É uma síndrome clínica atribuída à ascensão de microrganismos da vagina/endocérvice de forma espontânea por agente sexualmente transmissível adquirido na comunidade ou devido a manipulação uterina (inserção de DIU, biópsia de endométrio, curetagem e histeroscopia), comprometendo o endométrio (endometrite), tubas e anexos e estruturas contíguas (salpingite, miometrite, ooforite, parametrite, pelviperitonite). · Ao executar alguns procedimentos, carregamos a bactéria da endocérvice para dentro da cavidade endometrial. · Adenomiose é uma doença prima da endometriose, em que a parede que deveria proliferar e descamar, infiltra o miométrio. E com isso, podemos ter miometrite. · Se houver comprometimento dos ovários, vamos ter ooforite. · Podemos ter comprometimento dos paramétrios e fazer parametrite. · Das mulheres com infecção por clamídia e gonococo que não foram tratadas, 10 a 40% vão desenvolver DIP. · Mulheres com DIP tem 6-10 vezes mais chance de desenvolver prenhez ectópica. · Quando mais vezes a pessoa se expõe a infecção por gonococo e clamídia, maior o número de episódios de DIP e a chance de ficar estéril por deformidade tubária é muito grande. · A infertilidade ocorre: · Em 12% das mulheres após o 1º episódio. · Em 25% das mulheres após o 2º episódio. · Em 50% das mulheres após 3 ou mais episódios. AGENTES ETIOLÓGICOS · Inicialmente, as bactérias envolvidas na DIP são: Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis. Mas, também podemos ter outras bactérias envolvidas na DIP. · Bactérias facultativas anaeróbias: · Gardnerella vaginalis. · Haemophilus influenza. · Streptococcus agalactiae. · Mycoplasma genitalium. · Mycoplasma hominis. · Ureaplasma urealyticum. · OBS: SEMPRE QUE TEMOS UMA DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA, TEMOS QUE PENSAR EM UMA DOENÇA POLIMICROBIANA. TEMOS QUE COBRIR GRAM-NEGATIVOS, GRAM-POSITIVOS E ANAERÓBIOS. NÃO É UMA DOENÇA DE UM AGENTE ÚNICO!!!! FATORES DE RISCO · Adolescência (idade menor do que 25 anos). · Início precoce das atividades sexuais. · Parceiros sexuais com múltiplas parcerias. · História prévia de vaginose, ISTs ou clamídia. · Baixo nível socioeconômico – às vezes as mulheres acabam cedendo ao sexo sem camisinha por questões econômicas. · 4 ou + parceiros em 6 meses (risco 3-4x maior) – sem uso de preservativo! · História de manipulação genital (curetagem, histeroscopia e inserção de DIU). FATORES DE RISCO/ANTICONCEPÇÃO · Sabemos que os métodos de barreira (camisinha masculina e feminina) protegem a DIP porque não vai haver contato com a secreção genital. · Quando utilizamos o método hormonal, observamos uma maior ocorrência de DIP. · Quando fazemos contracepção hormonal, a pessoa está mais segura. Algumas pessoasacreditam que, por não engravidarem, elas podem ter relações sexuais com várias pessoas. · Como a vagina fica mais ácida com os métodos contraceptivos hormonais, temos menos incidência de gonococos, mas passamos a ter maior infecção por clamídia. · Em relação ao DIU, ele só aumenta o risco de DIP se ele for inserido em uma paciente com cervicite. Normalmente, essa DIP ocorre no primeiro mês após a inserção de DIU. · A ligadura tubária protege de salpingite, mas não de endometrite. Então, pode fazer irregularidade menstrual e sangramento por causa da endometrite. QUADRO CLÍNICO · Suspeitamos de DIP quando temos uma paciente com dor pélvica. · Para dizermos que ela tem DIP, temos que ter 3 critérios maiores + 1 menor OU 1 elaborado. · Critérios maiores ou mínimos: · Dor à palpação uterina. · Dor à palpação dos anexos. · Dor à mobilização do colo. · Se ela tiver só dor cervical, ela tem só uma endocervicite podemos fazer o tratamento só com dose única. Mas, se ela tem dor anexial, temos que fazer o tratamento clássico da DIP. · Critérios menores ou adicionais: · TAX > 38, 3 graus. · Mucopus ou colo friável com a secreção amarela saindo do orifício externo. · Citologia vaginal com piócitos. · VHS, PCR elevados. · Documentação laboratorial de infecção por gonococo ou clamídia. · Critérios elaborados ou definitivos: · Evidência histopatológica de endometrite. · Abcesso tuboovariano ou em FSD em estudo de imagem. · Laparoscopia com evidência de DIP. