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QUESTÕES LEGAIS, ECONÔMICAS E AMBIENTAIS EM PÓS-CONSUMO E PÓS-VENDA Professor: Me. Paulo Pardo Diretoria de Design Educacional Debora Leite Diretoria de Pós-graduação e Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Pós-graduação e Extensão Fellipe de Assis Zaremba Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Projeto Gráfico Thayla Guimarães Designer Educacional Rossana Costa Giani Editoração Ana Eliza Martins Ilustração Bruno Pinhata Qualidade Textual Produção de Materiais DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site shutterstock.com C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; PARDO, Paulo. Logística Reversa. Paulo Pardo. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 47 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Logística. 2. Reversa. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 658 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 04 sumário 06| IMPLICAÇÕES DA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL À LOGÍSTICA REVERSA 13| CENÁRIO REGULATÓRIO PARA QUESTÕES AMBIENTAIS 20| LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL RELACIONADA AOS ASPECTOS AMBIENTAIS 27| A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E O IMPACTO NA LOGÍSTICA REVERSA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Considerar os impactos da legislação da Logística Reversa nas estratégias empresariais. • Apresentar o cenário relacionado às diversas legislações que impactam no planejamento das ações da logística reversa. • Verificar a legislação que países desenvolvidos aplicam em relação às ações da logística reversa. • Avaliar especificamente a legislação ambiental aplicável às organizações que implicam em decisões da logística reversa. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Implicações da legislação aplicável à logística reversa • Cenário regulatório para questões ambientais • Legislação internacional relacionada aos aspectos ambientais • A legislação ambiental e o impacto na logística reversa QUESTÕES LEGAIS, ECONÔMICAS E AMBIENTAIS EM PÓS-CONSUMO E PÓS-VENDA INTRODUÇÃO introdução Prezado(a) aluno(a), Os movimentos sociais e ambientais provocam imperativos da Logística Reversa que, por sua vez, tiveram desdobramentos com a imposição de legis- lações específicas relacionadas ao tratamento dos impactos provocados pelas atividades empresariais e seus produtos. Um gestor não pode alegar ignorância quanto aos ditames legais de sua atividade, ao mesmo tempo em que as sanções previstas nesta legislação con- cernente aos impactos ambientais são significativas, podendo comprometer seriamente a estabilidade financeira da empresa. Nesta Unidade, vamos considerar os seguintes tópicos: na Aula 1 aborda- remos as implicações relacionadas à legislação pertinente à Logística Reversa. Você perceberá que o arcabouço legal é bastante extenso, o que exige conhe- cimento e ação por parte dos gestores envolvidos no processo. Na Aula 2 veremos o cenário regulatório para as questões ambientais que tem reflexos imediatos sobre a forma como as empresas tratam seus produtos e insumos dos processos de produção. Na Aula 3 trataremos da legislação internacional relacionada aos aspectos am- bientais, onde nos depararemos com diversos instrumentos legais em todos os países desenvolvidos visando disciplinar o tratamento aos materiais descartados. Finalmente, na Aula 4, enfocaremos mais de perto a legislação ambiental da logística reversa, especialmente a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Atualize-se sempre sobre esses temas, pois a qualquer momento, em esferas diferentes do poder, pode ser editada uma norma que afete diretamente sua atividade, podendo inclusive inviabilizar seu empreendimento. A atenção a sites, publicações e reportagens sobre esses assuntos deve fazer parte de sua agenda como gestor. Pesquise também o inteiro teor da legislação que mencionaremos neste estudo. A legislação é bastante extensa e, portanto, não é possível reproduzi-la na íntegra. Mas tomar conhecimento desse arcabouço legal é muito importan- te. Bons estudos! Pós-Universo 6 Em um sistema capitalista como o que vivemos, é natural que os empresários desejem liberdade total para suas atividades, na filosofia que o mercado se autorregula, ou seja, se deixado livre, o mercado encontra soluções para seus próprios desequilíbrios. Essa premissa, infelizmente, tem se mostrado falha quando o assunto é o impacto das atividades empresariais sobre o meio ambiente. É só observarmos a nossa volta que comprovaremos os imensos desequilíbrios entre o fluxo direto de produtos e o retorno destes às cadeias logísticas, ocasionando o acúmulo indesejado e inapro- priado de sobras e descartes. Muito tempo já se passou desde que a atividade industrial tornou-se o motor da economia mundial e o que assistimos é a busca por cada vez mais lucros sem uma contrapartida em relação aos cuidados com o meio ambiente. IMPLICAÇÕES DA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL À LOGÍSTICA REVERSA Pós-Universo 7 Em razão desses desequilíbrios, a sociedade – representada por setores como os ambientalistas, a academia, entre outros – se mobilizou para que o poder público, que detém a legitimidade como representante do povo, interviesse nas relações dos agentes de mercado produtores e consumidores visando ao bem maior que é a sustentabilidade ambiental. Na maioria dos países democráticos do mundo, a legislação ambiental passou a regulamentar as relações dos agentes de mercado, estimulando ações de trata- mento de descarte e destinação de produtos, ao mesmo tempo tomando ação coercitiva contra aqueles que não se adequarem ao que são consideradas boas práticas socioambientais. Um dos grandes avanços da legislação em âmbito mundial – e não é diferente no Brasil – é a imposição de pagamento do ônus dos impactos ambientais para seus causadores, o que ficou conhecido como princípio do poluidor-pagador. Esta ação parece mais justa do que impor à inteira sociedade esses ônus, quando o benefício pela atividade produtiva na forma de lucros fica restrito a poucos. Assim, quem tem o bônus do lucro e do usufruto do bem ou serviço – inclusive o consumidor – deve também arcar com o ônus ambiental provocado por estes. Quando o governo intervém nas atividades produtivas, algumas consequências lógicas são óbvias, entre elas estão as ações das empresas para evitar punições. Assim, projetos de tratamento são colocados em prática para tratar os materiais ou grupos de produtos de pós-consumo. Geralmente, nesses casos, criam-se oportunidades de negócio para agentes prestadores de serviço que, em parceria com indústrias e dis- tribuidores, passam a fazer parte da cadeia reversa e assumem tarefas que não são economicamente ou administrativamente viáveis para os outros participantes. O procedimento mais indicado para as empresas é anteciparem-se a eventuais le- gislações que porventura estejam em estudo pelos órgãos governamentais. Frisando o impacto da legislação sobre as atividades empresariais, Leite (2009, p. 138) comenta que: “ A revalorização legal dos bens de pós-consumo, operacionalizada pela logís- tica reversa, é entendida como o equacionamento das condições dos canais reversos, de modo que se garanta o retorno ao ciclo produtivo ou de negócios dos bens em fim de vida e obedecendo às leis vigentes. Empresasfabrican- tes de produtos que, de alguma maneira, impactem negativamente o meio ambiente serão certamente afetadas por legislações que de algum modo restrinjam suas operações, contabilizando novos custos de origem ecológi- ca aos seus produtos, em cumprimento às novas legislações. Pós-Universo 8 Considerando o ambiente altamente mutável em que as organizações estão inseri- das e as crescentes exigências de correto tratamento das questões ambientais por parte das empresas feitas pela sociedade e pelo mercado em particular, é muito con- veniente que as empresas engajem-se em ações em cumprimento de legislações em vigor ou que estejam em processo de aprovação. A atual legislação ambiental brasileira é considerada uma das mais modernas do mundo. Essa afirmação não é exagero, principalmente se compararmos nossa legislação com a de países como a China, por exemplo, que apesar de ser o motor do mundo em relação à produção, é também uma das principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa na atmosfera e de