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NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS 1) INTRODUÇÃO: ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS Na teoria geral do direito, os atos jurídicos lato sensu, isto é, os atos derivados da vontade humana, dividem-se em atos jurídicos stricto sensu e negócios jurídicos. A distinção entre eles reside nos efeitos que são produzidos com a prática do ato. Nos atos jurídicos stricto sensu, os efeitos decorrentes da prática do ato estão previstos em lei. As partes simplesmente aderem a eles (ex: ao casar, já existem efeitos previstos em lei – dever de fidelidade recíproca, alimentos etc). Por outro lado, no negócio jurídico os efeitos são criados pela vontade das partes, desde que, por óbvio, estejam em conformidade com o direito (ex: contrato de comodato no qual as condições são fixadas pela vontade das partes). O negócio jurídico, então, consiste em um ato de vontade das partes apto a produzir efeitos jurídicos definidos por elas. Ou seja, é uma espécie de ato jurídico lato sensu por meio do qual as partes do processo acordam entre si acerca da criação, da modificação ou da extinção de situações jurídicas decorrentes da relação jurídica processual estabelecida entre elas. Nas palavras de FREDIE DIDIER JR., “no negócio jurídico, há a escolha do regramento jurídico para uma determinada situação”. Além disso, leciona que “o relevante para caracterizar um ato como negócio jurídico é a circunstância de a vontade estar direcionada não apenas à prática do ato, mas, também, à produção de um determinado efeito jurídico”1. 1 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecdimento. Ed. Jus Podivm: Salvador. 17ª Edição, 2015. Atos jurídicos lato sensu Atos jurídicos stricto sensu os efeitos estão previstos em lei Negócios jurídicos os efeitos são determinados pela vontade das partes Registre-se que os negócios jurídicos podem ser unilaterais (dependem de apenas uma manifestação de vontade), bilaterais (dependem de duas manifestações de vontade) ou, ainda, plurilaterais (dependem de mais de duas vontades). Ainda sob a égide do Código de 1973, discutia-se a existência dos chamados negócios jurídicos processuais: 1ª corrente → o CPC/73 admitia os chamados negócios jurídicos processuais, o que se corroborava pela existência de diversos institutos tais como a transação, a eleição convencional de foro, a suspensão convencional do processo, entre outros (Moacyr Amaral dos Santos e José Frederico Marques) 2ª corrente → o CPC/73 não admitia os chamados negócios jurídicos processuais, pois os atos praticados pelas partes apenas produziam efeitos já previstos em lei. Assim, a transação gerava os efeitos previstos na lei, qual seja, a extinção do processo com resolução do mérito. Este efeito não dependia da vontade das partes (Liebman, Alexandre Câmara, Vicente Greco, Dinamarco etc). O Código de Processo Civil de 2015, por outro lado, superou essa discussão e previu, de forma clara, os chamados negócios jurídicos processuais. Assim, o posicionamento da segunda corrente, ao que parece, será contra legem. Nesse sentido, o prof. ALEXANDRE CÂMARA reviu o seu posicionamento e, atualmente, entende que o novo CPC admite sim a celebração dos negócios jurídicos processuais. Oportuno esclarecer, ainda, que a possibilidade de celebrar negócios jurídicos processuais está intimamente ligada ao princípio do autorregramento da vontade, consectário do princípio da dignidade da pessoa humana. Dito de outra forma, se a parte pode dispor, em regra, do próprio direito material (objeto litigioso), maior razão existe para que ela possa dispor de determinadas regras procedimentais no processo, cujo fim último é a tutela do direito material deduzido em juízo. Afinal, as partes são as destinatárias da tutela jurisdicional. Com base nesse entendimento, FREDIE DIDIER JR. considera o negócio jurídico processual como uma manifestação do princípio da dignidade humana no processo civil. 