Prévia do material em texto
Prognóstico em crianças gravemente doentes ou feridas pode melhorar muito com o atendimento e tratamento do choque. Se não tratado, o choque pode progredir rapidamente para insuficiência cardiopulmonar, depois para parada cardíaca (prognóstico é ruim). Quanto mais cedo você reconhecer o choque, estabelecer as prioridades e iniciar a terapia, maiores as chances da criança ter um prognóstico favorável. Sempre pensar na evolução se a criança piorar. Choque é uma condição clínica que resulta de uma distribuição inadequada de oxigênio e nutrientes aos tecidos para as demandas metabólicas teciduais. Frequentemente, mas nem sempre, o choque se caracteriza por perfusão inadequada. O choque pode ocorrer com pressão arterial normal, aumentada ou diminuída. Na maioria das crianças, se caracterizam por débito cardíaco baixo, porem pode ocorrer DC elevado, como nos casos de sepse e anemia grave (DC elevado). Todas as formas de choque podem comprometes a função dos órgãos vitais como cérebro (nível de consciência) e rins (baixo débito urinário e filtração ineficaz). Temos que evitar que ocorra comprometimento maior desses órgãos. Como a função circulatória depende de volume sanguíneo, função cardíaca e tônus muscular, o choque pode resultar de uma alteração em qualquer um desses parâmetros que podem ser a maneira mais simples de classificar o choque: 1. Hipovolêmico (baixo DC) 2. Cardiogênco 3. Distributivo 4. Obstrutivo 1. Choque compensado (fase de insuficiência circulatório compensada) 2. Fase descompensada 3. Homeostase o Todas as fases dependem da relação entre tônus vascular, volume circulatório e débito cardíaco Choque compensado: Mecanismos homeostáticos rapidamente compensam a diminuição da perfusão, e a pressão arterial sistólica fica mantida dentro do normal, mantida a partir de vasoconstrição periférica. Mantem o suprimento sanguíneo aos órgãos nobres (cérebro e coração) O aumento na FC compensa inicialmente a diminuição da volemia, porém tem limite, porque a taquicardia diminuirá o tempo de enchimento do miocárdio, levando à redução do débito cardíaco. A vasoconstrição periférica tem uma capacidade de recrutar até 10% da perfusão (sangue de leito venoso), manifestando: palidez cutânea e retardo no enchimento capilar >2 segundos, progredindo para pele fria, oligúria e pulsos periféricos diminuídos. Isso acontece porque os mecanismos homeostáticos já não conseguem mais manter os órgãos vitais com função adequada (rins, cérebro e coração). Fase descompensada: Meta do tratamento para o choque é evitar lesão de órgão terminal e impedir a progressão para insuficiência cardiopulmonar e parada cardíaca. Volume Sanguíneo Tônus Muscular Função Cardíaca Os mecanismos compensatórios estão sobrecarregados. Sinais e sintomas de disfunção orgânica aparecem = ESTADO MENTAL ALTERADO (alteração a nível cerebral)! Estudos mostram que os mecanismos de descompensação se esgotam após a perda volêmica >25%. A partir esse momento, ocorre hipotensão com progressão para falência multissistêmica e, finalmente, parada cardiorrespiratória. A hipotensão arterial é um estágio final do choque hipovolêmico. Inicialmente a perfusão dos órgãos vitais é mantida pelo débito cardíaco aumentado. Mas chega um momento que o sistema não consegue mais manter. A hipovolemia é a causa mundial mais comum de choque em crianças. A perda de fluidos devido a diarreia é a principal causa de choque hipovolêmico, junto com a desidratação e anormalidades eletrolíticas, que levam ao aumento da mortalidade no lactente. Causas de perda de volume: 1. Diarreia 2. Hemorragia (interna ou externa) – por trauma 3. Vômitos 4. Ingesta insuficiente de fluídos 5. Diurese osmótica (ex.: cetoacidose diabética) 6. Perdas para terceiro espaço (infiltração de fluidos nos tecidos) 7. Queimaduras O choque hipovolêmico caracteriza-se por redução da pré-carga, levando à diminuição do volume sistólico e a um baixo débito cardíaco. Os mecanismos compensatórios são: Taquicardia, aumento da contratilidade e aumento da resistência vascular sistêmica. Taquipneia pode ser observada: compensação respiratória para manter a homeostase ácido-base. o A alcalose respiratória proveniente da hiperventilação compensa parcialmente a acidose metabólica. Taquicardia Alterações na pele: pele fria, úmida, pálida ou manchada, turgor diminuído Oligúria Hipotensão arterial Pulsos centrais fracos Aumento do tempo de enchimento capilar Alteração do nível de consciência Pré-carga diminuida Contratilidade normal ou aumentada Pós-carga aumentada o Atentar para duas alterações: Alteração no nível de consciência e hipotensão arterial. FC Pressão arterial sistólica (PAS) Pressão arterial média (PAM) Débito urinário Pressão venosa central (PVC) Saturação de oxigenação venosa mista (SvO2) Lactato o Pressão arterial, frequência cardíaca e perfusão periférica normais são os objetivos da reanimação! Se a pressão estiver normal, atentar para aumento de frequência cardíaca e redução na perfusão periférica. Objetivos: 1. Tratar a doença de base (diarreia, vômito, cetoacidose, trauma...) 