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Tópicos Avançados em Administração Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. João Luiz Souza Lima Revisão Textual: Profa. Ms. Alessandra Fabiana Cavalcanti Tendências da Administração no Século XXI • Introdução • Ética Empresarial • Questão Ambiental • Questão Ambiental na Empresa • Plano Ambiental • Considerações Finais · Discutir sobre dois assuntos que muito tem se falado e discutido no mundo empresarial: a Ética Empresarial e a Responsabilidade Socioambiental, porém devemos tomar muito cuidado ao abordarmos estes assuntos, para que os mesmos não se tornem apenas um modismo passageiro. O gestor deve se utilizar da Ética e da Responsabilidade Social como ferramentas mercadológicas, visando à busca da Vantagem Competitiva. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta Unidade, abordaremos dois assuntos que muito tem se falado e discutido no mundo empresarial: a Ética Empresarial e a Responsabilidade Socioambiental, porém devemos tomar muito cuidado ao abordarmos estes assuntos, para que os mesmos não se tornem apenas um modismo passageiro. O gestor deve se utilizar da Ética e da Responsabilidade Social como ferramentas mercadológicas, visando à busca da Vantagem Competitiva. Assim a unidade está estruturada em quatro tópicos que vão nos guiar em nossa disciplina. São eles: 1) Ética Empresarial; 2) Questão Ambiental; 3) Questão Ambiental na Empresa; 4) Plano Ambiental. A atividade reflexiva irá explorar o seu nível de teorização para introduzir os conceitos de Ética e de Responsabilidade Social e Empresarial e os seus impactos sobre a gestão contemporânea. Também serão disponibilizadas outras indicações de leituras no espaço “material complementar”, em “documentos da disciplina” e as referências bibliográficas utilizadas para elaboração desta unidade. Desta maneira, desejo a você bons estudos! ORIENTAÇÕES Tendências da Administração no Século XXI UNIDADE Tendências da Administração no Século XXI Contextualização A partir da década de 1970, a ética empresarial e a questão ambiental, sob enfoque econômico, se tornaram cada vez mais criticadas e analisadas pelos atores do mundo globalizado: governos, empresas e entidades ligadas ao meio ambiente. A Gestão Socioambiental, portanto, se constitui num processo irreversível estimulado pela crescente preocupação das organizações contemporâneas com a ética e o meio ambiente. Esses aspectos nos remetem às tendências da Administração no Século XXI e a sua íntima ligação com o Desenvolvimento Socioambiental. Para que o Desenvolvimento Sustentável da empresa contemporânea se concretize esta deve propor e criar o seu respectivo Plano Ambiental, o qual irá definir com um considerável nível de detalhes como a empresa irá promover o seu Desenvolvimento Sustentável. Após a realização do Plano Ambiental, a empresa deve gerar as ações e os investimentos necessários, definir seu preço/custo, distribuí-lo, promovê-lo e implementá-lo. Portanto, um Plano Ambiental deve ser muito bom e deve ter uma excelente estrutura técnica. A etapa final do Processo de Gestão Ambiental é o controle, que é a maneira pela qual se identificam falhas na implementação ou na estratégia de gestão. Nesta Unidade, abordaremos além da implementação do Plano Ambiental dois outros assuntos que muito tem se falado e discutido no mundo empresarial: a Ética Empresarial e a Responsabilidade Socioambiental. Entretanto, devemos tomar muito cuidado ao abordarmos estes assuntos, para que os mesmos não se tornem apenas um modismo passageiro. O gestor deve se utilizar da Ética e da Responsabilidade Social como ferramentas mercadológicas, visando à busca da Vantagem Competitiva. 6 7 Introdução Nesta Unidade, abordaremos dois assuntos que muito têm se falado e discutido no mundo empresarial: a Ética Empresarial e a Responsabilidade Socioambiental, porém devemos tomar muito cuidado ao abordarmos essas questões, para que os mesmos não se tornem apenas um modismo passageiro. O gestor deve se utilizar da Ética e da Responsabilidade Social como ferramentas mercadológicas, visando à busca da Vantagem Competitiva. Ética Empresarial Para entender o significado da palavra ética, buscamos a concepção filosófica do termo, baseado em dois autores: Rohmann (2000) e Sánchez Vázquez (2001). Para Rohmann (2000) ética é o estudo dos princípios e do comportamento moral, e da natureza do bem. O termo provém do radical grego ethos, que significa costume e caráter. Pode-se dividir a ética em ética normativa e metaética. A primeira considera os princípios da conduta correta; a segunda indaga o uso e a fundamentação de conceitos como certo e errado, bem e mal. Sánchez Vázquez (2001) define ética como a teoria ou a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. A ética não cria a moral. Ainda que toda moral suponha normas ou regras de comportamento, não é a ética que os estabelece numa determinada comunidade. A ética se depara com uma experiência histórico-social no terreno da moral, ou seja, com uma série de práticas morais já em vigor. Com base nelas, procura determinar a essência da moral, sua origem, as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza e a função dos juízos morais, os critérios de justificação destes juízos e o princípio que rege a mudança e a sucessão de diferentes sistemas morais. Dessa forma, a ética, voltada para a retidão moral dos atos humanos, é uma ciência prática, de caráter filosófico. Sob esse aspecto a inteligência humana adverte para a bondade ou a malícia dos atos livres, haja vista o remorso ou a satisfação que se experimenta por ações livremente realizadas. Porém, o que é o bem e o mal? Ou por que tal ação é boa ou má? Ao considerar as potências da inteligência, que tende para a verdade e a da vontade que tende para o bem, quanto mais o homem conseguir atingir essa realidade, a verdade e o bem, tanto mais próximo estará de sua realização plena e, portanto, mais perto de alcançar a felicidade. A inteligência, iluminada pela verdade, considera todas as circunstâncias que envolvem a ação. A consciência julga a validade moral dessa ação. 7 UNIDADE Tendências da Administração no Século XXI A liberdade confere ao homem a capacidade de escolha. A vontade livre adere à ação, praticando-a se for boa ou desprezando-a, se for má. Se não houvesse livre arbítrio, o homem não poderia fazer esta opção pelo bem ou pelo mal. Por essa razão, a ação que não se reveste de liberdade está destituída de um dos componentes essenciais das