poluição do ar e da água naquela região do mundo. Guiyu – do arroz ao lixo eletrônico A cidade litorânea de Guiyu, na China, processa a maior parte do lixo eletrô- nico do mundo. Todo ano, 80% dos 150 mil habitantes da cidade processam a maior parte dos 1,1 milhão de toneladas anuais de lixo eletrônico produ- zido pela China e dos cerca de 20 a 50 milhões de toneladas do resto do mundo, usando como ferramenta as mãos, durante 24 horas por dia. Os fo- gareiros das casas são usados para fundir as carcaças de computadores de PVC, que voltam ao Ocidente na forma de flores de plástico, ou para des- montar placas-mãe em busca de ouro. São 700 substâncias tóxicas presentes nestes materiais, que já afetaram a saúde das crianças, que já tem chumbo no sangue, causando danos ao sistema nervoso e reprodutor. Os salários são de US$2 a US$3 por hora, o que atrai agricultores (que ganham muito menos nos campos) para esta atividade. Não é possível encontrar água potável a menos de 50 quilômetros do entorno da cidade. Em 1994 a convenção de Basiléia proibiu a exportação de resíduos perigosos de países ricos para países pobres, mas é possível ver navios oriundos da Europa e outras partes do mundo alimentando esse mercado altamente nocivo para o meio ambiente, com a oposição complacente do governo chinês. Fonte: adaptado de AGÊNCIA EFE (2007, on-line). fatos e dados Pós-Universo 9 A (boa) história do Brasil em relação à legislação ambiental começa nas últimas décadas com a promulgação da Constituição Federal em 1988, que já prevê um tra- tamento abrangente às questões ambientais. Por exemplo, no Capítulo I, que trata dos direitos e deveres individuais e coletivos, o Art. 5 Inciso LXXIII reza que: “ Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. A Constituição da República Federativa do Brasil Nossa atual constituição foi promulgada em 05 de outubro de 1988 e é a sétima de história do país. Esse documento tem uma importância simbólica muito grande: foi promulgada logo após o início do processo de redemocra- tização do país. Entre 1964 a 1985 vivemos o regime militar, onde as garantias e direitos individuais eram muito mais restritos. A Constituição rege o orde- namento jurídico do país. Algumas normas do documento não podem ser alteradas por emendas constitucionais e são chamadas de cláusulas pétreas, entre elas o sistema federativo do Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes; e os direitos e as garantias individuais. Fonte: o autor. saiba mais No Art. 23, determina-se que é competência comum da União, Estados, Municípios e Distrito Federal, entre outras obrigações, o que está contido nos incisos VI e VII que rezam: “ VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; Complementando, no Art. 24, temos que: “ Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrente- mente sobre: [...] Pós-Universo 10 VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; [...] VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Quando trata dos Princípios Gerais da Atividade Econômica, o Artigo 170 expressa que “ A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação. Veja que o legislador não deixou simplesmente ao mercado a autonomia de defen- der o meio ambiente, até mesmo porque se essa prerrogativa fosse estabelecida, deveríamos contar com a boa vontade pura e simples do empresariado em promo- ver ações de conservação ambiental. Considerando que nem todos têm essa elevada índole, já se previu que a atividade econômica deve defender o meio ambiente e tratar os impactos ambientais. Principalmente no Capítulo VI da CF, no Título “Do meio ambiente”, temos no Artigo 225 o princípio norteador de toda a legislação ambiental brasileira, quando expressa que: “ Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impon- do-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Perceba que conseguimos extrair deste artigo a filosofia expressa no próprio conceito de sustentabilidade contida no Relatório Nosso Futuro Comum (também conhecido como relatório Brundtland) que, em 1987, formalizou o que se aceitaria mais comu- mente como “desenvolvimento sustentável”. Incentivo fortemente a que você leia ao menos o inteiro teor deste Capítulo VI da Constituição Federal. Pós-Universo 11 Que implicações isso traz no dia a dia das organizações e da sociedade em geral? Sem dúvida, não é mais possível pensar unicamente no retorno financeiro, no caso das empresas. É evidente que o retorno para o acionista continuará sendo a principal função da organização, mas esse retorno não é admissível às custas de um impacto irreversível sobre o meio ambiente. Para os consumidores, a responsabilidade sobre os produtos adquiridos é am- pliada. Todos nós deveríamos encarar essa responsabilidade já desde a aquisição do produto, em um princípio do consumo responsável, ou seja, adquirir aquilo que de fato precisamos. Em seguida, pensarmos que nós somos responsável pela correta destinação dos resíduos por nós mesmos produzidos. Assim, devemos aceitar a nossa parte como membros da cadeia reversa, contribuindo com os programas de coleta seletiva e devolução de materiais que não nos servem mais. Na busca pela sustentabilidade ambiental, cultural, social e econômica, vários encontros internacionais foram realizados e, desses, vários documen- tos foram gerados, com propostas e metas a serem cumpridos pelos países que os assinaram. O Brasil é signatário ao menos 20 tratados provenientes de convenções internacionais. Alguns deles são listados a seguir: Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio Convenção de Roterdã sobre o Procedimento de Consentimento Prévio Informado para o Comércio Internacional de Certas Substâncias Químicas e Agrotóxicos Perigosos Convenção sobre Diversidade Biológica Protocolo de Quioto à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças ClimáticasConvenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas Fonte: adaptado de MPF (on-line). fatos e dados Após a promulgação da Constituição Federal, houve a aprovação de várias outras leis, com objetivos específicos, mas todas dentro do escopo da preservação e sus- tentabilidade ambiental. Pós-Universo 12 Por exemplo, a Lei 9605, de 12 de fevereiro de 1998, que tipifica os crimes am- bientais, lei que ficou conhecida como Lei de Crimes Ambientais ou Lei da Natureza. Esta lei é um marco, pois a partir de então pode-se imputar penas aos infratores, que vão desde multas até a prisão. Recomendo que você acesse o Saiba Mais, onde apresentei um link com o resumo das principais leis ambientais em vigência no Brasil. AS LEIS AMBIENTAIS NO BRASIL O arcabouço legal ambiental brasileiro é extenso, mas podemos, para facili- tar, utilizamo-nos de um resumo oferecido pelo professor Paulo Affonso Leme Machado, da UNESP de Rio Claro (SP), autor do livro “Direito Ambiental Brasileiro”. Você encontrará a descrição das leis em diversos sites, como no link: <http:// www.portaldomeioambiente.org.br/noticias/politica/537-as-17-leis-ambien- tais-mais-importantes>, porém fique de olho, algumas leis listadas por este professor já foram revogadas e substituídas por outras. Fonte: o autor. saiba mais Ainda nesta Unidade, veremos os impactos de uma lei específica, que instituiu no Brasil a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a PNRS. De qualquer forma, é importante que você saiba que a legislação visa regulamen- tar uma relação complexa do ser humano com o meio ambiente, especialmente no que concerne ao modo de exploração de recursos naturais e da destinação dos re- síduos produzidos pelas próprias pessoas. Pós-Universo 13 Avaliando o teor da legislação em vigor e das sempre presentes discussões sobre o tema regulamentação, pode-se concluir que o acompanhamento do estado e da so- ciedade tenderá a se intensificar ainda mais, à medida que o modo de consumo e de produção consolida-se como o do descartável. O modo de vida “fast” (tudo rápido) e a evolução tecnológica com ciclos de vida cada vez menores dos produtos, leva à produção crescente de materiais que em um curto período de tempo (às vezes poucos minutos) são jogados fora. CENÁRIO REGULATÓRIO PARA QUESTÕES AMBIENTAIS Pós-Universo 14 Leite (2009) salienta que a tendência é que a responsabilidade seja atribuída aos fabricantes, direta ou indiretamente. A legislação volta-se a regulamentar a reciclagem e reaproveitamento dos materiais, proibições de destinação indevidas dos inservíveis, cuidados