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Literatura Infantil: Conceitos e Práticas

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Disciplina 
Literatura Infantil Universal 
 
 
Coordenador da Disciplina 
Prof. Henrique Sérgio Beltrão de Castro 
 
 
7ª Edição 
 
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, 
transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores. 
 
Créditos desta disciplina 
 
Realização 
 
 
Autor 
 
Profª Edilene Ribeiro 
 
Colaborador 
 
 
Profª Adriana Levino 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
Aula 01: Literatura Infantil e Gêneros Literários ................................................................................. 01 
 Tópico 01: Literatura Infantil ................................................................................................................. 01 
 Tópico 02: Gêneros Literários ................................................................................................................ 08 
 Tópico 03: Contos de Fada: Era uma vez.. ............................................................................................ 12 
 
Aula 02: Contação de Histórias e Leitura da Imagem .......................................................................... 16 
 Tópico 01: Recursos Técnicos de Contação de Histórias ...................................................................... 16 
 Tópico 02: Roteiro para a Seleção de Livros de Ficção ......................................................................... 19 
 Tópico 03: Leitura da Imagem ............................................................................................................... 22 
 
Aula 03: Relação da Literatura Infantil com a Ludicidade e a Interdisciplinaridade ....................... 25 
 Tópico 01: Literatura Infantil e os Estágios Psicológicos da Criança .................................................... 25 
 Tópico 02: O Trabalho Interdisciplinar .................................................................................................. 27 
 Tópico 03: Literatura e Ludicidade ........................................................................................................ 29 
 
Aula 04: Literatura Infantil: prosa e poesia ........................................................................................... 33 
 Tópico 01: O Encontro com os Clássicos .............................................................................................. 33 
 Tópico 02: A Poesia na Literatura Infantil ............................................................................................. 37 
 
 
 