ações éticas. O homem será tanto mais livre quanto mais sua escolha aproximar-se de seus fins existenciais (ARRUDA et al., 2001). O senso ético no homem é construído constantemente. A ética se aprende e se pratica em casa, na escola, na rua e nas organizações. Ao longo da vida, por meio de diferentes experiências, é reforçada ou alterada, mas o certo é que o homem anseia pelos melhores valores norteadores de seu comportamento e de seu modo de pensar. Dessa forma, do homem empresário exige-se um alto senso ético, especialmente, porque de suas atitudes resultarão maiores benefícios ou malefícios a um conjunto maior de pessoas. A ética nas empresas pode ser entendida como o estudo da forma pela qual as normas morais e pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos a serem alcançados. Não se trata de um padrão moral separado, mas do estudo de como o contexto dos negócios cria seus problemas próprios e exclusivos à pessoa que atua como um gerente desse sistema. A sociedade está a exigir cada vez mais o comportamento ético por parte das empresas. No cotidiano das empresas surgem alguns dilemas, pois as regras de mercado e o pluralismo da sociedade apresentam oportunidades e necessidades de ação que, a princípio não parecem dar motivo para dúvidas morais pessoais, mas, quando examinados a fundo, representam problemas morais importantes para o indivíduo. A ética está por toda parte. Há vários comportamentostidos como antiéticos pelas empresas, dentre os quais se podem destacar: pagamentos de propinas e subornos; sonegação fiscal e evasão de divisas; falsificação de registros contábeis; concorrência desleal; propaganda enganosa; más condições de trabalho; assédio sexual no ambiente de trabalho; poluição ambiental; tráfico de informações e espionagem industrial. Não há nenhuma fórmula mágica para auxiliar o administrador na determinação daquilo que é certo ou errado. Tais dilemas não são o centro do trabalho de cada administrador, e sua resolução está em parte na fundamentação dos valores que ele traz para a tarefa, e também em muitas condições que fogem ao controle direto de um administrador. Umas das alternativas para evitar estes comportamentos é o Código de Ética, que nada mais é do que a declaração formal das expectativas da empresa à conduta de seus executivos e demais funcionários. Os códigos de ética não têm a pretensão de solucionar os dilemas éticos da organização, mas fornecer critérios ou diretrizes para que as pessoas descubram formas éticas de se conduzir. Os programas de ética são desenvolvidos por meio de um processo que envolve todos os integrantes da empresa e que passa pelas etapas de sensibilização, de 8 9 conscientização, de motivação, de capacitação e finalmente, de adoção de um código de conduta baseado em princípios e valores. Uma vez implantado, deve ser desenvolvido um trabalho de acompanhamento e de adequação às circunstâncias internas e externas da organização, fruto das contínuas mudanças inerentes ao desenrolar dos negócios. Questão Ambiental A partir da década de 1970, se tornam cada vez mais numerosas as iniciativas para transformar materiais usados em novos produtos, um processo estimulado pela crescente preocupação com o meio ambiente. Especialistas alertam para o fato de que é preciso, antes de qualquer coisa, diminuir a quantidade de lixo. Didaticamente, fala-se nos “três erres”: (1) redução; (2) reutilização; (3) reciclagem. O primeiro “erre” é realizado por meio do consumo consciente (de produtos com embalagens retornáveis, por exemplo). O segundo, pelo reaproveitamento de materiais que possam ter nova utilidade. O terceiro, pelo reenvio do lixo não orgânico ao processo produtivo, para a fabricação de novos produtos. As sociedades pressionam as indústrias a aliar a exploração econômica à preservação ambiental, incentivando atividades como a coleta seletiva de lixo e a reciclagem. Redução e Reaproveitamento As medidas adotadas para reduzir a produção de lixo e o desperdício de materiais, por meio do reaproveitamento, se multiplicam em vários países. O Japão reutiliza 90% do lixo sólido, inclusive com a produção de compostos orgânicos para a agricultura, e reaproveita a água usada no banho para a descarga no vaso sanitário. Nos Estados Unidos da América (EUA) e na Europa, as autoridades estão eliminando os aterros sanitários. Esses locais, embora planejados para evitar que o lixo polua o ambiente, exigem grandes espaços e não são completamente seguros. Por isso, a melhor solução é reciclar quantidades cada vez maiores de detritos. Um decreto da União Européia (UE) determina que a partir de 2006 os fabricantes de automóveis se responsabilizem pelo destino final de 85% do material dos veículos. No parque de Kalundborg, na Dinamarca, uma indústria farmacêutica, uma fábrica de lambris, uma refinaria de óleo e uma usina de energia reduzem resíduos industriais ao dividir o uso de produtos como água refrigerada e gás. O papel, o alumínio, o vidro e o plástico são os materiais que mais se prestam à reciclagem. Além de reduzir a poluição, esse procedimento diminui notavelmente o gasto energético e os custos industriais. A fabricação de papel reciclado, por exemplo, consome 74% menos energia e 50% menos água que a produção convencional. Entre 1970 e 2014, a porcentagem de papel reciclado cresce de 23% para 87% no mundo inteiro. 9 UNIDADE Tendências da Administração no Século XXI Lixo Urbano Com o crescimento da população e o maior consumo de matérias-primas, a quantidade de resíduos sólidos e líquidos vai aumentando cada vez mais, configurando outro tipo de ameaça para o meio ambiente e para a sociedade. Os principais problemas causados pelo acúmulo de lixo são a proliferação de insetos transmissores de doenças, a decomposição de matérias orgânicas poluentes, a contaminação do solo e das pessoas que manipulam lixo com produtos tóxicos e o acúmulo de materiais não degradáveis. A poluição do solo é provocada principalmente pelo lixo urbano, pelos esgotos domésticos e industriais e pelos agrotóxicos. A produção de lixo atinge números impressionantes no mundo. Apenas os Estados Unidos (EUA) produzem cerca de 500 milhões de toneladas por ano, uma média de 2.000 quilos por habitante. O crescimento econômico, o desperdício de materiais e o uso de produtos descartáveis são os principais responsáveis pela cifra. A decomposição da parte orgânica biodegradável do lixo (restos de alimentos), feita por microrganismos, libera gases e um líquido chamado chorume, ambos muito poluentes. Num