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Do Inadimplemento das Obrigações Da Arras ou Sinal ⌘ Conceito: Sinal ou arras é a quantia ou coisa entregue por um dos contraentes ao outro, como confirmação do acordo de vontades e princípio de pagamento. Para Sílvio Rodrigues, as arras “constituem a importância em dinheiro ou a coisa dada por um contraente ao outro, por ocasião da conclusão do contrato, com o escopo de firmar a presunção de acordo final e tornar obrigatório o ajuste; ou ainda, excepcionalmente, com o propósito de assegurar, para cada um dos contraentes, o direito de arrependimento”. ⌘ Natureza jurídica: Natureza Acessória: O sinal ou arras tem cabimento apenas nos contratos bilaterais translativos do domínio, dos quais constitui pacto acessório. Não existe por si; depende do contrato principal. As arras supõem, efetivamente, a existência de um acordo principal do qual dependem, sendo inconcebível imaginá-las isoladamente, sem estarem atreladas a uma avença, considerada principal. Caráter Real: As arras, além da natureza acessória, têm também caráter real, pois aperfeiçoam-se com a entrega do dinheiro ou de coisa fungível por um dos contraentes ao outro. O caráter real decorre do fato de se aperfeiçoar pela entrega ou transferência da coisa (dinheiro ou bem fungível) de uma parte para a outra. “O simples acordo de vontades não é suficiente para caracterizar o instituto, que depende, para sua eficácia, da efetiva entrega do bem à outra parte.” ⌘ Espécies: As arras são de duas espécies: Confirmatórias; Penitenciais. Arras Confirmatórias : A principal função da arras é confirmar o contrato, que se torna obrigatório após a sua entrega. Arras confirmatórias provam o acordo de vontades, não mais sendo lícito a qualquer dos contratantes rescindi-lo unilateralmente. Quem o fizer responderá por perdas e danos, nos termos do art. 418 e 419 do CC. Art. 418 - “Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecido, juros e honorários de advogado”. A parte inocente pode conformar-se apenas com o sinal dado pelo outro ou com o equivalente ou, ainda, nos dizeres do art. 419, “pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo a arras como taxa mínima”. Também lhe é possível “exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como mínimo da indenização”. Observa-se que as arras representam o mínimo de indenização e que pode ser pleiteada a reparação integral do prejuízo. Não havendo nenhuma estipulação em contrário, as arras consideram-se confirmatórias. Arras Penitenciais : Podem, contudo, as partes convencionar o direito de arrependimento. Neste caso, as arras denominam-se penitenciais, porque atuam como pena convencional, como sanção à parte que se vale dessa faculdade. Prescreve o art. 420 do CC: “Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar”. Acordado o arrependimento, o contrato torna-se resolúvel, responde o que se arrepender, porém, pelas, perdas e danos prefixados modicamente pela lei: “perda do sinal dado ou sua restituição em dobro”. A duplicação ocorre para que o inadimplente devolva o que recebeu e perca outro tanto. Não se exige prova de prejuízo real, contudo, não se admite a cobrança de outra verba a título de perdas e danos, ainda que a parte inocente tenha sofrido prejuízo superior ao valor do sinal. Proclama a Súmula 412 do STF: “No compromisso de compra e venda com cláusula de arrependimento, a devolução do sinal, por quem o deu, ou a sua restituição em dobro, por quem o recebeu, exclui indenização maior, a título de perdas e danos, salvo os juros moratórios e os encargos do processo”. Hipóteses em que a devolução do sinal deve ser pura e simples : O sinal constitui, pois, predeterminação das perdas e danos em favor do contraente inocente. A jurisprudência estabeleceu algumas hipóteses em que a devolução do sinal deve ser pura e simples, e não em dobro: 1 – Havendo acordo nesse sentido; 2 – Havendo culpa de ambos os contratantes (inadimplência de ambos ou arrependimento reciproco); 3 – Se o cumprimento do contrato não se efetiva em razão do fortuito ou outro motivo estranhos à vontade dos contratantes. ⌘ Funções das Arras: Tríplice a função das arras: A de confirmar o contrato tornando-o obrigatório; A de servir de prefixação das perdas e danos quando convencionado o direito de arrependimento; A de atuar como começo de pagamento. Proclama o art. 417 do CC: “Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal”. O sinal constitui princípio de pagamento quando a coisa entregue é parte ou parcela do objeto do contrato, ou seja, é do mesmo gênero do restante a ser entregue. “Assim, p.ex., o devedor de 10 bicicletas entrega 2 ao credor como sinal, este constitui princípio de pagamento. – Mas, se a dívida é em dinheiro e o devedor entrega 2 bicicletas a título de sinal, estas constituem apenas uma garantia e devem ser restituídas quando o contrato for cumprido, isto é, quando o preço total for pago.” 1