Buscar

negócios processuais - proc civil

Prévia do material em texto

NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS 
 
1) INTRODUÇÃO: ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS 
Na teoria geral do direito, os atos jurídicos lato sensu, isto é, os atos derivados da vontade 
humana, dividem-se em atos jurídicos stricto sensu e negócios jurídicos. 
A distinção entre eles reside nos efeitos que são produzidos com a prática do ato. Nos atos 
jurídicos stricto sensu, os efeitos decorrentes da prática do ato estão previstos em lei. As partes 
simplesmente aderem a eles (ex: ao casar, já existem efeitos previstos em lei – dever de 
fidelidade recíproca, alimentos etc). 
Por outro lado, no negócio jurídico os efeitos são criados pela vontade das partes, desde que, 
por óbvio, estejam em conformidade com o direito (ex: contrato de comodato no qual as 
condições são fixadas pela vontade das partes). 
 
O negócio jurídico, então, consiste em um ato de vontade das partes apto a produzir efeitos 
jurídicos definidos por elas. 
Ou seja, é uma espécie de ato jurídico lato sensu por meio do qual as partes do processo 
acordam entre si acerca da criação, da modificação ou da extinção de situações jurídicas 
decorrentes da relação jurídica processual estabelecida entre elas. 
Nas palavras de FREDIE DIDIER JR., “no negócio jurídico, há a escolha do regramento jurídico 
para uma determinada situação”. Além disso, leciona que “o relevante para caracterizar um ato 
como negócio jurídico é a circunstância de a vontade estar direcionada não apenas à prática 
do ato, mas, também, à produção de um determinado efeito jurídico”1. 
 
1 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e 
processo de conhecdimento. Ed. Jus Podivm: Salvador. 17ª Edição, 2015. 
Atos jurídicos lato 
sensu
Atos jurídicos 
stricto sensu
os efeitos estão 
previstos em lei
Negócios jurídicos
os efeitos são 
determinados pela 
vontade das partes
 
Registre-se que os negócios jurídicos podem ser unilaterais (dependem de apenas uma 
manifestação de vontade), bilaterais (dependem de duas manifestações de vontade) ou, ainda, 
plurilaterais (dependem de mais de duas vontades). 
Ainda sob a égide do Código de 1973, discutia-se a existência dos chamados negócios jurídicos 
processuais: 
1ª corrente → o CPC/73 admitia os chamados negócios jurídicos processuais, o que se 
corroborava pela existência de diversos institutos tais como a transação, a eleição 
convencional de foro, a suspensão convencional do processo, entre outros (Moacyr 
Amaral dos Santos e José Frederico Marques) 
2ª corrente → o CPC/73 não admitia os chamados negócios jurídicos processuais, pois 
os atos praticados pelas partes apenas produziam efeitos já previstos em lei. Assim, a 
transação gerava os efeitos previstos na lei, qual seja, a extinção do processo com 
resolução do mérito. Este efeito não dependia da vontade das partes (Liebman, 
Alexandre Câmara, Vicente Greco, Dinamarco etc). 
 
O Código de Processo Civil de 2015, por outro lado, superou essa discussão e previu, de forma 
clara, os chamados negócios jurídicos processuais. Assim, o posicionamento da segunda 
corrente, ao que parece, será contra legem. 
Nesse sentido, o prof. ALEXANDRE CÂMARA reviu o seu posicionamento e, atualmente, 
entende que o novo CPC admite sim a celebração dos negócios jurídicos processuais. 
Oportuno esclarecer, ainda, que a possibilidade de celebrar negócios jurídicos processuais está 
intimamente ligada ao princípio do autorregramento da vontade, consectário do princípio da 
dignidade da pessoa humana. 
Dito de outra forma, se a parte pode dispor, em regra, do próprio direito material (objeto 
litigioso), maior razão existe para que ela possa dispor de determinadas regras procedimentais 
no processo, cujo fim último é a tutela do direito material deduzido em juízo. Afinal, as partes 
são as destinatárias da tutela jurisdicional. 
Com base nesse entendimento, FREDIE DIDIER JR. considera o negócio jurídico processual como 
uma manifestação do princípio da dignidade humana no processo civil. 
 
