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CA PÍT ULO FILOSOFAR COM TEXTOS: TEMAS E HISTÓRIA DA FILOSOFIA PARTE 1 CAPÍTULO 4 Estética: a reflexão sobre a arte ESTÉTICA: A REFLEXÃO SOBRE A ARTE 4 PARTE 1 CAPÍTULO 4 Estética: a reflexão sobre a arte FILOSOFAR COM TEXTOS: TEMAS E HISTÓRIA DA FILOSOFIA O que é estética? n Entre os questionamentos da estética, estão: o que é uma obra de arte? O que significa ser um artista? Como identificar uma obra de arte? É possível discutir o gosto? Se a arte visa à beleza, como pode representar o feio, o trágico e a dor? n O termo grego aisthesis nos remete aos significados de “sensibilidade”, “faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentidos”. n O objeto da estética é aquele que se apreende pelos sentidos e é capaz de provocar diversos tipos de sentimentos em quem o aprecia. n A estética é a reflexão filosófica sobre a arte, mais propriamente o estudo dos julgamentos de beleza a respeito da criação e da apreciação artísticas. n O filósofo alemão Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762) inaugurou o conceito moderno de estética, definindo-o como o conjunto das teorias da arte que discorrem sobre a pintura, a poesia, a escultura, a música e a dança. PARTE 1 CAPÍTULO 4 Estética: a reflexão sobre a arte FILOSOFAR COM TEXTOS: TEMAS E HISTÓRIA DA FILOSOFIA O julgamento do gosto n Os filósofos David Hume (1711-1776) e Immanuel Kant (1724-1804) rejeitaram as concepções clássicas e racionalistas que definiam as qualidades estéticas como objetivas, inerentes aos objetos. n Para eles, o juízo estético tem por base o gosto, uma recepção do objeto que é de natureza emocional, ligada a preferências e/ou aversões particulares. n Hume argumenta contra a ideia de relativismo estético, ao afirmar que existe um padrão universal de gosto, com base no qual podemos julgar algo como belo. Retrato de Dora Maar (1937), pintura de Pablo Picasso. Para Hume, a beleza não é uma qualidade das próprias coisas, mas algo que está no espírito de quem as contempla. Nessa obra, por exemplo, alguns podem ver deformidade e uma multiplicidade de cores, ao passo que outros veem beleza no retrato de uma das maiores musas inspiradoras do pintor espanhol. B R ID G EM A N IM A G ES /K EY ST O N E. © S U C C ES SI O N P A B LO P IC A SS O /A U TV IS , B R A SI L, 2 01 7 - M U SE U P IC A SS O , P A R IS PARTE 1 CAPÍTULO 4 Estética: a reflexão sobre a arte FILOSOFAR COM TEXTOS: TEMAS E HISTÓRIA DA FILOSOFIA Kant e o prazer da apreciação n Na obra Crítica do juízo, Kant discorda de Hume: defende a impossibilidade de existir um padrão universal de gosto orientando as avaliações estéticas, dado que não há regras que regulem o juízo estético. n Para Kant, não há regras que definam um objeto como naturalmente belo ou feio, pois o juízo estético de gosto depende da sensação de prazer ou desprazer provocada pela apreciação desse objeto. n O juízo do gosto se refere apenas aos nossos sentimentos de satisfação ou insatisfação na percepção de um objeto. n Quando se trata de uma obra de arte, a beleza está na representação, e não no objeto representado. n Kant distingue três características do prazer estético: • apreciação desinteressada: a obra de arte não tem fins pragmáticos, não visa à aplicação prática imediata, mas apenas ao deleite; • originalidade: diz respeito ao fato de o artista criar algo novo, que não é determinado por regras; • exemplaridade: a obra serve de modelo a ser seguido por outros artistas. PARTE 1 CAPÍTULO 4 Estética: a reflexão sobre a arte FILOSOFAR COM TEXTOS: TEMAS E HISTÓRIA DA FILOSOFIA Aprimoramento do gosto n O refinamento do gosto se faz pela frequentação da obra, isto é, pela convivência continuada com objetos artísticos. n O chamado discurso autorizado joga luz no objeto artístico para que possamos construir relações entre a obra e outras criações humanas. Arte e conhecimento n A arte é uma espécie de conhecimento de mundo e de nós mesmos, que organiza o mundo por meio do sentimento e de elementos simbólicos. n Função naturalista: a obra de arte aparece como imitação da realidade. Para Platão (c. 429-347 a.C.), a imitação artística é criticável por estimular a ilusão e as paixões. Para Aristóteles (c. 384-322 a.C.), a arte é uma invenção que idealiza a representação da realidade. n Função pragmática: as obras de arte são veículos