Literatura Infantil Universal 
Aula 01: Literatura Infantil e Gêneros Literários 
Tópico 01: Literatura Infantil
VERSÃO TEXTUAL 
Etimologicamente falando, literatura deriva da palavra “literatura”, que foi retirada do 
substantivo grego “Itteratura”, derivada do radical “littera” (letra), e que significa saber relativo à 
arte de escrever e ler, gramática, instrução, erudição. O “litteratus” era o homem conhecedor da 
gramática, aquele que sabia decifrar e codificar as letras e que, por isso mesmo, tinha privilégios 
sociais e culturais.
Hoje, vê-se a literatura como fenômeno estético, como uma arte – a arte da palavra. Seu valor está no 
aspecto estético que ela possui e na finalidade de despertar no leitor um tipo especial de prazer, que é o 
sentimento estético. Podemos ainda dizer que literatura é uma forma de comunicação do homem 
transmissor (escritor) com o receptor (leitor). Comunica-se um conteúdo imaterial: uma ideia (mensagem) 
que, para se tornar perceptível, precisa de materializar-se, o que ocorre com o signo (que é o sinal, o 
código estabelecido. No caso da literatura, o código seria a palavra escrita). Finalmente, a obra é um 
objeto social. Para que ela exista, é preciso que alguém a escreva e que outro alguém a leia.
O mundo da literatura é o mundo do possível. A ficção, mesmo quando recebe sugestões do real, não 
tem por obrigação copiá-las, reproduzi-las fielmente. Não duvida que a ficção tem raízes na experiência 
humana. Mas o que distingue das outras formas é que ela é uma transfiguração da realidade. Por meio 
das palavras, o escritor – baseado no mundo real – cria um mundo ficcional, que nada mais é que uma 
criação, um fingimento da realidade:
A literatura é uma forma artística de comunicação e não visa apenas transmitir o fato, ela tece o 
acontecido, transforma-o, dando-lhe o traje mágico e emocional, tornando-o sadio e atraente 
para o engajamento da criança nele. 
(PAULINO, 1997: 118)
Assim, o texto literário passa a ser visto pelo prisma de que ele reflete não apenas o imaginário, pois 
ele se consolida na relação indireta com a realidade, o que corresponde, na prática, à teoria aristotélica da 
mimeses. O texto é uma transmutação da realidade. Desta feita, ele deve ser capaz de informar ao leitor, 
mas, sobretudo, deve levá-lo a obter um prazer estético que advém do seu poder de catarse. É nessa 
perspectiva que Ezequiel Theodoro da Silva afirmará que “a literatura é uma forma de encontro entre o 
homem e a realidade sócio-cultural; o livro [...] é sempre uma emersão do homem no processo histórico, é 
sempre a encarnação de uma intencionalidade, por isso mesmo ‘sempre reflete o humano’”.
1
Fonte [1]
Hoje em dia, segundo afirma Rogério Drago, “o lúdico, o imaginário está sendo esquecido, mutilado e 
trocado por objetos eletrônicos individualistas, por excesso de gestos agressivos, etc. Falta diálogo, falta 
conversa”.
A televisão, o vídeo game e tantas outras formas de diversão têm substituído o prazer que a criança 
sente quando entra em contato com o texto literário. Mais do que nunca se sente a necessidade de 
resgatar o que está sendo perdido – o gosto pela leitura, pela expressão oral e corporal, pela manifestação 
dos sentidos e dos sentimentos.
Em artigo publicado pela Revista AMAE/out.94, encontramos:
Não está só na escola a responsabilidade de formar o leitor. Todo esse fabuloso processo deve 
ter início no lar, quando a criança ainda é pequena. Mais tarde, ao se alfabetizar, já será um 
leitor em potencial. A grande dificuldade encontrada pelos pais e educadores é que a criança 
não quer saber de nada disso: o que ela quer é brincar, ter prazer, ser feliz... Criança quer 
distância de obrigações. Tudo bem! O livro também serve para isso, basta transformá-lo numa 
brincadeira divertida.
Em citação a Fanny Abramovich, Rogério Drago afirma: “é ouvindo histórias que se pode sentir 
[também] emoções importantes como tristeza, a raiva, a irritação, a tranquilidade, e tantas outras mais, e 
viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve”.
Além de proporcionar um aprendizado emocional, a literatura propicia também uma série de 
situações favoráveis a novas descobertas: “contato com a musicalização, com locais, com fatos 
históricos e geográficos, datas: trabalha-se com melodia, ritmo, expressão, oralidade e tantas outras 
formas de interdisciplinares de socialização e aprendizado” (DRAGO, 1998: 10). Quando a criança entra 
em contato com o universo literário, ela coloca em desenvolvimento outras funções afetivas, cognitivas e 
emocionais; portanto, cabe ao professor se concentrar na importância desse ato pedagógico que envolve 
“descoberta, experimentação, prazer, fruição, introspecção, discussão e crítica” (FLÔRES, 1996:25).
Benéficos das Histórias Infantis
De acordo com Olga Reverbel, os benefícios das histórias infantis são:
• Despertar para a leitura, para a interpretação, para a expressão.
• Permitir que o aluno se auto-expresse, explorando todas as formas de 
comunicação humana.
• Desenvolve o intelecto da criança.
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• Auxilia, a criança, a atuar nas mais diversas questões referentes a seu meio, tais 
como ganhar, perder morte, vida etc.
Outros aspectos
Outros aspectos podem ser acrescentados a esta listagem, tais como:
• Palavras novas são aprendidas,músicas são ouvidas e cantadas, culturas são 
conhecidas, etc.
• Estimula a criatividade e proporciona prazer estético.
• Desenvolve habilidades intelectuais e espirituais.
Desde os tempos mais remotos, as histórias têm sido narradas, de geração para geração, pela 
oralidade. Em Quer ouvir uma história?, Heloísa Prieto estabelece que "quando o professor se senta no 
meio de um círculo de alunos e narra uma história, na verdade cumpre um desígnio ancestral. Nesse 
momento, ocupa o lugar do xamã, do bardo celta, do cigano, do mestre oriental, daquele que detém a 
sabedoria e o encanto,  do porta-voz da ancestralidade e da sabedoria. Nesse momento ele exerce a arte 
da memória" (PRIETO, 1999:41) e rememora os tempos em que cantadores de histórias saíam de vilarejo 
em vilarejo encantando as pessoas com suas narrativas maravilhosas.
Ainda hoje, adultos e crianças sentem-se transportados, ao som de textos de encantamento, a 
mundos fantásticos, repletos de reis e rainhas, fadas e bruxas e toda sorte de seres mágicos que povoam 
o nosso imaginário:
Vindas do espaço sideral, o Outro Mundo, como diziam os celtas, do tempo dos sonhos, como 
acreditavam os aborígenes, do inconsciente coletivo, como afirma a teoria junguiana, as 
histórias nos cercam, formando um tecido diáfano, transparente, imperceptível ao olhar 
desatento, mas extremamente poderoso, um fio condutor no labirinto das nossas vidas. 
(PRIETO, 1999: 45)
Não é, pois, de duvidar que ouvir histórias simboliza, antes de tudo, viver um momento mágico de 
prazer e divertimento; reportar a situações que provoquem emoções, saudades, lembranças ressurgidas; 
aguçar o senso crítico e despertar a criatividade. Para isso, como afirma Fanny Abramovich, é importante 
que o cantador saiba utilizar, e bem, seu maior instrumento – a voz:
Para contar uma história – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem 
palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases e nomes... Se 
capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção... Ou se brinca com melodia dos 
versos, com acerto das rimas, com jogo das palavras... Contar histórias é uma arte... e tão 
linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem 
remotamente declamação ou teatro... Ela é o uso simples e harmônico da voz. 
(ABRAMOVICH, 1997:18)
No Brasil, em semelhança ao que ocorreu na Europa do século XVIII, a literatura infantil passou por 
um período de ascensão entre final do século XIX e início do século XX; entretanto, esse mesmo texto 
servia aos interesses educacionais. A escola passava a ser o paradigma a ser seguido, assim, a literatura 
acompanhava seus padrões, suas regras. Objetivava-se adaptar a criança aos moldes escolares; o 
pensamento crítico era ignorado, bem como o discurso estético. Sobressaia-se as funções utilitária e 
didática do texto literário, visando o ensinamento de regras de comportamento, valorizando a intenção 
moralizante do texto. A  consequência de tal atitude foi a atrofia do gosto de ler.
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Ainda no Brasil, na década de 80, ocorre o boom da literatura infantil. O livro passa a ser considerado 
elemento imprescindível ao crescimento intelectual e cultural. Começam a surgir programas de promoção 
da leitura. Estudos, seminários e publicações na área de literatura infantil começam a ser realizados:
São tentativas de democratização do livro num país em que as restrições econômicas da 
população só permitem esse tipo de investimento para uma faixa escassa. Portanto, são 
iniciativas que só se dimensionam em países não desenvolvidos. 
(CADEMARTORI, 1995:17)/span>
Inúmeros livros destinados a crianças passam a ser publicados; mas, infelizmente, obras de pouca 
qualidade, o que propicia a seguinte afirmativa de Antonio Candido: “Talvez o mais difícil de todos os 
gêneros literários seja a história para criança. Gênero ambíguo, em que o escritor é forçado a ter duas 
idades e pensar em dois planos: que precisa ser bem escrito e simples, mas ao mesmo tempo bastante 
poético para satisfazer um público mergulhado em visões intuitivas e simplificadoras”.
Tal pressuposto reafirma a posição de diversos estudiosos da área: literatura infantil não é literatura 
menor, ela enfrenta os mesmos problemas de um mau romance, uma má crônica e assim por diante.
Horácio, na antiga Roma, propunha que a arte fosse “doce e útil”. Ora, em se tratando de literatura 
infantil, o texto deve cumprir dupla função: encantamento (correspondente à função estética da literatura) 
e utilidade pelo atendimento às questões históricas, sociais, etc. Assim, ao texto cumpre divertir – vez que 
é instrumento de ludicidade - e instruir ao mesmo tempo.
Ler... Que magia! Ler é “suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas 
perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar questões [...]. É uma possibilidade de descobrir o 
mundo dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos...” (ABRAMOVICH, 
1997:17). É por essas e outras questões que Richard Bamberg, entre outros, salienta a importância do 
hábito de ler.
Afinal, o texto só alcança sua manifestação plena na literatura e só atinge o 
leitor se esse for capaz de interpretá-lo. Interpretar é o caminho da descoberta e 
ao já interpretado cabe à reinterpretação; sim, porque a cada releitura o texto 
revela um poder de imantação antes desapercebido.
"Fruir o texto significa descobrir a vida enredada em suas malhas. Significa perceber a realidade de 
forma mais palpável através da impalpável trama da linguagem" (VARGAS, 2000: 07). É na tessitura do 
texto que se tece o tecido da imaginação. E, nesse universo ficcional, as crianças se projetam, até a forma 