lixão, esse processo causa a poluição do solo, das águas superficiais e subterrâneas e do ar. Além disso, alguns materiais não se degradam facilmente, permanecendo no meio ambiente por muito tempo. O vidro, por exemplo, leva cerca de 5 mil anos para se decompor; e certos tipos de plástico perduram por prazo indeterminado. O destino mais adequado para o lixo urbano é sua disposição em aterros sanitários ou sua incineração, que deve contar com um sistema de tratamento para os gases produzidos durante o processo. O ideal, porém, é reciclar a maior parte dos materiais e assim reduzir a quantidade de lixo. Além disso, é importante incentivar o uso de materiais não descartáveis ou biodegradáveis. A crescente preocupação com os efeitos das substâncias tóxicas tem produzido medidas positivas, como a Convenção de Estocolmo, de 2001, que proibiu a produção e o uso de 12 (doze) compostos químicos classificados como poluentes orgânicos persistentes (POPs). O acordo foi assinado por representantes de 90 países, entre eles o Brasil, mas ainda não entrou plenamente em vigor. Os compostos da “dúzia suja”, como ficaram conhecidos, que comprovadamente causam câncer e má-formação em seres humanos e animais, além de outros males são os seguintes: Aldrin; Clorano; Mirex; Dieldrin; DDT; Dioxinas; Furanos; PCB; Endrin; Heptacloro; HCB; Toxafeno. Sistemas Urbanos Desde o descobrimento, as atividades econômicas adotadas no Brasil são prejudiciais ao ambiente. No início foi a exploração do pau-brasil, seguida pela derrubada sem critério de amplas extensões de mata para a instalação de pastagens 10 11 ou monoculturas, como a cana-de-açúcar e o café. Dessa forma, instalou-se uma tradição de práticas danosas, como as queimadas e o corte de árvores sem o cuidado de garantir a reposição das espécies. Atualmente, agricultores e madeireiras continuam a devastar grandes áreas da floresta Amazônica, da Mata Atlântica, do cerrado e da caatinga. O país sofre com outros problemas ambientais graves, como as queimadas – que contribuem para o aquecimento global e para as alterações climáticas – e o aumento da emissão de monóxido de carbono, que afeta a saúde da população das grandes cidades. Um estudo do Banco Mundial (BIRD) sobre o Brasil, de 1998, ressalta que os poluentes causadores de maiores danos à saúde da população são o monóxido de carbono (CO), emitido pelo setor industrial e de transporte, os coliformes (bactérias) existentes nos esgotos residenciais e os metais pesados, lançados pelas indústrias. No caso dos ecossistemas aquáticos, as maiores ameaças são poluentes de origem orgânicas produzidas tanto pelos dejetos domiciliares quanto pelas indústrias e, ainda, o fósforo, presente em produtos como os detergentes. Em contato com o nitrogênio, o fósforo estimula o crescimento de enormes quantidades de bactérias azul-esverdeadas.O processo, que deixa as águas de rios e represas verdes, provoca a perda de oxigênio e a consequente mortandade de peixes. Despejado sem tratamento em rios e córregos, ou muitas vezes deixado a céu aberto, o lixo contamina as águas da superfície e subterrâneas. A impermeabilização desordenada do solo é um dos motivos do aumento no número de enchentes e de inundações. Transformadas em verdadeiras ilhas de concreto, com poucas áreas verdes preservadas, as cidades sofrem ainda com a elevação da temperatura e com a poluição sonora e visual. Por isso, governos, ONGs e ambientalistas têm-se dedicado a elaborar programas de preservação e de desenvolvimento sustentável específico para as grandes cidades e conglomerados urbanos. O presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou, em julho de 2001, o Estatuto da Cidade, lei que define uma nova regulamentação para o uso do solo urbano. Ela prevê mecanismos como cobrança de IPTU progressivo de até 15% para terrenos ociosos, a simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a aumentar a oferta de lotes, e a proteção e a recuperação do meio ambiente urbano. Para muitos urbanistas, o Estatuto da Cidade pode trazer benefícios ambientais aos grandes centros urbanos ao estimular a instalação da população de baixa renda em áreas com infraestrutura. Isso diminuiria a tendência de os setores sociais excluídos ocuparem áreas frágeis ou precárias do ponto de vista ambiental, como mangues, encostas de morro e zonas inundáveis. A lei estimula as prefeituras a adotar a sustentabilidade ambiental como diretriz para o planejamento urbano e, ainda, prevê normas como a obrigatoriedade de estudos de impacto urbanístico para grandes obras, como a construção de shopping 11 UNIDADE Tendências da Administração no Século XXI centers. Também lista, entre os instrumentos do planejamento municipal, a gestão orçamentária participativa. Desenvolvimento Sustentável O avanço acelerado das características urbano e industrial da sociedade moderna tem agravado os impactos ambientais. Cerca de 40% da população do planeta já não dispõe de água suficiente para o dia-a-dia. Mais de 3 milhões de mortes, a cada ano, se devem a problemas respiratórios decorrentes da poluição do ar. A contaminação das águas e do solo, o desmatamento, o agravamento do efeito estufa e a destruição da camada de ozônio são problemas que atravessam as fronteiras formais dos países. A busca de soluções requer cooperação em nível internacional, além de exigir grandes investimentos e mobilização em escala mundial. Nos últimos anos, consolidam-se as noções de “responsabilidade comum, mas diferenciada” e de “poluidor pagador”. Esses conceitos sinalizam que, embora o mundo inteiro deva comprometer-se com o controle ambiental, os países desenvolvidos têm responsabilidade especial. Como emitem poluentes em maior quantidade e a mais tempo, devem ter metas de redução mais altas e dar ajuda financeira às nações pobres, como compensação pela poluição que causam. O conceito que norteia as discussões atuais sobre proteção do meio ambiente é o de Desenvolvimento Sustentável. Definido em 1987, no relatório Nosso Futuro Comum, da Organização das Nações Unidas (ONU), propõe atender às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras acatarem às próprias necessidades. Pressupõe, portanto, a utilização de formas mais racionais de exploração da natureza, baseadas em tecnologias não predatórias que preservem o equilíbrio ecológico. Esse estudo alerta também para o vínculo estreito entre pobreza e degradação ambiental. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972, é o primeiro grande evento da ONU que discute as questões ambientais. Realizado no período da Guerra Fria, o encontro não chega a definir políticas efetivas por causa das divergências entre os países dos blocos capitalista (liderado pelos Estados Unidos – EUA) e socialista (encabeçado pela União Soviética – URSS). Um dos poucos resultados efetivos foi a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Ainda assim, o fórum colocou em pauta questões importantes, como a proposta de repasse de parte do Produto Interno Bruto (PIB) das nações ricas para os países pobres, como forma de auxiliá-los na resolução de problemas ambientais. Em 1982 ocorre novo encontro, em Nairóbi, no Quênia, durante o qual se constata não ter havido avanços consideráveis desde a conferência de Estocolmo. A reunião limita-se a avaliar o plano de ação aprovado dez anos antes, sem definir uma política global. O debate ambiental ganha impulso em 1992, com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, no 12 13 Brasil. O evento, que ficou conhecido como ECO-92 ou Rio-92, faz novo balanço tanto dos problemas existentes quanto dos progressos realizados e elabora documentos importantes que continuam atualmente a ser referência para as discussões. Duas convenções são aprovadas nesse momento: uma sobre biodiversidade e outra sobre mudanças climáticas. Outro resultado positivo é a assinatura da Agenda 21, um plano de ação com metas para a melhoria das condições ambientais do planeta. Grande número de organizações não governamentais participa da ECO- 92 e realiza de forma paralela o Fórum Global, que aprova a Declaração do Rio (ou Carta da Terra). Segundo esse documento, os países ricos têm maior responsabilidade na preservação do planeta. E, se os avanços tecnológicos em curso não forem suficientes para assegurar a integridade da biosfera, será necessário diminuir o padrão de produção e de consumo, especialmente nessas nações. Outro fórum mundial é realizado em 2002, em Johanesburgo, na África do Sul. Com o nome de Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+10, como também fica conhecida, integra o conjunto de iniciativas da ONU para reduzir pela metade o número de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza (com menos de 1 dólar por dia) até 2015. Também são discutidas questões importantes sobre fornecimento de água e saneamento, energia, saúde, agricultura e biodiversidade. Sua pauta previu a implementação da Agenda 21, por meio de parcerias entre governos e sociedade civil. A meta é avaliar as ações tomadas em defesa do meio ambiente e discutir novas estratégias de desenvolvimento que não comprometam o patrimônio ecológico do planeta. No evento não fica definido nenhum compromisso das nações desenvolvidas com o cancelamento das dívidas dos países mais pobres, uma questão considerada essencial para a redução da pobreza e a consequente defesa do meio ambiente. Um dos poucos progressos obtidos refere-se ao abastecimento de água. Os países concordam com a meta de reduzir pela metade o número de pessoas que não têm acesso à água potável nem a saneamento básico até 2015. Outro acordo assumido prevê a recuperação, também até 2015, dos estoques de peixes por meio do controle da pesca oceânica, para que as espécies possam reproduzir-se antes de ser capturadas. Os demais itens da Agenda 21, ainda que adotados, ficam sem definição de metas ou de prazos. O principal caminho para enfrentar globalmente os problemas ambientais tem sido a criação de fóruns de discussão e a aprovação de documentos nas conferências internacionais promovidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) a cada dez anos. Esses documentos são as chamadas convenções, cujos textos regulam e coordenam a ação dos países que as adotam. As primeiras conferências procuraram definir, de imediato, convenções que detalhassem os direitos e os deveres dos envolvidos, para só depois entrar em vigor. Esse procedimento se mostrou demorado, desgastante e ineficaz: os problemas ambientais se avolumavam, e poucas medidas eram adotadas. Foi assim em 1972 e em 1982. 13 UNIDADE Tendências da Administração no Século XXI Nas conferências seguintes (1992, 2002 e 2012),a ONU adotou um novo método. Passou-se a definir convenções gerais, apenas com propostas de consenso. Os países concordantes assinam e, nos anos subsequentes, podem ratificá-las. O passo seguinte: os países enviam delegações para participar de comitês ou de convenções, que se reúnem anualmente para aprofundar as discussões sobre o documento original. Daí resulta a redação de um protocolo que detalha outras propostas de lei conjuntas. Na ECO-92, por exemplo, foi assinada a Convenção sobre Mudanças Climáticas. O aprofundamento dessa resultou no Protocolo de Kyoto, de 1997, que pormenorizou metas para reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa. Para que uma convenção e os protocolos entrem em vigor, é preciso que cada país os aprove e os ratifique. Ao fazer isso, ele se compromete a adotá-los com leis internas, o que geralmente implica metas a ser cumpridas. Em contrapartida, passa a gozar de benefícios, como a transferência de tecnologias, intercâmbios de estudo e acesso a recursos financeiros para desenvolver seu programa. Dois quóruns são habitualmente exigidos para que as novas regras entrem em vigor no mundo, e eles podem ou não se sobrepor: um número mínimo de países ratificantes e um número de nações que, juntas, respondam por uma porcentagem expressiva da produção do impacto ambiental que se quer diminuir. Por exemplo: 50 países e/ou um conjunto de países que respondam por 55% da produção de um gás prejudicial ao ambiente. Uma vez que o documento entra em vigor no mundo, as nações que não o assinaram podem sofrer restrições, como dificuldade para exportar produtos e para obter transferência de tecnologias e recursos do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e de bancos privados ou de outras organizações de atuação específica da ONU. A Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio foi criada em 1985, e conta com a ratificação de 196 países e territórios. Em 1987, foi assinado o Protocolo de Montreal, que objetiva erradicar gradualmente as substâncias nocivas à camada de ozônio, entre elas os clorofluorcarbonos (CFCs), os hidro clorofluorcarbonos (HCFCs) e o brometo de metila, usado como solvente. Um ambiente de expectativas, indefinição e principalmente de divergências e impasse antecedeu os preparativos para a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, agendada para ocorrer no período de 7 a 18 de dezembro de 2009, em Copenhague, na Dinamarca. Esperava-se da conferência, com representantes de 189 países, um acordo global para uma segunda etapa do Protocolo de Kyoto. A primeira, que é o protocolo propriamente dito, vigora somente até o ano de 2012 e, se nada for encaminhado para substituí-lo, a questão do aquecimento global fica num vácuo, sem um novo acordo legal em vigor. 