2) ESPÉCIES DE NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS Como todo instituto jurídico, os negócios jurídicos processuais podem ser classificados de acordo com diferentes critérios. É certo que cada autor possui a sua própria classificação, razão pela qual apresentaremos as que são mais correntes na doutrina. QUANTO AO OBJETO DO NEGÓCIO: leva em consideração o objeto do negócio jurídico processual: a) tem por objeto o próprio objeto litigioso (direito material): ex: reconhecimento jurídico do pedido (art. 487, III, a, CPC/15) b) tem por objeto o próprio processo: ex: a suspensão convencional do processo (art. 313, II), distribuição convencional do ônus da prova (art. 373, §3º), saneamento compartilhado do processo (art. 357, §2º), dentre outros. QUANTO ÀS MANIFESTAÇÕES DE VONTADE: leva em consideração o número de vontades que corporificam o negócio jurídico a) negócios unilaterais: formado pela manifestação de apenas uma vontade (ex: a desistência e a renúncia) b) negócios bilaterais: formado pela manifestação de duas vontades (ex: a eleição negocial de foro – art. 63, a suspensão convencional do processo – art; 313, II) c) negócios plurilaterais: formado pela vontade de mais de dois sujeitos processuais, inclusive o juiz (ex: a sucessão processual voluntária – art. 109, calendário processual – art. 190, saneamento compartilhado do processo – art. 357, §3º etc) QUANTO À FORMA DE MANIFESTAÇÃO DA VONTADE: esse critério leva em consideração a forma pela qual o sujeito processual manifesta a sua vontade: a) expresso: são aqueles em que a vontade é manifestada formalmente, de forma clara, explícita (ex: cláusula de eleição de foro) b) tácito: são aqueles dedutíveis de determinados comportamentos (ex: recusa tácita à proposta de autocomposição – art. 154, PU, renúncia tácita à convenção de arbitragem – art. 337, §6º etc) QUANTO À TIPICIDADE DO NEGÓCIO: leva em consideração a existência de regras que definam os contornos e características básicas do negócio processual: a) negócios típicos: são aqueles que são regulados e tem as suas principais características fixadas em lei (ex: calendário processual – art. 190, saneamento compartilhado do processo –art. 357, §3ª, redução de prazos peremptórios – art. 222, §1º, escolha consensual do perito – art. 471 etc) b) negócios atípicos: são aqueles que não são regulados pela lei, podendo ser convencionados entre as partes, desde que em conformidade com o direito (ex: acordo para a realização de sustentação oral, redução convencional dos prazos processuais etc). Nessa esteira, vide o Enunciado nº 21 do Fórum Permanente dos Processualistas Civis (FPPC): Enunciado nº 21. (art. 190) São admissíveis os seguintes negócios, dentre outros: acordo para realização de sustentação oral, acordo para ampliação do tempo de sustentação oral, julgamento antecipado do mérito convencional, convenção sobre prova, redução de prazos processuais. (Grupo: Negócio Processual; redação revista no III FPPC-Rio) Enunciado nº 19 (art. 190): São admissíveis os seguintes negócios processuais, dentre outros: pacto de impenhorabilidade, acordo de ampliação de prazos das partes de qualquer natureza, acordo de rateio de despesas processuais, dispensa consensual de assistente técnico, acordo para retirar o efeito suspensivo de recurso, acordo para não promover execução provisória; pacto de mediação ou conciliação extrajudicial prévia obrigatória, inclusive com a correlata previsão de exclusão da audiência de conciliação ou de mediação prevista no art. 334; pacto de exclusão contratual da audiência de conciliação ou de mediação prevista no art. 334; pacto de disponibilização prévia de documentação (pacto de disclosure), inclusive com estipulação de sanção negocial, sem prejuízo de medidas coercitivas, mandamentais, sub-rogatórias ou indutivas; previsão de meios alternativosde comunicação das partes entre si; acordo de produção antecipada de prova; a escolha consensual de depositário-administrador no caso do art. 866; convenção que permita a presença da parte contrária no decorrer da colheita de depoimento pessoal. Por outro lado, o Enunciado nº 20 do FPPC lista alguns negócios jurídicos processuais que não seriam admitidos: Enunciado nº 20 (art. 190) Não são admissíveis os seguintes negócios bilaterais, dentre outros: acordo para modificação da competência absoluta, acordo para supressão da primeira instância, acordo para afastar motivos de impedimento do juiz, acordo para criação de novas espécies recursais, acordo para ampliação das hipóteses de cabimento de recursos. 