com embalagens e estruturação de canais reversos. Essa regulamentação vem ao encontro do princípio de Extensão de Responsabilidade ao Produto ou EPR (Extended Product Responsability). A respeito do EPR, Gonçalves-Dias (2006, p. 466), comenta: “ A tendência de estender a responsabilidade do produtor também para as fases finais dos produtos é uma das mais significativas tendências norma- tivas atualmente encontradas no cenário europeu e internacional. A União Europeia decidiu aplicar o princípio do poluidor pagador, a fim de diminuir a quantidade de resíduos que as empresas produtores indiretamente criam (KAZAKIAN, 2005; WILLIAMSON, 2000). Desde 1992, as empresas responsáveis pela comercialização de embalagens domésticas devem pagar um imposto cujo valor é fixado conforme o peso, o volume, o material e a reciclagem da embalagem (EUROPEAN COMMUNITIES COUNCIL, 1994). O produto dessa taxa serve ao financiamento da coleta seletiva dos resíduos de embalagens e à sua valorização. Trata-se de um processo que leva os produtores a se en- volverem no fim de vida ecológico de seus produtos. Esta diretiva evidencia a tendência de procurar atribuir a responsabilidade aos produtores e demais integrantes da cadeia produtiva em implementar a gestão da logística reversa, estruturando e organizando os canais reversos de seus produtos (WILLIAMSON, 2000; WILT; KINCAID, 1997 apud GONÇALVES-DIAS, 2006, p. 466). Sendo este o caso, vejamos algumas tendências de legislações aplicadas aos re- síduos sólidos que são encontradas na literatura internacional sobre o assunto, conforme Quadro 1: Pós-Universo 15 Quadro 1 - Legislações aplicáveis aos resíduos sólidos Tipo de Legislação: Coleta e disposição final Tipo Detalhamento Proibições de aterros sani- tários e incineradores Visa impedir a instalação de novos aterros sanitários e incineradores de lixo, partindo do pressuposto que a sociedade não deseja ter nas vizinhanças esse tipo de instalações, por conta de risco de proliferação de doenças, mau cheiro, roedores e outros inconvenientes. Implantação de coleta seletiva Vista como forma de reduzir quantidades de materiais destinados aos aterros e incineradores, tornando obrigatória a coleta seletiva domiciliar e empresa- rial. Cria condições para o estabelecimento de novas atividades empresariais nas comunidades e grande quantidade de parcerias entre empresas. Responsabilização do fa- bricante sobre o canal reverso dos produtos (producttakeback) Normalmente dirigida a produtos duráveis e embalagens. Tem como objetivo fomentar ações na cadeia produtiva desses bens, de modo a permitir o retorno após sua vida útil. Permite progressos importantes no reverse supplychain (cadeia de suprimentos reversa). Proibição de disposição em aterros sanitários de certos produtos Visa coibir a destinação para aterros sanitários de produtos que podem ser danosos, por exemplo, pilhas e baterias, óleos lubrificantes, eletrodomésticos, entre outros. Depósito de valor anteci- pado por embalagem Regulamenta o pagamento por disposição de embalagem ou depósito ante- cipado (uma espécie de caução) por embalagem até sua devolução. Índices mínimos de reciclagem Exigência para certos produtos de quantidade determinada de constituintes reciclados. Tipo de Legislação: Marketing Tipo Detalhamento Incentivo ao conteúdo de reciclados nos produtos Geralmente utilizadas pelo governo em suas compras junto aos fornecedores, como forma de incentivo ao uso de reciclados e para dar exemplo à sociedade. Proibição de venda ou uso de produtos Quando há impossibilidade de controle e melhoria no equilíbrio dos fluxos reverso e direto de certos produtos, o governo promulga lei que impede sua comercialização ou seu uso. Proibição de embalagens descartáveis Governo pode exigir o uso de embalagens retornáveis para evitar excessos de pós-consumo. Rótulos ambientais Normatiza os diversos tipos de rótulos de produtos, como “biodegradáveis”, “amigável”, “reciclável”, entre outros. Incentivos fiscais Trata de isenções com relação à utilização de produtos de pós-consumo, in- centivo à produção por meio de tributação diferenciada para produtos com conteúdo de reciclados, eliminação de incentivos tributários a certas ma- térias-primas, eliminação de subsídios para produção de determinadas matérias-primas, entre outros. Redução na fonte Incentivos de diversas naturezas para empresas que reduzem o consumo de recursos não renováveis ou que modificam produtos para condições menos impactantes ao meio ambiente. Fonte: adaptado de Leite (2009). Pós-Universo 16 No Brasil, o setor de publicidade e propaganda é auto regulado pelo CONAR – Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária. Em sua opinião, esta regulação é efetiva, inibindo publicidades enganosas? Fonte: o autor. reflita Sobre legislação especificamente aplicada à logística reversa, há no mundo todo – e no Brasil em particular – uma discussão muito intensa sobre a questão tributária aplicada aos materiais da logística reversa. Uma das queixas dos empresários é que, ao reinserir materiais no canal reverso – mesmo que a origem tenha sido o canal direto da empresa – novamente há incidência de impostos, constituindo, na visão deles, uma bitributação. Esses tributos desincenti- vam muitos empresários a reaproveitar esses materiais, pois em várioscasos os materiais reabsorvidos no processo precisam passar por beneficiamentos prévios antes de ad- quirir condições para se equiparar com a matéria-prima original, onerando o processo. Conforme Martins e Silva (2006, p. 2), “ Um dos fatores que diminuem o interesse dos empresários em buscar o rea- proveitamento de materiais descartados no seu processo de fabricação é a múltipla tributação. Qualquer objeto que hoje se encontre descartado já sofreu diversas tributações ao longo do fluxo direto. Quando retornado à in- dústria para reaproveitamento, através dos canais reversos, incidem novos impostos federais, estaduais e até municipais, como o imposto sobre produtos industrializados, o imposto sobre circulação de mercadorias e prestação de serviços e o imposto sobre serviços, desde a coleta até as mãos do reciclador. Esses impostos que incidem em cascata desencorajam o bom funcionamen- to do ciclo de retorno de materiais às indústrias. O setor empresarial brasileiro movimentou-se fortemente nos últimos anos, con- tratando consultorias especializadas de modo a produzir estudos relacionados à incidência tributária na cadeia da logística reversa, bem como para estimar os impac- tos de uma desoneração sobre o setor. O próprio governo reconhece a necessidade de se alterar a forma de cobrança dos tributos sobre a cadeia reversa, o que poderá contribuir para que haja um alinhamento de esforços neste sentido. Pós-Universo 17 Em uma proposta preliminar enviada ao governo para análise, a Confederação Nacional de Indústria, em 2014, produziu um documento em que detalha após exausti- vos estudos, esta incidência tributária bem como as hipóteses de desoneração da cadeia. Só para se ter ideia do volume de impostos atualmente incidentes sobre a cadeia da logística reversa, em suas diversas etapas e considerando que a maior parte das empresas trabalham sob o regime tributário do lucro real e lucro presumido, temos um quadro demonstrado na Figura 1 a seguir: Tipos de empresas normalmente encontradas nas etapas das cadeias de logistica reversa e os respectivos tributos e alíquotas incidentes sobre as atividades Tipo de empresas/ atividade da LR (1) Faturamento até R$ 3,6 milhões. Lei Complementar 123/2006 (2) As empresas optantes do SIMPLES não podem aproveitar créditos de PIS/COFINS nem gerar e aproveitar créditos tributários de ICMS. (3) Empresas de Lucro Presumido não podem aproveitar créditos de PIS-COFINS. Esta opção está reservada somente para empresas do lucro real. (4) No caso de transporte municipal. (5) Na elaboração das estimativas foi utilizada uma média simples das alíquotas modais de ICMS adotadas pelos estados (usualmente 17% ou 18%) (6) No caso de transporte intermunicipal e interestadual. Sem fins lucrativos Cooperativas SIMPLES (\1)(\2) lucro Presumido (\3) lucro Real Serviços de coleta, triagem e transporte Gestora PIS/COFINS INSS patronal PIS/COFINS (3,65%) INSS patronal (20%) PIS-COFINS (9,25%) ICMS-comercializ. (17,5%) ICMS-transp. (12%) INSS patronal (20%) PIS-COFINS (9,25%) ICMS-comercializ. (17,5%) IPI (TIPI) INSS patronal (20%) Tributação unificada