2) ESPÉCIES DE NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS 
Como todo instituto jurídico, os negócios jurídicos processuais podem ser classificados de 
acordo com diferentes critérios. É certo que cada autor possui a sua própria classificação, razão 
pela qual apresentaremos as que são mais correntes na doutrina. 
 
 
QUANTO AO OBJETO DO NEGÓCIO: leva em consideração o objeto do negócio jurídico 
processual: 
a) tem por objeto o próprio objeto litigioso (direito material): ex: reconhecimento 
jurídico do pedido (art. 487, III, a, CPC/15) 
b) tem por objeto o próprio processo: ex: a suspensão convencional do processo (art. 
313, II), distribuição convencional do ônus da prova (art. 373, §3º), saneamento 
compartilhado do processo (art. 357, §2º), dentre outros. 
 
QUANTO ÀS MANIFESTAÇÕES DE VONTADE: leva em consideração o número de vontades que 
corporificam o negócio jurídico 
a) negócios unilaterais: formado pela manifestação de apenas uma vontade (ex: a 
desistência e a renúncia) 
b) negócios bilaterais: formado pela manifestação de duas vontades (ex: a eleição 
negocial de foro – art. 63, a suspensão convencional do processo – art; 313, II) 
c) negócios plurilaterais: formado pela vontade de mais de dois sujeitos processuais, 
inclusive o juiz (ex: a sucessão processual voluntária – art. 109, calendário processual – 
art. 190, saneamento compartilhado do processo – art. 357, §3º etc) 
 
QUANTO À FORMA DE MANIFESTAÇÃO DA VONTADE: esse critério leva em consideração a 
forma pela qual o sujeito processual manifesta a sua vontade: 
a) expresso: são aqueles em que a vontade é manifestada formalmente, de forma clara, 
explícita (ex: cláusula de eleição de foro) 
b) tácito: são aqueles dedutíveis de determinados comportamentos (ex: recusa tácita à 
proposta de autocomposição – art. 154, PU, renúncia tácita à convenção de arbitragem 
– art. 337, §6º etc) 
 
QUANTO À TIPICIDADE DO NEGÓCIO: leva em consideração a existência de regras que definam 
os contornos e características básicas do negócio processual: 
a) negócios típicos: são aqueles que são regulados e tem as suas principais 
características fixadas em lei (ex: calendário processual – art. 190, saneamento 
compartilhado do processo –art. 357, §3ª, redução de prazos peremptórios – art. 222, 
§1º, escolha consensual do perito – art. 471 etc) 
b) negócios atípicos: são aqueles que não são regulados pela lei, podendo ser 
convencionados entre as partes, desde que em conformidade com o direito (ex: acordo 
 
para a realização de sustentação oral, redução convencional dos prazos processuais etc). 
Nessa esteira, vide o Enunciado nº 21 do Fórum Permanente dos Processualistas Civis 
(FPPC): 
Enunciado nº 21. (art. 190) São admissíveis os seguintes negócios, dentre 
outros: acordo para realização de sustentação oral, acordo para ampliação 
do tempo de sustentação oral, julgamento antecipado do mérito 
convencional, convenção sobre prova, redução de prazos processuais. (Grupo: 
Negócio Processual; redação revista no III FPPC-Rio) 
 