14 15 Em 2011 e 2012 ocorreram, respectivamente, a Convenção de Johanesburgo na África do Sul e a Rio+20. Em 2014, ocorreu a Convenção do Clima em New York. Em 2015, ocorreu a Convenção do Clima de Paris (França). O Papa Francisco publicou a sua tão famosa Encíclica Laudato Si (Louvado Seja) sobre a questão ambiental e o Presidente Norte-Americano Barack Obama propôs leis para a preservação ambiental nos EUA e no Mundo. Apesar da importância do problema proposto, que é a necessidade de frear o aquecimento global, os encontros preparatórios foram tomados por impasses diplomáticos, calcados nos interesses econômicos envolvidos. Definir acordos globais em que há perdas econômicas e custos é historicamente um desafio que separa os países ricos dos pobres, sempre ameaçado pela possibilidade do fracasso. Produtos Transgênicos A oposição ao desenvolvimento de plantas transgênicas – vegetais modificados geneticamente em laboratório – cresce a partir de 1999, quando ocorrem protestos em diversos países europeus contra a introdução indiscriminada de seus subprodutos no mercado. Essas manifestações forçam as empresas envolvidas a adotar uma postura mais cautelosa. Elas estão colocando menos novidades no mercado, enquanto tentam convencer os opositores de que seus produtos são seguros. Além disso, estão evitando recorrer à introdução de novos genes na tentativa de melhorar os alimentos — em vez disso, procuram chegar ao mesmo fim apenas estudando com mais precisão os genes já existentes nas plantas e animais. A crítica aos transgênicos leva a uma diminuição de cerca de 3% da área cultivada com esse tipo de semente nos Estados Unidos em 1999. Ainda assim, quase metade dos vegetais que chegam à mesa dos americanos é transgênica; 50% do milho e da soja cultivados são geneticamente modificados. O arroz transgênico também é cultivado em larga escala no Hemisfério Norte. A mandioca, a batata e a banana transgênicas devem ser introduzidas, em breve, na América do Sul, na África e na Ásia. Em 2000, para conseguir uma postura mais favorável aos seus produtos, a empresa norte-americana Monsanto, a maior do mundo no setor, libera do pagamento de royalties o chamado arroz dourado, um grão modificado geneticamente. A grande vantagem desse arroz sobre outras variedades é ser rico em betacaroteno, o precursor da vitamina A. Como o arroz é alimento básico de 75% da população pobre mundial, a empresa considera estar contribuindo para o combate à desnutrição. Outro reflexo dessa discussão é a assinatura do Protocolo de Cartagena, por representantes de 130 países. O acordo é fechado em janeiro de 2000, durante reunião da ONU realizada em Montreal, Canadá. O texto do documento procura regulamentar, internacionalmente, a produção e o consumo de plantas transgênicas. Os países signatários se comprometem, entre outras coisas, a informar sempre que 15 UNIDADE Tendências da Administração no Século XXI um produto possa conter organismos geneticamente modificados. Essa rotulagem dá a possibilidade de opção ao comprador e ajuda a evitar que sementes alteradas sejam introduzidas sem nenhum controle na natureza. Em 2001, vários acontecimentos influenciam o movimento crescente na agricultura pela introdução de genes novos em plantas e em animais comestíveis — os novos pedaços de DNA são geralmente tirados de outras espécies e servem para provocar uma mudança que interessa aos plantadores, aos comerciantes e aos consumidores. Uma dessas experiências, anunciada em janeiro de 2001, pelo norte-americano Gerald Schatten, da Universidade Stanford, na Califórnia, é o surgimento de um macaco luminoso criado a partir da inclusão de um gene de uma alga fluorescente. É a primeira vez que se faz esse tipo de alteração em um primata. O objetivo desse experimento não é comercial, mas o de ampliar ainda mais o conhecimento das técnicas de engenharia genética usadas nos transgênicos. Espera-se que esses testes em macacos geneticamente modificados, que se tornam suscetíveis aos males, ajudem a entender melhor certas doenças. Neste mesmo ano, uma equipe australiana mostra os riscos da engenharia genética ao produzir, acidentalmente, um vírus mortal em laboratório. O micróbio, que é uma variante do vírus da varíola, dizimou os ratos usados na experiência. Desde o final da década de 1970, pesquisadores do mundo inteiro começaram a transferir genes de um organismo animal ou vegetal para outro, alterando suas características naturais. Com isso, tornaram possível criar porcos com menos gordura na carne, plantar feijão com mais proteína nos grãos ou soja resistente a herbicidas. O lançamento da soja transgênica no mercado aumenta a polêmica sobre a biotecnologia em 1999. Essa planta tem em suas células um gene que não faz parte do organismo de nenhum vegetal. Retirado de uma bactéria, a agrobacterium, ele controla a fabricação de uma proteína, conhecida pela sigla EPSPS, que bloqueia a ação dos herbicidas. Isso permite eliminar o mato sem risco de prejudicar a planta cultivada. Os críticos dos alimentos geneticamente alterados dizem que a ciência não tem controle total sobre o funcionamento dos genes.Para eles, as pesquisas devem ser aprofundadas antes que os novos produtos sejam liberados. No caso da soja modificada, existe o temor de que a substância EPSPS provoque efeitos inesperados no organismo dos consumidores, como alergias ou outro tipo de doença. Mesmo que o gene tenha sido preparado em laboratório para funcionar apenas nas folhas, e não nos grãos – a parte comestível da planta –, não há como garantir que ele se desenvolverá da forma prevista. Além da aplicação da biotecnologia pela indústria alimentícia, plantas e animais vêm sendo alterados para outras finalidades, como a produção de tecidos. Em 1999, um algodão que nasce nas cores verde, vermelho ou amarelo, conforme o interesse do produtor é produzido nos EUA. Outra linha de pesquisa avançada é a da modificação de organismos para a produção de medicamentos. Na Escócia, o 16 17 Instituto Roslin – o mesmo que fez a clonagem da ovelha Dolly – cria carneiros em cujo leite é gerado uma droga que estimula a coagulação do