Tributação unificada Tributação unificada IPI (TIPI) ICMS-comercializ. (17,5%) PIS-COFINS (3,65%) ISS (5%)(\4) ICMS-comercializ. (17,5%)(\5) ICMS-transp. (12%)(\6) INSS patronal (20%) PIS-COFINS (3,65%) ISS (5%) PIS-COFINS (3,65%) INSS patronal (20%) INSS patronal (20%) Reciclagem / descontaminação / beneficiamento Serviço de descontaminação / beneficiamento Indústria de reciclagem / beneficiamento Figura 1: Tributos e alíquotas na Logística Reversa, por tipo de empresa e atividade desenvolvida Fonte: CNI (2014, p. 59). Pós-Universo 18 Neste trabalho da CNI (2014), é salientado que “ a Lei nº 11.196/2005 prevê a suspensão da cobrança de PIS/COFINS nas aqui- sições de resíduos e de desperdícios de plástico, papel ou cartão, vidro e metais por empresas optantes pelo lucro real – ou seja, aquelas sujeitas ao regime de incidência não cumulativa. Não há referência na lei a outros tipos de resíduos, como óleo lubrificante usado ou contaminado, pneus inserví- veis, lâmpadas, eletroeletrônicos etc. (CNI, 2014, p. 60). Muitas pessoas queixam-se da carga tributária no Brasil, pois têm a sensa- ção de que trabalham muito para somente para pagar impostos. Alguns levantamentos dão conta que no país um contribuinte trabalha cerca de 150 dias para pagar impostos. Outro dado importante é o número de tri- butos (impostos, taxas e contribuições) que é imputado aos brasileiros. Um levantamento realizado pelo Portal Tributário (<www.portaltributario.com. br>) dá conta de que existe hoje no país o espantoso número de 92 tribu- tos incidindo em algum momento na vida do brasileiro. Assustador, não concorda? Fonte: adaptado de Portal Tributário (2014, on-line). fatos e dados Esta incidência de impostos em cascata, na prática produz algumas situações bi- zarras do ponto de vista de viabilidade econômica: as matérias-primas obtidas pelo fluxo reverso podem chegar a custar mais do que matérias-primas virgens, o que é um absurdo sob todos os aspectos. Certos setores, como a indústria de lâmpadas, por exemplo, fizeram estudos espe- cíficos para seu segmento e chegaram a conclusões igualmente preocupantes. Estas conclusões apontam na direção da necessidade de acompanhamento da entrada de produtos importados no país, para garantir que haja uma equiparação relacionada aos custos com a logística reversa por parte de produtos nacionais e importados. A realidade Pós-Universo 19 do setor é que os processos de logística reversa são deficitários em relação ao que é ar- recadado com a venda de materiais reaproveitados. Para que se equacione este déficit, o setor propõe o estabelecimento de um ECOVALOR embutido no custo do produto e que financiaria o controle das práticas ambientais, baseado no modelo europeu. Além disso, este valor também seria utilizado para financiar equipamentos necessários para o tratamento das lâmpadas recolhidas. Os setores econômicos no Brasil se organizam para conseguir avanços que possam beneficiar a cadeia logística reversa, desonerando tributos, contri- buindo para aumentar a viabilidade na aplicação de materiais oriundos da reutilização, remanufatura ou reciclagem. Algumas propostas vinculam-se à temática da tributação única, onde os materiais são tributados no fornecimento e não no retorno. É uma difícil equação a ser fechada, pois quando um produto retorna à cadeia reversa, pode ser destinado como matéria-prima para outra empresa. Nesse caso, o tratamento deveria ser diferenciado em relação à outra empresa que retorna o material para os seus próprios processos. A discussão promete ainda muitos debates acalorados, mas a posição das empresas é compreensível. Sugiro que você acompanhe mais sobre essas propostas em materiais pro- duzidos pela CNI e pela ABILUMI, nos endereços: <http://www.senaimt.com.br/site/arquivos/1635_estudo_desoneracao_ cadeia_logistica_reversa.pdf> e <http://www.desenvolvimento.gov.br/ arquivos/dwnl_1377806696.pdf>. saiba mais É preciso acompanhar com muita atenção essa discussão, pois um avanço nesta legislação que desonere os produtos retornados de impostos pode ser um ponto de alavancagem para aumentar grandemente os empreendimentos relacionados à logística reversa. Pós-Universo 20 As grandes corporações e até mesmo companhias menores, mas que são bem estru- turadas, além de buscar conquistar e manter mercados onde possuem suas matrizes, também expandem essa guerra para além de suas fronteias, em um processo de glo- balização já bastante estabelecido. Evidentemente que os governos dos países onde essa competição se inten- sificou desejam que suas empresas conquistem mercados estrangeiros, mas, ao mesmo tempo, impõem medidas protecionistas para suas próprias empresas e mercados. Os governos buscam, mediante diversas medidas, conseguir preservar LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL RELACIONADA AOSASPECTOS AMBIENTAIS Pós-Universo 21 empregos em seus respectivos países. Entre essas medidas está a imposição de barreiras aos produtos estrangeiros que não atendam normas de qualidade tanto de processos como de atendimento a requisitos de responsabilidade social, am- biental, trabalhista e de riscos. O Reino Unido é um grande exemplo de um mercado muito bem protegido contra a entrada de produtos concorrentes, e somente aqueles que atendam sua rígida legislação têm espaço para comercialização. É digno de nota que o Reino Unido tem sido pioneiro no estabelecimento de normas gerenciais, pela British Standard Institution (BSI). Como exemplo, temos a norma BS 5750 sobre gestão da qualidade, que provocou um movimento em vários outros países no sentido de também esta- belecerem suas próprias normas neste campo. O fato é que essa imposição de barreiras diversas pelos países prejudica o fluxo de produtos e divisas entre os mesmos, penalizando especialmente os países mais pobres. O comércio entre países é uma condição importante para o desenvolvimento e algumas nações, visando promover essas transações, associam-se a outros países na forma de blocos econômicos, como é o caso da União Europeia, Mercosul e o NAFTA. Porém, embora promovam o comércio entre os países participantes do bloco, para aqueles que não fazem parte dos tratados, as barreiras persistem. Em uma análise simples, você pode concluir quão difícil é para uma empresa que quer exportar vencer barreiras comerciais de naturezas diversas, cada país impondo seu extenso conjunto de regras. Por outro lado, precisamos entender que os países precisam ter garantias mínimas de que os produtos comercializados em seus territó- rios atendam requisitos de qualidade, de responsabilidade social e ambiental, entre outros. Legislações sérias nesse sentido, barrando a entrada de produtos nocivos, produzidos por indústrias poluidoras ou manufaturados sob condições desumanas, inibem essas práticas deletérias por parte de nações cujo único objetivo é a geração de lucro. Então, como vencer esses desafios? Principalmente capitaneadas pela OMC (Organização Mundial do Comércio), bus- cou-se estabelecer padrões internacionais que possam servir de referência aos países quanto a como atender requisitos em diferentes mercados. Na prática, um produto que não atenda a uma norma internacional não tem sua comercialização proibida, mas é praticamente impossível sua colocação no mercado internacional. Pós-Universo 22 A adoção dessas normas facilitou em muito a vida das empresas, pois se passa a ter um referencial de produção, de práticas organizacionais que, se atendidas, podem proporcionar a entrada de seus produtos em mercados com altos níveis de proteção legal. As normas reguladoras, em boa parte, se atendidas, geram uma certificação que tem validade nacional e internacional, reconhecida por mecanismos certificadores aceitos internacionalmente. Isso significa dizer que as normas reguladoras tornam- -se um instrumento gerencial e estratégico para as empresas que querem expandir e manter seus mercados. Mas quais certificações a empresa pode buscar e quais são os organismos envolvidos? Ao contrário do que muitos pensam, existem vários organismos certificadores, dependendo do campo que consideramos. Por exemplo, temos para a área elétrica e eletrônica a IEC (International Electrotechnical Commission), para a área de tele- comunicação temos a ITU (International Telecommunication Union) e, sem dúvida, a mais conhecida, a ISO (International Organization for Standardization). Embora todos esses organismos tenham grande relevância, nos