de valores não estéticos. n Função formalista: o que vale são os aspectos formais da arte, como apresentação, composição etc. PARTE 1 CAPÍTULO 4 Estética: a reflexão sobre a arte FILOSOFAR COM TEXTOS: TEMAS E HISTÓRIA DA FILOSOFIA As primeiras rupturas n Os artistas refletem o contexto histórico em suas obras e expressam de maneiras diferentes e inventivas a experiência vivida. n Na Antiguidade e na Idade Média, o conceito de arte estava ligado ao fazer artesanal; prova disso é que o termo grego que designa a arte é techné, que também significa “técnica”. Na Idade Média, predominaram os temas de caráter religioso — e a estética naturalista, que se manteve até a Idade Moderna. n No Renascimento, os artistas ganharam renome, individualidade e autonomia. n Na Idade Moderna foram retomados os assuntos míticos da Antiguidade, ao lado de representações da nobreza e da burguesia e, no século XIX, também do cotidiano das classes populares. n No século XIX, houve um enfraquecimento da estética de função naturalista, com o surgimento do impressionismo, a invenção da fotografia e, no século XX, do cubismo e do abstracionismo. PARTE 1 CAPÍTULO 4 Estética: a reflexão sobre a arte FILOSOFAR COM TEXTOS: TEMAS E HISTÓRIA DA FILOSOFIA A arte na sociedade industrial n Com a Revolução Industrial (iniciada no século XVIII) e a passagem da manufatura para o sistema fabril, a arte absorveu novos processos sob a influência da industrialização. n No século XIX, ao expandir a divulgação das obras impressas, permitiu-se que os chamados folhetins, histórias ficcionais, fossem lidas por um público maior. n Em Paris, no final do século XIX, os irmãos Auguste e Louis Lumière registraram a patente do cinematógrafo, proporcionando uma grande novidade no mundo das artes: o cinema. n Em 1919, na Alemanha, o arquiteto Walter Gropius fundou a Bauhaus, com a proposta de integrar arte e indústria, criando obras com características utilitárias, de uso. Assim nasceu a profissão de designer. Cena do filme Metropolis (1927), do diretor austríaco Fritz Lang. Esse filme é considerado um dos grandes expoentes do expressionismo alemão, abrindo um novo caminho para o mundo das artes. D IV U LG A Ç Ã O /U N IV ER SU M F IL M (U FA ) PARTE 1 CAPÍTULO 4 Estética: a reflexão sobre a arte FILOSOFAR COM TEXTOS: TEMAS E HISTÓRIA DA FILOSOFIA A arte na era da reprodutibilidade técnica n Em um ensaio denominado A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução, publicado em 1936, o filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940) argumenta que as novas técnicas causaram a perda da aura na arte. n Para Benjamin, a aura da obra de arte está na reunião de três fatores: • unicidade (a obra é única); • originalidade (por não se tratar de cópia); • autenticidade (quando pode ser reconhecida a autoria da obra). n Reprodutibilidade: dissolve a aura, por não possibilitar diferenciação entre original e cópia; ao mesmo tempo, populariza a arte, antes restrita às elites. n Menos otimistas, os filósofos Max Horkheimer (1895-1973) e Theodor Adorno (1903-1969) criaram o conceito de indústria cultural para advertir sobre os riscos de subordinar a cultura de massa à produçãoindustrial. Para estes, a arte deveria provocar conscientização, mas quando a indústria cultural se torna puro entretenimento, sua superficialidade entorpece a consciência crítica. PARTE 1 CAPÍTULO 4 Estética: a reflexão sobre a arte FILOSOFAR COM TEXTOS: TEMAS E HISTÓRIA DA FILOSOFIA Reflexões sobre arte e poder n É necessário refletir em que medida os poderes constituídos poderiam facilitar ou dificultar o acesso universal aos benefícios da arte, seja como fruidor dela, seja como realizador de obras artísticas. n Com a indústria cultural, há o risco de nos ser negado o contato com expressões artísticas emancipadoras, tamanha é a força do mercado que dissemina obras de puro entretenimento. n Como a política vigente não tem aberto caminho para a universalização da arte, nos últimos tempos intensificou-se o fenômeno de micropolíticas, decorrentes da participação ativa de cidadãos na tentativa de reverter esse quadro. n Seguindo o fenômeno de micropolíticas, há exemplos de coletivos culturais que visam à formação de grupos musicais, produção literária popular, bibliotecas ou videotecas, abertura de salas de cinema e até espaços para produção de filmes ou vídeos.