sangue. Chamada de Fator IX, ela deverá ser empregada no combate à hemofilia. Em junho de 2002, o Brasil deu os primeiros passos para a produção de transgênicos, com a aprovação do plantio pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente. Na Europa, o Parlamento Europeu cria medidas mais rigorosas, como a rotulagem compulsória para alimentos geneticamente modificados. Em setembro, o governo americano e a Pioneer anunciaram que a empresa teria eliminado da sua soja o gene P34, que causa as reações alérgicas decorrentes do alimento. Em outubro os japoneses teriam achado a enzima lacrimejante da cebola. A descoberta pode levar à produção de cebolas transgênicas, que não fazem chorar. O Governo Brasileiro deu passos importantes, em 2003, para controlar o plantio, a venda e o consumo de transgênicos. O primeiro foi um decreto determinando que os rótulos dos produtos devam informar que se trata de alimentos geneticamente modificados. As empresas resistiam à rotulagem, mas ela vem sendo adotada no mundo todo. O Governo também anunciou a criação de uma comissão interministerial que ficará encarregada de regulamentar toda atividade associada a esse tipo de alimento. Matriz Energética Brasileira A Matriz Energética é o conjunto dos recursos de energia e seu uso na sociedade. O balanço entre a produção e o consumo é feito pelo Ministério das Minas e Energia (MME) e consolidado no relatório Balanço Energético Nacional (BEN). A matriz divide-se em dois aspectos. Primeiro, os materiais usados (petróleo, água, carvão mineral, gás natural etc.) e as tecnologias de geração, como mecânica, térmica, nuclear, solar e eólica. Depois, a forma do consumo: eletricidade, combustível e queima industrial ou doméstica, entre outros. Cabe ao Governo Brasileiro planejar, organizar e definir políticas de uso dos combustíveis na matriz. As diretrizes para o setor são definidas pelo Comitê Nacional de Política Energética e implementadas pelo MME. A regulamentação, inclusive a definição de preços, políticas localizadas e fiscalização, são feitas pelas agências criadas nos anos 1990, após as privatizações, com destaque para a ANEEL (eletricidade), ANP (petróleo e derivados, gás natural e álcool) e ANA (água). O planejamento deve considerar a participação dos recursos renováveis para um crescimento sustentável e o impacto ambiental na saúde da população e na economia. Para elaborar a Matriz, é preciso usar uma padronização entre os diferentes materiais e processos. O padrão internacional é converter o potencial calórico de cada recurso de energia pelo seu equivalente ao de um barril de petróleo (BEP = Barril Equivalente de Petróleo). A unidade BEP, por sua vez, dá origem à unidade TEP (Tonelada Equivalente de Petróleo). 17 UNIDADE Tendências da Administração no Século XXI Questão Ambiental na Empresa No princípio, as organizações precisavam preocupar-se apenas com a eficiência dos sistemas produtivos. Até a década de 1960, essa foi a mentalidade predominante na prática da Administração, refletindo a noção de mercados e de recursos ilimitados. Em curto espaço de tempo, essa noção revelou-se equivocada, pois ficou evidente que o contexto de atuação das empresas tornava-se, a cada dia, mais complexo e que o processo decisório sofreria restrições cada vez mais severas. Um dos componentes importantes dessa reviravolta nos modos de pensar e de agir envolve o crescimento da consciência ecológica, na sociedade, no governo e nas próprias empresas, que passaram a incorporar essa orientação em suas estratégias. O impacto dessa revolução pode ser observado na mudança de ênfase da teoria da administração: passa-se a preocupação com novos conceitos, como stakeholders, ética e variável ecológica, entre outros. O conceito de Desenvolvimento Sustentável é a nova palavra de ordem desde que a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU) publicou seu relatório, em abril de 1987, sob a denominação de “Nosso Futuro Comum”, que teve sua inspiração na Primeira Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente realizada em 1972, em Estocolmo (Suécia). O relatório produzido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Organizações das Nações Unidas não é uma previsão de decadência, pobreza e dificuldades ambientais cada vez maiores num mundo ainda mais carente de recursos. Deve ser entendida como a possibilidade do surgimento de uma nova era de crescimento econômico, que se apoie em políticas que mantenham e expandam a base dos recursos naturais. Nesse documento, a esperança da Comissão está condicionada a uma ação política decisiva que deve ser empreendida já por todos os povos, para que se começa a administrar os recursos naturais no sentido de assegurar o progresso humano continuado e a sobrevivência da humanidade. A Economia Brasileira caracterizou-se historicamente por ciclos que enfatizam a exploração de determinados recursos naturais. As estratégias de desenvolvimento adotadas também assumem essa mesma característica ao privilegiar o crescimento econômico de curto prazo, mediante a modernização maciça e acelerada dos meios de produção. A industrialização, a implantação de grandes projetos de infraestrutura e a exploração de recursos minerais e agropecuários para fins de exploração fazem parte das estratégias que têm produzido importante impacto negativo no meio ambiente. Isso tudo, aliado ao acelerado processo de urbanização, causou profunda degradação do ambiente. Após a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e com a criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente, inaugurou-se nova fase 18 19 no Brasil, em que se manifesta uma vontade política no tratamento explícito da problemática ambiental enquanto suporte a vida e não apenas fonte de recursos. Mais tarde, com a criação do Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) para o período de 1975/79, em seu capítulo sobre desenvolvimento urbano, controle da poluição e preservação do meio ambiente, define uma prioridade para o controle da poluição industrial através de normas antipoluição e de uma política de localização industrial nas regiões densamente urbanizadas. Essa mudança de orientação governamental se consubstancia através da publicação de várias leis, entre as quais a Lei Federal nº 6.803 de 1980, a Lei de 6.938 de 1981 e o Decreto do Executivo nº 88.351, que resultam na criação de diversos agentes de controle ambiental, tanto em nível federal, estadual e municipal. Como consequência, atitudes e medidas racionais para proteger e conservar