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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/278966658 Aprendendo com a experiência dos outros: Responsabilidade Estendida do Produtor na Alemanha e nos Países Baixos Conference Paper · January 2004 CITATIONS 0 READS 467 2 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Export and use of hazardous products in institutionally vulnerable countries View project Social strategies of companies in the mining sector View project Bruno Milanez Federal University of Juiz de Fora 108 PUBLICATIONS 767 CITATIONS SEE PROFILE Ton Bührs Lincoln University New Zealand 31 PUBLICATIONS 426 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Bruno Milanez on 22 June 2015. 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Além disso, são analisados alguns aspectos considerados fundamentais para a implementação de instrumentos com base neste princípio, entre eles: abertura do governo para negociação, vontade política, força dos movimentos sociais, capacidade de negociar e de investir das indústrias, e disponibilidade de tecnologia. 1 APRESENTAÇÃO Esse estudo foi desenvolvido em uma da fase preliminar de uma pesquisa que visa avaliar a relação de políticas ambientais e desenvolvimento tecnológico no Brasil. Neste artigo em particular, o principal objetivo é explicitar quais aspectos foram mais relevantes na implantação de sistemas de coleta de resíduos pelos fabricantes na Alemanha e nos Países Baixos. A escolha desses dois casos deveu-se principalmente ao fato destes serem considerados dois dos principais líderes ambientais na Europa, além estarem entre os primeiros países a utilizar instrumentos relacionados ao princípio da Responsabilidade Extendida do Produtor (REP). A opção por resíduos de embalagens foi feita por esses materiais terem sido amplamente discutidos na literatura, havendo uma quantidade significativa de informação disponível. mailto:milanezb@lincoln.ac.nz mailto:buhrst@lincoln.ac.nz O texto segue em três seções; na seção 2 apresenta-se o conceito da REP; na seção 3 é feita a descrição crítica dos estudos de caso; e na seção 4 as características mais importantes deste princípio são explicitadas e comentadas. 2 ASPECTOS CONCEITUAIS 2.1 Contexto histórico Durante os anos 1970 alguns países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) adotaram o Princípio do Poluidor Pagador (PPP) como seu principal paradigma de políticas ambientais. Principalmente baseado em pressupostos econômicos, o PPP assume que se as externalidades ambientais forem incorporadas aos preços e esses representarem o real custo ambiental, as dinâmicas do mercado serão capazes de direcionar as decisões das empresas para reduzir os impactos ambientais. Com base nessas idéias, diversos instrumentos, como taxas ambientais e cotas de poluição, foram implementados, reduzindo a carga de poluição ambiental em vários países. Entretanto, os formuladores de políticas ambientais, já nessa época, visualizavam limitações do PPP e estavam cientes de que o princípio não se aplicaria a algumas situações: “Quem é o poluidor? [...] Se um veículo gera poluição atmosférica e sonora, não há dúvidas que o poluidor é a pessoa que o utiliza, mas isso não quer dizer que ele deveria ser considerado o responsável direto pelo impacto, [...]. Neste caso, o consumidor é um agente passivo, sem responsabilidade pela poluição, uma vez que ele apenas usa um produto, cujas características não dependem dele [...]” (OECD, 1975, p. 26, tradução livre).Apesar dessas limitações, o PPP foi considerado um paradigma eficaz durante a década de 1970 e 1980. Nos anos 1990, entretanto, novas propostas foram feitas, decorrentes de limitações para situações de poluição dispersa, e também devido a mudanças no contexto político econômico. No final da década de 1980, resíduos sólidos eram uma das prioridades ambientais em alguns países europeus. Por um lado, governos enfrentavam o desafio de falta de espaço para implantar novos aterros, por outro, havia forte oposição a instalação de incineradores. Ao mesmo tempo, apesar dos custos crescentes dos programas de coleta seletiva e reciclagem, os índices de recuperação de material não atingiam os níveis esperados. Formuladores de política, então, perceberam que os instrumentos que visavam apenas os estágios pós-consumo (ex. taxas de coleta e programas de coleta seletiva) eram insuficientes para reduzir significativamente a quantidade de resíduos gerados. As autoridades locais, incapazes de superar obstáculos técnicos ou pagar os custos da coleta e reciclagem dos materiais, diminuíram ou pararam os