inconsciente, tentando sublimar ou mesmo encontrar respostas para seus problemas existenciais. Não é à 
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toa, pois, que Maria Helena Martins, em O que é literatura, p. 48, afirma que o ato de ler, e aqui poder-se-ia 
acrescentar o ato de ouvir histórias, "nos faz ficar alegres ou deprimidos, desperta a curiosidade, estimula 
a fantasia, provoca descobertas, lembranças...", propicia um crescimento pessoal, auxilia na compreensão 
do mundo e na transformação individual. A imaginação é aguçada e a crítica pessoal passa a ser 
desenvolvida. Assim, o leitor/ouvinte de histórias infantis começa a vislumbrar "como a realidade poderia 
ser diferente" (SILVA, 1986:26).
Com isso, o espírito de cidadania, o desejo de transformação do mundo e de si mesmo começam a 
ser despertados, pois que ele passa a acreditar no fato de que "falo, ouço; escrevo, leio; volto-me ao outro, 
comunico-me. Situo-me com os outros; busco a união através das coisas do mundo. Esta busca é medida 
por um determinado tipo de linguagem – sem ela inexistiria a possibilidade de expandir as minhas 
experiências e de participar da transformação da cultura. Ganho minha existência, passo a existir à 
medida em que me situo dentro do mundo sígnico que me envolve, dentro das linguagens captadas pela 
minha percepção e levadas até a minha consciência" (SILVA, 1991: 65,66). Assim, em uma educação 
voltada para o século XXI, é de fundamental importância o hábito de leitura, do ouvir e do contar histórias. 
Isso porque, dentre outros aspectos, a leitura/literatura propicia o desenvolvimento linguístico – fator 
fundamental quando se trata da língua/linguagem enquanto instrumento de poder ou quando se aborda a 
ideia da produção, interpretação, reflexão crítica e imaginativa do texto literário como facilitador do acesso 
do educando aos bens culturais e ao exercício da cidadania.
Poder-se-ia, aqui, abrir alguns parênteses para algumas poucas reflexões acerca deste tema.
Mais do que nunca a linguagem vem ganhando papel primordial no cenário atual e mundial. Seu poder 
é inquestionável. Ela é capaz de mover multidões, desencadear guerras ou estabelecer a paz; transformar 
indivíduos e possibilitá-los a romper barreiras sociais. Elaencobre mentiras na mesma proporção em que 
pode fazê-las se revelar; encoraja o indivíduo ou o abate... Sua força é realmente incontestável. É nesse 
sentido que se torna imperativo capacitar o indivíduo a uma defesa social por meio da linguagem, 
ajudando-o também a crescer na modalidade escrita, "cujos produtos podem circular e produz mais 
criatividade e maior confiança dos indivíduos na expressão dos seus próprios pensamentos" (GNERRE, 
1987:47).
A capacitação do indivíduo quanto à descoberta e difusão de seu potencial linguístico deve ser 
abarcada por uma visão democrática social. Afinal, como estabelece Gonçalves Filho:
A língua é um grande projeto de formação da cidadania, por meio da qual o homem toma 
conhecimento dos direitos que lhe garantem e protegem a vida, nas condições de produção de 
sua vida social e individual [...]. O domínio da língua significa o ingresso no universo de homens 
livres, gera resistência à opressão. Ao homem que é negado o direito de falar e escrever, tudo 
lhe é negado. 
(FILHO, 1991:15)
De fato, a competência linguística auxilia no aprimoramento cultural e na capacitação do indivíduo 
para o ingresso na chamada sociedade letrada, bem como funciona como instrumento necessário na luta 
contra a desigual distribuição de privilégios sociais, econômicos e culturais. “O domínio da norma culta 
contemporânea, consequentemente, é a “ferramenta” mais importante para a superação das 
desigualdades sociais”.
Uma das grandes formas de incorporação da língua-padrão e do posicionamento crítico frente às 
injustiças sociais é o hábito de ler, ouvir e contar histórias. E para que esse hábito se efetive, importante é 
formá-lo, desde a mais tenra idade, como o convívio da criança com livros sem texto, com histórias 
narradas pela imagem – a chamada leitura de imagem. Mais uma vez, descortina-se a importância da 
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literatura infantil. Assim, deter-se ao universo do livro; decifrar seu código; sentir seu cheiro – eis a magia 
que deve ser perpassada constantemente. Por isso, leia...
Leia livro, leia folheto
Leia revista, leia jornal
Leia bula de remédio, panfletos e notícias
Mas leia!
Leia pesquisa, encartes e poesias
Mas leia!
Leia crônicas, contos, fábulas e mitos
Mas leia!
Depois conte...
Conte uma história,
Um caso, uma piada
Um fato banal
Mas conte!
E então transforme...
Transforme os que te cercam:
Os que te ajudam,
Os que escutam,
Os que estudam,
Os que ouvem
Atendem, meditam
Mas transforme!
Afinal, já dizia Guimarães Rosa: “O que eu vi sempre, é que toda ação principia mesmo é por toda 
palavra pensada. Palavra pegante, dada ou guardada, que vai rompendo rumos”. Rompa os rumos. Leia, 
escute e conte uma história!
FÓRUM
Vamos estender nossa discussão sobre literatura infantil, fazendo a leitura dos seguintes textos 
complementares:
1. "Literatura infantil: arte literária ou pedagógica?" (Nelly Novaes Coelho). 
2. "Por uma arte de contar histórias" (Fanny Abramovich).
Após a realização da leitura dos textos acima propostos, reflita e discuta, com seus/suas colegas 
e com o/a tutor/a de sua turma, as questões abaixo elencadas:
- Qual a importância da literatura infantil na formação leitora da criança?
- O que caracteriza o texto literário voltado para o público infanto-juvenil?
- A literatura infantil pertence à arte literária ou à arte pedagógica? Ela deve 
iinstruir e/ou divertir?
- Como a criança pode ser beneficiada por meio da audição e leitura de histórias?
- Por que é importante ler e contar histórias para as crianças?
- O que deve ser observado na contação de histórias?
Lembre-se que outras questões podem ser suscitadas pela turma e discutidas nesse fórum.
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LEITURA COMPLEMENTAR
A seguir propomos dois textos para complementar nosso estudo da Aula 01.
Literatura Infantil: Arte Literária ou Pedagógica? (Visite a aula online para realizar download deste 
arquivo.)
Por uma Arte de Contar Histórias (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)
REFERÊNCIAS 
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipionse, 1997.
BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. São Paulo: Ática, 1986.
BECHARA, Evanildo. Ensino da gramática: opressão? liberdade?São Paulo: Ática, 1986.
BORDIN, Maria da Glória. Literatura na escola de 1º e º graus: por um ensino não alienante. A 
literatura infantil no Rio Grande do Sul. Relatório de pesquisa. Porto Alegre – Centro de Pesquisas 
Literárias: PUC/RS, 1980.
CADEMARTORI, Ligia. O que é literatura infantil.  São Paulo: Brasiliense, 1994.
FILHO, Antenor A. Gonçalves. Língua portuguesa e literatura brasileira. São Paulo: Cortez, 1990.
GNERRE, Maurizzio. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1993.
PAULINO, Graça (org.) O jogo do livro infantil: textos selecionados para a formação de 
professores.Belo Horizonte: Dimensão, 1997.
PRIETO, Heloísa. Quer ouvir uma história? Lendas e mitos do mundo da criança. São Paulo: Angra, 
1999.
REZENDE, Stela Maris. Graciliano Ramos e a literatura infantil. Brasília, 1988 (Tese de Mestrado). 
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Elementos de pedagogia da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
_______________________. Leitura na escola e na biblioteca. São Paulo: Papirus, 1986.
_______________________. O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma novapedagogia da leitura. 
São Paulo: Cortez, 1991.
SILVA, Ezequiel Theodoro da & ZILBERMAN, Regina. Leitura: perspectivas interdisciplinares. São 
Paulo: Ática, 1991.
VARGAS, Suzana. Leitura: uma aprendizagem de prazer. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000.
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Literatura Infantil Universal 
Aula 01: Literatura Infantil e Gêneros Literários 
Tópico 02: Gêneros Literários
Conceito
Segundo Victor Manuel de Aguiar e Silva em Teoria da Literatura, os gêneros literários podem ser 
considerados “categorias que regulam particulares classes de textos”. A formação dessas categorias se 
dá por meio da relação de dois tópicos importantes: a forma de expressão e a forma de conteúdo. Forma 
de expressão seria a manifestação estrutural do texto, ou seja, a escrita em versos ou em prosa da obra 
literária; a forma de conteúdo, por sua vez, abordaria a mensagem na qual o texto está pautado, a saber, o 
sentimento, a narração ou a representação. Assim sendo, atualmente, os gêneros literários se mantêm 
classificados da seguinte forma:
Gênero Lírico
O gênero lírico trabalha com as emoções por meio de manifestação poética. 
Antigamente, os textos eram feitos para serem cantados, acompanhados por um 
instrumento musical chamado de lira, daí o nome gênero lírico. Essa estrutura 
foi utilizada até o séc. XV. A partir desse período, a instrumentalização foi 
abandonada e os recursos estilísticos (rima, métrica, figuras de linguagem) 
passaram a ser utilizados para que a musicalidade do texto continuasse 
ocorrendo mesmo depois do abandono da lira. Talvez, um dos tipos de poesias 
mais utilizados seja o soneto, entretanto outros tipos de textos poéticos também 
são usados com frequência.
Gênero Dramático
O gênero dramático se fundamenta na representação (manifestação teatral), 
sendo subdividido em diversas categorias: tragédia, comédia, tragicomédia, 
drama, etc.
Gênero Narrativo
Caracterizado pela narração, o gênero narrativo elabora um fingimento de 
realidade no texto ficcional. Ele abarca, dependendo da tendência trabalhada, o 
mundo do possível, o faz de conta. Hoje, o gênero narrativo é subdividido em 
duas manifestações literárias:
1.1 Epopeia.
1.2 Ficção e seus desdobramentos: romance, conto, novela, fábula, mito, 
lenda, crônica, conto maravilhoso, etc.
Vejamos a análise de algumas categorias pertencentes à ficção:
Conto Popular
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O conto popular é considerado a forma mais universal de transmissão da 
cultura de um povo. Ele documenta usos, costumes, fórmulas jurídicas, folclore, 
etc., podendo se manifestar por meio de históriaspopulares.
As caracterizações essenciais do conto popular podem ser listadas da seguinte maneira:
Uso da transmissão oral caracterizada pelo tom de espontaneidade.
Anonimato do autor, pois que sua criação é coletiva.
Distância no tempo.
Abarca uma moral natural, trabalhando relações entre forte e fraco, rico e pobre, bem e mal, 
etc.
Normalmente, apresenta suspense que acaba provocando riso.
No Brasil, os contos populares têm raízes rurais e remontam aos famosos “causos”. De forma geral, 
outras manifestações do conto popular seriam: os contos de fada, as fábulas.
Fábula
A fábula é considerada uma narrativa curta, possuidora de uma estrutura 
mínima de enredo e de uma moral implícita ou explícita.