o meio ambiente tornou-se rapidamente condição sine qua non para a realização de bons negócios e para a própria sobrevivência das empresas no mercado. Neste quadro, firma-se o conceito de Excelência Ambiental, que avalia a indústria não só por seu desempenho produtivo-econômico, mas também por sua performance em relação ao meio ambiente. Esta evolução levou algumas organizações a integrar o controleambiental em sua gestão administrativa, projetando-o nas mais altas esferas de decisão. Olhar o futuro horizontalizar a análise e planejar corporativamente passou a ser o caminho natural. A proteção ambiental deslocou-se mais uma vez mais, deixando de ser uma função exclusiva de produção para tornar-se também uma função da administração. Em abril de 1987, o Relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento denominado “Nosso Futuro Comum” dissemina a expressão de “desenvolvimento ecologicamente sustentado”. O conceito de Desenvolvimento Sustentado tem três vertentes principais: • Crescimento Econômico; • Equidade Social; • Equilíbrio Ecológico. Esse conceito apresenta pontos básicos que devem considerar de maneira harmônica o crescimento econômico, maior percepção com os resultados sociais decorrentes e equilíbrio ecológico na utilização dos recursos naturais. Na visão empresarial prevalece a ideia de que a preocupação com a questão ambiental aumenta as despesas e o custo do processo produtivo. Porém, algumas empresas têm demonstrado que é possível proteger o meio ambiente e, com certa dose de criatividade, transformaram as restrições e as ameaças ambientais em oportunidades de negócios. Entre essas oportunidades podem ser citados: • A reciclagem de materiais que tem trazido uma grande economia de recursos para as empresas. 19 UNIDADE Tendências da Administração no Século XXI • O reaproveitamento dos resíduos internamente ou sua venda para outras empresas através de bolsas de resíduos ou de negociações bilaterais. • O desenvolvimento de novos processos produtivos com a utilização de tecnologias mais limpas ao ambiente se transforma em vantagens competitivas, possibilitando até mesmo a venda de patentes. • O desenvolvimento de novos produtos para um mercado cada vez maior de consumidores conscientizados com a questão ecológica. • A geração de materiais de grande valor comercial a partir de lodo tóxico, estações portáteis de tratamento. • As mini usinas para uso de pequenas empresas. • O aparecimento de um mercado de trabalho promissor ligado à variável ambiental que deverá envolver auditores ambientais, gerentes de meio ambiente, advogados ambientais, bem como o incremento de novas funções técnicas específicas. O marketing e a logística empresarial têm consagrado grandes esforços em estudos e aperfeiçoamentos, em universidades e em empresas modernas, à disciplina dos “canais de distribuição” e da “distribuição física” dos bens produzidos. Essa preocupação se justifica não somente pela oportunidade dos custos envolvidos, mas também pela possível diferenciação dos níveis de serviço oferecidos em mercados globalizados e extremamente competitivos da atualidade. Técnicas e filosofias empresariais modernas como, por exemplo: • Gerenciamento da Qualidade Total (TQM); • Just-in-Time (JIT) ou Bem-no-Tempo (BET); • Tecnologia da Informação (TI) em Logística; • Logística Reversa. A Logística Reversa é caracterizada pelos sistemas integrados de gerenciamento do fluxo dos produtos, depois de finalizada sua utilidade original e que retornam ao ciclo produtivo de alguma maneira. Distinguem-se dois subsistemas no âmbito da Logística Reversa: os canais reversos de reciclagem e os canais reversos de reuso. No contexto de desenvolvimento sustentável, a universidade exerce um papel fundamental na disseminação desse conceito e em seu amadurecimento, funcionando como uma incubadora, um laboratório, para o desenvolvimento de ideias, de projetos e de planos, formando profissionais capacitados a interagir com a nova demanda ambiental do mercado. Desse modo, a universidade deve estar sempre atenta às novas exigências do mercado de trabalho e às novas tendências. Recentemente, a preocupação com a destinação final de produtos sólidos gerou o conceito de Logística Reversa, o qual se constitui numa disciplina em vários cursos oferecidos à comunidade acadêmica. 20 21 Os Canais de Distribuição Reversos de Pós-Venda são constituídos por diferentes formas e possibilidades de retorno de uma parcela de produtos, com pouco ou nenhum uso, que fluem no sentido inverso, do consumidor ao varejista ou ao fabricante, do varejista ao fabricante, entre as empresas, motivados por problemas relacionados à qualidade em geral ou a processos comerciais entre empresas, retornando ao ciclo de negócios de alguma maneira. A Logística inclui o gerenciamento de fluxos de matérias-primas, desde a sua obtenção junto ao fornecedor até o seu armazenamento na empresa (Logística de Entrada). Por outro lado, envolve a movimentação do produto acabado que sai da produção até a sua entrega ao cliente, no respectivo mercado de consumo (Logística de Saída). De acordo com o Council of Logistic Management (USA), logística é o processo de planejamento, de implementação e controle do fluxo e de armazenamento de bens e serviços, com eficiência e economia, bem como as informações a ele relativas, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, satisfazendo as exigências dos clientes (Lima, 2003). Por Logística Reversa se entende como a área da Logística Empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio de canais de distribuição reversos, agregando-lhes valores de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros. De acordo com Lima (2003), o conceito de Logística Reversa pode ser sintetizado em “o final é o princípio”. Plano Ambiental O Profissional de Gestão deve criar um Plano Ambiental para a empresa, visando a um determinado produto ou linha de produtos. No caso de uma pequena empresa, ele pode abranger as atividades operacionais da empresa como um todo. A seguir, é apresentado um roteiro das informações e componentes que um Plano Ambiental deve conter: • Página de rosto; • Resumo executivo; • Índice; • Introdução; • Análise do ambiente organizacional; • Planejamento ambiental da organização; 21 UNIDADE Tendências da Administração no Século XXI • Logística reversa; • Implementação e controle do plano; • Resumo; • Apêndice: análise financeira, análise mercadológica e análise ambiental; • Referências bibliográficas. A Página de Rosto permite