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL · Causas genitais obstétricas: · Prenhez ectópica. · Abortamento séptico. · Nessas duas situações, o Beta HCG vai estar alterado (aumentado). · Causas genitais ginecológicas: · Dismenorreia – cólica menstrual. · Torção ovário/cisto ovário – faz abdome agudo e massa anexial, mas quando abre a cavidade, vê um anexo torcido e não vê sinal de inflamação. · Torção mioma. · Endometrioma roto – trata o endometrioma e vê como a paciente fica. Esse endometrioma pode romper. Quando rompe, o sangue velho é irritante para a cavidade peritoneal. · Causas urinárias: · Cistites – dor hipogástrica. · Pielonefrites. · Litíase Renal/ureter. · Uretrite – lembrar que temos uretrite gonocócica também. · Nada impede de ter uma cistite ou uma pielonefrite associada a DIP. Então, é bom fazer uma urocultura para descartar infecção só do trato urinário. · Causas gastrointestinais: · Apendicite. · Colicistite. · Constipação. · Diverticulite. DIAGNÓSTICO · História clínica + exame físico. É uma paciente que reclama de dor, pode reclamar de um sangramento irregular, pode reclamar de secreção ou não. A queixa principal é dor pélvica. · Hemograma (leucocitose > 10.000 com desvio). · VHS/PCR aumentados. · Swab de endocérvice com cultura e TS (meio Thayer Martin). · PCR para clamídia em secreção. · EAS/urocultura para afastar infecção urinária. · B-hCH para afastar gravidez (abortamento e ectópica). · Hemocultura. · Pesquisa de gonococo e clamídia em material de uretra, endocérvice, laparoscopia e punção FSDouglas. · Imagem 1: Culdocentese com Gram e cultura + TSA. Temos o abcesso, pinçamos o lábio posterior do colo do útero e entra com uma agulha para aspirar a secreção. Não tem que ter pus na cavidade peritoneal. Se tiver, temos um abcesso pélvico. Se tivermos uma suspeita de tubária, vai ter sangue e também não devemos ter sangue em peritônio. · Imagem 2: Temos uma histerosalpingografia. · Na foto de cima, temos o útero, triangular com base voltada para cima, as tubas pequenas, porém ocluídas no final. Essa paciente fez uma inflamação das tubas, a tuba colou no ovário e juntou secreção ali. · Às vezes, essa tuba fica toda dilatada, e aí não temos a parte fininha como temos na histerosalpingografia. Com isso, temos uma imagem de linguiça, que é o ultrassom a direta e embaixo. Temos imagens tubulares com septações. A tuba dilata e se dobra, para caber, e aí forma essa imagem em líquida. · Na outra imagem, temos o líquido em saco de Douglas e em cima, a hidrosalpinge. É uma tuba completamente dilatada, que não tem funcionalidade nenhuma. Inicialmente, ela faz um abcesso tubário, mas depois, esse pus é absorvido e ela fica com uma hidrosalpinge. Ela fica translúcida porque tem uma água, mas essa água tem substâncias inflamatórias. · Imagem 3: TC com hidrossalpinge. Também podemos ter TC com abcessos tubovarianos. · Imagem 4: Endometrite. A cor de rosa pálido é a cor normal do endométrio. Quando temos endometrite, temos o endométrio vermelho com o pontilhado mais claro, que é o endométrio inflamado. · Imagem 5: Temos o fígado. A paciente teve uma peri-hepatite. Essas travas fibrosas que estão entre o peritônio parietal e a cápsula hepática são chamadas de Fitz Hugh Curtis. TRATAMENTO AMBULATORIAL · Ceftriaxona 500mg IM dose única · + Doxiciclina 100mg 12/12h por 14 dias. · + Metronidazol 500mg 12/12h por 14 dias. · OU Cefotaxima 500mg IM dose única. · + Doxicilina 100mg 12/12h por 14 dias. · Metronidazol 500mg 12/12h por 14 dias. · LEMBRAR QUE A DIP É UMA INFECÇÃO SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEI, ENTÃO TEM QUE CONVOCAR OS PARCEIROS. · Neles, fazemos Ceftriaxona 500mg IM dose única + Azitromicina 1g dose única. · Rastreio de outras ISTs (Hepatite B e C, sífilis, HIV). · Rastrear imunidade para hepatite B, pedir um anti-HBS e vacina de hepatite. TRATAMENTO/ CRITÉRIOS DE INTERNAÇÃO · Suspeita de abcesso tubovariano – esse abcesso pode romper, ela pode fazer sepse e romper. · Suspeita de peritonite. · Gravidez. · Suspeita de abdome agudo. · Estado geral grave (náusea, vômito e febre) – interna, hidrata, faz uma boa analgesia venosa e começa com antibiótico venoso. · Falha no tratamento ambulatorial. · Impossibilidade de tratamento oral (náusea/vômito, não adesão, falta de dinheiro, déficit cognitivo, impossibilidade de seguimento ambulatorial). TRATAMENTO HOSPITALAR · Ceftriaxona 1g IV, 1x/dia por 14 dias. · + Doxiciclina 100mg VO 12/12h por 14 dias. · + Metronidazol 400mg 12/12h por 14 dias. · OU Clindamicina 900mg IV, 8/8h por 14 dias. · + Gentamicina IV ou IM 3-5mg/kg/dia por 14 dias. · OU Ampicilina/sulbactam 3g IV, 6/6h por 14 dias. · + Doxiciclina 100mg VO 12/12h por 14 dias. · A paciente melhorando, pode dar alta para ela. · Se ela tiver um abcesso, invariavelmente ela vai para a cirurgia. Os abcessos acima de 3, 4cm não desaparecem. COMPLICAÇÕES · Precoces: · Periepatite. · Abcesso tubovariano. · Morte. · Tardias: · Dor pélvica crônica. · Infertilidade. · Prenhez ectópica. · DIP recorrente. PROFILAXIA · Uso de preservativo. · Diagnóstico precoce de endocervicite. Uma vez diagnosticada, temos que tratar!!! · Rastreio das populações de risco. · Tratamento das vaginoses e DIPs iniciais. · Sempre que atender uma paciente com dor pélvica, pensar que pode ser DIP!! INFORMAÇÕES RELEVANTES DAS IST NO BRASIL – 2015 · “Incidência estimada de 3.517.000 novas infecções gonocócicas ao ano entre mulheres e 5.768.000 entre homens, totalizando 9.285.000 novas infecções ao ano na população de 15 a 49 anos.” MS, abril 2015. Conitec.