Enunciado nº 19 (art. 190): São admissíveis os seguintes negócios processuais, 
dentre outros: pacto de impenhorabilidade, acordo de ampliação de prazos 
das partes de qualquer natureza, acordo de rateio de despesas processuais, 
dispensa consensual de assistente técnico, acordo para retirar o efeito 
suspensivo de recurso, acordo para não promover execução provisória; pacto 
de mediação ou conciliação extrajudicial prévia obrigatória, inclusive com a 
correlata previsão de exclusão da audiência de conciliação ou de mediação 
prevista no art. 334; pacto de exclusão contratual da audiência de conciliação 
ou de mediação prevista no art. 334; pacto de disponibilização prévia de 
documentação (pacto de disclosure), inclusive com estipulação de sanção 
negocial, sem prejuízo de medidas coercitivas, mandamentais, sub-rogatórias 
ou indutivas; previsão de meios alternativosde comunicação das partes entre 
si; acordo de produção antecipada de prova; a escolha consensual de 
depositário-administrador no caso do art. 866; convenção que permita a 
presença da parte contrária no decorrer da colheita de depoimento pessoal. 
Por outro lado, o Enunciado nº 20 do FPPC lista alguns negócios jurídicos processuais que não 
seriam admitidos: 
Enunciado nº 20 (art. 190) Não são admissíveis os seguintes negócios 
bilaterais, dentre outros: acordo para modificação da competência absoluta, 
acordo para supressão da primeira instância, acordo para afastar motivos de 
impedimento do juiz, acordo para criação de novas espécies recursais, acordo 
para ampliação das hipóteses de cabimento de recursos. 
 
 
3) NEGÓCIOS PROCESSUAIS ATÍPICOS E SUA CLÁUSULA GERAL 
Dentre as diferentes possibilidades de negócios processuais, os negócios processuais atípicos 
têm despertado o interesse da doutrina, sobretudo pela possibilidade de criação, por vontade 
das partes, de novas regras de procedimento no processo. 
Nunca é demais lembrar que o novo Código possui um capítulo dedicado às normas 
fundamentais do processo civil, entre as quais consta o princípio da cooperação (art. 6º) e a 
 
busca pela solução consensual dos conflitos (art. 3ª, §§ 2º e 3º). Portanto, a vontade das partes 
ganha maior destaque no processo, redimensionando o que até então se vinha entendendo 
como função jurisdicional do Estado. 
Nesse sentido, o art. 190 é apontado pela doutrina como uma cláusula geral dos negócios 
jurídicos processuais. Veja-se a redação do dispositivo: 
Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, 
é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento 
para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, 
poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. 
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade 
das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente 
nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em 
que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade. 
Pela leitura do dispositivo, verifica-se que a celebração de negócio processual pressupõe: 
 a) o direito material deve admitir autocomposição; 
 b) as partes têm que ser plenamente capazes; 
 c) o negócio pode recair sobre ônus, poderes, faculdades e deveres processuais. 
A doutrina tem interpretado essa possibilidade de forma bem ampla, como se pode ver dos 
Enunciados nº 257 e 258 do FPPC: 
Enunciado nº 257. (art. 190) O art. 190 autoriza que as partes tanto estipulem 
mudanças do procedimento quanto convencionem sobre os seus ônus, 
poderes, faculdades e deveres processuais. (Grupo: Negócios Processuais). 
Enunciado nº 258. (art. 190) As partes podem convencionar sobre seus ônus, 
poderes, faculdades e deveres processuais, ainda que essa convenção não 
importe ajustes às especificidades da causa. (Grupo: Negócios Processuais) 
IMPORTANTE: a magistratura se opôs a essa interpretação ampla, como se depreende dos Enunciados nº 
36 e 37 da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM): 
Enunciado nº 36) A regra do art. 190 do CPC/2015 não autoriza às partes a 
celebração de negócios jurídicos processuais atípicos que afetem poderes e 
deveres do juiz, tais como os que: a) limitem seus poderes de instrução ou de 
sanção à litigância ímproba; b) subtraiam do Estado/juiz o controle da 
legitimidade das partes ou do ingresso de amicus curiae; c) introduzam novas 
hipóteses de recorribilidade, de rescisória ou de sustentação oral não 
previstas em lei; d) estipulem o julgamento do conflito com base em lei diversa 
da nacional vigente; e e) estabeleçam prioridade de julgamento não prevista 
em lei. 
Enunciado nº 37) São nulas, por ilicitude do objeto, as convenções processuais 
que violem as garantias constitucionais do processo, tais como as que: a) 
autorizem o uso de prova ilícita; b) limitem a publicidade do processo para 
 