2. Aumentar a oferta e o consumo de oxigênio pela célula (ventilação adequada e evitar alcalose respiratória) 3. Corrigir os fatores inotrópicos negativos (melhorar contratilidade cardíaca) 4. Aumentar a contratilidade cardíaca 5. Diminuir a resistência vascular periférica Componentes no tratamento o Posição da criança o Administração de oxigênio sempre (para diminuir taquipneia, melhorar alcalose) o Acesso vascular: profundo e de preferência 2 acessos. Se não conseguir, pode ser utilizado via intraóssea o Ressuscitação volumétrica (líquido rápido) o Monitorização (FC, SatO2, ritmo cardíaco) o Avaliação frequente (PA ou UTI) o Exames auxiliares para identificar possíveis causas o Suporte farmacológico Características dos componentes: o Acesso venoso: 1 ou 2 acessos vasculares que permitam infusões de grandes volumes de soluções coloides ou cristaloides = de preferência a veia subclávia ou jugular interna feita pelo próprio médico intensivista. Uma veia periférica pode auxiliar no início, porém é um procedimento difícil devido a vasoconstrição que o paciente se encontra. A punção femoral pode ser usada pois é um acesso de alto grau de sucesso e poucas complicações. Sem sucesso no acesso venoso: utilizar a via intra-óssea (técnica simples e com <1% de complicações). o Tipo de líquidos: cristaloide ou coloide? Cristaloides (SF 0,9% e RL): o sódio é a partícula osmoticamente ativa, o problema é que apenas 25-30% do volume permanece intravascular, por isso sempre deve ser calculado 3-4x maior que a perda sanguínea. Soluções coloides: substância de grande peso molecular, dificultando a passagem para o interstício (plasma fresco, albumina 5% - custo alto). o Quanto de volume deve ser reposto? Necessita de infusões de grande volume de SF devido à perda para o interstício. Fazer SF 20mL/kg em bolus/push (a correr) Após cada push, reavaliar o estado hemodinâmico do paciente. Podem ser feitos novos pushes de acordo com a avaliação, até um máximo de 40-60 mL/kg em 1 hora Após, caso não tenha reversão, considerar suporte farmacológico. Objetivos: melhorar PVC, PAM, débito urinário (≥ 1 mL/Kg/h) e uma SatO2 > 70% Se SatO2 <70% = transfusão de concentrado de hemácias (Hb > 10 mg/dL) e iniciar inotrópico (dobutamina, adrenalina ou dopamina). Reconhecendo trauma e sangramento: Reconhecer o choque no paciente de trauma pediátrico pode ser um missão difícil. Muitas vezes a criança apresenta-se irritada e pode ter perdido 30% do volume de sangue. Mesmo que a criança não esteja prostrada, sempre deve haveruma desconfiança de lesão após trauma (podendo ter perda sanguínea interna, sem apresentar sinais) Rápido exame físico: avaliação cardíaca, pressão arterial, presença de pulsos, frequência respiratória, estado de consciência, cor e temperatura, assim como o tempo de enchimento capilar. As práticas iniciais são semelhantes a reposição volumétrica. Paciente com suspeita de lesão cerebral traumática, o objetivo deve ser em torno de prevenir lesão cerebral secundária = evitar hipo e hipervolemia. Hemograma completo: hemorragia, anemia, sepse, CIVD Glicemia: estresse, sepse, cetoacidose Potássio: disfunção renal, acidose Cálcio: sepse, hemorragia Lactato: hipóxia tecidual Gasometria arterial (acidose, alcalose) Recomendação: push de SF é eficaz em estágios iniciais do choque, mas push de coloide pode ser mais eficaz no choque avançado ou que não respondeu as primeiras soluções de coloides. Agentes vasoativos: afetam a contratilidade miocárdica, a frequência cardíaca, o tônus muscular da camada lisa vascular. Indicados quando o choque persiste após ressuscitação volumétrica adequada para otimizar a pré- carga. Os agentes farmacológicos mais usados são os inotrópicos, inibidores da fosfodiestarase, vasodilatadores e vasopressores. Inotrópicos (dopamina, epinefrina, dobutamina): aumentam a contratilidade cardíaca e produzem efeitos variáveis sobre a resistência vascular sistêmica. o Pode usar 2 ou 1 – se precisa melhorar perfusão periférica, usa- se dopamina, se precisa melhorar contratilidade: dobutamina Referências: - Medicina Intensiva em Pediatria – PIVA - PALS