concentrare- mos especialmente, neste momento, na ISO. Essa entidade foi criada em 1947 com o objetivo de “ Desenvolver a normalização e atividades relacionadas para facilitar as trocas de bens e serviços no mercado internacional e a cooperação entre países nas esferas científicas, tecnológicas e produtivas. Historicamente, a ISO esteve di- recionada ao desenvolvimento de normas técnicas sobre produtos, processos produtivos e métodos de testes e ensaios. Foi somente no final da década de 1970 que começou a produzir as primeiras normas de gestão, as conhecidas normas da série ISO 9000, todas relacionadas com a implementação e a ope- ração de sistemas de gestão da qualidade (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2012, p. 168). Relacionado às questões socioambientais, seguindo a iniciativa de alguns países – novamente o Reino Unido como pioneiro, por meio da norma BS 7750, que nor- maliza o sistema de gestão ambiental no território britânico – a ISO instituiu no final dos anos 1980 Comitês Técnicos (especificamente o Comitê 207) para elaboração de uma norma de certificação ambiental internacional. O resultado é que em 1996 são editadas as primeiras normas sobre sistemas de gestão ambiental, que foram edita- das na série ISO 14001 e ISO 14004 (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2012). Pós-Universo 23 De acordo com Dias (2011, p. 105), “ As normas ISO 14000 são uma família de normas que buscam estabelecer ferramentas e sistemas para a administração ambiental de uma organização. Buscam a padronização de algumas ferramentas-chave de análise, tais como a auditoria ambiental e a análise do ciclo de vida. Dez anos atrás, a Gráfica Alfa (nome fictício, mas empresa real), inaugurada em São Paulo em 1947, se deparou com uma lei que dificultava os negócios da empresa. A proibição do uso do benzeno nas tintas à base de solven- te, comumente usada, soou como um alarme.A Alfa, que já havia iniciado estudos para uma Gestão de Qualidade Ambiental, percebeu que ou se adaptava aos novos tempos, ambientalmente corretos, ou ficaria para trás. Adaptou-se. Há dois anos, a empresa utiliza apenas tinta à base de óleo de soja.Em 2009, a empresa foi certificada com a ISO 14001. Segundo a dire- tora administrativa da gráfica, no ano passado a empresa participou de 70 processos de concorrências e licitações. Desses, em 42 foi necessário apre- sentar as certificações de qualidade e de gestão ambiental. Um índice de 60%, que tende a aumentar nos próximos anos.Todo esse investimento teve um retorno financeiro extremamente positivo para a empresa. Desde que as práticas sustentáveis foram adotadas, com a implementação da ISO 14001, a Gráfica Alfa triplicou as suas vendas. Parte desse sucesso pode, sem dúvida, ser debitada à Gestão de Qualidade Ambiental desenvolvida. Fonte: Albuquerque (2011, on-line). fatos e dados Pós-Universo 24 Veja no Quadro 2 a especificação das diversas normas da série ISO 14000, que no Brasil receberam a classificação de NBR ISO 14000. Quadro 2 - Detalhamento das normas NBR ISO 14000 Norma ISO Detalhamento 14001* Sistema de Gestão Ambiental (SGA) – Especificações para implantação e guia 14004 Sistema de Gestão Ambiental – Diretrizes Gerais 14010 Guias para Auditoria Ambiental – Diretrizes Gerais 14011 Diretrizes para Auditoria Ambiental e Procedimentos para Auditorias 14012 Diretrizes para Auditoria Ambiental – Critérios de Qualificação 14020 Rotulagem Ambiental – Princípios Básicos 14021 Rotulagem Ambiental – Termos e Definições 14022 Rotulagem Ambiental – Simbologia para Rótulos 14023 Rotulagem Ambiental – Testes e Metodologias de Verificação 14024 Rotulagem Ambiental – Guia para Certificação com Base em Análise Multicriterial 14031 Avaliação da Performance Ambiental 14032 Avaliação da Performance Ambiental dos Sistemas de Operadores 14040* Análise do Ciclo de Vida – Princípios Gerais 14041 Análise do Ciclo de Vida – Inventário 14042 Análise do Ciclo de Vida – Análise dos Impactos 14043 Análise do Ciclo de Vida – Migração dos Impactos * Normas passíveis de certificação Fonte: Dias (2011, p. 83). Pós-Universo 25 O número de empresas que buscam a certificação da série ISO14001 cresce a cada ano, no mundo e também no Brasil. Dados publicados pela própria ISO e reproduzidas em portais confiáveis da Internet dão conta de que, no mundo,em 2011, havia 267.457 certificações deste tipo. No Brasil, o INMETRO, que é a entidade executiva da ISO no país, que tem na ABNT a figura máxima de representação, publica estatísticas relativas às organizações certificadas. Esta entidade divulgou que em 2015 havia 98 uni- dades de negócios certificadas pela ISO14001 no Brasil. Fonte: adaptado de INMETRO. fatos e dados Por que as normas ISO são consideradas instrumentos gerenciais? Todas as normas da série ISO são baseadas no que ficou conhecido como ciclo PDCA (em seus primórdios também conhecido como Ciclo de Deming ou ciclo de Shewhart, em homenagem aos seus criadores e desenvolvedores). Esse ciclo traz um ordenamento lógico que deve guiar as ações de um gestor, em qualquer área de atuação. PDCA é uma sigla em inglês para as palavras Plan, Do, Check, Act (ou, em português: Planejar, Fazer, Verificar e Agir). Veja na Figura 2 o princípio de funcionamento do Ciclo PDCA: Figura 2: Ciclo PDCA Fonte: Silva, Pardo e Costa (2014, p. 60) Ação: Corretiva Preventiva Melhoria Checar RESULTADOS X METAS Definir meta Definir método Educar e treinar Executar Coletar dados Pós-Universo 26 Aplicando este conceito especificamente em nossos estudos de logística reversa, te- ríamos a seguinte proposta para as fases do PDCA, de acordo com Barbieri e Cajazeira (2012, p. 170): • Planejar (Plan): estabelecer os objetivos e processos necessários para pro- duzirem resultados em conformidade com a política de logística reversa das organizações; • Fazer (Do): implementar os processos; • Verificar (Check): monitorar e medir os processos em relação à política de logística reversa e aos objetivos, metas, requisitos legais e outros, e repor- tar os resultados; e • Atuar (Act): tomar ações para melhorar continuamente o desempenho am- biental, econômico e social do sistema de gestão. Você já deve ter se deparado com produtos ou empresas que exibem o selo de certificação da ISO. Geralmente, os mais comuns são os da série ISO9000. Pense: na prática, a posse deste selo garante produtos e serviços de maior qualidade? Fonte: o autor. reflita Veja que a ideia básica é bastante simples, porém poderosa. Nada se faz sem planeja- mento, sem o envolvimento e comprometimento das pessoas (desde a Alta Direção até os níveis operacionais). Nada se consegue sem mensuração, ou seja, medidas de desempenho que reflitam a situação atual e sua conformidade (ou não) com o pla- nejado. E ainda mais interessante é que a última fase (Atuar – Act) preconiza que a empresa deve sempre buscar a melhoria, o que os japoneses conhecem como kaizen, a filosofia da melhoria contínua, que tudo pode ser melhorado. Pós-Universo 27 Neste tópico, gostaria de discutir com você um dos principais avanços quando se fala em legislação aplicada à logística reversa. O ano de 2010 marcou a introdução de uma nova legislação que considera es- pecificamente o papel da Logística Reversa no Brasil. Essa legislação era bastante aguardada, pois vários especialistas apontavam um “vazio” de legislação quando se falava sobre esse assunto. Tal legislação ficou conhecida dentro da Política Nacional de Resíduos Sólidos, lançada em 2010, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No pronunciamen- to, durante a solenidade de lançamento, o presidente disse: A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E O IMPACTO NA LOGÍSTICA REVERSA Pós-Universo 28 “ É com muito orgulho que participo dessa cerimônia em que, finalmente, sancionamos a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Simboliza a vitória das entidades que trabalham nessa área. A adoção de uma lei nacional para o manejo dos resíduos sólidos é uma revolução em termos ambientais. O maior mérito dessa lei é a inclusão social de trabalhadores e trabalhadoras que, por muitos anos, foram esquecidos e maltratados pelo Poder Público. Ela está de acordo com a missão do nosso governo de fazer o Brasil crescer para todos, respeitando o meio ambiente (LULA..., 2010, online). Vamos conhecer os principais pontos dessa Legislação? A Lei é a 12305, de 02 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Esta