além das hipóteses expressamente previstas em lei; c) modifiquem o regime 
de competência absoluta; e d) dispensem o dever de motivação. 
É importante ressaltar que, para a advocacia pública, a interpretação dada pela ENFAM 
restringe a autonomia de vontade das partes. 
Além disso, pela redação dos dispositivos, a intenção do legislador sugere que as partes possuem 
ampla autonomia, o que fica claro no parágrafo único do art. 190, segundo o qual o juiz 
controlará apenas a validade dos negócios processuais, podendo recusar a sua aplicação 
somente nos casos de nulidade; de inserção abusiva em contrato de adesão ou quando alguma 
parte estiver em situação de manifesta vulnerabilidade. 
NÃO CONFUNDA: é sim possível a inserção de negócio processual em contrato de adesão. O que 
a lei veda é a inserção ABUSIVA. 
 
4) REQUISITOS DE VALIDADE 
Todo negócio jurídico possui um plano de existência, um de validade e um de eficácia. Com os 
negócios processuais não é diferente. Para que seja válido, ele deverá observar os requisitos 
previstos em lei, já mencionados: 
 
a) PARTES (partes plenamente capazes): o art. 190 dispõe que as partes devem ser plenamente 
capazes para a celebração dos negócios processuais. Da mesma forma, a lei prevê a possibilidade 
de celebração de negócios processuais antes mesmo do processo (ex cláusula no contrato de 
eleição de foro). 
FREDIE DIDIER JR. e LEONARDO GRECO entendem que a capacidade exigida pela lei é a 
capacidade processual negocial, a qual pressupõe a capacidade processual comum (pressuposto 
de validade do processo). 
A capacidade processual negocial é a capacidade processual comum qualificada, visto que pode 
ser afastada por causas previstas em lei (ex: a vulnerabilidade de uma das partes – art. 190, PU). 
Assim, o incapaz deverá estar assistido ou representado, conforme o caso, para que lhe seja 
possível celebrar o negócio processual (art. 71). 
IMPORTANTE: Não há, segundo a doutrina, impedimento para que a Fazenda Pública e também 
o Ministério Público celebrem negócios processuais. Nesta ordem de ideias, leia-se os 
enunciados nº 256 e 253 do FPPC: 
Enunciado nº253. (art. 190; Resolução n. 118/CNMP) O Ministério Público 
pode celebrar negócio processual quando atua como parte. (Grupo: Negócios 
Processuais) 
Enunciado nº 256. (art. 190) A Fazenda Pública pode celebrar negócio jurídico 
processual. (Grupo: Negócios Processuais) 
 
Na mesma linha, confira-se o Enunciado nº 17 do CJF, recentemente aprovado na I Jornada de 
Direito Processual Civil: 
ENUNCIADO 17 – A Fazenda Pública pode celebrar convenção processual, nos 
termos do art. 190 do CPC. 
Por fim, merece registro o fato de que a doutrina entende que o negócio processual vincula os 
herdeiros e sucessores da parte, consoante enunciado nº 155 do FPPC: 
Enunciado nº 115. (arts. 190, 109 e 110) O negócio jurídico celebrado nos 
termos do art. 190 obriga herdeiros e sucessores. (Grupo: Negócios 
Processuais) 
 
b) OBJETO (direito material que admite autocomposição): o direito a que alude o CPC não se 
confunde com o direito indisponível. Este pode ser objeto de transação em relação a alguns de 
seus aspectos (ex: alimentos, direitos difusos no TAC etc). Observe-se, assim, o teor do 
enunciado nº 135 do FPPC: 
Enunciado nº 135. (art. 190) A indisponibilidade do direito material não 
impede, por si só, a celebração de negócio jurídico processual. (Grupo: 
Negócios Processuais) 
Registre-se que o Enunciado nº 18 do CJF ainda admite a celebração de negócios processuais 
em matérias de direito de família: 
ENUNCIADO 18 – A convenção processual pode ser celebrada em pacto 
antenupcial ou em contrato de convivência, nos termos do art. 190 do CPC. 
c) FORMA: conforme anota FREDIE DIDIER JR., os negócios processuais atípicos são, em regra, 
de forma livre. Todavia, há casos em que a lei expressamente exige a formaescrita (ex: cláusula 
de eleição de foro e convenção de arbitragem). 
A violação dos requisitos de validade pode dar ensejo à nulidade ou à anulabilidade, a depender 
da sanção cominada pela lei, aplicando-se, nesse caso, o disposto nos arts. 166 e 171 do Código 
Civil de 2002. Nesse sentido, vide o Enunciado nº 132 do FPPC: 
Enunciado nº 132. (art. 190) Além dos defeitos processuais, os vícios da 
vontade e os vícios sociais podem dar ensejo à invalidação dos negócios 
jurídicos atípicos do art. 190. (Grupo: Negócios Processuais) 
 
