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Portuguese 
ReonFacema. 2016Out-Dez; 2(4):339-344. 
 
 
CITIES ARE PEOPLE: the public space as constitutional guarantee 
of the citizen 
CIDADES SÃO PESSOAS: o espaço público como garantia constitucional do cidadão 
CIUDADES PERSONALES: el espacio público como garantía constitucionaldel ciudadano 
 
 
 
 
 
RESUMO 
Objetivo: estuda a questão do planejamento urbano - com enfoque na dimensão humana - 
como agente promotor do desenvolvimento das cidades que amparam o caráter social e 
cultural das cidades.Metodologia: tece-se uma discussão reflexiva acerca dos espaços 
públicos urbanos como lugares de encontros e trocas constantes, principalmente com a 
prerrogativa que estes são sítios onde se expõe a estreita relação entre cidades x pessoas x 
qualidade de vida. Resultado: apresenta-se uma reflexão que destaca a dimensão humana 
como forma de observar um melhor aproveitamento dos espaços públicos corroborando com 
a hipótese de boas cidades como lugar de pessoas e ratificando o direito à cidade como 
garantia constitucional do cidadão. Conclusão: é patente a necessidade de se discutir o 
planejamento urbano das cidades que – independente da localização, economia e grau de 
desenvolvimento – menosprezam o pedestrianismo, em detrimento de outras questões como 
a acomodação dos automóveis e as ideologias de planejamento urbano. Ademais, mostra-se 
salutar a análise da relação entre espaços públicos de qualidade e a apropriação das pessoas 
por esses espaços. 
 
ABSTRACT 
Objective: to study the issue of urban planning - with a focus on the human dimension - as 
an agent that promotes the development of cities that support the social and cultural 
character of cities. Methodology: a reflexive discussion about urban public spaces is 
organized as meeting places and constant exchanges, especially with the prerogative that 
these are sites where the close relationship between cities x people x quality of life is 
exposed. Result: a reflection that highlights the human dimension as a way to observe a 
better use of public spaces corroborating with the hypothesis of good cities as a place of 
people and ratifying the right to the city as a constitutional guarantee of the citizen. 
Conclusion: there is a clear need to discuss the urban planning of cities that - regardless of 
location, economy and degree of development - disparage pedestrianism, to the detriment 
of other issues such as car accommodation and urban planning ideologies. In addition, it is 
salutary the analysis of the relation between public spaces of quality and the appropriation 
of the people by these spaces. 
 
RESUMÉN 
Objetivo: estudiar la cuestión de la planificación urbana - con foco en la dimensión humana 
- como agente que promueve el desarrollo de ciudades que apoyen el carácter social y 
cultural de las ciudades. Metodología: una discusión reflexiva sobre los espacios públicos 
urbanos como lugares de reuniones y lugares de cambios constantes, principalmente con la 
prerrogativa de que estos son lugares donde la relación estrecha entre las ciudades x 
personas x calidad de vida es expuesta. Resultado: una reflexión es presentada destacando 
la dimensión humana como una manera de observar una mejor utilización de los espacios 
públicos corroborando con la hipótesis de buenas ciudades como un lugar de personas y 
ratificando el derecho a la ciudad como garantía constitucional del ciudadano. Conclusión: 
hay una clara necesidad de discutir la planificación urbana de ciudades que, 
independientemente de la ubicación, economía y grado de desarrollo, desprecian el 
trekking, en detrimento de otras cuestiones, como el alojamiento de coches e ideologías de 
planificación urbana. Además, el análisis de la relación entre espacios públicos de calidad 
y la apropiación de personas por esos espacios es saludable. 
 
 
 
Descriptors 
Cities. Fundamental right. Urban 
planning. 
 