ao Plano Ambiental uma aparência profissional e facilita sua identificação. Ela deve conter as seguintes informações: • Nome da Organização, a qual será objeto do Plano Ambiental; • Período abrangido pelo Plano; • Nome (s) e cargo (s) de quem apresentou o Plano; • Data em que o Plano está sendo apresentado. O Resumo Executivo sintetiza os elementos do Plano Ambiental num máximo de 03 (três) páginas e fornece informações úteis para os executivos que desejam familiarizar-se com o Plano, mas não precisam conhecer seus detalhes. Nele, devem-se explicitar a oportunidade básica identificada e a estratégia global de aproveitamento dessa oportunidade. Também é útil inserir nesse ponto um resumo do orçamento financeiro envolvido. O Índice, que lista todas as seções do Plano Ambiental e o número das páginas em que elas se concentram, ajuda os profissionais de Gestão Ambiental a verificar se o plano está completo e bem organizado. Se o Plano Ambiental contiver muitas tabelas e figuras, é conveniente listá-las depois do Índice. A Introdução apresenta os antecedentes necessários ao entendimento do Plano. Para uma nova situação como, por exemplo, a consolidação do Plano Ambiental na empresa e das razões pelas quais se espera obter sucesso como o empreendimento. Ela também pode adiantar para o leitor sobre qual assunto o resto do Plano discorrerá. A Análise do Ambiente traz as condições relevantes ao provável sucesso do Plano. Ela descreve onde a organização se encontra no momento. Inclui uma “análise do setor”, isto é, uma seção que descreve o ambiente competitivo. A análise do setor abrange questõescomo quem são os concorrentes, qual a participação de mercado, forças e fraquezas de cada um e quais as chances de que novos concorrentes ingressem no mercado. O Planejamento Ambiental abrange os objetivos de Gestão Ambiental, o público-alvo, composto de marketing (especificando as estratégias escolhidas para o principal produto da Instituição: venda do conhecimento. Além da análise do produto, serão abordados outros compostos de marketing, tais como: preço, distribuição no mercado e promoção, e justifica por que cada um desses elementos foi mencionado. 22 23 A Logística Reversa entra no Plano como um diferencial da Instituição junto à comunidade externa, onde a empresa irá receber itens nocivos ao meio ambiente, após a sua vida útil, tais como: baterias de celular, baterias automotivas, pilhas, acumuladores em geral etc. A partir da recepção dos itens citados a Instituição se encarregará de devolver os resíduos aos respectivos fabricantes. A Implementação e o Controle especificam quem será responsável pelas campanhas, devendo fornecer também um cronograma. Normalmente, um Plano Ambiental abrange um ano, embora alguns cubram um período de 05 (cinco) anos. Nessa parte, é preciso também explicitar como será mensurado o sucesso ou o fracasso. Via de regra, isso é determinado pela comparação entre os resultados da implementação do Plano e os objetivos estratégicos da Organização. O Resumo do Plano Ambiental assemelha-se ao Resumo Executivo, mas pode ser um pouco mais extenso e detalhado. A Análise Financeira do Plano Ambiental pode figurar como apêndice. Ela deve conter uma previsão das receitas e a estimativa dos gastos envolvidos na implementação do plano, de forma que se possa ter uma estimativa de lucros resultantes. Os itens a serem incluídos na estimativa de gastos são: comercial, materiais, recursos humanos, financeiros, administrativos, tecnológicos, equipamentos etc. As Referências Bibliográficas servem para listar todas as fontes de informação utilizadas na compilação do Plano Ambiental. Considerações Finais Vimos o quanto as mudanças no ambiente de negócios afetam decisivamente a estratégia de a organização alcançar seus objetivos e metas de mercado, principalmente em se tratando de um mercado globalizado. A partir da década de 1970, a questão ambiental sob enfoque econômico se tornou cada vez mais criticada e analisada pelos atores do mundo globalizado: governos, empresas e entidades ligadas ao meio ambiente. A Gestão Ambiental, portanto, se constitui num processo irreversível estimulado pela crescente preocupação das organizações contemporâneas com o meio ambiente. A empresa, após realizar o Plano Ambiental, deve gerar as ações e os investimentos necessários, definir seu preço/custo, distribuí-lo, promovê-lo e implementá-lo. Portanto, um Plano Ambiental deve ser muito bom e deve ter uma excelente estrutura técnica. A etapa final do Processo de Gestão Ambiental é o controle, que é a maneira pela qual se identificam falhas na implementação ou na estratégia de gestão. 23 UNIDADE Tendências da Administração no Século XXI Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Site Institucional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis http://www.ibama.gov.br/ Site Institucional da Organização das Nações Unidas (ONU) na RIO + 20l http://www.onu.org.br/rio20/documentos/ Livros Nosso Futuro Comum COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1991. Gestão Ambiental – Responsabilidade Social e Sustentabilidade DIAS, Reinaldo. São Paulo: Atlas, 2011. 24 25 Referências ARRUDA, M. C. C. de; WHITAKER, M. do C.; RAMOS, J. M. R. Fundamentos de ética empresarial e econômica. São Paulo: Atlas, 2001. BARBIERI, J. C. Gestão Ambiental Empresarial. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. CHOWDHURY, S e Outros. Administração no século XX - O Estilo de Administrar Hoje e no Futuro. São Paulo, Prentice Hall, 2006. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1991. DONAIRE, D. Gestão Ambiental na Empresa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999. LEITE, P. R. Logística Reversa. São Paulo: Prentice Hall, 2003. LIMA, J. S. L. Proposta Metodológica para a Implementação da Reengenharia de Processos em Empresas dos Segmentos Químico e Petroquímico Brasileiro. Dissertação de Mestrado defendida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 26 de agosto de 1996. LIMA, J. S. L. Tecnologia, Novas Formas de Gerenciamento e Desemprego Industrial. Tese de Doutorado defendida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 14 de maio de 2003. ROHMANN, C. O livro das idéias: pensadores, teorias e conceitos que formam nossa visão de mundo. Tradução de Jussara Simões. Rio de Janeiro: Campus, 2000. SÁNCHEZ VÁZQUEZ, A. Ética. Tradução de João Dell´Anna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. SLACK, N. & Outros. Vantagem Competitiva em Manufatura. São Paulo: Atlas, 1993. 25