Lei foi regulamentada pelo Decreto 7404, de 23 de dezembro de 2010. Este decreto foi importantíssimo, pois não adianta ter-se uma Lei, mesmo completa, se não há um Decreto regulamentador. E isto foi providenciado pelo Decreto 7404. Já nos primeiros artigos da Lei 12305, se observa: “ Art. 1º Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes re- lativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. § 1º Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão inte- grada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos. § 2º Esta Lei não se aplica aos rejeitos radioativos, que são regulados por le- gislação específica. Art. 2º Aplicam-se aos resíduos sólidos, além do disposto nesta Lei, nas Leis nos 11.445, de 5 de janeiro de 2007, 9.974, de 6 de junho de 2000, e 9.966, de 28 de abril de 2000, as normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) e do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro). Pós-Universo 29 A Política Nacional de Resíduos Sólidos demorou quase 20 anos desde sua proposta por projeto de Lei até sua aprovação na forma da Lei 12305, em 2010. Que razões podem ter contribuído para um tempo tão longo para a aprovação de uma lei com essa importância? Fonte: o autor. reflita Notamos, então, a abrangência da Lei. A ideia do legislador foi trazer à responsabi- lidade todos os setores da sociedade e vincular todos os órgãos normatizadores e fiscalizados ao processo. No artigo 3º, inciso XII, encontramos o que, para o legislador, é o conceito de Logística Reversa: “ XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (LEI 12305/2010). Você percebeu como o legislador integra a noção de Logística Reversa com “destina- ção final ambientalmente adequada”? Temos um grande avanço na Legislação com esta definição. No mesmo artigo, no inciso XIII, vemos um resgate na noção de Desenvolvimento Sustentável, conforme definida pela ONU e avalizada pela maioria das nações: “ XIII - padrões sustentáveis de produção e consumo: produção e consumo de bens e serviços de forma a atender as necessidades das atuais gerações e permitir melhores condições de vida, sem comprometer a qualidade ambien- tal e o atendimento das necessidades das gerações futuras (LEI 12305/2010). Este é um conceito que não devemos ignorar, o do atendimento às necessidades atuais e das gerações futuras. Pode parecer um conceito muito abstrato, afinal, as gerações futuras ainda não existem, portanto, seria muito fácil esquecê-las, não é verdade? Pós-Universo 30 Note ainda, nos próximos incisos do Artigo 3º, definições muito importantes, tanto do ponto de vista ambiental como da Logística Reversa: “ XIV - reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as con- dições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa; XV- rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilida- des de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a dis- posição final ambientalmente adequada; XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultan- te de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas par- ticularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economica- mente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (LEI 12305/2010). Bastante interessante, não acha? Vem ao encontro de tudo o que vimos até agora e isso mostra a conjunção dos esforços governamentais com as iniciativas das empresas. Pós-Universo 31 Propostas de acordos setoriais para a Logística Reversa de lâmpadas fluo- rescentes e embalagens em geral estão em consulta pública O MMA (Ministério do Meio Ambiente) abriu as consultas públicas para as Propostas de acordos setoriais para a implantação dos sistemas de logísti- ca reversa de Embalagens e de Lâmpadas fluorescentes de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista. “As consultas públicas são um ótimo instrumento de participação popular onde o consumidor pode verificar o que está sendo previsto como direitos e deveres nos acordos setoriais e opinar sobre eles”, explica a pesquisadora do Idec e responsável pelas atividades do Instituto nesse tema, Renata Amaral. Acordos setoriais são instrumentos de implantação e operacionalização dos sistemas de logística reversa. A logística reversa é um instrumento de desen- volvimento econômico e social, previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos, caracterizado pelo conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos pro- dutivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. Fonte: IDEC (2014, on-line). fatos e dados No Decreto 7404, que, conforme visto, regulamenta a Lei 12305, existe a instituição de um importante ator no processo. Veja o texto do decreto: “ DO COMITÊ INTERMINISTERIAL DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS Art.3º Fica instituído o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos, com a finalidade de apoiar a estruturação e implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, por meio da articulação dos órgãos e entidades governamentais, de modo a possibilitar o cumprimento das determinações e das metas previstas na Lei nº 12.305, de 2010, e neste Decreto, com um representante, titular e suplente, de cada órgão a seguir indicado: I-Ministério do Meio Ambiente, que o coordenará; II-Casa Civil da Presidência da República; III-Ministério das Cidades; IV-Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Pós-Universo 32 V-Ministério da Saúde; VI-Ministério de Minas e Energia; VII-Ministério da Fazenda; VIII-Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; IX-Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; X-Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; XI-Ministério da Ciência e Tecnologia; e XII-Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República. Este Comitê, estabelecido no Decreto, frisa ainda mais para nós a intenção das in- ter-relações e interdependências quando o assunto é a gestão ambiental, da qual a Logística Reversa é parte fundamental. A partir desta Legislação, todos são envolvidos no processo, desde os fabrican- tes até os consumidores. Isso mesmo! Os consumidores têm obrigações claras, que são definidas em lei. Veja estes aspectos no Decreto, nos artigos 5º ao 7º: “ Art.5o Os fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumi- dores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos são responsáveis pelo ciclo de vida dos produtos. Parágrafoúnico. A responsabilidade compartilhada será implementada de forma individualizada e encadeada. Art.6o Os consumidores são obrigados, sempre que estabelecido sistema de coleta seletiva pelo plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou quando instituídos sistemas de logística reversa na forma do art. 15, a acondicionar adequadamente e de forma diferenciada os resíduos sólidos gerados e a disponibilizar adequadamente os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis para coleta ou devolução. ParágrafoúnicoA obrigação referida no caput não isenta os consumidores de observar as regras de acondicionamento, segregação e destinação final dos resíduos previstas na legislação do titular do serviço público de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. Pós-Universo 33 Art.7o O Poder Público, o setor empresarial e a coletividade são responsáveis pela efetividade das ações voltadas para assegurar a observância da Política Nacional de Resíduos Sólidos e das diretrizes e determinações estabelecidas na Lei nº 12.305, de 2010, e neste Decreto (DECRETO 7404/2010). Um dos trechos mais importantes deste Decreto é a seção II, que reza: “ Dos Instrumentos e da Forma de Implantação da Logística Reversa Art.15. Os sistemas de logística reversa serão implementados e operaciona- lizados por meio dos seguintes instrumentos: I-acordos setoriais; II-regulamentos expedidos pelo Poder Público; ou III-termos de compromisso. §1º Os acordos setoriais firmados com menor abrangência geográfica podem ampliar, mas não abrandar, as medidas de proteção ambiental constantes dos acordos setoriais e termos de compromisso firmados com maior abrangên- cia geográfica. §2º Com o objetivo de verificar a necessidade de sua revisão, os acordos seto- riais, os regulamentos e os termos de compromisso que disciplinam a logística reversa no âmbito federal deverão ser avaliados pelo Comitê Orientador re- ferido na Seção III em até cinco anos contados da sua entrada em vigor. Art.16. Os sistemas de logística