esforços de reciclagem. Além disso, mesmo quando havia envolvimento público, consumidores tinham poucas alternativas; uma vez que o mercado não enviava sinais significativos para as indústrias (OECD, 1996, p. 16). A partir dessas restrições, os governos começaram a elaborar políticas capazes de mudar a natureza dos produtos e de criar mercado para material pós-consumo; as novas estratégias passaram a focar as empresas, e não apenas os consumidores. A REP foi proposta como uma alternativa para superar as limitações dos instrumentos tradicionais para a gestão de resíduos sólidos. Este conceito, portanto, trata os resíduos pós-consumo como uma externalidade da produção (assim como a poluição atmosférica ou os efluentes líquidos que são gerados pelas fábricas) e define que os produtores devem ser também responsabilizados pelo impacto ambiental destes materiais. O surgimento da REP, entretanto, não se deu apenas devido a preocupações ambientais, mas também a mudanças no contexto político econômico. Durante a década de 1980, muitos países europeus passaram por crises recessivas, que reduziram os orçamentos públicos e aumentaram as críticas ao tamanho do estado e ao seu envolvimento em atividades privadas. As empresas reclamavam principalmente da ineficiência governamental e dos elevados níveis de controle; dentro de uma perspective neo-liberal, as principais propostas eram a privatização e a desregulamentação. Na área ambiental, a desregulamentação foi feita através da “re- regulamentação”, combinando elementos de mercado e maior atribuição às “comunidades responsáveis”, tais como associações empresariais. Este novo raciocínio econômico foi outro elemento que permitiu que as idéias propostas na década de 1970 tomassem forma nos diversos tipos de instrumentos que incorporavam a REP. (LIEFFERINK et al., 2000, pp. 13- 14) 2.2 Alguns instrumentos baseados no conceito da REP Após sua proposição inicial, o princípio da REP foi sendo desenvolvido tanto conceitualmente quanto empiricamente. Atualmente a OECD define REP como “uma estratégia de política ambiental na qual a responsabilidade do produtor é extendida até o estágio pós-consumo do ciclo de vida do produto. Há dois aspectos básicos relacionados com políticas REP: (1) transferência da responsabilidade (física e/ou econômica, total ou parcial) das municipalidades para o produtor; e (2) criação de incentivos para que os produtores incorporem considerações ambientais no projeto de seus produtos” (OECD, 2001, p. 9). Ao longo dos anos diferentes instrumentos foram elaborados com base neste princípio. O instrumento mais simples é a definição de percentual mínimo de material reciclado nos produtos. Apesar desse instrumento não enfatizar a minimização de resíduos, ele pode ser importante por reduzir o uso de matéria-prima virgem. Quando as companhias incorporam material reciclado, em muitos casos, elas precisam redesenhar os produtos ou os processos produtivos. Se o processo for corretamente orientado, além de gerar ganhos ambientais, ele também induz as companhias a repensar seus processos, tornando-as mais competitivas. Um segundo grupo de instrumentos torna os produtores fisicamente ou financeiramente responsáveis pelos resíduos pós-consumo de seus produtos. Este grupo de instrumentos incorpora a essência do REP e é normalmente o mais associado ao princípio; ele inclui sistemas de depósito-retorno, coleta de resíduos pelo produtor e leasing. Uma vez que as companhias internalizem os custos de tratamento, espera-se que elas modifiquem seus produtos, de forma a utilizar menos materiais, ou para que eles sejam mais facilmente reutilizáveis ou recicláveis. Finalmente, o terceiro grupo de instrumentos REP tem como base o uso de dinâmicas de mercado. Este grupo inclui taxa adiantada de disposição, taxa ambiental sobre produtos que usam matéria-prima virgem, e sistemas de subsídios cruzados. O grande desafio, nesse caso, é definir os preços, de forma a enviar a mensagem correta às empresas. A partir dessa informação, as firmas têm a liberdade de escolher a tecnologia que desejarem para atingir o objetivo planejado, o seja, o uso mais racional de certos materiais. Apesar dessa variedade de instrumentos, optou-se neste texto por focar apenas um; a coleta de resíduos pós-consumo pelos fabricantes. Este instrumento foi escolhido por ser aquele mais diretamente identificado com o princípio da REP. Como será visto, nos dois casos, apesar do instrumento ser o mesmo, dependendo do contexto de cada país, a forma de implantá-lo pode ser bastante diferente. 