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FAJNWAKS, FABIÁN Jacques Lacan - precursor das teorias queer

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Psicanálise – Priscila Gomes de Oliveira
RESUMO
FAJNWAKS, FABIÁN. Jacques Lacan: precursor das teorias queer. In.: CAPANEMA, Carla Almeida; DURÃES, Flávio; MIRANDA JR. Hélio Cardoso; MOTTA, Juliana Meirelles; GUEDES, Marconi Martins da Costa. Psicanálise e psicopatologias lacanianas: impasses e soluções. Curitiba: CRV, 2020, p. 17-34. 
Os estudos queer possuem suas raízes em teóricos como Foucault, Deleuze, Derrida, e, o próprio Lacan. Para o autor, os estudos queer representam em seu cerne àquilo que Freud sempre se interessou: a relação do ser falante com o real que constitui a sexualidade. 
Críticas de alguns teóricos queer à psicanálise lacaniana: 
1. Ao falocentrismo e sua abordagem da perversão em termos exclusivamente fálicos (18);
2. À primazia concedida ao Nome-do-pai em sua função de “normalização do desejo” (18). 
Pontos de convergência: 
1. A nomeação é um ponto em comum com a psicanálise, embora essa a articule com os modos de gozo do sujeito (17);
2. Lacan coincide em muitas das críticas que os autores queer dirigem à Psicologia do Eu, à adaptação às normas sociais e políticas, não apenas no que concerne à sexualidade, mas de maneira mais geral à ordem normativa do discurso habitada pelos seres falantes (18);
3. Crítica à fetichização da genitalidade produzida pela tradição clínica da psicanálise norte-americana (18) – “genital love”, segundo Lacan, que a Psicologia do Eu promovia na tentativa de conciliar a satisfação pulsional e o amor, o que segundo o Fajnwaks estavam em campos disjuntos na obra freudiana;
Pontos de divergência: 
1. Existem verdadeiras e falsas divergências quanto à maneira de abordar o ser sexuado entre os autores queer e a psicanálise lacaniana (19);
2. Os estudos queer estão interessados nas nomeações que as diferentes práticas sexuais permitem promover para introduzir cortes na ordem normativa do discurso fixado e determinado pela heterossexualidade durante séculos (17). 
3. O gozo sexual não é o gozo tal como Lacan o designa;
4. É uma falsa divergência supor um essencialismo anatômico à psicanálise, fundado na diferença sexual, essencialismo que determinaria um real anatômico na relação do sujeito com seu próprio sexo (19); 
5. Outra falsa divergência supõe que a análise permaneceu no estágio de reduzir o conjunto da experiência sexual ao Falo e em articular completamente o desejo a este significante central que o Nome-do-Pai (20);
6. As verdadeiras divergências são levantadas em relação à diferença de abordagens no que concerne à sexualidade. Ali onde para os autores queer a sexualidade se encontra absorvida completamente pela prática sexual, pratica que permite fundar identidades por fora das categorias estabelecidas de homens/mulheres, para a psicanálise o sexual implica um real impossível de simbolizar e, por essa razão, irredutível a qualquer representação ou identificação (20);
Respostas de Fajnwaks às críticas dos estudos queer:
1. Normatizar o desejo não é o mesmo que normatizar o sujeito. Normatizar o desejo supõe dar-lhe uma medida; normatizar o sujeito supõe que essa medida opera de maneira ampliada em todas as instâncias de sua vida, o que não é assim (19);
2. As eleições de gozo de um sujeito se estabelecem ao nível de sua fantasia fundamental, mas são lábeis e podem conhecer mutações desde que a fantasia do sujeito se encontre questionada ou suspensa – exemplo da jovem homossexual (20); 
3. A virada lacaniana após Saussure – Lacan divide o significante fálico em duas posições de semblante, sê-lo ou tê-lo, em posições que atribuem ao sujeito uma certa paródia[footnoteRef:1] porque se envolvem em uma encenação (21); [1: Aqui parece uma tentativa do autor de aproximação da teoria do semblante com a noção de performatividade em Judith Butler.] 