reversa dos produtos e embalagens previstos no art. 33, incisos I a IV, da Lei nº 12.305, de 2010, cujas medidas de proteção ambiental podem ser ampliadas mas não abrandadas, deverão observar as exigências específicas previstas em: I-lei ou regulamento; II-normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente- SISNAMA, do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária-SNVS, do Sistema Único de Atenção à Sanidade Agropecuária-SUASA e em outras normas aplicáveis; ou III-acordos setoriais e termos de compromisso. Pós-Universo 34 Art.17. Os sistemas de logística reversa serão estendidos, por meio da utili- zação dos instrumentos previstos no art. 15, a produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas ou de vidro, e aos demais produtos e em- balagens, considerando prioritariamente o grau e a extensão do impacto à saúde pública e ao meio ambiente dos resíduos gerados. Parágrafoúnico. A definição dos produtos e embalagens a que se refere o caput deverá considerar a viabilidade técnica e econômica da logística reversa, a ser aferida pelo Comitê Orientador. Art.18. Os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes dos produ- tos referidos nos incisos II, III, V e VI do art. 33 da Lei nº 12.305, de 2010, bem como dos produtos e embalagens referidos nos incisos I e IV e no §1o do art. 33 daquela Lei, deverão estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante o retorno dos produtos e embalagens após o uso pelo consumidor. §1º Na implementação e operacionalização do sistema de logística reversa poderão ser adotados procedimentos de compra de produtos ou embalagens usadas e instituídos postos de entrega de resíduos reutilizáveis e recicláveis, devendo ser priorizada, especialmente no caso de embalagens pós-consumo, a participação de cooperativas ou outras formas de associaçõesde catado- res de materiais recicláveis ou reutilizáveis. §2º Para o cumprimento do disposto no caput, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes ficam responsáveis pela realização da logísti- ca reversa no limite da proporção dos produtos que colocarem no mercado interno, conforme metas progressivas, intermediárias e finais, estabeleci- das no instrumento que determinar a implementação da logística reversa (DECRETO 7404/2010). O legislador também previu e incluiu no texto da Lei a necessidade de estabelece- rem-se diretrizes para a Educação Ambiental no país, talvez o grande segredo para mudanças significativas da nossa realidade. Pós-Universo 35 Veja como o Decreto 7404 prevê isto: “ TÍTULO IX DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS Art.77. A educação ambiental na gestão dos resíduos sólidos é parte integrante da Política Nacional de Resíduos Sólidos e tem como objetivo o aprimora- mento do conhecimento, dos valores, dos comportamentos e do estilo de vida relacionados com a gestão e o gerenciamento ambientalmente ade- quado dos resíduos sólidos. §1º A educação ambiental na gestão dos resíduos sólidos obedecerá às di- retrizes gerais fixadas na Lei nº 9795, de 1999, e no Decreto no 4.281, de 25 de junho de 2002, bem como às regras específicas estabelecidas na Lei no 12.305, de 2010, e neste Decreto. §2º O Poder Público deverá adotar as seguintes medidas, entre outras, visando o cumprimento do objetivo previsto no caput: I-incentivar atividades de caráter educativo e pedagógico, em colaboração com entidades do setor empresarial e da sociedade civil organizada; II-promover a articulação da educação ambiental na gestão dos resíduos sólidos com a Política Nacional de Educação Ambiental; III-realizar ações educativas voltadas aos fabricantes, importadores, comercian- tes e distribuidores, com enfoque diferenciado para os agentes envolvidos direta e indiretamente com os sistemas de coleta seletiva e logística reversa; IV-desenvolver ações educativas voltadas à conscientização dos consumidores com relação ao consumo sustentável e às suas responsabilidades no âmbito da responsabilidade compartilhada de que trata a Lei nº 12.305, de 2010; V-apoiar as pesquisas realizadas por órgãos oficiais, pelas universidades, por organizações não governamentais e por setores empresariais, bem como a elaboração de estudos, a coleta de dados e de informações sobre o compor- tamento do consumidor brasileiro; VI-elaborar e implementar planos de produção e consumo sustentável; Pós-Universo 36 VII-promover a capacitação dos gestores públicos para que atuem como mul- tiplicadores nos diversos aspectos da gestão integrada dos resíduos sólidos; e VIII-divulgar os conceitos relacionados com a coleta seletiva, com a logísti- ca reversa, com o consumo consciente e com a minimização da geração de resíduos sólidos. §3º As ações de educação ambiental previstas neste artigo não excluem as responsabilidades dos fornecedores referentes ao dever de informar o consumidor para o cumprimento dos sistemas de logística reversa e coleta seletiva instituídos. Como implementar a logística reversa Um dos principais desafios da logística reversa é implementá-la em setores específicos da economia. Os interesses não são coincidentes. Na verdade, na maior parte são muito conflitantes. Mesmo com uma legislação abran- gente, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos, é preciso orquestrar as discussões para que possam ser feitos acordos setoriais com os integran- tes das diversas cadeias. Por isso, como resultado da Lei 12305/10 (PNRS), diversos grupos de trabalho foram constituídos visando discutir e implemen- tar acordos dos setores envolvidos. São Grupos de Trabalho relacionados a descarte de medicamentos, embalagens em geral, embalagens de óleos e lubrificantes e seus resíduos, eletroeletrônicos, e lâmpadas fluorescentes, de mercúrio e de luz mista. Fonte: o autor. saiba mais Ao examinar o teor da lei – incentivo que você leia a Lei 12305, de 02/08/2010, e o decreto regulamentador 7404, de 23/12/2010, na íntegra –, verificamos que o avanço regulamentar foi gigantesco. Porém, uma lei pode tornar-se inócua, sem efeito, com muita facilidade. Cabe também à sociedade inteirar-se sobre esse tema e cobrar a efetiva aplicação da legislação no dia a dia. Somente assim teremos, de fato, ganhos em relação à preservação ambiental. atividades de estudo 1. O atual modo de vida da sociedade, cuja economia é baseada no consumo, impacta diretamente na relação da humanidade com o meio ambiente. Essa complexa relação despertou em setores da própria sociedade a necessidade de ações, visando preser- var o planeta e seus recursos. Sobre esta questão, é correto afirmar que: a) As relações de consumo não podem sofrer regulação de ordem ambiental, sob pena de impedir o fluxo de produtos e serviços, ocasionando desemprego e pobreza. b) As empresas, diante de um cenário altamente regulatório nas questões ambien- tais, devem agir reativamente, esperando a publicação das leis e decretos para então tomar as medidas necessárias de adequação. c) A legislação ambiental, por ser extremamente rigorosa, impede a inserção de outros atores que poderiam derivar benefícios econômicos com o tratamento de produtos descartados. d) Na maioria dos países, as relações de consumo são reguladas de modo a tratar o descarte e destinação de produtos e punir quem não tem boas práticas ambientais. atividades de estudo 2. Um grande desafio para a implantação de um canal logístico reverso é a questão tributária. Esta discussão ocupa a agenda de empresas e setores industriais como um todo. Várias propostas estão sendo colocadas visando abrandar a incidên- cia tributária sobre os processos da logística reversa. Sobre esta questão, avalie as afirmações a seguir: I. As empresas brasileiras queixam-se de que há uma espécie de bitributação nos processos logísticos reversos, que oneram e muitas vezes inviabilizam a utiliza- ção de matérias-primas secundárias. II. A incidência de tributos na cadeia reversa envolve tão-somente as indústrias que trabalham sob o regime do SIMPLES NACIONAL. III. Alguns setores são atualmente extremamente beneficiados pela legislação tri- butária sobre a logística reversa, como é o caso da indústria de lâmpadas que trabalha com uma margem positiva na logística reversa. IV. A legislação prevê a suspensão da cobrança de PIS/COFINS nas aquisições de resí- duos e de desperdícios de plástico, papel ou cartão, vidro e metais por empresas optantes pelo lucro real. É correto somente o que se afirma em: a) I e IV. b) II