 
Descritores 
Cidades. Direito Fundamental. 
Planejamento Urbano 
 
 
Descriptores 
Ciudades. Derecho Fundamental. 
Planificación Urbana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sources of funding: No 
Conflict of interest: No 
Date of first submission: 2016-04-26 
Accepted: 2016-05-19 
Publishing: 2016-12-27 
 
 
 
 
Tiago Leal Catunda Martins 
Walber Angeline da Silva Neto 
Rua Aarão Reis, 1000 
Centro · Caxias - MA 
CEP: 65600-000 
99.3422.6800 
tiagocatunda@hotmail.com 
 
 
 
 
 
ISSN: 2447-2301 
 
1 CEUT. Pós-Graduação em Direito Civil e Direto Processual Civil. Rua Des. Pedro Conde, 320, Noivos. Teresina-PI. 
Email: tiagocatunda@hotmail.com. 
2 UFPI. Pós-Graduação Práticas Projetuais em Arquitetura e EngenhariaRua Raimundo Portella, 1451, Fátima. Teresina-
PI. Email:walberangelineneto@hotmail.com 
 
REFLEXÃO / REFLEXION / REFLECCIÓN 
Tiago Leal Martins¹ 
Walber Angeline Silva Neto² 
 
 
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ISSN: 2447-2301 
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INTRODUÇÃO 
 
A cidade deve ser compreendida como palco de 
trocas entre o homem e o meio, como um lugar dinâmico 
que se transforma ao passo que são inseridos ou retirados 
valores da coletividade, e que absorve as características 
culturais da população. 
Nesse aspecto, merece destaque o espaço público, 
local este inserido na cidade, que é utilizado para a 
circulação, lazer, convívio, e onde são desenvolvidas 
atividades vitais para a vida em sociedade, mostrando-se 
como referência de identidade paisagística, política e 
cultural. Justifica-se a abordagem do estudo pelo fato de 
que as pessoas que usam os espaços públicos das cidades são 
maltratadas, em decorrência da baixa prioridade ao sítio 
público dentro da urbe, deixando sitiada as funções cultural 
e social do espaço da cidade(1). 
O presente artigo tem como objetivo analisar a 
questão do espaço público como patrimônio cultural 
nacional e, portanto, elevado ao status de garantia 
constitucional, gozando das prerrogativas que são atribuídas 
aos direito fundamentais. Para tanto, no primeiro capítulo 
desvela-se o conceito de cidade, como lugar de exposição 
das relações culturais, configurando-se como um ambiente 
onde se pode observar e compreender a sociedade e cultura 
as quais se está inserida. 
No segundo capítulo, aborda-se o caráter 
fundamental do direito ao espaço público, como sendo 
patrimônio cultural e dotado de prerrogativas de proteção 
trazidas pela legislação nacional. Nesse ponto, apresenta-se 
espaço público como uma garantia constitucional, sendo 
dever do poder público conservá-lo com o fito de garantir o 
bem-estar da população. 
 
1.CIDADES SÃO PESSOAS 
 
Por conceito, “cidade” é palavra que vem do latim 
civitas e significa “direito do cidadão”. Popularmente, o 
conceito não foge ao significado da palavra, definindo 
cidade como uma área povoada, com ruas, praças, 
habitações, comércios, onde se encontram ofertas de 
emprego, hospitais e o poder público, sendo, portanto, uma 
sede político-administrativa. Esse entendimento cria a ideia 
de que cidade é um lugar maquinal, que se desenvolve 
principalmente por meio de uma legislação e quase sempre 
associada à política. 
 Analisando a Constituição Federal Brasileira 
constata-se a verdade contida na afirmativa, quando se lê 
no artigo18º, parágrafo 4º: 
 
A criação, a incorporação, a fusão e o 
desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei 
estadual, dentro do período determinado por lei 
complementar federal, e dependerão de consulta 
prévia, mediante plebiscito, às populações dos 
Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos 
de Viabilidade Municipal, apresentados e 
publicados na forma da lei.” 
 