3 EXPERIÊNCIAS DE IMPLANTAÇÃO 3.1 Experiência na Alemanha As políticas para resíduos na Alemanha têm como um de seus pressupostos básicos o princípio da cooperação (VIEHÖVER, 2000, p. 282). Em 1977, 1982 e 1988 o governo tentou firmar acordos com a indústria de embalagens para criar sistema de depósito-retorno e ampliar os índices de reciclagem, mas nenhum deles foi completamente respeitado (EICHSTÄDT et al., 1999, p. 135). Até meados da década de 1980, a Alemanha era o país com mais extensivo programa de incineração da Europa, e, até esse momento, a quantidade crescente de resíduos produzidos era, em grande parte, incinerada. A partir do final dos anos 1980, áreas para aterros sanitários (seja por restrição de espaço, seja por oposição das comunidades vizinhas) tornaram-se cada vez mais escassas. Ao mesmo tempo, principalmente devido a campanhas do movimento ambientalista, a oposição à incineração tornou-se crescente. A limitação de alternativas para tratamento de resíduos, altamente divulgada por organizações ambientalistas e pela mídia, geraram, então, o sentimento de crise e a expectativa de colapso do sistema. Dentro desse contexto, os resíduos de embalagem (devido à sua visibilidade e grande percentual nos resíduos municipais) tornaram-se um dos principais alvos de crítica (OECD, 1998b, p. 13). A atividade da mídia juntamente com pressão das organizações ambientais e da opinião pública levaram a mudança da percepção do problema pelo governo federal (VIEHÖVER, 2000, p. 286). Em 1986, foi aprovada a Lei para Prevenção e Disposição de Resíduos (Gesetz über die Vermeidung und Entsorgung von Abfällen) que concedeu ao governo federal poder para implementar normas específicas, tais como “proibir ou restringir a fabricação de produtos perigosos, implementar obrigações para embalagens, sistema de depósito-retorno para embalagens e coleta pelo produtor de embalagem” (VIEHÖVER, 2000, p. 278). Em 1987 o governo introduziu uma norma para óleo usado e, em 1988, por causa do insucesso dos acordos com as empresas de embalagem de bebidas, tentou implantar um sistema de depósito-retorno para garrafas plásticas (este foi rejeitado pela Comissão da Comunidade Européia por contrariar as regras de comércio da comunidade) (LINDHQVIST, 2000, p. 44). Em 1990, o governo apresentou a primeira proposta para Norma para Prevenção e Recuperação deResíduos de Embalagem (Verordnung über die Vermeidung und Verwertung von Verpackungsabfällen) que obrigava comerciantes a aceitar as embalagens retornadas pelos consumidores e estabelecia (sob responsabilidade dos envasadores e comerciantes) cotas obrigatórias de reutilização e reciclagem. Receosos do aumento dos custos deste sistema, as empresas propuseram como alternativa a formação do Duales System Deutschland (DSD), uma empresa privada para coletar, separar e reciclar resíduos de embalagem. O DSD é financiado pelas empresas produtoras e usuárias de embalagens, que pagam cotas variáveis de acordo com o tipo e quantidade de material que suas embalagens utilizam, ou seja, materiais mais fáceis de serem reciclados custam menos do que aqueles que exigem processos mais complexos. Dessa forma, utilizando dinâmicas de mercado, as empresas são estimuladas a usar materiais mais facilmente recicláveis e reprojetar suas embalagens de forma a reduzir a quantidade de material e de resíduos. Embora o conceito da REP costume considerar impacto e a viabilidade econômica das soluções, estes não são muito claros no caso da Alemanha. Por um lado, pequenos fabricantes de bebidas foram beneficiados pelo artigo referente à reutilização de embalagem, pois como operam no mercado local e regional têm menores custos logísticos para coleta de suas embalagens. Da mesma forma, companhias de gestão de resíduos foram beneficiadas, pois o sistema cria, até certo ponto, uma duplicação dos serviços. Por outro lado, estudos também indicam o aumento de custos operacionais para produtores e usuários de embalagens (VIEHÖVER, 2000). 