Massaud Moisés a caracteriza afirmando que, “no geral, [ela] é protagonizada por animais irracionais, 
cujo comportamento, preservando as características próprias, deixa transparecer uma alusão, via de regra 
satírica ou pedagógica, aos seres humanos” (MOISÉS, 1999: 226).
Na Antiguidade Clássica, a fábula foi cultivada por Esopo e Fedro; na Idade Média era um gênero 
extremamente apreciado, mas foi na Modernidade, com La Fontaine (entre 1668-1694) que as fábulas 
entraram na moda.
Até o século XVIII, as fábulas foram escritas em verso; logo depois, a prosa passou a ser o veículo de 
expressão adotado por esse tipo de gênero. Sempre envolvida por um universo metafórico (Ex: formiga = 
trabalho, leão = força, raposa = astúcia, lobo = poder despótico, etc.), a fábula representava, para 
Aristóteles, a “imitação de ações”, “a composição dos atos”, consequentemente, a propagação de uma 
ideologia.
Lenda
Etimologicamente, lenda vem do latim “legenda”, que significa “o que se 
deve ler”.
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Inicialmente, na Idade Média, a lenda era utilizada para relatar a vida dos santos e mártires da Igreja 
Católica. A primeira coletânea publicada nesse sentido denominava-se Legenda sanctorum. Assim, a 
utilização primeira do gênero já pressupunha, desde o início, uma imitação – as hagiografias deviam ser 
lidas para que as virtudes dos heróis religiosos fossem imitadas.
A lenda pode ser encarada também como um fato historicamente não comprovado, como as histórias 
do Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda, ou ainda Carlos Magno e os Dozes Pares de França. 
Nesses casos, “a verdade [dos fatos] se perde no correr do tempo, de molde a substituir apenas a versão 
folclórica dos acontecimentos” (MOISÉS, 1999: 305).
Outra conotação assumida por esse tipo de narrativa é a de “história que apresenta uma explicação, 
um exemplo” – é o caso das lendas indígenas.
De uma forma geral, as lendas procuram transmitir a sabedoria de uma comunidade na interpretação 
de determinados fenômenos, daí sua aproximação com os mitos.
Mito
O mito pode ser conceituado como narrativa simbólica referente aos 
deuses. Assim sendo, nele está inserida uma concepção religiosa que tenta 
explicar a origem das coisas, tal como acontece na explicação da formação da 
humanidade por meio do mito de Pandora.
De origem popular e aceitação coletiva, os mitos representam metáforas que servem como 
paradigmas para o comportamento humano. Assim, em Eros e Psique tem-se a busca do amor; em 
Dionísio, a busca da libertação; em Narciso, a análise do amor próprio; em Ártemis, a simbologia da força e 
da determinação; em Palas Atena, a representação da inteligência, etc.
As características básicas do mito podem ser listadas da seguinte maneira:
Autor não identificado.
Tempo indeterminado (tudo acontece a muito tempo atrás).
Materializa-se, principalmente, sob a forma literária.
É dinâmico, desenvolve-se e atualiza-se.
Seus personagens não envelhecem, representam valores eternos.
Crônica
Etimologicamente, crônica vem do grego “kronos”, que significa tempo. 
Assim, ela implica no conceito de “registro de acontecimento num tempo e num 
espaço determinados” (MOISÉS, 1999: 123).
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Para Massaud Moisés, “a crônica é reproduzida por poetas e ficcionistas que, embora possam apoiar-
se em fatos acontecidos, transformam a realidade do dia a dia pela força criadora da fantasia” (MOISÉS, 
1999: 123).
Dentre os autores/as que cultivam esse gênero tem-se: Carlos Drummond de Andrade, Machado de 
Assis, Rubem Braga, Fernando Sabino, entre tantos outros/as.
Narrativa curta, a crônica prima pela recriação da realidade.
No início da era cristã, a crônica era tida como uma listagem de acontecimentos arrumados conforme 
a sequência linear do tempo (registro de eventos). Depois, na Idade Média, Fernão Lopes começou a 
executá-la como forma de relatar fatos históricos.
No Renascimento, o termo crônica começou a ser substituído por “história”. É só no século XIX que o 
caráter literário passa a ser incorporado nesse gênero literário. Nessa época, as crônicas eram publicadas 
nos folhetins (jornais).
Hoje, enquanto ficção moderna, a crônica é “publicada em jornais ou revista e muitas vezes reunida 
em volume, concentra-se num acontecimento diário que tenha chamado à atenção do escritor” (MOISÉS, 
1999:133).
EXERCITANDO
Analise os gêneros discursivos ficcionais estudados neste tópico (conto popular, fábula, lenda, 
mito, crônica) para a realização desta atividade. Agora, procure uma obra infanto-juvenil que 
represente uma das tipologias textuais acima elencadas, estabelecendo características que 
justifiquem sua inserção nessa classificação.
REFERÊNCIAS 
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro:  Paz  e Terra, 1980.
CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. São Paulo: Associação Palas Athenas, 1990.
ELIADE, Mircea. Mitos, sonhos e mistérios. Lisboa: Edições 70, s/d.
JABOUILE, Victor. Do  mythos  ao  mito: uma introdução à problemática da mitologia. Lisboa: Edição 
Cosmos, 1993.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 1999.
PERRAULT, Charles. Contos de Perrault. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989.
PROPP,  Vladimir.  As  raízes  históricas  do  conto  maravilhoso.  São  Paulo:   Martins Fontes, 1997.
_______________.  Morfologia   do   conto   maravilhoso.   Rio   de   Janeiro:   Forense Universitária, 
1984.
SILVA, Victor Manuel de Aguiar e. Teoria  da  literatura. Coimbra: Livraria Almedina, 1988.
TAVARES, Jorge Campos. Deuses,  mitos  e  lendas.  Porto:  Lello  &  Irmão  Editores, 1992.
WARNER, Marina. Da  fera  à  loira:  sobre  contos  de  fadas  e  seus  narradores. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1999.
11
Literatura Infantil Universal 
Aula 01: Literatura Infantil e Gêneros Literários 
Tópico 03: Contos de Fada: Era uma vez...
VERSÃO TEXTUAL 
Os contos de fada se caracterizam pela manifestação do maravilhoso.
Etimologicamente, maravilhoso vem do latim mirabilia, que significa “tudo que desencadeia a 
admiração pela surpresa” (MOISÉS, 1999: 318). O maravilhoso está associado ao mundo 
sobrenatural: universo dos deuses, magia, bruxedos, cavalos alados, serpentes de fogo, etc., e é 
assim que os contos de fada estão caracterizados.
Para Vladimir Propp, em As raízes históricas do conto maravilhoso, p. 04, há que se observar a 
estrutura desse tipo de narrativa: "partida do herói, encontro com o doador que lhe dá um recurso mágico 
ou um auxiliar mágico munido do qual poderá encontrar o objeto procurado. Seguem-se: o duelo como 
adversário (cuja forma mais importante é o combate com o dragão), o retorno e a perseguição. [...] o herói 
[...] passa por uma provação cumprindo tarefas difíceis, torna-se rei e casa, em seu reino ou no do sogro". 
Ora, esse esquema pode ser verificado em histórias como "A Bela Adormecida", "Branca de Neve e os Sete 
Anões", "Cinderela" e tantos outros contos de fada.
Acredita-se que a origem dos contos de fadas remonte a fontes 
orientais e célticas que, a partir da Idade Média, foram assimiladas por 
textos de origens europeias.
Entre os celtas, os contos surgem como "poemas que revelam amores estranhos, fatais, eternos... 
Poemas que são apontados como células independentes, mais tarde integradasno ciclo novelesco 
arturiano, essencialmente idealistas e preocupado com os valores eternos do ser humano: os de seu 
espírito" (COELHO, 1998:14).
Inicialmente narrados de forma oral, eles foram sendo repassados de geração para geração, pois 
cumpriam uma necessidade cultural – ensinavam sobre os problemas interiores dos seres humanos, 
abrindo possibilidades de solucionar dificuldades. Com o passar do tempo, modificações estruturais e 
temáticas foram sendo efetuadas dada a dificuldade de cada cultura. Nesse universo, coube a Charles 
Perrault, no século XVII, a compilação dessas histórias que, há anos, estavam sendo contadas. Em um 
primeiro momento, Perrault as nomeou de Contos da mamãe gansa; depois, modificou o nome para 
Contos de tradição arábica, acrescentando nesses contos a famosa "moral da história". 
Atualmente, muito se tem falado sobre a psicanálise dos contos de fadas, dando-lhes, sobretudo, um 
enfoque freudiano e/ou jounguiano. Interpretações psicológicas têm sido realizadas de forma 
contundente, pois o material ideológico dos contos continua sendo atual. Mais que histórias para crianças, 
eles representam, metaforicamente, a busca da individualização e seus conteúdos conservam mensagens 
de advertência, de crescimento, etc. que, principalmente os adultos, deveriam entender e incorporar. Nesse 
contexto, poder-se-ia dizer que "A Bela Adormecida"é caracterizada por um processo de individualização; 
em "Cinderela"a rivalidade fraterna, a relação edípica e o complexo de Cinderela são abordados; a história 
de "Os Três Porquinhos"abarca uma mensagem de coragem que inspira confiança e fortalece a 
12
autoestima do leitor; "Chapeuzinho Vermelho"previne contra o descuido e ensina a determinação e 
independência; "João e Maria"demonstram que os fraquinhos podem conseguir grandes feitos, que não se 
deve desanimar mesmo nas piores situações porque a união faz a força.
Apesar de cada cultura estabelecer a sua versão dos contos de fadas, eles mantêm, entre si, uma 
efabulação básica: há "provas que precisam ser vencidas, como um verdadeiro ritual iniciático, para que o 
herói alcance sua autorrealização existencial, seja pelo encontro com o seu verdadeiro eu, seja pelo 
encontro da princesa, que encarna o ideal a ser aclamado" (COELHO, 1998:13).
Em O conto na psicopedagogia, Jean-Marie Gillig afirmaria a esse respeito: 
"O conto reproduz num outro plano esse argumento de iniciação em que a luta 
contra o monstro (o mal), os obstáculos a serem vencidos e os enigmas a 
serem resolvidos são o equivalente, do ponto de vista dos motivos, à descida 
ao inferno e à subida ao céu". Sendo assim, os contos sugerem como os 
conflitos poder ser solucionados e quais os próximos passos a serem dados na 
direção de uma humanidade mais elevada.
Os contos de fadas utilizam ou reinterpretam questões universais, tais como os conflitos do poder e a 
formação dos valores, por meio da mistura do real e da fantasia. Utilizando-se do maravilhoso, os contos 
representam traços do fantasma na vida cotidiana de cada um, não perdendo, com isso, seu valor estético. 
Antes de tudo, "o contista é [...] o encantador que leva as crianças consigo para o mundo da magia e do 
encantamento, mas, é claro, com o consentimento delas" (GILLIG, 1999:70).
O encantamento se mistura a questões inconscientes do universo infantil (decepções narcisistas, 
dependências infantis, sentimento de individualidade e de autovalorização, etc.) e a criança, por um 
processo de identificação como as personagens dos contos de fadas, encontra um espaço para a 
elaboração de suas angústias cotidianas. Para Márcia Feldman, "enquanto a literatura crítica e realista 
oferece à criança um acervo que a capacita na direção da cidadania, num sentido político e ideológico, a 