As cidades são, assim, local de encontro e de trocas 
constantes, que não englobam apenas os aspectos técnicos 
ou formais, físicos e territoriais, mas, também, os saberes e 
culturada população, a Arquitetura, a Filosofia, a 
Economia, aspectos sociais e o modo de vida, sendo, desta 
maneira, importantes agentes de formação dos espaços 
urbanos, que, por sua vez, os expõe. 
Esta abordagem mais complexa apresenta a cidade 
como um local que ganha novas definições à medida que são 
feitas as trocas entre o homem e o meio em que vive, ou 
seja, que absorve as características culturais da população 
e se transforma ao passo que são inseridos ou retirados 
valores da comunidade. Nessa mesma linha, discute-se a 
cidade como uma “organização das experiências”(2 , ou 
seja, um lugar de tradições, cultura e troca constante. 
Dessa maneira, a cidade se torna um espaço de 
criação humana e, portanto, um espaço vivo e mutável. É, 
assim, o ambiente onde se dão as relações sociais, onde se 
constrói e expõe a história e a cultura; um espaço de 
encontros, onde se podem constatar os mais variados 
processos sociológicos e antropológicos. Entende-se, pois, a 
Urbe, como um ambiente mais involuntário que mecânico. 
 Este olhar se volta, consequentemente, para os 
espaços públicos urbanos, uma vez que concentram um 
maior número de pessoas e, por isso, revelam importantes 
trocas sociais do homem com o meio, isto é, permitem que 
se perceba a dimensão humana numa escala macro, sendo a 
cidade um espaço catalisador das experiências dos cidadãos 
e de suas características culturais. 
A importância dos espaços públicos evoca das 
sociedades gregas e romanas, onde os espaços vazios dentro 
da cidade eram pensados de forma projetual, 
acompanhando a cultura de cada uma dessas sociedades. A 
àgora, na Grécia, e o fórum, em Roma, faziam o papel da 
“praça” nestas civilizações tradicionais. No Renascimento, 
o espaço público assumiu papel decisivo na estrutura da 
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cidade. Era, portanto, importante à medida que passava a 
constituir um espaço da cidade e não mais um espaço 
autônomo. Analogamente seria uma peça em um quebra-
cabeça que é a cidade. Era um lugar isolado e deveria deixar 
a cidade à vista, expondo-a, assumindo, desta maneira, 
status de lugar de encontros. (2) 
 A partir do século XVIII, o sítio público e, 
principalmente, as praças se tornam “obrigatórios” na 
concepção da urbe, assumindo papel de elemento urbano 
que funciona como espaço de convivência, contemplação e 
recreação dos cidadãos(3). A praça – que constitui um espaço 
público – é um elemento intencional e morfológico da 
cidade, ou seja, é um componente de formação das cidades 
não acidental (4). 
Nesse espaço dão-se as relações de troca entre o 
homem e o espaço melhores percebidas pelos 
pesquisadores, uma vez que são lugares de circulação, 
intencional encontro, permanência e práticas sociais, além 
de ser palco para manifestações culturais que afetam a 
paisagem cultural e, por consequência, moldam a vida dos 
cidadãos. “A praça reúne a ênfase do desenho urbano como 
espaço coletivo de significação importante. Este é um dos 
seus atributos principais e que a distingue dos outros vazios 
da estrutura da cidade” (4). 
Os espaços públicos urbanos, desta forma, 
constituem-se em espaço de caráter social e de convivência, 
sendo assim direito fundamental dos cidadãos, porque são 
espelho da sociedade e cultura, reflexos dos 
acontecimentos e trocas existentes. O prisma apresentado 
coloca os espaços urbanos – e as cidades – como palco do 
desenvolvimento urbano e da melhoria da qualidade de vida 
das pessoas. 
Verifica-se, contudo, que o uso dos espaços 
urbanos pelas pessoas tem ocorrido de forma insatisfatória, 
posto que, independente da localização, economia e grau 
de desenvolvimento, o planejamento urbano tem se 
afastado das questões da dimensão humana e excluindo da 
prática de gestão urbana questões como áreas para 
pedestres, e dos espaços urbanos como locais de 
encontro(1). 
 Dois fatores são desenhados como propulsores 
destes afastamentos: “o dramático aumento do tráfego de 