3.2 Experiência nos Países Baixos Ao contrário do caso Alemão, onde foi necessária a imposição de normas para a implementação da REP, nos Países Baixos, foi possível a utilização de convênios entre governos e empresas. O uso de acordos e convênios tem sido a principal estratégia de políticas ambientais holandesas desde o governo do primeiro ministro Lubber (1982-1994). Durante esse governo, um dos principais objetivos era reduzir os custos do estado através da redução da burocracia e das exigências legais. Dessa forma, e dentro da ideologia neo-liberal, questionava-se o pressuposto de que o Estado deveria prover as soluções para todos os problemas da sociedade. Nesse contexto, o ministro do meio ambiente Winsemius adotou o Princípio de Internalização, que afirmava que os autores dos impactos ambientais, ao invés do Estado, seriam os principais responsáveis por resolver tais problemas (LAUBER, 2000, p. 55). A aplicação deste princípio foi incorporada no Primeiro Plano de Políticas Ambientais (1989), que adotou os convênios como estratégia central para implementar objetivos ambientais (OECD, 1998a, p. 9). Os convênios, no exemplo holandês, são acordos dentro do direito privado entre governo e indústria (aproximando-se do que, no Brasil, chama-se Termo de Ajustamento de Conduta) e diferem de acordos voluntários. No caso dos convênios, as empresas comprometem-se legalmente a seguir uma série de objetivos e exigências, negociados coletivamente (OECD, 1998a, p. 7). Entretanto, LINDHQVIST (2000, p. 49) identifica uma “ameaça mais ou menos explícita de intervenção do governo” para garantir que os acordos atinjam seus objetivos. Nesse sentido, DE JONG e WOLSINK (1997, p. 648) mencionam a estratégia do “porrete atrás da porta”, que garante que o governo pode “punir os atores que não assumirem suas responsabilidades e assinem os convênios”. Portanto, os convênios devem ser considerados acordos induzidos, e não voluntários. O Convênio para Embalagens foi assinado em 1991 e resultou de negociações iniciadas em 1980. O documento define que a indústria deve reduzir a produção de embalagens às quantidades geradas em 1986. Além disso, o convênio proíbe a disposição de resíduos de embalagem em aterros e define que ao menos 60% dos mesmos devem ser reciclados (OECD, 1998a, p. 13). Apesar de tais metas parecerem ambiciosas, elas foram alcançadas já em 1994, trazendo benefícios ambientais e econômicos. Devido à diminuição da quantidade de material descartado, tanto a pressão sobre os aterros sanitários, quanto os custos de gestão de resíduos foram reduzidos. Do ponto de vista das indústrias, elas aumentaram seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento e, devido a informações mais abrangentes sobre ciclo de vida, desenvolveram novas alternativas para embalagens. No setor de gestão de resíduos, projetos tecnológicos foram desenvolvidos para aprimorar sistemas de coleta, separação e reciclagem, ampliando a capacidade de recuperar materiais no país (OECD, 1998a, p. 13). Entretanto, o resultado econômico geral destas mudanças também não é claro. Entre os setores que apresentam alta dependência das embalagens, a setor alimentício foi o único que claramente aumentou sua competitividade, enquanto que os outros não apresentaram nenhuma mudança (positiva ou negativa) por causa do convênio. 4 O QUE PODEMOS APRENDER A lista de instrumentos mencionados, bem como a descrição dos estudos de caso, mostram uma série de pressupostos e condições que, embora não necessariamente explícitos na literatura, são inerentes ao uso da REP. Esses aspectos devem ser claros para os formuladores de políticas, quando estudam a implementação de políticas baseadas neste princípio. Entre os pressupostos, podem ser identificados: preferência por soluções preventivas, foco nas empresas como responsáveis pela solução dos problemas ambientais, e preocupação com a viabilidade econômica. Por outro lado, para que estes instrumentos tenham maior chance de implantação é necessário um contexto onde o governo seja aberto para negociação e tenha vontade política de implantar os sistemas, movimentos sociais sejam organizados e influentes, associações de indústrias sejam capazes de negociar com o governo e monitoras suas afiliadas, e empresas tenham capacidade de investir e desenvolver tecnologia. A decisão de transferir a responsabilidade para os fabricantes é devida principalmente ao fato destes terem a capacidade de agir preventivamente para minimizar a geração de resíduos. Através de conceitos como “projeto para reciclagem” ou “projeto para desmontagem”, ou apenas pela troca de materiais ou mudança de algumas características, as empresas podem reduzir significativamente o impacto ambiental dos resíduos pós-consumo de seus produtos. A adoção de medidas preventivas decorre do entendimento dessas serem, no longo prazo, economicamente mais eficientes do que medidas remediadoras (como os aterros sanitários). Além disso, a REP parte do pressuposto da motivação econômica como principal indutor das ações das firmas. Esse aspecto surge tanto na defesa dos instrumentos econômicos, como também no uso da internalização de externalidades ambientais. Dessa forma, usualmente estas estratégias devem passar por um processo de negociação junto às empresas para que