literatura fantástica oferece outro tipo de material de trabalho e espaço de elaboração para o seu leitor: o 
espaço simbólico, arquetípico, que remexe as profundezas ancestrais de nosso ser num sentido 
existencial, psicológico, afetivo; enfim, num sentido de discussão política, por si só, não alcança até por 
não se propor a isso".
DICA
Os benefícios dos contos de fadas são inúmeros. Além de servirem de alívio à alma, funcionam 
como excelente auxiliar pedagógico. Cada elemento do conto tem um papel significativo. Suprimir-lhe 
uma parte, ou acentuá-la é impedir que a criança compreenda sua verdadeira essência – “os símbolos 
organizam-se na história, formando uma composição cujos elementos não podem ser dissociados, 
sob pena de prejudicar a sua significação global”
Os leitores de contos de fadas devem ter em mente que o encantamento destes se dá pelo prazer da 
redescoberta que eles propiciam: "criar e contribuir para a cultura existente não é apenas uma questão de 
ser um gênio criador individual ou de produzir uma obra-prima excepcional. Nós, o público, você, o leitor, 
também fazemos parte do futuro do conto – seus traços emergem sob a pressão das suas mãos, de 
nossos dedos" (WARNER, 1999:451).
Os contos oferecem uma metamorfose mágica para aqueles que dele se aproximam; possibilitam e 
incentivam a imaginação, mesmo porque "nenhuma história é igual a sua fonte ou modelo, pois a química 
13
entre narrador e público a transforma" (WARNER, 1999:458). A utopia é um dos portais por eles abertos: 
Quem não gostaria de transformar o planeta? Tornar-se rei ou rainha de um reino harmônico? Os contos 
despertam a criatividade e transportam-nos para o mundo do faz de conta, o mundo do possível – "os 
contos de fadas sondam as regras: a porta proibida abre para uma terra nova onde regras diferentes 
podem vigorar" (WARNER, 1999: 455). É por meio deles que intuímos aspirações e preconceitos, medos e 
desejos, alegrias e tristezas, lágrimas e risos, mas, acima de tudo, prazer.
Esse prazer pode ser originado tanto pelo conto como pelo seu reconto. Hoje, muito se tem realizado 
na linha do reconto. O que dizer da história de "Os Três Porquinhos"sob a voz do lobo mau? Ou da 
atualização de "Cinderela", agora com um par de tênis? É nessa perspectiva que textos como A verdadeira 
história dos três porquinhos, de Jon Scieszka, O par de tênis, de Pedro Bandeira, Chapeuzinho amarelo, de 
Chico Buarque, vêm sendo produzidos. O mesmo ocorre com filmes tais como: "A floresta negra", 
"Inteligência artificial" e "Sherek". Nessas produções, procura-se desvendar algo que talvez não tenha sido 
elucidado na história original: uma voz que se calou; um final que não agradou... enfim, uma palavra não 
dita, ou dita sob um único enfoque. Seja pelo conto, ou seu reconto, o importante é que o texto, por 
intermédio do maravilhoso, conduz o leitor a um universo de magia. Não é pois, de estranhar, o dito por 
Ângela Kleiman: "Ler é identificar-se com o apaixonado ou com o místico. É ser um pouco clandestino, é 
abolir o mundo exterior, deportar-se para uma ficção, abrir o parêntese do imaginário.  Ler é muitas vezes 
trancar-se (no sentido próprio e figurado). É manter uma ligação através do tato, do olhar, até mesmo do 
ouvir (as palavras ressoam). As pessoas leem com seus corpos. Ler é também sair transformado de uma 
experiência de vida, é  esperar alguma coisa. É um sinal de vida..."
Quando esse sinal de vida se manifesta, as produções começam a brotar de forma encantadora e 
outras tantas histórias começam a surgir como retrato, já modificado, do mundo de magia já vislumbrado 
pelo universo infantil.
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Assista ao filme SHREK 1, dirigido por Andrew Adamson e Vicky Jenson, e estabeleça, a partir da 
análise dessa película, uma contraposição entre os contos de fada tradicionais e os recontos desse 
gênero discursivo na atualidade. Procure observar: enredo, caracterização dos personagens, a 
intencionalidade do texto, entre outras questões.
REFERÊNCIAS 
ABRAMOVICH, Fanny. A literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1980.
COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas. São Paulo: Ática, 1998.
GILLIG, Jean-Marie. O conto na psicopedagogia. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
KHEDE, Sônia Salomão. Personagens da literatura infanto-juvenil. São Paulo: Ática, 1986.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 1999.
PERRAULT, Charles. Contos de Perrault. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989.
PROPP, Vladimir. As raízes históricas do conto maravilhoso. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
_______________. Morfologia do conto maravilhoso.  Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1984.
SILVA, Victor Manuel de Aguiar e. Teoria da literatura. Coimbra: Livraria Almedina, 1988.
14
WARNER, Marina. Da fera à loira: sobre contos de fadas e seus narradores. São Paulo: Companhia 
das Letras, 1999.
Fontes das Imagens
1 - http://i.imgur.com/bzjzIzP.jpg
15
Literatura Infantil Universal 
Aula 02: Contação de Histórias e Leitura da Imagem 
Tópico 01: Recursos Técnicos de Contação de Históriasa
Antes de iniciar a contação de histórias, é necessário que a criança saiba o título do livro, o nome do 
autor e a editora da história narrada. É importante, também, que o contador de história faça uso de todos 
os recursos que ele dispõe.
Vejamos alguns exemplos de recursos pedagógicos que podem ser utilizados na narração de uma 
história:
DESENHOS 
À medida que a história vai sendo contada, o desenho vai surgindo aos 
poucos, traço por traço. Ao final da narrativa, o desenho estará completo.
DEDOCHES 
São pequenos fantoches utilizados nos dedos. Também podem ser feitos e 
apresentados pelas próprias crianças.
DRAMATIZAÇÃO 
Pode-se dramatizar a história toda ou alguns trechos.
FANTOCHES 
Nesse recurso, podem ser utilizados mais de um narrador. Outra vantagem 
é que se pode ter o roteiro escrito, o que facilita a tarefa. Os fantoches também 
podem ser usados de forma interativa com as crianças, ou seja, elas mesmas 
podem manuseá-los, ou mesmo fazer os bonecos de cartolina com roupas de 
papel crepom.
CENÁRIO 
Figuras sobre o cenário: o cenário é um quadro básico, e as figuras vão 
compondo as cenas conforme o desenrolar da história.
16
GRAVURAS 
Faça uma sequência de imagens e a exponha à medida que a narração 
evolui.
NARRAÇÃO 
Interação com a narração: é feita uma canção para ser usada em 
momentos-chaves: em um perigo, para determinado personagem, por exemplo.
INTERFERÊNCIA 
A interferência será feita em um momento oportuno, escolhido pelo 
narrador, onde os ouvintes devem proferir, em coro, uma palavra, várias 
palavras, uma frase, parte de uma frase, uma pequena melodia, um aplauso, etc.
MARIONETES 
São bonecos comandados por fios presos na cabeça, nas mãos e nos pés. 
A cena desenrola-se no chão e os operadores ficam colocados atrás de um 
pequeno cenário.
O AVENTAL 
O avental é composto por bolsos nos quais as imagens deverão estar 
guardadas e, no decorrer da narração, vai se anexando cada imagem referente a 
cenário, personagens..., no avental.
O CANTO 
O narrador deve contar a história cantando.
O LIVRO 
17
O próprio livro: use um livro com boas e fartas ilustrações e, enquanto narra 
a história, apresente as imagens correspondentes.
TEATRO I 
Teatro de sombra: uma luz projeta figuras em uma superfície opaca. A 
sombra de bichinhos é feita com as mãos ou com figuras recortadas. A 
apresentação pode conter músicas e efeitos especiais.
TEATRO II 
Teatro de varas: faça as personagens em tamanho grande, com papel 
cartão grosso e prenda-os em varetas de madeira.
FÓRUM
Os recursos técnicos de contação de histórias são valiosos instrumentos para suscitar a 
curiosidade das crianças e lhes prender a atenção no momento da roda de leitura, por exemplo. 
Embora tenhamos, neste tópico, dado várias sugestões de recursos que podem ser utilizados, em 
sala de aula, na contação de histórias, procure, em livros didáticos e teóricos (ou até mesmo na 
internet), outros materiais que possam ser utilizados, pedagogicamente, nessa atividade com as 
crianças.
O objetivo deste fórum é, pois, estabelecer uma troca de informação e de sugestões 
metodológicas, entre os/as colegas da turma e o/a tutor/a, sobre materiais que estimulem a 
criatividade do público infantil na audição de textos infanto-juvenis.
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Literatura Infantil Universal 
Aula 02: Contação de Histórias e Leitura da Imagem 
Tópico 02: Roteiro para a Seleção de Livros de Ficção
VERSÃO TEXTUAL 
São recomendados livros que proporcionem prazer e despertem o interesse do leitor; que 
reúnam qualidades literárias e gráficas, valorizando o livro como um objeto integral onde a 
edição, o texto e a imagem estejam efetivamente articulados.
Com relação à qualidade literária, o/a professor/a deve estar atento à(s)/ao(s):
Singularidade, riqueza e força expressiva da linguagem.
Uso adequado da linguagem vernácula.
Regionalismos, que deverão ser entendidos no contexto.
Em poesia, considerar:
• Obras capazes de tocar a sensibilidade do leitor, seja pela expressão da 
sensibilidade, pela riqueza da imagem ou pelo caráter lúdico.
• Poemas com uma linguagem sugestiva, em que a combinação ou o jogo das 
palavras criem associações novas, reveladoras de novas percepções.
• As que possuem ritmos, sonoridade e musicalidade na linguagem.
• Aquelas com bom manejo da rima e da versificação (no caso da poesia 
rimada).
• As que explorem, com originalidade, figuras literárias: imagens, metáforas, 
comparações, entre outras.
OBSERVAÇÃO
Uma verdadeira poesia será lida com igual prazer tanto por criança como por adultos, pois o/a 
autor/a não “infantiliza” a linguagem.
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Em prosa, considerar:
• Histórias ou narrativas emocionantes e divertidas.
• As origens no tratamento do tema.
• Aquelas com uma criação adequada de personagens que evoluam no decorrer 
do desenvolvimento da obra, sejam eles humanos, animais, objetos ou seres 
fantásticos.
• Aquelas com a visão coerente do mundo em que se movem as personagens 
reais ou fantásticos.
• Histórias com um manejo hábil das sequências temporais e de diversos 
elementos de ação, surpresa e humor que mantenham a tensão do narrado.
• Histórias que surpreendam o leitor, mesmo em se tratando de temas já 
conhecidos e explorados.
Em caso de tradução, observar:
• As que são realizadas, diretamente, de obras originais.
• As que possuem adequação ao vocabulário e à sintaxe do português.
• As que apresentam uma linguagem fluida, permitindo uma compreensão 
global do que se lê.
• As que permitem perceber a diversidade cultural dos povos.
Em caso de adaptações, verificar:
• Somente as que conservam o sentido da obra original..
• Aquelas em cuja capa ou folha de rosto anuncie se tratar de uma adaptação, 
com inclusão de um prólogo em que o adaptador explique os princípios e 
métodos de seu trabalho.