3) NEGÓCIOS PROCESSUAIS ATÍPICOS E SUA CLÁUSULA GERAL Dentre as diferentes possibilidades de negócios processuais, os negócios processuais atípicos têm despertado o interesse da doutrina, sobretudo pela possibilidade de criação, por vontade das partes, de novas regras de procedimento no processo. Nunca é demais lembrar que o novo Código possui um capítulo dedicado às normas fundamentais do processo civil, entre as quais consta o princípio da cooperação (art. 6º) e a busca pela solução consensual dos conflitos (art. 3ª, §§ 2º e 3º). Portanto, a vontade das partes ganha maior destaque no processo, redimensionando o que até então se vinha entendendo como função jurisdicional do Estado. Nesse sentido, o art. 190 é apontado pela doutrina como uma cláusula geral dos negócios jurídicos processuais. Veja-se a redação do dispositivo: Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade. Pela leitura do dispositivo, verifica-se que a celebração de negócio processual pressupõe: a) o direito material deve admitir autocomposição; b) as partes têm que ser plenamente capazes; c) o negócio pode recair sobre ônus, poderes, faculdades e deveres processuais. A doutrina tem interpretado essa possibilidade de forma bem ampla, como se pode ver dos Enunciados nº 257 e 258 do FPPC: Enunciado nº 257. (art. 190) O art. 190 autoriza que as partes tanto estipulem mudanças do procedimento quanto convencionem sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais. (Grupo: Negócios Processuais). Enunciado nº 258. (art. 190) As partes podem convencionar sobre seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, ainda que essa convenção não importe ajustes às especificidades da causa. (Grupo: Negócios Processuais) IMPORTANTE: a magistratura se opôs a essa interpretação ampla, como se depreende dos Enunciados nº 36 e 37 da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM): Enunciado nº 36) A regra do art. 190 do CPC/2015 não autoriza às partes a celebração de negócios jurídicos processuais atípicos que afetem poderes e deveres do juiz, tais como os que: a) limitem seus poderes de instrução ou de sanção à litigância ímproba; b) subtraiam do Estado/juiz o controle da legitimidade das partes ou do ingresso de amicus curiae; c) introduzam novas hipóteses de recorribilidade, de rescisória ou de sustentação oral não previstas em lei; d) estipulem o julgamento do conflito com base em lei diversa da nacional vigente; e e) estabeleçam prioridade de julgamento não prevista em lei. Enunciado nº 37) São nulas, por ilicitude do objeto, as convenções processuais que violem as garantias constitucionais do processo, tais como as que: a) autorizem o uso de prova ilícita; b) limitem a publicidade do processo para além das hipóteses expressamente previstas em lei; c) modifiquem o regime de competência absoluta; e d) dispensem o dever de motivação. É importante ressaltar que, para a advocacia pública, a interpretação dada pela ENFAM restringe a autonomia de vontade das partes. Além disso, pela redação dos dispositivos, a intenção do legislador sugere que as partes possuem ampla autonomia, o que fica claro no parágrafo único do art. 190, segundo o qual o juiz controlará apenas a validade dos negócios processuais, podendo recusar a sua aplicação somente nos casos de nulidade; de inserção abusiva em contrato de adesão ou quando alguma parte estiver em situação de manifesta vulnerabilidade. NÃO CONFUNDA: é sim possível a inserção de negócio processual em contrato de adesão. O que a lei veda é a inserção ABUSIVA. 4) REQUISITOS DE VALIDADE Todo negócio jurídico possui um plano de existência, um de validade e um de eficácia. Com os negócios processuais não é diferente. Para que seja válido, ele deverá observar os requisitos previstos em lei, já mencionados: a) PARTES (partes plenamente capazes): o art. 190 dispõe que as partes devem ser plenamente capazes para a celebração dos negócios processuais. Da mesma forma, a lei prevê a possibilidade de celebração de negócios processuais antes mesmo do processo (ex cláusula no contrato de eleição de foro). FREDIE DIDIER JR. e LEONARDO GRECO entendem que a capacidade exigida pela lei é a capacidade processual negocial, a qual pressupõe a capacidade processual comum (pressuposto de validade do processo). A capacidade processual negocial é a capacidade processual comum qualificada, visto que pode ser afastada por causas previstas em lei (ex: a vulnerabilidade de uma das partes – art. 190, PU). Assim, o incapaz deverá estar assistido ou representado, conforme o caso, para que lhe seja possível celebrar o negócio processual (art. 71). IMPORTANTE: Não há, segundo a doutrina, impedimento para que a Fazenda Pública e também o Ministério Público celebrem negócios processuais. Nesta ordem de ideias, leia-se os enunciados nº 256 e 253 do FPPC: Enunciado nº253. (art. 190; Resolução n. 118/CNMP) O Ministério Público pode celebrar negócio processual quando atua como parte. (Grupo: Negócios Processuais) Enunciado nº 256. (art. 190) A Fazenda Pública pode celebrar negócio jurídico processual. (Grupo: Negócios Processuais) Na mesma linha, confira-se o Enunciado nº 17 do CJF, recentemente aprovado na I Jornada de Direito Processual Civil: ENUNCIADO 17 – A Fazenda Pública pode celebrar convenção processual, nos termos do art. 190 do CPC. Por fim, merece registro o fato de que a doutrina entende que o negócio processual vincula os herdeiros e sucessores da parte, consoante enunciado nº 155 do FPPC: Enunciado nº 115. (arts. 190, 109 e 110) O negócio jurídico celebrado nos termos do art. 190 obriga herdeiros e sucessores. (Grupo: Negócios Processuais) b) OBJETO (direito material que admite autocomposição): o direito a que alude o CPC não se confunde com o direito indisponível. Este pode ser objeto de transação em relação a alguns de seus aspectos (ex: alimentos, direitos difusos no TAC etc). Observe-se, assim, o teor do enunciado nº 135 do FPPC: Enunciado nº 135. (art. 190) A indisponibilidade do direito material não impede, por si só, a celebração de negócio jurídico processual. (Grupo: Negócios Processuais) Registre-se que o Enunciado nº 18 do CJF ainda admite a celebração de negócios processuais em matérias de direito de família: ENUNCIADO 18 – A convenção processual pode ser celebrada em pacto antenupcial ou em contrato de convivência, nos termos do art. 190 do CPC. c) FORMA: conforme anota FREDIE DIDIER JR., os negócios processuais atípicos são, em regra, de forma livre. Todavia, há casos em que a lei expressamente exige a formaescrita (ex: cláusula de eleição de foro e convenção de arbitragem). A violação dos requisitos de validade pode dar ensejo à nulidade ou à anulabilidade, a depender da sanção cominada pela lei, aplicando-se, nesse caso, o disposto nos arts. 166 e 171 do Código Civil de 2002. Nesse sentido, vide o Enunciado nº 132 do FPPC: Enunciado nº 132. (art. 190) Além dos defeitos processuais, os vícios da vontade e os vícios sociais podem dar ensejo à invalidação dos negócios jurídicos atípicos do art. 190. (Grupo: Negócios Processuais) 4) EFICÁCIA DOS NEGÓCIOS PROCESSUAIS Em regra, os negócios processuais independem de homologação judicial, produzindo seus efeitos tão logo as partes manifestem a sua vontade. Nessa linha de entendimento, vide o enunciado nº 133 do FPPC: Enunciado nº 133. (art. 190; art. 200, parágrafo único) Salvo nos casos expressamente previstos em lei, os negócios processuais do art. 190 não dependem de homologação judicial. (Grupo: Negócios Processuais) Entretanto, há casos em que a lei expressamente exige a homologação judicial para que o negócio processual produza seus efeitos (ex desistência – art.200, PU, saneamento compartilhado do processo – art. 357, §2º etc). Nesses casos, a homologação judicial funciona como condição de eficácia do negócio, como se verifica do enunciado nº 260 do FPPC e Enunciado 115 da II Jornada de Direito Processual Civil: Enunciado nº 260. (arts. 190 e 200) A homologação, pelo juiz, da convenção processual, quando prevista em lei, corresponde a uma condição de eficácia do negócio. (Grupo: Negócios Processuais) Enunciado 115: O negócio jurídico processual somente se submeterá à homologação quando expressamente exigido em norma jurídica, admitindo- se, em todo caso, o controle de validade da convenção. Portanto, em geral, os negócios processuais produzem efeitos imediatamente, salvo se as partes, expressamente, houverem modulado a sua eficácia ou se ele depender de homologação judicial. Por fim, vale citar o entendimento de FREDIE DIDIER JR. de que os negócios processuais são irrevogáveis. Apenas quando todas as partes concordarem, será possível o distrato. 