automóveis e a ideologia urbanística do modernismo” (5). 
Sobre o primeiro, a autora pontua a incapacidade 
intelectual dos gestores em planejar cidades funcionais e 
saudáveis – com ou sem automóveis – uma vez que não 
compreendem as reais necessidades das cidades (ou seja, 
não pensam em cidades para pessoas). 
 “Como saber que solução dar ao trânsito antes de 
saber como funciona a própria cidade e de que mais ela 
necessita nas ruas?” (5). Já em relação à ideologia 
urbanística do modernismo, a crítica é a cerca da separação 
de usos das cidades (setor residencial, setor comercial, 
setor administrativo) e o destaque dado aos edifícios 
individuais autônomos. Em resumo, esses dois fatores 
produzem cidades individualizadas e que não cooperam com 
a inter-relação de seus moradores. Sob esse panorama, 
destaca-se a fundamental observância dos espaços urbanos 
públicos como instrumentos de melhoria da qualidade de 
vida das pessoas e destaca-se o entendimento de que a 
cidade precisa ser pensada na dimensão humana para que 
ocorra um desenvolvimento urbano adequado e, portanto, 
se obtenha a salvaguarda do direito à cidade. 
 Essa premissa liga-se intimamente aos ideais do 
desenvolvimento de cidades pensadas para pessoas, o que 
este chama de cidades vivas, seguras e saudáveis(1). 
Destacam-se de cidades pensadas para pedestres, em que 
as pessoas seriam ao mesmo tempo agentes de boas práticas 
civis e fiscalizadoras do bem comum, naquilo que os 
urbanistas chamam de apropriação do espaço urbano. 
 Esta apropriação se dá, por sua vez, pela 
possibilidade de uso da cidade, vinculada diretamente aos 
convites que as cidades fazem aos seus cidadãos. O convite 
a caminhar, a pedalar, a sentar-se e apreciar a paisagem, a 
usufruir dos parques e praças, promovendo uma constante 
interação entre as pessoas e o meio, motivando o câmbio de 
experiência e possibilitando o uso daquilo que é primordial 
ao homem, o espaço que habita. 
 Os espaços públicos, por conseguinte, precisam ser 
pensados como locais de comando e orientação de todo o 
processo urbano, em oposição aos interesses meramente 
comerciais. Faz-se necessário pensá-los sob a ótica do 
“autorreforço” (1) que sustenta a vida urbana à medida que 
insere as pessoas no espaço público, evitando obstáculos das 
mais diversas ordens. 
 Faz-se necessário, paralelamente, que seja 
permitido o usufruto de todos os espaços da cidade, como 
sentido de identidade e, consequentemente, de promoção 
da cidadania e da salvaguarda do direito de ir e vir dos 
cidadãos. 
 Essas concepções, ora filosóficas, ora urbanísticas, 
são relevadas para que se compreenda o papel das cidades 
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na formação individual das pessoas e, ainda, como direito 
fundamental da população de qualquer cidade. A tônica 
aproxima o urbanismo das diretrizes jurídicas, uma vez que 
garante o direito à cidade e aos espaços públicos como 
prerrogativa fundamental do Estado para com o cidadão. 
 preciso que se comece a pensar o espaço público 
urbano como palco para as atividades humanas, e, para 
tanto, se faz necessário que as cidades permitam o acesso 
das pessoas aos seus espaços, promovendo um novo 
planejamento urbano que inclua a dimensão humana. 
 Para esse fim, os urbanistas e gestores das cidades 
precisam entender que a vida das cidades está diretamente 
ligada aos convites que esta faz a seus moradores. A cidade 
precisa ser agradável, permitir que as pessoas circulem e 
adotar políticaspúblicas de melhoria urbana: melhorar o 
transporte público, os passeios, eliminar fronteiras – grades, 
muros, desníveis – num entendimento que a cidade é feita 
de pessoas e, portanto, precisa ser pensada para elas. 
Antes de mudar a cidade, é preciso conhecê-la e é 
preciso, também, compreender que as discussões que 
cercam o espaço público são necessidade primeira das 
pessoas. A partir desse ponto de vista, a 
interdisciplinaridade se faz necessária na compreensão do 
direito à cidade. Para isso, o urbanismo e o direito se 
constituem em disciplinas irmãs na construção deste ideal. 
 