e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) I, II, III e IV. atividades de estudo 3. A legislação internacional relacionada ao tratamento de materiais oriundos do pós-consumo ou do pós-venda tem enfoques bastante abrangentes. Alguns países tratam da questão já em nível preventivo, enquanto outros parecem ter uma legislação mais reativa. Sobre as legislação internacional ambiental, avalie as afirmações a seguir: I. Há uma tendência de protecionismo por parte dos governos, impondo barrei- ras para a entrada de certos produtos, preservando dessa forma a indústria local. II. Uma das formas de impor barreiras à entrada de produtos estrangeiros é publi- car normas que exigem o cumprimento de requisitos específicos que devem ser atendidos pelos fornecedores. III. Regulando o comércio entre países, várias normas internacionais foram publica- das e as empresas que as atenderem ganham condições de competir também em mercados estrangeiros. IV. Temos como único e fundamental órgão normalizador internacional a ISO (International Organization for Standardization), que regula todos os tipos de setores econômicos e impõe suas regras de conduta. É correto somente o que se afirma em: a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) I, II e III. e) I, II, III e IV. atividades de estudo 4. Analisando criteriosamentea legislação referente à Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), percebemos algumas inserções relevantes por parte dos legislado- res. Considerando esta legislação, leia atentamente as afirmações a seguir: I. Para o legislador, a reciclagem envolve algum tipo de alteração das propriedades dos resíduos sólidos, como propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas. II. Na PNRS, a logística reversa focaliza nas ações, procedimentos e meios que per- mitam o desenvolvimento econômico e social, com o tratamento dos resíduos sólidos. III. Na legislação da PNRS, padrões sustentáveis de produção e consumo envolvem a preocupação com as necessidades das gerações atuais, desconsiderando as ne- cessidades das futuras gerações. IV. Os resíduos sólidos englobam material, substância, objeto ou bem descartado nos estados sólido ou gasoso, ficando o tratamento de líquidos poluentes abran- gidos por outra legislação específica. É correto somente o que se afirma em: a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) I, II e III. e) I, II, III e IV. resumo Os problemas ambientais não são exclusividade do Brasil. O mundo todo enfrenta o desafio da sustentabilidade. O poder público, no caso dos países democráticos, exerce o poder legitimado pela escolha popular e tem o dever de proporcionar o bem estar da população que envolve as questões econômicas, sociais e ambientais. Portanto, é de se esperar que a legislação trate das questões ambientais de forma objetiva, disciplinando o agir da sociedade, seja em nível particu- lar ou empresarial. Observando o que se faz ao redor do mundo, nos países mais desenvolvidos percebe-se uma preocupação em disciplinar o comércio de produtos estrangeiros, muitas vezes levantando-se barreiras à entrada de produtos que não tenham origem ambientalmente correta. Também as ações dos agentes econômicos e dos próprios consumidores são regidas por leis abrangentes, que impõem inclusive responsabilidade pecuniária sobre todos, visando financiar as ações de tratamento dos resíduos produzidos por empresas e sociedade. As empresas precisam adequar-se à legislação em vigor, pois isso implicará diretamente em seus custos, quer por ter vantagens na recuperação de valor por materiais oriundos da logística reversa, quer por evitar sanções fiscalizatórias. Visando romper as barreiras impostas por países relacionadas aos aspectos ambientais, a norma- lização mais aceita internacionalmente é a da ISO série 14000. Essa norma orienta a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) que, utilizando-se da filosofia do ciclo PDCA, propõe o Planejar (Plan), o Fazer (Do), a Checagem (Check) e o Agir (Act) corretivamente ou estabelecen- do padrões para ação gerencial. No Brasil, após a promulgação da legislação relativa à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), tivemos um grande avanço na discussão sobre a Logística Reversa, estabelecendo critérios de res- ponsabilização que abarcam inclusive o consumidor e o descarte dos materiais por parte deste. A intenção da PNRS é promover o desenvolvimento econômico e social por meio de ações que visem reintroduzir no ciclo produtivo os materiais descartados, com a integração de cooperativas e associações de catadores, figuras importantíssimas no processo de coleta e seleção dos materiais. material complementar Na Web Muito se questiona sobre como a China consegue conciliar crescimento econômico, com um forte programa de industrialização, com as questões ambientais. A grande verdade é que esse dilema ainda não foi resolvido. A China, apesar de avanços sig- nificativos, é um dos maiores poluidores do mundo. Leia, no link abaixo, um artigo interessante que fará você conhecer esta realidade: <http:// planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/livro-judith-shapiro-desastre-ecologico- -crescimento-china-684853.shtml?func=2>. Lixo Extraordinário Ano: 2010 Sinopse: Filmado ao longo de dois anos (agosto de 2007 a maio de 2009), Lixo Extraordinário acompanha o trabalho do artista plástico Vik Muniz em um dos maiores aterros sanitários do mundo: o Jardim Gramacho, na periferia do Rio de Janeiro. Lá, ele fotografa um grupo de catadores de materiais recicláveis, com o objetivo inicial de retratá-los. No entanto, o trabalho com esses personagens revela a dignidade e o desespero que enfrentam quando sugeridos a imaginar suas vidas fora daquele ambiente. A equipe tem acesso a todo o pro- cesso e, no final, revela o poder transformador da arte e da alquimia do espírito humano. material complementar Gerenciamento da Logística Reversa: um modelo conceitual Autor: Cecília Toledo Hernandéz Editora: Edgard Blucher Sinopse: Com o surgimento do novo modelo de gerenciamento empresarial baseado na competitividade, a Logística Empresarial e a Logística Reversa, em especial, têm-se tornado um assunto de prioridade nos negócios da empresa. Neste sentido, a formulação de modelos gerais, que permitam enten- der as características da Logística Reversa, assim como avaliar os resultados obtidos com as suas práticas, tem se tornado um aspecto prioritário ao se conduzir pesquisas na temática. Foi proposta deste trabalho desenvolver um modelo conceitual com ampla base descriti- va que propicia uma orientação sobre as ferramentas a serem utilizadas para a tomada de decisão em Logística Reversa. O mesmo foi concebido segundo os julgamentos de valor, ex- periências e os conhecimentos dos gerentes e especialistas entrevistados. De maneira geral, demonstrou-se que o uso do modelo é factível e que oferece alternativas sobre como inter- vir nas atividades da Logística Reversa no sentido de alinhá-la aos objetivos estratégicos das empresas. Complementa o modelo um conjunto de indicadores que possibilitam avaliar o desempenho desta atividade nas organizações. referências AGÊNCIA EFE. Lixo eletrônico toma lugar do arroz em aldeia chinesa. Terra Tecnologia, 19 jan. 2007. Disponível em: <http://tecnologia.terra.com.br/noticias/0,,OI1357851-EI12882,00-Lixo+eletroni- co+toma+lugar+do+arroz+em+aldeia+chinesa.html>. Acesso em: 20 jul. 2015. ALBUQUERQUE, Daniela. Implementação da ISO 14001 gera ganhos substantivos em gráfica. Templum Consultoria Ilimitada, 14 jul. 2011. Disponível em: <http://certificacaoiso.com.br/imple- mentacao-da-iso-14001-gera-ganhos-substantivos-em-grafica/>. Acesso em: 23 jul. 2015. BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. E. R. Responsabilidade Social Empresarial: da teoria à prática. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. BRASIL. LEI 12305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em 20 jun. 2015. CNI – Confederação Nacional da Indústria. Proposta de implementação dos instrumentos econômicos previstos na lei n° 12.305/2010 por meio de estímulos à cadeia de recicla- gem e apoio aos setores produtivos obrigados à logística reversa. Brasília: CNI, 2014.141 p. Disponível em: <http://www.senaimt.com.br/site/arquivos/1635_estudo_desoneracao_cadeia_ logistica_reversa.pdf>. Acesso em 25 mai. 2018. DIAS, R. 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