4. No seminário 6, Lacan sublinhou o quanto o Édipo não é a solução única do desejo (21);
5. Lacan opera duas formalizações que destituíram a primazia fálica e o lugar central acordado ao Nome-do-Pai com o Seminário 17. Ele dá ao mito fundador da civilização e ao complexo de Édipo um caráter de semblante, de ficcional para dar conta de um real. [...] O complexo de Édipo já não será mais a única construção que dê uma articulação ao desejo: os nós borromeano (22);
6. Lacan será o primeiro a reconhecer um campo conexo ao falicismo, que se abre ao mesmo tempo ao infinito, específico à posição feminina, ali onde o Universal fálico encerra uma mulher em um conjunto fechado – o Outro gozo. Daí em diante a teoria psicanalítica poderá reconhecer em uma boa parte dos seres falantes os arranjos feitos com a sexualidade sem enviá-los à medida fálica (23); 
7. A sexualidade é queer ou não existe = o ser sexuado se autoriza de si mesmo – nem a norma masculina, nem a norma feminina, que situaria o gozo todo do lado não-fálico, e sem limites, então, mas que essa orientação implica uma reação de invenção ao sexo (23);
8. Quanto à crítica do binarismo na psicanálise, o autor afirma que pode se opor a ela pelo menos dois termos: a pulsão[footnoteRef:2] e a constatação lacaniana da inexistência de relação sexual[footnoteRef:3] que possa ser escrita (23); [2: Implica ausência de um objeto predeterminado à sexualidade. A fixação em objetos se dá a partir de encontros contingentes que a fantasia do sujeito se encarregará logo de fazer necessário e sobretudo fixá-lo. Elementos da pulsão: empuxo, objeto, satisfação e fonte. O objeto da pulsão é indeterminado e ele se fixa em um momento determinado da história do sujeito. A satisfação da pulsão não é obtida do objeto ao qual se fixa, mas a partir de seu caminho autoerótico. O objeto da pulsão ocupa um estatuto de real e, por essa razão, é irredutível a toda determinação simbólica ou, para dizê-lo como Foucault, a toda determinação discursiva. Se é permeável às variações culturais, permanece invariável porque seu estatuto é precisamente o de estar “fora do discurso” (24-25).] [3: Não existe nenhum acordo entre sujeito e objeto, que sendo cuidado, constitui uma consequência direta da ausência de toda relação predeterminada entre pulsão e qualquer objeto. Concerne não apenas ao laço do sujeito ao parceiro, como também ao laço do sujeito à própria identidade sexual e sexuada. O encontro com o parceiro não atribui um sujeito a nenhum sexo (26).] 
9. Existe um real na maneira de habitar o sexo para cada ser falante que o impede de tratar seu corpo sexuado como podendo encontrar-se liberado à plasticidade das transformações que poderiam infringi-lo (26);
10. A confusão foucaultiana entre prazer e gozo (27);
11. A própria noção de identidade volta-se à segregação (29);
12. A perspectiva do sinthoma borra de algum modo a fixidez da diferença sexual (29);
13. No nível do gozo não existe verdadeiramente diferença, pois ela se sustenta em uma premissa simbólica que atribui um órgão ali onde se percebe uma falta (30);
Críticas e recomendações de Fajnwaks aos psicanalistas:
1. É necessária uma dose importante de análise, o que implica autocrítica e reflexão, para não se fazer, enquanto analista, porta-voz de tais preconceitos (18);
2. A psicanálise não permite avançar, nem se instalar em nenhuma norma, seja fálica ou centrada no Nome-do-Pai, e é apenas ao preço de uma grande deriva ou de uma franca traição dos conceitos, de uma leitura mal orientada que se pode supor à psicanálise de orientação lacaniana uma defesa de normas ou de identidades heterocentradas (18);
3. Trata-se de fazer um inventário modesto das divergências, dos desconhecimentos e mal-entendidos para situar a justa distância entre esses dois domínios sem buscar necessariamente reduzir divergências e sem fazer dizer cada um desses autores o que ele não diz (19);
4. Em geral, os psicanalistas não leem os autores queer e podem manifestar certa preguiça intelectual na hora de pensar questões clínicas delicadas como as que as pessoas trans trazem aos psicanalistas, e do lado dos autores queer sua leitura se detém no Lacan do “Seminário, livro 5: as formações do inconsciente” (1957-1958/1999), como se os seminários “Mais, ainda” (1972-1973/2008)ou “O sinthoma” (1975-1976/2007), que permitem pensar de uma maneira completamente diferente a sexuação de um ser falante não apenas em termos fálicos, não existissem (19);
5. É verdade que Lacan dirá coisas infelizes sobre homens homossexuais no Seminário 5 – como, por exemplo, que “os homossexuais são doentes que devemos curar”. Mas Lacan era o único a atender homossexuais na Paris dos anos 50; (21);
6. Quantos analistas se declaram homossexuais nas escolas? (22)[footnoteRef:4]; [4: Paul B. Preciado colocou a mesma questão em sua fala na 49º Jornada da Escola da Causa Freudiana: quantas pessoas Trans haveriam na plateia de psicanalistas?] 
7. Deve-se enfatizar que levando o sujeito a falar, convida-o a fazer a volta de suas identificações de sua alienação ao Outro que o determina para separar-se dele. A análise não busca reforçar a identidade sexual ou de gênero do sujeito. Uma análise não propõe romper o espelho que permite a um sujeito reconhecer-se como é, mas o leva mais a fazer uma volta do outro lado do espelho, do lado do gozo que permite dar consistência à imagem que o sujeito reconhece no espelho (29);
8. Só a consideração ao gozo impede todo saber de cair na ideologia, pois o gozo não pode ser confessado. O conceito lacaniano de gozo poderia ser extremamente útil à análise queer (31).
O que o ser falante consegue fazer com o vazio fundamental que o habita?

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