• Obras de tradição oral ou clássica de outras culturas cujo acesso para nossas 
crianças e jovens nem sempre seja facilitado.
Em caso de livros sem texto, 
observar:
• Não condicionar a seleção a ilustrações coloridas.
• Aqueles que reúnem originalidade na ilustração, quer na técnica, quer no 
acabamento.
• Os que dispensam qualquer explicação, sendo a imagem suficiente para 
expressar a história.
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Quanto à qualidade gráfica, exigir:
• Boa diagramação, que não superponha texto e imagem e ocupe, 
harmoniosamente, o espaço da folha.
• Livros bem conhecidos do ponto de vista de produção técnica: com indicação 
bibliográfica, páginas numeradas, etc.
• Aqueles com capa atrativa (seja rústica ou elaborada, em branco e preto ou 
em cores), mas que remeta ao conteúdo do livro. 
• Aqueles com formato adequado, com uma diagramação que facilite a leitura. 
• Aqueles com bom tamanho de letra 
• Livro bem encadernado, preferivelmente costurados ou grampeados, que 
possam ser manuseados sem soltar as folhas. 
• Livros com boa qualidade de papel e que permita a apreciação das ilustrações 
(sobretudo no caso de livros com ilustraçõescoloridas). 
Quanto à ilustração, dar 
preferência:
• Àquelas que forem expressivas, originais, atrativas e lúdicas. 
• Às que se enlacem com elementos do texto e transmitam o clima e o sentido 
da obra sem retratar mecanicamente o texto. 
• Àquelas que expressam a destreza e o domínio que o ilustrador possui, 
independentemente da técnica utilizada (aquarela, lápis, colagem, grafite, 
gauche, etc.) ou do estilo (realista, fantástico ou caricaturesco). 
• Àquelas em branco/preto ou a cores, mas realizadas com o sentido estético 
apurado. 
• Às que tenham personagens expressivas, de características particulares e 
diferenciadoras, descartando preconceitos. 
• Às que mantenham a coerência de cada personagem nas diferentes ocasiões 
ou episódios em que eles se encontrem. 
• Às que deleitem os leitores e lhes permitam ampliar e enriquecer sua 
imaginação.
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Neste tópico, foram analisados critérios para escolha de 06 (seis) tipos de textos: poesia, prosa, 
tradução, adaptação, livros sem texto (leitura da imagem) e quadrinhos.
Escolha uma obra infanto-juvenil (que se enquadre em um dos tipos de textos acima 
enumerados) para analisá-la sob o prisma qualitativo e responda, de forma argumentativa, à seguinte 
pergunta: A leitura do livro escolhido é recomendável para o público infantil ou não? Por quê?
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Literatura Infantil Universal 
Aula 02: Contação de Histórias e Leitura da Imagem 
Tópico 03: Leitura da Imagem
Não é de hoje que editoras inglesas, japonesas, americanas, alemãs e outras colocam nas 
estantes de livrarias de todo o mundo belíssimas publicações totalmente sem textos... Ou 
melhor, com narrativa apenas visual, onde toda a história é contada através de desenhos ou 
fotos, sem nenhuma palavra...
Aqui no Brasil, algumas décadas atrás, algumas editoras enveredaram por algumas dessas 
possibilidades gráficas... Depois pararam.Só recentemente recomeçaram a aparecer livros onde 
toda a história é contada através de imagens. . 
(Fanny Abramovich)
Conceito de ilustração
A lustração é uma forma de comunicação estética; é uma linguagem 
internacional, podendo se compreendida por qualquer povo.
Tipos de texto 
Texto verba
Sua leitura está vinculada à palavra que, de certa forma, o aprisiona (sentidos 
fixados).
Texto não verbal
Sua leitura possui uma liberdade maior, pois que ela está contida na leitura do 
mundo, que antecede a leitura da palavra (leitura dos sons, dos gestos, dos olhares, 
etc.). A leitura não verbal é mais dinâmica, pois o leitor precisa resumir o que está 
disperso, agindo com rapidez para não perder o ritmo.
Como ler um texto não verbal?
 Na leitura de um texto não verbal, dois elementos devem ser considerados: OBSERVAÇÃO e 
COMPARAÇÃO. Nele, o receptor observa, compara, combina imagens, faz relação com seu contexto 
(tempo e espaço) e realiza a sua leitura.
O que é imagem?
Imagem é a representação de um objeto pelo desenho, pela pintura, entre outros. A imagem pode 
refletir uma época (as imagens de um determinado momento histórico podem oferecer os modos de 
perceber e/ou sentir os gostos de uma dada época).
O que é leitura da imagem?
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Leitura da imagem significa ler pelo desenho, pela pintura. Portanto, ela envolve uma narrativa apenas 
visual, onde toda a história é contada por meio de desenhos, fotos, sem nenhuma palavra.
Ilustrações e seus Gêneros
OBSERVAÇÃO
A divisão estabelecida abaixo tem, apenas, um caráter didático, pois esses gêneros agem, muitas 
vezes, ao mesmo tempo.
Ilustração 
informativa
Ilustração 
persuasiva
Ilustração 
narrativa
Fonte [1]
Ex: Ilustração sobre medicina, 
botânica, etc.
Fonte [2]
Ex: Ilustrações 
publicitárias.
Fonte [3]
Está associada a um tipo de 
texto: literário, musical, etc. 
Características e funções da ilustração
2.1. Reconstitui os fatos narrados. Ela está atrelada à narrativa e, por isso, é óbvia.
2.2. Segunda linguagem não verbal, que corre paralela ao texto, ora se interpenetrando nele, 
estimulando a imaginação, suscitando novas narrativas, inserindo o receptor dentro da história.
2.3. Acentua a função lúdica do livro como objeto de magia e descoberta.
Função da literatura e do livro
Promover o diálogo entre diferentes linguagens. Com isso, o coautor/receptor é beneficiado.
A presença de imagem nos livros
É importante a apresentação de livros de imagens simples, de leitura visual fácil, para que a criança 
pequenina consiga nomear os objetos do conhecimento cotidiano. Na consolidação da linguagem, a 
criança já cria uma interpretação para as imagens representadas e estabelece relação entre elas. Em uma 
atitude ativa, a criança compara, discrimina, enumera, descreve, recria e interpreta, segundo suas 
experiências prévias. Em outras palavras, a criança descobre a imagem graças à sua experiência do 
23
mundo. No momento em que a leitura se consolida, a imagem cede, pouco a pouco, terreno para o texto. O 
essencial passa a ser contado pelo texto. 
É importante, na seleção de livros voltados para a leitura de imagem: 
Não condicionar a seleção a ilustrações coloridas.
Privilegiar obras que dispensam qualquer explicação, sendo a imagem suficiente para 
expressar a história.
Observar a originalidade (técnica, acabamento) da ilustração.
Considerar a atividade, a ludicidade e a expressividade do livro.
Preferir obras que tenham personagens expressivos, de características particulares e 
diferenciadas, descartando preconceitos e imagens estereotipadas que induzam o leitor a 
qualquer preconceito ou que subestime qualquer cultura ou grupo social, racial ou religioso.
Preferir livros cujas imagens apresentem uma sequência coerente.
Privilegiar obras que deleitem os leitores e lhes permitam ampliar e enriquecer sua 
imaginação.
Alguns/as ilustradores/as brasileiros/as:
Ângela Lago, Ziraldo, Guido Heleno, Jô Oliveira, entre outros/as.
EXERCITANDO
Analise a composição da obra História de amor, de Regina Coeli Rennó. Observe que se trata de 
um livro sem texto; portanto, voltado para a leitura da imagem.
Fique atento à sequência das gravuras dessa obra e, em seguida, escreva uma história que 
corresponda à proposta textual contada, por meio de desenhos, pela Autora.
Observação: Para ter acesso à obra acima citada, basta acessar o seguinte link:
História de Amor [4]
Fontes das Imagens
1 - http://goo.gl/Vo6nC
2 - http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/galerias/imagem/0000004153/md.0000044386.jpg
3 - http://data.whicdn.com/images/388236/large.jpg
4 - http://www.youtube.com/watch?v=VVCb9zMm39w
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Literatura Infantil Universal 
Aula 03: Relação da Literatura Infantil com a Ludicidade e a Interdisciplinaridade 
Tópico 01: Literatura Infantil e os Estágios Psicológicos da Criança
VERSÃO TEXTUAL 
Literatura infantil é arte; é a reinvenção da realidade de forma nova e criativa; é a utilização 
da palavra com emoção e beleza. Ela abre caminhos, permitindo que o leitor entre na história e 
desvende as entrelinhas do texto.
Contar histórias propicia o conhecimento e a reflexão sobre as diversas formas de se trabalhar com a 
palavra, bem como propicia a vivência de processo de criação e expressão de quem conta e de quem 
ouve. A contação de história é um grande instrumento para despertar o senso crítico, o hábito da leitura e 
da escrita e contribui para o desenvolvimento da personalidade infantil de maneira significativa.
É por meio da contação de histórias que as crianças passam a ter o contato com a literatura e, assim, 
despertam o gosto pela leitura, alimentando o imaginário, desvendando os mistérios do mundo e 
desenvolvendo autoconhecimento.
As histórias podem ser reais ou imaginárias:
Histórias reais
As histórias reais são aquelas que têm por objetivo apresentar 
acontecimentos históricos, bibliográficos, memoriais, verídicos.
Histórias imaginárias
As histórias imaginárias são aquelas inventadas ou que, embora baseadas 
em um fato real, tratam-no com certa liberdade de imaginação.São exemplo 
dessa tipologia: as fábulas, os apólogos, etc.
A história só atinge seu objetivo quando é apropriada à idade do ouvinte ou do leitor ao qual se 
direciona. Assim, o indivíduo se identifica com ela. Portanto, na fase de desenvolvimento mental, é 
necessário que as histórias sejam escolhidas de acordo com os estágios psicológicos da criança. Esses 
estágios correspondem às seguintes etapas:
1ª Etapa
Pré-leitor (dos 2 aos 5 anos): Momento em que a criança tem a sua atenção 
voltada para o que é familiar (como, por exemplo, a família, os animais domésticos, 
etc.) e seu pensamento não acompanha grandes enredos. Portanto, as histórias 
devem ser curtas e com poucas personagens.
2ª Etapa
25
Leitor iniciante (a partir dos 6 anos): Período de aprendizagem da leitura; os 
signos escritos ganham espaço. Nessa fase, as histórias devem ser lineares; o texto 
deve apresentar frases curtas e as personagens devem possuir traços nítidos.
3ª Etapa
Leitor em processo (a partir dos 8 anos): Fase em que a criança já tem facilidade 
para dominar a leitura e expor seu interesse pelo conhecimento e por desafios. Os 
textos devem apresentar uma narrativa linear, em torno de uma situação central, com 
frases simples, em ordem direta.
4ª Etapa
Leitor fluente (a partir dos 10 anos): Fase da pré-adolescência, período de 
amadurecimento do domínio da leitura. A criança tem grande capacidade de 
concentração e de reflexão, permitindo a percepção de mundo. Os livros devem ser 
diversificados e o texto deve apresentar uma linguagem mais elaborada.
5ª Etapa
Leitor crítico (a partir dos 12 anos): A criança possui o total domínio da leitura, a 
capacidade de concentração e de reflexão é bem maior. Fase de desenvolvimento do 
pensamento crítico. 
FÓRUM
Os estágios psicológicos da criança correspondem às diversas etapas do desenvolvimento 