5) DESCUMPRIMENTO DO NEGÓCIO PROCESSUAL Havendo o descumprimento do negócio processual por alguma das partes, a outra poderá exigir o seu cumprimento forçado. Segundo FREDIE DIDIER JR., a parte prejudicada deverá alegar o descumprimento, sob pena de preclusão. Tal entendimento decorre da interpretação sistemática que proíbe que o juiz conheça de ofício a revogação tácita da cláusula de eleição de foro (art. 65) e a não alegação de convenção arbitral (art. 337, §6º). No mesmo sentido, vide enunciado nº 252 do FPPC: Enunciado nº 252. (art. 190) O descumprimento de uma convenção processual válida é matéria cujo conhecimento depende de requerimento. (Grupo: Negócios Processuais) CUIDADO: o juiz poderá de ofício recusar a aplicação da convenção processual nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade (parte final do art. 190, PU). Tal decisão, no entanto, depende de contraditório prévio, conforme defende o Enunciado 259 do FPPC: Enunciado 259: A decisão referida no parágrafo único do art. 190 depende de contraditório prévio. 6) NEGÓCIOS PROCESSUAIS E A VINCULAÇÃO DO JUIZ Um dos temas mais tormentos envolvendo os negócios processuais é acerca da vinculação do juiz aos negócios celebrados entre as partes. Vozes ligadas ao Poder Judiciário vêm rechaçando a vinculação do juiz aos negócios processuais, ao argumento de que o processo é conduzido pelo juiz, o qual exerce a função jurisdicional do Estado. Assim, uma vez provocada a atuação do Estado-juiz, cabe a ele conduzir o processo para a entrega da tutela jurisdicional. Todavia, valemo-nos das lições do prof. ANTÔNIO DO PASSO CABRAL que faz a distinção de autovinculação e heterovinculação2. Conforme ensina o notável processualista, o juiz, via de regra, não participa do negócio processual. Entretanto, fica a ele vinculado da mesma forma que ocorre nos contratos em geral. Dito de outra forma, ao se propor uma ação para discutir um contrato, o juiz tem a sua atuação pautada pela lei e também pelas disposições contratuais, afinal o contrato também é fonte do direito (desde que sejam válidas). Assim, para o juiz há uma heterovinculação ao negócio, pois ele precisa aplicar a norma jurídica do negócio, que é válida; é a vontade das partes que vincula o juiz. Diferentemente, as partes se autovinculam, pois são elas que, pela exteriorização da sua vontade, celebram o negócio. Elas são os sujeitos do negócio, que se autovinculam pela autonomia da vontade. Não obstante, havendo nulidade do negócio processual (Ex: negocio celebrado por incapaz sem representação ou assistência), o juiz não fica a ele vinculado, podendo reconhecer a invalidade, conforme art. 190, PU, do CPC, e afastar a sua aplicação. Neste caso, ele não irá aplicar o negócio, mas sim a regra da lei. 7) MOMENTO DE CELEBRAÇÃO DO NEGÓCIO PROCESSUAL O negócio processual pode ser celebrado antes ou durante o processo (art. 190). Portanto, é possível que um contrato contenha cláusulas dispondo sobre regras processuais aplicáveis em eventual ação judicial envolvendo o ajuste. 2 O entendimento pode ser visto no youtube através do link https://www.youtube.com/watch?v=fhTqIKO90jw 8) NEGÓCIOS PROCESSUAIS COLETIVOS A doutrina admite a celebração de negócios processuais coletivos, vide o enunciado nº 255 do FPPC: Enunciado nº 255. (art. 190) É admissível a celebração de convenção processual coletiva. (Grupo: Negócios Processuais) Nesse caso é necessário que haja legitimação coletiva da parte que irá celebrar o negócio processual (ex: sindicato). A hipótese permite, por exemplo, que se convencione a forma de citação das partes (ex citação por meio eletrônico), como ensina FREDIE DIDIER JR. 9) NEGÓCIOS PROCESSUAIS NOS JUIZADOS O Enunciado nº 16 do CJF admite a celebração de negócios processuais também nos juizados especiais, sejam eles cíveis ou da fazenda pública. Entretanto, tais negócios devem observar o conjunto dos princípios que orientam os juizados, ficando sujeitos a eventual controle judicial. ENUNCIADO 16 – As disposições previstas nos arts. 190 e 191 do CPC poderão aplicar-se aos procedimentos previstos nas leis que tratam dos juizados especiais, desde que não ofendam os princípios e regras previstos nas Leis n. 9.099/1995, 10.259/2001 e 12.153/2009. No mesmo sentido, confira-se o Enunciado nº 413 do FPPC: Enunciado 413: O negócio jurídico processual pode ser celebrado no sistema dos juizados especiais, desde que observado o conjunto dos princípios que o orienta, ficando