4) EFICÁCIA DOS NEGÓCIOS PROCESSUAIS 
Em regra, os negócios processuais independem de homologação judicial, produzindo seus 
efeitos tão logo as partes manifestem a sua vontade. Nessa linha de entendimento, vide o 
enunciado nº 133 do FPPC: 
 
Enunciado nº 133. (art. 190; art. 200, parágrafo único) Salvo nos casos 
expressamente previstos em lei, os negócios processuais do art. 190 não 
dependem de homologação judicial. (Grupo: Negócios Processuais) 
 
Entretanto, há casos em que a lei expressamente exige a homologação judicial para que o 
negócio processual produza seus efeitos (ex desistência – art.200, PU, saneamento 
compartilhado do processo – art. 357, §2º etc). Nesses casos, a homologação judicial funciona 
como condição de eficácia do negócio, como se verifica do enunciado nº 260 do FPPC e 
Enunciado 115 da II Jornada de Direito Processual Civil: 
Enunciado nº 260. (arts. 190 e 200) A homologação, pelo juiz, da convenção 
processual, quando prevista em lei, corresponde a uma condição de eficácia 
do negócio. (Grupo: Negócios Processuais) 
Enunciado 115: O negócio jurídico processual somente se submeterá à 
homologação quando expressamente exigido em norma jurídica, admitindo-
se, em todo caso, o controle de validade da convenção. 
 
Portanto, em geral, os negócios processuais produzem efeitos imediatamente, salvo se as 
partes, expressamente, houverem modulado a sua eficácia ou se ele depender de homologação 
judicial. 
Por fim, vale citar o entendimento de FREDIE DIDIER JR. de que os negócios processuais são 
irrevogáveis. Apenas quando todas as partes concordarem, será possível o distrato. 
 
5) DESCUMPRIMENTO DO NEGÓCIO PROCESSUAL 
Havendo o descumprimento do negócio processual por alguma das partes, a outra poderá exigir 
o seu cumprimento forçado. Segundo FREDIE DIDIER JR., a parte prejudicada deverá alegar o 
descumprimento, sob pena de preclusão. Tal entendimento decorre da interpretação 
sistemática que proíbe que o juiz conheça de ofício a revogação tácita da cláusula de eleição de 
foro (art. 65) e a não alegação de convenção arbitral (art. 337, §6º). 
No mesmo sentido, vide enunciado nº 252 do FPPC: 
Enunciado nº 252. (art. 190) O descumprimento de uma convenção 
processual válida é matéria cujo conhecimento depende de requerimento. 
(Grupo: Negócios Processuais) 
CUIDADO: o juiz poderá de ofício recusar a aplicação da convenção processual nos casos de 
nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre 
em manifesta situação de vulnerabilidade (parte final do art. 190, PU). Tal decisão, no entanto, 
depende de contraditório prévio, conforme defende o Enunciado 259 do FPPC: 
 
Enunciado 259: A decisão referida no parágrafo único do art. 190 depende de 
contraditório prévio. 
 