infantil/juvenil.
Neste fórum, pretendemos que a discussão realizada entre os/as colegas de turma e o/a tutor/a 
abarque sugestões e análise de obras infanto-juvenis que possam ser utilizadas em cada um dos 
níveis de amadurecimento biopsíquico-afetivo-intelectual do/a leitor/a, considerando, para isso, seu 
grau ou nível de conhecimento/domínio do mecanismo da leitura, dentro de uma evolução 
considerada “normal”.
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Literatura Infantil Universal 
Aula 03: Relação da Literatura Infantil com a Ludicidade e a Interdisciplinaridade 
Tópico 02: O Trabalho Interdisciplinar
VERSÃO TEXTUAL 
Para a criança, há todo um mundo desconhecido e confuso, em certos momentos, para ser 
conhecido. É preciso, pois, dentro desse aprendizado, que haja um saudável desenvolvimento das 
habilidades infantis.
É nessa importante fase da vida (a infância) que o indivíduo começa a se desenvolver e formar 
relações, pensamentos que, de muitas formas, levará pelo resto da vida. Para Erick Erickson, é nessa fase, 
também, que a parte essencial da identidade é formada. Se sentirá orgulho ou vergonha de si mesma, se 
será curiosa e indagadora ou medrosa e retraída são exemplos de questões de identidade que se formam 
nesse período, segundo o Autor.
Em seu primeiro contato com a literatura, faz-se necessário que haja um estímulo para aguçar a 
curiosidade infantil a fim de que a criança construa seu universo imaginário. Nesse sentido, tomemos por 
referência a teoria das inteligências múltiplas, de Gardner, onde o Autor desenvolve domínios interligados 
para compreensão dos saberes.
A contação de história, aqui sugerida, pode proporcionar a aproximação ideal entre criança e leitura, 
funcionando como “espinha dorsal” para a possibilidade de articulação dos diversos saberes.
A inteligência linguística é a primeira a ser despertada no ato da contação de história, pois é a partir 
da linguagem que o texto será contado e é, também, a partir da interpretação do ouvinte que a narrativa 
será compreendida. Desperta-se, então, na criança, o interesse pela leitura, pela literatura e por toda gama 
de conhecimentos por elas transmitidos. É a partir daí, dessa sedução que a linguagem literária gera que a 
criança terá interesse e disposição para adentrar em um mundo novo.
As inteligências intrapessoal e interpessoal são despertadas a partir da interpretação, da interação 
com a história, com seus personagens e com as reflexões por eles causadas. A criança, pois, pode 
compreender o outro e a si mesma dentro das situações trabalhadas e analisadas no texto.
A contação de história pode se dar a outros tantos objetivos. Nesse aspecto, a abordagem do 
contador e a natureza da  história podem levar ao desenvolvimento de diversas inteligências. Vejamos:
Inteligência 01
Inteligência naturalista: quando trabalha a consciência ambiental, a relação 
com a natureza, ou quando incita, de forma direta ou indireta, a interação com o 
meio-ambiente.
Inteligência 02
Inteligência corporal-cinestésica: quando há incentivo para o movimento e para 
a atenção aos sentidos, podendo trabalhar, entre outros aspectos, a parte 
física/motora (quando o contador pede que os ouvintes usem o corpo de alguma 
27
forma, sendo correndo ou andando, por exemplo), a parte sensorial (por meio do 
sentido do tato ou do olfato, por exemplo).
Inteligência 02
Inteligência espacial/pictórica: quando o contador pede ou incita os ouvintes a 
reproduzirem, por meio de desenhos ou esculturas, a história contada.
Inteligência 04
Inteligência musical: quando há presença de música ou de apreciação musical 
durante a história. É interessante, também, que haja interação, por parte dos 
ouvintes, nessas narrativas, seja batendo palmas, tocando algum instrumento, 
cantando ou até mesmo compondo.
Inteligência 05
Inteligência lógico-matemática: quando a história inicia o pensamento lógico 
de solução de problemas cotidianos apresentados nas narrativas. É interessante 
conversar com o ouvinte para lhe estimular o raciocínio por meio de perguntas.
Notemos, pois, que em todas as situações acima elencadas, é imprescindível a interatividade. Faz-se 
mister que o ouvinte participe da história para que nele se desenvolvam as várias inteligências apontadas 
por Gardner.
A fim de se formar um futuro leitor crítico é preciso que, por meio de uma forma inteligente e 
intrigante, a ele seja apresentada a literatura. Sugerimos, então, a contação de história como forma 
construtiva e funcional para desenvolver, nesse futuro leitor crítico, um primeiro contato agradável, lúdico 
e informativo para que, posteriormente, ele possa relacionar o ato de ler e de aprender a prazeres que teve 
durante esse primeiro contato com a leitura.
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Para a realização dessa atividade, você deverá, primeiramente, realizar a leitura complementar 
correspondente ao conto de fada “João e o pé de feijão”, compilado pelos irmãos Grimm.
Você deverá escrever um texto dissertativo que contemple o seguinte aspecto: A relação da 
história “João e o pé de feijão” com outras áreas do conhecimento (Português, Matemática, Ciências, 
etc.) e com as inteligências múltiplas que esse conto de fadas pode ajudar a desenvolver na criança. 
Fundamente, teoricamente e com exemplos, sua resposta.
LEITURA COMPLEMENTAR
A seguir, propomos dois textos para complementar nosso estudo da Aula 03.
João e o pé de feijão (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)
28
Literatura Infantil Universal 
Aula 03: Relação da Literatura Infantil com a Ludicidade e a Interdisciplinaridade 
Tópico 03: Literatura e Ludicidade
VERSÃO TEXTUAL 
A ludicidade está relacionada à liberdade, à criatividade, à imaginação, à participação, à 
interação, à autonomia além de outras qualificações que podem ser atribuídas a uma infinita 
riqueza de significados que se vincula a esse conceito.
A criança está em constante contato com o mundo lúdico, pois ele está envolto por fantasia, 
imaginação, faz de conta, jogo e brincadeira. Podemos dizer que o lúdico é um grande laboratório que 
merece toda a atenção dos pais e educadores,uma vez que é, por meio dele, que ocorrem experiências 
inteligentes e reflexivas praticadas com emoção, prazer e sinceridade. As brincadeiras propiciam a 
descoberta de si mesmo e do outro, auxiliando, assim, na aprendizagem. É no brincar que a criança está 
livre para criar. Segundo Platão: “Você aprende mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do 
que uma vida inteira de conversação”. Pode-se dizer que as brincadeiras e os jogos são as principais 
atividades físicas da criança: além de proporcionarem o desenvolvimento físico e intelectual do público 
infantil; promovem saúde e maior compreensão do seu esquema corporal. É jogando que a criança 
aprende a respeitar regras, limites, esperar a sua vez e aceitar resultados. O brincar e o jogar, para a 
criança, não são apenas um passatempo ou simples diversão, mas um momento sério, pois ela está 
aprendendo o que ninguém pode lhe ensinar, descobrindo o mundo e as pessoas que a cercam. E o que é 
o faz de conta? É exercitar e promover o raciocínio abstrato. Por exemplo: uma criança, ao amassar uma 
folha de papel, formará uma bola que, para ela, poderá ser a bola de um famoso time de futebol ou de um 
famoso jogador de tênis...; enfim, estará fazendo uso das abstrações para construir, por meio da 
imaginação, o seu mundo.
Muitos teóricos trouxeram relevantes pesquisas sobre a utilização da ludicidade no processo de 
ensino e aprendizagem, concluindo que os/as alunos/as desenvolvem a responsabilidade, a 
autoexpressão e a cognição. A partir do uso dessa prática, a criança sente-se estimulada e, sem perceber, 
vai desenvolvendo e construindo seu conhecimento. Segundo Oliveira (2002),
A brincadeira infantil beneficia-se de suportes externos para sua realização: rituais interativos, 
objetos e brinquedos, organizados ou não em cenários (casa de bonecas, hospital, etc.), que 
contém não só temas, mas também regras. Em virtude disso, o professor pode organizar áreas 
para desenvolvimento de atividades diversificadas que possibilitam às crianças estruturar 
certos jogos de papéis em atividades específicas. 
(OLIVEIRA, 2002: 231)
A ludicidade pode, também, ser aplicada à aprendizagem, mediante jogos e situações lúdicas, não 
impedindo a reflexão sobre conceitos matemáticos, linguísticos ou científicos, por exemplo. De acordo 
com Freire:
Compreender a atividade infantil capacita o professor a intervir para facilitar o desenvolvimento 
da criança. Isso contribuiria para reforçar a ideia de que a escola, na primeira infância, deve 
29
considerar as estruturas corporais e intelectuais de que dispõem as crianças, utilizando o jogo 
simbólico e as demais atividades motoras próprias da criança nesse período. 
(FREIRE, 1997: 44)
Outro aspecto importante no que se refere à ludicidade é sua inserção, em muitas propostas 
pedagógicas, como um instrumento para o ensino de conteúdos. Entretanto, quando os jogos e as 
brincadeiras são compreendidos apenas como recursos pedagógicos, assumem um caráter instrumental 
porque perdem o sentido da brincadeira, servindo somente para a sistematização de conhecimentos, uma 
vez que são usados para atingir resultados preestabelecidos pelo educador. Quanto a esse aspecto, Borba 
(2006) enfatiza que o jogo, visto apenas como recurso didático, não contém os requisitos básicos que 
configuram uma atividade como brincadeira: ser livre, espontâneo/a, não ter hora marcada, nem 
resultados prévios e determinados. 
É importante observar que, no brincar, as crianças tornam-se agentes de sua experiência social; 
estabelecem diálogos; organizam com autonomia suas ações e interações, construindo regras de 
convivência social e de participação nos jogos e brincadeiras.
Quando a criança joga, ela opera significado das suas ações, o que a faz desenvolver sua vontade e, 
ao mesmo tempo, tornar-se consciente das suas escolhas e decisões. Por isso, o jogo apresenta-se como 
elemento básico para a mudança das necessidades e da consciência.
É importante também falarmos sobre duas possibilidades de entendimento do fenômeno lúdico: o 
instrumental e o essencial. No primeiro, o jogo é compreendido enquanto recurso motivador, simples 
instrumento para a realização de objetivos que podem ser educativos, publicitários ou de inúmeras 
naturezas. No segundo, o jogo é visto como uma atitude essencial, como uma categoria que não necessita 
de uma justificativa externa, alheia a ela mesma para se validar. No primeiro caso, o jogo está centralizado 
na produtividade e tem caráter utilitário; no segundo, a produtividade é o próprio processo de brincar, uma 
vez que nesse concepção, jogar é intrinsecamente educativo, é essencial enquanto forma de 
humanização.
Conforme apresentam os PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais), os jogos e as brincadeiras, 
competitivas ou não, são contextos de socialização significativa em que o aluno precisa respeitar o outro 