2.O ESPAÇO PÚBLICO COMO DIREITO FUNDAMENTAL 
 
O espaço público é, dentro das cidades, o lugar de 
uso comum e posse de todos os cidadãos, utilizado para a 
circulação, lazer, convívio, atividades coletivas e destinado 
às diversas formas de relações humanas. Compreende os 
lugares urbanos que, unidos às estruturas prediais, 
possibilitam e estruturam a vida em comum. 
Nesses espaços são desenvolvidas atividades vitais 
para a vida em sociedade e é onde aparecem refletidos a 
cultura e os costumes predominantes do lugar, sendo, 
portanto, estes, referências de identidade paisagística, 
política e cultural. 
O espaço público parte do mundo da circulação e 
deve ser um lugar de convivência democrática, um espaço 
de estímulos culturalmente produtivos, onde o cidadão 
possa interagir não só com seus iguais, mas também com o 
ambiente comum da cidade.1Nesse sentido, é imperioso 
 
 
trazer o texto do artigo 216, inciso IV da Constituição da 
República (6): 
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro 
os bens de natureza material e imaterial, tomados 
individualmente ou em conjunto, portadores de 
referência à identidade, à ação, à memória dos 
diferentes grupos formadores da sociedade 
brasileira, nos quais se incluem: 
[...] 
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e 
demais espaços destinados às manifestações 
artístico-culturais; 
 
A partir desta leitura, constata-se que a CF incluiu 
no conceito de patrimônio cultural brasileiro as edificações 
e demais espaços destinados às manifestações artístico-
culturais, ou seja, os espaços públicos. O legislador 
constitucional, desta forma, foi sensível ao que 
representava o espaço público para a sociedade urbana e o 
elevou ao status de patrimônio cultural para que lhe fossem 
garantidas todas as prerrogativas de proteção trazidas pela 
legislação brasileira. 
Ademais, o texto constitucional discerne que o 
espaço público somente reflete a identidade de um lugar e 
cumpre sua função social se for utilizado pelo cidadão de 
forma plena. Para tanto, a CF garantiu ao cidadão, nestes 
espaços, o direito constitucional pleno de ir e vir, previsto 
no art. 5º, inciso XV, quando assenta, no citado artigo, no 
inciso XVI que: 
 
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem 
armas, em locais abertos ao público, 
independentemente de autorização, desde que não 
frustrem outra reunião anteriormente convocada 
para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio 
aviso à autoridade competente; 
 