6) NEGÓCIOS PROCESSUAIS E A VINCULAÇÃO DO JUIZ 
Um dos temas mais tormentos envolvendo os negócios processuais é acerca da vinculação do 
juiz aos negócios celebrados entre as partes. Vozes ligadas ao Poder Judiciário vêm rechaçando 
a vinculação do juiz aos negócios processuais, ao argumento de que o processo é conduzido pelo 
juiz, o qual exerce a função jurisdicional do Estado. Assim, uma vez provocada a atuação do 
Estado-juiz, cabe a ele conduzir o processo para a entrega da tutela jurisdicional. 
Todavia, valemo-nos das lições do prof. ANTÔNIO DO PASSO CABRAL que faz a distinção de 
autovinculação e heterovinculação2. 
Conforme ensina o notável processualista, o juiz, via de regra, não participa do negócio 
processual. Entretanto, fica a ele vinculado da mesma forma que ocorre nos contratos em geral. 
Dito de outra forma, ao se propor uma ação para discutir um contrato, o juiz tem a sua atuação 
pautada pela lei e também pelas disposições contratuais, afinal o contrato também é fonte do 
direito (desde que sejam válidas). Assim, para o juiz há uma heterovinculação ao negócio, pois 
ele precisa aplicar a norma jurídica do negócio, que é válida; é a vontade das partes que vincula 
o juiz. 
Diferentemente, as partes se autovinculam, pois são elas que, pela exteriorização da sua 
vontade, celebram o negócio. Elas são os sujeitos do negócio, que se autovinculam pela 
autonomia da vontade. 
Não obstante, havendo nulidade do negócio processual (Ex: negocio celebrado por incapaz sem 
representação ou assistência), o juiz não fica a ele vinculado, podendo reconhecer a invalidade, 
conforme art. 190, PU, do CPC, e afastar a sua aplicação. Neste caso, ele não irá aplicar o 
negócio, mas sim a regra da lei. 
 
7) MOMENTO DE CELEBRAÇÃO DO NEGÓCIO PROCESSUAL 
O negócio processual pode ser celebrado antes ou durante o processo (art. 190). Portanto, é 
possível que um contrato contenha cláusulas dispondo sobre regras processuais aplicáveis em 
eventual ação judicial envolvendo o ajuste. 
 
 
 
2 O entendimento pode ser visto no youtube através do link 
https://www.youtube.com/watch?v=fhTqIKO90jw 
 
8) NEGÓCIOS PROCESSUAIS COLETIVOS 
A doutrina admite a celebração de negócios processuais coletivos, vide o enunciado nº 255 do 
FPPC: 
Enunciado nº 255. (art. 190) É admissível a celebração de convenção 
processual coletiva. (Grupo: Negócios Processuais) 
 
Nesse caso é necessário que haja legitimação coletiva da parte que irá celebrar o negócio 
processual (ex: sindicato). A hipótese permite, por exemplo, que se convencione a forma de 
citação das partes (ex citação por meio eletrônico), como ensina FREDIE DIDIER JR. 
 
9) NEGÓCIOS PROCESSUAIS NOS JUIZADOS 
O Enunciado nº 16 do CJF admite a celebração de negócios processuais também nos juizados 
especiais, sejam eles cíveis ou da fazenda pública. Entretanto, tais negócios devem observar o 
conjunto dos princípios que orientam os juizados, ficando sujeitos a eventual controle judicial. 
ENUNCIADO 16 – As disposições previstas nos arts. 190 e 191 do CPC poderão 
aplicar-se aos procedimentos previstos nas leis que tratam dos juizados 
especiais, desde que não ofendam os princípios e regras previstos nas Leis n. 
9.099/1995, 10.259/2001 e 12.153/2009. 
No mesmo sentido, confira-se o Enunciado nº 413 do FPPC: 
Enunciado 413: O negócio jurídico processual pode ser celebrado no sistema 
dos juizados especiais, desde que observado o conjunto dos princípios que o 
orienta, ficando sujeito a controle judicial na forma do parágrafo único do art. 
190 do CPC. 
 
Outros Enunciados do FPPC: 
• Enunciado 107: O juiz pode, de ofício, dilatar o prazo para a parte se manifestar sobre a 
prova documental produzida. 
• Enunciado 116: Quando a formação do litisconsórcio multitudinário for prejudicial à 
defesa, o juiz poderá substituir a sua limitação pela ampliação de prazos, sem prejuízo 
da possibilidade de desmembramento na fase de cumprimento de sentença. 
• Enunciado 129: A autorização legal para ampliação de prazos pelo juiz não se presta a 
afastar preclusão temporal já consumada. 
• Enunciado 134: Negócio jurídico processual pode ser invalidado parcialmente. 
 