enquanto parceiro e não adversário. É na oportunidade de ter diferentes problemas para resolver no 
coletivo por meio da comunicação e da cooperação, que aprende a respeitar a diversidade de opiniões 
surgidas num momento lúdico.
A ação educativa numa abordagem lúdica pode trabalhar a busca do êxito em múltiplas tentativas-
erro, a persistência e a segurança de que as falhas fazem parte do processo educacional. Nessa 
perspectiva, é fundamental que o professor crie situações de aprendizagens significativas, pois estas 
farão com que o educando associe o aprendizado ao prazer.
EXEMPLO
A seguir, expomos uma lista de atividades lúdicas que podem ser utilizadas em sala de aula.
EXEMPLOS DE ATIVIDADES LÚDICAS: 
1.1. Rodas de leituras com:
1.1.1. Histórias lidas.
1.1.2. Histórias contadas.
30
1.1.3. Histórias com imagens.
1.1.4. Histórias desenhadas.
1.2. Dramatizações.
1.3. Gravuras em sequência.
1.4. Criação e interpretação coletiva de textos/Produzindo histórias. Exemplo: Com jogos.
1.5. Histórias cantadas:
Exemplo: Teresinha de Jesus (resgate das cantigas de roda)
Teresinha de Jesus
De uma queda foi ao chão.
Acudiram três cavalheiros,
Todos três, chapéu na mão.
O primeiro foi seu pai.
O segundo, seu irmão.
O terceiro foi aquele
A quem Teresa deu a mão.
Quanta laranja madura...
Quanto limão pelo chão...
Quanto sangue derramado
Dentro do meu coração...
Da laranja quero um gomo,
Do limão quero um pedaço,
Da menina mais bonita
Quero um beijo e um abraço.
Teresinha levantou-se,
Levantou-se lá do chão
E sorrindo disse ao noivo:
“Eu te dou meu coração”.
1.6. Adivinhações.
1.7. Trava-língua: 
Exemplos: 
Cada macaco no seu galho
Cada macaco no seu galho,
Cada galho com seu macaco,
Cada caco com seu malho,
Cada casa com sua calha,
Cada malha com seu casaco,
Cada cangalha com seu cavaco.
Lina
Linda Lina, minha prima
Lina, me dá uma lima,
Uma lima e um limão
Uma lima, meia lima,
Um mamão, meio limão,
Ou um melão alemão.
1.8. Outras ideias:
1.8.1. Epidemia poética:
- Amor rima com...?
- Coração rima com...?
1.8.2. Telefone sem fio 
1.8.3. Complementação criativa:
Se você não fosse você mesmo, seria...? Fico muito chateado toda vez que...? Uma 
manhã muito feliz para mim seria aquela em que...? Não pode haver coisa mais 
gostosa que...?
1.8.4. Observação de figuras, gravuras... e relato das mesmas.
31
CHAT
O chat desta aula está voltado para a temática “Literatura infanto-juvenil e suas relações com a 
ludicidade”. Seu/sua professor(a)/tutor(a) vai marcar as datas e horários da sessão de chat, e você 
deverá preparar-se, levando conceitos e atividades lúdicas que podem ser realizadas, com os/as 
alunos/as, a partir do texto literário. Lembre-se que a ludicidade é um importante e rico recurso para 
atrair crianças e adolescentes para o mundo encantado da leitura, auxiliando-os a se tornarem 
leitores/as críticos/as e competentes.
Fontes das Imagens
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Literatura Infantil Universal 
Aula 04: Literatura Infantil: prosa e poesia 
Tópico 01: O Encontro com os Clássicos
O que se ofereciaàs crianças, no Brasil, entre os séculos XIX e 
XX (1861 – 1919)?
Com a Proclamação da Independência, em 1822, no Brasil, tudo estava por 
fazer e tudo foi sendo feito em pouco tempo. No setor do ensino, como nos 
demais setores, a carência era total. O Brasil enfrentava, ainda, as 
consequências da supressão do ensino jesuíta, sem que outro sistema viesse 
substituí-lo, apesar de algumas tentativas isoladas, em diferentes pontos do 
país.
D. João VI havia criado academias, cursos, escolas visando a atender, com urgência, à formação de 
profissionais competentes em diversos setores da sociedade. Porém, os resultados foram lentos, pois 
estudo e cultura são aquisições que demandam tempo. Sendo assim, a educação era um dos problemas 
que mais preocupavam os mentores de nosso desenvolvimento.
Com a fundação do Império, no Brasil, inicia-se uma fase de debates, de projetos e de reformas do 
ensino primário, secundário e superior, tendo por objetivo a estruturação de uma educação nacional, 
orientada pelas diretrizes da CARTA CONSTITUCIONAL, de 11 de dezembro de 1823, que declarava dever 
do Estado “a instrução primária a todos os cidadãos e que em colégios e universidades se deveria ensinar 
as ciências, as belas-letras e as artes”.
O sistema escolar dessa época incorpora a produção literária para crianças e jovens: adaptações e 
traduções.
Simultaneamente ao aumento de traduções e adaptações de livros literários para o público infanto-
juvenil, começa a se firmar, no Brasil, a consciência de que uma literatura própria, que valorizasse o 
nacional, se fazia urgente para as crianças e para a juventude brasileira.
Nessa época, literatura e pedagogia desenvolvem-se unidas e, a partir de 1890, São Paulo passa a ser 
o centro pioneiro da renovação educacional [...].
[Datam, dessa época, os seguintes exemplos de produções literárias]:
• O livro do povo (1861), de Antônio Marques Rodrigues.
• Contos infantis (1886), de Júlia Lopes de Almeida.
• Contos da carochinha (1896), de Figueiredo Pimentel.
• O livro da infância (1899), de Francisca Júlia.
• O Tico-Tico (1905 - histórias em quadrinhos).
• Era uma vez (1908), de Viriato Correia.
• Através do Brasil (1910), de Olavo Bilac e Manuel Bonfim.
• Saudade (1919), de Tales de Andrade.
• A menina do nariz arrebitado (1920), de Monteiro Lobato.
O gênio Lobato
33
Fonte [1]
A Monteiro Lobato coube à fortuna de ser o “divisor de águas” na área das literaturas infantil e 
juvenil brasileiras. Ele encontrou o caminho criador, rompendo com as convenções estereotipadas, 
abrindo portas para novas ideias e formas que nosso século exigia. Todavia, essa criação não se fez 
repentinamente. Resultou de um processo de amadurecimento. Quando A menina do narizinho 
arrebitado foi publicado, em 1920, Lobato estava com 38 anos de idade. Desde adolescente, começara 
a lidar com as Letras, escrevendo crônicas e artigos para a impressa, no interior e na capital paulista 
[...].
Lobato foi um dos que se empenharam na luta pela descoberta e pela conquista do nacional. 
A princípio, na área literária, seja para adultos ou para crianças. Mais tarde, voltou-se para os 
campos econômico e político.
Por volta de 1916, Lobato já se preocupava com os livros de leitura para a criançada. Nos 
anos 20, Monteiro Lobato fundia o real e o maravilhoso.
Sua vasta produção, na área infanto-juvenil, engloba obras originais, adaptações e traduções. Quem 
não se recorda de A menina do narizinho arrebitado (1920), O Marquês de Rabicó (1922), Emília no país da 
gramática (1933), O Sítio do Pica-Pau Amarelo (1939), ou ainda, A chave do tamanho (1942)?
Em suas narrativas aventurescas, encaixam-se situações, personagens e celebridades que nasceram 
da invenção de Lobato [...]. E aí está a maior originalidade de desse Autor: redescobrir realidades estáticas, 
cristalizadas pela memória cultural, e dar-lhes nova vida, em meio às “reinações” da turma que habita o 
Sítio do Pica-Pau Amarelo.
O mérito do referido escritor está na perfeita adequação entre sua matéria literária e as imposições da 
época em que ela foi produzida. Lobato substitui o sentimentalismo, tão em voga em sua época, pela 
irreverência gaiata, pelo humor e pela ironia. Assim, foi um inovador pelo modo especial com que tratou o 
estereotipado vigente em seu tempo.
A função lúdica da literatura, que foi privilegiada por Lobato, tem sido enriquecida e aprofundada com 
outras funções igualmente essenciais ao espírito da criança [...].
[Depois de Monteiro Lobato, outros/as tantos/as autores/as se debruçaram sobre a escritura de 
obras voltadas para o público infanto-juvenil. Vejamos alguns desses exemplos, por uma perspectiva 
cronológica]:
Anos 30
Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Malba Tahan, Orígenes Lessa, Vicente 
Guimarães, Viriato Correia, entre outros.
34
A produção desses autores revela diferentes tipos de narrativas: as de pura 
fantasia (na linha dos clássicos contos maravilhosos); as de realidade cotidiana 
(exaltando a terra brasileira, episódios nacionais); as da realidade mítica 
(redescobrindo figuras ou lendas folclóricas); e as do realismo maravilhoso 
(mostrando o “maravilhoso” como elemento integrante do real, tal como fazia 
Lobato).
Anos 40
Camila Cerqueira, Lúcia Machado de Almeida, Maria Lúcia Amaral, Mário 
Donato, Odette de Barros Mott e Virgínia Lefévre.
É nessa época que se dá a expansão da literatura quadrinizada, com seus 
super-heróis, séries detetivescas e aventuras que resultam da fusão entre o 
maravilhoso e a ciência.
Anos 50
Gilda Padilha, Isa Silveira, Leonardo Arroyo, Lucilia Junqueira de Almeida, 
Lúcio Machado de Almeida, Maria José Dupré e Terezinha Casasanta.
A produção desse período redescobre a fantasia, principalmente por meio 
da fusão do real com o imaginário.
Anos 60
Camila Cerqueira, Clarice Lispector, Francisco Marins, José Mauro de 
Vasconcelos, Lucilia A. Prado, Maria José Dupré, Odette de Barros Mott, Stella 
Carr, entre outros/as.
Vista em conjunto, a produção, nesse período, aparece como uma 
preparação para a década seguinte.
Anos 70
Ana Maria Machado, Bartolomeu Campos Queirós, Elias José, Fernanda 
Lopes de Almeida, Ganymedes José, Ignácio de Loyola Brandão, Lygia Bojunga 
Nunes, Rachel de Queiroz, Sérgio Caparelli, Viviana de Assis Viana, Wander Piroli, 
Ziraldo, entre outros/as.
Anos 80
Assis Brasil, Ciça Fittipaldi, Lourenço Diaféria, Luís Camargo, Márcia 
Kupstas, Marina Colassanti, Mário Quintana, Mirna Pinsky, Paula Saldanha, Pedro 
Bandeira, Ricardo Azevedo, Roseana Murray, Sylvia Orthof e Tatiana Belinky.
Nos anos 70/80, dá-se uma explosão de criatividade na literatura infanto-
juvenil. Surgem dezenas de escritores obedecendo às seguintes palavras de 
ordem: experimentalismo com a linguagem, com a estrutura narrativa e com o 
visualismo do texto; uma literatura inquieta/questionadora que põe em causa as 
relações convencionais existentes entre a criança e o mundo em que ela vive.
Na atualidade, não há um ideal absoluto para a literatura infantil. A produção atual apresenta três 
tendências mais evidentes: a realista, a fantástica e a híbrida [...]. Analisemos cada uma dessas 
categorias:
35
A) A literatura realista pretende expressar o real, tal qual é percebido ou conhecido pelo senso comum, 
e visa a um (ou mais) dos objetivos seguintes:
Testemunhar o mundo cotidiano, concreto, familiar e atual que o jovem leitor pode reconhecer 
prontamente, pois é nele que vive.
Informar sobre costumes, hábitos ou tradições populares das diferentes regiões do Brasil.
Apelar para a curiosidade e a argúcia do leitor, explorando enigmas ou aparentes mistérios de 
certos acontecimentos que rompem a rotina cotidiana (como nos romances policiais).
Preparar, psicologicamente, os pequenos leitores para enfrentarem, sem ilusões, mais tarde ou 
mais cedo, as dores e os sofrimentos da vida.
B) A literatura fantástica apresenta o mundo maravilhoso, criado pela imaginação, e que existe fora do 
limite

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