sujeito a controle judicial na forma do parágrafo único do art. 190 do CPC. Outros Enunciados do FPPC: • Enunciado 107: O juiz pode, de ofício, dilatar o prazo para a parte se manifestar sobre a prova documental produzida. • Enunciado 116: Quando a formação do litisconsórcio multitudinário for prejudicial à defesa, o juiz poderá substituir a sua limitação pela ampliação de prazos, sem prejuízo da possibilidade de desmembramento na fase de cumprimento de sentença. • Enunciado 129: A autorização legal para ampliação de prazos pelo juiz não se presta a afastar preclusão temporal já consumada. • Enunciado 134: Negócio jurídico processual pode ser invalidado parcialmente. • Enunciado 254: É inválida a convenção para excluir a intervenção do Ministério Público como fiscal da ordem jurídica. • Enunciado 262: É admissível negócio processual para dispensar caução no cumprimento provisório de sentença. • Enunciado 402: A eficácia dos negócios processuais para quem deles não fez parte depende de sua anuência, quando lhe puder causar prejuízo. • Enunciado 403: A validade do negócio jurídicoprocessual requer agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei. • Enunciado 404: Nos negócios processuais, atender-se-á mais à intenção consubstanciada na manifestação de vontade do que ao sentido literal da linguagem. • Enunciado 405: Os negócios jurídicos processuais devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. • Enunciado 406: Os negócios jurídicos processuais benéficos e a renúncia a direitos processuais interpretam-se estritamente. • Enunciado 407: Nos negócios processuais, as partes e o juiz são obrigados a guardar nas tratativas, na conclusão e na execução do negócio o princípio da boa-fé. • Enunciado 408: Quando houver no contrato de adesão negócio jurídico processual com previsões ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. • Enunciado 409: A convenção processual é autônoma em relação ao negócio em que estiver inserta, de tal sorte que a invalidade deste não implica necessariamente a invalidade da convenção processual. • Enunciado 411: O negócio processual pode ser distratado. • Enunciado 412: A aplicação de negócio processual em determinado processo judicial não impede, necessariamente, que da decisão do caso possa vir a ser formado precedente. • Enunciado 427: A proposta de saneamento consensual feita pelas partes pode agregar questões de fato até então não deduzidas. • Enunciado 490: São admissíveis os seguintes negócios processuais, entre outros: pacto de inexecução parcial ou total de multa coercitiva; pacto de alteração de ordem de penhora; pré-indicação de bem penhorável preferencial (art. 848, II); pré-fixação de indenização por dano processual prevista nos arts. 81, §3º, 520, inc. I, 297, parágrafo único (cláusula penal processual); negócio de anuência prévia para aditamento ou alteração do pedido ou da causa de pedir até o saneamento (art. 329, inc. II). • Enunciado 491: É possível negócio jurídico processual que estipule mudanças no procedimento das intervenções de terceiros, observada a necessidade de anuência do terceiro quando lhe puder causar prejuízo. • Enunciado 492: O pacto antenupcial e o contrato de convivência podem conter negócios processuais. • Enunciado 493: O negócio processual celebrado ao tempo do CPC-1973 é aplicável após o início da vigência do CPC-2015. • Enunciado 494: A admissibilidade de autocomposição não é requisito para o calendário processual. • Enunciado 494: O distrato do negócio processual homologado por exigência legal depende de homologação. • Enunciado 579: Admite-se o negócio processual que estabeleça a contagem dos prazos processuais dos negociantes em dias corridos. • Enunciado 580: É admissível o negócio processual estabelecendo que a alegação de existência de convenção de arbitragem será feita por simples petição, com a interrupção ou suspensão do prazo para contestação. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO: 1) Os negócios processuais dependem de homologação judicial? 2) O juiz pode controlar a validade e o teor dos negócios processuais ? Como e em que casos? 3) No que consiste a cláusula geral dos negócios jurídicos processuais ? 4) A fazenda pública pode celebrar negócio processual? E o MP? 5) Admite-se negócio processual no processo coletivo? E nos juizados especiais ?