Por sua vez, o artigo 99, inciso I, do Código Civil, 
define bens públicos como aqueles espaços de uso comum 
do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças, 
lugares onde todos os moradores têm livre circulação. 
Assim, dentre a universalidade de bens reconhecida pelo 
ordenamento pátrio, o Código Civil destacou aqueles que 
são de uso comum dos cidadãos, denominados espaços 
públicos livres, nos quais não só o uso é comum, mas onde, 
também, é garantido o direito constitucional de ir e vir. 
Bens de uso comum do povo, ou do domínio público, como 
exemplifica a própria lei, são os mares, praias, rios, 
estradas, ruas e praças. 
Enfim, todos os locais abertos à utilização pública 
adquirem este caráter de comunidade, de uso coletivo, de 
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fruição própria do povo. Sob esse aspecto – acentua Cirne 
Lima–pode o domínio público definir-se como a forma mais 
completa de participação de um bem na atividade de 
administração pública. São os bens de uso comum do povo, 
ou do domínio público, o serviço mesmo prestado ao público 
pela Administração, assim como as estradas, ruas e praças. 
Esses bens integram-se no domínio público pela só 
destinação ao uso indiscriminado do povo, e independem de 
qualquer registro imobiliário(7). 
Assim sendo, os espaços em análise, por se 
constituírem patrimônio cultural e serem de livre acesso e 
gozo de todos os cidadãos, merecem o adequado uso e 
preservação. 
Dessa forma, os espaços públicos mostram-se como bens 
difusos, pois, o legislador constituinte estabeleceu como 
dever do poder público, com a colaboração da comunidade, 
promover e proteger o patrimônio cultural através de 
inventários, registros, vigilância, tombamento e 
desapropriação, além de outras formas de acautelamento e 
preservação, conforme o art. 216, parágrafo 1º, da CF(8). 
Logo, a competência de proteger os bens 
ambientais é comum da União, estados-membros, Distrito 
Federal e Municípios, como assenta o art. 23, inciso I, da 
Constituição Federal: “Art. 23. É competência comum da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: 
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das 
instituições democráticas e conservar o patrimônio 
público;” 
Nessa linha, o dever do Estado não se cinge às 
modalidades de preservação do espaço público descritas na 
lei, pois, é lição do ente público, também, Não sendo, 
portanto, respeitados os comandos de preservação e de 
necessidade de efetiva utilização do bem público pelo 
cidadão, resta ferido o princípio constitucional da 
Administração Pública, qual seja, o princípio da eficiência, 
e, de igual forma, não resta atendida a função social do 
espaço público prejudicando a função social da cidade. 
A Lei nº 10.257/01, denominada de Estatuto da 
Cidade, em artigo 1º2, amparado pelo que traz a CF em seus 
arts. 182 e 183, defende a necessidade de execução, pelo 
poder público, de uma política urbana, com o objetivo de 
se colocar em vigor a função social da cidade, pautada em 
 
2 Art. 1o Na execução da política urbana, de que tratam os arts. 182 e 183 da 
Constituição Federal, será aplicado o previsto nesta Lei. 
Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da 
Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam 
normas de ordem pública e interesse social que regulam o 
uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da 
segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do 
equilíbrio ambiental. Assim, pelo texto do citado artigo, não 
resta dúvida que a política urbana deve contemplar os 
espaços públicos. 
O artigo 2º do Estatuto da Cidade, de forma 
semelhante,traz que a função social da cidade deve 
obedecer a diretrizes gerais, dentre elas, a de preservação 
e recuperação do meio ambiente construído. 
Dessa maneira, o poder público possui 
responsabilidade e deveres de conservação e segurança em 
relação aos bens públicos, caracterizando omissão ilícita 
quando este deixar de atender à real função dos espaços 
públicos e, por via de consequência, a função social da 
cidade. 
Essa política adotada pelo Estado, 
consequentemente, deve ter como fim o desenvolvimento 
urbano, através da preservação dos espaços públicos, para 
que seja posto em prática a função social da cidade e, por 
efeito, garantir o bem-estar e a proteção dos direitos e 
garantias fundamentais de seus habitantes. Assim sendo, 
tem-se que o espaço público mostra-se verdadeiro direitofundamental, pois este carrega o status de patrimônio 
cultural nacional, por representar a identidade de um lugar, 
garante a execução de direitos fundamentais, a exemplo do 
direito de ir e vir, é amparado pela legislação brasileira no 
que tange à proteção e preservação e, quando utilizado, 
assegura a função social da cidade e o bem-estar do 
cidadão. 
 