o seu impacto econômico seja identificado. Ao lados das empresas, outro fator importante é a avaliação por organizações interessadas, tais como movimentos ambientais e órgãos de defesa do consumidor. Este envolvimento é recomendado para evitar excessos por parte das companhias. Essa negociação, entretanto, só ocorre se o governo buscar soluções consensuais em suas políticas. No caso da Alemanha embora a primeira versão da Norma de Embalagens tenha tido uma posição autoritária, o governo ouviu a opinião das empresas e voltou atrás em sua decisão. Nos Países Baixos, a opção por convênios tem norteado a maioria das políticas ambientais, incluindo assuntos diversos, como: mudança climática, acidificação do solo, eutrofização, resíduos sólidos, entre outros. Apesar da abertura dos governos, os estudos de caso também se caracterizam pela liderança dos mesmos na condução do processo. Na Alemanha, diversos acordos foram desrespeitados pelas empresas, até que o governo ameaçou tomar medidas mais radicais. De forma semelhante, nos Países Baixos o governo tinha a prerrogativa de penalizar as empresas que nãoassinassem o convênio. Nesse sentido existia um comprometimento do governo em implementar as políticas. Uma das razões que pode estar por trás dessa vontade política é a pressão da opinião pública e a grande visibilidade do problema de resíduos. Para tanto, tiveram grande importância os movimentos ambientais e a mídia, principalmente em criar o sentimento de que havia uma crise por vir. Além de colocar a questão dos resíduos sólidos na agenda do governo, pelo menos no caso holandês, movimentos sociais também participaram dos estudos que serviram como base técnica para elaboração do convênio. A capacidade das empresas, nesse caso, é outro aspecto que teve importante papel na implementação desses instrumentos. Nos dois casos contou-se com representantes de associações empresariais. Essas instituições não apenas participaram das negociações em nome das empresas individuais, mas também, ao menos na Alemanha, ficaram responsáveis por coletar dados e monitorar as atividades das firmas. Uma das estratégias para facilitar esse monitoramento foi a definição de metas quantitativas e prazos para seu cumprimento. Adicionalmente, as empresas também apresentavam capacidade de investir nas soluções necessárias para que as metas fossem alcançadas. Embora alguns setores tenham tido lucros imediatos e outros desenvolvido vantagens competitivas após a implantação das políticas, essa situação não deve ser generalizada e não pode ser garantida a priori. Independentemente do resultado final, todas as empresas necessariamente precisaram passar por um período de investimento ou ajuste de custos para se adequar às novas regras. Tal condição deve ser prevista e viabilizada durante o processo de negociação dos instrumentos. Também durante as negociações, a questão da existência de mercado deve ser considerada. No caso de embalagens, material pós-consumo pode substituir parcialmente (e às vezes completamente) matéria-prima virgem, dessa forma, não existe grande restrição de mercado, embora seja necessário ter estrutura para absorver o material coletado. Na Alemanha, logo após a implantação do sistema, houve queda no preço dos materiais e a exportação de resíduos aumentou cerca de 50% (OECD, 1998b, p. 28). Como alternativa, novas soluções tiveram de ser desenvolvidas para aperfeiçoar a separação dos resíduos e para melhorar a qualidade do material reciclado. De forma geral, experiências com o conceito da REP têm sido implantadas em diferentes países, e este conceito apresenta-se como uma possibilidade para a gestão de resíduos. Entretanto ele foi criado em circunstâncias bastante particulares, e os instrumentos relacionados com esse princípio exigem uma série de requisitos que devem ser observados, caso contrário, corre-se o risco de criar leis vazias, incapazes de gerar os resultados esperados. AGRADECIMENTOS Este texto foi elaborado como parte da minha pesquisa de doutorado, que vem sendo realizada na Lincoln University e é financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DE JONG, P. e M. WOLSINK. The structure of the Dutch waste sector and impediments for waste reduction. Waste Management & Research, v.15, p.641-658. 1997. EICHSTÄDT, T., A. CARIUS, et al. Producer responsibility within policy network: the case of German packaging policy. Journal of Environmental Policy & Planning, v.1, n.2, p.133-153. 1999. LAUBER, V. The political and institutional setting. In: A. P. J. Mol, V. Lauber, et al (Ed.). 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