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27 de Turing estabelecem uma co-relação precisa entre instruções (software ou os estados mentais) e estados físicos da máquina (hardware ou estados cerebrais). E este tipo de co- relação ou harmonia preestabelecida não precisa postular a existência de um Deus para tornar-se possível. O paralelismo entre eventos mentais/eventos cerebrais e o software/hardware de um computador sugeridos pelos teóricos da IA seria confirmado pelo fato de que programas escritos em linguagens computacionais diferentes podem ser rodados numa mesma máquina, com uma mesma e única configuração de hardware. De maneira inversa, um mesmo programa pode ser rodado em computadores diferentes, isto é, em hardwares diferentes. Isto significa que os programas têm uma grande autonomia em relação ao hardware, e que não teria sentido falarmos em reduzir um determinado programa ao hardware da máquina onde ele é rodado, embora tenhamos de falar de uma correlação entre programa e máquina. Uma coisa não seria possível sem a outra. Ora, é precisamente este tipo de correlação – que embora estabeleça a existência de uma dependência entre duas partes (máquina e programa), ao mesmo tempo lhes assegura uma autonomia – que constitui um excelente modelo para conceber relações entre mente e corpo. Este modelo, contudo, não constitui uma solução definitiva para o problema. Por exemplo, não podemos concluir, pela simples aplicação do modelo, algo acerca da própria natureza de nossos estados mentais, isto é, se eles são realmente compostos de uma substância diferente daquela que compõe a matéria física ou não. Não obtemos uma resposta definitiva para o problema da identidade mente-cérebro, mas talvez isso nem sequer seja necessário, se podemos pelo menos supor que existe algo que permite uma tradução ou uma ponte entre o físico e o mental. E essa ponte ou tradução seria dada pelo modelo da máquina de Turing. A adoção deste tipo de analogia para tratar o problema das relações mente-corpo tem ainda uma conseqüência interessante: sabemos que o que caracteriza uma máquina de Turing não é o tipo de material ou de substância empregada na sua construção. A fita poderia ser de papel ou de material magnético, ou, em vez de termos uma fita e um marcador, poderíamos ter um sistema de relés ou de transistores e chips, como ocorre nos computadores modernos. Isto quer dizer que, em última análise, não é preciso ter um cérebro igual ao