CONCLUSÃO 
 
Os espaços públicos são, dentro da perspectiva ora 
apresentada, direito fundamental do cidadão e, portanto, 
matéria que precisa ser discutida dentro das mais diversas 
esferas – acadêmica, política, social. Para tal fim, é preciso 
que se lance olhares fiscalizadores sobre as práticas 
gestoras do planejamento urbano das cidades. 
Um olhar sobre as cidades aponta, porém, o 
caminho oposto. Os espaços urbanos são cada vez menos 
dotados da dimensão humana, promovendo cidades sem 
vida, sem uso, grandes centros edificados que priorizam os 
o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do 
bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. 
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http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031135/estatuto-da-cidade-lei-10257-01
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031135/estatuto-da-cidade-lei-10257-01
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031135/estatuto-da-cidade-lei-10257-01
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/11148940/artigo-2-da-lei-n-10257-de-10-de-julho-de-2001
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031135/estatuto-da-cidade-lei-10257-01
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automóveis e desconsideram o pedestrianismo como agente 
de desenvolvimento urbano sustentável. 
O direito à cidade não é, somente, a licença a frequentar os 
espaços públicos urbanos. É urgente o entendimento que 
estes espaços precisam ter qualidade, uma vez que a 
melhoria destes sítios está diretamente ligada à melhoria da 
qualidade de vida das pessoas. 
 Cidades vivas são cidades onde as pessoas circulam, 
trocam experiências com outras pessoas, caminham, 
apreciam as paisagens; são cidades acolhedoras que 
integram socialmente e não excluem. 
Para que isto ocorra, as cidades. “Devem ter um 
espaço público cuidadosamente projetado para sustentar os 
processos que reforçam a vida urbana. Uma condição básica 
é que a vida na cidade seja potencialmente um processo de 
autorreforço” (1). Ou seja, pessoas atraem pessoas e, assim 
sendo, transformam os espaços, que por fim modificam a 
sociedade. Dá-se assim a importância do olhar cuidadoso ao 
sítio público urbano, uma vez que este oportuniza os 
elementos sociais e culturais. 
Destarte, conclui-se, que a letra da lei, sozinha, 
não garante a construção de cidades humanas, tampouco a 
teoria do Urbanismo. Contudo, ao colocar o espaço urbano 
público como uma garantia fundamental, visto que este é 
tratado como patrimônio cultural, revela-se a busca para 
que seja efetivado o bem-estar da população e, com isso, 
garantida a função social da cidade. 
O destaque do bem público, de livre acesso dos 
cidadãos, do bem privado feito pela Legislação Civil e a 
responsabilidade do poder público em conservar os espaços 
públicos, prevista na legislação, tenta garantir uma política 
urbana voltada para a cidade como espaço do cidadão. 
Entretanto, a cobrança por uma cidade com melhores 
espaços públicos deve partir das pessoas para as pessoas. 
A educação urbana deve ser matéria de discussão 
social, tendo como foco principal a dimensão humana. 
Entender que a cidade nos convida a determinadas ações – 
mais vias, mais carros; mais banco, mas pessoas sentadas; 
melhor espaço público, melhor qualidade de vida; mais 
segurança, mais gente na rua – é o primeiro passo para se 
construir uma cidade com qualidade. 
 
REFERÊNCIAS 
 
1.GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo. Editora 
Perspectiva. 2015. 
 
2.BENEVOLO, Leonardo. A Cidade e o Arquiteto. São Paulo: 
Perspectiva, 2006. 
 
3.ROBBA, Fábio; MACEDO, Sílvio Soares. Praças 
Brasileiras. São Paulo: Publifolha, 2003. 
 
4.LAMAS, José Manuel RessanoGarcia.Morfologia Urbana e 
Desenho da Cidade. Fundação CalousteGulbenkian e 
Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2004. 
 
5 .ACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São 
Paulo: Martins Fontes, 2000. 
6 .SILVA, Lucas Soares e; AGOSTINHO, Luís Otávio Vincenzi 
de. A fundamentalidade do direito ao espaço público e 
sua limitação em nome da segurança. Disponível em 
<http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=6e7b33f
dea3adc80> Acesso em: dez. 2016. 
 
7.MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. 6ª ed. 
São Paulo: Malheiros Editores, p. 228. 
 
8.BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil 
(1988). Promulgada em 05 de outubro de 1988. Disponível 
em: < 
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