• Enunciado 254: É inválida a convenção para excluir a intervenção do Ministério Público 
como fiscal da ordem jurídica. 
• Enunciado 262: É admissível negócio processual para dispensar caução no cumprimento 
provisório de sentença. 
• Enunciado 402: A eficácia dos negócios processuais para quem deles não fez parte 
depende de sua anuência, quando lhe puder causar prejuízo. 
• Enunciado 403: A validade do negócio jurídicoprocessual requer agente capaz, objeto 
lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei. 
• Enunciado 404: Nos negócios processuais, atender-se-á mais à intenção 
consubstanciada na manifestação de vontade do que ao sentido literal da linguagem. 
• Enunciado 405: Os negócios jurídicos processuais devem ser interpretados conforme a 
boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. 
• Enunciado 406: Os negócios jurídicos processuais benéficos e a renúncia a direitos 
processuais interpretam-se estritamente. 
• Enunciado 407: Nos negócios processuais, as partes e o juiz são obrigados a guardar nas 
tratativas, na conclusão e na execução do negócio o princípio da boa-fé. 
• Enunciado 408: Quando houver no contrato de adesão negócio jurídico processual com 
previsões ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável 
ao aderente. 
• Enunciado 409: A convenção processual é autônoma em relação ao negócio em que 
estiver inserta, de tal sorte que a invalidade deste não implica necessariamente a 
invalidade da convenção processual. 
• Enunciado 411: O negócio processual pode ser distratado. 
• Enunciado 412: A aplicação de negócio processual em determinado processo judicial 
não impede, necessariamente, que da decisão do caso possa vir a ser formado 
precedente. 
• Enunciado 427: A proposta de saneamento consensual feita pelas partes pode agregar 
questões de fato até então não deduzidas. 
• Enunciado 490: São admissíveis os seguintes negócios processuais, entre outros: pacto 
de inexecução parcial ou total de multa coercitiva; pacto de alteração de ordem de 
penhora; pré-indicação de bem penhorável preferencial (art. 848, II); pré-fixação de 
indenização por dano processual prevista nos arts. 81, §3º, 520, inc. I, 297, parágrafo 
único (cláusula penal processual); negócio de anuência prévia para aditamento ou 
alteração do pedido ou da causa de pedir até o saneamento (art. 329, inc. II). 
• Enunciado 491: É possível negócio jurídico processual que estipule mudanças no 
procedimento das intervenções de terceiros, observada a necessidade de anuência do 
terceiro quando lhe puder causar prejuízo. 
 
• Enunciado 492: O pacto antenupcial e o contrato de convivência podem conter negócios 
processuais. 
• Enunciado 493: O negócio processual celebrado ao tempo do CPC-1973 é aplicável após 
o início da vigência do CPC-2015. 
• Enunciado 494: A admissibilidade de autocomposição não é requisito para o calendário 
processual. 
• Enunciado 494: O distrato do negócio processual homologado por exigência legal 
depende de homologação. 
• Enunciado 579: Admite-se o negócio processual que estabeleça a contagem dos prazos 
processuais dos negociantes em dias corridos. 
• Enunciado 580: É admissível o negócio processual estabelecendo que a alegação de 
existência de convenção de arbitragem será feita por simples petição, com a interrupção 
ou suspensão do prazo para contestação. 
 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO: 
1) Os negócios processuais dependem de homologação judicial? 
2) O juiz pode controlar a validade e o teor dos negócios processuais ? Como e em 
que casos? 
3) No que consiste a cláusula geral dos negócios jurídicos processuais ? 
4) A fazenda pública pode celebrar negócio processual? E o MP? 
5) Admite-se negócio processual no processo coletivo? E nos juizados especiais ?

Mais conteúdos dessa disciplina